quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Pacto Global divulga plataforma para o setor privado sobre adaptação às mudanças climáticas

Pacto Global divulga plataforma para o setor privado sobre adaptação às mudanças climáticas

Em evento que reuniu lideranças empresariais e gestores de sustentabilidade na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a Rede Brasil do Pacto Global da ONU apresentou neste mês (10) a Plataforma AdaptaClima. O projeto do Ministério do Meio Ambiente difunde informações sobre o combate às mudanças climáticas, conscientizando sobre riscos aos negócios e novas oportunidades produtivas.
Mudanças climáticas causadas pelos humanos podem ser irreversíveis. Foto: Banco Mundial/L. Aliu
Projeto em Minas Gerais visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor de ferro e aço no 
estado. Foto: Banco Mundial/L. Aliu

Em evento que reuniu lideranças empresariais e gestores de sustentabilidade na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a Rede Brasil do Pacto Global da ONU apresentou neste mês (10) a Plataforma AdaptaClima. O projeto do Ministério do Meio Ambiente difunde informações sobre o combate às mudanças climáticas, conscientizando sobre riscos aos negócios e novas oportunidades produtivas.

No Plano Nacional de Adaptação (PNA), lançado em 2016 pela pasta federal, o governo define estratégias em diversos eixos da sociedade — Agricultura, Cidades, Zonas Costeiras, Saúde —, com base em previsões científicas para as próximas décadas. A alteração gradual e permanente no regime de chuvas, por exemplo, poderá provocar mudanças nos ecossistemas, bem como desastres naturais, incluindo inundações. Consequências poderão variar da sobrecarga do sistema público de saúde até migrações forçadas.

“Os estudos que reconhecem as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas são importantes na alocação dos recursos federais”, afirmou a coordenadora-geral substituta da Secretaria de Mudança do Clima do Ministério, Nelcilandia de Oliveira Kamber.

A Plataforma AdaptaClima funciona como um canal para o setor privado, que sofre com problemas no acesso a dados e também com a falta de articulação com outros empresários e gestores públicos.


As orientações disponíveis no site permitem às companhias traçar seu próprio plano de adaptação.
“Com o nosso mapeamento da realidade brasileira, percebemos que os dados não chegavam àqueles que tomam decisões, limitando o alcance das ações ou até levando-as a se sobrepor”, avalia Mariana Nicolletti, pesquisadora no Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

A especialista integra a Iniciativa Empresarial em Clima (IEC), uma coalizão de redes empresariais que promove webinars e palestras sobre mudanças climáticas. A secretaria executiva do organismo, que promoveu o evento em São Paulo, é da Rede Brasil do Pacto Global.

Empresas preparadas para um clima em transformação

Entre as signatárias do Pacto Global da ONU, a EDP Brasil, do setor de geração e distribuição de energia, já deus os primeiros passos para adaptar seus negócios às mudanças climáticas. Preocupada com o aumento na frequência e na intensidade de tempestades, a empresa desenvolveu um sistema de monitoramento que incorpora dados meteorológicos em tempo real. O projeto foi executado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Conhecendo as previsões para 2030 de que haverá um aumento médio de 30% na incidência de raios na região coberta pela companhia, a EDP está preparando equipes e veículos de manutenção. A instituição também planeja ajustes de escalas de trabalho e elabora informes para os consumidores.
Outra integrante da Rede Brasil do Pacto Global, a Braskem investiu 150 mil reais para identificar a curto, médio e longo prazo potenciais oportunidades e riscos em suas usinas. Com estimativas para 2040, a avaliação analisou futuros impactos físicos, regulatórios, reputacionais e na cadeia de valor para todas as 36 instalações da empresa no Brasil, Estados Unidos e Alemanha.

De acordo com o levantamento, o maior risco físico nos Estados Unidos está associado ao provável aumento da intensidade de furacões. Na Alemanha, as chuvas com potencial de inundação são o maior fator de preocupação. No Brasil, a maior frequência de secas severas é a principal vulnerabilidade para as operações. Para cada situação, o plano da Braskem aponta recomendações que vão de projetos de engenharia a campanhas de conscientização.

Mais informações sobre ambas as empresas estão no Caderno do Pacto: Clima – O Brasil Rumo à Economia de Baixo Carbono, lançado pela Rede Brasil do Pacto Global em 2015. Acesse a publicação clicando aqui.

