O mundo tem mais de 4 bilhões de hectares de florestas, o que
representa 31% da área total da Terra. Mais da metade (54%) delas está
em apenas cinco países – Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China.
E um novo relatório lançado pela Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) revela quais são as
nações que mais tiveram progresso em conter o desmatamento e as que ainda enfrentam dificuldades para reduzir a destruição florestal.
De acordo com a “Avaliação Global de Recursos Florestais”, as áreas com perdas florestais estão aumentando, mas a taxa de devastação diminuiu.
O mundo perdeu 178 milhões de hectares de florestas desde 1990, uma
área equivalente ao tamanho da Líbia. Na grande maioria, essas terras
foram convertidas em solo para a agricultura. Todavia, a
taxa de perda diminuiu substancialmente na última década, devido a uma
redução no desmatamento em alguns países, além de aumentos na vegetação
em outros, através de processos de reflorestamento e expansão natural
das florestas.
A taxa de perda líquida de florestas caiu de 7,8 milhões de hectares
por ano, na década de 1990-2000, para 5,2 milhões anuais entre 2000 e
2010 e atingiu o patamar atual de 4,7 milhões nos últimos dez anos.
Os países que apresentaram os melhores índices de ganhos florestais
foram China, Austrália, Índia, Chile, Vietnã, Estados Unidos, França,
Itália e Romênia.
Outra boa notícia trazida pelo levantamento da FAO é que a área de
florestas protegidas no planeta aumentou em 191 milhões de hectares,
totalizando cerca de 725 milhões de hectares, 18% do volume de florestas
na Terra.
“Embora a taxa de desmatamento tenha diminuído bastante nas últimas
décadas, ainda permanece como uma fonte de grande preocupação. No ritmo
atual, corremos o risco de não cumprir as metas para 2030 relacionadas
ao manejo florestal sustentável”, ressaltou Anssi Pekkarinen,
especialista da FAO em florestas.
“Precisamos intensificar os esforços para deter o desmatamento e
assim, contribuir para a produção sustentável de alimentos, o alívio da
pobreza, a segurança alimentar, a conservação da biodiversidade e as
mudanças climáticas, mantendo a produção de todos os outros bens e
serviços que as florestas fornecem”, enfatizou.
Gráfico mostra os países com maior áreas de florestas no mundo
Agora, as más notícias…
Na verdade, o relatório da Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação não traz nenhuma novidade. Outros
levantamentos realizados por outras entidades já tinham apontado que o
Brasil é o país que mais tem desmatado no mundo.
Há pouco mais de um mês, um estudo com dados da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, publicado pelo Global Forest Watch, que divulgamos nesta outra reportagem,
revelava que o Brasil aparecia em 1o lugar na lista das nações que
tiveram maior perda árborea em 2019, assim como já havia acontecido em
2018. Nosso país contabilizou, sozinho, por um terço da redução global
de florestas tropicais primárias no ano passado.
O levantamento da FAO confirma os demais estudos e coloca o Brasil no
topo dos dez países que mais perderam florestas entre 2010 e 2020.
Abaixo dele estão Congo, Indonésia, Angola, Tanzânia, Paraguai, Myanmar,
Cambódia, Bolívia e Moçambique.
Ásia, Oceania e Europa tiveram aumento de suas florestas, enquanto África e América do Sul caminham em sentido oposto
*O relatório completo da FAO, com 186 páginas, você encontra neste link.
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Até este momento, mais de 70 mil pessoas assinaram uma petição online do Greenpeace UK exigindo que os principais supermercados do Reino Unido deixem de comprar carne da JBS, a maior produtora mundial do setor.
“A Amazônia e outras florestas estão sendo cortadas e queimadas e
substituídas por fazendas de gado e plantações de soja para produzir
carne. Esse sistema brutal está acelerando as mudanças climáticas,
prejudicando os povos indígenas, destruindo nosso mundo natural e
arriscando pandemias futuras”, diz o texto da petição.
A campanha acusa empresas como Tesco, Sainsbury’s, Asda, Burger King,
McDonald’s e KFC de serem cúmplices do desmatamento ao comprar os
produtos da brasileira JBS.
