Amazônia tem hoje 85 milhões de cabeças de gado, três para cada
habitante humano. Na década de 1970, o rebanho era um décimo desse
tamanho e a floresta estava quase intacta. Desde então, uma porção
equivalente ao tamanho da França desapareceu, da qual 66% virou
pastagem. A mudança foi incentivada pelo governo, que motivou a chegada
de milhares de fazendeiros de outras partes do país. A pecuária
tornou-se bandeira econômica e cultural da Amazônia, no processo,
elegendo poderosos políticos para defender a atividade. Em 2009, o jogo
começou a virar quando o Ministério Público obrigou os grandes
frigoríficos da região a se tornarem responsáveis por monitorar as
fazendas fornecedoras de gado e não comprar daquelas que têm
desmatamento ilegal.
Sob a Pata do Boi é um documentário de média
metragem (49 minutos), que conta essa história. Dirigido por Marcio
Isensee e Sá, o filme é uma produção do site ((o))eco, de jornalismo
ambiental, e do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Faz parte de um projeto de jornalismo investigativo que já dura dois
anos e cujas reportagens podem ser lidas neste site.
O que é grilagem e o que ela tem a ver com o desmatamento na Amazônia
Observatório do Clima domingo, 6 agosto 2017 22:25
A grilagem de terra, o ato de ocupar ilegalmente terras públicas,
está intimamente ligada com o desmatamento na Amazônia. Após a sanção,
sem vetos, da Medida Provisória 759 (atual Lei 13.365), no começo de
julho, o governo Temer ampliou a anistia à grilagem em sete anos e
elevou de 1.500 para 2.500 hectares o tamanho das propriedades passíveis
de regularização, o que permite legalizar a posse de grandes
propriedades, em especial na Amazônia.
Como funciona a grilagem de terras, porque ela está relacionada com
crimes que vão de desmatamento ilegal ao trabalho escravo e o que essa
história tem a ver com a recente tentativa de reduzir a proteção da
Floresta Nacional do Jamanxim é o que o Observatório do Clima explica,
nesse vídeo de quase 3 minutos. Assista.
Grileiros já tomaram quase 12 milhões de hectares de florestas públicas na Amazônia
Duda Menegassi domingo, 28 junho 2020 19:44
Enquanto o desmatamento avança na Amazônia, quase 50 milhões de
hectares de florestas públicas permanecem numa espécie de limbo,
enquanto esperam o governo – federal ou estadual – decidir o que são e a
quem pertencem. Essa indefinição de uso e governança deixa essas áreas
de floresta não destinadas mais vulneráveis à invasão e, de acordo com
um estudo publicado recentemente, grileiros já tomaram 11.6 milhões
dessas florestas, o equivalente a 23% do total. Os números foram
levantados por uma equipe de pesquisadores do Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos da Universidade Federal do Pará em parceria com o Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
O artigo foi publicado no periódico Elsevier
sob o título “Terra sem lei na terra de ninguém: as florestas públicas
não destinadas na Amazônia brasileira” e destaca o avanço da grilagem e
do desmatamento nesses territórios. “A falta de segurança da posse da
terra é uma fonte de desmatamento, exploração predatória de recursos
naturais, atividades econômicas insustentáveis e violência no campo”,
descreve o artigo. De acordo com o levantamento, até 2018 já haviam sido
desmatados 2.6 milhões de hectares em áreas não destinadas.
“Esse é um processo histórico, de grilagem de terra, mas que agora
está se intensificando justamente dentro das florestas não destinadas.
Existe um processo de privatização dessas áreas que passa a ser
facilitado, inclusive, com essas flexibilizações que a gente vem
acompanhando na legislação, como a Medida Provisória 910, a MP da
Grilagem, que agora se transformou no Projeto de Lei 2.633.
Essas flexibilizações vão dando margem para que essas pessoas
mal-intencionadas comecem de fato a lucrar com esse ato. Porque elas
acabam conseguindo o título da terra, ou mesmo quando não conseguem o
título da terra, elas conseguem vender essa terra a terceiros por um
preço que é muito maior do que elas tiveram que colocar para conseguir
aquela terra”, explica a professora-titular do Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos da UFPA, Claudia Azevedo-Ramos, uma das autoras do estudo, em entrevista a ((o))eco.
Ela conta que o estudo foi feito através de bases de dados públicos como o Cadastro Nacional de Florestas Públicas (CNFP)
e o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SISCAR), feitos pelo
Serviço Florestal Brasileiro, e informações do Incra, do Inpe e do
Ministério do Meio Ambiente. “Todos os dados que a gente utilizou nesse
estudo são dados públicos e isso também é muito importante porque indica
que os governos têm noção do que está acontecendo, porque a maioria da
informação veio justamente dos dados que estão dentro dessas
instituições”, esclarece Claudia.
“Nós tiramos as sobreposições e sobraram 49.8 milhões de hectares de
florestas que ainda não foram destinadas, é mais ou menos o tamanho da
Espanha. O que são essas florestas não destinadas? São florestas que são
públicas, pertencem ao governo federal ou estadual, mas ainda não foram
alocadas para nenhuma categoria de uso. Elas não são unidade de
conservação, não são Terra Indígena, território quilombola, não são
assentamento, não são nada. E elas não têm um gestor específico ali
cuidando. E quando nós demos um zoom para ver o que estava acontecendo
dentro dessa área, nós vimos que uma área equivalente a dois estados do
Rio de Janeiro, 11.6 milhões de hectares, estavam sendo griladas. E isso
já acendeu todas as luzes vermelhas porque imagina você ter um
patrimônio desse tamanho em plena Floresta Amazônica, que está sendo
perdido porque esses grileiros estão entrando nessas áreas públicas e
registrando pedaços dessa floresta pública no CAR [Cadastro Ambiental Rural].
Como o Cadastro é auto declaratório, você registra o que você quiser e
só depois você precisa validar essa informação, e o CAR ainda não chegou
nesse estágio de verificação. Nesse meio-tempo, essas pessoas
mal-intencionadas entram e começam a derrubar a floresta para tomar
posse. Nós avaliamos o desmatamento dentro dessas áreas e até 2018 foram
2.6 milhões de hectares desmatados, um território mais ou menos do
tamanho do Sergipe. Ou seja, dentro daquela Espanha de florestas não
destinadas, tinha um Sergipe desmatado”, diz a pesquisadora.
O artigo destaca que vários especialistas já alertaram que esse é um
cenário que pode piorar nos próximos anos em função das recentes
mudanças políticas no Brasil como o atual enfraquecimento governamental
das agências ambientais e dos direitos à terra indígena; congelamento da
designação de novas áreas públicas; legalização de armas nas áreas
rurais; expansão do agronegócio, que resultam na intensificação de
conflitos de terra, violência rural e exploração ilegal de recursos
naturais.
O texto cita ainda que 30% do desmatamento e das queimadas na
Amazônia em 2019 ocorreram dentro de florestas públicas não destinadas,
de acordo com dados divulgados pelo IPAM.
A professora da UFPA ressalta ainda que o primeiro passo para lidar
com os crimes ambientais cometidos nessas florestas não destinadas é,
justamente, destiná-las e fazer o ordenamento deste território. “Ao
destinar essas terras a gente está entregando elas à gestão de alguma
instituição que vai fazer o monitoramento e o manejo daquela área. Hoje,
se existe invasão em floresta pública não destinada, quem que a gente
chama? Fica muito fácil de um empurrar pro outro e ninguém fazer nada. A
destinação é a primeira coisa, inclusive para propriedades privadas, o
que também é previsto”, completa.
