segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Arborização urbana: variáveis a levar em conta para um desenvolvimento sustentável,


Arborização urbana: variáveis a levar em conta para um desenvolvimento sustentável, por Jhuly Aparecida Madalena Caldas Farias Mota e Juan Carlos Valdés Serra

artigo

ARBORIZAÇÃO URBANA: VARIÁVEIS A LEVAR EM CONTA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Jhuly Aparecida Madalena Caldas Farias Mota¹
Juan Carlos Valdés Serra²
RESUMO
A arborização urbana gera benefícios ambientais e sociais e contribui para uma melhoria da qualidade de vida da população dos centros urbanos. Por falta de um planejamento, o plantio de árvores em vias públicas tem gerado problemas a moradores, tais como o confronto com equipamentos urbanos, como rede elétrica, de esgoto, de água, dentre outros. A partir de tal fato o objetivo desta discussão é analisar variáveis a partir de pesquisas em artigos com relação ao tema “Arborização Urbana”. Após a elaboração da pesquisa foi possível observar que inúmeros são os benefícios trazidos pela arborização urbana, porém, é fundamental que a mesma seja feita com base em planejamentos, pois não são todos os tipos de árvores que devem ser destinados ao espaço urbano, pois assim, evita-se problemas e é possível construir um desenvolvimento sustentável.


INTRODUÇÃO
A arborização exerce função importante nos centros urbanos, sendo responsável por uma série de benefícios ambientais e sociais que melhoram a qualidade de vida nas cidades e a saúde física e mental da população. Arborizar uma cidade não significa apenas plantar árvores em ruas, jardins e praças, criar áreas verdes de recreação pública e proteger áreas verdes particulares. A arborização urbana passa a ser vista nas cidades como importante elemento natural reestruturador do espaço urbano, pois aproxima as condições ambientais normais da relação com o meio urbano (RIBEIRO, 2009). 


Dentro de um percurso de tempo não muito distante o homem vem permutando o meio rural pelo meio urbano. As cidades foram crescendo, na maioria das vezes de forma muito rápida e desordenada, sem um planejamento prévio adequado, ocasionando, com isso, uma série de problemas que interferem significativamente na vida dos seus habitantes (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002). Essa realidade demanda ao meio urbano necessidades de criar condições que venham melhorar a convivência dentro de um ambiente cada vez mais adverso e insalubre, com uma variedade de atividades que nesses lugares se desenvolvem. O regime de chuva e a temperatura podem sofrer alterações, devido à atividade humana desenvolvida que tem causado profundas mudanças no clima local (GONÇALVES et al., 2012).


A qualidade de vida dos habitantes de uma cidade é interferida com o processo de mudanças ocorrido com a sua urbanização (MODNA; VECCHIA, 2003). Tais mudanças têm relação principalmente com a qualidade do ar, nas quais têm provocado alterações de sua umidade relativa, temperatura e movimento, como também a dispersão de poluentes (ROCHA; SOUZA, 2009).


É preciso considerar que a arborização de uma cidade promove que suas temperaturas sejam mais amenas se comparado com as que não possuem muitas árvores e tem muito concreto ao longo de suas ruas. (BONAMETTI (2000). Muitos benefícios são descritos pelos moradores de locais bem arborizados, principalmente em relação ao ar mais puro, a menor quantidade de poeira e ainda a presença das sombras, tanto para descanso das pessoas, como ainda para a proteção dos carros. Mesmo com esses atributos positivos em uma cidade bem arborizada, tem aqueles que vêem com mais ênfase os problemas, entre outros que as árvores fazem muita sujeira nas ruas e calçadas, reduz a iluminação pública, podem provocar problemas nas calçadas devido suas raízes, e pode também causar problemas com a rede elétrica e telefônica (CABRAL, 2013).

Schuch (2006) salienta que para a arborização urbana propiciar benefícios à população, exige um planejamento criterioso e um manejo adequado. Para tanto, torna-se necessário o conhecimento do patrimônio arbóreo, que pode ser obtido por meio de inventário, recurso que se constitui em uma ferramenta fundamental para a obtenção de informações precisas acerca da população arbórea.

Diante destas problemáticas acima citadas, o trabalho tem o objetivo de levantar variáveis para que se construa um desenvolvimento sustentável, permitindo compreender como a arborização pode ser benéfica para a qualidade de vida das pessoas, desde que seja feita levando-se em consideração as características urbanas.

METODOLOGIA
O presente artigo baseia-se na revisão bibliográfica de artigos que abordam o tema da pesquisa “Arborização Urbana e Município verde”, para melhor elaboração do projeto. Avaliando o conhecimento em pesquisas precedentes, analisando e identificando problemas relacionados aos assuntos, conceitos, benefícios sobre os temas, será possível desenvolver este artigo. 

IMPORTÂNCIA DA ARBORIZAÇÃO
É necessário lembrar que a paisagem urbana é composta por casas comerciais, indústrias, residências, arborização e paisagismo, sistema viário, estruturas e equipamentos das empresas de energia elétrica, de água, saneamento e de telecomunicação.

De acordo com a EMBRAPA (2000), a arborização é um componente de grande importância urbana. Além da função paisagística, ela proporciona outros benefícios à população tais como: purificação do ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases através dos mecanismos fotossintéticos; melhoria do microclima da cidade, pela retenção de umidade do solo e do ar e pela geração de sombra, evitando que os raios solares incidam diretamente sobre as pessoas; redução na velocidade do vento, influência no balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo e provocando evapotranspiração mais lenta; abrigo à fauna, propiciando uma variedade maior de espécies, e o que influencia positivamente ao ambiente, pois propicia maior equilíbrio das cadeias alimentares e diminuição de pragas e agentes vetores de doenças e amortecimento de ruídos.