Em uma reportagem publicada pela revista Veja,
com um ranking dos dez maiores desmatadores da Amazônia, entre os
primeiros nomes da lista aparecem fazendas que fornecem carne à JBS.
Em resposta às acusações, a companhia afirma que “suas subsidiárias
aderem à rígidas políticas de compras responsáveis em todas suas cadeias
de suprimentos e compartilham do propósito de eliminar o desmatamento
definitivamente”.
A petição do Greenpeace britânico pede ainda que as redes de
supermercado substituam metade das carnes que vendem por alternativas
vegetarianas até 2025.
Desde o ano passado, o Brasil tem sofrido reveses por causa de sua política ambiental. Em junho, uma rede de mercados sueca tirou
de suas prateleiras produtos brasileiros por causa do excesso de
agrotóxicos usados no país. No auge da crise dos incêndios florestais na
Amazônia, em agosto, marcas internacionais suspenderam a compra de couro brasileiro e França, Finlândia, e Irlanda também fizeram ameaças de sanções comerciais ao devido ao aumento do desmatamento.
Este ano, as ameaças de boicotes e sanções comerciais continuam.
Empresários e fundos de investimentos internacionais já alertaram o
governo de Jair Bolsonaro que se o desmatamento continuar, irão retirar
seu dinheiro do país.
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Em qualquer país do mundo, organizações da sociedade civil são sempre importantes parceiras de governos para
ajudar a propor soluções e combater problemas econômicos, sociais e
ambientais que o poder público não tem capacidade de administrar
sozinho. No Brasil, essas entidades sempre foram aliadas fundamentais para conter o desmatamento e realizar ações de preservação à biodiversidade.
Infelizmente, desde que assumiu o governo, o presidente Jair
Bolsonaro e vários de seus ministros decidiram tratar essas organizações
como “inimigas”. Através de decretos, membros da sociedade civil foram
retirados de vários comitês e comissões que discutem medidas na área
ambiental. E a contribuição de especialistas e acadêmicos, com anos de
experiência, foi completamente rechaçada e ignorada.
Apesar disso, as organizações brasileiras não se intimidam e
continuam dispostas a colaborar com o governo e o Brasil. Hoje, 62 delas
divulgaram um documento em que propõem cinco medidas concretas e emergenciais para estancar o desmatamento da Floresta Amazônica, que mês a mês, apresenta altas recordes nas taxas de destruição da floresta (veja os atuais índices nos links para outras reportagens ao final desse texto).
“Todas as medidas elencadas na carta são factíveis. Algumas delas são
inclusive obrigações constitucionais, que o governo não está
cumprindo”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do
Clima, uma das redes signatárias. “O objetivo é resolver uma situação
aguda na qual o paciente — no caso, a Amazônia — está sob risco de vida
para depois discutirmos as medidas estruturantes que permitirão a
recuperação do doente. Algumas delas, aliás, já constavam no plano de
prevenção e controle do desmatamento enterrado pelo governo Bolsonaro.”
O documento foi entregue aos presidentes da Câmara e do Senado, a
investidores estrangeiros e a parlamentares brasileiros e europeus. No
texto, os signatários lembram que o Brasil, no começo do século,
conseguiu reduzir a taxa de desmatamento e ao mesmo tempo ampliar a
produção agropecuária e o PIB.
“O atual governo, porém, não apresenta qualquer resquício de
interesse ou capacidade em seguir este caminho. Suas ações baseiam-se em
medidas falaciosas e campanhas publicitárias que tentam mascarar a
realidade. Mesmo o envio de forças militares para a Amazônia tem sido pouco eficaz”, afirmam.
“Dentre as razões para toda esta situação está a postura
irresponsável do Presidente da República, que pratica uma agenda
antiambiental e anti-indígena perversa e declarada, atentando contra a
própria Constituição. Como consequência, investidores e empresas
internacionais ameaçam retirar seus negócios do Brasil, intensificando a
crise econômica, ameaçando empregos e agravando o quadro de
desigualdade e pobreza do país”, destacam.
