terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental

 

 

Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental


4 de dezembro de 2020 Observatório de Justiça & Conservação

Obra em praia do litoral do Paraná recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental
Obra em praia do litoral do Paraná recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental

O anúncio das obras de revitalização da praia de Matinhos, no litoral do Paraná, foi feito com grande alarde. Imagens e vídeos simulam o resultado para convencer a população pela estética do projeto. Mas sobre os detalhes técnicos e como será a execução, pouco foi apresentado. A reação da comunidade científica foi imediata. O impacto ambiental, social e paisagístico da proposta será imenso e não há licenciamento ambiental para as intervenções propostas. O que existe é um licenciamento para outro projeto, de 2009, totalmente diferente e com impactos bem menores do que o desenho atual.

A obra tem um custo estimado de R$ 513 milhões, o que significa também um maior endividamento do Estado. O empréstimo será feito junto ao Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, conta que será paga com dinheiro público e que ficará a cargo dos próximos governos. Já a manutenção do empreendimento deverá ficar sob responsabilidade do município e não é barata, pelo contrário.

A engorda de praia, na prática, é o alargamento da faixa de areia com obras de aterramento e colocação de areia dragada de outro local. O projeto do Estado prevê a colocação de blocos de rocha compactados em uma faixa de 8 km, na Avenida Atlântica e Avenida Beira Mar.

As imensas barreiras da costa até o mar mudam a dinâmica do oceano e causam um grande impacto visual e ambiental. O projeto atual prevê um par de guias-correntes no canal da Avenida Paraná, outro par na foz do Rio Matinhos e um terceiro par na foz de um canal artificial a ser escavado no Balneário Saint Etienne.

A obra prevê, ainda, um espigão ao Norte da Praia Brava, e dois headlands (espigões com alargamento na extremidade voltada para o mar) localizados nos balneários Riviera e Saint Etienne. Também estão previstas a reposição de areia com engordamento artificial, obras de macrodrenagem e microdrenagem, revitalização urbanística e pavimentação. Mas não existe qualquer projeto de manutenção associado ao real dimensionamento do custo para manter os anteparos artificiais.

A pedido do Ministério Público do Paraná, um grupo formado por 17 pesquisadores da UFPR, com ampla experiência em pesquisa e atuação no litoral do Paraná, elaborou uma segunda nota técnica sobre a proposta de revitalização e engordamento da orla de Matinhos. Entre eles, há quatro geólogos, três oceanógrafos, dois geógrafos, quatro biólogos, além de um engenheiro cartógrafo, um advogado, um químico e uma socióloga, todos referência em suas áreas de pesquisa.

Um primeiro estudo, anterior, já havia trazido uma série de questionamentos e críticas à proposta. O segundo, tornado público no dia 1o de dezembro – depois de a equipe ter tido acesso a mais documentos e contatos com o próprio governo – teve as críticas acentuadas e feitas com ainda mais propriedade. Recomendações técnicas alternativas ao projeto, mais baratas e com maior eficiência, também foram feitas na nota.

Foi esse grupo que analisou as avaliações apresentadas pelo governo para confirmar que as guias-correntes, ou “espigões” instalados na foz de rios e canais, não servem para controle de erosão, pelo contrário, alteram a dinâmica costeira com impactos negativos irreversíveis e permanentes.

Para os pesquisadores, os “espigões” em formato de headlands (com uma praça e mirante na ponta) foram adotados apenas por critérios paisagísticos e trazem grandes prejuízos ambientais, além de serem incompatíveis com a paisagem natural de uma região tombada pelo Patrimônio Histórico.

Com base na experiência técnico-científica da equipe, o bloqueio físico dessas estruturas vai provocar acúmulo de areia do lado sul das construções e, consequentemente, erosão costeira do lado norte, ou seja, transferir o problema de Matinhos para Pontal do Paraná.

Outro problema grave é que não há comprovação de que exista areia para esse empreendimento: “Para a alimentação artificial da praia de Matinhos está previsto um volume de areia de 3.222.250 m3. Porém, não existe comprovação da ocorrência de jazida de areia em volume e características adequadas para realizar o aterramento proposto. Ou seja: o volume da jazida não foi adequadamente determinado, o que é grave, já que recursos públicos serão destinados a uma obra sem viabilidade técnica demonstrada”, aponta o texto da nota técnica.

O Grupo de Trabalho também reforça que, tanto as empresas envolvidas na proposta quanto o Estado, não se preocuparam em fazer um estudo específico para saber de que modo a engorda da praia vai alterar a arrebentação das ondas e a prática de surf, tradicional em Matinhos. De acordo com a nota, todo o projeto é passível de questionamentos na Justiça.

Além de inconsistências envolvendo o licenciamento ambiental, o projeto não tem embasamento técnico, não houve participação pública, nem aderência ao plano diretor municipal e ao Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral, o PDS.

“Este grupo de trabalho ratifica seu alerta para as consequências ambientais, paisagísticas e financeiras do empreendimento, assim como para a qualidade de vida da população afetada, especialmente em longo prazo. A insistência em se manter este empreendimento, mesmo frente às inconsistências técnicas apontadas, significará, de fato, protelar a solução dos problemas ou até mesmo intensificá-los ou transferi-los para outras localidades do litoral paranaense. Assim, recomenda-se fortemente a reformulação da proposta conceitual e do projeto, alinhando-as com as melhores práticas recomendadas por documentos orientadores do assunto, tanto na literatura especializada como em nível federal.”

Um dos pesquisadores envolvidos no grupo de trabalho é Daniel Telles, coordenador do Laboratório de Geografia Marinha e Gestão Costeira do Centro de Estudos do Mar (CEM/UFPR). Para ele, o projeto foi trazido em uma perspectiva de monólogo por parte do governo e merece ser analisado em sua essência e não só na aparência, pelas maquetes apresentadas.

Para Telles, a solução não é simples. “A engorda de praia é um assunto de alta complexidade dentro da Ciência do Mar, e que toca diferentes países costeiros mundo afora. Esse recurso inicial é só um primeiro investimento. O projeto exige, dentro das experiências já conhecidas, a manutenção das obras e monitoramento. Quanto mais você interfere em uma paisagem natural, maior o custo de manutenção exigido dos cofres públicos”.

O litoral brasileiro tem sofrido com ressacas cada vez mais fortes, erosões seríssimas e enchentes. As ondas avançam sobre ruas, casas e comércios. É o caso do município de Matinhos, no Paraná, que passou, ao longo da história, por um processo indevido de urbanização que ocupou e destruiu toda a faixa de restinga, ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica que tem, entre suas funções, o controle das inundações. A vegetação da Restinga serve como uma barreira e é capaz de absorver ou segurar grande parte da água após a alta das marés.

Para pessoas desatentas ou com pouco conhecimento, pode parecer apenas “mato”, mas seus arbustos, flores, plantas rasteiras e árvores de diversos tamanhos formam uma rica floresta. É a barreira mais eficaz para proteger a cidade do aumento do nível do mar. Sem a restinga, nada impede a água de avançar cada vez mais. Nem uma milionária obra de aterramento da praia.

