terça-feira, 20 de setembro de 2022

 https://conexaoplaneta.com.br/blog/estara-o-maior-felino-das-americas-voltando-ao-norte-do-continente-apos-ser-dizimado-no-seculo-passado/#fechar


Estará o maior felino das Américas voltando ao norte do continente após ser dizimado no século passado?

Estará o maior felino das Américas voltando ao norte do continente após ser dizimado no século passado?

onça-pintada (Panthera onca) é a maior espécie de felino das Américas e a terceira maior do mundo. Linda e majestosa, num passado distante ela era observada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte argentino, mas acabou desaparecendo em muitos desses lugares, sobretudo, nas áreas mais ao norte do continente. Foi caçada e dizimada, inclusive, com apoio governamental.

Todavia, ainda existe uma pequena população de onças-pintadas, cerca de 200 indivíduos, na região de Sonora, na fronteira entre o México e o estado do Arizona, nos Estados Unidos. E nos últimos anos, diversos pesquisadores e organizações que monitoram esses animais perceberam que alguns deles têm se aventurado mais ao norte, talvez tentando recuperar o território perdido no século passado.

No mês passado, por exemplo, a ONG mexicana Profauna compartilhou imagens de armadilhas fotográficas que mostram “El Jefe” nas montanhas de Santa Rita, no Arizona. O macho, que tinha sido avistado pela última vez em 2015, foi reconhecido pelos biólogos do projeto.

El Jefe foi flagrado pelas câmeras das armadinhas pela primeira vez em 2011, quando tinha cerca de dois anos. Na época, andava pelas montanhas de Whetstone, no sudeste de Tucson. Atualmente deve ter uns 12 anos, o que o faz ser uma das onças mais velhas da população de Sonora.

Para especialistas, sua sobrevivência todos esses anos e sua presença na região são prova da capacidade notável das onças de repatriar seu território histórico.

El Jefe flagrado no Arizona em 2015
(Foto: University of Arizona/USFWS)

A Profauna é uma das oito instituições que fazem parte da iniciativa Borderlands Linkages Initiative. Liderada pela Wildlands Network, ela tem como objetivo de proteger os corredores mais ao norte do habitat da onça-pintada e monitorar esses felinos.

“O reaparecimento de El Jefe, a quase 200 km ao sul de onde ele foi registrado pela última vez no Arizona, é um sinal de que a conectividade de habitat em grande escala persiste entre o estado e Sonora, apesar das crescentes ameaças de desenvolvimento, mineração e o muro de fronteira”, diz Juan Carlos Bravo, diretor de Programas de Conservação da Wildlands Network.

El Bonito e Valerio

Não é apenas El Jefe que vem sendo monitorado em Sonora. Em 2020, o biólogo Ganesh Marin, da Universidade do Arizona, se deparou pela primeira vez com imagens de um macho de onça-pintada na região. Marin decidiu dar a ele o nome de “El Bonito”.

Mas ao comparar novas gravações das armadilhas fotográficas instaladas naquela área no ano passado, o pesquisador notou algo diferente. As rosetas, manchas pretas espalhadas pelo corpoque possibilitam a identificação entre os indivíduos, não eram iguais. Na verdade, aquele era outro animal, batizado de Valerio.

El Bonito andando por Sonora
(Foto: reprodução vídeo/Ganesh Marin)

Em geral, os machos tendem a cobrir maiores extensões de territórios do que as fêmeas, pois elas costumam ficar mais próximas de seus territórios de reprodução e também, até os dois anos de vida, seus filhotes as acompanham.

Tanto El Bonito e Valerio foram documentados em uma área que está sob os cuidados da Fundação Cuenca Los Ojos, que trabalha pela preservação e restauração da biodiversidade.

No vídeo abaixo, a imagem de Valerio:

Um muro no meio do caminho

No ano passado, um grupo de cientistas defendeu a reintrodução da Panthera onca nos Estados Unidos. No artigo científico publicado no jornal Conservation Science and Practice, da Sociedade para a Biologia da Conservação, eles alegam que já é hora de reparar um erro histórico.

“A reintrodução – definida aqui como o retorno de uma espécie a uma parte de sua área onde foi extirpada – é um caminho crítico para a conservação no século XXI. Ainda na década de 1960, as onças habitavam uma região expansiva nas cordilheiras centrais do Arizona e do Novo México, nos Estados Unidos, um habitat único em toda a área de onças. Aqui, defendemos a reintrodução, construindo uma ponte retórica entre a ciência da conservação e a prática”, ressalta o estudo.

Para os cientistas, a volta das onças trará benefícios para as economias locais e a natureza, assim como representaria o retorno de uma parte original da fauna norte-americana. Espécie carnívora, no topo da cadeia alimentar, ela é responsável por controlar a população de uma série de outros animais.

