segunda-feira, 22 de maio de 2017

Denúncia: Indígenas, Missionários e Servidores da Saúde são atacados por piratas no rio Japurá, AM



denúncia

O indígena José Sales de Oliveira, do povo Mayoruna, juntamente com outros três ocupantes de uma pequena embarcação, foram atacados e espancados por seis homens fortemente armados. José Sales é morador da aldeia Marajaí, do município de Alvarães (AM), distante 531 quilômetros de Manaus.



O fato aconteceu na última sexta-feira, 12/05, no rio Japurá, região do Médio Solimões no Estado do Amazonas. Um barco com motor de 15HP foi tomado no assalto. No mesmo dia, pela manhã, um grupo de servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena (DESI) havia sido atacado na altura da comunidade Nova Esperança, quando estava em deslocamento para atendimento às comunidades indígenas da região.



O mesmo bando chegou a perseguir Nelma Castilho de Oliveira e Edvarde Bezerra Júnior, membros do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, após a saída destes da aldeia São Pedro. “Vivemos horas de terror”, relatou o enfermeiro Everaldo Almeida dos Santos, do Polo-base Cuiu-cuiu. Além de Everaldo, a equipe de saúde era formada pelos técnicos de enfermagem Edvaldo Cavalcante Praia, Givanildo Barbosa Rodrigues e pelo motorista fluvial Ludgelson Cavalcante Ribeiro. Segundo relato das vítimas, o bando armado se apresentou como agentes da Polícia Federal. Os servidores do DSEI ficaram durante algum tempo com armas apontadas em suas cabeças.



 Os bandidos levaram das vítimas uma pequena quantia em dinheiro. Everaldo, aparentemente muito abalado, contou as ameaças que sofreram e explicou que sem segurança está impossível continuar o trabalho. Para isso, a equipe reivindica mais atenção da DSEI: “Nós ficamos expostos aos bandidos, pois eles nos conhecem, viram nossos rostos e prometeram estourar nossas cabeças. Solicitamos à Coordenação do DSEI mais segurança. Com risco eminente de vida será impossível permanecermos no mesmo polo base”.



Cerca de uma hora depois do ataque à equipe de saúde, os missionários do CIMI Tefé saíram da aldeia São Pedro. Com dez minutos de viagem, eles avistaram o bando armado saindo da ilha e partindo em sua direção. “Depois de percebermos que eram os bandidos, retornamos à aldeia”, disse Edvarde Bezerra.


Tanto a equipe do DSEI quanto os missionários registraram ocorrência na Delegacia de Polícia da cidade de Tefé. Na Polícia Federal, os servidores do DSEI foram orientados a relatar minuciosamente o ocorrido para que o fato fosse comunicado à Superintendência da Polícia Federal em Manaus. Os agentes da PF em Tefé disseram que não iriam ao local do ocorrido porque não houve danos ao patrimônio da União.


De acordo com registros da Policia Federal da cidade de Tefé, casos desse tipo têm aumentado na região. “Está ficando mais perigoso. Essa região está descoberta, não tem vigilância fluvial na área”, disse o agente Almeida da Policia Federal, coordenador local do posto da PF, onde estão lotados apenas três agentes para prestar assistência na região do Médio Solimões, formada por oito municípios.


Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Regional Norte I (AM/RR)
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/05/2017

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Homicídios de ambientalistas na América Latina chegam a 122, denuncia jornal do Vaticano; o Brasil é o país mais perigoso




IHU
Pode-se morrer de clima, e não apenas por causa da poluição. Os ativistas que defendem o ambiente, muitas vezes comprometidos com o combate de interesses que os dominam, arriscam a vida. Em 2015, foram assassinados 185 no mundo, 122 deles na América Latina.
A reportagem é do jornal L’Osservatore Romano, 17-05-2017. A tradução é de Moisés 

Sbardelotto.
Quem divulgou os dados foi a organização internacional Global Witness, que, em 10 anos, documentou 1.176 assassinatos de militantes ecologistas em todo o mundo.