Além disso, ela aponta que é preciso ter vontade política e uma ação
efetiva do governo no combate aos crimes ambientais, tanto em campo, com
fiscalização e aplicação da lei, quanto no discurso dos governantes.
“Quando você está na ponta, lá no campo, você está atento ao discurso
das lideranças, do governo, e você se move de acordo. Se lá na ponta
chega um discurso que diz que agora vale tudo, é só o sinal que basta
para você começar a distribuir motosserra. Porque se o próprio governo,
que deveria estar fiscalizando essas áreas que são públicas, está
passando a mensagem de que nada vai acontecer, o seu trator não vai ser
queimado ou confiscado, a Polícia Federal não vai chegar até você, você
pode entrar na Terra dos Indígenas que está tudo bem, pode fazer
mineração à vontade… É terra sem lei, mesmo”, conclui.
Bolsonaro justifica falha na fiscalização ambiental por causa do “tamanho da Amazônia”
Salada Verde quinta-feira, 23 julho 2020 23:15
Assim como a cloroquina, dizer que a culpa pelas queimadas na
Amazônia são de indígenas e caboclos virou um dos assuntos favoritos do
presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Por quase seis
minutos, o chefe do Executivo defendeu que é impossível fiscalizar a
Amazônia “maior que a Europa”, argumentou, que repassar a posse de
terras para quem invadiu inibirá queimadas e terminou dizendo que outros
países perderam florestas, mas aqui não. A fala ocorreu em sua
tradicional live realizada todas as quintas-feiras.
“Se vocês olharem bem [mostrando uma foto da Nasa], na região
Amazônica não tem nada vermelho. A floresta não pega fogo. Então é uma
campanha maldosa o tempo todo contra o Brasil porque isso tem a ver com a
economia. O Brasil é um gigante do agronegócio”, disse Bolsonaro.
Logo após afirmar que a Amazônia não pega fogo, embora mostre uma
imagem com focos de calor em áreas de Rondônia, Pará, Acre e Mato
Grosso, estados que estão dentro do bioma Amazônia, Bolsonaro afirma
que, sim, tem uns pequenos focos em “certas regiões”, mas que é coisa
“de caboclos e indígenas”.
“Pessoal, tem certas regiões aqui, com foco de incêndio que existe, e
vai existir quase todo ano, que é o caboclo, é o índio que toca fogo.
Se ele não tocar fogo, é a cultura dele, ele não vai comer, não tem nada
o que comer no ano seguinte”, disse. “E mais ainda, o tamanho da
Amazônia é maior que a Europa toda, não tem como você fiscalizar”,
exagera o presidente. Na verdade, a Europa [10.180.000 km²] tem mais que
o dobro da Amazônia brasileira [4,196.943 milhões de km²] em área.
Sobre queimadas, em 2019 o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) fez uma análise sobre a geografia dos focos de calor registrado naquele ano na Amazônia.
Segundo o levantamento, 33% dos focos foram localizados em propriedades
privadas, 30% em áreas sem destinação fundiária específica e 18% em
assentamentos de reforma agrária. Focos em terras indígenas
representaram 6% das áreas queimadas entre 1º de janeiro e 29 de agosto
do ano passado.
Regularização fundiária
Bolsonaro também voltou a defender a MP da regularização fundiária,
que caducou no Congresso e foi reapresentada como projeto de lei.
Segundo ele, caso fosse aprovada, a regularização fundiária inibiria as
queimadas, já que daria para saber quem colocou fogo no terreno. “Então,
com essa regularização, caso fosse aprovado, cada pedaço de terra no
Brasil você podia detectar por satélites na terra de quem está aquele
incêndio. Mais ainda, saber se naquela área ele poderia praticar isso ou
não. Que na região amazônica, por exemplo, 20% da propriedade você pode
investir na agricultura, você pode desmatar. 80% não (…). Isso nos
ajuda a não só identificar quem, porventura, de forma criminosa, tocou
fogo ou desmatou a sua propriedade, bem como vai inibir essa prática e
vai acabar com essa pressão internacional, muita das vezes
desproporcional e não verdadeira contra o Brasil”, disse.
Na verdade nada impede o governo de saber onde e como estão
desmatando ou colocando fogo, se em propriedade privada ou em terras da
união. Tampouco ninguém está proibindo o governo de regularizar as
terras dos pequenos proprietários rurais usando a lei vigente, para isso
basta o Incra não fazer o que fez ano passado, quando regularizou
apenas 6 posses em toda Amazônia brasileira. A média de regularização
fundiária na região entre 2009 e 2018 é de 3.190 posses por ano.
Na live, Bolsonaro também falou que, se somar todas as áreas
desmatadas na Amazônia nos últimos 20 anos, dá uma “América do Sul
todinha” e depois afirma que outros países desmataram, “mas que o Brasil
não”.
“Só pra curiosidade, no início do século passado, não sei quem foi
quem disse (fala segurando uma folha), não me botaram uma fonte aqui,
tínhamos 10% das florestas do mundo. Hoje temos 30%. Não é que foi
plantado mais árvores no Brasil, é que em outros países houve
desmatamento. Aqui não”, disse.
E termina falando que a Europa deveria começar a reflorestar “para
dar exemplo para nós”. “Não querer reflorestar o que já tem floresta
aqui no Brasil, no caso, Amazônia”, finaliza. (Daniele Bragança)
O Ibama gastou até 31 de julho apenas 20,6% dos R$ 66 milhões
autorizados para ações de fiscalização ambiental no país em 2020. Foram
R$ 13,6 milhões. É a execução para o período mais baixa dos últimos
anos, conforme gráfico a seguir.
Esses números refletem a redução da capacidade de fiscalização do instituto no governo Bolsonaro.
Agentes do Ibama aplicaram 3.421 autos de infração de 1º de janeiro a
31 de julho de 2020, uma queda de 52,1% em comparação com o mesmo
período do ano anterior, segundo dados obtidos no site do instituto
(atualizados até 6/8). Em 2019, já havia ocorrido uma redução de quase
17% das multas ambientais.
Desde maio, todas as ações do Ibama de combate ao desmatamento na
Amazônia estão subordinadas ao Ministério da Defesa, que coordena a
Operação Verde Brasil. Entre maio e julho a devastação no bioma dobrou.
Além de segurar gastos previstos no orçamento, o Ibama ficou os sete
primeiros meses de 2020 sem acessar recursos Fundo Amazônia já aprovados
para ações de combate ao desmatamento. Somente em 30 de julho foram
sacados R$ 10,2 milhões dos R$ 73 milhões disponíveis. Este contrato foi assinado em março de 2018 e vence em abril de 2021.
Em maio, o Ibama também recebeu R$ 50 milhões recuperados pela
Operação Lava Jato, que não estavam previstos inicialmente no orçamento
para 2020. Esse valor deve ser destinado para a fiscalização e o
controle de incêndios florestais, mas até o momento apenas 27% foram
usados.
Para o orçamento de 2021, o governo planeja um corte de recursos para
a fiscalização ambiental, apesar do aumento do desmatamento na
Amazônia.
Em ofício de 27 de julho,
o Ministério do Meio Ambiente prevê R$ 210 milhões para as despesas
discricionárias do Ibama em 2021. O valor é cerca de 20% menor que o
aprovado na lei orçamentária para 2020.