Para o professor Eduardo Vedor, coordenador do Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (LAGEAMB) da UFPR, que também participou do estudo, existe uma pressão e um lobby do setor imobiliário, que busca valorizar os empreendimentos que já existem com esse tipo de revitalização proposta. Mas, para ele, é muito mais barato desapropriar os imóveis e ressarcir os moradores e comerciantes do que investir em um processo de engorda de praia. O professor esclarece que a desapropriação envolveria de 15 a 20 imóveis na Praia Central, local onde a linha de costa já está comprometida.

“Na praia central de Matinhos, não há mais nem vestígios da área de restinga. Houve uma ocupação desordenada anterior à legislação vigente, feita por pessoas que compraram legalmente os terrenos e por isso teriam direito a indenizações em caso de desocupação. Mas também há ilegalidades, ocupações posteriores. Por ausência de fiscalização e pelo risco que esses proprietários assumiram, não caberia qualquer tipo de indenização”, argumenta Vedor.

Cabe lembrar que o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral (PDS), finalizado no ano passado, a um custo de, aproximadamente R$ 5 milhões, foi o maior investimento que o estado realizou até hoje no que se refere a planejamento para o litoral. Houve ampla participação da sociedade nas discussões que envolveram 76 projetos. A engorda de Matinhos sequer entrou na pauta das discussões.

Giem Guimarães, diretor-executivo do Observatório de Justiça e Conservação (OJC), reforça que as notas técnicas são a prova de que o governo Ratinho Jr. não está nem um pouco preocupado com as prioridades no Paraná: “Esse projeto deveria se chamar ‘o Engodo da Praia’, e não ‘a Engorda da Praia’, porque não faz, nem devia fazer, parte das prioridades para o Estado. Trata-se, portanto, de uma obra desnecessária com cunho meramente eleitoreiro. Por que aplicar tanto dinheiro em uma obra de estética no litoral? Para simplesmente angariar votos”.

O Governo do Paraná também ignorou recomendações do Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira (2018), resultado de quatro anos de trabalhos e articulações entre representantes de diversos órgãos e instituições. O documento foi planejado para dar subsídios à tomada de decisões dos responsáveis pelas obras costeiras. O Guia deixa claro que a intervenção em linhas de costa com colocação de “próteses”, ou obras rígidas, deve ser evitada, pois resultam em problemas futuros, repassados a outras áreas. No caso de Matinhos, impacto deve ocorrer com o Balneário de Saint Etienne, que não sofre erosão.
Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental
Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental
Projeto visa conter a erosão que ameaça a praia do litoral paranaense

Toda a paisagem da orla marítima é tombada pelo governo estadual, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Coordenadoria do Patrimônio Cultural (CPC), sendo obrigatória por lei a preservação de bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Qualquer intervenção exige aprovação do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Cepha).

O oceanógrafo e biólogo Paulo Lana, foi conselheiro do Cepha na época em que houve debate da necessidade de obras em Matinhos. Mas Lana foi surpreendido com o novo projeto, totalmente diferente do que foi discutido no passado com o Projeto Orla (2000) e o Paraná Cidade (2009).

“Esse empreendimento, por maiores que possam ser suas justificativas, em face dos processos de erosão, vai gerar uma grande intervenção paisagística, além das questões ambientais, geológicas e marinhas. Então, deve ser objeto de uma reflexão técnica ainda maior de todos os órgãos responsáveis. É uma nova proposta. Ela não pode e não deve ser aprovada com base em análises de dez anos atrás, feitas para outro empreendimento”.

O geólogo Rodolfo José Angulo, do Laboratório de Estudos Costeiros da UFPR, foi o coordenador do Estudo de Impacto Ambiental feito em 2009, e conta sobre a preocupação quando surgiu o novo projeto do IAT, em 2019.

“Vendo o material de divulgação na imprensa e na internet, percebi que era um projeto totalmente ampliado, com novas linhas correntes, canais artificiais e novos objetivos. Eu tentei acessar esse projeto, fui pessoalmente ao Instituto, para saber sobre o novo estudo de impacto ambiental, porque não achava adequado usar aquele antigo. Do ponto de vista técnico, sempre fui contra essas intervenções rígidas, chamadas como guias-correntes, headlanders ou espigões. Elas alteram toda a dinâmica costeira. Esse tipo de obra não se recomenda desde os anos 50, 60 do século passado. Ela pode causar problemas irreversíveis em Pontal do Paraná e outros municípios. Uma obra muito impactante e que está sendo proposta sem base técnico-científica”, reforça Angulo.

“Esse espigão é um ‘Frankenstein’ previsto também para o Balneário de Saint Etienne, que não tem problema de erosão, área que, sequer, passou pelo estudo de impacto ambiental. Depois vão dizer que o Ministério Público barrou o investimento, mas, infelizmente, o governo não cumpre o mínimo do que a lei exige para a obra”, sentencia Eduardo Vedor.
Quais são as alternativas?

O grupo de trabalho da UFPR propõe Soluções Baseadas na Natureza, mais baratas e eficientes. O ponto de partida é a desocupação das áreas em ambiente que deveria ser de restinga e recuperação dessa vegetação para conter as ressacas.

Além disso, é possível recuperar a faixa dinâmica da praia, com a reconstrução das dunas frontais. Os “espigões” podem ser substituídos por recifes artificiais submersos. “Eles têm potencial de funcionar como atrativo turístico de mergulho e cumprem o papel de reduzir a energia das ondas. Com ondas mais fracas, o sedimento artificialmente depositado se mantém, com um custo menor e benefícios sociais e ambientais relevantes”, esclarece Eduardo Vedor.

Outra questão fundamental é o saneamento básico. Afinal, de que adianta ter uma orla revitalizada e o Rio Matinhos estar completamente poluído? A urgência está na despoluição, desobstrução e recuperação das margens e da navegabilidade.

A pesquisadora Camila Domit, do Laboratório de Ecologia e Conservação (UFPR), lembra que a maior colônia de pesca artesanal do estado está em Matinhos e a despoluição vai beneficiar toda a sociedade e a fauna marinha.

“Mesmo os animais que são capturados pela pesca, muitos deles já estão com doenças, com patologias fúngicas, bacterianas e virais, características de um animal imunossuprimido pela contaminação da água. Hoje em dia, com a Covid-19, as pessoas têm ouvido muito sobre comorbidades e a fauna também tem. Existe um problema que não enxergamos na natureza, que é essa poluição química, por esgoto e pelo microplástico. Ela passa pela fauna muito rápido e reduz muito a população marinha. As consequências de médio e longo prazo devem estar no nosso radar em obras como essa”, alerta Domit.

