quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Cúpula de Ação Climática e os 5 anos do Acordo de Paris

 

Cúpula de Ação Climática e os 5 anos do Acordo de Paris

 

 

Cúpula de Ação Climática e os 5 anos do Acordo de Paris, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“A distância entre o que precisamos fazer e o que realmente está sendo feito está aumentando a cada minuto. Ainda estamos acelerando na direção errada”.
Greta Thunberg

[EcoDebate] O Acordo de Paris completou 5 anos no dia 12 de dezembro de 2020. Para comemorar a data e avançar nas propostas para controlar o aumento do aquecimento global a ONU organizou a Cúpula de Ação Climática buscando uma união entre os países que apresentaram propostas para intensificar as ações de mitigação climática. Cerca de 80 líderes globais participaram da Cúpula e ficaram de fora grandes emissores como Brasil, Estados Unidos, Austrália e Rússia que não apresentaram nada de novo ou, simplesmente, recuaram nas metas anteriores.

Diversos países atualizaram as suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) prometendo maior ambição no corte das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O Reino Unido (sede da próxima COP), que já havia anunciado a redução de suas emissões em 68% até 2030 em relação a 1990, disse que não mais financiará a produção de combustíveis fósseis no exterior. O Primeiro-ministro Boris Johnson se comprometeu com uma retomada verde da economia com maiores investimentos em energia renovável.

Desde a assinatura do Acordo de Paris, os 6 anos de 2015 a 2020 foram os mais quentes do Antropoceno. Se nada for feito a temperatura global superará em muito a meta de 2º C. até o final do século. Com Trump não sendo mais uma ameaça, há esperança no cumprimento das metas, mas apenas se os países cumprirem e avançarem em suas NDCs. Numa visão otimista, o Instituto Climate Action Tracker (CAT) calculou que o aquecimento global em 2100 pode ficar em 2,1º C., como resultado de todas as promessas líquidas zero anunciadas em novembro de 2020, conforme mostra o gráfico abaixo.

cenários da temperatura global até 2100

Nesta conta está o anúncio da China, feito em setembro de 2020, de que pretende atingir a neutralidade de carbono antes de 2060, o que reduziria a estimativa de aquecimento do final do século em 0,2 a 0,3º C. Assumir a neutralidade de carbono nos EUA até 2050, conforme proposto pelo presidente eleito Joe Biden, reduziria o aquecimento em mais 0,1º C. África do Sul, Japão, Coreia do Sul e Canadá também anunciaram recentemente metas líquidas de zero. No total, 127 países responsáveis ??por cerca de 63% das emissões estão considerando adotaram metas líquidas zero.

Contudo, metas zero líquidas não são suficientes e os governos devem adotar metas mais fortes até 2030. Somente assim seria possível fechar a lacuna de emissões remanescente para 1,5º C. Na América Latina, o Brasil é o maior poluidor e apresentou retrocesso nas metas voluntárias e em consequência o ministro brasileiro Ricardo Salles foi excluído da Cúpula de Ação Climática. Já a Colômbia e a Argentina mostraram avanços. Enquanto o presidente argentino Alberto Fernández anunciou que apresentará uma nova NDC com limites de emissão 25% menores para 2030, o colombiano Iván Duque prometeu 51% de redução absoluta de emissões em 2030 em relação a 2010.

Enquanto o mundo discute as ações climáticas, a década de 2011 a 2020 foi a mais quente desde o início das medições. O ano de 2020 está entre os dois mais quentes da série histórica.

Segundo análise do Carbon Brief, o mundo provavelmente excederá 1,5º C. por volta de 2031 e excederá 2º C. por volta de 2052.

O aquecimento global é a maior ameaça existencial à humanidade. Assim como existe uma emergência de saúde pública (por conta do coronavírus), existe também uma emergência climática por conta do aumento da temperatura global. O mundo precisa aprender com o trauma da covid-19 e acordar para a urgência de se resolver os problemas ambientais do século XXI. Senão teremos uma “Terra inabitável” como mostrou o jornalista David Wallace-Wells. O alerta já está dado, ninguém poderá ser pego desprevenido e desinformado no futuro próximo.