As cinco medidas contra o desmatamento
Moratória do desmatamento da Amazônia –
Proibição de qualquer desmatamento na Amazônia por no mínimo 5 (cinco)
anos, com exceções para ações de subsistência e de populações
tradicionais, agricultura familiar, planos de manejo, obras de utilidade
pública e de segurança nacional.
Endurecimento das penas a crimes ambientais e desmatamento –
Aumento de penas para o desmatamento ilegal, mandantes e financiadores
de crimes ambientais, fundiários e invasão e comercialização ilegal de
terras públicas. – Criação de força-tarefa para repressão a crimes fundiários, em especial grilagem de terras e invasão de terras públicas. –
Criação de força-tarefa para a expulsão de invasores e o cessar de
todas as atividades ilegais em territórios de povos e comunidades
tradicionais, principalmente terras indígenas e arredores, como
grilagem, desmatamento, roubo de madeira, garimpo, pecuária e mineração
ilegal. – Congelamento imediato de bens dos cem maiores desmatadores ilegais do país. –
Extremo rigor na aplicação da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº
9.605/1998 e Decreto nº 6.514/2008), incluindo a realização de embargos e
a destruição dos equipamentos utilizados para a prática de crimes
ambientais.
Retomada imediata do PPCDAm – Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal –
Retomada imediata das medidas e ações governamentais previstas nos
quatro eixos do PPCDAm (Ordenamento Fundiário e Territorial;
Monitoramento e Controle; – Fomento às Atividades Produtivas
Sustentáveis; Instrumentos Econômicos e Normativos), incluindo garantia
de recursos e a publicação de cronogramas, prazos e plano de
implementação, com prestação de contas transparente e participação
social.
Demarcação de terras indígenas, quilombolas e criação, regularização e proteção de Unidades de Conservação – Homologação imediata das terras indígenas já demarcadas. – Demarcação imediata das áreas indígenas com processos em trâmite no Governo Federal. –
Proteção de todas as terras indígenas, independente de seu estágio de
regularização, com atenção especial as terras ocupadas por povos em
isolamento voluntário ou de recente contato. – Implementação e consolidação efetiva das unidades de conservação já criadas. –
Criação de 10 milhões de hectares de unidades de conservação,
considerando o mapeamento das áreas prioritárias, sítios de gestão
integrada e novas áreas estratégicas para a conservação da
biodiversidade e combate ao desmatamento. – Titulação dos territórios quilombolas. Reconhecimento e regularização dos territórios quilombolas requisitados.
Reestruturação do Ibama, ICMBio e Funai –
Restituição das competências e condições institucionais do Ibama e
ICMBio para que retomem o seu protagonismo no combate ao desmatamento e
crimes ambientais. – Realização com urgência de concurso para
analistas ambientais do Ibama e ICMBio, destinados prioritariamente à
fiscalização ambiental. – Substituição dos gestores das três autarquias que não são técnicos da área por pessoal especializado. –
Restituição das responsabilidades institucionais da Funai, voltadas à
proteção e promoção dos direitos indígenas, principalmente relacionadas
com a demarcação e proteção das terras indígenas.
