Presidentes e técnicos não fazem parte de nossa família. Vamos fingir que somos órfãos
RUTH DE AQUINO
11/07/2014 21h04
- Atualizado em
11/07/2014 21h14
Na missa do sétimo dia, dia 15 de julho, poderemos enfim olhar para a
frente. Sem cabeça erguida nem abaixada. Sem orar nem chorar. Olhar
adiante, pensar no futuro do Brasil e mirar no centro da meta. Vamos
preencher os espaços vazios, sem violência, e cuidar dos fundamentos de
uma nação que engatinha na escola da civilização. Qualquer criancinha
conhece esses fundamentos. São os direitos das categorias de base do
cidadão, que andam mais em falta que um bom futebol.
Sem perder a alegria espontânea, vamos planejar com seriedade, suor e competência, sem oba-oba e sem jeitinho. Reunidos aqui, abraçados, podemos até cantar o Hino Nacional, mas vamos parar de nos ajoelhar, de erguer os dedinhos para o céu e de rezar para que algum deus atenda a nossos desejos e torne nossos políticos verdadeiros servidores públicos. Quantos jogam para o conjunto e não para seus bolsos ou de seus clãs herdeiros?
Sobretudo, vamos parar de olhar para o líder como se fosse pai ou mãe. Presidentes e técnicos não fazem parte de nossa família. Façamos de conta que somos órfãos. E, quem sabe, aí a gente aprenderá a influenciar o destino e a virar o placar, a evitar os vexames do cotidiano e as goleadas mundiais nos campeonatos de educação, saúde, segurança, infraestrutura, cuidados com crianças e idosos. O Brasil precisa mostrar para si mesmo que tem capacidade de reação e de renovação. Criatividade e pragmatismo não são excludentes.
A quem se queixar de que associo futebol a política ou a quem me acusar de fazer o jogo de algum partido, queria deixar claro que só torço mesmo pelo Brasil – e, carioca, também pelo Rio de Janeiro, Estado com uma das escalações mais desoladoras da federação nas próximas eleições.
Como eleitora e torcedora brasileira, vi oportunismo explícito de todos os partidos durante a Copa das Copas. Não foi apenas da oposição, que esteve mais discreta do que se esperava. Logo no primeiro dia, a presidente Dilma Rousseff, ao se refugiar nas sombras do Itaquerão como se fosse clandestina, ao lado do presidente da Fifa, Joseph Blablablatter, esquivou-se de seu papel de anfitriã para escapar às vaias, foi xingada. Depois pediu o apoio de Lula – mais invisível que Fred – para agredir a “elite branca” e politizar a Copa do “nós” contra “eles” em comícios ufanistas.
Quando o povo adentrou o gramado encantando os gringos, quando os assaltantes tiraram férias, quando nenhum estádio desabou – só um viaduto, com “apenas duas mortes” – e quando a Seleção continuou de pé, só desabando em lágrimas para cobrar pênaltis, Dilma decidiu aproveitar politicamente a Copa. Atacou os pessimistas que previram o caos e protestaram contra os gastos excessivos e os estádios elefantes brancos. Caiu na esparrela de declarar em 2013: “Meu governo é padrão Felipão”. Faltou cautela a ambos.
Dilma esqueceu o meio-campo, a zaga e quis colher os louros e os mulatos prematuramente. Achou-se popular e antenada ao fazer o “É Tóis” do Neymar nas redes sociais. Agora, defende “a renovação” no futebol. Foi a pior besteira. Defender a intervenção do Estado no futebol e afirmar que o Brasil precisa parar de exportar jogadores. Se alguém tem medo de um Estado mais interventor nos próximos quatro anos, essa declaração só fez temer a onipotência.
Felipão tem muito a ensinar a Dilma. Como técnico, foi o melhor garoto-propaganda dos treinadores da Copa. Toda hora o país o via vendendo alguma coisa na televisão. Não soube convocar. Não soube escalar. Não soube reagir. Chegou a admitir que deveria ter chamado outros jogadores – àquela altura, um erro. Apelou a uma psicóloga, como se o problema fosse exclusivamente emocional. Onde já se viu uma Seleção transformar em desvantagem o fato de jogar em casa, com a torcida?
Ao treinar um time sem dois craques, Neymar e Thiago Silva, Felipão decidiu “confundir o técnico deles (alemães)”. “Vocês da imprensa estavam todos lá (na Granja Comary) e iam passar o que treinamos para os alemães.” Felipão também adota o “Padrão Dilma/Lula”. A culpa é sempre da imprensa. O professor deixou tão confusa a turminha que os alemães decidiram tirar o pé do acelerador no intervalo, em respeito aos canarinhos. “Sentimos que estavam perdidos”, afirmou o técnico alemão Joachim Löw.