Matinhos possui 36 balneários. Na Praia Central e no balneário de Riviera, se construiu dentro da linha de faixa de areia, então, naturalmente, o mar retomará essas áreas
Conflito de interesses

Um dos principais responsáveis técnicos pela nova proposta do IAT, professor Eduardo Felga Gobbi, é também conselheiro do Cepha, ou seja, uma das pessoas que vão avaliar a nova proposta diante da questão paisagística. Um evidente conflito de interesses, muito marcado,presente e significativo.

Outra suspeita recai sobre o engenheiro civil Eduardo Ratton, coordenador do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI), que assina os atuais estudos da engorda da praia de Matinhos. Ratton foi denunciado pelo jornal Gazeta do Povo por usar dinheiro público de convênios com órgãos federais para bancar uma série de privilégios pessoais, como viagens internacionais em hotéis de luxo, refeições em restaurantes de renome e até festas de confraternização.

De acordo com a Gazeta do Povo, Ratton é professor aposentado da UFPR e criou o ITTI em 2009, não para promover as atividades fins da UFPR – como ensino, pesquisa e extensão –, mas para convênios com órgãos públicos. No ano passado, a universidade paranaense já foi condenada a devolver R$ 16 milhões, em razão de convênios executados pelo ITTI, órgão que atua em estradas e gestão portuária sem nenhuma experiência em obras de engorda de praia.

*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Conexão Planeta


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Fotos: divulgação Observatório de Justiça e Conservação


Observatório de Justiça & Conservação

O Observatório de Justiça e Conservação (OJC) é uma iniciativa apartidária e colaborativa que trabalha fiscalizando ações e inações do poder público no que se refere à prática da corrupção e de incoerências legais em assuntos relativos à conservação da biodiversidade, prioritariamente no Sul do Brasil, dentre os quais se destacam, a Floresta com Araucária

STF suspende lei que permite garimpo com mercúrio em Roraima

 

STF suspende lei que permite garimpo com mercúrio em Roraima

Duda Menegassi
domingo, 21 fevereiro 2021 15:26
Com decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, fica suspensa em caráter cautelar 
a lei de Roraima que autoriza o garimpo com mercúrio. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Na última sexta-feira (19), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou a suspensão da Lei Estadual nº 1.453/2021, de Roraima, que institui o licenciamento para a atividade de lavra garimpeira no estado. A medida acata o pedido protocolado pelo partido Rede Sustentabilidade pela inconstitucionalidade da lei, que autoriza o uso de mercúrio no garimpo e o licenciamento simplificado para atividade. A decisão, em caráter cautelar, ainda será submetida ao plenário do STF.

De acordo com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI/6.672), ajuizada pela Rede, a lei fere o dever constitucional de preservar um meio ambiente ecologicamente equilibrado, com normas que “afrontam os princípios da precaução e da prevenção”, principalmente pela “autorização para o uso do mercúrio na atividade de lavra garimpeira, o que representa verdadeiro retrocesso em face de consensos mínimos estabelecidos a nível internacional”. Além disso, o pedido afirma ainda que ao criar a Licença de Operação Direta, “o legislador roraimense esvaziou o procedimento de licenciamento ambiental estabelecido na legislação nacional”.

De acordo com o ministro do Supremo, apesar dos estados possuírem autonomia para estabelecerem normas específicas diferentes da Constituição Federal, em matéria de proteção ao meio ambiente, o entendimento é que a mudança seja para instituir uma legislação mais restritiva no estado. “No entanto, como ressaltado pelo requerente, o que aparentemente se tem na espécie é situação inversa, em que legislação estadual busca a aplicação de licenciamento simplificado para atividades de impacto significativo ao meio ambiente, como é o caso da lavra garimpeira, sobretudo com o uso de mercúrio”, escreve Alexandre de Moraes em sua decisão (leia na íntegra).

A Lei 1.453/2021

A lei estabelece os procedimentos e critérios para o licenciamento ambiental de atividades de garimpo em Roraima e foi aprovada pela Assembleia Legislativa do estado no dia 18 de janeiro de 2021 (veja a publicação no Diário Oficial do Estado). Seu ponto mais polêmico corresponde ao artigo 8º, que permite o uso de mercúrio na lavra de ouro diante da apresentação, por parte do empreendedor, de um projeto de “solução técnica” que garanta “a eficiência técnica e ambiental do processo”.

Além disso, a lei estabelece que o licenciamento ambiental para atividade de lavra garimpeira será feita por meio de Licença de Operação Direta, concedida diretamente pela Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh).

A norma causou forte reação de organizações ambientalistas e indigenistas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Norte I, que manifestou preocupação e repúdio com a lei.

“A Lei 1.453/2021, de licenciamento ambiental da atividade garimpeira, é flagrantemente inconstitucional. A competência para legislar sobre a atividade da mineração é exclusiva da União. No caso da legislação ambiental, assegura-se aos estados exclusivamente a possibilidade de legislar, de forma coerente com a legislação federal, sobre procedimentos simplificados de licenciamento para atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental. E claramente o garimpo não se encontra entre essas atividades”, declarou o Cimi em nota pública. No texto, eles reforçam ainda os impactos negativos do garimpo nos rios, na floresta e na saúde dos indígenas, e apontam que mesmo que a lei não fale sobre Terras Indígenas especificamente, “é evidente que irá contribuir, de forma significativa, com um aumento ainda maior da exploração ilegal e da impunidade dentro das terras indígenas, bem como com o impacto sobre áreas adjacentes e vias de acesso, fluvial ou terrestre, às terras indígenas”.

 

Profissionais de saúde britânicos defendem imposto sobre alimentos ruins para o meio ambiente e nossa saúde

 

Profissionais de saúde britânicos defendem imposto sobre alimentos ruins para o meio ambiente e nossa saúde

Profissionais de saúde britânicos defendem imposto sobre alimentos que são ruins para o meio ambiente e nossa saúde

Uma coalizão formada por médicos, enfermeiras e outros profissionais de saúde, reunindo especialistas de algumas das mais renomadas institutições da área no Reino Unido, lançou um manifesto em prol da saúde pública e ao combate às mudanças climáticas, em que defende a taxação de alimentos que provocam impacto no meio ambiente.

Em um documento com 16 páginas, os profissionais apontam as evidências científicas que são a razão pela qual conclamam o governo britânico a implementar impostos sobre certos alimentos até 2025.

“A maioria das ações para mitigar as mudanças climáticas tem se concentrado na descarbonização de energia e transporte, mas agora é amplamente reconhecido que será impossível manter as temperaturas globais em níveis seguros, a menos que haja uma transformação na forma como o mundo produz e consome alimentos, o que representa um quarto (26%) do total das emissões globais de gases de efeito estufa“, afirmam os especialistas.