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Debate no Rio discute políticas públicas para conter desperdício de alimentos e obesidade

Debate no Rio discute políticas públicas para conter desperdício de alimentos e obesidade

Melhorar cultivo, acesso e consumo dos alimentos, reinventando a forma com a qual a população brasileira enxerga a alimentação, é um dos focos no combate ao desperdício e à má nutrição, disse o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, em mensagem por vídeo transmitida na segunda-feira (13) durante debate no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Sobrepeso e obesidade têm crescido nos países latino-americanos e caribenhos, alertam agências da ONU. Foto: EBC
Sobrepeso e obesidade têm crescido nos países latino-americanos e caribenhos, alertam agências da 
ONU. Foto: EBC


Melhorar cultivo, acesso e consumo dos alimentos, reinventando a forma com a qual a população brasileira enxerga a alimentação, é um dos focos no combate ao desperdício e à má nutrição, disse o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, em mensagem por vídeo transmitida na segunda-feira (13) durante debate no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.


“Hoje, estima-se que a obesidade tenha um custo global de cerca de 1 trilhão de dólares, impactando os sistemas de saúde, mas, sobretudo, reduzindo a vida útil e a capacidade motora das pessoas. O problema de enfrentar isso começa em tratar a alimentação como um bem público. Não podemos acreditar que a alimentação é um problema das famílias, das mães. É uma questão de saúde pública”, alertou Graziano durante o debate sobre a Plataforma “2018: Brasil do Amanhã”.


Em 2006, de acordo com dados do Ministério da Saúde, a prevalência de obesidade na população brasileira era de 11,8%. Em 2016, esse número subiu para 18,9%. Enquanto os números crescem a uma velocidade alarmante em todo o mundo, a questão segue mal compreendida. “Fome e obesidade são dois pontos de uma longa linha do ‘comer mal’. E a diferença fundamental é que, em relação a obesidade, nós não sabemos bem onde ela se localiza. Nós não temos evidência suficiente de como combatê-la”, lamentou Graziano.


Para o diretor da divisão de água e solos da FAO, Eduardo Mansur, é hora de encarar a agricultura — tanto no contexto da obesidade, quanto no contexto do desperdício — com um novo olhar. Enquanto a alimentação é um assunto que interessa novas gerações, a agricultura continua com estigmas que a afasta dos debates da juventude.


“É tempo de ter inovação na agricultura, de ter mais juventude na agricultura. De ter uma agricultura que seja atrativa e revolucionária. Isso vai acontecer no momento em que valorizarmos esse produto”, disse Mansur, lembrando que, em países desenvolvidos, é cada vez mais comum que as hortas urbanas, ou mesmo o cultivo de hortaliças dentro de casa, já é uma tendência entre as novas gerações.

Desperdício de alimentos

O evento, que tem como objetivo aprimorar o nível de informação, engajamento e mobilização social com relação a alimentação no Brasil, aconteceu no Museu do Amanhã e contou com a participação da apresentadora Bela Gil, do diretor de sustentabilidade e responsabilidade social do Carrefour, Paulo Pianez, e da idealizadora da ONG Comida Invisível, Daniela Leite. O debate reforçou a importância da criação de políticas eficazes contra a fome e o desperdício de alimentos.


“A fome, na verdade, não é um problema de falta de alimentos. O mundo, globalmente, tem alimentos mais do que suficientes para alimentar todos de maneira adequada. Jogamos fora cerca de um terço do que produzimos. A fome é um problema de acesso aos alimentos, seja porque eles não estão bem distribuídos geograficamente falando, seja porque as pessoas mais pobres não têm acesso à quantidade e à qualidade dos alimentos produzidos”, explicou Graziano.

Plataforma “2018: Brasil do Amanhã”

A Plataforma “2018: Brasil do Amanhã” é uma iniciativa do Museu do Amanhã, apoiada por Fundação Roberto Marinho, Rede Globo, GloboNews, Instituto Clima e Sociedade (ICS) e Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
A ação foi criada para tratar da pauta política de 2018 com debates e ações que possam ajudar a esclarecer a sociedade sobre temas de relevância, aproximando a população do processo político.

Pegada Ecológica? O que é isso?



Pegada Ecológica? O que é isso?

Você já parou para pensar que a forma como vivemos deixa marcas no meio ambiente? É isso mesmo, nossa caminhada pela Terra deixa “rastros”, “pegadas”, que podem ser maiores ou menores, dependendo de como caminhamos. 
 
A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Expressada em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Um hectare global significa um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em um ano.

Já a biocapacidade, representa a capacidade dos ecossistemas em produzir recursos úteis e absorver os resíduos gerados pelo ser humano.
© WWF

Pegada Ecológica Global

Estudos mostram que desde o final dos anos 70 a demanda da população mundial por recursos naturais é maior do que a capacidade do planeta em renová-los.
Dados mais recentes demonstram que estamos utilizando cerca de 50% a mais do que o que temos disponível em recursos naturais, ou seja, precisamos de um planeta e meio para sustentar nosso estilo de vida atual.

Podemos dizer que esta é uma forma irracional de exploração da natureza, que gera o esgotamento do capital natural mais rápido do que sua capacidade de renovação.

Esta situação não pode perdurar, pois, desta forma, enfrentaremos em breve uma profunda crise socioambiental e uma disputa por recursos.

