sexta-feira, 17 de maio de 2019

O cenário conturbado da gestão ambiental brasileira

Por Sucena Shkrada Resk* – 
 
A condução da gestão socioambiental no Brasil, neste ano de 2019, causa apreensão aqui e no exterior. Uma série de medidas estão sendo tomadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), sob comando do ministro Ricardo Salles, e têm causado polêmica ao acelerar a redução da competência da pasta nas ações de comando e controle. Seus críticos analisam que isso compromete o papel de fiscalização e conservação em associação à significativa redução de orçamento e algumas transferências de competências a outras pastas. Este pacote de ações tem suscitado reações de vários segmentos no Brasil e, inclusive, no âmbito das relações internacionais. O mesmo ocorre com projetos de lei (PLs), que tramitam, há anos, no Congresso Nacional, com estes mesmos tipos de propostas, que agora, voltam à cena.

Em ritmo de “hard news”, as notícias de novas medidas são veiculadas diariamente. Para começar a entender o que está em questão, é interessante partir da leitura da Medida Provisória (MP) 870/2019, que está sob análise no Congresso, o que pode significar modificações, o que exige acompanhamento.


O editorial do portal Direto da Ciência também explica o congelamento de recursos da pasta a programas e ações ambientais, neste ano, devido a contingenciamento determinado em decreto governamental em parte do orçamento liberado na Lei Orçamentária Anual para despesas não obrigatórias.

Outra fonte interessante é um estudo de 2018 divulgado pelo WWF-Brasil em parceria com a ONG Contas Abertas, que também aponta que o orçamento da pasta, em um período de cinco anos, foi reduzido em R$ 1,3 bilhão. Uma análise de contexto de retrospectivas em uma área que sempre sofreu pressão na estrutura governamental.

Reações: efeito em cadeia
A mais recente manifestação à acentuação da fragilização da atuação da pasta é a carta assinada, nesta semana, por oito ex-ministros do MMA, desde a gestão em 1995, que pertencem a diferentes gestões e correntes partidárias. Assinaram o documento: os ex-ministros Rubens Ricupero (1993-1994), Gustavo Krause, Sarney Filho (1999-2002 e 2016-2018), José Carlos Carvalho (2002), Marina Silva (2003-2008), Carlos Minc (2008-2010), Izabella Teixeira (2010 – 2016) e Edson Duarte (2018).

“O MMA perdeu o poder de governança…e também há um falso dilema. Ao se destruir a água e solo (sem conservação e fiscalização), o agronegócio será prejudicado”, afirmou Carvalho, em coletiva à imprensa, no último dia 8, com os demais ministros, com exceção de Krause, que não compareceu por motivos de saúde. Sarney Filho também enfatizou: “Agora o MMA é uma extensão do Ministério da Agricultura e há um desmonte…”.

Marina Silva alertou que a atual gestão quer acabar com o Sistema Nacional do Meio Ambienta (Sisnama) e como Ricúpero, destacou a importância de não desmerecer a construção da memória histórica da gestão ambiental brasileira, que vem desde o pioneiro Paulo Nogueira-Neto (veja no Blog Cidadãos do Mundo – Paulo Nogueira-Neto: história que se funde com o ambientalismo brasileiro) .

Os argumentos dos ex-ministros foram rebatidas pelo ministro, em nota, que logo foi apoiada por comunicado da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Também, nesta semana, mais de 80 organizações não governamentais e movimentos socioambientais emitiram nota de repúdio ao PL 3729/2004, que flexibiliza o licenciamento ambiental e tramita em regime de urgência na Câmara, como também a revisão da Medida Provisória 867, que sofreu emendas, e altera o atual Código Florestal, o tornando também mais flexível, com medidas como a retirada de prazo para o Cadastramento Ambiental Rural (CAR). O ministro em entrevistas já disse ser favorável à flexibilização.

A Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa) divulgou uma nota pública contra o teor do PL, que segundo a organização, poderia causar insegurança jurídica. Mais um PL, que causa polêmica, está sendo desarquivado. É o que libera a caça profissional de animais silvestres.

O que é possível observar na área legislativa é acentuação do que já existia em anos anteriores. De um lado, uma grande bancada que representa a Frente Parlamentar da Agropecuária – hoje, em torno de 260, entre deputados e senadores –  e de outro lado, a frente parlamentar ambientalista, em menor proporção, que tenta reverter e trazer à tona, por meio de audiências ou em comissões, uma discussão que incorpore a sociedade. Ao mesmo tempo, há uma novidade, neste jogo de forças. Depois de muitas legislaturas, pela primeira vez uma mulher indígena assume a cadeira de deputada. É a advogada Joênia Wapichana, que criou e lidera a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas.

Participação da sociedade
Uma atmosfera desconcertante gera polêmicas sucessivas e se estende a todas as instâncias de gestão do MMA. Após uma conturbada reunião, em março, conselheiros do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) fizeram uma moção de repúdio reivindicando a permanência da gestão participativa no órgão, devido a intervenções ocorridas no encontro. O MMA anunciou que deve reduzir o número de representantes, o que infere o distanciamento à gestão compartilhada desta agenda.