Aqueles que lutam pelo respeito do nosso planeta – denuncia a Global Witness – muitas vezes não gozam de qualquer tipo de proteção, nem midiática nem de segurança, e também atacam interesses de grupos muito poderosos, lobbies e multinacionais, ou do crime organizado.



Na América Latina, o Brasil é o país mais perigoso para os ativistas. Os atingidos são os militantes envolvidos nas negociações nos grandes projetos de infraestrutura e os índios que lutam pelo respeito das suas terras.


Os autores do relatório apontam que, muitas vezes, as investigações sobre os homicídios são muito superficiais e só chegam a afetar, no melhor dos casos, o autor material do assassinato, e não aqueles que estão por trás, os mandantes.


(EcoDebate, 22/05/2017) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.


[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

A Terra com ‘pressão alta’ e hipertermia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves



“É triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”. Victor Hugo (1802-1885)

co2 na atmosfera

[EcoDebate] A hipótese Gaia, elaborada inicialmente por James Lovelock, diz que a Terra é um organismo vivo que tem um metabolismo natural capaz de regular seu clima e temperatura, promovendo um equilíbrio homeostático global. Eventos externos, como choques de meteoritos, podem provocar perturbações neste equilíbrio. Também forças internas, como vulcões, podem perturbar a estabilidade. Mas, atualmente, é o crescimento das atividades antrópicas, no Antropoceno, que está modificando o ambiente e perturbando o funcionamento natural, o que pode colocar em cheque a própria sobrevivência da vida na Terra.



De fato, o alto crescimento da população e da economia, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, ampliou tanto a exploração de recursos do meio ambiente e gerou tanta poluição e resíduos sólidos, que ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. O principal vetor de pressão sobre o equilíbrio homeostático são as mudanças climáticas geradas pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O efeito estufa descontrolado é como um tumor que provoca “pressão alta” e “febre”. Quanto mais gases na atmosfera maior será a temperatura da Terra. Na tendência atual caminhamos para um quadro de hipertermia, isto é, elevação e manutenção das temperaturas em patamares capazes de comprometer, ou mesmo colapsar, os metabolismos do corpo biológico e geoclimático.



Assim, a alta concentração de CO2 funciona como uma “pressão alta” sobre o Planeta, pois absorve a dispersão dos raios solares e aumenta o efeito estufa. Quanto maior for a concentração de CO2 e outros gases de efeito estufa, como o metano (CO2 equivalente), maior será o aquecimento global.



A concentração de CO2 estava abaixo de 280 partes por milhão (ppm) nos 2 milhões de anos anteriores à Revolução Industrial e Energética. Mas a partir do uso generalizado dos combustíveis fósseis a concentração começou a subir alcançando 295 ppm em 1900, 300 ppm em 1920 e 310 ppm em 1950. Em 1958, Charles Keeling, instalou no alto do vulcão Mauna Loa o primeiro equipamento para medir as concentrações de CO2 na atmosfera. Com o início das medições do laboratório de Mauna Loa, comprovou-se que a concentração de CO2 na atmosfera, na média mensal, chegou a 399,76 partes por milhão (ppm) em maio de 2013 e ultrapassou definitivamente a barreira de 400 ppm no ano de 2015, sendo que em 2016, a maior concentração ocorreu no dia 10/04 (409,34 ppm).



Mas, a despeito do Acordo de Paris e dos trabalhos científicos que mostram os aspectos deletérios do efeito estufa, a concentração de CO2 continua subindo e chegou a 412,6 ppm no dia 26/04/2017. Em todo o mês de abril de 2017 a média foi de 409,01 ppm. No dia 15/05/2017 a concentração ficou em 411,27 ppm. Na semana de 14 a 20 de maio a média semanal ficou em 410,36 ppm, conforme o gráfico abaixo.

concentração de CO2 ultrapassa 410 ppm

O gráfico seguinte mostra a média horária e diária da concentração de CO2, segundo dados da NOAA. A média horária ultrapassou o limiar simbólico de 410 ppm no dia 05 de abril de 2017 e repetiu a marca em vários outros dias, especialmente depois do dia 19 de abril, até chegar perto de 414 ppm no dia 26/04. No mês de maio de 2017, não só a média horária, mas também a média diária ultrapassou a marca de 410 ppm em vários momentos, indicando que o teto de 410 ppm em 2017, tende a ser um piso a partir de 2018.

