BrasilxArgentina
Soledad Domínguez, especial para o Clarín em Português
O portunhol está presente na música e nas falas dos turistas. Neste texto, fica claro que ele também faz parte de uma forma muito mais ampla na nossa cultura.
Buenos Aires, 30 de setembro de 2014
(acima
Caetano Veloso no Maracanã onde assistiu a Argentina jogando na Copa do
Mundo. Ele é citado aqui no texto de Soledad Domínguez)
“
O mais grande do mundo”, “
sublinear”, “
habló de lo filme”, “
más nada”, “
preconcepto” são algumas das nomenclaturas e traduções apressadas do português para o
espanhol.
Elas são entendidas como filtrações –muitas vezes cômicas- e ‘erros interlinguísticos’, corrigidos por professores de idioma.
Mesmo assim, elas transitam
livres nas falas de turistas, de estudantes e acadêmicos, nas
redes sociais
e nas vozes do Kevin Johansen e Paulinho Moska cantando Por las ruas,
pelas calles.... Todas representam formas de estabelecer vínculos,
diálogos e interação transnacional.
O
portunhol, esse idioma regional sem regras semânticas, está inscrito no
imaginário sul-americano. Assim como as canções que combinaram as duas
línguas “Soy loco por tí America”, gravada por Caetano Veloso (1968) e
“Los justicieros” (1966) por Os Mutantes. No comic, “Los três amigos”
(1987), com desenhos de Angeli, Glauco y Laerte.
No
cinema, “El provocador. Primeiro filme em portunhol” (2011), de Pablo
Navarro Espejo. Nos últimos anos, o festival El Vecinal, um encontro
musical de artistas da América do Sul.
Brasil
tem uma extensão de 16.886 quilômetros de fronteira e limita com sete
países da América Latina de fala espanhola. O contato entre as duas
línguas, desdobra-se em vários portunhóis binacionais e até
trinacionais, como é no caso da tríplice fronteira
Brasil-Argentina-Paraguai.
Lá, ruas dos
três países se cruzam. Espanhol, português e guarani se confundem e se
transbordam um para o outro. As pessoas se cumprimentam em
portunhol-guaranhol-espanhol. Mba´eicha´pa?, como você está?, como
estás?
(acima,
Kevin Johansen, de camiseta azul, e o cartunista argentino Liniers.
Kevin gravou com Paulinho Moska eles também falaram em portunhol)
Portunhol Selvagem
Para
dentro e para fora dessa tríplice fronteira se expandiu o ‘portunhol
selvagem’, uma prática cultural, ou melhor, uma comunidade
artística-literária que faz prosa e poesia na mistura de idiomas.
“É
um projeto estético e linguístico ideado pelo escritor brasileiro (de
família paraguaia) Douglas Diegues que convoca uma serie de
manifestações através da invenção de uma língua poética em portunhol”,
aponta a doutoranda Maria Eugenia Bansescu da UNR/CONICET (Argentina). O
conceito ‘portunhol selvagem’ é do próprio Douglas, em homenagem às
selvas primitivas da região.
Ele mora na cidade de
Ponta Porã, no estado de Mato Grosso do Sul, a 35 quilômetros de Cerro
Corá, onde teve fim a guerra da Tríplice Aliança. Ali o guarani ainda
está vivo. É “um experimento selvagem que brota como flor misma de las
lenguas que moram dentro du meu pensamentu, u português, o espanhol,
algo do guarani y do guaranhol, mesclados” explica o escritor.
É
o resultado das linguagens híbridas nascidas nas ruas, nas fronteiras,
apropriando-se de ações erráticas como fonte inspiradora de criação, sem
preconceitos nem proibições.
Nesse
contexto, acrescenta a pesquisadora Maria Eugenia, o adjetivo
‘selvagem’ estaria associado também ao modo de insurreição e negociação
cultural frente às convenções linguísticas e do mercado editorial.
Douglas
lançou em 2002 seu primeiro livro ‘Dá gusto andar desnudo por estas
selvas’ (Travessa dos Editores, Curitiba, 2002) e ‘Triple frontera
dreams’ (Katarina Kartonera 2010 y Eloisa Cartonera, 2012).