O planeta precisa de 1,5 ano para regenerar os recursos renováveis que consumimos em um ano


Pegada Ecológica global por componente, 1961-2008 (Global Footprint Network, 2011):



Atualmente, a média mundial da Pegada Ecológica é de 2,7 hectares globais por pessoa, enquanto a biocapacidade disponível para cada ser humano é de apenas 1,8 hectare global. Tal situação coloca a população do planeta em grave déficit ecológico, correspondente a 0,9 gha/cap. A humanidade necessita hoje de 1,5 planeta para manter seu padrão de consumo, colocando, com isso, a biocapacidade planetária em grande risco.

Projeções para o ano de 2050 apontam que, se continuarmos com este padrão, necessitaremos de mais de dois planetas para mantermos nosso consumo. É necessário um esforço mundial para reverter essa tendência, fazendo com que passemos a viver dentro da biocapacidade planetária.

Projeções tendenciais (Global Footprint Network, 2010):



Outro grave efeito da excessiva exploração da natureza é a perda acelerada da biodiversidade, ou seja, o desaparecimento ou declínio do número de populações de espécies de plantas e animais.

A perda da biodiversidade verificada entre os anos de 1970 e 2000, cerca de 35%, somente é comparável a eventos de extinção em massa ocorridos apenas quatro ou cinco vezes durante bilhões de anos da história da Terra. Todos eles causados por desastres naturais e jamais pelo ser humano, como agora.

Pegada Brasileira



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© WWF
 
 
A Pegada Ecológica brasileira é de 2,9 hectares globais por habitante, indicando que o consumo médio de recursos ecológicos pelo brasileiro é bem próximo da média mundial da Pegada Ecológica por habitante, equivalente a 2,7 hectares globais.

Em sua série histórica, a Pegada Ecológica brasileira tem mostrado uma tendência de aumento pouco acentuada até 2005, o que indica estabilidade nos padrões de consumo neste período.

Série histórica brasileira:



Por outro lado, a biocapacidade brasileira vem sofrendo um forte declínio ao longo dos anos devido ao empobrecimento dos serviços ecológicos e degradação dos ecossistemas.

Ainda assim, o Brasil encontra-se em uma importante posição no cenário mundial, como um dos maiores credores ecológicos do planeta, situando-se em um favorável cenário na nova economia verde. Para se manter nesta posição de credor ecológico, o Brasil precisa reverter este quadro de declínio de sua biocapacidade com ações de conservação e de produção ecoeficiente, buscando diminuir a Pegada Ecológica de sua população por meio do consumo consciente e da manutenção da estabilidade populacional.





Sequestro bom é sequestro de carbono

Sequestro bom é sequestro de carbono



26 Julho 2017   | 
   
Por Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura
 
*Autores: Cirino Costa Junior, Leda Tavares, Juliana Monti e Ângelo Gurgel

Para que as mudanças do clima não afetem severamente os meios de vida, os países precisam conjuntamente reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) pela metade a cada dez anos. Isso requer uma rápida e eficiente transição para uma economia de baixo carbono.

Nesse contexto, a agropecuária tem papel importante uma vez que é o segundo maior emissor global de GEE, atrás apenas do setor de energia. Ela precisa, ainda, suprir demandas crescentes por alimentos e outras matérias-primas. Para esse setor, na prática, sua contribuição para evitar as mudanças climáticas significa sequestrar carbono.

Esse cenário motivou a realização de dois eventos que reuniram pessoas de 40 países em Paris, em maio deste ano, e que contou com a presença da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Foram discutidos o papel dos atores envolvidos na produção e consumo de alimentos com relação às mudanças climáticas e o papel do sequestro de carbono nos solos para reduzir as emissões de GEE.

Os resultados dos encontros evidenciaram o protagonismo que a agropecuária pode ter. Com massiva e uniforme adoção de práticas de baixas emissões de GEE, esse setor é capaz de atender a demanda por alimentos da sociedade. E, apenas com o sequestro de carbono do solo, poderá contribuir com cerca de 10% da meta mundial de redução de emissões até 2100.

Contudo, para que isso aconteça, deve-se começar imediatamente uma articulação com a sociedade compreendendo a filantropia e estimulando empresas a assumirem compromissos para fomentar a adoção de boas práticas em suas cadeias de produção.

Esse processo seria ainda permeado pelo engajamento do sistema financeiro, estabelecimento de um simples e robusto sistema de quantificação e monitoramento das emissões e o desenvolvimento do mercado de carbono.

Por que a agricultura?
Mas, por que o solo apresenta esse potencial de sequestrar carbono? O carbono é o principal componente da matéria orgânica do solo, formada pelo processamento microbiológico dos resíduos orgânicos de plantas e suas raízes. Esse processo também disponibiliza nutrientes para o desenvolvimento da vegetação e devolve CO2 para a atmosfera, o qual é novamente capturado e fotossintetizado pelas plantas, formando o chamado ciclo do carbono.