Mauna Loa carbon dioxide

O nível minimamente seguro de concentração atmosférica de CO2 é de 350 ppm. Assim, o mundo vai ter não só de parar de emitir gases de efeito estufa (GEE) como terá que fazer “emissões negativas”, ou seja, terá que sequestrar carbono e fazer uma limpeza da atmosfera para reduzir a quantidade de CO2, evitar a acidificação dos solos e dos oceanos e o degelo do Ártico, da Antártica, da Groenlândia e dos Glaciares. E uma grande ameaça que se agrava com o processo de degelo é a “bomba de metano” que existe no permafrost.


Grandes terrenos de permafrost do ártico ao noroeste do Canadá, no Alasca e na Sibéria estão se desintegrando, enviando enormes quantidades de lama e sedimentos ricos em carbono em riachos e rios. A liberação do CO2 e do metano existente nos solos congelados pode tornar o efeito estufa uma bomba incontrolável, como existia há 200 milhões de anos, quando a biodiversidade da Terra era muito menor do que a atual. Artigo de Uwe Branda et. al. (2016) traz uma afirmação preocupante: “O aquecimento global provocado pela liberação maciça de dióxido de carbono pode ser catastrófico. Mas a liberação do hidrato de metano pode ser apocalíptica”.


As gerações presentes já estão sentindo o perigo. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato dos anos de 2014, 2015 e 2016 terem sido os mais quentes já registrados e aponta para novos recordes futuros de aquecimento. Estima-se que o limite de 1,5º C vai ser atingido antes de 2030. O primeiro trimestre de 2017 foi o segundo mais quente da série de registros que começou em 1880. O gráfico abaixo mostra o aumento da temperatura global, anual, em relação à média do século XX, de 1880 a 2016. Nota-se que o aquecimento se acelerou após 1970, com média de aumento de 0,17º C por década. Neste ritmo o aquecimento pode ultrapassar 3º C em 2100, em relação ao período pré-industrial.

global land and ocean temperature anomalies

O gráfico abaixo mostra que o mundo ruma para a temperatura mais alta dos últimos 5 milhões de anos. Nota-se que poucas vezes na história, nos últimos 5 milhões de anos, a temperatura ficou acima da média do século XX. Se o aquecimento global continuar no ritmo atual, a civilização estará no rumo de uma catástrofe. E o mais grave é que a autodestruição humana pode levar junto milhões de espécies que nada tem a ver com os erros egoísticos dos seres que se julgam superiores e os mais inteligentes. A humanidade pode estar rumando para o suicídio, podendo também gerar um ecocídio e um holocausto biológico de proporções épicas.



A última vez que a temperatura ultrapassou os 2º C, no Planeta, foi no período Eemiano (há cerca de 120 mil anos) e provocou o aumento do nível dos oceanos em algo como 5 a 9 metros. Com tudo indica que a temperatura no século XXI deve ultrapassar os 2º C em relação ao período pré-industrial e, com tanta gente vivendo nas áreas urbanas no litoral e com tantas terras utilizadas na agropecuária, os danos e os prejuízos poderão ser incalculáveis.