Na hora de chamar a responsabilidade dos 7 a 1 para si, Felipão exibiu planilhas para dizer que foi bem. Exaltou seu trabalho e da equipe técnica. Atribuiu a goleada a uma “pane de seis minutos”, dos outros, claro, dele não. Foi uma entrevista coletiva para esquecer. Não me digam agora que aconteceu o inexplicável. Tudo está mais do que explicado. É a falta que faz um bom líder, em campo e fora dele.
Sem perder a alegria espontânea, vamos planejar com seriedade, suor e competência, sem oba-oba e sem jeitinho. Reunidos aqui, abraçados, podemos até cantar o Hino Nacional, mas vamos parar de nos ajoelhar, de erguer os dedinhos para o céu e de rezar para que algum deus atenda a nossos desejos e torne nossos políticos verdadeiros servidores públicos. Quantos jogam para o conjunto e não para seus bolsos ou de seus clãs herdeiros?
Sobretudo, vamos parar de olhar para o líder como se fosse pai ou mãe. Presidentes e técnicos não fazem parte de nossa família. Façamos de conta que somos órfãos. E, quem sabe, aí a gente aprenderá a influenciar o destino e a virar o placar, a evitar os vexames do cotidiano e as goleadas mundiais nos campeonatos de educação, saúde, segurança, infraestrutura, cuidados com crianças e idosos. O Brasil precisa mostrar para si mesmo que tem capacidade de reação e de renovação. Criatividade e pragmatismo não são excludentes.
A quem se queixar de que associo futebol a política ou a quem me acusar de fazer o jogo de algum partido, queria deixar claro que só torço mesmo pelo Brasil – e, carioca, também pelo Rio de Janeiro, Estado com uma das escalações mais desoladoras da federação nas próximas eleições.
Como eleitora e torcedora brasileira, vi oportunismo explícito de todos os partidos durante a Copa das Copas. Não foi apenas da oposição, que esteve mais discreta do que se esperava. Logo no primeiro dia, a presidente Dilma Rousseff, ao se refugiar nas sombras do Itaquerão como se fosse clandestina, ao lado do presidente da Fifa, Joseph Blablablatter, esquivou-se de seu papel de anfitriã para escapar às vaias, foi xingada. Depois pediu o apoio de Lula – mais invisível que Fred – para agredir a “elite branca” e politizar a Copa do “nós” contra “eles” em comícios ufanistas.
Quando o povo adentrou o gramado encantando os gringos, quando os assaltantes tiraram férias, quando nenhum estádio desabou – só um viaduto, com “apenas duas mortes” – e quando a Seleção continuou de pé, só desabando em lágrimas para cobrar pênaltis, Dilma decidiu aproveitar politicamente a Copa. Atacou os pessimistas que previram o caos e protestaram contra os gastos excessivos e os estádios elefantes brancos. Caiu na esparrela de declarar em 2013: “Meu governo é padrão Felipão”. Faltou cautela a ambos.
Dilma esqueceu o meio-campo, a zaga e quis colher os louros e os mulatos prematuramente. Achou-se popular e antenada ao fazer o “É Tóis” do Neymar nas redes sociais. Agora, defende “a renovação” no futebol. Foi a pior besteira. Defender a intervenção do Estado no futebol e afirmar que o Brasil precisa parar de exportar jogadores. Se alguém tem medo de um Estado mais interventor nos próximos quatro anos, essa declaração só fez temer a onipotência.
Felipão tem muito a ensinar a Dilma. Como técnico, foi o melhor garoto-propaganda dos treinadores da Copa. Toda hora o país o via vendendo alguma coisa na televisão. Não soube convocar. Não soube escalar. Não soube reagir. Chegou a admitir que deveria ter chamado outros jogadores – àquela altura, um erro. Apelou a uma psicóloga, como se o problema fosse exclusivamente emocional. Onde já se viu uma Seleção transformar em desvantagem o fato de jogar em casa, com a torcida?
Ao treinar um time sem dois craques, Neymar e Thiago Silva, Felipão decidiu “confundir o técnico deles (alemães)”. “Vocês da imprensa estavam todos lá (na Granja Comary) e iam passar o que treinamos para os alemães.” Felipão também adota o “Padrão Dilma/Lula”. A culpa é sempre da imprensa. O professor deixou tão confusa a turminha que os alemães decidiram tirar o pé do acelerador no intervalo, em respeito aos canarinhos. “Sentimos que estavam perdidos”, afirmou o técnico alemão Joachim Löw.
Na hora de chamar a responsabilidade dos 7 a 1 para si, Felipão exibiu planilhas para dizer que foi bem. Exaltou seu trabalho e da equipe técnica. Atribuiu a goleada a uma “pane de seis minutos”, dos outros, claro, dele não. Foi uma entrevista coletiva para esquecer. Não me digam agora que aconteceu o inexplicável. Tudo está mais do que explicado. É a falta que faz um bom líder, em campo e fora dele.