Midia Sem Máscara
Escrito por Hermes Rodrigues Nery
| 13 Junho 2015
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Aborto
Por
isso os meios de comunicação de massa e as escolas [não só públicas]
fazem todo um trabalho de colonização das consciências [é a doutrinação
ideológica] para que haja uma aceitação da cultura da morte, sem que as
pessoas se dêem conta de que estão sendo manipuladas e agindo contra o
que naturalmente elas jamais fariam se não estivessem
sendo condicionadas culturalmente a isso.
Exmo.
Sr. Senador Paulo Paim, presidente da Comissão de Direitos Humanos do
Senado Federal, Profª. Fernanda Takitani, Dr. Gollop, Dra. Lenise
Garcia, membros da mesa, e demais presentes.
Estando de volta a
esta Casa Legislativa, novamente no Senado, para, mais uma vez, fazer a
defesa da vida desde a concepção, que é o propósito do Movimento
Legislação e Vida1, da Diocese de Taubaté, fundado por nosso Bispo Dom Carmo João Rhoden, e que há dez anos2,
junto com outras entidades e grupos, especialmente a Associação
Nacional Pró-Vida e Pró-Família, que aqui representamos nesta audiência
pública, inúmeras vezes vindo ao Congresso Nacional para trazer
informações aos parlamentares, exortando-os a decidirem em favor da vida
e da família3, cujo combate pela vida tem se intensificado a cada dia, conforme S. João Paulo II expos na sua memorável encíclica Evangelium Vitae,
dizendo que há um combate de mentalidades, cujo drama tem se agudizado
em nossos dias, um conflito entre a cultura da morte e a cultura da
vida.
"Existe uma crise profunda da cultura"4, uma "conjura contra a vida"5,
com circunstâncias dramáticas e terrificantes, que "tornam por vezes
exigentes até o heroísmo as opções de defesa e promoção da vida"6. A
vida humana tem um valor sagrado, que deve ser respeitado e
salvaguardado, em todas as circunstâncias, desde a concepção até a morte
natural. A questão do aborto é a ponta do iceberg. Sabemos que há um
holocausto silencioso, vitimando milhares de seres humanos, a cada dia,
em todas as partes do planeta, vidas ceifadas ainda no ventre materno,
do modo mais cruento e doloroso, pois o inimigo de Deus tem sede do
sangue inocente.
"Estamos todos na realidade presos pelas potências que de um modo anônimo nos manipulam"7, afirmou Bento XVI. Estas potências que atuam "de modo anônimo"8 tem expressão nos centros privados do poder e em grandes fundações internacionais9,
na vasta rede de OnG's feministas que defendem os direitos sexuais e
reprodutivos, em agências da ONU, e em tantos governos locais, como
aqui, o governo brasileiro, cumprindo a agenda desses organismos, a
agenda antinatalista e antifamília do Foro de São Paulo, dos partidos
políticos de esquerda, especialmente o PT, que expulsou dois
parlamentares deste Congresso Nacional, Luiz Bassuma10 e Henrique Afonso, por não aceitarem essa ideologia inumana e terem sido a voz dos nascituros indefesos, nesta Casa de Leis.
Sr. Presidente,
Na Câmara dos Deputados, quando aqui estive, em dezembro de 201311,
disse que as fundações internacionais usam as ONGs para seus fins, da
forma mais pragmática. Fazem isso aqui no Brasil: agências da ONU, a
Fundação MacArthur, a Fundação Ford, a lista é enorme,
fazem ingerência em nosso País, e o governo brasileiro apoia e repassa
recursos para essas Ongs, sob a orientação da Secretaria de Políticas
para as Mulheres, recursos para os fins de aborto e tudo mais. E mais
uma vez afirmamos que isso deve ser motivo de se abrir a CPI do Aborto,
para ver quem estão sendo beneficiados, quem estão recebendo para
trabalhar contra a população brasileira.
Tudo isso tem uma
história bem documentada, mas ainda conhecida por poucos. Trata-se de um
processo por etapas. Primeiramente, desde os anos 50, o período do
chamado "planejamento familiar", "um eufemismo de anticoncepcionismo"12,
com programas gestados em países desenvolvidos, nos centros privados de
estudo e pesquisa sobre demografia e população. Depois, essa fase foi
superada para introduzir uma nova estratégia que chegou aos dias de
hoje, com a chamada ideologia de gênero, o "conceito-chave da reengenharia social e anti-cristã para subverter o conceito de família"13.
Importante lembrar aqui uma publicação na revista Science14,
em novembro de 1967, de Kingsley Davis, [diretor do Centro
Internacional de Pesquisas Populacionais e Urbanas, da Universidade da
Califórnia, em Berkeley], que chamou a atenção para uma nova estratégia
muito mais sutil e sofisticada, para a eficácia da cultura da morte e
para que o aborto acabasse sendo aceito com menos resistência como o
meio mais eficaz de controle populacional. E para isso, seria preciso
"descontruir a linguagem, os relacionamentos familiares, a reprodução, a
sexualidade, a educação, a religião e a cultura, entre outros"15.