A arborização urbana no Brasil é de competência das administrações municipais (BONONI, 2006). Embora haja uma crescente disposição, tanto dos órgãos governamentais envolvidos, como de grande parcela da população, muitos são os problemas enfrentados, como a falta de técnicos capacitados que orientem sobre um plantio correto, escolha da espécie, poda de formação, utilização de tutores, grade de proteção, irrigação em período de estiagem e adubação. 

Assim, para alcançar a qualidade do ambiente urbano é necessário realizar um planejamento prévio, para que não surjam problemas decorrentes do plantio. Análise da
vegetação e do local e desenvolvimento da população são componentes a serem observados para que haja esse planejamento (CEMIG, 1996). Dessa forma é possível afirmar que a arborização deve ser a mais diversificada possível, por motivos estéticos, pela preservação da fauna e da própria biodiversidade vegetal e da cultura regional. Além disso, podem ser utilizadas espécies exóticas, mas a prioridade são as plantas nativas.


ARBORIZAÇÃO E SEUS BENEFÍCIOS
Arborização é algo muito importante para se ter uma boa qualidade de vida, ela propícia um bem-estar tanto mental como social nas cidades, esta faz parte do cenário urbano, tornando a paisagem mais bonita. De acordo com o Manuel de Arborização de Minas Gerais (2011), as árvores são a maior forma de vida existente no planeta, presentes em praticamente todos os continentes. Apresentam alto grau de complexidade e de adaptações às condições do meio, permitindo sua convivência em diversos ambientes, incluindo as cidades.

A arborização colabora de forma significativa para a melhoria do conforto urbano. É elemento de contemplação, fornecedora de flores e frutos atrativos, e centro de configuração paisagística, como ponto de referência para orientação e identificação, possibilitando a proximidade e convivência do homem com a natureza no espaço construído (PORTO; BRASIL, 2013).

As arvores proporcionam sombra, abrigo para os animais pequenos, além de fornecer seus alimentos. Retém o calor causado pelas zonas urbanas, ajuda na diminuição da poeira, ameniza a poluição sonora e contribui para redução de microrganismos patogênicos, ajudando a conservar a limpeza da cidade e a saúde da população. A complexidade da construção de uma cidade arborizada, dificulta no interesse dos serviços públicos, deixando muito a desejar, por isso, muitas cidades ainda não possuem um plano propriamente dito para o plantio e os cuidados complementares de se ter uma árvore.
A arborização constitui elemento de suma importância para a obtenção de níveis satisfatórios de qualidade de vida. No entanto, poucas cidades brasileiras possuem planejamento efetivo para arborização de suas vias públicas (FARIA; MONTEIRO; FISCH 2007).

PRINCIPAIS PROBLEMAS DA ARBORIZAÇÃO

O crescimento desordenado dos centros urbanos gerou uma condição de artificialidade em relação às áreas verdes naturais e com isso vários prejuízos à qualidade de vida dos habitantes. Porém, parte desses prejuízos pode ser evitada pela legislação e controle das atividades urbanas e outra parte amenizada pelo planejamento urbano, ampliando-se qualitativa e quantitativamente a arborização de ruas e as áreas verdes (MILANO, 1987).

Como já citado anteriormente, a maioria dos problemas de arborização urbana são causados pelo confronto de árvores inadequadas com equipamentos urbanos, como fiações elétricas, encanamentos, calhas, calçamentos, muros e postes de iluminação.

Outras causas que acarretam problemas são queda de folhas, flores, frutos e galhos. Também facilitam a ação de bandidos quando atrapalham a iluminação pública e quando são plantadas perto dos muros ou cresce torta, facilitando os assaltantes subirem nas árvores para pularem para dentro das casas. Outra causa é a dificuldade no trânsito de veículos e pedestres ao obstruírem placas de orientação. Os galhos muito baixos dificultam o estacionamento de veículos e passagem dos pedestres. Estragos na calçada por raízes é outro problema em que uma muda mal plantada acarreta a população (RIBEIRO, 2009).

ARBORIZAÇÃO E A UTILIZAÇÃO DAS ESPÉCIES NATIVAS

A manutenção das espécies nativas é de suma importância para a preservação das mesmas e contribuem com o sucesso do funcionamento dos projetos de arborização. Segundo Ceccheto (2014), ao se utilizarem as espécies nativas regionais na arborização urbana, a coexistência e sobrevivência dessas espécies em escala local poderiam ser garantidas.

As espécies nativas possuem diversas predominâncias favoráveis em relação às exóticas, sendo algumas delas: adaptabilidade garantida ao clima e solo; melhor desenvolvimento metabólico; maiores possibilidades de produção de flores e frutos saudáveis; propicia a alimentação para animais também nativos, conservando a fauna local; promulga a proliferação da espécie, evitando a sua extinção; evita o aumento de espécies invasoras exóticas e as doenças e pragas ocasionadas pelas mesmas; além de oferecer os benefícios comuns a todos os gêneros arbóreos (CECCHETTO; CHRISTMANN; OLIVEIRA; 2014).

Além de trazer uma singularidade para a região, valorizando a paisagem construída, tornando-se atrativa para turistas. Pois com espécies nativas é mais fácil a identificação a localidade observada

PLANEJAMENTO DA ARBORIZAÇÃO URBANA
É comum constatar-se a diminuição de vegetação natural à medida que se acelera o processo de urbanização, em face dos reflexos das políticas públicas estabelecidas pelas três esferas governamentais (Federal, Estadual e Municipal), afetando o equilíbrio ecológico urbano e contrariando os interesses de bem-estar da população (SCHUCH, 2006).