“Está havendo o enfraquecimento dos conselhos que a sociedade civil participa”, criticou o ex-ministro Rubens Ricúpero. Essa medida foi tomada, por meio da MP, pelo Governo Federal em mais de 50 conselhos e colegiados de diferentes setores, sendo que alguns foram extintos. Mas mais reviravoltas estão ocorrendo, no âmbito da análise do Congresso Nacional. No Senado Federal, em notícia do dia 9 de maio, o relatório o relatório do senador Fernando Coelha Bezerra (MDB-PE), por exemplo, recria o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Agora, para ter validade, deverá ser votado na Câmara e Senado e ser sancionado pelo Palácio do Planalto.
Outras manifestações partem da Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema Nacional), que em abril, divulgou uma carta aberta à sociedade na qual repudia declarações feitas pelo ministro sobre a gestão ambiental brasileira e os servidores.

Na esfera internacional, houve o manifesto de um grupo de mais de 600 cientistas e de 300 organizações indígenas à União Europeia, pedindo pressão de cunho comercial para o cumprimento das agendas ambientais pelo Brasil, divulgado em abril, que também foi rebatido pelo ministro.
Para conseguir compreender este quebra-cabeças, é necessária uma certa imersão. Seguem alguns dos principais pontos de medidas no MMA, que têm gerado reações:

No capítulo de combate às mudanças climáticas, o Brasil declinou de sediar a Conferência das Partes da Convenção do Clima, da Organização das Nações Unidas – COP25, devido a uma nova postura “negacionista” quanto às mudanças climáticas, retroagindo a acordos internacionais que haviam sido ratificados no país. O governo chileno será o anfitrião.

Esta postura infere medidas que estão sendo tomadas, afrouxando a fiscalização quanto ao desmatamento no país, em especial, na Amazônia, incluindo a extinção da Secretaria de Mudanças Climáticas. O MMA também perdeu o prazo para a apresentação do plano de aplicação e de formação do conselho para a gestão do Fundo Clima., que tem como uma das principais atribuições apoiar ações na área de adaptação às mudanças climáticas. Este é um retrocesso, segundo o ex-ministro Edson Duarte, como também a possibilidade de descontinuação do Fundo Amazônia.
“Neste ano, o Fundo terá de passar por nova negociação de financiadores internacionais, como Alemanha e Noruega, para 2020”, explicou.

Esses posicionamentos geram incertezas quanto à participação do Brasil no Acordo de Paris, que está atrelado ao cumprimento da Política Nacional de Mudança do Clima.
“O negacionismo climático é grave. Havia um protagonismo brasileiro e agora temos a possibilidade de comprometimento de credibilidade no âmbito internacional”, alerta a ex-ministra Izabella Teixeira. Segundo ela, estes posicionamentos podem acarretar até em medidas protecionistas contra o Brasil.
Quanto à conservação da biodiversidade, o Brasil não ratificou a adesão ao Protocolo de Nagoya da Biodiversidade, o que o retira de qualquer protagonismo nesta agenda internacional, na qual foi articulador em todo processo da Convenção da Diversidade Biológica.

No âmbito da estrutura da gestão, a Agência Nacional de Águas (ANA), com papel estratégico, na Política de Recursos Hídricos, e o Serviço Florestal Brasileiro foram transferidos para o Ministério da Agricultura. Medida criticada por Ricúpero.

O Departamento de Educação Ambiental  foi suspenso no Ministério da Educação. “No Ministério do Meio Ambiente agora não passa de citação na área de ecoturismo”, alertou Edson Duarte. Hoje ainda é possível ver todo rico acervo da área no link https://www.mma.gov.br/educacao-ambiental.html .

Idas e vindas
Também houve o avanço do sucateamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). “Houve um atentado à sua função nas demarcações de terras indígenas, que têm sido salvaguarda de proteção no Brasil”, completou o ex-ministro. Suas responsabilidades haviam sido passadas ao Ministério da Agricultura. Mas em decisão da Comissão Mista da Medida Provisória 870/19, na Câmara, no último dia 9 de maio, foi aprovada emenda do deputado Túlio Gadelha (PDT_PE). O texto determina que as atribuições voltem à Funai, que deverá deixar a atual pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e ser subordinada ao Ministério da Justiça. E o processo continua no Congresso.

No caso do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão das unidades de conservação federais, teve sua diretoria substituída por policiais militares recentemente o que causou reações por parte das equipes técnicas do órgão.

O ministro Salles anunciou recentemente que vai rever a instituição de todas as unidades de conservação do Brasil, que são cerca de 350, e deverá alterar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Ele questiona “critérios técnicos” para a criação de áreas protegidas.
Neste contexto, uma medida questionada pelos ex-ministros foi a de o Ibama autorizar a exploração petrolífera do Pré-Sal, na região do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, apesar de parecer técnico contrário.  “A baleia-jubarte havia saído da lista de ameaça de extinção e agora o governo libera o pré-sal”, questionou Carlos Minc.

E assim caminha a gestão ambiental brasileira… uma arena ainda que exige muita discussão e ambiente democrático.

*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 27 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
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Medida Provisória avança e ameaça o Código Florestal

 

A Medida Provisória (MP) 867/2018, que inicialmente alterava o prazo para adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), recebeu 35 emendas durante a sua tramitação. Com base nelas, o relator da Comissão Mista da MP, o deputado Sergio Souza (MDB-PR), redigiu uma proposta com alterações substanciais no Código Florestal, revelando a ineficiência brasileira em implantar a legislação ambiental.
 