Para ele, “a técnica de limitação demográfica concentrada no
fornecimento de anticoncepcionais com programas patrocinados pelos
organismos de saúde pública”16, não seria eficiente, para "influir na maioria dos determinantes da reprodução humana"17.
O neomalthusianismo, que está aí até hoje na agenda de gênero e do
ecologismo da ONU, aparece também em Davis, quando se refere às metas de
"crescimento zero como objetivo final"18 com a ideia de que "qualquer ritmo de crescimento, se contínuo, acabará por esgotar a terra”19.
Isso é uma falácia. Para Davis, naquela época, o controle demográfico
era ainda "inaceitável para a maioria das nações a para a maioria das
comunidades religiosas e atinentes.”20 Então, como fazer para
viabilizar o controle no "tamanho da família", para que os "casais em
seu próprio interesse controlem automaticamente a população em benefício
da sociedade"21, na ótica da referida agenda?
O insight de
Davis então foi captado, e a partir dos anos 70-80, mais ainda nos anos
90, depois das grandes conferências internacionais da ONU, se tornou
esse movimento cultural e político global, com força econômica e
tecnológica, para pressionar governos e instituições, pelo desmonte da
família. As ideias de Davis foram operacionalizadas pela Fundação Ford, a
partir do documento “Saúde Reprodutiva: Uma Estratégia para os anos 90”22. A própria IPPF acatou “as ideias básicas contidas no trabalho de Kingsley Davis23,
e depois, "a orientação geral de todas as agências envolvidas com
planejamento familiar, demografia e aborto passaram a seguir cada vez
mais ostensivamente as linhas gerais das recomendações”24 de Kingsley Davis.
Seria preciso - para ele - então influir na consciência, manipular as
consciências, colonizá-las ideologicamente, neutralizando as
resistências a esta agenda, que insiste no “aborto provocado”25 como “um dos meios mais seguros de controlar a reprodução"26
e garantir não apenas a redução dos índices de natalidade, como também a
pulverização e atomização da própria estrutura familiar. Foi então
preciso responder à questão: "porque as mulheres desejam tantos filhos e
como se pode influir sobre este desejo?”27 Isso não era só
“uma questão tecnológica. A tarefa do controle populacional então se
torna simplesmente a invenção de um instrumento que seja aceitável”28.
Então, sr. presidente, a cultura da morte passou a ser também uma
política de educação. Foi a partir de Davis, que Adrianne Germain, sua
aluna, percebeu que era preciso uma estratégia de longo prazo, a partir
da educação: “Nenhuma compulsão poderá ser usada, porque o movimento
está comprometido com a livre escolha, porém filmes sobre sexo, posters,
histórias em quadrinhos, conferências públicas, entrevistas e
discussões são permitidos. Estes proporcionam informações e
supostamente modificam os valores”29. Aí está a crise
profunda da cultura, o combate de mentalidades, que a questão do aborto
está inserida. “Considera-se que o esforço foi coroado de êxito quando a
mulher decide que deseja apenas um determinado número de filhos e
emprega um anticonceptivo efetivo”30.
Por isso os meios de
comunicação de massa e as escolas [não só públicas] fazem todo um
trabalho de colonização das consciências [é a doutrinação ideológica]
para que haja uma aceitação da cultura da morte, sem que as pessoas se
dêem conta de que estão sendo manipuladas e agindo contra o
que naturalmente elas jamais fariam se não estivessem
sendo condicionadas culturalmente a isso.
E para tais objetivos, tais
ideologias visam mesmo “controle de seres humanos"31, daí a
nova forma de totalitarismo. Foi o que sugeriu Kingsley Davis: “Mudanças
suficientemente básicas para afetar a motivação de ter filhos seriam
mudanças na estrutura da família, no papel das mulheres e nas normas
sexuais”32. É preciso o "controle da motivação pela sociedade"33,
para que o aborto pudesse ser praticado sem remorsos de consciência. E
fazem tudo isso também com várias retóricas, que fazem parte dessa
agenda, por exemplo, também a da defesa ambiental, da paz e dos diretos
humanos, pois “o mandamento ecologista de controlar a natalidade para
salvar o planeta”34 é “próprio do paradigma do desenvolvimento sustentável”35.
Ora, "não é o assassinato de milhões de inocentes o maior ataque à paz e aos direitos humanos?"36 Esta
cultura da morte é a perversão dos próprios direitos humanos, pois o
primeiro e principal de todos os direitos humanos é o direito à vida,
desde a concepção.
E agora, essas agências da ONU, com estas
ideologias, estão, fazendo pressão, cada vez mais, promovendo eventos, a
própria UNESCO, a Religions for Peace, a Aliança de Civilizações, todos
juntos fazendo pressão, também junto à Igreja, intensificando os
esforços por esta agenda. O Al Gore, por exemplo, “propôs um
rigoroso controle de natalidade em nível mundial, sob o pretexto de
preservar os recursos do planeta”37.
