Candidata do PSB participou de sabatina do jornal 'O Globo', no Rio.
Ela também comentou denúncias contra Eduardo Campos.
Lucas Salomão e Henrique Coelho
Do G1, em Brasília e do G1 RJ
A
candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, durante
sabatina promovida pelo jornal O Globo, realizada no Museu de Arte do
Rio (MAR), no centro do Rio de Janeiro
A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, disse
nesta quinta-feira (11), durante sabatina do jornal "O Globo", que as
pessoas não confiam em um partido que colocou um diretor na Petrobras
para "assaltar os cofres" da estatal. Ela fez referência a Paulo Roberto
Costa, ex-diretor da empresa, preso pela operação Lava Jato por
suspeita de participar de esquema de corrupção em contratos da
Petrobras.
A candidata deu a declaração enquanto avaliava o atual momento dos
partidos no país. Para ela, "os partidos perderam o vínculo com a
sociedade".
"Não consigo imaginar que as pessoas possam confiar em um partido que
coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres das Petrobras. É
isso que estão reivindicando? Que os partidos continuem fazendo do mesmo
jeito? Eu espero que as pessoas virtuosas possam renovar seu partidos,
para que ele voltem a se interessar pelo que são as demandas das
pessoas", afirmou a candidata.
Marina disse ainda que o país vive "um profundo atraso em vários
aspectos da política" . Ela afirmou que espera que o Congresso Nacional
seja renovado nestas eleições e que os parlamentares que cuidam apenas
de seus próprios interesses sejam "aposentados".
"Eu espero que o Congresso seja renovado. Que a gente aposente de vez
aqueles que vão para lá para cuidar dos seus próprios interesses. Essas
eleições não serão ganhas pelas estruturas, vão ser ganhas por uma
nova postura da sociedade", disse.
Denúncias contra Eduardo Campos
Durante a sabatina, Marina teve de responder sobre as denúncias de que
empresas fantasmas pagaram a companhia dona do avião em que morreu, no
dia 13 de agosto, o então candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo
Campos. Ela também comentou sobre o nome de Campos ter sido supostamente
citado no depoimento do ex-diretor de Refino e Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa à Polícia Federal como um dos políticos
beneficiados por pagamentos de propinas oriundas de contratos com
fornecedores da estatal.
A candidata afirmou querer a verdade "doa a quem doer". Ela também
disse que, em um primeiro momento, não está "condenando" e nem dizendo
que as denúncias contra Campos não devam ser investigadas.
"Seja o que for, doa a quem doer, nós queremos a verdade. Agora, a
verdade das investigações. O que não queremos é que antecipadamente ele
seja julgado e morto duas vezes. Não por uma fatalidade, mas por
qualquer forma de leviandade. Eu não estou, a priori, nem condenando, e
muito menos dizendo que não deva ser investigado. Devemos ter uma
postura de compromisso com a verdade [...] Nós não temos como esclarecer
aquilo que era responsabilidade dos empresários. O Eduardo buscou um
serviço, e esse serviço foi prestado", comentou Marina Silva.
A ex-senadora também criticou o que ela chamou de "movimento" para
"impor uma segunda morte" a Eduardo Campos. Segundo Marina, muitas
pessoas que estavam combatendo Campos em vida estavamo no velório
"chorando e comovidos".
"Agora eu vejo um outro movimento, os mesmo que choraram, agora riem
entre os dentes tentando impor uma segunda morte", completou.
Pré-sal
A candidata também respondeu a uma crítica que tem sido feita pela
campanha da presidente Dilma Rousseff, segundo a qual Marina não vai
investir na exploração do petróleo do pré-sal. Na sabatina, Marina
afirmou que "a distorção e o boato" tem sido características fortes da
campanha. Disse ainda que, em seu eventual governo, os recursos do
pré-sal vão para a educação e para a saúde, e não para a corrupção, numa
crítica ao atual governo.