Quinze a três foi o placar da votação que aprovou o relatório na Comissão Mista da MP 867, na quarta-feira (08). O resultado foi contrário a diversas manifestações sociais como a da rede do Observatório do Código Florestal, que publicou uma análise do relatório, revelando seus impactos negativos, como a nota de repúdio assinada por cerca de 30 ONGs ambientalistas, como a carta de 8 ex-ministro do meio ambiente, que alerta para os riscos de alteração da Lei, e até mesmo como a nota pública escrita pela Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), que alerta para o risco de judicializações. Todas as manifestações constatavam prejuízos ao meio ambiente e à produção agrícola, caso o relatório fosse aprovado.

Inicialmente, havia consenso entre ambientalistas, o lado arejado do agro e até mesmo entre os membros da oposição na Comissão, de que a MP como foi editada pelo Poder Executivo, apenas com a prorrogação do prazo do PRA, deveria ser aprovada. Contudo, a MP abriu a oportunidade para o setor ruralista mais arcaico inserir alterações no Código Florestal. Uma manobra para conceder mais anistias a quem desmatou repudiada amplamente pela organizações ambientalistas, academia, ex-Ministros e membros do Ministério Público. O Deputado Nilto Tatto (PT-SP) lembrou que as alterações propostas foram discutidas e superadas na decisão do STF nas Ações Direta de Inconstitucionalidade que tratavam do Código Florestal e que a aprovação do relatório coloca o “Código Florestal em uma insegurança jurídica e em risco para o setor agrícola”. Já o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) falou que a busca pela sustentabilidade passa pela segurança jurídica e passa pela a clareza das regras e destacou os prejuízos ambientais de alterar os marcos temporais para a necessidade de recuperação das Reserva Legais degradadas e, com isso, conceder mais anistias.

Análise do Observatório do Código Florestal
O Observatório do Código Florestal, coletivo de 29 organizações da sociedade civil que monitoram e defendem a implementação desta lei, fez uma nota técnica com uma análise minuciosa do relatório do Deputado Sergio Souza. O documento destaque os pontos com maior potencial de impactar o meio ambiente são: (1) as alterações no processo de adequação à lei para os imóveis que desmataram além do permitido na lei antes de 2008, que retiram o prazo de início para a efetiva implantação da Lei; (2) as alterações no art. 68 do Código Florestal, que fixam prazos de início da proteção da Reserva Legal mais atuais do que os que de fato existiam, anistiando quem desmatou irregularmente antes desses marcos; (3) o adiamento do prazo para 31 de dezembro de 2020, para que instituições financeiras verifiquem a inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) para a concessão de crédito rural. A nota ainda estima que as alterações propostas poderão consolidar entre 4 e 5 milhões de hectares de vegetação natural desmatadas irregularmente, área maior que a Dinamarca ou 7 milhões de campos de futebol. As notas estão disponíveis ao público na íntegra e em formato resumido.

Para Roberta del Giudice, secretária executiva do Observatório do Código Florestal, a nova tentativa de alteração da norma de proteção da vegetação natural, após 4 adiamentos do prazo para a inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e 7 anos da edição da Lei, tem consequências negativas relevantes para a proteção ambiental, criando um ambiente de insegurança jurídica e judicializações. “E, ainda, reitera a inaceitável mensagem de que o descumprimento das leis ambientais vale a pena, mesmo sendo uma Lei discutida por anos no Congresso Nacional e com a constitucionalidade validada pelo Supremo”, afirma Roberta.

Sobre o Programa de Regularização Ambiental (PRA)
O PRA foi instituído no novo Código Florestal como um instrumento para que sejam recuperadas ou compensadas áreas de preservação permanente ou reservas legais desmatadas. Com a adesão ao PRA, os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que tenham passivos ambientais, além de se comprometer em adequar ambientalmente o imóvel rural, podem acessar créditos rurais e não podem ser autuados por infrações cometidas antes de 2008. O programa se baseia na celebração de termos de compromisso transacionados entre órgãos ambientais e os proprietários e possuidores de imóveis, que
precisam se adequar e que já haviam desmatado em 2 de julho de 2008.
Próximos passos:
A MP irá tramitar para votação na Câmara dos Deputados e Senado Federal com prazo final para votação até 3 de junho de 2019.
Link para assistir a votação:
https://www.youtube.com/watch?v=7p-fYSqplo8
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Demanda chinesa por soja ligada a 223 mil hectares de desmatamento no Brasil

Risco de desmatamento se concentra em 8% do volume de soja importado por chineses, aponta relatório

A importação de soja brasileira pela China pode estar ligada a duas Nova Yorks de desmatamento no Brasil, ou 223 mil hectares, entre 2013 e 2017. O número é resultado de um levantamento inédito sobre a cadeia produtiva da soja exportada pela China feita pela Trase, plataforma global independente que monitora cadeias produtivas de commodities. O relatório foi divulgado nesta segunda-feira.
Uma fazenda de soja no Mato Grosso vista de cima (Image: Sentinel Hub)
Para calcular a exposição da soja comprada pela China ao desmatamento, a Trase multiplicou o total de desmatamento relacionado a soja nos locais que produzem para exportar para a China pela proporção da soja produzida nessas áreas que foi efetivamente comprada pelos chineses.