Em razão desse corte, o orçamento previsto para as ações de
fiscalização ambiental foi reduzido em 16,7%, de R$ 76,8 milhões em 2020
para R$ 64 milhões em 2021, segundo ofício do Ibama de 28 de julho.
O valor previsto na lei orçamentaria para 2020 (R$ 76,8 milhões) foi
maior que o efetivamente autorizado para a fiscalização (R$ 66,1
milhões), o que deve se repetir em 2021, em razão de contingenciamentos e
remanejamentos de verbas, entre outros motivos. Ou seja, além da
redução na proposta orçamentária é possível que haja outras reduções ao
longo de 2021.
Os cortes determinados pelo governo Bolsonaro contrastam com as
receitas geradas pelo Ibama para a União: a previsão de arrecadação do
Instituto para 2021 apenas em taxas e serviços é de mais de R$ 350
milhões, valor 60% maior que o orçamento previsto para as despesas
discricionárias.
Cristiane Prizibisczki terça-feira, 1 setembro 2020 15:22
A confusão gerada pelo ministro Ricardo Salles e pelo vice-presidente
Hamilton Mourão, na última sexta-feira (28), em relação ao bloqueio das
operações de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia e Pantanal
deixou muita gente sem entender o que realmente estava acontecendo nos
gabinetes em Brasília. No entanto, a dissonância entre os discursos e os
dados sobre fiscalização publicados pelo governo explicitaram a
baixíssima capacidade física e de pessoal que o Ministério do Meio
Ambiente possui atualmente para a realização de operações de
monitoramento e controle de ilícitos nesses dois biomas. O problema não é
falta de recursos, dizem especialistas.
Na tarde da sexta-feira, por meio de nota,
o Ministério do Meio Ambiente informou a suspensão de todas as
operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e todas as
operações de combate às queimadas no Pantanal e demais regiões do país, a
partir desta segunda-feira (31), por conta de um bloqueio de R$ 60
milhões na pasta, por ordem do setor econômico do Planalto.
No início da noite, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão –
que é coordenador do Conselho Nacional da Amazônia e tem estado à
frente das ações do exército dentro das operações de Garantia da Lei e
da Ordem (GLO) no bioma – afirmou a jornalistas que o mandatário da
pasta ambiental havia “se precipitado” a respeito da suspensão das
operações e que elas continuariam. Salles, por sua vez, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que Mourão só garantiu a verba após o Ministério se posicionar sobre o bloqueio.
Segundo a nota do MMA, seriam bloqueados R$ 39,7 milhões do ICMBio e
R$ 20,9 milhões do Ibama por determinação da Secretaria de Governo e da
Casa Civil da Presidência. A nota foi atualizada por volta das 20h da
sexta-feira para informar que “na tarde de hoje (sexta) houve o
desbloqueio financeiro dos recursos do Ibama e ICMBio e que, portanto,
as operações de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas
prosseguirão normalmente”.
Números do combate em campo
Segundo a nota do MMA, com o corte no orçamento, seriam
desmobilizados 77 fiscais, 48 viaturas e 2 helicópteros, no âmbito do
Ibama, e 324 fiscais, no âmbito do ICMBio, para as operações de combate
ao desmatamento ilegal na Amazônia que estão em curso.
Considerando que a Amazônia Legal possui uma extensão de 5.217.423
km², significa que cada um dos 401 agentes (somados Ibama e ICMBio) está
responsável por fiscalizar uma área de pouco mais de 13 mil km², o
equivalente a oito vezes o município de São Paulo (1.521 km²).
Segundo os últimos dados do sistema de alerta de desmatamento do
INPE, o Deter, divulgados no início de agosto, neste ano houve alta de
34% no desmatamento da Amazônia, quando foram derrubados 9.056,26 km² de
floresta (comparando o período de agosto 2019 a julho de 2020, versus
agosto de 2018 a julho de 2019).
Em relação ao combate às queimadas, a nota do MMA informa que, se
houvesse o corte anunciado pelo setor econômico do Planalto, seriam
desmobilizados 1.346 brigadistas, 86 caminhonetes, 10 caminhões e 4
helicópteros, no âmbito do Ibama, e 459 brigadistas e 10 aeronaves Air
Tractor, no âmbito do ICMBio, das operações atualmente em curso.
Ainda segundo dados do INPE, o
Pantanal enfrenta o pior cenário para queimadas em muitas décadas, com
alta de 242% no número de focos de incêndio em comparação com o mesmo
período do ano anterior. De janeiro a julho deste ano, foram registrados
4.218 focos de incêndio em todo bioma. Nos mesmos meses em 2019, foram
1.475 registros.
A Amazônia também arde em chamas.
Segundo dados do Programa Queimadas, em agosto, foram contabilizados
29.307 focos, o segundo maior número para este mês dos últimos 10 anos
(o primeiro foi registrado ano passado, quando o INPE contabilizou
30.900 focos). Os altos números foram registrados mesmo com a presença
do Exército na região (através da GLO) e com o decreto de proibição de
incêndios no bioma, publicado pelo Governo Federal em meados de julho e
com validade de 120 dias.
Baixo número de fiscais, pouca estrutura
O problema do baixo efetivo nas
autarquias do MMA é velho conhecido. O último concurso público para a
reposição do quadro nas unidades do Ibama na Amazônia foi realizado há
11 anos. Segundo dados fornecidos
pelo MMA por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), atualmente,
existem 690 servidores designados para realizar atividades de
fiscalização ambiental como Agentes Ambientais Federais (AAF) em todo o
país. Destes, 191 estão lotados em estados que fazem parte da Amazônia
Legal.
“Esclarecemos que todos os AAF de
outras unidades da federação podem ser designados para atuar em
operações de fiscalização ambiental em estados que compõem a Amazônia
Legal”, disse o MMA, na resposta às demandas feitas pela LAI.
De acordo com uma Carta Aberta assinada por mais de 400 servidores do Ibama em agosto de 2019,
entre 2010 e 2019 houve uma redução de 45% do efetivo da fiscalização
ambiental do órgão. “É necessária autorização imediata para realização
de concurso público para vagas de analista ambiental, considerando que
não há meios de garantir a proteção ambiental da Amazônia com o atual
quadro de servidores”, dizia a nota.
Em relação ao número de viaturas, O Eco apurou que, até abril deste ano, a fiscalização do Ibama contava com 435
veículos para atender a todo o país, sendo 175 destes alocados na
Amazônia. O Eco solicitou do MMA dados mais recentes sobre o número de
viaturas disponíveis para a fiscalização, mas até o fechamento da
matéria não recebeu resposta.
No início de agosto também veio a público a notícia de que, por
determinação do Ministério do Meio Ambiente, o Ibama reduzirá o número
de helicópteros que aluga para vigiar o desmatamento e queimadas, não só
na Amazônia, como em todo o país. Eram seis, passam a ser apenas
quatro.
De acordo com o ex-diretor da Divisão de Proteção Ambiental (DIPRO)
do Ibama, Luciano de Meneses Evaristo, que foi responsável durante
muitos anos pelo setor de fiscalização ambiental da autarquia e se
aposentou em 2020, o número necessário de aeronaves seria três vezes
maior. “Eu pedi 12 [helicópteros], achando que era o mínimo necessário
para combater, recebi sete. Em 2016, o orçamento caiu e tive que tirar
um, ficaram seis, número que já era insuficiente”, disse Evaristo.
Baixa execução
Para especialistas ouvidos por O Eco, a falta de recursos apontada
pelo MMA para a eventual paralisação das ações de combate a ilícitos na
Amazônia e Pantanal não é o principal problema da pasta, mas sim a baixa
execução orçamentária e falta de políticas concretas de combate.