A relação entre solo, planta e clima determina a quantidade de carbono estocado no solo, que varia de 30 a 800 toneladas por hectare e forma o maior reservatório da substância do sistema terrestre – cerca de 4,5 vezes maior que o estoque da vegetação nativa e 3,3 vezes maior que o da atmosfera.

A degradação dos solos, por sua vez, altera esse ciclo, dificultando que as plantas fixem CO2 e aportem resíduos suficientes para manter os níveis originais de carbono no solo. Nesse cenário, como os microorganismos continuam processando a matéria orgânica, as emissões de CO2 para a atmosfera superam a quantidade estocada.

Como consequência, o solo perde fertilidade, reduz sua capacidade produtiva e aumenta a concentração de CO2 na atmosfera, contribuindo para as mudanças climáticas globais. Hoje estima-se que aproximadamente 30% dos solos agropecuários no mundo apresentem algum grau de degradação, mas com potencial de se tornar reservatórios de carbono, caso boas práticas de manejo sejam adotadas.

O Brasil é um dos três maiores emissores do setor agropecuário mundial e a variação dos seus estoques no solo ainda não são contabilizados pelo inventário nacional. De acordo com os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estuda em 2015, se essa contabilização for feita, as emissões reportadas do setor aumentariam em quase 10%.

Isso, principalmente, porque o Brasil possui uma área de pastagem com algum grau de degradação equivalente ao tamanho da Espanha (cerca de 40 milhões de hectares). Essas áreas emitem CO2 para a atmosfera em quantidade superior ao sequestro de carbono no solo que ocorre em áreas bem manejadas, como áreas agrícolas sob plantio direto, florestas plantadas e pastagens produtivas.

Vem daí a oportunidade de o Brasil estocar carbono no solo, reduzindo as emissões nacionais em conformidade com seu compromisso climático de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas.

Ao cumprir seus compromissos climáticos, o setor de agropecuária tem potencial de reduzir suas emissões pela metade. Mas, para isso de fato acontecer, o País deve aperfeiçoar seu sistema de monitoramento das emissões de GEE e atuar mais fortemente na gestão territorial, coibindo o desmatamento e fomentando a expansão agrícola em áreas já abertas, assim como repensar crédito, assistência técnica e infraestrutura para recuperação de áreas degradadas.

Em meio ao movimento global de pensar estratégias de produção para se evitar que as mudanças climáticas afetem nossa sobrevivência, o Brasil tem potencial de sequestrar carbono no solo e de ser protagonista em reduzir as emissões de GEE e aumentar sua produção agropecuária com qualidade e diferenciação. E o melhor, ancorado em práticas agropecuárias já existentes e prontas para serem implementadas em campo. Para evitar drásticas mudanças no clima, podemos contar com os solos, até mesmo para um bom sequestro.

*Ciniro Costa Junior é analista de clima e cadeias agropecuárias do IMAFLORA
*Leda Tavares é especialista do programa Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil
*Juliana Monti é cordenadora de sustentabilidade da ABAG

*Angelo Gurgel é professor adjunto e coordenador do mestrado profissional em agronegócio da FGV-EESP.

Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura - Movimento para desenvolver economia de baixo carbono

Redução das emissões de desmatamento: nossos objetivos podem e devem ser mais fortes



Redução das emissões de desmatamento: nossos objetivos podem e devem ser mais fortes



14 Agosto 2018   |    
 
A respeito do anúncio, feito durante a reunião do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, com a presença do presidente Michel Temer, de que Brasil antecipou o cumprimento de meta voluntária de redução de emissão de carbono na Amazônia e Cerrado, prevista para 2020, o coordenador de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, comentou:

“O cumprimento das metas é um avanço, mas ainda estamos muito distantes do que é necessário para garantir a manutenção dos dois biomas, Amazônia e Cerrado. Apesar dessa redução, o Brasil ainda desmata muito. Os dados do ano passado mostram que estamos próximos de 7 mil km quadrados de desmatamento na Amazônia, o que é muito preocupante para a manutenção do bioma a longo prazo”.

“Estudos mostram que, se chegarmos de 20% a 25% de desmatamento nessas regiões, o bioma pode entrar em processos naturais de degradação. E, com os números atuais, estamos chegando perto de 20%”.

“No Cerrado, a situação é ainda pior. Já perdemos cerca de 50% da área original do bioma. Somente entre 2013 e 2015, o Brasil destruiu 18.962 km2 do bioma. Isso significa que, a cada dois meses, nesse período, perdemos o equivalente à área da cidade de São Paulo”.