Os
outros porta-vozes são escritores que desde a década de ’90 se somaram a
esta proposta. E relacionados a eles, os chamados Poetas das três
fronteiras, os paraguaios Jorge Kanese, Edgar Pou, Cristino Bogado e o
argentino Marcelo Silva. Wilson Bueno, Xico Sá, Joca Reiners Terrón e
Rolando Bressane.
Contos, novelas e
poemas em portunhol selvagem, como única escritura. Mas todos com seu
estilo próprio. Nenhum deles se parece com ninguém.
“Cada vez que alguém começa a falar em portunhol é um novo portunhol, é selvagem como todo recém nascido”, diz Joca.
O
primeiro do grupo a produzir obra foi o paranaense Wilson Bueno com
‘Mar paraguayo’ (1992), com prólogo do poeta argentino Néstor
Perlingher. É ele que trará a próxima novidade com seu livro “Mascate”,
que incluirá também vocábulos em árabe.
Será
vendido através da primeira editora cartonera do Paraguai YIYI Jambo
-inspirada na precursora e argentina Eloísa Cartonera- que utiliza
cartão reciclado para a montagem dos exemplares. Produção artesanal e
limitada.
Rolando Bressane, autor de
“Cada vez que ella dice xis” (Yiyi Jambo, Assunção, 2008) fez a primeira
reportagem nesta língua para O Estado de São Paulo
(http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,hablando-serio,122244).
O
mato-grossense Joca Terrón passou parte da infância e adolescência em
cidades fronteiriças do Paraná e Mato Grosso do Sul. “O portunhol falado
pelos habitantes de regiões do Brasil próximas de países de língua
espanhola, tem a ver com a porosidade delas e o uso da língua só reflete
isso”, explica. Joca produziu uma peça de teatro chamada “Bom Retiro
958 Metros”, em São Paulo onde diversas personagens falavam em
portunhol.
Publicou Transportunhol borracho (Dulcineia
Catadora, São Paulo, 2008), traduzindo a poesia de grandes nomes como
Raymond Carver, Jim Dodge, H.M Enzensberger ao portunhol.
Xico Sá é outro dos representantes, autor de Caballeros solitários rumo ao sol poente e La mujer és un gluebo da muerte.
Pouco
se conhece da produção desses escritores “porque o portunhol é uma
língua sem Estado, e ele não permite que se fale. Ele não é oficial. Eu
gosto de escrever em portunhol porque não gosto de ser o bom aluno”,
reflete irônico Douglas Diegues.
Em outros
campos como o das artes visuais, a artista conceitual argentina Ivana
Martínez Vollaro, reuniu em 2005 a mais de 100 artistas num projeto
chamado Portunhol, onde as palavras e expressões “erradas” foram um
disparador de criação e comunicação.
Nos
anos ’60, o artista argentino Xul Solar tinha criado o neocriollo, uma
espécie de língua do futuro de Sudamerika, muito próxima ao que seria o
portunhol.
(O artista plástico Xul Solar também valorizou o porteunhol de alguma forma, cita a autora)
No
que diz à literatura, a pesquisadora Maria Eugenia nos lembra que na
América latina, teve algumas obras chave de interferências linguísticas
como Galáxias de Haroldo de Campos no Brasil e alguns contos de Horacio
Quiroga na Argentina, contextualizados na fronteira com o Paraguai.
Mais
recentemente, que ‘movimento’ artístico estaria aparentado com o
portunhol selvagem? Myriam Avila, professora da faculdade de letras da
Universidade Federal de Minas Gerais diz que “o impulso rasquache nas
artes plásticas praticadas nos Estados Unidos pelos chamados latinos nas
últimas décadas do século XX, é aparentado ao que move poetas como
Douglas Diegues na América do Sul”.
Vale
lembrar que o rasquache transformou-se num estilo de arte após
enfrentar críticas à sua conotação inicial negativa associada, no
México, às classes baixas.
O portunhol ainda é
concebido como uma língua de negociação e de intercâmbio entre
territórios culturais, enquanto o portunhol selvagem aponta para o fato
de que toda língua se encontra em uma terra de ninguém.