Em seu manifesto, a coalizão fez quatro recomendações ao governo de Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido:

  • Educação e informação – as campanhas de informação pública existentes sobre alimentação devem incluir mensagens climáticas e os profissionais de saúde e os pacientes devem receber informações claras e acessíveis sobre a transição para uma dieta amiga do clima;
  • Rotulagem de alimentos – uma comissão de pesquisa independente sobre a forma mais eficaz de rotulagem ambiental deve ser implementada para ajudar os consumidores a fazerem escolhas sustentáveis;
  • Compras Públicas – alterar as regras de compras públicas para exigir que todos os alimentos adquiridos atendam aos padrões ambientais necessários – usando o poder de compra para mudar o mercado;
  • Política alimentar após o Brexit – movos acordos comerciais devem incluir uma cláusula exigindo que as importações atendam aos padrões ambientais do Reino Unido.

“A COVID-19, por mais dolorosa que seja, pode se tornar insignificante em comparação com a turbulência criada pelas mudanças climáticas e o colapso da biodiversidade“, alerta Henry Dimbleby, representante da National Food Strategy. “Os profissionais de saúde têm um papel importante na formação de nossa dieta alimentar e estou muito satisfeito em ver que suas recomendações abrangem não só a nossa saúde, mas também a do nosso planeta – e que consideram as influências mais amplas em nosso sistema alimentar”.

O governo britânico já adotou medidas semelhantes no passado. Em 2016, criou um imposto sobre o açúcar para a indústria de bebidas e no ano seguinte, proibiu a publicidade infantil de junk food em cinemas, internet e revistas.

Os profissionais que fazem parte da iniciativa ressaltam que não estão propondo que a população se torne vegetariana ou vegana, mas simplesmente, que aumente seu consumo de proteínas vegetais, algo já aconselhado por médicos e nutricionistas do mundo inteiro.

Um estudo divulgado no ano passado na respeitada publicação científica The Lancet, que é uma das integrantes da coalizão, afirma que um prato saudável (também para o planeta) deve ter 50% de vegetais e frutas e o restante, a outra metade, caso desejado, com uma pequena porção de proteína animal (de preferência, peixe ou frango).

Segundo os pesquisadores, a redução no consumo de carne vermelha e laticínios, com a mudança para um cardápio mais colorido, evitaria 11 milhões de mortes por ano, o que representa algo em torno de 19% a 24% dos óbitos atuais, entre adultos.

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Foto: domínio público/pixabay

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

Governo reduz distância mínima entre pulverização aérea de pesticidas em cultivo de bananas e povoados e mananciais de água

 

Governo reduz distância mínima entre pulverização aérea de pesticidas em cultivo de bananas e povoados e mananciais de água

Governo reduz distância mínima entre pulverização aérea de pesticidas em cultivo de bananas e povoados e mananciais de água

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ex-líder da Frente Parlamentar Ruralista, conhecida no Congresso como “musa do veneno”, recebeu elogios de Jair Bolsonaro na fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, aquela que teve seu vídeo divulgado publicamente. Na ocasião, o presidente afirmou que “ela é exemplo de integrante do governo que joga no seu time”. No último dia 8 de abril, em mais um decreto publicado no Diário Oficial da União, o ministério de Cristina reduziu a distância mínima necessária para a pulverização aérea de fungicidas agrícolas e de óleo mineral na cultura da banana.

A nova instrução normativa, que já está em vigor desde 4 de maio, diminui de 500 para 250 metros a distância necessária entre a pulverização e povoados (cidades, vilas, bairros).

O texto do decreto estabelece ainda, apenas 15 metros de distância para mananciais de água (desde que protegidos por faixa marginal de cobertura vegetal nativa, reflorestada ou em regeneração), 30 metros de moradias isoladas e agrupamentos de animais e 500 metros de pontos de captação de água para abastecimento de populações.

“Tínhamos um limite já perigoso, hoje ele se tornou vergonhoso e chega a ser criminoso”, disse em nota o Greenpeace Brasil, que destacou a decisão do governo de fazer tal liberação bem na época da pandemia de Covid-19.

A legislação determina também que quando a aplicação aérea for feita, “as vias de acesso e estradas vicinais terão o trânsito interrompido no momento da pulverização e as residências isoladas nas áreas de produção serão evacuadas… sendo permitido o retorno somente 02 (duas) horas após o término da aplicação”.

Infelizmente, sabe-se que no caso do Brasil, medidas preventivas como essas são inexistentes e não há fiscalização que controle essas exigências.

Segundo reportagem publicada no site De Olho dos Ruralistas, a mudança na legislação teria sido realizada para atender interesses de fazendeiros que plantam banana no Vale do Ribeira, no estado de São Paulo. A região é uma das principais produtoras da fruta no Brasil.

“O Vale do Ribeira é cheio de pequenos povoados. Ali existem dez aldeias Guarani Mbyá e Ñandeva, mais de oitenta comunidades caiçaras e 98 dos 142 territórios quilombola do estado”, alerta Marina Lacôrte, porta-voz da Campanha de Agricultura e Alimentação do Greenpeace.

Em 2018, uma comitiva do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) identificou violações de direitos humanos em visita realizada ao Vale do Ribeira, entre elas, o uso indiscriminado e excessivo de agrotóxicos.

Ou seja, o que era ruim, vai ficar ainda pior. E são os mais pobres e vulneráveis, sempre, os que mais sofrem com as medidas tomadas para beneficiar aqueles com mais dinheiro e melhores conexões no governo vigente.

Chuva de agrotóxicos

Em julho de 2018, nesta outra reportagem no Conexão Planeta, divulgamos o relatório da Human Rights Watch que denunciava as falhas para proteger as populações de comunidades rurais brasileiras expostas à dispersão de pesticidas.

De julho de 2017 a abril daquele ano, a organização entrevistou 73 pessoas afetadas pela utilização de agrotóxicos em sete zonas rurais, nas cinco regiões do Brasil, incluindo comunidades indígenas e quilombolas e escolas rurais.

Segundo o relatório, em todos estes lugares os entrevistados descreveram sintomas relacionados com a intoxicação aguda por agrotóxicos após verem pulverização dos mesmos nas proximidades ou sentirem o cheiro deles recentemente aplicados em plantações próximas. Os sintomas incluíram sudorese, frequência cardíaca elevada e vômitos, além de náusea, dor de cabeça e tontura.
O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Por ano, o setor comercializa algo em torno de US$ 10 bilhões. Em 2014, a estimativa era de que cerca de 7,5 quilos de pesticidas foram usados, por pessoa, no país. Entre as dez substâncias mais utilizadas por aqui, quatro são proibidas na Europa.

*Com informações do site De Olho nos Ruralistas e do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

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Foto: domínio público/pixabay

Peixes em reservatório no Paraná apresentam contaminação por metais pesados e agrotóxicos já banidos no país

 

Peixes em reservatório no Paraná apresentam contaminação por metais pesados e agrotóxicos já banidos no país

Peixes em barragem no Paraná apresentam contaminação por metais pesados e agrotóxicos já banidos no país

O Reservatório de Alagados é uma barragem artificial com 15 quilômetros de extensão que abastece água para os municípios paranaenses de Ponta Grossa, Castro e Carambeí que, juntos, somam 450 mil habitantes. Um estudo desenvolvido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) analisou lambaris (A. altiparanae) coletados no reservatório. O peixe é muito apreciado e consumido por pescadores que frequentam a área e também indica a qualidade ambiental da água. Amostras de carne, órgãos e ovas da espécie indicaram sua contaminação pelos pesticidas Aldrin, Dieldrin, Endosulfan e DDT.