O Secretário Geral da ONU, António Guterres, em seu discurso de abertura da Cúpula sobre o clima pediu aos líderes para declarar estado de “emergência climática” em seus países para fomentar ações e evitar um aquecimento global catastrófico: “Alguém ainda consegue negar que estamos enfrentando uma emergência dramática?”, questionou Guterres por vídeo. “É por isso que hoje eu peço que os líderes mundiais declarem um estado de emergência climática em seus países até que a neutralidade em carbono seja alcançada”.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referência:
ALVES, JED. A dinâmica demográfica global em uma “Terra inabitável”, Revista Latinoamericana de Población, Vol. 14 Núm. 26, dezembro de 2019
https://revistarelap.org/index.php/relap/article/view/239

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/01/2021


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Deter/Inpe 2020 revela o segundo pior ano de desmatamento apurado pelo sistema

 

Deter/Inpe 2020 revela o segundo pior ano de desmatamento apurado pelo sistema

 

queimada

Deter/Inpe 2020 revela o segundo pior ano de desmatamento apurado pelo sistema

Índice de desmatamento só perde para o recorde histórico no primeiro ano do governo Bolsonaro.

Por Solange A. Barreira

Os alertas de desmatamento atingiram 216 km2 em dezembro do ano passado, segundo divulgou na sexta-feira (8/1), o Instituto Nacional de Estudos Espaciais (Inpe). A área é 14% maior do que a verificada no mesmo mês de 2019 e fecha o ano civil de 2020 (jan-dez) com um total de 8.426 km2, a segunda pior marca anual do sistema de monitoramento Deter, iniciado em 2015.

O índice de 2020 ficou abaixo apenas do recorde histórico de 2019, com 9.178 km2 desmatados. Assim, os dois anos do governo Bolsonaro consolidam o pior cenário de alertas detectado pelo sistema na região amazônica. A média dos três anos anteriores a sua posse (2016 a 2018) foi de 4.845 km2. Já nos 24 meses de gestão Bolsonaro, a média anual foi de 8.802 km2, um aumento de mais de 81%.

Dezembro foi o sétimo mês da Operação Verde Brasil 2, na qual o Exército foi enviado à Amazônia, em tese, para combater as queimadas e crimes ambientais. Porém, mesmo com a presença os militares na região, o desmatamento continua apresentando números alarmantes e os focos de calor fecharam o ano com alta de 15%.

“Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele. As queimadas, tanto na Amazônia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo atual governo”, avalia Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

O Deter foi criado para monitorar e emitir alertas sobre o desmatamento, orientando a fiscalização. Seus números apresentam estimativas confiáveis sobre o ritmo de derrubada da floresta. Contudo, os alertas não são o índice oficial de desmatamento do país, o que é calculado pelo sistema Prodes, também do Inpe.

Sobre o Observatório do Clima: rede formada em 2002, composta por 56 organizações da sociedade civil. Atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e dos processos de tomada de decisão sobre mudanças climáticas no país e globalmente. Site: www.oc.eco.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/01/2021


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Desmatamento no Bioma Cerrado no ano de 2020 foi de 7.340 km²

 

Desmatamento no Bioma Cerrado no ano de 2020 foi de 7.340 km²

 

 

Desmatamento no Bioma Cerrado no ano de 2020 foi de 7.340 km²

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) divulga os dados de desmatamento no bioma Cerrado para o ano de 2020, que totalizou 7.340 km2 correspondente ao período de agosto de 2019 a julho de 2020. Esse valor representa um aumento de 13% em relação ao ano de 2019, último período divulgado.

Esse resultado é proveniente do projeto PRODES Cerrado, desenvolvido e operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com apoio dos ministérios do MMA e do MCTI, sendo financiado pelo Programa de Investimento Florestal (FIP) do Banco Mundial. Para o mapeamento, o projeto utiliza 118 imagens do satélite Landsat ou similar para identificar, mapear e quantificar as áreas maiores que 1 hectare onde a vegetação nativa foi suprimida, independente da utilização subsequente dessas regiões.

A Tabela 1 mostra a área de vegetação nativa suprimida no Bioma Cerrado no ano de 2020 para cada estado. O Estado do Maranhão foi o que apresentou a maior área de vegetação nativa suprimida com 1.836,14 km2, seguido pelo Tocantins (1.565,88 km2) e Bahia (919,17 km2).