“A onça-pintada vivia em nossas montanhas muito antes dos americanos. “Se feita de forma colaborativa, a reintrodução pode melhorar a economia desta região e a ecologia desta incrível área histórica de distribuição da espécie”, acredita Eric Sanderson, ecologista sênior de conservação da Wildlife Conservation Society e principal autor do estudo.

A possível reintrodução da onça-pintada depende de aprovação do U.S. Fish and Wildlife Service, o Departamento Nacional de Pesca e Vida Selvagem, mas de antemão sabe-se que já existe uma séria barreira. Física mesmo. O muro contra a entrada de imigrantes ilegais erguido durante o governo do ex-presidente Donald Trump, com mais de 700 km de extensão.

“A vida selvagem nativa do sudoeste evoluiu com as onças. Elas têm um lugar histórico e vital em nossos cânions e florestas, então devemos planejar um programa de reintrodução inteligente e humano”, reforça Michael Robinson, do Centro de Diversidade Biológica.

*Com informações das organizações Defenders of the Wildlife e Wildlands Network

Foto de abertura: domínio público/pixabay

Por que os animais professores são tão raros – e notáveis

 https://noticias.ambientebrasil.com.br/redacao/traducoes/2022/09/05/179344-por-que-os-animais-professores-sao-tao-raros-e-notaveis.html?utm_source=ambientebrasil&utm_medium=sidebar


Por que os animais professores são tão raros – e notáveis

Os suricatos adultos passam muito tempo ensinando seus filhotes a lidar com escorpiões perigosos, suas presas favoritas.

Os animais fazem todo tipo de coisas incríveis – e como eles aprendem a fazer tem intrigado os cientistas há muito tempo.

Alguns conhecimentos são herdados: as borboletas monarcas, por exemplo, migram do México para o Canadá usando um roteiro em seus genes. Outras espécies imitam habilidades e comportamentos, como um filhote de lobo cinza observando seu bando caçar um alce. E outros ainda aprendem a sobreviver por tentativa e erro, como os corvos da Nova Caledônia que descobriram que jogar pedrinhas em um jarro aumenta o nível da água.

Mas entre os não-humanos, o verdadeiro professor é uma raça rara, com apenas um punhado de espécies, como alguns pássaros, primatas e insetos.

Por muito tempo, “houve uma resistência real em acreditar que os animais ensinam, porque realmente é uma das marcas da humanidade que nos torna especiais”, diz Lisa Rapaport, ecologista comportamental da Universidade Clemson.

Os biólogos também criaram uma definição específica do que constitui um professor de animais: eles devem mudar seu comportamento na frente de um aluno, sem nenhum benefício imediato para si mesmos, e o aluno deve mostrar que adquiriu conhecimento ou habilidades, diz Rapaport.

Aqui estão os notáveis ​​​​professores de animais que garantem que a escola esteja sempre em funcionamento.

Quando sua comida morde de volta

Os suricatos da África subsaariana vivem em “turbas” sociais de até 30 animais, nas quais a instrução prática faz parte do trabalho dos pais e outros ajudantes adultos que ensinam colaborativamente os jovens.

Várias espécies de escorpiões são proeminentes no menu dos suricatos, mas sua picada mortal significa que eles exigem um manuseio cuidadoso. É por isso que, a princípio, os pais entregam os aracnídeos mortos aos recém-nascidos. À medida que os filhotes crescem, os professores tornam suas aulas de almoço gradualmente mais difíceis, como remover os ferrões de escorpiões vivos para torná-los inofensivos e deixar seus jovens praticarem.

À medida que os filhotes ganham habilidades e confiança ao lidar com os escorpiões, seus professores os trazem gradualmente mais escorpiões saudáveis ​​até que os alunos aprendam a remover com segurança o ferrão e matar a presa por si mesmos.

Embora os suricatos adultos dediquem tempo ao ensino que poderia ser gasto em outras atividades, isso funciona a seu favor. Como muitos suricatos em uma multidão estão intimamente relacionados, manter mais do grupo seguro e vivo perpetua os genes da família.

Lições de música

Levando o aprendizado precoce ao extremo, esses pássaros australianos começam a ensinar seus filhotes antes do nascimento. A soberba carriça-fada canta para seus ovos até 30 vezes por hora, expondo os embriões a uma senha musical secreta que é única para cada fêmea. Uma vez no mundo, os filhotes usarão o som para pedir comida à mamãe e ao papai, que também aprendem a melodia.