A última vez que a temperatura ultrapassou os 2º C, no Planeta, foi no período Eemiano

Artigo de Stefan Rahmstorf et. al. (2017), publicado na revista Environmental Research Letters, mostra (ver gráfico abaixo) que as temperaturas globais da superfície continuam subindo e que não há uma tendência de arrefecimento do aquecimento global. O estudo mostra que as variações de curto prazo estão dentro das previsões estatísticas e o que importa são as tendências de longo prazo. E estas estão falando alto, especialmente o período 1970-2016. Este estudo é apenas mais um prego no caixão da mentira dos negacionistas e céticos climáticos de que o aquecimento global terminou.

pontos de mutação da temperatura global

Assim, o aumento da temperatura está liberando o dióxido de carbono e o metano armazenados no permafrost e na tundra do Ártico. Artigo de Oliver Milman, (Guardian, 08/05/2017) mostra que as medições dos níveis de dióxido de carbono de aeronaves, satélites e no solo indicam que a quantidade de CO2 emitida pela fria tundra do norte do Alasca aumentou 70% entre 1975 e 2015, no período entre outubro e dezembro de cada ano.



E a causa foi o aumento da temperatura dos solos. No verão do Ártico, o nível superior do solo, que fica acima de uma vasta camada de permafrost que cobre grande parte do Alasca, descongela e decompõe matéria orgânica, o que libera CO2. A partir de outubro, as temperaturas mais frias ajudam a congelar o solo novamente, bloqueando o CO2.



Tudo isto indica que este Planeta – que é, comprovadamente, o único no Universo que abriga a vida em uma multiplicidade de formas maravilhosamente plural de uma rica biodiversidade – está doente. Está com “pressão alta” (efeito estufa) e hipertermia. O desenvolvimentismo aumenta o metabolismo social que aumenta o metabolismo entrópico (conforme ensina a Segunda Lei da Termodinâmica).



Mas como ensina a Economia Ecológica, é impossível manter um crescimento infinito em um planeta finito.


A solução passa por uma diminuição drástica das emissões de gases de efeito estufa (tanto do setor de produção de bens de consumo, como no setor de transporte, assim como na pecuária e no manejo do solo para a agricultura) e pelo aumento significativo das áreas de florestas. A humanidade já desmatou metade das áreas de floresta do mundo. Artigo publicado no blog #SavetheTrees mostra que o mundo planta 5 bilhões de árvores por ano e desmata 15 bilhões de árvores. São duas árvores derrubadas para cada habitante da Terra, um enorme holocausto biológico que dificulta a captura de carbono. No ritmo atual todas as florestas do mundo desaparecerão em 300 anos.



Mesmo o livro sobre “Os Limites do Crescimento” ou Relatório Meadows, de 1972, que é considerado meio escatológico, não previu que as mudanças climáticas aconteceriam de maneira tão rápida e carregariam um potencial destruidor tão grande. Como mostra o livro “Enough is Enough” (2010), o mundo precisa reduzir a pegada ecológica e também o número de pés, ou seja, é preciso promover um decrescimento demoeconômico global para diminuir a concentração de GEE na atmosfera (que provoca pressão alta) e também a redução da temperatura para evitar a hipertermia do Planeta.


Os estudos sobre as Fronteiras Planetárias, do Stockholm Resilience Centre, indicam que as mudanças climáticas são o principal “limite fundamental” que tem o potencial de conduzir o Sistema Terra a uma situação apocalíptica. O aquecimento global é o elo fraco da corrente que mantêm o equilíbrio homeostático do Planeta. Se a “pressão alta” continuar e a “febre” não baixar, poderá haver um colapso da vida humana e não-humana da Terra. Ecocídio e suicídio são fenômenos delineados no horizonte do Antropoceno.


Valor Econômico – Florestas em pé são um bom negócio para todos/ Artigo / Pedro Moura Costa e Mariano Cenamo



Por Pedro Moura Costa e Mariano Cenamo

Pedro Moura Costa é presidente do Instituto BVRio, pesquisador honorário da Universidade de Oxford e detentor de um Nobel da Paz por estudos de mudanças climáticas.



Mariano Cenamo é pesquisador sênior e cofundador do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).