Primeiro passo para desenvolver um projeto de arborização dentro de um município, é conhecer área em questão, para que assim possa-se cogitar o tipo de espécie (tamanho, comprimento, largura) que podem ser plantadas no local, dando preferência as espécies nativas da região. Para isso, são necessários que contratem profissionais especializados, caso contrário, o que seria um lugar de tranquilidade, beleza, sombra e ventania nos períodos quentes pode vir a se tornar um lugar perigoso, devido a redes elétricas e durante período chuvoso.

A arborização deve ser incorporada à prática de planejamento urbano, levando-se em consideração os benefícios que esta proporciona à cidade e à população que nela habita, considerando, porém, o aspecto vegetativo e físico da árvore, de modo a obter o convívio harmonioso entre está e o meio urbano (PORTO; BRASIL, 2013).

Uma cidade arborizada não é tarefa fácil, exige minuciosamente um bom planejamento urbano. É indispensável uma organização de forma coerente, para que as árvores não se tornem prejudiciais as vias públicas e privadas como em: avenidas, ruas, casas, redes de esgotos, distribuição de água, redes elétricas, prédios, ambientes de lazer e principalmente uma atenção especial para o tipo de espécie da região onde está sendo localizada a cidade em questão. Para que futuramente, não se torne necessário sua remoção. Plantar apenas não soluciona o problema, plantios em locais indevidos podem trazer grandes danos.

A arborização bem planejada é muito importante independentemente do porte da cidade, pois, é muito mais fácil implantar quando se tem um planejamento, caso contrário, passa a ter um caráter de remediação, à medida que tenta se encaixar dentro das condições já existentes e solucionar problemas de toda ordem (PIVETTA; SILVA, 2002).

Desse modo, faz-se necessário levar em consideração alguns eventos que são importantes como: a definição do espaçamento entre as mudas, pois ao serem plantadas elas dependem, entre outros fatores, da largura das ruas e das calçadas.

RESULTADO E DISCUSSÃO
Ainda existem muitos desafios a serem superados para que a arborização urbana no Brasil seja considerada satisfatória, no sentido de proporcionar maior qualidade ambiental à população urbana. Dentre estes desafios, podem-se apontar maiores investimentos em infraestrutura e planejamento urbano voltado ao incremento da arborização urbana, maior valorização da arborização urbana como elementos essenciais à paisagem urbana, investimentos em capacitação de profissionais junto às secretarias municipais de meio ambiente e distribuição mais igualitária da flora urbana e de seus serviços ecossistêmicos entre bairros de diferentes classes sociais nas cidades brasileiras.

A arborização urbana é um tema que está sempre em discussão quando se trata de meio ambiente, qualidade de vida nas cidades e melhoria no ar que respiramos. Todos os seres vivos necessitam de um ambiente equilibrado ecologicamente para sobreviver. Muitas vantagens podem ser apontadas com a arborização, como melhoria na qualidade do ar, beleza nas ruas, redução da poluição sonora, redução de calor, sombreamento, além da produção de flores e frutos, o que embeleza ainda mais as ruas arborizadas adequadamente.

A falta de planejamento da urbanização introduz elementos hostilizadores à prática da arborização urbana, como calçadas estreitas, vias não projetadas ao plantio de árvores, rede elétrica, fachadas de empreendimentos comerciais, cercas elétricas, dentre outros. Portanto, as ações voltadas ao incremento da arborização urbana no Brasil para melhoria da qualidade ambiental urbana devem priorizar o investimento em infraestrutura urbana anteriormente planejada para sua introdução.

Mas se as pessoas ao plantar árvores em frente às suas casas seguirem alguns critérios sugeridos por órgãos competentes, muitos dos conflitos poderiam ser evitados. Se for obedecido algumas recomendações como o porte das árvores plantadas, estas provavelmente não causarão danos físicos às calçadas e nem alcançarão as redes elétricas.

CONCLUSÃO
Com base nos levantamentos de dados obtidos através de pesquisas bibliográficas, verificasse como é importante a arborização e seus benefícios junto a um planejamento arbóreo no município, pois fica comprovada a necessidade de uma seleção de árvores adequadas para cada localidade, além da escolha correta do local da mesma, pois nem toda planta tem a estrutura correta para ser plantada em qualquer área, por isso, é necessário o envolvimento com arquitetos, engenheiros, paisagistas, órgãos públicos, privados e toda a comunidade em geral, para que dessa forma, o projeto tenha êxodo.

É importante destacar o envolvimento da comunidade em geral, destacando projetos que venham a desenvolver o senso crítico e que desperte a comunidade, principalmente as crianças, a preocupação e a importância de espaços arborização dentro do município, formando assim, uma comunidade integrada, preocupada e conscientizada sobre os problemas ocasionados devido à ausência ou a pequena quantidade de árvores na cidade.


Além disso, concluímos que a população deve observar técnicas de espaçamento entre espécies, a distância da árvore em relação ao poste de iluminação, a garagens e outros locais que possam desencadear problemas. O tipo de espécie a ser plantada é relevante, pois vale lembrar que uma muda cresce e que a população deve respeitar o tamanho da copa e a estrutura de raízes das árvores para evitar problemas futuros. É necessário que se realize podas de formação, pois algumas espécies consideradas de médio porte podem crescer e causar confrontos.