De acordo com Sandro Xavier de Campos, coordenador do Grupo de Pesquisa em Química Analítica Ambiental e Sanitária da UEPG, as atividades agropecuárias podem ser a principal fonte da contaminação, por cercarem e estarem muito próximas do reservatório.

As análises apontam que alguns princípios ativos, como Aldrin e Dieldrin, estão acima do limite estipulado por organismos internacionais, demonstrando que essas concentrações podem gerar efeitos maléficos à saúde para aqueles que consomem o lambari.

“A população precisa ser alertada para não comer esses peixes pois, a longo prazo, pode ocasionar um grande risco à saúde com a bioacumulação. Se esses peixes forem consumidos com frequência, esses metais vão se acumulando no organismo, porque a pessoa não consegue eliminá-los. Há resultados mostrando que o efeito toxicológico é muito grande”, enfatiza Campos.

Ainda segundo o especialista, na questão dos agrotóxicos, os resultados são bastantes preocupantes ainda. Foram detectadas substâncias já proibidas há cerca de 30 anos no Brasil e no mundo. O mais famoso é o DDT, um composto desenvolvido na Segunda Guerra Mundial e que possui um potencial extremamente tóxico para a fauna, a flora e também para a saúde humana. “Eu não consumiria e deixaria um alerta para a população que esses peixes não estão aptos para consumo, apenas para pesca esportiva”, ressalta.

O DDT foi o primeiro pesticida usado em larga escala no combate a mosquitos transmissores da malária e dengue. Também foi aplicado em soldados para matar piolhos. Até que, em 1962, a cientista e ecologista americana Rachel Carson publicou um estudo relatando os estragos causados pelo veneno.

No livro Primavera Silenciosa, Carson relaciona o DDT com a incidência de câncer e descreve como os inseticidas alteravam os processos celulares das plantas, animais e seres humanos gerando uma série de proibições do produto pelo mundo. No Brasil, o uso do DDT em lavouras foi proibido em 1985 pelo Ministério da Agricultura.

Já o Endosulfan, inseticida para pragas agrícolas, foi vedado em 2013 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por causar problemas reprodutivos e endócrinos e afetar diversos outros insetos benéficos. Ambos são extremamente tóxicos e persistem por muito tempo no organismo e no meio ambiente.

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Contaminação com metais pesados em carpas e carás

Em outro estudo desenvolvido pelo grupo de pesquisa, na mesma represa, foi identificada a contaminação por metais pesados como chumbo, cádmio, zinco e alumínio em dois tipos diferentes de peixes, no cará (Geophagus brasiliensis) e na carpa (Cyprinus carpio), uma espécie que pode ser usada como bioindicador de qualidade ambiental, por ser bastante resistente à poluição e ao aumento de temperatura.

Metais ocorrem na natureza e nem todos são prejudiciais à saúde, mas as atividades humanas têm contribuído para aumento do nível de suas concentrações em muitos dos ecossistemas aquáticos. Os metais não se degradam com o tempo e podem se acumular, causando sérias intoxicações. Os fertilizantes usados na agricultura são uma das fontes dos metais pesados. O excesso no uso pode levar esses produtos para dentro do reservatório, principalmente após as chuvas.

A acumulação no organismo é feita, em geral, pela alimentação, o que inclui também a água que bebemos. Quanto mais no topo da cadeia alimentar o animal está, mais sujeito ao acúmulo. É o caso dos seres humanos que se alimentam de plantas e carne contaminadas. Essa intoxicação, na maioria dos casos, não é percebida imediatamente, mas é desencadeadora de diversas doenças, como o câncer, por exemplo.

Além disso, diversos estudos médicos comprovam que agrotóxicos e metais pesados estão diretamente relacionados com o aumento dos casos de autismo, doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer, assim como problemas de fertilidade.

Peixes em reservatório no Paraná apresentam contaminação por metais pesados e agrotóxicos já banidos no país

Pesquisadora da UEPG avalia grau de contaminação de lambaris

Análises periódicas da empresa responsável pelo tratamento e abastecimento de água atestam que a qualidade está dentro do que estabelece a legislação nacional e os órgãos de controle e, portanto, seria potável. Mas é importante lembrar que existe uma permissividade centenas de vezes maior no Brasil da concentração de agrotóxicos na água se comparado à legislação europeia. Um exemplo é o glifosato, herbicida conhecido como Mata-Mato. Enquanto a União Europeia limita a quantidade máxima que pode ser encontrada do glifosato na água potável em 0,1 miligramas por litro, o Brasil permite até 5 mil vezes mais. E isso ocorre também com outros compostos químicos presentes na água que bebemos.

“A água estar dentro do que exige a legislação não significa que não existe o risco. Essa falta de rigor da legislação brasileira pode fazer com que essa população esteja consumindo substâncias que não deveria”, explica o coordenador do Grupo de Pesquisa.

Segundo Campos, a sociedade precisa estar informada por meio da ciência e dos dados científicos para que cobre dos gestores um estudo mais amplo e uma área maior de preservação ambiental ao redor da Represa de Alagados para evitar a entrada dessas substâncias na água. Outro ponto é investigar de onde os contaminantes proibidos estão vindo. O contrabando pode ser uma explicação para as altas taxas de venenos agrícolas já banidos do país.

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Governo reduz distância mínima entre pulverização aérea de pesticidas em cultivo de bananas e povoados e mananciais de água

Fotos: Tatiana Stremel/divulgação UFPG (peixes) e Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (Reservatório de Alagados)

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Tecnologia e Meio Ambiente: Inovações com propostas sustentáveis

 

Tecnologia e Meio Ambiente: Inovações com propostas sustentáveis

 

Tecnologia e Meio Ambiente: Inovações com propostas sustentáveis

tecnologia

Imagem: Freepik

 

A união da tecnologia e meio ambiente é fundamental para o desenvolvimento de inovações com propostas sustentáveis, impactando diretamente no futuro da humanidade.

 

Estabelecer cidades e comunidades sustentáveis é um dos objetivos de desenvolvimento da ONU e a tecnologia é uma importante aliada para atingir essa meta. A tecnologia e o meio ambiente andam juntos quando pensamos em futuro para humanidade e inovações com propostas sustentáveis são cada vez mais discutidas pela sociedade.

Anualmente, dezenas de produtos e ferramentas são desenvolvidas para que o mundo consiga utilizar os recursos naturais com cuidado, repondo aquilo que utilizou, para que a demanda não prejudique ainda mais a natureza.

Na esteira de inovações, é possível se deparar com conceitos que vão de casas inteligentes à redução da velocidade em que a obsolescência acomete nossos equipamentos, ideias que mostram que a tecnologia pode ser fundamental para cuidar do planeta.