“O Ibama só gastou 25% dos recursos que tinha para fiscalização até
agora. A autarquia tem dinheiro para o pagamento dos contratos de
locação de helicópteros e caminhonetes pelo projeto Profisc 1-B do Fundo
Amazônia – não precisa de autorização da Fazenda, é só executar. Ainda
tem R$ 62,9 milhões de financeiro do Fundo Amazônia para usar até abril
de 2021. O Ibama também possui recursos disponíveis dos R$ 50 milhões
que entraram pela decisão do STF sobre a Lava-Jato, para serem aplicados
na fiscalização do desmatamento e no combate ao fogo. Desse total, só
usou R$ 13,7 milhões até agora”, diz Suely Araújo, que é especialista
sênior em políticas públicas do Observatório do Clima e presidiu o Ibama
entre junho de 2016 e janeiro de 2019.
Segundo ela, os recursos que eventualmente seriam bloqueados no MMA
são pequenos demais para fazer a diferença no caixa governamental. Ela
lembra que a GLO executada pelas Forças Armadas na Amazônia consome R$
60 milhões por mês, com baixos resultados. De acordo com Suely, a
confusão entre os ministros parecia “um teatro para militarizar de vez a
fiscalização na Amazônia e, ao mesmo tempo, usar orçamento como
desculpa falsa para se isentar de responsabilidade pela explosão do
desmatamento e das queimadas”.
Além dos recursos do Fundo Amazônia, levantamento realizado com dados
do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP), do Governo
Federal, mostrou que, entre 2016 e 2019, os valores destinados às ações
de Fiscalização e Controle Ambiental do Ibama se mantiveram
relativamente estáveis. Em 2019 houve uma queda, compensada pelos
recursos repassados à autarquia pela Operação Lava-Jato. O que mudou foi
o percentual que, de fato, foi executado pela pasta, como mostra o gráfico a seguir.
A baixa execução dos valores também foi verificada nos orçamentos
para ações de Monitoramento Ambiental, Prevenção e Controle de Incêndios
Florestais, tanto no Ibama quanto no ICMBio.
Orçamento para Monitoramento, Prevenção e Controle de Incêndios
Autorizado
Executado
2016
IBAMA
67.333.388,38
48.959.755,97
ICMBIO
36.465.585,53
30.669.671,75
2017
IBAMA
50.130.099,99
24.348.986,96
ICMBIO
28.352.662,37
23.911.607,73
2018
IBAMA
43.947.685,09
36.084.604,29
ICMBIO
26.733.047,98
21.975.084,08
2019
IBAMA
49.525.554,02
39.586.652,66
ICMBIO
40.007.774,07
37.318.770,91
2020
IBAMA
38.611.058
12.552.264
ICMBIO
19.069.718
11.291.193
Fonte – Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP) – Acesso Público
Valores corrigidos pelo IGP-M (FGV) – Período – Janeiro do ano de referência a Janeiro 2020
Em nota, a organização WWF -Brasil chamou a atenção para a baixa execução no orçamento previsto para a pasta. “É
preciso lembrar que o Ministério do Meio Ambiente tem como dever fazer
cumprir a legislação que protege o meio ambiente. Um dado que chama a
atenção é que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis) gastou até dia 30 de julho apenas 19% dos
recursos orçamentários deste ano previstos para prevenção e controle de
incêndios florestais”.
Para Paulo Artaxo, professor do
Instituto de Física da USP e referência mundial em mudanças climáticas,
as falhas no monitoramento e fiscalização ambiental no país estão
ancoradas na visão política que o atual governo tem sobre o tema. “O
problema do monitoramento é, na verdade, ter vontade política para
efetivamente combater desmatamento, atividades ilegais na Amazônia e
queimadas. Isso não existe no atual governo”, disse.
De acordo com Márcio Astrini,
secretário-executivo do Observatório do Clima, a falta de programas e
metas para o combate efetivo do desmatamento e queimadas exemplificam a
falta de interesse político da administração Federal em realmente
resolver tais questões.
“Seja o que for [que motivou a
publicação da nota pelo MMA], o motivo não é financeiro ou orçamentário,
e é de uma irresponsabilidade absurda. […]Em nenhum momento se discute,
entre o Salles e o Mourão, ou qualquer outro dentro do governo,
soluções para a crise do desmatamento e queimadas. Existe sempre uma
discussão para piorar o que já está muito ruim. A gente não tem coisas
muito básicas dentro do governo. Por exemplo: qual a meta para o
desmatamento, qual o número que o governo pretende atingir de redução
nas queimadas?”, questiona.
Atualmente existem ao menos duas
ações no Supremo Tribunal Federal contra o Governo de Jair Bolsonaro
(sem partido) pelo congelamento dos fundos Amazônia e Clima. Juntos,
tais fundos somam mais de R$ 1,5 bilhão em recursos que, segundo
especialistas, poderiam ser usados nas ações de monitoramento e combate
aos ilícitos ambientais no país.
Para o especialista Pedro Ribeiro, a desmobilização da frente
ambiental no Itamaraty significa, para além do aspecto financeiro, uma
perda de estratégia na inserção internacional do País
A política antiambientalista do governo chegou ao Itamaraty. O
Ministério das Relações Exteriores desmobilizou frente diplomática que
tinha a política ambiental de preservação como pauta, o que influenciava
decisões em agendas e fóruns internacionais.
Com isso, abre-se um espaço, como um vácuo, para que outros países
ocupem esse espaço de protagonismo internacional em relação às pautas
ambientais, como explica Pedro Feliú Ribeiro, professor do Instituto de
Relações Internacionais (IRI) da USP. “Qualquer outro país com uma
política externa bem estruturada, um presidente interessado nesse tipo
de inserção, como é o caso da Colômbia, começa a captar recursos antes
dirigidos ao Brasil.” Nesse quadro, segundo ele, o Brasil perde não só
investimentos, mas também a possibilidade de coordenar essa agenda:
estabeleceria prioridades e recursos e proporia o melhor a se fazer com
eles.
O Brasil tem um histórico, apesar de recente, de liderança na
temática do meio ambiente que lhe dá autoridade no âmbito internacional.
O primeiro grande momento em que o Brasil passa a ter protagonismo
internacional é a Rio-92. “O País passa a ser uma liderança ambiental
com uma pauta que distingue países desenvolvidos e países em
desenvolvimento. Assim, defendia-se que os desenvolvidos deveriam arcar
com os custos de redução de CO2, não os em desenvolvimento”, diz
Ribeiro.
Entre 2007 e 2009, após muitas críticas às queimadas na Amazônia, o
governo, como resposta, cria o programa Avoid Deforestation, cooperação
com os Estados Unidos para monitoramento espacial da Amazônia. “Isso
gera uma contrapartida à comunidade internacional e o Brasil mantém a
posição que vinha construindo desde a Rio-92. Isso é o que não acontece
hoje: o governo brasileiro não busca prestar contas, digamos assim, à
comunidade internacional preocupada com o desmatamento e as queimadas.”
O Brasil apresenta uma posição vacilante, de acordo com Ribeiro, no
que diz respeito às políticas ambientalistas. Isso porque, quando há um
debate político entre desenvolvimento e meio ambiente, a tendência é que
o desenvolvimentismo seja favorecido. “Isso não é exclusividade do
governo Bolsonaro, porque os mesmos grupos de interesse estavam
presentes nos anos 90, por exemplo, e continuam tendo muita influência.”