“Ele
é uma língua de sobrevivência, de precariedades. Não reconhece
territórios, gramáticas nem normas e não se restringe aos vocabulários
português e espanhol. É uma língua-moradora-de-rua”, aponta a professora
Myriam.
E por outro lado, essas
manifestações ajudam a pensar criticamente sobre algumas das
transformações históricas do mundo contemporâneo, como as migrações e a
proliferação de fronteiras”, completa a pesquisadora Maria Eugenia.
Como
disse o poeta Manuel de Barros - próximo às vanguardas europeias de
inícios do século XX-: “eszribo la lengua que aprendi primero”. A da
integração.
ARMADILHAS DO IDIOMA
Cuidado com o portunhol
Fortes semelhanças entre o português e o espanhol geram muitas vezes palavras definidas como sendo do "portunhol". Veja aqui a lista que estamos preparando.
Aguinaldo: No
Brasil,
é um nome próprio masculino. Na Argentina, sinônimo do 13º salário.
Fica divertido para um brasileiro quando aqui trabalhadores erguem
faixas dizendo: "Queremos aguinaldo" ou "Nosso aguinaldo está atrasado"
ou ainda "Queremos aguinaldo completo".
Bañero: Significa salva-vidas. Na praia, se estiver se afogando e precisar da ajuda de um salva vidas, grite então 'banhero' e para ir realmente ao
banheiro,
pergunte por 'baño' (leia-se banho). Exemplo: 'Donde está el baño?'
('Onde fica o banheiro?'). E a palavra "salva-vidas" o que significa em espanhol? Em espanhol é o nosso 'pneu' (aquela
excesso em torno da cintura).
Borracho: em espanhol é alguém que bebeu demais. E em português também é ébrio. Mas para nós brasileiros é
mais comum,
hoje, o uso de "bebado" ou "bebum". Soube de argentinos que riram
quando leram a nossa 'borracharia' no Brasil. Imaginaram ser lugar de
encontro de 'borrachos'. Em tempo: para eles, a nossa 'borracharia' é
'taller' (leia-se tajer) ou ainda 'taller mecánico' (leia-se tajer
mecânico).
Borrachera: bebedeira, borracheira.
Mas como
no caso do "borracho", que está no dicionário Aurélio, como nos alertou
uma leitora da Colômbia, é muito mais comum usarmos bebedeira quando
alguém bebe demais no Brasil. No popular, "encheu a cara".
Chimento: parece o nosso 'cimento', mas é 'bisbilhotice'
Chisme: fofoca
Corpiño: (leia-se
'corpinho') Não é como falamos no Brasil uma pessoa esbelta. Mas
'sutiã'. Um amigo brasileiro disse em Buenos Aires para uma garçonete
bonitona. "Você tem trinta anos, mas com 'corpinho' de vinte". E ela,
argentina, pensou que ele se referia ao tamanho de seu busto e não ao
seu
corpo perfeito.
Cubiertas: se você pedir uma "cubierta" porque está sentindo frio, ninguém vai entender nada.
Cubierta é pneu de automóvel.
Cubiertos: não é uma coberta ou cobertor. São talheres. E a nossa coberta? Para eles, é 'frazada'.
Embarazada: grávida
Equipo: Time de futebol.
Esposas: algemas
Exquisito: essa
palavra nos confunde porque trata-se de um "falso amigo" - mesma
palavra e signficado totalmente diferente nos dois idiomas. Em
português, "esquisito" é sinônimo de algo estranho, excêntrico. Em
espanhol, o adjetivo é empregado para definir uma pessoa ou um prato,
por exemplo. Delicioso e gostoso à mesa. E
pessoa com
grana ou influente, como indica o título do livro do escritor argentino
Adolfo Bioy Casares - "Diccionario del argentino exquisito".
Fuego: em
português é 'fogo'. Mas essa é só uma das palavras que ajudam a
fortalecer a inevitável existência do portunhol. É ampla a lista para as
palavras nas quais temos apenas que trocar 'o' por 'ue'. Outro exemplo,
a nossa 'roda' para eles é 'rueda'.
Hincha: (leia-se 'incha') torcedor.
Hinchada: (leia-se 'inchada') torcida e, como no Brasil, também alguém com alguma parte do corpo machucada.
Gran barata: Não é uma barata (cucaracha) grande. Mas uma baita liquidação (liquidación) em alguma loja.