“Para dar uma contribuição justa para o clima global, o Brasil deve emitir no máximo 1bilhão de toneladas de CO2 por ano e o desmatamento ainda é o principal setor de emissões.

“O cumprimento das metas brasileiras mostra que nossos objetivos podem e devem ser mais ambiciosos. O Brasil precisa, urgentemente, implementar seus planos de restauração florestal e reflorestamento com os que se comprometeu no Acordo de Paris e, ao mesmo tempo, aumentar a ambição de suas metas, buscando o desmatamento zero”.

“Ao investir em opções de baixo carbono, com eliminação do desmatamento, uma agricultura com menos emissões e formas limpas de energia, o Brasil tem a possibilidade de se tornar um dos líderes de uma nova economia, com desenvolvimento limpo e benefícios para toda a população”

Valor Econômico – Nova solução a serviço de uma soja mais sustentável


Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

Cadeias de commodities como soja, carne bovina e óleo de palma estão por trás da maior parte do desmatamento tropical global. O Brasil poderá se tornar em 2018 o maior produtor de soja do mundo, superando os EUA, e o risco do desmatamento associado à expansão do plantio está mapeado em um anuário a ser lançado hoje. A ideia é trazer mais transparência à cadeia de produção. O "Anuário Trase 2018" tem foco nas exportações brasileiras de soja. A iniciativa engloba também uma plataforma, a trase.earth, que foi inicialmente lançada na conferência do clima da ONU em Paris, em 2015.

Com a ferramenta, alimentada por um conjunto de dados públicos, é possível saber quais são os municípios mais exportadores, quais empresas exportaram, para quais países, os volumes transacionados etc. E fazer relações entre esses dados. A Trase é fruto de uma parceria de pesquisadores do Stockholm Environment Institute (SEI) com a ONG Global Canopy, baseada em Oxford e com foco na reestruturação de cadeias produtivas. "Podemos entender quanto desses fluxos têm relação com trabalho escravo, quanto há de déficit com o Código Florestal, quais empresas têm compromissos e por aí vai", afirma Arnaldo Carneiro, diretor da Global Canopy.

A plataforma conecta fluxos de produção agrícola da origem ao destino, assinalando empresas e países envolvidos na operação. Descreve as condições de produção e seus impactos, um diferencial em relação a outros bancos de dados do gênero. A ideia também é avaliar progressos em relação ao desmatamento zero e outras políticas de sustentabilidade.

Se quase toda a cadeia da soja na Amazônia está incluída na iniciativa conhecida por "moratória da soja", isso não acontece no Cerrado. Só metade da soja exportada do bioma está coberta por algum tipo de compromisso de desmatamento zero.

Em junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou os dados do desmatamento para o Cerrado. O Prodes Cerrado registrou perda de área nativa de 6.777 quilômetros quadrados, em 2016, e de 7.408 em 2017. O "Matopiba" (que reúne áreas dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foi a campeã do desmatamento.

Até 2020, os pesquisadores esperam que a Trase cubra os impactos e as operações de 70% de todas as commodities de risco ambiental comercializadas no mundo. A intenção é ampliar a cobertura de dados e análises para cacau, café, cana de açúcar, milho, algodão e madeira.

Os próximos dados a serem incorporados são análises sobre riscos climáticos e quebras de safras feitos por pesquisadores da Universidade de Viçosa, em Minas. Nos últimos 24 anos, segundo Carneiro, o Brasil perdeu 87 milhões de toneladas de soja devido a anomalias climáticas, sendo que nos últimos 15 anos a perda foi maior (65% do total). A plataforma vai incorporar os dados de perda na produção de milho e cana mostrando onde foram as quebras de safra, com qual intensidade e prejuízo.

Folha de S. Paulo – Carne, soja e pesca na Amazônia têm ligações estreitas com paraísos fiscais



Reinaldo José Lopes, SÃO CARLOS

Atividades econômicas com grande impacto ambiental, como a produção de carne e soja na Amazônia e a pesca predatória, têm ligações estreitas com paraísos fiscais mundo afora, revela um novo estudo.

Nas últimas décadas, os dois tipos de atividades receberam bilhões de dólares de investimento e apoio institucional vindo de locais que se notabilizam por cobrança simbólica ou inexistente de impostos e falta de transparência financeira, como as ilhas Caiman, o Panamá e as Bahamas (todos na América Central).

A pesquisa, baseada em dados públicos de organismos internacionais e do Banco Central do Brasil, acaba de sair na revista científica Nature Ecology & Evolution. O trabalho foi coordenado por Victor Galaz, pesquisador de origem chilena que trabalha na Universidade de Estocolmo, na Suécia.

Na maioria dos casos estudados, não há indícios diretos de atividades criminosas possibilitadas pela conexão com paraísos fiscais. Mas o uso de fundos nesses países, além de aumentar o risco de evasão fiscal, também pode afetar a transparência e o controle de atividades que trazem riscos ao ambiente.