A Organização inglesa
Optimum Population Trust propôs “universalizar o controle obrigatório da
população, dizendo: 'a cada sete dólares em anticoncepcional evita-se a
emissão de uma tonelada de CO2.”38 Outra grande falácia! E
tudo isso com a retórica de combater a pobreza, quando, na realidade,
sr. Presidente, querem é combater os pobres, especialmente dos países
subdesenvolvidos e condená-los ao subdesenvolvimento. Pois essas
agencias da ONU estão, de todas as formas, em todas as partes, até aonde
não deviam estar, investindo pesado e pressionando para que a moral
cristã seja flexibilizada, para não haver mais nenhuma resistência a
este projeto de “reengenharia anti-cristã da sociedade”39.
E aí, para concluir esta minha colocação, sr. Presidente, demais
membros da mesa, quero lembrar também da situação dos países
desenvolvidos que adotaram essa agenda, e que hoje o movimento lá fora é
muito grande por buscar reverter as legislações abortistas, pelos
efeitos perversos [desumanos e de desagregação social], de uma agenda
que comprovadamente não garante desenvolvimento [humano e social], pelo
contrário, a crise atual dos Estados Unidos (que legalizou o aborto em
1973) e da Europa, e mesmo do Japão (em que o aborto é legalizado desde
1949) e de tantos outros países desenvolvidos, mostra o equívoco desta
agenda que aceita o aborto como estratégia de controle populacional [o
aborto químico, a pílula abortiva, tudo isso que é terrível, por
cometer o assassinato de seres humanos inocentes e indefesos, e também
de causar danos à saúde da mulher, principalmente pobre e negra, de
violentá-la enquanto pessoa humana], estratégia essa de liquidação da
família, e que nós temos o dever de rechaçar, pois a família é a
primeira e principal instituição humana.
E mais: a ideologia
laicista, que visa minar a moral cristã, está impregnada na agenda das
agências da ONU, das Fundações internacionais e das forças políticas do
internacionalismo de esquerda. E tais organismos e grupos sabem da força
civilizatória do cristianismo, do cristianismo como promotor da
liberdade, da liberdade com responsabilidade e compromisso com a vida,
do cristianismo como força promotora do verdadeiro desenvolvimento
humano e social, que começa na estrutura natural da família, constituída
por homem e mulher, aberta à fecundidade.
É o que reconhece os mais
sérios especialistas da atualidade, que dizem: “é na erosão do casamento
e da família, afirma o Dr. Mitch Peralstein, que está a raiz do
declínio do desempenho educacional e econômico das crianças
norte-americanas criadas em famílias desestruturadas”40,
principalmente nas famílias monoparentais. “Pearlstein argumenta que
a fragmentação da família não só inibe o crescimento normal e a educação
das crianças, mas também tem um efeito deletério sobre a economia em
geral”41.
Ou ainda em “Family Structure and Income Inequality
in Families with Children: 1976 to 2000”, publicada na revista
"Demography", em 2006, Molly A. Martin “estima que 41% da desigualdade
econômica entre 1976-2000 foi decorrente da alteração da estrutura
familiar”42. Portanto esta agenda antinatalista e antifamília não são promotoras do desenvolvimento humano e social.
O que fazer diante disso?
Há muitas iniciativas que podem e devem ser feitas, principalmente no
campo da educação, em todos os níveis, para vencermos a batalha em
favor da vida e da família; mas no campo legislativo, temos o Estatuto
do Nascituro em tramitação, e outros projetos de lei nesse sentido,
estivemos aqui e apresentamos ao senador Magno Malta, que através da
Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, possa encaminhar
a PEC pela Vida, para que nós possamos resistir à cultura da morte,
afirmando a cultura da vida, explicitando no texto constitucional, no
art. 5º da Constituição Federal, a inviolabilidade da vida humana, desde
a concepção.
A exemplo do que já fez a Hungria43, e vários
estados do México, alguns até dos EUA e outros, temos esperança de ver
aprovada a PEC pela VIDA em nossa Carta Magna, porque o ser humano já é
pessoa e já possui dignidade, desde o primeiro instante, com a
concepção. Podemos vencer a cultura da morte e afirmar a cultura da
vida, a partir dessa decisão, nesta Casa de Leis. Por isso, caro
Senador, pode ter a certeza de que “uma das tarefas mais nobres”44,
em meio aos tantos desafios de hoje, “consiste em permanecer
firmemente ao lado da vida, encorajando aqueles que a defendem e
edificando com eles uma verdadeira cultura da vida”45.
Muito obrigado!
Este foi o pronunciamento do prof. Hermes Rodrigues Nery,
diretor da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família e coordenador do
Movimento Legislação e Vida, no Senado Federal, sobre a questão do
aborto, em audiência pública, realizada na Comissão de Direitos Humanos,
em 28 de maio de 2015. Clique aqui para assistir no YouTube.