Desde o Acordo de Paris, a urgência em combater as mudanças climáticas desencadeou uma corrida global para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Setores intensivamente emissores - como industrial, energético, agrícola e de transportes - têm o desafio de descarbonizar sua produção. Dados os custos associados a tal transição, esses setores olham com simpatia a possibilidade de usar investimentos no setor florestal como forma de compensação de emissões, enquanto avançam na necessária alteração de processos produtivos.



Trata-se de uma oportunidade e de um desafio para o Brasil, com seu grande potencial de diminuir GEE pela redução do desmatamento. Entre 2006 e 2014, a redução localizada na Amazônia evitou que mais de 5 bilhões de toneladas de CO2 chegassem à atmosfera - iniciativa que criou, talvez, a maior contribuição mundial na emissão de GEE até hoje. Para manter essa liderança, o país precisa aplicar no uso planejado e sustentável dos recursos florestais. Estima-se que o valor para se atingir as metas nacionais no Acordo de Paris gire em torno de US$ 26 bilhões até 2030.



Uma oportunidade concreta é o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), mecanismo que permite compensar emissões garantindo que florestas permaneçam em pé. Com acesso aos incentivos financeiros criados pela inclusão do REDD+ em mercados internacionais, estima-se que iniciativas brasileiras nessa modalidade possam gerar reduções em torno de 5,8 GtCO2 além dos compromissos nacionais no Acordo de Paris. Usando a curva de preços futuros de carbono, projetada pela organização americana Environmental Defense Fund, esse excedente resultaria em captações de mais de US$ 70 bilhões até 2030.



O governo federal, no entanto, ainda reluta em permitir que projetos de REDD+ sejam utilizados em território brasileiro. No cenário global, essa rejeição onera os setores não-florestais - industrial, energético, agrícola e de transportes -, que se verão obrigados a transformações agressivas e, em alguns casos, irrealizáveis no curto prazo, para compensar emissões.




Internamente, subtrai do setor florestal recursos fundamentais a seu pleno desenvolvimento, provocando consequências nefastas, como intensificação do desmatamento; fragilização das parcerias com doadores tradicionais, a exemplo de Alemanha e Noruega; e comprometimento da capacidade de arcar com as metas assumidas em Paris. 




O desmatamento já voltou a crescer nos dois últimos anos (24% em 2015 e 29% em 2016), combinando-se com uma grave crise econômica - o PIB da região amazônica despencou muito além da média nacional (-3,8%), com extremos como Amazonas (-9,1%), Amapá (-6,2%) e Tocantins (-5,2%). Refletindo a fragilização da economia, o orçamento do Ministério do Meio Ambiente sofreu um corte de 51% em relação ao ano passado. Então, de onde sairão os recursos para sustentar uma performance antidesmatamento nos patamares de 2006 a 2014?



A hesitação do governo federal apoia-se em argumentos técnicos já superados por avanços nos sistemas de monitoramento de GEE, como o Prodes (que realiza sensoriamento remoto por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal desde 1988), e na definição de padrões internacionais para desenvolvimento e verificação dos projetos.



No entanto, preocupações mercadológicas permanecem válidas, frente a um potencial desequilíbrio entre oferta e demanda, causado pela inclusão do REDD+ num mercado único de carbono. Pelo lado da oferta, o setor de uso do solo possui imenso potencial de gerar vastos volumes de reduções de GEE a custos relativamente baixos, saturando os mercados com créditos florestais. Pelo lado da demanda, a ausência de acordos internacionais, determinando metas de redução de emissões mais ambiciosas por parte de países e setores produtivos, limita a procura por créditos de carbono (os chamados offsets).



A solução desse impasse foi foco recente da Aliança REDD+ Brasil, composta por representantes de diferentes organizações sociais, iniciativa privada e academia. O resultado é uma recomendação ao governo brasileiro para adoção e defesa de um sistema de mercado responsável, chamado de REDD Integrado.