“Em princípio, seria possível usar bons métodos estatísticos para mostrar que esses investimentos impulsionaram o desmatamento”, disse Galaz à Folha. “Mas, para isso, precisaríamos de mais dados financeiros aos quais não temos acesso, em parte porque as ligações com os paraísos fiscais aumentam o grau de segredo financeiro.”  

Para grandes empresas, as ligações com paraísos fiscais —por definição, territórios com cobrança de impostos baixíssima ou inexistente, que não exigem que uma empresa tenha atividades substanciais em sua jurisdição e sem regras de transparência financeira— apresentam uma série de atrativos e brechas legais.

É possível, por exemplo, exportar produtos a preço baixo para uma subsidiária da empresa sediada num paraíso fiscal e reexportar esses mesmos produtos de volta para o país a um valor bem maior, de modo a reduzir muito os impostos pagos no total da operação.

Para avaliar o possível peso dos fundos em tais países no agronegócio brasileiro que atua na Amazônia, os pesquisadores da Suécia, junto com colegas na Holanda, trabalharam com dados públicos oficiais do Banco Central, de 2000 a 2011, que contabilizam transferências de capital estrangeiro para o Brasil. (De 2011 para cá, os dados não são mais públicos, porque a política de confidencialidade a respeito deles está sendo revista.)

O grupo analisou as informações disponíveis sobre nove empresas —Bertin, JBS, Marfrig, Minerva (todas do setor de carne), Bunge, Cargill, Archer Daniels Midland, Amaggi e Louis Dreyfus (do setor da soja). O primeiro grupo, no período estudado, correspondia a mais de um terço da capacidade total de abate no país, enquanto o segundo equivalia a cerca de metade da capacidade nacional de processamento de soja.

Resultado: dos US$ 26,9 bilhões (em valores não corrigidos —cerca de R$ 102 bilhões) transferidos do exterior para essas nove empresas no período estudado, US$ 18,4 bilhões (quase 70% —aproximadamente R$ 70 bilhões) vieram de paraísos fiscais.

A proporção é superior ao recebido das mesmas fontes por empresas brasileiras de modo geral (38%, considerando apenas transferências de uma companhia para outra, ou dentro da mesma companhia). Entre os países-fonte, destacam-se, além das ilhas Caiman e das Bahamas, as Antilhas Holandesas.

A análise sobre a pesca predatória, que se baseou em dados da Interpol e de organizações regionais de controle pesqueiro, revelou, por sua vez, que 70% dos navios pesqueiros envolvidos em pesca ilegal ou não regulamentada levam bandeiras de paraísos fiscais, em especial Belize e Panamá.

E não é porque as frutas desses locais predominem de maneira geral, já que correspondem a apenas 4,4% dos navios registrados com esse fim no mundo.

Para Galaz, há uma movimentação forte no mundo todo para que haja mais transparência financeira e controle sobre esses fluxos de capitais e seus efeitos sobre a economia e o ambiente. “Mas, de fato, é um problema global, que exige ações conectadas globalmente.”
OUTRO LADO

A Folha procurou as empresas citadas no estudo que atuam no Brasil, assim como já tinham feito os próprios autores da pesquisa, para que comentassem os resultados.

A Minerva afirmou que tem compromisso público com a pecuária sustentável, comprando 100% de seu gado na Amazônia em fazendas monitoradas de acordo com auditoria externa.

“Nosso objetivo é desenvolver cadeias de fornecimento sustentáveis e livres de desmatamento”, declarou a Bunge em comunicado oficial. A empresa destaca sua adesão, há mais de uma década, à Moratória da Soja na Amazônia, que proíbe a compra do grão proveniente de áreas recém-desmatadas.

A Louis Dreyfus também destacou sua participação na Moratória da Soja e suas ações para evitar o desmatamento e minimizar o risco de mudanças climáticas.

Segundo a Amaggi, suas operações sempre seguiram a legislação nacional e são feitas “de acordo com os mais altos critérios de sustentabilidade”.
Já a Cargill disse que reiterava os comentários enviados aos autores da pesquisa. Neles, a empresa argumenta que não “esconde” fundos em paraísos fiscais, já que segue toda a legislação internacional e usa esses países para poder minimizar o risco de suas operações em países politicamente instáveis, nos quais aumentos de impostos súbitos podem afetar a companhia injustamente.

As demais empresas não enviaram comentários à Folha ou aos pesquisadores até a conclusão deste texto.