REFERÊNCIAS
BONAMETTI, João Henrique. Arborização Urbana. In: Terra e Cultura, ano XIX, nº36, 2000. Disponível em: www.unifil.br/docs/revista…/terra%20e%20cultura_36- 6.pdf. Acesso em: 25 de novembro de 2019.
CABRAL, Pedro I. D. ARBORIZAÇÃO URBANA: Problemas e Benefícios. Revista On-Line IPOG-ESPECIALIZE. Instituto de Pós-Graduação – IPOG, Ipameri-GO, Dezembro de 2013.
CEMIG. Manual de Arborização, 1996.
GONÇALVES, A.; CAMARGO, L. S.; SOARES, P. F. Influência da vegetação no conforto térmico urbano: Estudo de caso na cidade de Maringá – Paraná. Anais… III Seminário de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. 2012.
GONÇALVES, Wantuelfer. Árvores para o ambiente urbano. Viçosa: Aprenda Fácil, 2004.
ROCHA, L. M. V.; SOUZA, L. C. L. Desenho urbano, clima e saúde em São Jose do Rio Preto. In: Simpósio de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. Anais… Maringá: SIMPGEU, 2009.
RIBEIRO, F. A. B. S. Arborização Urbana em Uberlândia: Percepção da população. Revista da Católica, Uberlândia, v.1, n.1, p.224-237, 2009.
SCHUCH, M. I. S. ARBORIZAÇÃO URBANA: Uma contribuição à qualidade de vida com uso de geotecnologias. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Santa Maria, RS, 2006.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019
Arborização urbana: variáveis a levar em conta para um desenvolvimento sustentável, por Jhuly Aparecida Madalena Caldas Farias Mota e Juan Carlos Valdés Serra, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/arborizacao-urbana-variaveis-a-levar-em-conta-para-um-desenvolvimento-sustentavel-por-jhuly-aparecida-madalena-caldas-farias-mota-e-juan-carlos-valdes-serra/.

Agrotóxico mais encontrado em frutas e verduras no Brasil é fatal para abelhas

Agrotóxico mais encontrado em frutas e verduras no Brasil é fatal para abelhas

morte de abelha

Sem abelhas, produção de lavouras fica prejudicada; estudo da Anvisa analisou que mais da metade das 4 mil amostras de 14 alimentos vegetais no país contém agrotóxico


Agência Pública
Um agrotóxico fatal para as abelhas foi o mais encontrado em um levantamento do governo que analisa o resíduo de pesticidas em frutas e verduras vendidas em todo país. O resultado da nova edição do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, o PARA, foi divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na semana passada e mostrou também que em 51% dos testes realizados foi encontrado alguma quantidade de resíduo de agrotóxico nos alimentos.

Na pesquisa, que testou 4.616 amostras de 14 alimentos, o ingrediente ativo Imidacloprido foi o mais encontrado. Ele é um neonicotinoides, um inseticida derivado da nicotina que tem capacidade de se espalhar por todas as partes da planta e, por isso, é fatal para os polinizadores.

Uma reportagem da Agência Pública e Repórter Brasil revelou em março deste ano que mais de 500 milhões de abelhas morreram em três meses em quatro estados brasileiros. Uma das principais causas das mortes foi justamente o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides, que atingem o sistema nervoso central das abelhas – afetando a capacidade de aprendizagem e memória, fazendo com que muitas delas percam a capacidade de encontrar o caminho de volta para a colmeia.

Ter um agrotóxico fatal para abelhas como o mais encontrado em alimentos é um alerta também para a saúde humana.

Primeiro porque ele acaba sendo consumido pelas pessoas. “Esse tipo de produto que se espalha por toda a planta é muito perigoso, pois lavar o alimento ou descascá-lo não é suficiente para retirar os resíduos de agrotóxico, que já circulam dentro da planta”, explica engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, vice-presidente da regional sul da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).

Outro problema desse tipo de agrotóxico ser o mais detectado no PARA é que, ao matar abelhas, se prejudica também a produção das lavouras. Isso porque elas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas, promovendo a reprodução de diversas espécies. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização das abelhas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.

No PARA, o Imidacloprido foi encontrado em 713 amostras, ou cerca de 15% de todos os alimentos testados. Oito produtos agrotóxicos à base de Imidacloprido foram autorizados pelo governo de Jair Bolsonaro neste ano, com registros de comercialização indo para as multinacionais estrangeiras Sulphur Mills, Albaugh Agro (dois registros), Helm, Nufarm, Tide e Tradecorp, e para a nacional AllierBrasil.

Na edição anterior do PARA, com análises feitas entre 2013 e 2015, o Imidacloprido havia sido apenas o quinto ingrediente ativo mais encontrado nas amostras. Segundo a Anvisa, não é possível comparar os resultados porque a metodologia de pesquisa mudou — alimentos e períodos de análise agora são diferentes.

Resultados não são positivos

A pedido da Agência Pública e da Repórter Brasil, especialistas de organizações que estudam o tema dos agrotóxicos analisaram o relatório, disponibilizado no site da Anvisa, e afirmaram que os resultados são alarmantes, ao contrário do que fez parecer o tom otimista da divulgação oficial do relatório.

Para Melgarejo, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o relatório acende um alerta. “O número de 23% dos produtos apresentarem agrotóxico acima do permitido é assustador. E os 27% com veneno abaixo do limite não traz tranquilidade”, diz. “Nas definições de limites aceitáveis, é tido como base uma pessoa adulta de 50 quilos. Mas estamos alimentando crianças e bebês com esses mesmos alimentos. Estar abaixo do limite considerado seguro para um adulto de 50 quilos não significa dizer que é seguro para um bebê ou criança.”