*Essas medidas emergenciais devem ser implementadas sem prejuízo
de políticas estruturantes, como programas e projetos que visem o
desenvolvimento sustentável, a retomada do Fundo Amazônia e Fundo Clima,
os pactos com o setor produtivo e o reforço dos investimentos verdes,
grande parte destes já previstos no próprio PPCDAm
Instituições que assinam a carta
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Observatório do Clima
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
Articulação Nacional de Agroecologia – ANA
Conselho Nacional de Seringueiros – CNS
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Associação Brasileira de Organizações não Governamentais – ABONG
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Grupo Carta de Belém
Rede Brasileira de Educação Ambiental – REBEA
Rede GTA – Grupo de Trabalho Amazônico
GT Infraestrutura
APREMAVI
Instituto Socioambiental – ISA
WWF Brasil
Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora
FASE – Solidariedade e Educação
Projeto Hospitais Saudáveis
Uma gota no oceano
SOS Amazonas
Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – Idesam
Mater Natura
Engajamundo
APREC – Ecossistemas Costeiros
Climainfo
Instituto Democracia e Sociedade – IDS
Instituto Centro de Vida – ICV
Instituto Internacional de Educação do Brasil – IIEB
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
350.org
Projeto Saúde e Alegria
BVRio
Grupo de Estudos em Educação e Meio Ambiente – GEEMA
Rede de Educadores Ambientais da Baixada de Jacarepaguá
Elo RJ – Rede de Mulheres Ambientalistas da América Latina
Comitê Chico Mendes
Terra de Direitos
Memorial Chico Mendes
Associação Etnoambiental Kanindé
Defensores do Planeta
Associação Agroecologia Tijupá
Argonautas Ambientalistas da Amazônia (Belém-PA)
Rede de Educação Ambiental e Políticas Públicas – REAPOP (Nacional)
Teko Porã Amazônia (Belém-PA)
Amazon Watch
Instituto de Pesquisas Ecológicas
Greenpeace Brasil
Rede de Educação Ambiental da Bahia – REABA
Associação Cultural APA Itacaré Serra Grande
Associação Alternativa Terrazul
Toxisphera – Associação de Saúde Ambiental
Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária – AMAR
O músico, cantor, compositor e produtor norte-americano Moby é um super ativista pelos direitos dos animais
há mais de 30 anos. Com seu novo trabalho, extrapolou um pouco esse
cenário com a intenção de contribuir para a conscientização a respeito
do desmatamento das florestas tropicais – entre elas, a Amazônia – e a luta pela preservação do meio ambientee contra a crise climática.
Assim, lançou o single My Only Love – que integra o álbum All Visible Objects – com um clipe de animação que se passa na Amazônia e narra a separação comovente de uma onça-pintada e seu filhote – e de um menino e um adulto indígenas – em meio ao incêndio da floresta, provocado principalmente pelo agronegócio. Os caçadores também estão presentes (assista no final deste post).
“Parece que somos confrontados com novas catástrofes quase que
diariamente, mas enquanto lidamos com esses horrores, a emergência
climática fica cada vez pior. E sem as florestas tropicais, nosso
planeta se tornará rapidamente um deserto devastador e inabitável”, ressaltou Moby no lançamento online, ontem, 5/8.
“Claro que quero chamar a atenção para a música, mas o objetivo deste
vídeo é lembrar as pessoas que 90% do desmatamento das florestas
tropicais e subtropicais é resultado da produção de carne e laticínios”,
explicou.
“E há muita coisa que podemos fazer como não comprar óleo de palma,
não comprar madeira de origem não ética e, o mais importante; parar de
comprar carne e laticínios. Essa produção é a maior causadora de
desmatamento no mundo!”.
Um brasileiro na produção
Para o evento de lançamento, Moby convidou os produtores do vídeo e
especialistas para falar sobre a animação e debater o significado do
videoclipe, o desmatamento e a exploração animal.
O brasileiro Paulo Garcia, do estúdio de animação Zombie – responsável pela direção e roteiro do vídeo, que foi desenvolvido em parceria com a produtora londrina BlinkInk – disse que se sentiu muito orgulhoso de participar do projeto.
“Trabalhar com alguém que sempre admirei é uma oportunidade
incrível. Tornou-se ainda melhor quando a tarefa que ele dá é enviar uma
mensagem ao mundo sobre o problema do desmatamento crescendo
rapidamente em meu país de origem, o Brasil. Muitos artistas deram o seu
melhor para que este videoclipe acontecesse. Música linda, efeitos
visuais fortes, narrativa incrível”.
Todo o lucro obtido com a venda do álbum All Visible Objects será revertido para instituições defensoras dos direitos animais.
Agora, assista ao clipe de My Only Love, abaixo: Fotos: Divulgação
Jornalista
com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo,
saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos
na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino
Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o
premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela
United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede
de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da
conferência TEDxSãoPaulo.