Groso:
(leia-se grosso). Para nós, brasileiros trata-se de uma pessoa sem
classe, um bruto. Para os argentinos, o adjetivo é sinônimo de alguém
"poderoso" ou "genial". Assim, uma mulher "grosa" é poderosa.
Mala:
em português é o que usamos para levar roupas e outros objetos em uma
viagem. A palavra é também associada a uma pessoa chata, insuportável.
Na Argentina, mala é uma pessoa má. 'Una mala persona'. E o que para nós
brasileiros é 'um mala', para eles é alguém 'pesado' (chato). Para
eles, argentinos, quando alguém é chato demais é, então, 'muy pesado' -
sinônimo do nosso 'muito mala'.
Mestizas- gemeas. O Aécio tem filhas mestizas isso é gêmeas.
Pan dulce: é como os argentinos (e outros do idioma espanhol) chamam o que para nós é o panetone.
Pelado:para
nós, brasileiros, é uma pessoa sem roupa - pelado, pelada. Para nossos
vizinhos, é sinônimo de 'careca'. E para eles quando alguém tira a roupa
toda está 'desnudo' ou 'desnuda'. No Rio de Janeiro e em outras cidades
brasileiras, 'pelada' é também um jogo de futebol entre amigos. 'Vamos
jogar uma pelada'.
Picada: para os
brasileiros, a palavra é logo associada a 'picada de mosquito'. Para os
argentinos, ela pode ser uma 'picada' de automóveis - quer dizer, para
nós brasileiros, 'um pega'. Para nossos vizinhos, 'picada' é também
sinônimo de pedir uma entrada de queijos e outros frios para acompanhar
um vinho ou uma cerveja em um bar ou restaurantes. Poderia ser quase o
nosso, 'vamos beliscar' alguma coisa.
Presunto:
palavra comum para nós brasileiros, na hora de preparar o sanduíche,
presunto é "jamón" (leia-se ramón) em espanhol. Causa surpresa quando
vemos nos jornais ou na tela da TV quando escrevem aqui na Argentina:
"Presunto violador" preso pela polícia. Quer dizer, suposto violador.
Para nós brasileiros, uma pessoa também pode "virar presunto" (cadáver).
Mas a frase é pouco elegante.
Propina: gorjeta. E o que para nós brasileiros é propina, para eles é "coima".
Saco: casaco.
Para um brasileiro costuma ser, no mínimo, estranho ouvir quando eles
perguntam se "ese saco es suyo" (leia-se: esse saco é sujo?). Quer
dizer, se o casaco é seu. É comum que pensem outra coisa, mais maldosa.
Mas é só mais uma das armadilhas do portunhol.
Sorbete: (leia-se sorvete). Significa canudo. E nosso sorvete é "helado".
Suciedad: aos
nossos ouvidos brasileiros a palavra pode ser confundida com
"sociedade". Mas em espanhol sociedade é também sociedade. E "suciedad"
significa algo muito menos nobre: sujeira.
Tarado:
em português, a palavra é empregada para definir um homem louco por
sexo e, neste sentido, perigoso e sem escrúpulos. Em espanhol, um tarado
é simplesmente um bobo, imbecil ou idiota.
Taza: xícara.
Vaga: no
Brasil, é uma vaga na garagem, no estacionamento (playa) ou para
matricular o filho na escola. Mas para os argentinos, é uma pessoa
preguiçosa.
Vaso: copo
E por quê o português e o espanhol são tão parecidos?
Entrevista: Camila
do Valle, do Rio de Janeiro, com doutorado em lusofonia, estudiosa do
portunhol, ex-presidente da Fundação Centro de Estudos Brasileiros, em
Buenos Aires:
“Até o século XIII era um só
idioma (na Península Ibérica). Mas o maior fantasma de Portugal sempre
foi a Espanha, que era o reino de Castela. Portugal tinha muito medo de
ter que submeter a sua coroa à coroa de Castela. Para se diferenciar da
Espanha, Portugal começou a fortalecer toda a sua história, que foi
escrita do jeito que as pessoas falavam dentro daquela fronteira de
Portugal. Foram contratados cronistas dos reis para escrever um idioma
como aquele povo falava. Eles começaram a produzir uma diferenciação da
língua entre o português e o que era falado na Espanha. A língua foi
chamada de galego português”.