Tabela 1 – Área de vegetação nativa suprimida no Bioma Cerrado em 2020 em cada estado

 

EstadoPRODES 2020 (km2)Contribuição (%)
Bahia919,1712,52
Distrito Federal4,780,07
Goiás724,569,87
Maranhão1.836,1425,01
Mato Grosso727,209,91
Mato Grosso do Sul309,794,22
Minas Gerais637,918,69
Paraná1,260,02
Piauí605,948,25
Rondônia0,060,00
São Paulo8,260,11
Tocantins1.565,8821,33
TOTAL7.340,94100,00

A Tabela 2 apresenta a variação da área de vegetação nativa suprimida entre os anos de 2019 e 2020. No total essa variação foi de 13%, que representa um aumento de 856,65 km2 na remoção da cobertura natural em relação a 2019.

Tabela 2 – Valores absolutos e variação percentual para cada estado em km2.

EstadoPRODES 2019PRODES 2020DiferençaVariação (%)
Bahia832,42919,1786,7510,42
Distrito Federal2,514,782,2790,39
Goiás651,36724,5673,2011,24
Maranhão1.309,501.836,14526,6440,22
Mato Grosso931,07727,20– 203,87-21,90
Mato Grosso do Sul294,35309,7915,445,24
Minas Gerais496,71637,91141,2028,43
Paraná0,681,260,5885,31
Piauí463,77605,94142,1730,66
Rondônia0,240,06– 0,18-74,04
São Paulo6,118,262,1535,23
Tocantins1.495,691.565,8870,194,69
TOTAL6.484,297.340,94856,6513,21

A Tabela 3 apresenta a extensão da área de vegetação nativa suprimida no Bioma Cerrado, por ano, desde 2001 a 2020, toda a série histórica gerada pelo INPE. Para os biênios 2001-2002, 2003-2004, 2005-2006, 2007-2008, 2009-2010 e 2011-2012, foi feito um mapeamento, e atribuiu-se a cada um dos anos a metade do incremento do respectivo biênio. Para o período compreendido entre 2013 e 2020 o mapeamento é anual.

Tabela 3 – Incremento anual da área de vegetação nativa suprimida por estado (km2).

ANOBADFGOMAMTMSMGPRPIROSPTO
20012.285136.6212.3045.3172.8296.4582948021832.904
20022.285136.6212.3045.3172.8296.4582948021832.904
20032.700826.1732.8466.6302.3494.729161.11962103.079
20042.700826.1732.8466.6302.3494.729161.11962103.079
20051.800272.4602.3762.7321.5812.7912697602142.629
20061.800272.4602.3762.7321.5812.7912697602142.629
20072.010101.5042.8331.9897892.15236381561.798
20082.010101.5042.8331.9897892.15236381561.798
20091.209121.4601.6941.0005171.357218320721.820
20101.209121.4601.6941.0005171.357218320721.820
20111.52469731.4321.0333941.47229390241.741
20121.52469731.4321.0333941.47229390241.741
20131.562111.5021.5911.7574951.95331.3261432.817
20141.079201.1821.8341.0102791.94881.1720502.243
20151.33551.2181.6561.6966251.19878470253.063
201678236471.2291.1653423293701031.587
201778358421.4811.1042855122599041.693
201869787131.47098825847114830151.530
201983226511.3099312944961463061495
202091957251.8367273106381606081.566
Total31.04535945.86239.37646.78019.80645.46322016.165191.67243.936

A Figura 1 mostra uma comparação gráfica entre a extensão da área de vegetação nativa suprimida no período de 2001 a 2020.

Desmatamento No Cerrado 2020
Figura 1 – Gráfico do desmatamento no Bioma Cerrado por ano.

Além das tabelas que consolidam os valores de área de vegetação natural suprimida apresentadas nessa nota, o INPE também disponibiliza os dados espacializados, que podem ser visualizados através de portal internet no endereço http://terrabrasilis.dpi.inpe.br.

Esse portal também apresenta um ambiente de consultas prontas sobre esses dados, para serem consumidas no ambiente da internet, permitindo ainda o download dos mapas e dos dados tabulares.

Fonte: INPE