Menos velocidade na obsolescência

Quando o documentário “A Conspiração da Lâmpada” foi lançado, em 2010, o grande público descobriu uma forma de trabalho utilizada em milhares de indústrias: a criação de produtos que são feitos para estragar.

O ramo da tecnologia se mostrou um dos principais agentes da chamada obsolescência programada e o documentário serviu como um incentivo para que as relações de consumo mudassem – tanto da parte das indústrias quanto dos consumidores.

Assim, várias empresas passaram a estudar formas de aproveitar ao máximo os produtos, seja aumentando a vida útil, reaproveitando materiais ou criando soluções digitais para problemas comuns.

Um exemplo está no cartão SD, um pequeno dispositivo que é utilizado como memória de smartphones, câmeras e outros periféricos. Sua estrutura frágil fazia com que ele fosse facilmente danificado, além de casos em que o cartão se corrompia e perdia os dados salvos.

Assim, desenvolvedoras como o Recoverit criaram formas para realizar a recuperação de SD. Ao recuperar fotos do cartão de memória, o usuário pode formatar o dispositivo, mantendo os arquivos que deseja e reaproveitando o cartão para usos posteriores.

recoverit

Imagem: Recoverit

Na prática, significa que o usuário ganha a possibilidade de resgatar os arquivos deletados, enquanto o dispositivo ganha uma vida útil maior, o que impacta na cadeia de produção ao diminuir a demanda por ter um melhor aproveitamento.

Avanço da energia limpa

Além da tecnologia ser aplicada em ferramentas que facilitam a nossa vida e aumentam a utilidade de um produto, ela é usada para o desenvolvimento de novidades que conseguem atingir uma grande parcela da população com mais rapidez.

Este é o caso da geração de energia limpa, que tem sido cada vez mais discutida por governos de vários países do mundo.

A energia limpa é aquela gerada por fontes renováveis, o que faz com que poluentes não sejam lançados na atmosfera. O Brasil é um dos países com maior produção de energia limpa do mundo, uma vez que consegue aproveitar recursos como as águas e o vento.

Entretanto, essa não é a realidade de muitas nações, que ainda dependem da queima de combustíveis fósseis para ter eletricidade. Com a tecnologia, esse quadro deve mudar.

Muitos governos estudam formas de produzir energia sem o uso de combustíveis fósseis, mesmo em locais em que as fontes renováveis não são tão variadas quanto o Brasil.

Além disso, a sociedade está cada vez mais envolvida no debate e consciente de suas escolhas. Painéis solares ultra sensíveis já são instalados em casas para que uma família consiga gerar sua própria energia.

energia solar

Imagem: Freepik

Casas inteligentes

A procura da sociedade por meios de colaborar com os cuidados com a natureza fez com que inovações com propostas sustentáveis chegassem aos lares de milhares de famílias, como o conceito de casa inteligente.

Uma casa inteligente é aquela que conta com uma série de soluções integradas, que utilizam a tecnologia da informação para seu funcionamento. Alguns exemplos são as lâmpadas e eletrodomésticos que podem ser desligados, à distância, pelo smartphone.

Outras ideias interessantes são as tomadas capazes de reduzir o consumo de energia elétrica e até chuveiros que liberam a água somente em alguns momentos do banho.

A demanda por esse tipo de tecnologia residencial é tão alta que as projeções indicam um faturamento de mais de US$291 milhões em 2021.

Inovações com propostas sustentáveis

Quando a sociedade como um todo, com governantes e a população, discutem formas de proteger a natureza, a indústria se molda para atender a demanda, unindo tecnologia e meio ambiente.

Com as inovações com propostas sustentáveis todos saem ganhando e percebemos que é possível ter um consumo cada vez mais consciente e equilibrado. Uma ótima forma de cuidar dos recursos para um futuro melhor para a humanidade.

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/02/2021

 

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Com energias alternativas, Brasil pode gerar mais de 1 milhão de empregos e reduzir emissão de CO² até 2025

 

Com energias alternativas, Brasil pode gerar mais de 1 milhão de empregos e reduzir emissão de CO² até 2025


Com investimentos em energias alternativas, Brasil pode gerar mais de 1 milhão de empregos e reduzir em 28 toneladas a emissão de CO² até 2025, aponta estudo

World Economic Forum e Accenture ouviram mais de 25 empresas de serviços públicos globais e trazem análise específica para o País

Por Deborah Costa, Vinícius Chaves e Felipe de Paula

O Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Accenture, divulga uma nova análise em várias regiões, explorando o caminho das concessionárias em meio à pandemia de Covid-19 em curso e as oportunidades para acelerar o crescimento econômico e a transição para energia limpa.

Um Grupo de Ação da Indústria que incluiu mais de 25 empresas de serviços públicos globais e empresas de tecnologia de energia buscou avaliar de forma holística os resultados econômicos, ambientais, sociais, bem como desdobramentos técnicos de potenciais soluções de energia.

A análise revelou que no Brasil, nos próximos cinco anos, os investimentos da indústria de energia alternativa – como a solar e a eólica – e o impacto da digitalização das cidades para um modelo mais inteligente e eficiente podem gerar mais que 1,2 milhão de novos empregos e reduzir em 28 toneladas a emissão de CO².

Na análise, foram mapeados diversos elementos da cadeia de valor do setor elétrico no País, como emissão de gás carbônico, pegadas d’água, acesso a eletricidade, qualidade do ar, resiliência e segurança do setor, qualidade de serviços e flexibilidade. No entanto, foram aspectos como: impactos no emprego e na economia, eficiência do setor e produtividade, investimento estrangeiro, atualização de sistemas e competitividade que se destacaram no cenário nacional.

Com o mapeamento do setor elétrico brasileiro, foi possível identificar um modelo que pode direcionar a transformação e atualização do País em termos de energia, utilizando sua grande fonte de energia hidrelétrica como alicerce para sustentar a população enquanto investimentos em fontes alternativas de energia ganham força, como a solar e a eólica, bem como o investimento em cidades integradas e inteligentes

energias alternativas

Ampliação do setor elétrico

O relatório traz, ainda, que a demanda por energia no País deve triplicar até 2050, o que fortalece a necessidade de investimentos no setor. Para isso, o Brasil deve precisar de ao menos 38 novas linhas de distribuição de energia com mais de 5 mil quilômetros de extensão, o que significa um investimento de mais de R﹩ 10 bilhões¹.

¹dados da Empresa de Pesquisa Energética, articulada com o Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Economia.

 

Impactos do Covid-19 no setor

Apesar da necessidade de crescimento e modernização do setor elétrico, o Brasil – assim como todos os países do mundo – sofreu fortes impactos por conta da pandemia da Covid-19. Isso, somado aos problemas já existentes no País, pode dificultar a modernização do setor. Entre os principais pontos, pode-se destacar:

Pontos negativos:

• Ao longo do período de pandemia, o foco do País foi em manter a operação básica funcionando, com cortes massivos em investimentos vistos como não essenciais.