“Um dos maiores desastres ambientais da história moderna”. É assim que cientistas de diversas universidades da Austrália consideram o que aconteceu entre o fim de 2019 e o início de 2020, quando incêndios florestais devastaram o país. Em um novo estudo encomedado pelo WWF-Austrália, chegou-se à conclusão que quase 3 bilhões de animais foram afetados de alguma maneira pelo fogo – mortos ou perdendo seus habitats.
No relatório Australia’s 2019-2020 Bushfires: The Wildlife Toll,
cientistas das Universidades de Sydney, New South Wales, Newcastle,
Charles Sturt e do BirdLife Australia afirmam que o real número de
animais impactados é três vezes maior do que se pensava originalmente.
De acordo com os pesquisadores, as estimativas indicam que 2,46
bilhões de répteis, 143 milhões de mamíferos, 180 milhões de aves e 51
milhões de sapos foram vítimas, fatais ou não, dos incêndios.
Estimativas apontam que pelo menos 5 mil coalas morreram, ou seja, quase 12% da população da espécie.
“As conclusões iniciais são chocantes. É difícil pensar em outro
evento em qualquer lugar do mundo em nossa memória recente que matou ou
deslocou tantos animais ”, afirmou Dermot O’Gorman, CEO do WWF.
Ainda segundo O’Gorman, não há dúvida sobre a relação dos incêndios mais frequentes e devastadores com as mudanças climáticas.
Incêndios do começo do ano são considerados os piores da história
O fogo queimou 12,6 milhões de hectares de florestas e matas. Trinta e
quatro pessoas morreram e cerca de 2.700 casas foram destruídas.
Fotos: Ryan Pollock (canguru) e Adam Dederer (incêndios)/WWF-Australia
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em
Desde que o Instituto Romã nasceu, em 2004, as escolas sempre foram grande parte do público de nossas ações. Com a chegada do programa Ser Criança é Natural(que deu nome a este blog, lançado em 2015 pelo Conexão Planeta), as pessoas que trabalham com educação se aproximaram de nossas ideias, de nossas ações e formações. Desde 2013, tecer conversas com escolas, assessorar para mais natureza no ambiente escolar e ter a natureza como inspiração para todo o contexto educativo esteve cada vez mais presente.
Neste momento em que os espaços físicos das escolas se fecham, pensar
num retorno às atividades neste lugar está diretamente associado a mais
tempo e espaços ao ar livre, àreas mais amplas, arejadas e abertas.
Esse momento em que vivemos tem nos estimulado a fazer muitas
reflexões. Quantos aspectos desse mundo estão mais visíveis! Quantas
resistências a mudanças! Quantas aberturas o silenciamento provocado pela pandemia e, consequentemente, pela quarentena
trouxe! E quantas possibilidades de construirmos um mundo mais
inteligente, mais sensível, e, podemos dizer, mais racional também estão
se abrindo!
Uma de nossas ações para dialogar com as pessoas que formam a comunidade da área da educação foi criar uma série de lives, entre elas uma série que chamamos de Ao Ar Livre, com as quais promovemos conversas sobre educação, natureza e novas rotinas (confira as conversas no nosso perfil no YouTube).
Do lado de fora da sala de aula
Além dessas lives, também estamos trabalhando em novos cursos e materiais para atender a demandas mais específicas. E, de tantas reflexões com diversas escolas pelo Brasil, elaboramos um manifesto: o Manifesto por uma Educação ao Ar Livre e com a Natureza.
É uma forma de atender aos educadores e pais que desejam essa transformação nas escolas e precisam de referências para prosseguir com consistência nos diálogos com as esferas de decisão.
Com ele, buscamos fazer convergir a realidade atual de grande parte das escolas – públicas e privadas – com o desejo de que os adultos do futuro possam lembrar de sua infância como momentos de alegria, entusiasmo, aprendizado corporal, descobertas e liberdade!
Quer aderir a este movimento?
Ana
Carolina é pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação
lúdica, e trabalha com primeira infância. Rita é bióloga e socióloga,
ministra cursos, vivências e palestras para aproximar crianças e adultos
da natureza. Quando se conheceram, em 2014, criaram o projeto “Ser
Criança é Natural” para desenvolver atividades com o público. Neste
blog, mostram como transformar a convivência com os pequenos em momentos
inesquecíveis.