Os números fazem da China o país importador mais exposto ao risco de desmatamento, segundo a Trase. Mas isso só ocorre porque são também os chineses os maiores compradores da soja brasileira. No período de 2013 a 2017, a China comprou 42% da produção nacional de soja — quase três vezes o volume compraod pela União Europeia.

“A China é o principal comprador e realmente promove alterações de grandes regiões no Brasil”, afirma André Vasconcelos, pesquisador da América Latina da Global Canopy, responsável pela Trase junto com o Stockholm Environment Institute.

O Brasil plantou três Holandas de soja, ou 128.600 quilômetros quadrados, para entregar as 54 milhões de toneladas compradas pela China em 2017. No ano passado, a importação cresceu ainda mais, para 84 milhões de toneladas.

Desmatamento localizado

Embora a soja exportada para a China venha de mais de 2 mil municípios pelo Brasil, o levantamento da Trase mostra que o risco de desmatamento associado a exportações para a China está concentrado em poucas delas, responsáveis por apenas 8% do volume comprado.


“Como está bem, concentrado, acreditamos que seja uma oportunidade para a China reduzir esse impacto”, calcula Vasconcelos.
O volume com maior risco sai do coração do Matopiba, como é chamada a região composta por quatro estados brasileiros, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O bioma da região, o Cerrado, é o mais ameaçado pelo desmatamento no Brasil — e também onde mais se expandem as plantações de soja. Entre 2001 e 2017, mostrou o Atlas Agropecuário do Imaflora, a produção de soja no Matopiba cresceu 310%.
O risco de desmatamento associado na região é de 80%. O cálculo é feito a partir de dados de produções de commodities, padrões de compra e desmatamento. Por exemplo, se um país compra metade da soja de um município brasileiro onde 800 hectares de desmatamento estão diretamente ligados à produção de soja, o risco de desmatamento de soja para aquela empresa é de 400 hectares, ou 50% do total.
Apesar dos riscos associados aos grandes volumes de exportação, a China compra, proporcionalmente, menos soja de lugares com alto risco de desmatamento do que a União Europeia. Isso ocorre porque, enquanto a China compra a maior parte da sua produção da região Sul do Brasil, a Europa concentra suas compras exatamente na região do Matopiba, onde há mais risco.

Empresas responsáveis

O levantamento feito pela equipe da Trase mostrou, ainda, que apesar de centenas de empresas estarem envolvidas na cadeia produtiva da soja Brasil-China, apenas seis empresas são responsáveis por 70% do volume exportado para a China do Matopiba: Agrex, Amaggi, LD Commodities, Multigrain, Cargill, Bunge e ADM.

A COFCO, maior empresa chinesa envolvida na cadeia, também está entre as maiores exportadoras de soja para a China — com 7% do volume exportado. No Matopiba, é responsável por 6% das exportações, sendo a sétima maior exportadora.

Em janeiro deste ano, o presidente da COFCO, Jun Lyu, surpreendeu no Fórum Econômico Mundial em Davos ao publicar um artigo em que conclamou a comunidade internacional a unir esforços para combater o desmatamento. Em seu texto, o executivo chamou atenção às vulnerabilidades da cadeia produtiva da soja e à necessidade de proteger o Cerrado brasileiro em especial.
“Os esforços contra o desmatamento ganhariam um impulso significativo se mais participantes de mercados emergentes, tanto nos países produtores quanto nos de consumo, ficassem atrás de commodities sustentáveis”, escreveu. “Vamos usar esta oportunidade em Davos para levar esta colaboração à frente”.

Vasconcelos vê uma preocupação crescente entre as empresas chinesas com desmatamento na cadeia produtiva. “Vemos com muito entusiasmo o posicionamento que a Cofco adotou. É importante que o setor se posicione e que trabalhe para combater o desmatamento”, disse.

Empresas como a COFCO também estão preocupadas com danos às suas reputações, junto a acionistas e consumidores. Especialistas acreditam que a associação da soja brasileira a este tipo de dano pode impactar o crescimento do Brasil em novos mercados se parceiros deixarem de comprar em razão do risco.

Pesquisas mostram que não é necessário desmatar para aumentar a produção. Entre 1991 e 2017, a produção de grãos subiu 312%, enquanto a área plantada, 61%, segundo dados do Observatório do Clima. O uso de áreas já degradadas é uma opção defendida por pesquisadores. Juntas, as áreas degradadas na Amazônia e no Cerrado ultrapassam 30 milhões de hectares.

“É mais ou menos o tamanho de uma agricultura brasileira que está abandonada e em processo de degradação”, afirma Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

As consequências

 O desmatamento já está provocando alterações no regime de chuvas. Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprasoja), o Brasil perdeu 11 milhões de toneladas de grãos, algo em torno de R$ 17 bilhões, por conta de eventos climáticos, como chuvas fortes e estiagens longas. Para Assad, o problema é conhecido.
Sem florestas em pé, a capacidade de captar e bombear água para atmosfera, a chamada evapotranspiração, diminui drasticamente. As chuvas que vêm da Amazônia vão se diluindo e não chegam ao Cerrado, por exemplo, comprometendo as safras por deficiência hídrica. Chuvas concentradas prejudicam igualmente.