• A demanda por energia caiu dois dígitos se comparado ao mês de maio do ano anterior.

• O mercado como um todo sofreu um forte golpe, com redução do volume de operações em torno de 47% no mercado automotivo e 38% no setor de serviços.

• Com isso, o PIB do País tem estimativa de queda de aproximadamente 9%.

Pontos positivos:

• O Brasil testemunhou um aumento de 53% na geração de energia solar em abril de 2020.

• Como resultado da Covid-19, foi observado um aumento no foco em eficiência operacional e planejamento financeiro por parte das empresas operando no Brasil.

• Durante o período de quarentena, foi possível notar uma queda abrupta na concentração de gases como NO, NO² e CO na cidade de São Paulo, com quedas de 77%, 54% e 65%, respectivamente.

Como se recuperar da crise?

O estudo aponta, contudo, alternativas para uma recuperação do setor elétrico no Brasil, baseado em três fatores principais:

• Expansão de energias renováveis não hidrelétricas

Acelerar a expansão das energias renováveis não hídricas (~ 7 GW eólica e solar) por meio de várias iniciativas, como fomentar o mercado liberalizado (ACL) com contratos de compra de energia inovadores (PPAs), desenvolver uma nova solução estruturada para o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), e substituição de termo-planta fóssil.

• Digitalização da Transmissão e Distribuição (T&D)

Abordar os problemas de confiabilidade e qualidade de energia por meio de investimentos básicos na rede de distribuição e, em seguida, digitalizar e moderniza a rede elétrica do Brasil por meio de redes inteligentes, medidores inteligentes, internet das coisas (IoT) e recursos de energia distribuída (DER).

• Cidades Inteligentes e Eficientes

Investir em cidades inteligentes por meio do desenvolvimento de uma rede digital de energia, possibilitando eficiência energética e novos modelos de negócios de suporte à geração distribuída, DERs e mobilidade elétrica, além de serviços públicos como iluminação pública e manejo da vegetação.

Acesse os estudos completos com foco no Brasil e Global .

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2021

 

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Aquisição de Terras por Investidores Estrangeiros – Riscos à Soberania e Segurança Alimentar

 

Aquisição de Terras por Investidores Estrangeiros – Riscos à Soberania e Segurança Alimentar

artigo de opinião

Aquisição de Terras por Investidores Estrangeiros – Riscos à Soberania e Segurança Alimentar, artigo de José Rodrigues Filho

[EcoDebate] Há pouco tempo uma Comissão do Senado do Canadá demonstrou preocupações com a aquisição de terras, considerando que a propriedade familiar rural sempre foi a espinha dorsal do país durante gerações. No final, a Comissão fez recomendações no sentido de uma cooperação nos diferentes níveis de governo para se discutir a aquisição de terras.

Estranhamente, o Senado do Brasil aprovou, há poucos dias, sem nenhuma discussão um projeto de aquisição de terras no Brasil por investidores estrangeiros.

Para o autor do projeto, senador Irajá (PSD-TO), a proposta visa “possibilitar o ingresso de agroindústrias transnacionais no Brasil voltadas para o desenvolvimento da cadeia produtiva agrícola de longo prazo, que agreguem valor, gerem mais empregos e aumentem a qualidade e a quantidade da produção agrícola brasileira“.

Considerando os riscos da concentração de terras em poucas mãos, estes argumentos são refutados pela nossa própria experiência brasileira, como por pesquisas nacionais e internacionais, que comprovam os riscos da concentração de terras à soberania e segurança alimentar, às mudanças climáticas e a nossa democracia.

Infelizmente, a concentração de terras é um fenômeno mundial e é criminosa a forma como vem se dando no mundo inteiro, onde o investimento financeiro agora se concentra na terra. No Brasil sofremos deste mal desde o descobrimento, mas nos últimos anos é perceptível uma acentuada concentração, com danos terríveis aos produtores familiares, concentração de renda, êxodo rural, desemprego, desmatamento e à desindustrialização do país.

Quando foi solicitado aos intelectuais americanos de esquerda, direita e centro apresentarem ao Presidente Biden sugestões para sua gestão, eles não mencionaram apenas a introdução de uma disciplina de teologia, filosofia e poesia nos currículos das escolas para tornar os americanos melhores seres humanos, mas consideraram investimentos na zona rural, onde pequenos agricultores, principalmente os negros, vem sofrendo todo tipo de discriminação destinada à inviabilizar suas atividades em pequenas fazendas. Os negros, que logo após a abolição da escravidão, fugiram das cidades para se livrarem da pobreza e do racismo, foram buscar nas terras e zonas rurais um melhor abrigo de sustentação. Há anos chegaram a representar 14% (quatorze por cento) das propriedades rurais, mas nos últimos anos isto caiu para menos de 2% (dois por cento). Tudo isto por conta de políticas perversas dos governos anteriores, principalmente nos últimos anos.

A literatura é rica sobre os riscos da concentração de terras e o Brasil jamais alcançará um desenvolvimento sustentável, diante das desigualdades sociais causadas por isto.

É lamentável que o Senado Brasileiro aprove projetos contrários à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável. Por conta de espaço não vamos aqui mencionar todos os riscos da concentração de terras no Brasil e no mundo, mas vamos nos limitar aos riscos dela sobre o sistema alimentar, fato ocorrido nos últimos meses no Brasil e no Canada, que se tornou preocupante e de riscos incalculáveis à sociedade.

Com a proteção governamental e redução de rígida fiscalização, a indústria de embalagem de carnes conseguiu a vantagem de reduzir preços no mercado. Mas esta redução de custos foi exposta pelo Coronavírus no mundo inteiro, que pode quebrar e reformular o sistema de produção de carnes, no seu ponto mais fraco – a saúde dos trabalhadores.

Das poucas empresas que atuam no mercado canadense, a JBS, empresa brasileira, e a Cargill, empresa americana, se tornaram pontos marcantes do surto do COVID-19 tanto no Canada como no Brasil. Enquanto o Covid-19 devastava os pobres trabalhadores nos matadouros da JBS e Cargill, é justamente neste ponto que os consumidores se beneficiam, à custa da desgraça deles, que ainda facilitavam a rápida disseminação da doença. Desta forma, os mega frigoríficos ameaçam a segurança e o sistema alimentar. Se o governo quer proteger estas indústrias e sua cadeia de suprimentos deve obrigá-las a proteger também sua força de trabalho.

Para o professor Chris Deutsch, Universidade de Missouri, o tipo de trabalho nestes matadouros é para pessoas pobres que vivem em péssimas condições sanitárias e de superlotação, não tendo a devida remuneração para viverem em melhores condições. Segundo a imprensa, algumas pessoas do frigorífico da JBS no Canadá tinham que dormir no carro temendo contaminar a família. No Canadá, a Cargill fechou suas portas por duas semanas e a JBS teve que reduzir seus turnos de trabalho. No Brasil, os comentários são de que a JBS não deu assistência aos seus trabalhadores e os frigoríficos contribuíram para a “propagação do vírus por cidades do interior”, segundo o Ministério Público do Trabalho.