Seja pela força, agilidade ou simplesmente, beleza e porte majestoso, a onça-pintada é considerada o “leão” do continente americano, em referência ao seu parente mais famoso, o rei das selvas africanas.
Terceiro maior felino do mundo e o maior das Américas, a espécie Panthera onca,
também chamada de jaguar, originalmente era encontrada desde o sudoeste
dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Atualmente, ela está
oficialmente extinta em território americano, mas ainda pode ser vista
em alguns países da América do Sul, entre eles, o Brasil.
Neste último, não há números oficiais de sua população,
mas estima-se que sejam aproximadamente 11 mil indivíduos, espalhados
por fragmentos de Mata Atlântica, na região Sul e Sudeste, na Caatinga e
Amazônia e no Pantanal.
Seu desaparecimento se deu, como para outras espécies da fauna
mundial, devido ao desmatamento, à expansão agropecuária e também, a uma
crença muito forte de que a onça-pintada valia mais morta do que viva.
“A cultura antiga era matar porque a onça causava danos ao rebanho e ao
lucro do fazendeiro”, diz o biólogo José Sabino, professor e pesquisador
da Universidade Anhanguera-Uniderp, em Campo Grande, no Mato Grosso do
Sul.
Todavia, há cerca de uma década esta visão começou a mudar. E entre os motivos está o trabalho realizado pela Associação Onçafari, desde 2011, um projeto que alia ecoturismo à pesquisa científica e conservação, no Refúgio Ecológico Caiman, uma área de quase 53 mil hectares no Pantanal.
O fascínio de seu criador pela vida selvagem é antigo. Depois de
décadas como piloto de automobilismo no exterior, o paulista Mario
Haberfeld tinha uma certeza: queria trabalhar com preservação. “Eu tinha 12 anos na primeira vez que fui para a África. Lembro de estar na caçamba de um caminhão com meu pai em Serengeti (o mais famoso parque nacional da Tanzânia)”, conta.
“Quando parei de correr em 2018, passei dois anos viajando pelo mundo e aprendendo mais sobre o ecoturismo”.
Haberfeld cita experiências bem sucedidas como as realizadas na
Uganda, onde hoje a atividade é a segunda maior receita econômica no
país, e na minúscula Churchill, no Canadá – com menos de 1 mil
habitantes -, que apesar de distante, atrai turistas ansiosos para poder
ver um urso polar de perto.
De volta ao Brasil, o empreendedor se decidiu pelo Pantanal. “É o
melhor lugar para ver bicho”, explica. “Além da Amazônia já ter alguns
projetos de ecoturismo, é mais difícil a observação dentro da mata
fechada”, explica.
Estimativas indicam que sejam cerca de 11 mil onças-pintadas no Brasil
Habituação das onças-pintadas
Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera, o Pantanal é a maior
planície alagável de água doce do mundo. Uma vez por ano, o ciclo das
águas provoca mudanças drásticas na paisagem. De savana seca e árida,
entre maio e novembro, torna-se um enorme pântano nos meses seguintes.
Jacarés, capivaras, ariranhas, onças e aves vêm e vão, seguindo o ritmo
das águas.
Mas nem todos conseguem ser vistos facilmente pelo turistas. “Quando
fizemos uma visita pelas pousadas pantaneiras, reparamos que nos livros
em que os hóspedes deixavam mensagens, sempre elogiavam muito
a estadia,
mas relatavam que infelizmente não tinham visto uma onça”, revela
Haberfeld.
É por esta razão que a onça-pintada é a grande estrela dos passeios
do Onçafari. Entretanto, para que sua observação se tornasse mais
frequente entre os turistas foi necessário “treiná-las”. O processo
chamado de habituação, que vale frisar – não tem relação nenhuma com domesticação -, faz com que os animais se familiarizem com os veículos do safari e não os vejam como uma ameaça.
O método, aprendido com especialistas da África, faz com que, os
bichos percebam a presença do carro, mas não se intimidem com ele.