Ele afirma que a expectativa é superar a dicotomia entre
desenvolvimento e meio ambiente, a fim de atingir o que se chama de
desenvolvimento sustentável, quadro que ainda é mais utópico que
concreto.
O professor conclui, reforçando a importância da presença do Estado
brasileiro nas discussões ambientais, e o quanto o País tem a perder,
inclusive em relação ao mercado privado, ao deixar isso de lado. Nas
relações exteriores, perde-se certa relevância. “É claro que, se quiser
fazer qualquer convenção de clima, por exemplo, tem de se considerar o
Brasil. Mas as consequências em termos de política externa é a perda de
estratégia de inserção internacional”, aponta Ribeiro. “Para além desse
aspecto financeiro, o País perde a capacidade de definir e determinar
agenda e, portanto, de direcionar a cooperação internacional.”
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A perda da credibilidade do governo brasileiro na preservação ambiental
A perda da credibilidade do governo brasileiro frente aos dilemas
internacionais na preservação ambiental e na degradação da Floresta
Amazônica e do Pantanal
Por Junio Cesar dos Santos Carmo e Gabriel Henrique Alves
[EcoDebate] Com o pós Guerra Fria e a entrada no século XXI novas
demandas tomaram espaço na agenda internacional, perdendo o caráter
estrito voltado para segurança e armamento como definição de poder. Com o
adjunto do acordo de Paris (2015), do Protocolo de Kyoto (1997), da
Agenda 2030 e outras convenções que permeiam a temática da preservação
ambiental, quanto a redução da emissão de gases, desenvolvimento
sustentável, energias renováveis e etc; a pauta sobre meio ambiente tem
adquirido relevante proporção nos debates internacionais.
Entre 2019 e 2020, ocorreu um crescimento considerável nos incidentes
que envolvem desastres ambientais, sobretudo no que tange às queimadas e
a emissão de CO2. Nesse sentido, o Brasil obteve palco em inúmeros
canais de telecomunicações internacionais, vis a vis, a degradação
ambiental na Amazônia e no momento atual com os incêndios no Pantanal.
Tais notícias trouxeram novamente a discussão sobre a irresponsabilidade
dos Estados latino-americanos na proteção do meio ambiente e a
necessidade de um estatuto internacional para a “preservação da
Amazônia”. A constituição do sistema anárquico internacional tem um
impacto direto nas relações entre os países, nas quais em sua maioria
(se não na sua totalidade) são moldadas por interesses ou aspirações que
mantenham/aumentem o status quo desses atores no panorama global.
Entretanto, na habilidade de causar dano, estimar capacidades e o
comportamento entre os Estados, os jogos de interesses se mostram claros
na entrevista que o Presidente da França, Emmanuel Macron participou no
dia 26 de agosto de 2019 ao abordar sobre as queimadas na Amazônia, uma
vez que afirmou que “a nossa casa está queimando”. Nesta mesma linha de
raciocínio sobre, o Presidente francês pontuou acerca da
irresponsabilidade do Governo de Jair Bolsonaro ao ressurgir com o tema
da “internacionalização da Amazônia”, uma vez que as medidas de
contenção aos incêndios que vem devastando a região são ínfimas.
As aspirações de Macron são muito claras ao considerar às pressões
populares quanto à sua inexequibilidade às propostas de governo nos
resguardos de preservação ambiental. No entanto, o Presidente se
contrapôs ao consentir uma redução de 50% sobre os impostos da licença
para caça na França (algo praticado por cerca de 1,2 milhões de
franceses). Outro aspecto estratégico se exemplificou no argumento de
ser necessário a criação de um Estatuto Internacional para Amazônia;
indicação que teve apoio de grande parte dos líderes da União Europeia e
pelo próprio G-7, o que levou a interromper o acordo de livre comércio
entre o MERCOSUL e a UE, tido como pretexto as queimadas e a urgência
por uma tomada de decisão eficiente pelo Governo brasileiro (Gazeta do
Povo, 2019). Esta interrupção permite que França tenha mais tempo para
reorganizar sua situação frente ao acordo, visto que 1,7% do PIB é
voltado para o setor agrícola e o sistema tarifário disposto na proposta
teria impacto direto sobre a economia francesa tanto na importação
quanto exportação (Aicep Portugal Global, 2018, p 5), assim como uma
forma que Macron encontrou para melhorar sua imagem na mídia em relação
às pautas ambientais. Portanto, mais uma vez o sul-global sofre com
interferência por países com maior poder econômico e influência no
sistema internacional.
O Presidente Donald Trump iniciou a saída dos EUA do acordo de Paris,
quanto a redução da emissão de gases, sendo que o país que detém de 4%
da poluição mundial e um dos líderes que apoiam fervorosamente a
produção e consumo de combustíveis fósseis (The Guardian, 2020). Este
advento, por maior que tenha tido certa repercussão internacional, os
constrangimentos sob os norte-americanos não foram os mesmos quanto à
questão da Amazônia. Ademais, a Austrália enfrentou uma das piores
queimadas nos últimos anos, com mais de 10 milhões de hectares queimados
e 28 mortos, devido ao evento chamado Dipolo do Oceano Índico que
provocou uma seca intensa, pouca chuva e temperaturas perto dos 45oC
(BBC, 2020). Mesmo que as queimadas tenham justificativas de cunho
climático (“natural”) – o que o mesmo não ocorre na Amazônia por ser uma
região muito úmida e sofrer com uma agressiva exploração ambiental –
não existiu uma repercussão internacional que culpasse o Governo ou que
evidenciasse uma necessidade de interferência igual na América Latina,
sobretudo, porque interferir nas políticas australianas, estado-unidense
bem como o status da Amazônia, intitularia-se como uma violação ao
princípio de soberania previsto no artigo 3º da Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão (1789) dos países que ali estão estabelecidos.
Não obstante, ao fazer uma análise sobre imagem do Brasil no
exterior, especialmente em relação ao Governo Bolsonaro, os noticiários
intitulam o Presidente como um “líder vingativo” e que apresenta uma
postura “irresponsável e perigosa”, um caráter que influi diretamente
sob as pressões e os constrangimentos internacionais sofridos (BBC,
2020). Pontuações que atribuem fuga de investidores do país, perda de
credibilidade internacional e a ameaça a própria diplomacia brasileira,
principalmente em relação ao MERCOSUL com o realinhamento das política
externa brasileira com a dos Estados Unidos.
Todavia, as ações negligentes e pouco efetivas para conter as
queimadas e a degradação ambiental da Floresta Amazônica e na região
Pantanal são um reflexo não só governamental, mas dos impactos
industriais e dos fazendeiros, como gerados pela agricultura, pecuária e
mineração. “A área desmatada no ano passado na maior floresta tropical
do mundo – 60% da qual está no Brasil – foi estimada em 10 mil
quilômetros quadrados, correspondente aproximadamente ao tamanho do
Líbano” (DW, 2020). Na Amazônia, cerca de 80% do desmatamento é
resultado de ações da pecuária, sendo que em uma escala nacional, a
região norte abarcou 52,5% dos focos de queimadas de 2019, logo em
seguida o cerrado com 30,1% e a Mata Atlântica 10,9%. As queimadas no
Brasil cresceram cerca de 82% em relação a 2018 com mais de 71 mil
focos, sendo o maior número registrado nos últimos 7 anos pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Num panorama mundial, de acordo
com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO), até 40% da população mundial sofrerá com a falta de água e até
2050 esse número subirá para 2/3.