Com ajuda de governos anteriores, através de empréstimos com juros subsidiados e outras facilidades absurdas, foi possível se criar no Brasil a maior corporação de distribuição de carnes do mundo – JBS, mas o Covid-19 trouxe à tona a insustentabilidade de sua cadeia de suprimentos. Num próximo texto, faremos uma análise das ações desta Corporação no Brasil e Canadá, que tem sido um sucesso para seus acionistas, mas um fardo para a população brasileira, que arca com parte de seus custos.

Por fim, o capital financeiro tem uma compulsão de possuir a terra e expulsar quem está nela. Já foi dito que a terra é a cena do crime, mas nunca foi criminosa. Ela é a base da independência, da liberdade, da justiça e igualdade.

Assim sendo, este projeto do Senado merece uma discussão em cima de uma sustentabilidade econômica, social e ambiental, visando corrigir injustiças e desigualdades brutais.

*Jose Rodrigues Filho é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard. Recentemente foi professor visitante na McMaster University, Canadá.
https://jrodriguesfilho.blogspot.com/

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2021

 

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Inversão dos polos magnéticos da Terra pode ter causado extinção do neandertal

 

Inversão dos polos magnéticos da Terra pode ter causado extinção do neandertal

Representação do homem de neandertal
Foto: CNN

A inversão dos polos magnéticos da Terra, somada a um colapso temporário do campo magnético terrestre há cerca de 42 mil anos, pode ter desencadeado uma série de mudanças ambientais, tempestades solares e a extinção dos neandertais, de acordo com um novo estudo.

O campo magnético da Terra nos protege, agindo como um escudo contra o vento solar (uma corrente de radiação e partículas carregadas emitida pelo Sol). No entanto, o campo geomagnético não é estável em termos de força e direção, e tem a capacidade de girar ou se inverter.

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Há cerca de 42 mil anos, em um período conhecido como Evento de Laschamp, os polos fizeram essa inversão temporária por cerca de 800 anos, mas os cientistas ainda não tinham certeza se e como isso impactou a vida na Terra.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de New South Wales (UNSW) e do South Australian Museum, na Austrália, disse que essa mudança, juntamente com a alteração dos ventos solares, pode ter desencadeado uma série de crises climáticas, levando a mudanças ambientais e extinções em massa.

Os cientistas analisaram os anéis encontrados em antigas árvores kauri da Nova Zelândia (algumas preservadas em sedimentos há mais de 40 mil anos), para criar uma escala de como a atmosfera da Terra mudou ao longo do tempo.

A partir da datação por carbono, a equipe estudou seções transversais das árvores (cujos anéis de crescimento anual serviam como um registro natural do tempo) para rastrear as mudanças nos níveis de carbono radioativo durante a reversão dos polos.

“Usando as árvores primitivas, pudemos medir e datar os picos nos níveis de carbono radioativo na atmosfera, causados pelo colapso do campo magnético da Terra”, contou Chris Turney, professor da UNSW Science, diretor do Earth and Sustainability Science Research Center da universidade e um dos principais autores do estudo.

A equipe comparou a nova escala de tempo com os registros locais de cavernas, núcleos de gelo e pântanos no mundo todo.

“Fim dos tempos”

Os pesquisadores descobriram que a inversão levou a “profundas mudanças climáticas”. O modelo demonstrou que o crescimento da camada de gelo e das geleiras na América do Norte, bem como as mudanças nos principais cinturões de vento e sistemas de tempestades tropicais, podem ser rastreadas até o período da inversão dos polos magnéticos, que os cientistas chamaram de Evento de Adams.

“O campo magnético da Terra quase desapareceu, e praticamente abriu o planeta para todas essas partículas de alta energia do espaço sideral. Deve ter sido uma época muito assustadora, quase como o fim dos tempos”, comentou Turney.

Os pesquisadores disseram que o Evento de Adams pode explicar muitos dos mistérios evolutivos da Terra, incluindo a extinção dos neandertais e o súbito aparecimento generalizado da arte figurativa em cavernas em todo o mundo.

O fenômeno teria causado alguns eventos dramáticos e impressionantes. Antes do Evento de Adams, o campo magnético da Terra caiu para de 0 a 6% de sua força, enquanto o Sol teve longos períodos de mínima atividade solar.

Reconstrução do homem de neandertal
Foto: Hermann Schaaffhausen/Wikicommons

“Basicamente, não havia nenhum campo magnético: nosso escudo contra a radiação cósmica tinha desaparecido”, disse Turney.

O enfraquecimento do campo magnético significa que mais eventos espaciais, como erupções solares e raios cósmicos galácticos, poderiam chegar à Terra.

“A radiação do espaço, atingindo o planeta sem nenhum tipo de filtro, separou as partículas de ar da atmosfera terrestre, separando elétrons e emitindo luz, um processo chamado de ionização”, escreveu Turney em um comunicado. “O ar ionizado ‘fritou’ a camada de ozônio, desencadeando uma onda de mudanças climáticas em todo o mundo”.

Durante esse período, os habitantes da Terra podem ter presenciado algumas visões deslumbrantes: as auroras boreal e austral, que acontecem quando ventos solares colidem com a atmosfera da Terra, devem ter sido frequentes. Ao mesmo tempo, o ar ionizado teria aumentado a frequência das tempestades elétricas, algo que os cientistas imaginam que fez os humanos buscarem abrigo em cavernas.

“O tema comum da arte das cavernas, de impressões de mãos em ocre vermelho, pode sinalizar que a pintura vermelha era usada como protetor solar, uma técnica utilizada ainda hoje por alguns grupos”, escreveu em um comunicado Alan Cooper, pesquisador honorário do South Australian Museum.

“As incríveis imagens criadas nas cavernas durante esse período foram preservadas, enquanto outras obras de arte em áreas descobertas sofreram erosão, dando a impressão de que a arte começou repentinamente há 42 mil anos”, acrescentou.

A próxima inversão

No artigo, publicado na revista “Science”, os especialistas dizem que há, atualmente, movimentos rápidos do polo magnético no hemisfério norte, o que pode significar que outra inversão pode estar a caminho.

“A velocidade, junto com o enfraquecimento do campo magnético da Terra em cerca de 9% nos últimos 170 anos, pode indicar uma inversão iminente”, observou Cooper.

“Se um evento semelhante acontecesse hoje, as consequências para a vida moderna seriam enormes. A radiação cósmica destruiria nossas redes de satélites e energia elétrica”, afirmou.

A atividade humana já elevou o carbono na atmosfera a níveis “nunca antes vistos pela humanidade”, disse Cooper.

“Uma inversão dos polos magnéticos ou uma mudança drástica nas atividades solares poderiam acelerar as mudanças climáticas de forma inédita. Precisamos urgentemente reduzir as emissões de carbono antes que um evento aleatório como esse aconteça novamente”, acrescentou.

Fonte: CNN