Em um estudo, Sonia Kleindorfer, bióloga da Universidade Flinders, em Adelaide, e colegas trocaram ovos entre ninhos de pássaros selvagens e descobriram que os filhotes produziam o chamado da mãe adotiva que cantava para eles, mostrando que os filhotes não têm uma genética de compreensão das chamadas.

Há uma boa razão para essas aulas de canto: os cucos geralmente põem ovos nos ninhos das carriças para que possam passar o fardo de incubar e criar seus próprios filhotes, um fenômeno chamado parasitismo de ninhada. Mas os pais cucos fazem isso tarde demais para que seus embriões aprendam o chamado, então cuidar apenas dos filhotes que conhecem o chamado garante que as carriças não percam tempo e comida valiosos alimentando impostores.

Mostrando a um amigo o caminho

Quando uma formiga-das-rochas encontra uma nova fonte de alimento ou ninho, ela leva outra formiga até lá com uma técnica chamada corrida em tandem. A formiga conhecedora guia o novato ao longo da rota, fazendo pausas ao longo do caminho para que o aluno possa memorizar cada marco. O professor conta com o retorno do aluno, que afirma quando cada lição é aprendida; um toque de antena permite que o professor saiba que é hora de seguir em frente.

“A formiga que ensina coloca outro indivíduo no processo de concordar com um local de ninho muito melhor. Isso beneficiará todas as formigas da colônia e as ajudará a passar seus genes mais abundantemente para a próxima geração”, diz Nigel Franks, professor emérito de biologia da Universidade de Bristol, no Reino Unido, coautor de um estudo em 2006 documentando o comportamento – a primeira evidência publicada de um animal não humano ensinando outro.

Franks está atualmente experimentando com professores robôs para aprender quais aspectos da educação das formigas são os mais cruciais para o sucesso.

Manobras na água arriscadas

Dependendo de onde vivem, as orcas comem presas muito diferentes. Na Noruega, as orcas trabalham juntas para reunir cardumes de arenque em aglomerados densos e, em seguida, atordoar os peixes com suas caudas antes do banquete. Na Antártida, eles se unem para levar as focas de Weddell do gelo e colocá-las em suas mandíbulas. Os cientistas acreditam que, em algumas dessas situações únicas, os pais ensinam seus filhotes a capturar presas.

Ao largo da Patagônia, por exemplo, algumas orcas caçam filhotes de leões-marinhos na costa, encalhando-se intencionalmente. Os adultos mostram aos jovens como realizar essa manobra perigosa bem antes de começarem a caçar, ajudando a empurrar seus alunos de volta para a água quando necessário.

Nas águas do Alasca, as orcas foram observadas treinando seus filhotes para capturar presas em etapas, primeiro atordoando as aves marinhas com suas barbatanas para que os jovens possam pegar o jeito e praticar sua própria técnica de tapa.

Essas lições não são apenas exemplos de ensino, mas também cultura, que ocorre quando um grupo acumula conhecimento social e o passa para a próxima geração, disse o explorador da National Geographic e fotógrafo da vida selvagem Brian Skerry.

“Eles não estão apenas ensinando a seus filhos as habilidades de que precisam para sobreviver, mas estão ensinando a eles suas tradições ancestrais, as coisas que importam para eles.”

Aula de especialista em forrageamento

Os micos-leões-dourados da Mata Atlântica do Brasil devem fazer uma aula com especialista em forrageamento que apresenta mais de 150 tipos diferentes de frutas, insetos, pererecas, lagartos e outras presas.

“Se você é um garoto na floresta, onde você enfia a mão para realmente encontrar algo sem ser mordido ou picado?” diz Rapaport, que estudou ensino e aprendizagem entre micos.

É por isso que os adultos usam um chamado “venha e pegue” que inicialmente atrai os jovens para distribuição de comida, depois os apresenta a situações de forrageamento progressivamente mais difíceis, desde reconhecer um tipo de fruta até cavar um buraco na árvore em busca de presas.

“Durante o período em que os adultos estavam fazendo esse comportamento, o sucesso de busca de presas para filhotes disparou, então há evidências circunstanciais de que estava funcionando”, diz Rapaport.

Os adultos também eram mais propensos a oferecer novos alimentos aos seus jovens, diz ela. “Isso me indicou que os adultos estavam prestando atenção no que os filhotes faziam e não sabiam.”

Rapaport também observou os adultos realizando o que ela acredita ser uma característica incrível em professores não humanos: focar sua energia naqueles que mais precisavam.

“Não tínhamos a metodologia para dizer inequivocamente que eles reservavam o ensino para crianças que aprendiam devagar, mas essa foi a minha impressão”, observa ela. “Eu adoraria que alguém realmente olhasse para isso de uma maneira cuidadosa.”