Embalagens de plástico: "pela natureza", fotografa os piores exemplos





Embalagens de plástico: "pela natureza", fotografa os piores exemplos


Em vésperas do Dia Nacional da Conservação da Natureza, lançámos um repto: fotografa as utilizações mais desnecessárias de embalagens de plástico e envia-nos. Daqui sairá uma galeria colaborativa para pôr o dedo na ferida.Resultado de imagen para plasticosa lixo imagens

Mar de lixo no Caribe

Todos os dias há novas notícias a dar à costa. Um mar de plástico gigante a invadir a República Dominicana. Uma ilha onde não se caminha chamada a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, que tem 17 vezes o tamanho de Portugal. Mil e um projectos e campanhas pela mudança de hábitos: contra as palhinhas, contra os copos descartáveis, contra o lixo em geral.



Contudo, como relembra o The Guardian, reduzir e reciclar o plástico ajuda, mas não resolve o problema, enquanto as grandes empresas não "assumirem responsabilidades pelos problemas que estão a criar". E basta dar uma volta por supermercados e lojas para darmos de caras com aplicações supérfluas deste material — de peças de fruta envoltas em novelos de plástico a produtos de plástico conservados em caixas de plástico embrulhadas em película de plástico.

A pensar nisto, e reproduzindo a proposta do periódico inglês, pedimos aos nossos utilizadores para fotografarem exemplos de utilização desnecessária e excessiva de plástico e de embalagens de plástico na sua vida diária. Em vésperas do Dia Nacional da Conservação da Natureza, que se assinala a 28 de Julho, pedimos para nos enviarem os piores exemplos para publicop3@gmail.com. Juntos faremos uma fotogaleria colaborativa para abanar mentalidades.

Urinóis ecológicos em Paris criam polémica

Urinóis ecológicos em Paris criam polémica

Na base do diferendo, estará o facto destes estarem demasiado expostos na via pública e, segundo a população local, em espaços impróprios para a sua localização.
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Um novo conjunto de urinóis ecológicos, que estão espalhados pelas ruas de Paris, estão a criar polémica. Na base do diferendo, estará o facto de estes estarem demasiado expostos na via pública e, segundo a população local, em espaços impróprios para a sua localização.
Um dos urinóis que está instalado na ilha de Saint Louis, nas imediações da catedral de Notre Dame e com vista para as embarcações turísticas que circulam diariamente sobre o rio Sena, tem criado muita indignação.
Os habitantes locais já informaram a autarquia que querem a remoção imediata do urinol. Os próprios admitem, caso as autoridades não tomem medidas, avançar com uma petição. "Não há necessidade de colocar algo tão faustoso e feio num local histórico", afirmou Paola Pellizzari de 68 anos, dona de uma loja. "Fica ao lado da mais bela moradia da ilha, o Hotel de Lauzun, onde Baudelaire morava", disse Paola. A comerciante teme que o urinol, que está instalado a 20 metros de uma escola primária, "incite o exibicionismo".

O criador dos "Uritrottoir" – uma mistura entre as palavras francesas para urinol e pavimento – defendeu a sua criação, argumentando que oferece uma solução ecológica para a "urina no espaço público". O dispositivo é essencialmente uma caixa com uma abertura frontal, onde se urina. Na parte de cima, estão arranjos florais, e por debaixo, está a palha, que juntamente com a urina servirá de fertilizante em parques e jardins públicos.

Os habitantes da ilha de Saint-Louis, mostram-se irredutíveis perante o utensílio, afirmando que pode denegrir a imagem de um dos bairros mais chic de Paris. "É horrível", reiterou o dono, de 50 anos, de uma galeria de arte próxima. "Disseram-nos que temos de aceitar isto, mas isto é absolutamente inaceitável. Está a destruir o legado da nossa ilha. As pessoas não se sabem comportar?", perguntou o homem.
No entanto, o líder do executivo local, Ariel Weil, insistiu que os dispositivos eram necessários. Os urinóis foram colocados pelas autoridades parisienses em pontos estratégicos, onde o urinar na via pública representa, de facto, um problema, e prometem colocar mais. "Se não tomarmos medidas, os homens vão continuar a fazer xixi nas ruas," afirmou o autarca.

Uma vez que os urinóis são utilizados, na sua esmagadora maioria, por homens, há quem veja esta campanha como um acto discriminatório. "Eles [urinóis] foram instalados segundo um pensamento sexista: Os homens não se conseguem controlar e assim toda a sociedade precisa de se adaptar. É um absurdo, ninguém precisa de urinar na rua", concluiu Gwendoline Coipeault, do grupo feminista francês Femmes Solidaires.

Valor Econômico – Glifosato sob fogo cerrado no mundo

MEIO AMBIENTE E ENERGIA


Por Kauanna Navarro e Cristiano Zaia | De São Paulo e Brasília

A condenação da americana Monsanto - que passou a ser controlada pela alemã Bayer - no caso de um ex-jardineiro de San Francisco esquentou as discussões em torno do uso de defensivos à base de glifosato, inclusive no Brasil. No país, os registros do produto, um dos agrotóxicos mais utilizados no mundo, estão ameaçados de suspensão, o que tem alimentado incertezas em relação ao plantio da próxima safra de soja (2018/19).