A proposta tem dois pilares de sustentação. O primeiro, de abrangência internacional, é a criação de um novo mercado de créditos de REDD+, distinto, mas complementar aos hoje estabelecidos, de modo a não afetar negativamente a relação de preços de outras opções de mitigação. Assim, os créditos de carbono em setores não florestais coexistiriam com os de redução de emissões por REDD+. O critério para acessar esse novo mercado seria a obrigação de suplementaridade. Somente após atingir um certo nível de descarbonização por atividades não florestais (substituição de combustíveis, melhora de matriz energética etc), países ou empresas poderiam acessar créditos de REDD+ a fim de suplementar seus compromissos.


O segundo pilar se concretiza no nível doméstico, com as iniciativas de REDD+ contribuindo ativamente para o cumprimento do conjunto das metas brasileiras no Acordo de Paris. Nesse sistema de mercado responsável, os investimentos atraídos pelo REDD+ seriam alocados em igual proporção na proteção de florestas e em atividades complementares, relacionadas ao uso sustentável do solo, como intensificação de agricultura e pecuária de baixo carbono ou reflorestamento de bacias hidrográficas e áreas de preservação permanente.



Assim, o ganho por redução de emissões contribuiria para uma estratégia integrada de proteção florestal, produção agropecuária e descarbonização da economia. Daí, a denominação: REDD Integrado. A separação de mercados evitaria a pressão sobre os preços de outras opções de mitigação e, internamente, as captações feitas liberariam recursos públicos destinados ao controle do desmatamento para investimento em pesquisa e inovação em outros setores econômicos. Sem falar no benefício climático imediato, assegurado pela proteção e conservação de nossas florestas.



Na economia de baixo carbono, florestas são ativos valiosos e podem financiar o desenvolvimento sustentável. O Brasil é líder na redução de emissões e tem o dever de promover internacionalmente a inclusão do REDD+ em mercados integrados e suplementares. O mundo já se movimenta nesse sentido, por isso, a hora de agir é agora.

O Globo – Sustentabilidade é bom negócio / Artigo / Marina Grossi



Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável




É possível quadruplicar a produtividade aplicando práticas como a recuperação de pastagens degradadas e a integração de lavoura pecuária floresta




Aciência mostra que não temos tempo a perder e reivindica ações de impacto em relação às mudanças climáticas. Recentemente, a Marcha pela Ciência, originada em Washington, ganhou o mundo com este propósito, em clara resposta às posturas adotadas por Donald Trump. Um estudo recém-lançado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) aponta que ignorar esta agenda é, além de um desprezo à ciência, um mau negócio.



O estudo analisa as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa que o Brasil assumiu no contexto do Acordo de Paris e conclui que elas abrem inegáveis oportunidades econômicas. Uma janela que pode permitir ao país reordenar seu modelo de desenvolvimento em bases sustentáveis e reposicionar-se de maneira mais competitiva na nova agenda global que vai até 2030.




Estima-se que o setor de floresta e uso da terra, responsável hoje por mais de 50% das emissões do país, passe a contribuir com uma emissão líquida negativa em 2030, removendo 131 milhões tCO2e da atmosfera. Para isso, além de controlar o desmatamento ilegal, devemos impulsionar o uso múltiplo das florestas. 




O aproveitamento de áreas florestadas tem efeito sinérgico com outras metas brasileiras.
Considerando o compromisso de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030, o plantio de espécies vegetais produtivas é uma dessas oportunidades, pois dá rápido retorno ao investimento. Na cadeia da restauração florestal, a demanda por insumos pode aportar, durante 30 meses, cerca de R$ 13 mil por hectare restaurado.



A agropecuária terá o desafio de aumentar sua produção sem incorporar novas áreas nem ameaças aos biomas. É possível quadruplicar a produtividade aplicando práticas como a recuperação de pastagens degradadas e a integração de lavoura pecuária floresta, além de destacar as oportunidades que surgirão com a criação de novos mercados por meio das cotas de reserva ambiental e dos pagamentos por serviços ambientais, que tornarão menos custosa a eliminação do déficit de manter e/ou recuperar reservas legais e Áreas de Preservação Permanente. Ainda será fundamental intensificar o Programa Agricultura de Baixo Carbono e a já avançada inovação tecnológica.