Fonte: National Geographic / Brian Handwerk
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: 
https://www.nationalgeographic.com/animals/article/why-animals-teachers-are-rare-and-remarkable

Área de Proteção Ambiental no Pará já perdeu 35% de suas florestas primárias para a pecuária

 https://conexaoplaneta.com.br/blog/area-de-protecao-ambiental-no-para-ja-perdeu-35-de-suas-florestas-primarias-para-a-pecuaria/#fechar


Área de Proteção Ambiental no Pará já perdeu 35% de suas florestas primárias para a pecuária

Área de Proteção Ambiental no Pará já perdeu 35% de suas florestas primárias para a pecuária

*Por Liz Kimbrough 
Traduzido por Eloise de Vylder

Desde que foi criada, em 2006, a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, no Pará, já perdeu 35% de suas florestas primárias. São cerca de 5.600 hectares, no total, de acordo com dados de satélite da Universidade de Maryland (UMD), visualizados pela plataforma Global Forest Watch. Isso torna a Unidade de Conservação um dos trechos mais desmatados da Amazônia nos últimos anos, colocando-a no topo da lista das Unidades de Conservação mais pressionadas pelo desmatamento no Brasil.

A APA é uma Unidade de Uso Sustentável, o que significa que, dentro de seus limites, os proprietários de terras são obrigados por lei a manter 80% da cobertura florestal no terreno. Mas não é o que vem acontecendo. “A APA Triunfo do Xingu foi criada para permitir algum tipo de atividade humana de forma sustentável”, disse à Mongabay, em 2021, Larissa Amorim, pesquisadora da Imazon. “Mas vemos que não é nem um pouco sustentável. E as atividades ilegais que acontecem lá acabam se espalhando para além da área.”

Área de Proteção Ambiental no Pará já perdeu 35% de suas florestas primárias para a pecuária

Área queimada na APA Triunfo do Xingu em 2019
(Foto: Ana Ionova/Mongabay)

O maior desmate desde a criação da área protegida ocorreu em 2020, de quase 70 mil hectares. Embora o corte de árvores tenha diminuído em 2021, a perda naquele ano ainda foi duas vezes maior que a média entre 2002 e 2021. O desflorestamento na região se deve em grande parte à pecuária, de acordo com um relatório anterior, de 2020. No município de São Félix do Xingu, onde fica a APA, há quase 20 vezes mais gado do que pessoas. Mas a área também se tornou centro de grilagem e de garimpo ilegal por parte de invasores que apostam no contínuo enfraquecimento das regulações ambientais e da fiscalização sob o governo Bolsonaro.

Em tese, a APA Triunfo do Xingu deveria servir como zona de amortecimento para as áreas vulneráveis ao redor, como a Terra Indígena Apyterewa e a extensa Estação Ecológica Terra do Meio, conforme explicou Rômulo Batista, colaborador de campanhas do Greenpeace Brasil, à Mongabay em 2021: “[A Estação Ecológica Terra do Meio] deveria ser totalmente preservada. Deveria haver desmatamento zero ali. Mas, em vez disso, estamos vendo uma crescente destruição florestal, o que é realmente preocupante”.

A perda florestal também invadiu a Terra Indígena Apyterewa, a nordeste. Território do povo Parakanã, a reserva foi responsável por 52% de toda a perda florestal em Terras Indígenas da Amazôni – o equivalente a 1.400 hectares, segundo calculou o Imazon. É a TI mais pressionado pelo desmatamento no Brasil.

Área de Proteção Ambiental no Pará já perdeu 35% de suas florestas primárias para a pecuária

Em rosa, as áreas desmatadas entre 2001 e 2021 dentro da APA Triunfo do Xingu (delimitada pela linha amarela). Em preto, o desflorestamento entre janeiro e maio de 2022.

Proteger Triunfo do Xingu do desmatamento ilegal e de incêndios se mostrou especialmente desafiador por causa da localização remota da APA, cujo acesso se dá a partir da cidade de São Félix do Xingu. O monitoramento e o controle em campo e a capacidade de processar aqueles que desmatam e incendeiam ilegalmente têm sido limitados em todo o Brasil, uma vez que agências governamentais e de fiscalização que antes operavam na Amazônia tiveram profundos cortes orçamentários sob o atual governo.

“O principal motivo é a total falta de política ambiental desse governo”, diz Batista. As pessoas que estão dispostas a invadir estão se sentindo encorajadas.

Rio Novo, na Estação Ecológica Terra do Meio
(Foto: Exlibris via Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0)

*Texto publicado originalmente em 25/08/22 no site do Mongabay Brasil

Foto de abertura: Rhett A. Butler/Mongabay (gato-maracajá (Leopardus wiedii) na Estação Ecológica Terra do Meio)