Nesta lógica, as alterações climáticas e o próprio aquecimento global
são resultado direto do consumo desenfreado do ser humano, da produção
em larga escala pelas indústrias, pela falta de responsabilidade dos
líderes mundiais bem como a uma de consciência moral, que fomentará
consequências exorbitantes no futuro com aumento das temperaturas, do
nível do mar, perda de biomas e extinção de espécies e uma ação mais
violenta da natureza como resposta.
O cenário brasileiro vem sendo uma avalanche, com perda de
fiabilidade, protagonismo nas Nações Unidas e principalmente no
MERCOSUL. Atualmente, o Pantanal é a nova vítima, e de acordo com o New
York Times os incêndios por fazendeiros acarretaram perda de 10% da
áreas úmidas do país, sendo que as queimadas na maior planície alagada
do planeta, resultaram em mais de 7 mil milhas, ou seja, 11 mil km de
áreas degradadas de acordo com o estudo feito pela NASA (The New York
Times, 2020, tradução pelo autor).
Nesse sentido, não apenas o Brasil, mas a sociedade internacional
como um todo precisa de fato tomar medidas que recuem esse processo
destrutivo e que saiam apenas das negociações e ratificações de
convenções e tratados para o plano prático e real, sem fazer um análise
segregacionista e muito menos colonial, visto que a longo prazo os
resultados podem ser irreversíveis.
Junio Cesar dos Santos Carmo – Graduado em Geografia com Ênfase
em Geoprocessamento pela Pontifícia Universidade Católica – MG,
Engenharia de Agrimensura e Cartografia pela Faculdade de Engenharia de
Minas Gerais, MBA em Gestão de Pessoas pela Faculdade Pitágoras,
Mestrando em Engenharia de Processos e Sistemas pelo IETEC. Hoje é
Coordenador de regularização fundiária do GVM Advogados.
Gabriel Henrique Alves – Graduado em Relações Internacionais pela
Universidade de Lisboa no Instituto de Ciências Sociais e Políticas
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No âmbito da riquíssima programação da Caravana Virtual CreAcción
Amazônica que está ocorrendo ao longo desta semana (acompanhem no link
geral, abaixo)
Chamo a atenção, em especial, para os depoimentos, breves (5 minutos
ao todo), mas absolutamente certeiros, de Antônio Donato Nobre e de
Luciana Gatti, ambos do INPE, sobre os impactos da perda dos serviços
ecossistêmicos da floresta amazônica decorrentes de sua destruição pelo
desmatamento e pelo fogo. Eis o link deste depoimento:
A mensagem é inequívoca: da manutenção da floresta amazônica depende a
viabilidade da sociedade brasileira. Somos existencialmente dependentes
da floresta, como sociedade e, em última instância, como espécie. Ainda
está em nossas mãos impedir que o (des)governo Bolsonaro destrua nosso
patrimônio natural e as condições de possibilidade de nossa sociedade.
Temos que reagir ou será tarde demais!
Dada a importância crucial para todos nós de deter a galopante
degradação em curso da floresta amazônica (mas também do Cerrado, do
Pantanal e da Caatinga), peço que passem adiante esse alerta (melhor
seria chamar ultimato) da ciência.
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Biomas terrestres brasileiros perderam cerca de 500 mil km² de sua cobertura natural entre 2000 e 2018.
Em números absolutos, a maior perda neste período aconteceu no bioma
Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²), mas, em
termos percentuais, o Pampa foi o que mais perdeu área natural, -16,8%.
A cobertura florestal representava 81,9% da área total da Amazônia
em 2000, proporção que se reduziu para 75,7% em 2018. Essa área foi
substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo, que
passaram de 248,8 mil km² para 426,4 mil km² nesse período.
Entre 2000 e 2018, o Pantanal teve as menores perdas, em área (-2,1
mil km²) e em percentual (-1,6%), mas desde 2010, cerca de 60% das
mudanças foram de áreas naturais campestres para pastagem com manejo.
A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa,
conservava apenas 16,6% de suas áreas naturais, em 2018, o menor
percentual entre os biomas.
Todos os biomas brasileiros tiveram saldo negativo, mas a tendência
nacional foi de diminuição da magnitude ao longo dos anos, com exceção
do Pampa e do Pantanal.
A pesquisadora da Diretoria de Geociências do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), Maria Luíza Fonseca, disse que a
atividade agropecuária ocupa considerável extensão de terra no Bioma
Amazônia, mas não tem expressividade no valor da produção nacional.
Segundo ela a atividade está em expansão ao longo da série histórica
da pesquisa Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018). O
levantamento foi divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Entre 2016 e 2017, o setor agropecuário cresceu em volume de Produto
Interno Bruto (PIB) cerca de 14% e, na Região Norte, esse crescimento
foi negativo.
“Sabemos que a Região Norte e o Bioma Amazônia não têm limites
conscientes, contudo é o limite do sistema de contas regionais que mais
se aproxima dele. Os estados do Pará, de Rondônia e Mato Grosso são
exceções desse quadro e têm variações positivas, disse Maria Luíza,
lembrando que Mato Grosso é um estado limítrofe entre a Amazônia e o
Cerrado e divide a sua extensão territorial entre os dois biomas”.
Conforme os dados da pesquisa do IBGE, o Bioma Cerrado, o segundo do
Brasil em número de alterações decorrentes do avanço de usos antrópicos
compondo a frente de expansão da fronteira agrícola, é considerado um
dos maiores concentradores mundiais da biodiversidade, abrigando as
maiores bacias hidrográficas da América do Sul. A maior conversão nesse
bioma é a expansão contínua e acelerada da agricultura, com acréscimo de
102.603 km² tanto sobre as áreas naturais quanto para a conversão de
áreas de manejo em área agrícola.
Maria Luíza afirmou que o Bioma Mata Atlântica é um dos mais
ameaçados do planeta e onde se concentram, no Brasil, diversos projetos
socioambientais. “O destaque nesse bioma é que ele é o único terrestre
em que a classe predominante não é cobertura natural. Em 2018 apenas
12,6% do seu território eram cobertos por florestas”.
Na Caatinga, considerada área suscetível à desertificação, existem
muitas espécies endêmicas que só ocorrem lá, sensíveis do ponto de vista
ambiental. Nesse bioma, a característica de ocupação do território é de
pequenos estabelecimentos rurais e sistemas agroflorestais. A área
agrícola teve aumento de 74,9%, expandindo-se sobre áreas naturais,
sendo apenas 2,5% convertidos em pastagem com manejo.
No Bioma Pampa predominam os campos e, em 2018, 37,4% eram de
vegetação campestre, seguida pela classe de área agrícola (36,3%), além
de 19,3% da área natural descoberta do Brasil.
O Bioma Pantanal, apesar de ser em expansão territorial o menor do
Brasil, está entre as maiores extensões úmidas do planeta. Segundo a
pesquisadora, a predominância investigada entre 2000 e 2018 nesse bioma,
é uma conversão de vegetação campestre, ou seja, o pasto nativo, em que
59,9% das alterações correspondem em pastagem por manejo. “O Pantanal
tem como atividade tradicional o pasto nativo, mas ele vem sendo
substituído pela pastagem por manejo, por meio da substituição por
forrageiras exóticas, ou seja, gramíneas que não são originais do
Pantanal”, observou.