A Monsanto foi condenada nos Estados Unidos, em decisão passível de recurso, a pagar US$ 289 milhões em indenização a Dewayne Lee Johnson, que foi diagnosticado com linfoma não-Hodgkin e a Justiça considerou que a culpa foi da exposição a dois herbicidas à base de glifosato (Ranger Pro e Roundup). A notícia assustou a cadeia produtiva americana - e a brasileira -, pelo risco de que a decisão de San Francisco abra precedentes para outras resoluções similares. Só nos EUA há aproximadamente 5 mil ações contra a Monsanto por supostos casos de câncer associado ao insumo.

Na Europa, os investidores também se assustaram. Na bolsa de Frankfurt, as ações da Bayer caíram ontem 10,51%, ao menor nível desde dezembro de 2016. Na mínima do dia, o tombo chegou a 12,9%. A Bayer, cuja divisão farmacêutica mantém pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos contra o câncer, teve a aquisição da Monsanto, fechada por cerca de US$ 66 bilhões, definitivamente concluída este ano.

Em 1985, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA chegou a classificar o glifosato como um produto potencialmente cancerígeno, mas mudou essa classificação em 1991. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o glifosato é considerado "potencialmente" cancerígeno.

O glifosato é o herbicida mais usado no mundo. No Brasil, segundo maior mercado global para agrotóxicos, é o mais vendido, já que é considerado fundamental para o plantio de soja, carro-chefe do agronegócio nacional. E por aqui também está sob fogo cerrado, já que no dia 3 a juíza substituta da 7ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, Luciana Raquel Tolentino de Moura, concedeu tutela antecipada para que a União suspendesse os registros do produto.

Se a decisão da juíza prevalecer, o herbicida será suspenso após o dia 3 de setembro - 30 dias depois da decisão. Segundo a decisão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem até o dia 31 de dezembro para concluir procedimentos de reavaliação toxicológica para que o glifosato seja liberado. Caso a Anvisa não conclua a avaliação até o fim deste ano, estará sujeita à multa diária de R$ 10 mil.

Preocupado com os efeitos da decisão da Justiça Federal do DF às vésperas do plantio da safra 2018/19 de soja no país, o Ministério da Agricultura confia em uma ação que a Advocacia-Geral da União (AGU) deverá mover nesta semana para tentar derrubar a liminar. E não há plano B.

"O que me preocupa é a suspensão do produto. Isso é muito dramático, porque causa insegurança jurídica no início do plantio [em setembro]. Por isso confiamos na vitória da AGU", disse o secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Luís Eduardo Rangel.

A Pasta está finalizando uma nota técnica para que a AGU possa embasar a ação judicial - que vai argumentar que o glifosato é seguro e está muito difundido no mercado agrícola brasileiro para ser retirado de uma vez de circulação.

Produtores e associações afirmam que a produção da safra 2018/19 estará ameaçada se a proibição de fato ocorrer. "É um produto sem substituto hoje. Sem ele, acaba o plantio direto", afirma Mário Von Zuben, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

Após a colheita da soja, os agricultores, em muitos Estados, fazem a segunda safra de milho (safrinha) e, quando esse milho é colhido, o campo é forrado com braquiária ou outra pastagem para proteger o solo até a nova semeadura com soja. Depois o glifosato mata essa cobertura e possibilita o plantio direto da oleaginosa.

Sem a utilização do herbicida, o agricultor é obrigado a arrancar toda a cobertura do solo e fazer o preparo para o plantio. "Sem glifosato, tem de voltar para o plantio convencional, revirar todo o solo e isso abre espaço para erosões", diz Von Zuben.

Uma fonte da área de defensivos, que preferiu não se identificar, pondera que "para todo problema há uma solução". E alerta que, sem o glifosato, os custos vão subir. "Hoje, temos um produto que resolve o plantio direto. Sem ele, precisaríamos de uma cesta com cerca de seis produtos". Mesmo uma solução mais cara, segundo essa fonte, não resolveria os problemas da temporada 2018/19, porque boa parte dos defensivos já foi comprada e os agricultores não teriam tempo hábil para se preparar para o novo cenário.

Em dezembro, a Comissão Europeia recebeu críticas por renovar a licença para o glifosato por mais cinco anos. Alemanha e França, por exemplo, já tomaram medidas para restringir e, posteriormente, eliminar o uso do herbicida.

Mesmo que não haja uma restrição oficial, a notícia da condenação da Monsanto pode limitar o uso do glifosato de maneira indireta. A Homebase, uma das maiores varejistas britânicas do segmento de casa e jardim, está reavaliando se vai ou não continuar a venda de herbicidas que contenham glifosato, segundo informações da agência Reuters.