[
EcoDebate]
SILVA et al (1997) assinalam que apesar dos confrontos entre as
diferentes correntes de pensamento atual, Fucks argumenta que as grandes
questões ambientais parecem tender a um posicionamento consensual entre
os atores.
De acordo com VIOLA & LEIS, ao final da década de 80, o movimento ambientalista possuía duas posições distintas.
Uma minoritária, que não assumia nem as características, nem as
regras da dimensão política, enfatizando atitudes éticas e espirituais
de tendência biocêntrica.
E outra majoritária, que assumia plenamente a dimensão política,
sendo esta subdividida em uma subclasse minoritária, a qual achava
necessária uma rápida e intensa disseminação de valores ecológicos, com
redistribuição do poder político-econômico em níveis local e global.
E em uma subclasse majoritária, de caráter reformista, que apontava
para a necessidade da adoção gradual de um novo modelo de
desenvolvimento o qual, baseado na racionalidade científica,
interiorizasse a sustentabilidade social e ambiental (VIOLA & LEIS,
1992).
SILVA et al (1997) assinalam que a ciência se move do conhecido para o
desconhecido, tentando revelar as regularidades, as leis, os processos
que se acham escondidos nas aparências, em que o método significa o
caminho a ser seguido.
Atualmente, por meio das Ciências da Complexidade, buscam-se teorias
que possibilitem decifrar a linguagem universal dos padrões evolutivos
para os quais todos os sistemas se dirigem.
Partindo das descobertas da termodinâmica, da física quântica,
transportando-as para a biologia evolucionária dos sistemas vivos, as
ciências encontram seus limites onde a relação entre o particular e o
universal continua um desafio em aberto.
Deste modo, a complexidade poderia ser útil para uma melhor
compreensão da realidade social e ambiental que vivenciamos, indicando a
necessária integração, mediante uma Ecologia Complexa.
O cartesianismo contribui para o fracionamento e a internalização,
tanto nos indivíduos, quanto nas instituições, sendo preciso buscar
alternativas metodológicas, técnico-científicas,
político-institucionais, industriais e comportamentais, incorporando
todos os setores envolvidos com as questões sociais e ambientais
emergentes.
Para enfrentar tais desafios, se concorda com JONAS (1973) ao afirmar
que não há uma receita única, mas somente muitos caminhos como
compromissos que deverão hoje e sempre ser procurados em uma vigilância a
cada instante.
Quanto à viabilização de uma nova prática para o desenvolvimento,
Brüseke indica a necessidade de aprimoramento das teorias,
considerando-se a pluridimensionalidade da sociedade global no seu
contexto natural.
As propostas para um desenvolvimento sustentável, embora não consensual entre diversos autores, apontam nesta direção.
A introdução de elementos das discussões sobre sistemas dinâmicos não
lineares parece oportuna e também foi realizada por Fernando Spilki e
Roberto Naime no “Padrão de (des)ordem da natureza da editora da
Universidade FEEVALE.
Há que se elaborar melhor a capacidade de interpretação, na tentativa
de se preverem os riscos de fracasso de novas propostas de
desenvolvimento, mesmo que estas levem em conta as limitações ecológicas
e sociais em seu bojo (BRÜSEKE, 1993).
É necessário realizar previsões e tomar decisões num contexto de
incertezas, de riscos tecnológicos, ambientais estruturais e de
proporções globais, como determina a sociedade de risco de Ulbrich.
SILVA et al (1997) descreve que quanto aos desdobramentos futuros
para a humanidade de questões como a desordem global da biosfera,
podem-se vislumbrar alguns cenários possíveis, tais como, continuidade
desequilibrante, eco-autoritarismo, centralismo ecológico global com
auto-organização democrática local e auto-eco-organização global (VIOLA
& LEIS, 1991).
Contudo, para evitar que os embates produzam decisões autoritárias,
se faz necessária a construção de uma ética que possibilite orientar os
rumos da tecnociência e da política em nível mundial.
Hottois propõe uma ética de solidariedade para a era da tecnociência,
sendo baseada num diálogo aberto, que determina um confronto pluralista
e interdisciplinar e também na ética reguladora.
Pragmatismo, não-exclusão de apropriações, ética da ambivalência, no
sentido de ser esta uma escolha, e não uma conclusão lógica, ou um
resultado mecânico, ética evolutiva e da reversibilidade dos princípios e
ética da corresponsabilidade (HOTTOIS, 1994) são adequados para a
situação contextual.
Para FERRY (1994), é além do cartesianismo e do utilitarismo, assim
como da ecologia fundamentalista, que se deve elaborar uma teoria dos
deveres com a natureza, sendo importante realizar uma fenomenologia dos
sinais do humano na natureza para se ter acesso à consciência clara do
que pode e deve ser valorizado.
A partir disto e impondo limites ao intervencionismo da tecnociência,
é que a ecologia democrática poderia responder aos desafios lançados.
A sorte está lançada, é preciso criar uma nova autopoiese sistêmica
para a civilização humana, sem apelos ideológicos inúteis e o uso de
apanágios científicos inovadores ou não, mas meramente camufladores.
Dr. Roberto Naime,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental.
Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade
Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na
Amazon.
Nota da Redação: Sugerimos que leia, também, as partes anteriores desta série de artigos:
A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 1/7
A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 2/7
A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 3/7
A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 4/7
A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 5/7
A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 6/7
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EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/08/2018
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