Maria Luíza informou ainda que a pesquisa não trata das causas das
mudanças, mas avalia as conversões. “Por exemplo, no Pantanal a gente
observou que houve alguma substituição do pasto nativo pelo pasto com
manejo. Inclusive a atividade econômica predominante, a pecuária, é
mantida, mas com outras formas e outras técnicas pecuaristas. Então, a
gente identifica essa mudança”.
Para a pesquisadora, existe grande parte de benefícios gerados pela
natureza, chamados de serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos,
que não são capturados pelos sistemas de contas nacionais, porque não
constituem um processo econômico de produção. Contudo, os serviços
alimentam diversas atividades de consumo de produção e estão em função
da extensão da condição do ecossistema.
“Por fim, vão gerar benefícios que fazem parte do bem-estar social e
individual. O desafio dessa metodologia é conseguir identificar,
mapeando os ecossistemas e os serviços. Para isso, são sugeridas algumas
etapas metodológicas, que são divididas em termos físicos e análises em
termos econômicos”, observou.
Maria Luíza disse ainda que a primeira etapa para cumprimento dessa
metodologia é analisar a extensão dos ecossistemas, ou seja, o estoque
que o capital natural tem e, no segundo momento, a condição dele para,
então, serem atribuídos os valores de uso ou de não uso que os serviços
ecossistêmicos representam na contabilidade.
As Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018) integram a
pesquisa Contas de Ecossistemas no Brasil e fazem parte de um projeto
que segue as recomendações da ONU para a inclusão das variáveis
ambientais nas Contas Nacionais. A publicação retrata a extensão das
áreas naturais e antropizadas do Brasil nos seis biomas do território.
Por Cristina Índio do Brasil da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020
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Biomas brasileiros perderam 8,34% das áreas naturais entre 2000 e 2018
Entre 2000 e 2018 todos os biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga,
Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa – tiveram saldo negativo em
números absolutos (489.877 km²) das áreas naturais, o que representa
menos 8,34%, mas a perda diminuiu de magnitude ao longo desses anos.
A maior desaceleração ocorreu no Bioma Mata Atlântica que saiu de uma
perda de 8.793 km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e
2018. Apesar disso, a Mata Atlântica, onde há a ocupação mais antiga e
intensa, conserva apenas 16,6% de suas áreas naturais. Esse é o menor
percentual entre os biomas.
Os biomas Amazônia e Cerrado concentraram os maiores quantitativos
absolutos de redução de áreas naturais. A maior perda foi do bioma
Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²).
As menores quedas de áreas naturais, tanto em termos absolutos (2.109
km²) quanto percentuais (1,6%), foram no Pantanal. Já a maior perda
percentual ocorreu no Bioma Pampa, onde 16,8% de sua área natural, de
2000 a 2018, foram convertidos em usos antrópicos – quando há a ação do
ser humano em atividades sociais, econômicas e culturais sobre o meio
ambiente.
Os dados fazem parte da Edição inaugural das Contas de Ecossistemas:
Extensão por Biomas (2000-2018), divulgada hoje (24) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Levantamento apresenta os
resultados, em termos gerais, do estado de conservação dos ecossistemas
no ambiente terrestre brasileiro.
A pesquisa indicou que entre 2000 e 2018, a Amazônia perdeu quase 8%
de sua cobertura florestal, que foi substituída, principalmente, por
áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km², em 2000,
para 426,4 mil km² da Amazônia, em 2018.
A pesquisadora da Diretoria de Geociências do IBGE, Maria Luíza da
Fonseca, informou que os biomas Pampa e Pantanal apresentaram o
indicador de intensidade de mudança com proporções bastante superiores
aos demais do território nacional. “No Pantanal temos 75,3% das
alterações realizadas, consideradas desde alterações intensas, que têm o
indicador 3, o mais elevado. O mesmo acontece com o Bioma Pampa, com
cerca de 60% de alterações bastante intensas. O indicador de valor 3
retrata uma conversão de uso que era natural e passou diretamente ao
antrópico intenso. No Pampa, sobretudo na área agrícola, e no Pantanal
prevaleceu a pastagem por manejo”, afirmou.
A Mata Atlântica (7,96%) e Caatinga (7,44%) tiveram as menores
transformações do espaço brasileiro e os maiores decréscimos nas
supressões de áreas naturais. “Dentro de um cenário nacional, podemos
ver que tanto a Mata Atlântica quanto a Caatinga foram as que, no último
biênio analisado (2016/2018), tiveram o maior decréscimo. Elas mostram,
ao longo de toda a série histórica (2000/2018), a maior desaceleração
dessas perdas”, disse, acrescentando que essas áreas naturais dizem
respeito às vegetações florestal e campestre, às áreas úmidas e
descobertas, consideradas vegetação nativa sem interferência antrópica.
Amazônia – Valter Campanato/Agência Brasil
“A perda de áreas naturais ocorre de formas diversas. Nem essa
pesquisa e nem o monitoramento trata das causas desses fenômenos. Ou
seja, se foram por meio de ação antrópica ou por causa dos próprios
fenômenos da natureza. As pesquisas do IBGE ainda não trazem esse
detalhamento de causas”, disse.
Áreas naturais florestais
Maria Luíza destacou que o mapa de concentração das áreas naturais
florestais contínuas, referente a 2018, mostra a maior parte no Bioma
Amazônia e um avanço de maneira clara do arco do desmatamento, que em
2000 era mais restrito ao limite do Bioma Cerrado e hoje apresenta uma
interiorização por meio das estradas e dos cursos de rios. Em
contraposição, o segundo Bioma mais florestal é o da Mata Atlântica
onde, atualmente, se vê poucos remanescentes de vegetação, com alta
fragmentação ao longo do litoral.
Formações campestres
O Cerrado tem o maior grau de interferência antrópica nas formações
campestres florestais, sobretudo no Centro-Sul, onde avançam as
atividades agropecuárias. Ainda em 2018, o Pantanal era o mais
preservado, com pontual interferência antrópica na borda leste do bioma.
“É claro que ele também sofre influência do Bioma Cerrado no limite,
porque a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, que abastece o Pantanal,
não respeita o limite dos biomas, então, a produção de água e sedimentos
do Cerrado chega também ao Pantanal”, acrescentou.
A pesquisadora disse que o impacto das queimadas que têm ocorrido no
Pantanal só será verificado no próximo ano de referência (2020) do
Projeto de Monitoramento de Cobertura do Uso da Terra, que fará parte da
edição seguinte, prevista para ser divulgada em 2022. “A supressão de
áreas naturais que ocorrer no Pantanal, de acordo com esse fenômeno que
estamos vendo agora, provavelmente será detectada no próximo ano
referência”, afirmou.
No Pampa, as formações campestres seguem o padrão de ocupação nos
planaltos, área propícia à expansão da atividade agrícola, e na Caatinga
há a antropização nas depressões orientais sertanejas que fazem limite
com a Mata Atlântica.
Metodologia
A metodologia atual da pesquisa também não faz avaliação do impacto
econômico direto das conversões com as Contas Nacionais, especificamente
com o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com a coordenadora de
Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, os ativos ambientais, por
enquanto, estão fora da fronteira das contas nacionais em grande parte,
mas a Organização das Nações Unidas (ONU) já propôs essa inclusão, que
está sendo analisada pelos países para assegurar um conceito mundial.
“Ainda não existe integração entre as duas coisas, o que existe são
indicadores auxiliares, para ver como também o meio ambiente pode ser
levado em consideração em políticas públicas e, além de olhar a evolução
da economia, olhar o que está acontecendo no meio ambiente com essa
evolução”, informou.