A vegetação desmatada também é combustível para a emissão de gases de efeito estufa. Em 2016, o Brasil alcançou o sexto lugar na lista de maiores emissores de gases do mundo. Naquele ano, 51% dos 2.278 bilhões de toneladas emitidas entraram na conta do desmatamento.
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‘Historicamente, o Brasil sempre chegou atrasado ao futuro. Mas agora, ao que parece, chegaremos atrasados ao passado’; Entrevista com o jornalista Henrique Cortez

‘Historicamente, o Brasil sempre chegou atrasado ao futuro. Mas agora, ao que parece, chegaremos atrasados ao passado’; Entrevista com o jornalista Henrique Cortez


”Historicamente, o Brasil sempre chegou atrasado ao futuro. Mas agora, ao que parece, chegaremos atrasados ao passado’; Entrevista com o jornalista Henrique Cortez

Por Patricia Fachin, IHU
A condução da agenda ambiental brasileira no governo Bolsonaro é ancorada em duas vertentes: a primeira visa dar continuidade ao modelo de desenvolvimento que “considera a defesa das questões ambientais como uma ameaça aos negócios e ao lucro”, e a segunda é ancorada na “visão antiestado da ultradireita, para a qual o governo não pode ‘se meter’ na vida e nos negócios de ninguém”, diz Henrique Cortez, jornalista da revista eletrônica EcoDebate, na entrevista a seguir, concedida por e-mail para a IHU On-Line.

Esse tipo de visão, explica, tem orientado a tomada de decisão na área ambiental e se manifesta na hostilidade do governo à existência e à atuação do Ibama e do ICMBio. “A primeira evidência está no Ministério do Meio Ambiente defendendo uma agenda antiambiental, reduzindo o poder e a atuação do Ibama e do ICMBio, tentando limitar e esvaziar o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, atacando organizações da sociedade civil com importante atuação ambiental, afrouxamento do licenciamento ambiental e outras ações que considero desmonte da governança ambiental construída desde 1992”.

Entre os desmontes ambientais iniciados pelo novo governo, Cortez menciona o decreto que “extinguiu o Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS Xingu, criado para administrar as ações socioambientais decorrentes da UHE Belo Monte”, e a proposta de revisar as Unidades de Conservação – UCs. “Dizer que as unidades de conservação foram criadas sem critério técnico é uma bravata, estúpida como tantas outras. A criação de uma Unidade de Conservação – UC é um processo técnico multidisciplinar, rigoroso e com base científica. Então por que a revisão geral? Simples. É um agrado ao desenvolvimentismo econômico mais predatório, na medida em que a redução da área das UCs permitiria aumentar a fronteira de produção agropecuária e da mineração”.

Nesta entrevista, Cortez também comenta os desafios de fazer jornalismo ambiental independente no Brasil. O jornalista está à frente do EcoDebate há 13 anos e recentemente enviou uma carta a seus leitores, comunicando que a revista eletrônica poderá ser desativada em 1º de junho deste ano, por falta de recursos financeiros.
Henrique Cortez
Henrique Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Henrique Cortez é jornalista especializado em meio ambiente, consultor em comunicação ambiental e editor do site EcoDebate.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O governo Bolsonaro iniciou sua gestão envolvido em uma série de polêmicas acerca da agenda ambiental. Que balanço o senhor faz do modo como essa agenda está sendo tratada nos primeiros meses do governo?
Henrique Cortez – Não vejo surpresas. Desde sempre, e explicitamente na campanha eleitoral, Bolsonaro demonstrou uma visão rasa das questões socioambientais e, em razão desta visão simplista, uma clara oposição aos principais temas e políticas públicas relativas ao meio ambiente. E, até agora, o governo segue firme na desregulação e na redução das políticas conservacionistas, o que deve se aprofundar ao longo do mandato.
IHU On-Line – Em que aspectos a condução da agenda ambiental no governo Bolsonaro se aproxima e se distancia de gestões anteriores?
Henrique Cortez – O governo Bolsonaro empenha-se pelo desenvolvimentismo a qualquer custo, algo presente desde o governo Juscelino Kubitschek – JK e mais intenso nos governos militares, sob o discurso do ‘Brasil Grande’. Nos governos Lula e Dilma, este modelo desenvolvimentista também foi muito atuante, com destaque nas grandes obras e suas empreiteiras, no agronegócio, aqui entendido como o segmento exportador de commodities agropecuárias e na exportação de minérios. E este modelo está ainda mais poderoso no governo Bolsonaro.
No entanto, nos governos Lula e Dilma, as políticas de proteção social e a compreensão das demandas da sociedade permitiram a criação de freios ao modelo desenvolvimentista mais predatório. Estes freios não existem no governo Bolsonaro.
Mas a maior diferença está na questão ideológica e na adoção de conceitos da ultradireita dos EUA, da qual a ultradireita brasileira é satélite. A ultradireita dos EUA e suas milícias [1] organizadas são antigoverno e rejeitam que o governo, de qualquer forma, interfira na liberdade individual do cidadão, que no caso ambiental, refere-se ao poder regulador e fiscalizador do Estado. Então, a atual gestão, ao atacar a legislação, a fiscalização ambiental e as unidades de conservação, é coerente com esta visão.