Representantes da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida também criticaram o posicionamento da Anvisa em relação ao relatório, qualificado como “roupa bonita para um conteúdo altamente tóxico”. Em nota, a organização diz que apesar do aspecto técnico da publicação, o release divulgado no site da Anvisa é “extremamente otimista”. Segundo eles, o tom é “de uma peça de propaganda política para um relatório que, lido atentamente, traz grandes preocupações para a sociedade.”

A organização completa dizendo que “em um contexto de uso crescente de agrotóxicos ano a ano, e também de aumento sistemático das intoxicações por agrotóxicos, é lamentável ver a Agência que deveria garantir a segurança alimentar da população minimizando resultados gravíssimos sobre as condições da comida servida ao povo brasileiro”.

Para a organização não governamental Greenpeace, a comunicação dos resultados foi “maquiada”. “Os problemas continuam os mesmos, mas a forma otimista que eles divulgaram faz parecer que melhorou, e isso, infelizmente, foi replicado por muitos veículos de imprensa. Ainda temos mais de 50% dos alimentos com alguma quantidade de agrotóxicos. E os 27% com agrotóxicos abaixo do limite são questionáveis, pois esses limites são muito frágeis quando falamos de várias alimentação completas durante o dia, com mistura de alimentos e substâncias, que tem um efeito diferente de um produto isolado”, explica Marina Lacôrte, especialista em Agricultura e Alimentação do Greenpeace.
Criado em 2001, o PARA testou nesta versão 14 produtos da dieta da população brasileira — abacaxi, alface, alho, arroz, batata-doce, beterraba, cenoura, chuchu, goiaba, laranja, manga, pimentão, tomate e uva. As amostras foram recolhidas em estabelecimentos de 77 municípios, entre agosto de 2017 a junho de 2018, ou seja, antes do início do governo de Jair Bolsonaro, no qual 467 produtos agrotóxicos foram liberados em menos de um ano, um recorde histórico.

Do total de amostras analisadas (4.616), em 2.254 (49%) não foram detectados resíduos, 1.290 (28%) apresentaram resíduos com concentrações iguais ou inferiores ao Limite Máximo de Resíduos (LMR), estabelecido pela Anvisa. E em 1.072 amostras (23%) foram identificados resíduos acima do permitido, incluindo até mesmo agrotóxicos proibidos de serem comercializados no Brasil.

Em 0,89% — quase um em cada 100 casos —, foi identificado potencialidade para causar riscos agudos à saúde, com efeitos como enjoo, vômito, dor de cabeça e febre nas 24 horas seguintes ao consumo do alimento.

A visão do governo, por meio da Anvisa, é a de que o resultado do relatório é positivo. “Temos situações pontuais de riscos, mas que não geram nenhum risco a saúde da população. Os dados mostram a segurança dos alimentos que a gente consome hoje”, garantiu Bruno Rios, diretor adjunto da Anvisa, em coletiva após a divulgação dos dados.

Análise não identifica todos agrotóxicos permitidos no Brasil

As coletas analisadas no PARA foram feitas pelas vigilâncias sanitárias e encaminhadas para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens): Instituto Octávio Magalhães (IOM/FUNED/MG), Laboratório Central de Goiás (Lacen/GO) e Instituto Adolfo Lutz (IAL/SP); e para um laboratório privado contratado por processo licitatório.

Segundo o relatório, em cada amostra foram pesquisados até 270 ingredientes ativos, número bastante inferior aos 499 permitidos para serem comercializados no Brasil após avaliação da Anvisa, Ministério da Agricultura e Ibama. Foram detectados resíduos de 122 ingredientes ativos diferentes nas 4.616 amostras analisadas, o que resultou no total de 8.270 detecções de agrotóxicos — em muitos casos foram identificados mais de um tipo de pesticida em um só alimento, mas a Anvisa não especifica quais em seu relatório.

Depois do Imidacloprido, citado no início da reportagem, os ingredientes ativos mais encontrados foram os fungicidas Tebuconazol (570) e o Carbendazim (526) — este último proibido na União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Japão por causar problemas mutagênicos e de toxicidade reprodutiva. Em 2012, os EUA proibiram a importação do suco de laranja brasileiro devido à presença deste fungicida nos produtos.

Entre os 40 ingredientes ativos mais encontrados há o Carbofurano, um produto proibido no Brasil, identificado 52 vezes na atual pesquisa — na edição 2013-2015, o Carbofurano aparecia entre os 30 ingredientes ativos mais encontrados.

Em outubro de 2017, dois meses após o começo das análises, a Anvisa desautorizou a comercialização de agrotóxicos à base de Carbofurano justamente pela persistência de seus resíduos nos alimentos, além de malefícios à saúde humana. Ele também é classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como altamente tóxico do ponto de vista agudo — a que causaria intoxicação nas 24 horas seguidas ao consumo.
De acordo com a Anvisa, a presença de agrotóxicos não autorizados nas análises tem como um dos motivos os poucos registros para culturas consideradas de baixo retorno econômico. Por isso, muitos produtores acabam utilizando agrotóxicos autorizados para uma cultura específica – soja, por exemplo, em outras culturas, caso da uva.