Tudo isso, segundo Rebeca, é discutido internacionalmente e está
prevista uma revisão do próprio manual internacional de contas
nacionais. “Há toda uma discussão de como seria possível integrar cada
vez mais o meio ambiente nessa contabilização. Esse é um primeiro passo,
até internacional, que a gente também está seguindo: mostrar também,
junto com a evolução da economia, o que está ocorrendo com o meio
ambiente”, completou.
Por Cristina Índio do Brasil da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020
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Serão entre 30 e 36 horas de viagem. A elefanta Bambi
será colocada dentro de uma gigantesca caixa especial, que sobre um
caminhão, percorrerá 1.270 km, entre Ribeirão Preto e a Chapada dos
Guimarães, no Mato Grosso. A fêmea, de 58 anos, se juntará às outras
quatro moradoras do Santuário de Elefantes Brasil: Lady, Maia, Mara e Rana.
A história desta elefanta é parecida com a de outros milhares de
animais do mundo inteiro, explorados em circos e parques. Em 2009, Bambi
foi encontrada em Limeira, no interior de São Paulo, com uma pata
acorrentada, cercada por cercas elétricas. Ela estava com uma pessoa que
não possuia autorização do IBAMA para mantê-la.
Bambi foi então transferida para um zoológico, mas o espaço em que
ela ficava era muito pequeno. Em 2014, uma nova transferência e a
elefante foi levada para o Bosque e Zoológico Fábio Barreto, em Ribeirão
Preto, também em São Paulo.
Infelizmente, ela e a outra elefanta que vivia no local não se davam
bem e o espaço entre as duas precisou ser dividido, assim Bambi também
perdeu parte da área que tinha disponível e ficou com apenas 750 metros
quadrados, obviamente muito pouco para um bicho de seu tamanho.
No último dia 18 de agosto, o Tribunal de Justiça de São
Paulo autorizou a transferência de Bambi para o Santuário de Elefantes
Brasil.
A elefanta precisou passar por um período de ambientação para poder ficar à vontade dentro da caixa.
“Depois de observarmos o conforto crescente de Bambi nos últimos
dias, nós a fechamos brevemente na caixa de transporte para começar a
ambientá-la à caixa fechada que a transportará para sua nova vida no
Santuário de Elefantes Brasil. Frequentemente, para elefantes com
tamanho trauma, um passo à frente resultou em alguns passos para trás.
Ela recuou para o canto de trás de sua baia e teve medo de sair. Depois
de algumas horas, sua confiança começou a voltar e a ela voltou a pisar
em sua caixa novamente. Estamos extremamente orgulhosos de sua coragem”,
escreveu o santuário em suas páginas nas redes sociais.
Bambi, entrando no compartimento feito para sua viagem
Os futuros cuidadores de Bambi sabem que ela precisará de muita
atenção e paciência. Perdeu muito peso e massa muscular nos últimos
meses e já tem uma idade avançada. Não enxerga com um dos olhos. “Sua
idade pressupõe cuidados para o resto da vida, sendo crucial que
priorizemos todo o conforto possível por todo o tempo que viver”, dizem
os administradores do santuário.
Os veterinários esperam que alguns ajustes na dieta e nos exercícios tragam grandes benefícios para a elefanta.
“Todos os que acompanharam nossos resgates anteriores já sabem:
autonomia, cuidados individualizados, respeito e a ajuda de outros
membros da manada, são essenciais para a cura da alma de um elefante…
Ela é uma pequena e linda vovozinha, que certamente florescerá no vasto
espaço natural do santuário, com a companhia de outras de sua espécie”.
Santuário de Elefantes Brasil
Situado a cerca de uma hora do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, o santuário de elefantes brasileiro é o sexto do mundo e primeiro da América Latina. Com 1.100 hectares, é fruto da parceria de duas organizações internacionais – a Global Sanctuary for Elephants (GSE), do Tenessee, nos Estados Unidos, e a ElephantVoices – ambas dirigidas por renomados especialistas.
A iniciativa se deve também à paixão por elefantes de uma brasileira,
Junia Machado. Ela representa a ElephantVoices no Brasil e se uniu à
Scott Blaiss – que tem mais de 20 anos de experiência no manejo de
elefantes africanos e asiáticos em zoos, circos e em santuários e é o
fundador da GSE – para tocar o projeto.
A reserva não é aberta ao público, pois não é um zoológico. Ela tem
como única missão proteger, resgatar e prover um santuário de ambiente
natural para elefantes em cativeiro
Se você quer contribuir com este trabalho sensacional, é possível fazer uma doação. Acessa aqui a página do SEB e veja como ajudar.
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Como mostramos aqui no começo da semana, dezenas de profissionais tentaram correr contra o tempo para salvar centenas de baleias encalhadas na costa da Austrália.
Inicialmente acreditava-se que eram 270 animais, que ficaram presos nos
bancos de areia de Macquarie Harbour, uma enseada de águas rasas, na
costa da ilha da Tasmânia.
As baleias encontradas são piloto (Globicephala), uma espécie do grupo dos golfinhos, que podem chegar a ter mais de 7 metros de comprimento e pesar até 3 toneladas.
Encalhes não são incomuns nessa região da Austrália. Mas nunca antes
se viu um bando tão grande delas. Em 2009, quase 200 ficaram presas
nessa mesma área.
As baleias-piloto encalhadas na baía australiana
Infelizmente apesar de todos os esforços feitos nos últimos três dias, segundo comunicado do Governo da Tasmânia divulgado hoje,
as equipes de resgate conseguiram levar 88 baleias de volta a alto mar,
mas outras 380 já estão mortas. Ainda há algumas vivas.
Além disso, depois de um sobrevoo mais ao sul da região, a cerca de
dez quilômetros da baía, foi avistado um outro grupo encalhado, com mais
200 baleias. Com isso, o número total de animais é de aproximadamente
450.
“Do ar, a maioria das baleias adicionais detectadas parecem mortas,
mas um barco foi até lá esta manhã para fazer uma avaliação da água ”,
disse Nic Deka, gerente da área de controle de incidentes do Serviço de
Parques e Vida Selvagem da Tasmânia. “Nosso foco está com aqueles
animais que ainda estão vivos. A mortalidade aumentou, mas há um
significativo número que está vivo, então vamos continuar a trabalhar
com eles”.
A equipe conta com 60 profissionais, entre biólogos, veterinários e
voluntários, que têm se revezado incansavelmente dia e noite, dentro da
água fria, para salvar o maior número de cetáceos possível.
Uma segunda preocupação agora é como será feita a remoção dos corpos das baleias mortas, que não poderão ficar no local.
Número de mortes já chega a 380
A princípio, os biólogos acreditam que o encalhe foi natural. A
espécie é mais suscetível a esse tipo de acidente porque vive em grandes
grupos, coesos, e sempre segue um líder – a matriarca. Caso ela se
perca ou rume a águas superficiais, todas têm o mesmo destino.
Baleias-pilotos podem ser observadas no mundo todo, em regiões
tropicais à temperadas quentes, sobretudo, em alto mar e ilhas
insulares, em águas de grande profundidade, com o o caso de Fernando de
Noronha, no Brasil.
Esses cetáceos são carnívoros, alimentando-se principalmente de
lulas, mas também comem polvos e peixes. As baleias-pilotos vivem, em
média, 60 anos.
Trabalho de resgate já passa de 72 horas
*Texto alterado em 24/09/20, às 10h, para atualização de números
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.