IHU On-Line – Por que órgãos como o Ibama e o ICMBio são vistos pelo novo governo como empecilhos ao desenvolvimento?
Henrique Cortez – O atual governo é hostil à existência e atuação do Ibama e do ICMBio a partir de duas vertentes que, na prática, somam forças. De um lado, o desenvolvimentismo econômico a qualquer custo, que considera a defesa das questões ambientais como uma ameaça aos negócios e ao lucro e, de outro lado, reitero, a visão antiestado da ultradireita, para a qual o governo não pode ‘se meter’ na vida e nos negócios de ninguém.
São duas vertentes com grandes diferenças em temas econômicos, sociais e regulatórios, mas neste momento são, na prática, aliadas táticas. Sinceramente, vejo que a união da versão mais selvagem do capitalismo com a ultradireita, essencialmente ideológica, possui um grande potencial devastador.
IHU On-Line – Por que, novamente, o agronegócio tem um papel ou um poder de atuação central no governo?
Henrique Cortez – O agronegócio é atuante e poderoso há vários governos. Mas é importante ressaltar que este poder de pressão é controlado pelo segmento exportador de commodities agropecuárias e pela agroindústria, a partir de uma poderosa e crescente bancada ruralista, provavelmente a mais articulada do Congresso Nacional. Mas a questão neste governo é que a pior versão do agronegócio veio à tona.
Entendo que existem duas versões do agronegócio, como em Dr Jekyll and Mr Hyde: de um lado, Dr Jekyll, que é uma versão aceitável e, de outro, uma versão Mr Hyde, que chamo de ogronegócio, associado à violência no campo, violações de direitos humanos, trabalho escravo, desmatamento ilegal, grilagem, milícias rurais etc. No governo Bolsonaro, esta versão ogro não teme defender sua agenda, como desmantelamento da atuação dos órgãos ambientais, redução do combate ao trabalho escravo, degradante e infantil, liberação de armas e muniçõesrevisão das áreas protegidas, anistias e por aí vai. Ao que parece, até o momento, a agenda do ogronegócio avança de forma rápida e consistente.
IHU On-Line – Vários especialistas e ambientalistas têm afirmado que o governo está fazendo um “desmonte” da governança ambiental. Concorda com essa análise? Pode nos dar alguns exemplos de como esse “desmonte” está sendo feito?
Henrique Cortez – A primeira evidência está no Ministério do Meio Ambiente defendendo uma agenda antiambiental, reduzindo o poder e a atuação do Ibama e do ICMBio, tentando limitar e esvaziar o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, atacando organizações da sociedade civil com importante atuação ambiental, afrouxamento do licenciamento ambiental e outras ações que considero desmonte da governança ambiental construída desde 1992.
Um exemplo objetivo: o governo Bolsonaro, por decreto em 7 de maio, extinguiu o Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS Xingu, criado para administrar as ações socioambientais decorrentes da UHE Belo Monte.
IHU On-Line – Nesta semana, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, informou que o Ministério vai fazer uma revisão geral das 334 unidades de conservação no país, porque parte dessas unidades “foi criada sem nenhum tipo de critério técnico”. Como o senhor avalia esse tipo de medida?
Henrique Cortez – Na linha da questão anterior, esta é mais uma ação na direção do desmonte da governança ambiental. Dizer que as unidades de conservação foram criadas sem critério técnico é uma bravata, estúpida como tantas outras. A criação de uma Unidade de Conservação – UC é um processo técnico multidisciplinar, rigoroso e com base científica. Então por que a revisão geral?
Simples. É um agrado ao desenvolvimentismo econômico mais predatório, na medida em que a redução da área das UCs permitiria aumentar a fronteira de produção agropecuária e da mineração. E, obviamente, quanto menor a proteção, maior a devastação e o lucro.
IHU On-Line – Outra medida polêmica envolvendo o governo é a alteração do sistema de convenção de multas aplicadas pelo Ibama, através do decreto 9.760, que criou o Núcleo de Conciliação Ambiental, que pode perdoar ou revisar multas ambientais. Quais podem ser as consequências desse tipo de medida a longo prazo?
Henrique Cortez – Aqui, novamente, somam forças o desenvolvimentismo e a ultradireita. O surrado chavão da indústria de multas do Ibama e do ICMBio é absurdamente falso, porque os órgãos ambientais, de acordo com o Tribunal de Contas da União – TCU, mal conseguem arrecadar 5% das multas que aplicam. É, provavelmente, a indústria mais incapaz da galáxia.
Núcleo de Conciliação Ambiental é uma ação a mais para evitar qualquer efetividade nas multas, o que interessa ao desenvolvimentismo econômico e agrada a ultradireita ao limitar ainda mais a atuação e o exercício do poder fiscalizatório do Estado.
IHU On-Line – Que pautas ambientais deveriam ser prioritárias no país neste momento? Por quê?
Henrique Cortez – As pautas são inúmeras, mas a primeira e mais urgente está em evitar os retrocessos que ameaçam a governança ambiental construída ao longo de décadas, como corretamente alertaram os ex-ministros do Meio Ambiente, em nota pública. Foi uma importante iniciativa que deveria ser reproduzida pelos ex-ministros da Educação e da Cultura, por exemplo.