Laranja, goiaba e uva: os três mais com agrotóxicos

Entre os alimentos testados, a laranja foi a que mais apresentou resíduos de agrotóxicos. De 382 análises, apenas 157 não apresentaram vestígios de pesticidas, 173 apresentaram resíduos em concentrações iguais ou inferiores ao permitido pela lei e em 52 casos os níveis de agrotóxico encontrados estavam acima do permitido.
Foram encontrados 47 agrotóxicos diferentes nas laranjas vendidas em supermercados brasileiros, que incluiu até mesmo resíduos de Carbofurano, proibido no Brasil. O mais encontrado na fruta foi o Imidacloprido. Na laranja também foi encontrado a maior exposição para risco agudo. Depois da laranja, a goiaba e a uva foram os alimentos que mais apresentaram riscos agudos.
– No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana, 60% dependem da polinização das abelhas –

Nova metodologia é criticada

Até 2012, os resultados do PARA eram lançados anualmente. Desde então, optou-se por divulgar o relatório compilado de três anos. O último foi divulgado em 2016, com dados de 2013 a 2015. Não houve coletas em 2016, por conta de uma reestruturação no projeto, que só voltou à ativa no segundo semestre de 2017.

Na edição anterior, onde foram analisadas 12.051 amostras em três anos, o percentual de alimentos com agrotóxicos acima do permitido pela lei era de 19,7%, menos do que o atual.
Além disso, até 2015, o PARA trabalhava com uma lista de 25 alimentos a serem analisados, que representavam 70% da cesta de alimentos de origem vegetal consumidos pela população brasileira, segundo dados brutos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2008-2009, que traça o perfil de orçamento doméstico e condição de vida da população brasileira. Agora, a partir da reestruturação, o número de alimentos foi ampliado para 36, mas nem todos os alimentos escolhidos serão analisados anualmente, pois as análises vão variar dentro de cada triênio. Nesta edição, por exemplo, apenas 14 foram analisados, e alimentos como o feijão e a batata ficaram de fora, mas devem entrar nas próximas edições.

A rotatividade é criticada por especialistas da área. “Produtos muito importantes, que estão no prato do brasileiro, não aparecem no resultado. O trigo que vai no pãozinho do dia a dia, o feijão que é um ingrediente tradicional no prato brasileiro. Não é uma boa ideia a Anvisa fracionar as análises para períodos específicos, quando a população consome esses produtos durante todo o ano”, explica o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo.
Marina Lacôrte, do Greenpeace, também criticou o baixo número de alimentos apresentados. 

“Esses dados têm que ser avaliados todo o ano, pois há safras todos os anos. Eles argumentam que essas alterações ocorrem por questões financeiras, mas esse é um investimento necessário que o governo deve fazer: a saúde da população. Se o problema é financeiro então que se retire a isenção de impostos para os agrotóxicos, e utilizem esses impostos para bancar programas como esse”, diz.

Esta reportagem faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de Agrotóxicos no Brasil. A cobertura completa está no site do projeto.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019
Agrotóxico mais encontrado em frutas e verduras no Brasil é fatal para abelhas, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/agrotoxico-mais-encontrado-em-frutas-e-verduras-no-brasil-e-fatal-para-abelhas/.

Mercado de medicina asiática tradicional em expansão devasta tigres, leopardos, onças e outras espécies de felinos


Mercado de medicina asiática tradicional em expansão devasta tigres, leopardos, onças e outras espécies de felinos


Os ossos, sangue e partes do corpo de grandes felinos são um grande negócio. Eles são os ingredientes ‘vitais’ em uma variedade de produtos, como bálsamos, cápsulas e vinhos – vendidos como curas para várias doenças, que vão desde insônia e malária até meningite e impotência.
Tudo faz parte de um mercado de medicina asiática tradicional em expansão, que devastam tigres, leopardos, onças e outras espécies de felinos. Infelizmente, há poucas evidências de que essas curas funcionem – embora a demanda por elas esteja deixando um legado trágico e sangrento.

ESTUDO ASSUSTADOR

Um novo estudo internacional da ONG World Animal Protection, com sede em Londres , descobriu uma história de horrível exploração animal que pode muito bem levar à extinção de alguns dos predadores mais emblemáticos do planeta.

Com foco em produtos de grandes felinos, o estudo mostra que leões e tigres estão sendo mortos na natureza e também criados em cativeiro aos milhares, geralmente em condições incrivelmente cruéis, para ajudar a alimentar a demanda insaciável por medicamentos tradicionais.
tigres em cativeiro
Em um esforço para entender por que os clientes asiáticos estão impulsionando esse mercado de miséria, os investigadores pesquisaram as atitudes dos consumidores. Na China e no Vietnã – de longe os maiores países consumidores de animais silvestres -, eles encontraram altos níveis de crença nas propriedades médicas não comprovadas de orgãos e partes de grandes felinos.

Além disso, a maioria dos consumidores acredita que os gatos capturados na natureza têm propriedades medicinais mais potentes do que os animais criados em cativeiro (84% dos consumidores no Vietnã e 55% na China). Tais visões estão alimentando a caça furtiva desenfreada de gatos selvagens, incluindo várias espécies ameaçadas de extinção.

ONÇAS CAÇADAS

onça abatida
A história da onça é particularmente triste e instrutiva. Esse predador icônico das florestas tropicais do Novo Mundo nunca fez parte da medicina tradicional asiática. Mas, à medida que os tigres se tornam escassamente escassos, o mercado de dentes, ossos e peles de onça-pintada explodiu na América Latina .

Os comerciantes chineses são especialmente ativos, com a China sendo agora o maior investidor estrangeiro em infraestrutura e indústrias extrativas da América Latina. Tais desenvolvimentos estão abrindo as últimas florestas intactas da região como um peixe esfolado , facilitando a caça e a caça de onças pelos caçadores ilegais.
onça
O comércio de partes de jaguar é ilegal, mas isso não impediu a pilhagem. O número de onças-pintadas despencou nas últimas duas décadas, com a insaciável demanda pela medicina tradicional asiática sendo uma parte grande e crescente do problema.

SUPOSTO VALOR MEDICINAL

O estudo mostra uma imagem de um comércio cruel baseado em curas baseadas na fé e fortes crenças culturais.

