Os segredos da Operação Lava Jato podem estar em mãos de
empreiteiros, advogados e bandidos, circulando livremente no mercado
negro do crime organizado.
A informação está contida em reportagem do
Jornal a Folha de São Paulo que circula nesse domingo, 04. Segundo a
Folha, um delegado federal e um ex-agente da PF são suspeitos de vazar
informações secretas, “
guardadas a sete chaves” na PF,
em Curitiba.
Um sigiloso inquérito que já foi instaurado, que promete
revelar quem vendeu, quem comprou e quem se beneficiou com as
informações. Já há consenso na cúpula da PF que o fato, se comprovada
sua veracidade, deva provocar demissões de policiais e representação
junto a OAB para que apure o comportamento ético de advogados.
A
previsão é de que penas duras devam ser impostas aos envolvidos no
episódio. Certamente ,
“os agentes” da empreitada não imaginavam quem é Sérgio Moro!
leia a matéria completa da Folha
Um dos advogados da Odebrecht, Augusto de Arruda Botelho está sob
investigação da Polícia Federal sob a suspeita de ter comprado de
policiais dossiês com informações sigilosas ou falsas para desqualificar
os delegados da Operação Lava Jato e prejudicar as investigações.
Há suspeitas de que anotações encontradas pela PF no bloco de notas
do celular do presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso
desde 19 de junho, possam ter alguma relação com a suposta estratégia
ilegal para atrapalhar as apurações.
Um desses textos dizia: “Trabalhar para anular (dissidentes PF…)”, o
que foi interpretado pela polícia como uma tentativa de acabar com a
investigação por meios ilícitos –a Odebrecht sempre refutou essa versão.
Os dissidentes da anotação, segundo suspeita da PF, podem ser os mesmos policiais que teriam vendido as informações secretas.
PF colheu indícios de que o preço dos dados sigilosos pode variar de
R$ 500 mil a R$ 2 milhões. Uma das informações que teria sido vendida
era a data das prisões e buscas em empreiteiras, o que permitiria às
empresas esconder material que poderia ser apreendido.
Um delegado e um ex-agente da PF são os principais suspeitos pela
suposta venda, segundo a portaria que instaurou o inquérito. Paulo
Renato de Souza Herrera foi um dos primeiros críticos dos delegados da
Lava Jato e está afastado para tratamento psicológico; o ex-agente é
Rodrigo Gnazzo.
Outro advogado, Marden Maués, que atuou na defesa da doleira Nelma
Kodama, também aparece na apuração sob suspeita de que teria ajudado os
policiais a comercializar as informações secretas.
Botelho e Maués refutam as suspeitas e dizem que o inquérito é uma
tentativa da PF de constrangê-los por terem apontado irregularidades na
Lava Jato (leia texto abaixo).
Dois advogados de Curitiba, ouvidos pela Folha sob a condição de que
seus nomes não seriam revelados, dizem que foram procurados pelos
policiais investigados.
Além de dossiês, um deles oferecia os serviços de um hacker que dizia
ser capaz de invadir computadores da PF em Curitiba, nos quais estão
armazenados dados da Lava Jato, e alterar informações ali armazenadas.
Os advogados dizem ter recusado a oferta.
DOLEIRA
Um dos indícios apontados pela PF de que houve venda de informações
foi a publicação de uma reportagem sobre mensagens que os delegados da
Lava Jato trocavam num grupo fechado do Facebook.
Como só policiais da Lava Jato faziam parte do grupo, a suspeita é
que o delegado investigado tenha vendido essas informações para
desqualificar politicamente o grupo.
Numa das mensagens, o delegado Márcio Anselmo dizia “alguém segura
essa anta, por favor”, em referência a Lula e a uma notícia cujo título
era “Lula compara PT a Jesus Cristo”.
A reportagem foi publicada em novembro de 2014 no jornal “O Estado de S. Paulo”.
O inquérito, que corre em segredo de Justiça, foi instaurado a partir
de informações prestadas pela doleira Nelma Kodama. Condenada a 18 anos
de prisão, Nelma negocia um acordo de delação premiada e prestou
depoimentos relatando o que diz ter ouvido de seu antigo advogado,
Marden Maués.
Pelo relato de Nelma, Marden se aproximou do grupo
dissidente quando eles investigavam a morte de um agente da PF em
Curitiba que se enforcou no ano passado, quando seus superiores
descobriram que ele se apaixonara pela doleira.
Nelma disse que Maués e Botelho se reuniram em Curitiba e São Paulo
para acertar o negócio –um dos encontros teria ocorrido num motel.
Os dois dizem que se encontraram para tratar de uma causa que iriam
defender juntos, sobre a extradição de um colombiano, mas se negaram a
comentar sobre o local dessa reunião. A parceria, no entanto, não foi
adiante, de acordo com eles.
OUTRO LADO
O advogado Augusto de Arruda Botelho nega a compra de dossiê para
prejudicar as apurações da Lava Jato e diz que o inquérito no qual é
investigado é uma iniciativa para silenciar aqueles que apontam
irregularidades de autoridades envolvidas no caso.
Segundo ele, “quanto mais se acumulam as provas de graves
ilegalidades na condução da Lava Jato, mais arbitrárias e desesperadas
tornam-se as iniciativas para calar aqueles que as apontam”.
“Primeiro constrangeram-se policiais que denunciaram a colocação de
escutas ilegais na cela de um preso e na própria sede da PF. Agora se
cria uma fantasiosa história para tentar afastar da causa um dos poucos
advogados que ousa confrontar os desmandos da operação”, completa.
A Odebrecht afirma que não vai se manifestar.
O advogado Marden Maués segue a mesma linha de defesa de Botelho: diz
que o inquérito é uma retaliação às críticas que fez ao trabalho dos
delegados da PF.
Para ele, as declarações da doleira Nelma Kodama não podem ser
levadas a sério. “Ela negocia sua delação há oito meses e falaria
qualquer coisa que interessasse aos policiais para não cumprir a pena a
que foi condenada.”
Claudio Dalledone, advogado do ex-agente Rodrigo Gnazzo, disse que
não comentaria as suspeitas porque a investigação está sob sigilo. A PF
não quis se manifestar.
A
Folha não conseguiu localizar a defesa do delegado da PF Paulo Herrera
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1689926-advogado-da-odebrecht-na-lava-jato-e-investigado-pela-policia-federal.shtml