O veículo fica distante e a onça não mais o percebe como uma ameaça
A fêmea Esperança foi a primeira onça a ser familiarizada com o
veículo do Onçafari. É considerada a “mãe” do projeto e todos têm um
enorme carinho por ela. Já teve diversos filhotes, que a seu lado,
também se acostumaram com as visitas do safari.
Graças à habituação, os avistamos, que no passado eram de duas a três onças por ano, passaram para cerca de 900 em 2019.
“Hoje em dia as onças nem olham mais os veículos”, diz o criador do Onçafari.
Esperança, com um de seus filhotes
Monitoramento da espécie
Além do ecoturismo, o trabalho do Onçafari é dividido em outros cinco
braços: Ciência, Educação, Reintrodução, Social e Florestas.
Na parte científica, os biólogos monitoram e estudam cerca de 30
onças-pintadas que vivem na região da Caiman (algumas já morreram).
Todas foram batizadas. Assim como Esperança, a lista conta com nomes
criativos como Flor, Fera, Gatuna, Gaia, Felino e Fantasma.
Os profissionais acompanham a movimentação de alguns indivíduos que
recebem colar GPS e assim, podem estabelecer o padrão de deslocamento
desses felinos.
“Entre os grandes felinos, a onça-pintada era a menos estudada.
Relatos sobre a espécie eram baseados em animais de zoológicos ou
cativeiro, mas aqui conseguimos conhecer a espécie de perto”, afirma Haberfeld.
Durante a captura, as onças são sedadas e passam por diversos exames
Coordenadora geral dos biólogos, Lilian Elaine Rampim explica que
pelo menos duas vezes por ano acontece a captura de três onças. Sedadas,
elas passam por um check up físico, que inclui, por exemplo, exames de
sangue e de seus dentes, importantíssimos aliados na busca de alimentos.
Foi em razão dessas análises que a equipe do Onçafari já conseguiu publicar alguns artigos científicos sobre a Panthera onca. Um
deles demonstrou que as onças-pintadas que vivem no Pantanal norte
apresentam uma maior concentração de mercúrio na raiz do pelo, no bulbo,
devido à maior atividade de mineração que aconteceu naquela área no
passado.
“O mercúrio é um mineral cumulativo e as onças se alimentam de presas
que moram na água, como jacarés e capivaras. Com isso, ela acaba sendo
um indicativo que esse é um problema que também pode acometer os
humanos, já que comemos peixe”, ressalta Lilian.
Em outro artigo, os pesquisadores relataram a relação entre
onças-pintadas e queixadas. Apesar dos primeiros serem predadores dos
segundos, percebeu-se que muitas vezes, as queixadas podem se juntar, em
grupos, e conseguem repelir e amedrontar esses felinos.
Desde 2011, os biólogos do projeto já publicaram 17 artigos
científicos e outros 20 estão em processo de finalização. Além disso, já
foram lançados três livros e dois documentários, um deles, o da BBC,
citado abaixo.
Mario Haberfeld, segurando uma
antena com receptor de sinal VHF, que capta uma onda emitida pelo colar
de monitoramento colocado nas onças
Sucesso na reintrodução da onça-pintada na vida selvagem
Uma das histórias mais marcantes dessa quase uma década de atuação do
Onçafari envolve duas onças-pintadas que ficaram orfãs, em 2015.
Naquele ano, por causa do alto volume das águas, uma fêmea levou seus
dois filhotes para o alto de uma árvore, no quintal de uma casa, em meio
a um povoado.
Uma equipe de resgate tentou tirar os animais do local, mas a onça
adulta caiu no chão e morreu. Os filhotes, batizados mais tarde de Isa e
Fera, foram encaminhados para o Centro de Reabilitação de Animais
Silvestres de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
No ano seguinte, após passarem por um cuidadoso processo de adaptação
à vida selvagem, feito pelo time do Onçafari, em conjunto com o
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), as
fêmeas foram soltas novamente no Pantanal – as primeiras onças-pintadas
no mundo a serem reintroduzidas com sucesso na natureza.
Hoje Isa é mãe de Aurora e Aracy e Fera também deu à luz a um casal de gêmeos, Olympia e o macho Ferinha.