Por outro lado, falta ao ambientalismo uma grande dose de generosidade e altruísmo, no sentido de que todos devem se unir diante dos desafios. As grandes ONGs ambientais precisam compreender a importância de somarem esforços e atuarem em conjunto. Nenhum interesse individual é maior que o interesse do coletivo.
Raras organizações ambientalistas conseguem traçar uma agenda comum com outras ONGs ambientais e, principalmente, com os agentes sociais e os movimentos populares como a CPT[Comissão Pastoral da Terra], o MST [Movimento dos Sem-Terra], o MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], as organizações de defesa dos direitos humanos, dos indígenas, dos quilombolas.
Diante das ameaças ao nosso futuro comum, esta é uma dinâmica que precisa ser mudada com urgência.
IHU On-Line – Quais são as dificuldades de fazer jornalismo ambiental independente no Brasil? Que análise o senhor faz a partir da sua experiência à frente do EcoDebate há mais de uma década?
Henrique Cortez – A lista de dificuldades é imensa, mas tentarei sintetizar. A maior e mais significativa dificuldade está na viabilidade econômica da manutenção do jornalismo independente, quer seja social, ambiental ou investigativo.
Sempre foi muito difícil, mas, desde o ano passado, as dificuldades financeiras estão insuportáveis para os movimentos sociais e para a mídia independente. Vários veículos impressos e online deixaram de existir e outros seguirão pelo mesmo caminho porque não conseguem recursos mínimos para se manter.
Se defendemos a socialização da informação, não podemos depender do financiamento por parte do(a) leitor(a), quer seja por assinatura solidária, quer seja por doações.
O correto é que os veículos de comunicação sejam mantidos com recursos publicitários. Afinal, se as empresas “sustentáveis” investem milhões na mídia de futilidade pública, por que não na mídia socioambiental?
O problema é que ao capital não interessa a sobrevivência do jornalismo ambiental independente exatamente por causa desta independência, e não somos o que as empresas querem. As empresas se interessam em incentivar o consumo e não a informação e a consciência crítica da sociedade. Ou, de forma mais direta, querem que você compre, mas não pense. Então, a sobrevivência do jornalismo ambiental independente está seriamente ameaçada.
IHU On-Line – Que balanço o senhor faz da manutenção do EcoDebate no ar ao longo dos últimos 13 anos? Quais diria que foram os pontos altos e baixos nesse período?
Henrique Cortez – É difícil fazer uma avaliação isenta de seu próprio projeto editorial, mas, ainda assim, acredito que seja positivo. Aliás, qualquer experiência de democratização da informação é positiva, como qualquer experiência democrática.
Desde 2005, os temas socioambientais, quer globais, quer locais, passaram por várias fases. As discussões climáticas e da água avançaram bastante e a sociedade está mais preocupada com o assunto e as potenciais consequências futuras. E o jornalismo ambiental teve e tem um papel importante nestes avanços.
Por outro lado, em questões extremamente importantes, como saneamento, poluição e resíduos sólidos, os avanços foram mínimos. Nos temas relativos à conservação (florestal e biodiversidade) e na política de áreas protegidas, não avançamos e agora temos retrocessos já visíveis e que devem se aprofundar.
Mas e a mídia ambiental e o EcoDebate em especial nesse processo? Bem, por um lado nosso crescimento em alcance e leitores, ao longo dos anos, demonstra que o interesse em informações socioambientais confiáveis e de base científica aumentou bastante. De outro lado, ainda estamos presos ao nicho mais informado e consciente.
Esse, até agora, é um limite que toda a mídia independente encontra. A maioria da população não quer se interessar pelo que informamos.
A alienação, o descompromisso para com a realidade, é uma opção pessoal reconfortante. Consciência crítica da realidade pode ser muito ‘desconfortável’. Então, a omissão permite ficar na ‘zona de conforto’, sem maiores incômodos. E nós, da mídia socioambiental, não conseguimos ‘conversar’ com esta maioria da população.
Paciência, fazemos o que está ao nosso alcance, da melhor forma que conseguimos. O(a) leitor(a) tem direito a optar pela informação alienante e descompromissada, mas nós não temos direito à omissão.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Henrique Cortez – Acho importante que a sociedade compreenda que nosso futuro comum está ameaçado, como podemos ver nas ações do governo Bolsonaro nas questões sociais, de direitos humanos, previdenciárias, ambientais, culturais e nas políticas educacionais.
A intolerância, o preconceito, o negacionismo climático, a rejeição à ciência, ao conhecimento e à cultura, a misoginia, o revisionismo histórico sempre desqualificam o debate e a difusão de ideias, insistindo nos discursos rasos, chavões, frases de efeito e bravatas. É a estratégia deste governo.
Mas não é preciso genialidade para compreender que um projeto de país não é construído a partir de discursos rasos, chavões, frases de efeito e bravatas. Que futuro será construído com retrocessos?
A caminho da segunda década do século XXI, vemos a defesa de ideias que já eram equivocadas na primeira metade do século XX. Historicamente, o Brasil sempre chegou atrasado ao futuro. Mas agora, ao que parece, chegaremos atrasados ao passado…