"Nós vamos explorar os recursos do pré-sal. Vamos utilizar o dinheiro
destinado à suade e à educação para investir de fato em saúde e
educação, e não em corrupção, como a sociedade brasileira tem medo",
afirmou a candidata.
Ela também criticou a atual gestão da Petrobras, que segundo a
candidata aumentou a dívida e reduziu o valor de mercado da empresa.
Para Marina, foi criada uma "cortina de fumaça" para desviar o debate
sobre os problemas na estatal.
"É preciso entender que o que está ameaçando o pré-sal é o que está
sendo feito pela Petrobras. Uma empresa que hoje vale metade do que
valia quando Dilma assumiu e que está quatro vezes mais endivida em
relação à dívida que tinha. É isso que está ameaçando o pré-sal",
acusou.
Estado laico
Marina respondeu também a perguntas sobre sua posição a respeito de
religião. Ela disse que é evangélica desde 1997 e que entende que um
presidente da República "comprometido com o Estado laico" não precisa
negar sua fé. Ela ainda afirmou que as perguntas sobre sua religião
ocorrem porque ela é evangélica e que candidatos católicos não são
questionados sobre fé.
"Eu não imagino que um presidente da República que é comprometido com
um Estado laico tenha que negar a sua fé. Estado laico é para defender o
direito de todas as pessoas. Verifiquem onde eu usei meu espaço
público como senadora para promover qualquer coisa contrária ao Estado
laico", afirmou.
"Eu não vejo as pessoas católicas sendo perguntadas sobre o estado
laico. Eu não faço perguntas aos meus adversários do ponto de vista
religioso. Eu não as faço porque isso não é honesto. O Estado nem é
para impor a vontade da maioria à minoria e nem para impor a vontada de
minoria à maioria. O Estado tem que aprender a respeitar os direitos",
concluiu.
'Marolinha' x 'Tsunami'
A candidata comentou sobre a crise financeira mundial e ironizou o
termo "marolinha", usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
para explicar o efeito que a crise teria no Brasil. Marina afirmou que
agora o país está sendo engolido pela "tsunami".
"No momento em que os Estados Unidos, que foi o país em que a crise se
iniciou, está se recuperando num crescimento, me parece, de 4%, o
Brasil, que dizia que era apenas uma marolinha, agora está sendo
engolido pelo tsunami. Porque não foi capaz de ter a humildade de
reconhecer a gravidade do problema", afirmou a candidata.
'Vergonha alheia'
Logo no início da entrevista, a ex-senadora criticou diretamente o
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, dizendo que ele dá "vergonha
alheia quando começa a falar sobre energia". A afirmação foi dada quando
Marina Silva foi questionada sobre o discurso que tem sido adotado por
ela de "governar com os melhores".
O
G1 procurou a assessoria da pasta e não obteve resposta até a última atualização da reportagem.
"Quando eu digo que quero governar com os melhores, sou interpelada
como se estivesse dizendo uma aberração. Eu parto do princípio de que
qualquer pessoa que quer assumir a função mais elevada de um país deve
estar comprometida a governar com os melhores. Fazer essa escolha de
governar com os melhores é também uma forma nova de encarar a política
[...] No caso do Brasil, você tem um ministro de Minas e Eenergia que
não entende de energia. Você tem um ministro que é vergonha alheia
quando começa a falar sobre energia", afirmou.
Reeleição
A candidata voltou a dizer, assim como tem feito em seus atos de
campanha, que é contra a reeleição e que, caso seja eleita, se
compromete a governar por apenas um mandato de quatro anos. Ela chegou a
dizer que ser candidata é um "direito individual" e que o partido não
pode obrigá-la a ser candidata novamente.
"Quatro anos [de governo] para mim e cinco anos para o próximo, porque
não pode mudar a regra do jogo durante o jogo. O ato de sair candidata é
um direito individual. O partido não pode me obrigar a ser candidata.
Esse é o meu compromisso", disse Marina.
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