“Eu encho meu peito de orgulho de falar sobre essa história. Já havia
uma tentativa anterior à nossa de reintrodução da onça-pintada, mas que
deu errado. Quando aventamos a possibilidade de tentar o mesmo, fomos
muito criticados”, conta a coordenadora do Onçafari. “Mas observamos os
erros da primeira tentativa para não repeti-los. Não tivemos contato
nenhum com as onças para que elas não ficam apegadas a nós e elas nunca
nem perceberam que éramos nós que colocávamos presas vivas no recinto
para que elas aprendessem a caçar”.
O sorriso no rosto da bióloga Lilian revela a paixão pelo projeto
A história comovente dessas duas onças sobreviventes de um acidente e
do trabalho inédito de reintrodução da espécie foi contado em um
documentário da rede inglesa BBC, que você pode assistir mais abaixo.
“Elas não apenas se adaptaram super-bem e se estabeleceram no
território, caçando e convivendo com outras onças, como se nunca
tivessem saído da natureza, mas também estão procriando. E o mais legal é
que no mês passado a gente já viu a filha da Fera copulando, ou seja,
logo ela vai ser avó”, comemora a bióloga. “Cada vez que eu encontro
elas em campo, meu coração se enche de alegria”.
Geração de renda e o surgir de uma nova mentalidade
A presença da onça-pintada em seu ambiente é muito importante porque
ela é um predador de topo de cadeia. No caso do Pantanal, sem elas,
haveria um crescimento exacerbado da população de outros animais, que
são suas presas, como porcos-do-mato, capivaras, jacarés e veados. “Com a
onça presente, não teremos desequilíbrio ambiental”, assegura Lilian.
Atualmente, após muito trabalho, que incluiu a conscientização da
comunidade local, todos sabem que a onça-pintada não tem apenas uma
importância para o meio ambiente, mas para o ecoturismo local e a
consequente geração de renda que ele produz.
“O ecoturismo, desde que conduzido com boas práticas, como limites de
visitantes, distanciamento dos animais, não oferta de alimento, entre
outras atitudes, é uma excelente ferramenta para conservação da
biodiversidade. A prática de observação de onça-pintada no Pantanal
sempre foi um desejo, tendo em vista o caráter majestoso desse grande
felino”, concorda José Sabino.
O sonho de qualquer turista no Pantanal: ver de perto uma onça-pintada
Devido à repercussão do Onçafari, houve um aumento surpreendente – e
mais do que bem-vindo -, na ocupação das pousadas da região, sobretudo
naquelas parceiras do projeto. Nesses últimos nove anos, o Refúgio
Ecológico Caiman teve um crescimento de 270% em seu movimento. E a
grande maioria dos hóspedes, aproximadamente 70% deles, são
estrangeiros.
Muitas famílias que antes trabalhavam na lavoura ou na pecuária,
agora atuam na área do turismo. Mulheres deixaram de ficar em casa e
estão nas pousadas, nas mais diversas funções. E ao ver pai e mãe
trazendo mais dinheiro para casa graças a um animal que é um dos
símbolos do Pantanal, as novas gerações já crescem com uma visão
diferente.
“Entre nossas ações está a visita a escolas para falar da onça e pelo
menos uma vez por mês levar os funcionários e a criançada para ver as
onças em campo”, conta Haberfeld. “No começo, o sonho dessas crianças
era ser peão de boi, como o pai, hoje em dia elas querem ser biólogos,
veterinários, guias de turismo”.
Do Pantanal, o Onçafari agora alça voos por outros biomas brasileiros
e inclui outros animais, como o lobo-guará. Cerrado, Mata Atlântica e
Amazônia são os próximos a abrigar este lindo projeto de conservação,
que surgiu inspirado num modelo africano, mas já conquistou o coração
pantaneiro.
A equipe do Onçafari: ao centro a bióloga Lilian Rampim e sentado no carro, do lado esquerdo, está Mario Haberfeld
Fotos: divulgação Onçafari/Adriano Gambarini (abertura), Edu
Fragoso (veículo com turistas e onça mais a frente), Adam Bannister
(Esperança e filhote)
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.