Josias de Souza
A onda Marina Silva produziu um fenômeno inusitado na coligação de Dilma Rousseff: o trabalho do marqueteiro João Santana, antes uma unanimidade inapelável, passou a sofrer críticas. Dirigentes de partidos aliados avaliam que a propaganda eleitoral da candidata cheira a naftalina. A pretexto de trombetear as “realizações” de um governo prestes a virar passado, deixa de vender novidades para o futuro.
As críticas soaram no Palácio da Alvorada no final da tarde de quarta-feira, durante uma reunião de Dilma com assessores e presidentes das legendas que integram sua coligação. A candidata esboçou uma defesa de João Santana. Numa tentativa de aplacar as queixas, informou que o plano de trabalho da equipe de marketing já prevê a exposição de projetos novos, a serem executados no sonhado segundo mandato.
Sem mencionar datas, Dilma disse que as novidades programadas pelo mago da publicidade eleitoral irão ar ar no momento oportuno. Alguns dos presentes acham que, se demorar muito, a mágica pode não surtir os efeitos desejados. A conversa do Alvorada rodopiou em torno de Marina. Fenômeno ou bolha de sabão?, eis a pergunta que Dilma e seus interlocutores tentaram, sem sucesso, responder.
Nas palavras de um dos participantes do encontro, ouviram-se no Alvorada “avaliações difusas”. Houve um mísero consenso: haverá segundo turno. E Dilma estará nele. No mais, o grupo dividiu-se em dois. Uma ala acha que a presença de Marina no segundo round é incontornável. A outra considera que ainda é cedo para excluir o tucano Aécio Neves do jogo.
Entre os que acham que Aécio ainda não é carta fora do baralho destacam-se o vice-presidente Michel Temer; o presidente do PT, Rui Falcão; e o mandachuva do PCdoB, Renato Rabelo. O mais enfático foi Rabelo. Ele disse enxergar vulnerabilidades em Marina. Mencionou, por exemplo: a fragilidade partidária e as “contradições” do discurso.
Dilma e seus aliados fizeram a si mesmos uma segunda indagação: atacar ou não atacar Marina?. No geral, prevaleceu o entendimento segundo o qual é preciso fustigar a novidade, grudando nela os carimbos da insegurança e da aventura. Mas ponderou-se que, num primeiro momento, convém deixar para Aécio Neves o grosso do trabalho de desconstrução de Marina.
Espremendo-se os relatos sobre o encontro do Alvorada, tem-se a impressão de que Dilma e os operadores de sua campanha observam Marina com olhos convencionais. Mencionou-se, por exemplo, a necessidade de reforçar a presença da campanha nas ruas. Como? Eletrificando as engrenagens partidárias e azeitando a distribuição de propaganda impressa.
Esquece-se de um detalhe: cavalgando uma estrutura mixuruca, Marina cresce à margem dos partidos, numa conexão direta com a aversão das ruas às corporações partidárias. Nesta sexta, o Datafolha informará se a onda refluiu ou se virou tsunami.