Há uma solução? Os pesquisadores descobriram que a maioria (60-70%) dos entrevistados chineses e vietnamitas alegaram que não comprariam produtos para gatos grandes que são ilegais ou prejudiciais à conservação da espécie. Uma proporção semelhante de consumidores alegou que estaria disposto a tentar alternativas à base de plantas se fosse mais barato.

No entanto, dada a forte crença cultural no poder dos medicamentos tradicionais e o fato de os regulamentos não impedirem a caça furtiva, leis mais rigorosas por si só não são suficientes.

Talvez possamos aprender com outras áreas de conservação. Por exemplo, a sopa de barbatana de tubarão era anteriormente uma refeição cara, mas altamente popular na China, pois simbolizava sucesso e riqueza. Mas sua popularidade estava levando muitas espécies de tubarões à extinção, e a pesca era notavelmente cruel – como as barbatanas de tubarão são colhidas cortando as barbatanas de tubarões vivos e depois jogando os peixes ainda vivos de volta ao oceano, onde sofrem uma morte lenta .
tubarões mortos
Os altos preços não desaceleraram o comércio de barbatanas de tubarão, mas o que funcionou foi uma campanha de alto nível envolvendo líderes comunitários, estudantes e celebridades para ressaltar a crueldade das práticas de colheita. Isso foi combinado com o governo chinês que proibiu a refeição de banquetes oficiais. Como resultado, o consumo de sopa de barbatana de tubarão despencou.

Precisamos de ações semelhantes para grandes felinos, que agora estão com problemas em todo o mundo . A medicina tradicional asiática é um fator-chave em seu contínuo declínio , e a demanda só cairá se as atitudes culturais mudarem. Dado que a China e o Vietnã são nações autoritárias, sinais claros de seus líderes podem ter um impacto dramático nesse comércio fatal.

Informe da ALERT—the Alliance of Leading Environmental Researchers & Thinkers, com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/12/2019

Mercado de medicina asiática tradicional em expansão devasta tigres, leopardos, onças e outras espécies de felinos, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 3/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/03/mercado-de-medicina-asiatica-tradicional-em-expansao-devasta-tigres-leopardos-oncas-e-outras-especies-de-felinos/.


Desmatamento na Amazônia aumenta 212% em outubro deste ano, aponta Imazon


Desmatamento na Amazônia aumenta 212% em outubro deste ano, aponta Imazon



Ainda segundo o Instituto, a degradação florestal, destruição da floresta por queimadas ou retirada seletiva de madeira, teve um crescimento de 394% em comparação com o mês de outubro do ano passado

Por Stefânia Costa
De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, no mês de outubro deste ano, houve um aumento de 212% de desmatamento na Amazônia, em comparação com o ano passado. Em 2018, foram perdidos 187 km² de floresta. Em 2019, esse número subiu para 583 km² de vegetação devastada. No ranking do desmatamento por estado, o Pará lidera com 59%. Em seguida aparecem: Mato Grosso (14%), Rondônia (10%), Amazonas (8%), Acre (6%), Roraima (2%) e Amapá (1%).

O boletim do desmatamento do Imazon indica que a degradação na Amazônia também cresceu. Em outubro desse ano, as florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 618 km², enquanto que, em outubro de 2018, a degradação florestal detectada foi de 125 km². Esses números significam um aumento de 394%. O Mato Grosso dispara na lista dos estados com mais degradação, com 74%. O Pará vem em segundo lugar, com 17%, seguido por Rondônia, com 7%, Amazonas e Tocantins, ambos com 1%.

Desmatamento e degradação

O Imazon classifica desmatamento como o processo de realização do corte raso, que é a remoção completa da vegetação florestal. Na maioria das vezes, essa floresta é convertida em áreas de pasto. Já a degradação é caracterizada pela extração das árvores, normalmente para fins de comercialização da madeira. Outros exemplos de degradação são os incêndios florestais, que podem ser causados por queimadas controladas em áreas privadas para limpeza de pasto, por exemplo, mas que acabam atingindo a floresta e se alastrando.

Ranking do desmatamento

Pacajá, município do sudeste do Pará, aparece pelo segundo mês consecutivo no topo da lista das cidades que mais registraram desmatamento, com 32 km². Altamira, Portel, Uruará, São Félix do Xingu e Placas, todas também no Pará, aparecem em seguida na lista. Estes municípios críticos estão localizados na área de influência de Belo Monte. Porto Velho é a única capital presente no ranking das dez cidades que mais destruíram a floresta.

Em outubro de 2019, 54% do desmatamento na Amazônia ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante foi registrado em Assentamentos (32%), Unidades de Conservação (7%) e Terras Indígenas (7%). A APA Triunfo do Xingu, no Pará, a Florex Rio Preto-Jacundá, em Rondônia, e a Resex Guariba-Roosevelt, Mato Grosso, foram as Unidades de Conservação mais desmatadas na Amazônia. Das dez terras indígenas mais desmatadas, oito ficam no estado do Pará. No topo da lista estão a TI Cachoeira Seca do Iriri, TI Ituna/Itatá e a TI Apyterewa.

SAD

O Sistema de Alerta de Desmatamento é uma ferramenta de monitoramento, baseada em imagens de satélites, desenvolvida pelo Imazon para reportar mensalmente o ritmo do desmatamento e da degradação florestal da Amazônia. Operando desde 2008, atualmente o SAD utiliza os satélites Landsat 7 (sensor ETM+), Landsat 8 (OLI), Sentinel 1A e 1B, e Sentinel 2A e 2b (MSI) com os quais é possível detectar desmatamentos a partir de 1 hectare mesmo sob condição de nuvens.
Imazon – O Imazon é um instituto brasileiro de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, fundado em Belém há 29 anos.