Nota:

[1] Movimento de milícias nos Estados Unidos, Wikipédia, a enciclopédia livre. (Nota do entrevistado)

(EcoDebate, 16/05/2019) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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Mudanças Climáticas – Estudo revela que 24% do gelo da Antártica Ocidental é agora instável

Mudanças Climáticas – Estudo revela que 24% do gelo da Antártica Ocidental é agora instável


Mudanças Climáticas – Em apenas 25 anos, o derretimento do oceano fez com que o afinamento do gelo se espalhasse pela Antártida Ocidental tão rapidamente que um quarto do gelo de sua geleira foi afetado, segundo um novo estudo.

American Geophysical Union*

Cientistas do Centro de Observação Polar e Modelagem (CPOM), sediado na Universidade de Leeds, no Reino Unido, combinaram 25 anos de medidas de satélites satélites da Agência Espacial Européia e um modelo do clima regional da Antarctica para rastrear mudanças na cobertura de neve e gelo em todo o continente.

Um novo estudo na revista Geophysical Research Letters, da AGU, descobriu que a camada de gelo da Antártica diminuiu em até 122 metros, com as mudanças mais rápidas ocorrendo na Antártida Ocidental, onde o derretimento do oceano desencadeou o desequilíbrio glacial.

Isso significa que as geleiras afetadas são instáveis, já que estão perdendo mais massa por meio do derretimento e do iceberg do que da neve.

A equipe de pesquisa descobriu que o padrão de desbaste das geleiras não é estático ao longo do tempo. Desde 1992, o desbaste se espalhou por 24% da Antártida Ocidental e pela maioria dos seus maiores córregos de gelo – as geleiras Pine Island e Thwaites – que agora estão perdendo gelo cinco vezes mais rápido do que estavam no início da pesquisa.
mapa mostra as mudanças na espessura da camada de gelo da Antártida de 1992 a 2017
Este mapa mostra as mudanças na espessura da camada de gelo da Antártida de 1992 a 2017. O aquecimento das águas oceânicas causou a redução do gelo tão rapidamente que 24% das geleiras na Antártida Ocidental estão sendo afetadas. Em alguns lugares, o desbaste de geleiras se espalhou para o interior. 
 
Crédito: Shepherd et al 2019 / Cartas de Pesquisa Geofísica / AGU.

O estudo utilizou mais de 800 milhões de medições da altura do manto de gelo da Antártica registradas pelas missões de satélite do ERS-1, ERS-2, Envisat e CryoSat-2 entre 1992 e 2017 e simulações de neve no mesmo período produzidas pelo RACMO regional modelo climático.
Juntas, essas medidas permitem que as mudanças na altura da camada de gelo sejam separadas naquelas devido a padrões climáticos, como menos neve, e aquelas devidas a mudanças de longo prazo no clima, como o aumento da temperatura oceânica que consome o gelo.

“Em partes da Antártida, a camada de gelo diminuiu em quantidades extraordinárias, e assim começamos a mostrar o quanto era devido a mudanças no clima e quanto estava devido ao clima”, disse Andy Shepherd, cientista polar da Universidade de Leeds, diretor do CPOM e principal autor do novo estudo.

Para fazer isso, a equipe comparou a mudança da altura da superfície medida às mudanças simuladas na queda de neve e, onde a discrepância foi maior, atribuíram sua origem ao desequilíbrio glacial.
Eles descobriram que as flutuações na neve tendem a causar pequenas mudanças de altura em grandes áreas por alguns anos, mas as mudanças mais pronunciadas na espessura do gelo são sinais de desequilíbrio glacial que persistem há décadas.
Sequência de tempo da mudança da espessura do gelo da geleira antártica
Sequência de tempo da mudança da espessura do gelo da geleira antártica (esquerda) e contribuição associada à subida do nível do mar (à direita) entre 1992 e 2019. 
Crédito: Centro de Observação Polar e Modelação.

“Saber quanto neve caiu realmente nos ajudou a detectar a mudança subjacente no gelo da geleira dentro do registro do satélite”, disse Shepherd. “Podemos ver claramente agora que uma onda de desbaste se espalhou rapidamente por algumas das geleiras mais vulneráveis ​​da Antártica, e suas perdas estão elevando os níveis do mar ao redor do planeta.

No total, as perdas de gelo da Antártida Oriental e Ocidental contribuíram com 4,6 milímetros para o aumento global do nível do mar desde 1992, de acordo com o estudo.

“Esta é uma importante demonstração de como as missões por satélite podem nos ajudar a entender como o nosso planeta está mudando”, disse Marcus Engdahl, cientista de observação da Terra na Agência Espacial Europeia e co-autor do novo estudo. “As regiões polares são ambientes hostis e são extremamente difíceis de acessar do solo. Por causa disso, a visão do espaço é uma ferramenta essencial para rastrear os efeitos da mudança climática. ”
Referência:

Trends in Antarctic Ice Sheet Elevation and Mass
Andrew Shepherd, Lin Gilbert, Alan S. Muir, Hannes Konrad, Malcolm McMillan, Thomas Slater, Kate H. Briggs, Aud V. Sundal, Anna E. Hogg, Marcus Engdahl
Geophysical Research Letters
DOI https://doi.org/10.1029/2019GL082182

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/05/2019
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Mudanças Climáticas – Estudo revela que 24% do gelo da Antártica Ocidental é agora instável

," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/05/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/05/17/mudancas-climaticas-estudo-revela-que-24-do-gelo-da-antartica-ocidental-e-agora-instavel/.

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