Já no setor de energia, o crescimento da oferta de fontes renováveis demandará significativa ampliação da capacidade instalada atual, especialmente para a produção de etanol. A NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) prevê expansão da produção de etanol para 45 bilhões de litros em 2025 e para 54 bilhões em 2030. Também são esperadas a redução nos custos de tecnologias fotovoltaicas e eólicas e a modernização da infraestrutura de geração e distribuição de eletricidade.



A eficiência energética será crucial para a indústria atingir suas metas, assim como a eficiência nos processos: o aproveitamento de resíduos na forma de uma economia circular pode trazer grandes ganhos de receita no longo prazo. Vale ressaltar que 40% do potencial de mitigação do setor permitem rápido retorno do investimento.



Investimentos na infraestrutura de transporte de baixo carbono têm o potencial de reduzir os custos de frete e beneficiar os setores industrial e agropecuário. A integração modal, com a ampliação de transportes aquaviários e ferroviários, pode significar uma redução de mais de 50% no custo total da tonelada transportada por quilômetro. 



Além disso, a eletrificação do modal ferroviário e o desenvolvimento de sistemas híbridos de propulsão em embarcações podem reduzir o consumo energético em até 33%.
Definitivamente, a nova economia de baixo carbono é um bom negócio para o Brasil.

O Estado de S. Paulo – Nas urnas, Suíça aprova abandono de energia nuclear


Plano aprovado proíbe construção de novas usinas nucleares e prevê investimentos massivos em energia eólica, biomassa e solar

Jamil Chade, correspondente

GENEBRA - Nas urnas, os suíços aceitam abandonar de forma gradual o uso de energia nuclear e sua substituição por fontes renováveis. O referendo foi realizado neste fim de semana e concluído com 1,3 milhão de votos a favor da transição, contra 940 mil votos a favor da manutenção da energia nuclear.


A política energética já havia sido proposta pelo governo. Mas precisava passar pelo voto popular. Em algumas cidades, como Genebra, 73% dos eleitores apoiaram a transição da energia nuclear para outras fontes.


Pelo plano aprovado, nenhuma nova usina nuclear será autorizada a ser construída. Quanto às cinco usinas existentes no País, a estratégia prevê que elas sejam fechadas quando expirar sua vida útil e o prazo estabelecido de seus respectivos usos com total segurança. Hoje, os cinco reatores correspondem a 30% do fornecimento de energia do país de cerca de 8 milhões de habitantes. O mesmo plano prevê investimentos massivos e subsídios para o setor de energia eólica, biomassa e solar.


O debate começou depois do desastre nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. Diversos governos europeus também tomaram decisões similares, abrindo o debate sobre o futuro da entidade nuclear.


Outra estratégia é a de redução do consumo de energia per capta no país. Até 2035, a meta é a de redução de 43%. Se o voto foi favorável, o maior partido do país - o UDC - rejeita a estratégia. Foi ele quem pediu a realização do referendo popular, depois que o projeto ganhou o apoio dos demais partidos.


Para o grupo de direita, o plano de abandonar de forma gradual a energia nuclear vai custar US$ 3,2 mil extras para cada residência por ano, em impostos e preço de energia. O governo rejeitou a conta realizada pelo partido, alertando que o aumento do custo de energia será de apenas US$ 40 por ano.


Numa campanha pouco habitual, os defensores do "não" ao projeto de transição energética alertavam que uma vitória do plano significaria que os suíços passariam a tomar "banhos gelados". Nos poucos cantões da Suíça que o plano de transição perdeu, um dos argumento usados era de que as instalações de painéis solares e turbinas para energia eólica poderiam "desfigurar" o cenário alpino.