Publicado em junho 28, 2016 por
Redação
[
EcoDebate] “
A
influência da humanidade no Planeta Terra nos últimos séculos tornou-se
tão significativa a ponto de constituir-se numa nova época geológica”
A afirmação é de Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química. Muitos anos
antes o geólogo russo Ter Stepanian já havia previsto está efeméride.
A revolução neolítica há cerca de 10.000 anos transformava a espécie
humana de coletora em produtora de alimentos. O ser humano deixava de
garantir sua subsistência apenas pela caça e pela coleta de alimentos
silvestres, como fazem os outros animais.
A espécie humana passa então a interagir com os meios físico e
biológico, a partir do desenvolvimento da agricultura e da criação de
animais. E mais tarde esta interação se revoluciona com o
desenvolvimento da metalurgia do cobre, do bronze e do ferro.
A ocupação agrícola das bacias hidrográficas dos Rios Tigre e
Eufrates, na antiga Babilônia, pela civilização suméria, representa um
marco antropológico distintivo desta nova etapa da história da
humanidade. Diferenciada pela sua disposição e capacidade de alterar as
regras naturais do meio ambiente.
Ao final do século XVIII, a Revolução Industrial traz, como seu
conteúdo mais espetacular, uma energia desenvolvimentista nunca vista
antes, estabelecendo definitivamente as bases de uma relação
utilitarista com a natureza, que perdura até hoje e cujos efeitos na
área energética, por exemplo, são espetaculares e discutidos em capítulo
próprio.
A dimensão geológica, que se diferencia das demais ocorrências pelo
fator tempo, afinal o planeta Terra tem 4,5 bilhões de anos e qualquer
processo geológico leva milhares ou milhões de anos para produzir seus
efeitos notáveis.
Pois a ação humana consegue se igualar aos efeitos dos processos
geológicos na magnitude e importância das modificações e de seus
efeitos, mesmo em períodos de tempo muito mais curtos e reduz com isto, a
capacidade de auto-regeneração dos sistemas.
Vários cientistas, como o famoso geólogo russo Ter Stepamian (1970),
propõem que o período de tempo denominado Holoceno, do Quaternário
superior, e que corresponde ao tempo medido desde a última glaciação, há
cerca de 15.000 anos, seja considerado como a transição para um
proposto período Quinário ou Tecnógeno.
Agora chamado de Antropoceno, tendo como característica
diferenciadora a presença cada mais marcante e predominante da ação do
homem (“processos tectogênicos”), sobre os demais processos naturais e
inclusive geológicos.
Esta modificação é ressaltada inclusive pelo fato de que não existem mais áreas genuinamente Quaternárias intocadas pelo homem.
As modificações extensas produzidas pelo homem decorrem dos
empreendimentos que modificam a natureza, desde os períodos nômades,
quando os bandos viviam de caça, pesca e extrativismo, até as complexas
sociedades urbanas, organizadas em metrópoles ou megalópoles altamente
informatizadas, da forma que conhecemos hoje.
Por isso, a sociedade humana merece uma abordagem específica, pela
complexidade que apresenta, pelas características que tem, pela
profundidade das transformações que gera.
Muitos autores como Ter Stepaniam 1970 e outros enfatizam que devido
ao fato de que nos períodos atuais a capacidade de modificação dos meios
pelo homem é imensa e desmedida, denominam o período atual que vivemos
como Tecnógeno, cuja principal característica e não mais permitir que a
natureza seja capaz de se recuperar por si própria, mesmo em longos
períodos de tempo.
Outro fato é o diagnóstico de que hoje não existem mais áreas sem
interferência humana, de uma forma ou de outra, ainda que sejam áreas de
preservação natural. Esta propriedade também caracteriza o Tecnógeno.
Segundo o Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) de março de 2014, durante o século XXI os impactos das
mudanças climáticas deverão reduzir o crescimento econômico, tornar
mais difícil a redução da pobreza, agravar a insegurança alimentar e
criar novas “armadilhas” de pobreza, principalmente em áreas urbanas e
regiões castigadas pela fome.
Um aumento maior na temperatura do planeta acarretará danos
consideráveis à economia mundial. As populações mais pobres serão as
mais afetadas, pois a intensificação dos eventos climáticos extremos,
dos processos de desertificação e de perdas de áreas agricultáveis
levará à escassez de alimentos e de oferta de água potável, à
disseminação de doenças e a prejuízos na infra-estrutura econômica e
social.
A concentração de gases que produzem efeito estufa na atmosfera
atingiu seus níveis mais elevados desde 800 mil anos, o que dá uma noção
do impacto atual na biosfera.
Segundo os cientistas do IPCC, as mudanças climáticas trariam
impactos graves, extensos e irreversíveis, se não forem “controladas”, o
que supõe medidas impositivas e obrigatórias a serem adotadas.
Há um certo consenso de que o aumento da temperatura global não deve
ultrapassar 2ºC, sob pena de consequências imprevisíveis no que se
refere a eventos climáticos extremos, como secas, inundações,
desertificação, calor intenso, redução da produção agrícola e aumento no
preço dos alimentos.
Desde a Conferência Rio-92, a ação dos “céticos do clima”, muitos
deles ligados ao poderoso lobby da indústria do petróleo, conseguiu
barrar os avanços que seriam necessários para evitar a situação
alarmante em que nos encontramos hoje. O atraso foi tamanho que há,
entre os cientistas, os que temem uma elevação de temperatura de até
4ºC.
Um novo período, o
Antropoceno,
vem emergindo desde a Revolução Industrial e sua característica é a
hegemonia e centralidade das ações humanas sobre as mudanças ambientais
globais.
Referências:
TER STEPANIAN, G. Beginning of the Technogene. Bulletin IAEG, nº 1, ago. 1970.
http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/antropoceno-as-ameacas-a-humanidade/
Dr. Roberto Naime,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental.
Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade
Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na
Amazon.
in
EcoDebate, 28/06/2016
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]