Desmatamento na Amazônia aumenta 212% em outubro deste ano, aponta Imazon
Desmatamento na Amazônia aumenta 212% em outubro deste ano, aponta Imazon
Acesse o boletim completo aqui.
Entenda mais sobre o SAD aqui.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/12/2019
Desmatamento na Amazônia aumenta 212% em outubro deste ano, aponta Imazon, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 4/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/04/desmatamento-na-amazonia-aumenta-212-em-outubro-deste-ano-aponta-imazon/.

Amazônia: As florestas secundárias estão cada vez mais fragmentadas e isoladas das florestas primárias restantes



Amazônia: As florestas secundárias estão cada vez mais fragmentadas e isoladas das florestas primárias restantes


O crescimento da floresta secundária na Amazónia é muito mais lento do que se pensava

floresta secundária na Amazônia
© Marizilda Cruppe / Rede Amazônia Sustentável
Lancaster University*

O novo crescimento das florestas amazônicas após o desmatamento pode acontecer muito mais lentamente do que se pensava anteriormente, mostra um novo estudo.

As descobertas podem ter impactos significativos nas previsões de mudanças climáticas, já que a capacidade das florestas secundárias de absorver carbono da atmosfera pode ter sido superestimada.

O estudo, que monitorou o crescimento da floresta ao longo de duas décadas, mostra que as mudanças climáticas e a perda maior de florestas podem estar prejudicando o crescimento da Amazônia.

Ao retirar grandes quantidades de carbono da atmosfera, as florestas que cresceram após o desmatamento – comumente chamadas florestas secundárias – foram consideradas uma ferramenta importante no combate às mudanças climáticas causadas pelo homem.

No entanto, o estudo de um grupo de pesquisadores brasileiros e britânicos mostra que, mesmo após 60 anos de rebrota, as florestas secundárias estudadas retinham apenas 40% do carbono em florestas que não haviam sido perturbadas por seres humanos. Se as tendências atuais continuarem, levará mais de um século para que as florestas se recuperem completamente, o que significa que sua capacidade de ajudar a combater as mudanças climáticas pode ter sido superestimada.

O estudo, publicado na revista Ecology , também mostra que as florestas secundárias retiram menos carbono da atmosfera durante as secas. No entanto, as mudanças climáticas estão aumentando o número de anos de seca na Amazônia.

O primeiro autor Fernando Elias, da Universidade Federal do Pará, explicou: “A região que estudamos na Amazônia registrou um aumento na temperatura de 0,1 C por década e o crescimento das árvores foi menor durante os períodos de seca. Com previsões de mais secas no futuro, devemos ser cautelosos quanto à capacidade das florestas secundárias de mitigar as mudanças climáticas. Nossos resultados destacam a necessidade de acordos internacionais que minimizem os impactos das mudanças climáticas. ”

Além de ajudar a combater as mudanças climáticas, as florestas secundárias também podem fornecer um habitat importante para as espécies ameaçadas. No entanto, os pesquisadores descobriram que os níveis de biodiversidade nas florestas secundárias eram apenas 56% daqueles observados nas florestas locais não perturbadas, sem aumento na diversidade de espécies durante os 20 anos de monitoramento.

Muitos países fizeram grandes promessas de reflorestamento nos últimos anos, e o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de ha de floresta sob o acordo climático de Paris. Tomados em conjunto, esses resultados sugerem que essas grandes promessas de restauração florestal precisam ser acompanhadas por ações mais firmes contra o desmatamento de florestas primárias e uma consideração cuidadosa sobre onde e como reflorestar.

A pesquisa foi realizada em Bragança, Brasil, a mais antiga região de fronteira de desmatamento da Amazônia que perdeu quase toda a sua cobertura florestal original.

A bióloga Joice Ferreira, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, disse: “Nosso estudo mostra que em áreas fortemente desmatadas, a recuperação florestal precisa de apoio e investimento adicionais para superar a falta de fontes de sementes e de animais dispersadores de sementes. Isso é diferente de outras áreas que estudamos, nas quais o desmatamento histórico é muito menor e as florestas secundárias se recuperam muito mais rapidamente sem nenhuma intervenção humana. ”

Jos Barlow , professor de ciências da conservação no Lancaster Environment Center , destaca a necessidade de mais estudos de longo prazo. Ele disse: “As florestas secundárias são cada vez mais difundidas na Amazônia, e seu potencial de mitigação das mudanças climáticas as torna de importância global. São necessários mais estudos de longo prazo como o nosso para entender melhor a resiliência florestal secundária e direcionar a restauração às áreas que mais farão para combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade. ”
Referência:
Elias, F., Ferreira, J., Lennox, G.D., Berenguer, E., Ferreira, S., Schwartz, G., de Oliveira Melo, L., do Nascimento Reis Júnior, D., do Nascimento, R.O., Ferreira, F.N., Espirito Santo, F., Smith, C.C. and Barlow, J. (2019), Assessing the growth and climate sensitivity of secondary forests in highly deforested Amazonian landscapes. Ecology. Accepted Author Manuscript. doi:10.1002/ecy.2954
https://doi.org/10.1002/ecy.2954

* Da Lancaster University, com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019
Amazônia: As florestas secundárias estão cada vez mais fragmentadas e isoladas das florestas primárias restantes, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/amazonia-as-florestas-secundarias-estao-cada-vez-mais-fragmentadas-e-isoladas-das-florestas-primarias-restantes/.