Vem daí o portunhol?
“Claro.
A língua é o uso e há muita chance de o portunhol de fato começar a se
desenvolver, porque existe este histórico que vem do século treze e de
idiomas que têm raízes próximas. Se formos mais atrás ainda, vamos parar
no latim. Sendo que o português veio do latim vulgar, vulgo, vulgar, no
sentido do povo. Era o povo que falava esse latim errado
gramaticalmente e que se tornou o português. No século treze, por
exemplo, ‘fror’ era a forma correta de falar ‘flor’. Mas como as pessoas
não sabiam falar “fror” e falavam “flor” erradamente o que se
estabeleceu, depois, foi “flor”. O idioma é vivo, democrático. E o
portunhol algo a ser levado a sério”.
VIZINHOS
Mito derrubado: brasileiros e argentinos nem sempre se entendem em portunhol
Giselle Sousa Días, enviada especial do Clarín a Florianópolis
Muitas palavras soam parecidas, mas significam outra coisa e no Brasil elas são chamadas de “falsos amigos”. Chaves para evitar cair no ridículo.
Quando a pessoa chega ao Brasil deve saber
que o portunhol às vezes ajuda e que outras vezes pode deixá-la a ver
navios ou fazendo um
papelão.
Se
você for comprar um biquíni não peça “um novo corpiño” (leia-se
corpinho) porque seu corpinho*, embora esteja um pouco flácido e
barrigudo, não está tão mal.
Se você,
argentino, contar sua melhor piada e te responderem “que engraçado” não
olhe para o cabelo (com uma espécie de creme): eles estão te dizendo
apenas que algo tem "graça", é “
gracioso”.
Se
você quiser xavecar com classe, não comece a frase dizendo
“presuntamente” (em português “supostamente”) porque aqui presunto é o
salgado usado no sanduiche.
O verão começou, os argentinos chegaram e aí começa o mito: esse que diz que todo mundo se entende falando portunhol.
Essas
palavras que soam parecidas, mas significam coisas diferentes e às
vezes opostas, são chamadas aqui de “falsos amigos”. Elas provocam
tantas confusões - às vezes engraçadas e outras trágicas - que motivaram
Claudio Budnikar, um argentino de
San Antonio de Padua, que mora em Florianópolis há 11 anos, a criar o Hispano-luso (está no
facebook): uma espécie de dicionário que tenta esclarecer quais são as palavras e frases que costumam gerar confusões.
“Vou
pondo lá todas as confusões que eu vou escutando na rua. Tem algumas
engraçadas: uma vez, uma garota brasileira disse na frente de um
grupinho de argentinos que se sentia embaraçada (em espanhol,
embarazada é grávida) por uma situação que não queria explicar.
Os
argentinos, que não sabiam que aqui embaraçada significa envergonhada,
começaram a rir e lhe disseram: ‘Não precisa explicar, nós sabemos qual é
a situação que leva à gravidez’. E houve outras trágicas, como a do
turista argentino que entrou desesperado em um bar porque um amigo
estava se afogando e gritava: ‘
Un banhero, un banhero!’.
E os clientes,
pensando que
ele estava fazendo nas calças, lhe mostravam a porta do banheiro: o
toalete”. Mas ele estava buscando um salva-vidas (que na Argentina é
chamado de
bañero).
Aqui em Florianopólis a gente escuta os argentinos inventando muito: que a cartinha (carta,
menu), que o vacinho (vaso, copo), que o tenedorcinho (
tenedor,
garfo). Ninguém pede o cardápio para o garçom, nem o copo nem o garfo.
Muitos garçons sabem e muitos outros não: salsa é aquela que se dança e
não a que vem com a comida, portanto se você pedir raviólis com salsa,
você está pedindo massa e que mudem a música. (Aos brasileiros, salsa em
espanhol é molho).
Antes de vir, então,
anote: se você for comer fora e o garçom disser alguma coisa sobre a
cadeira não fique traumatizado, ele está te oferecendo um assento. E se a
alegria grudar em você e você quiser ser muito amável e disser “a
comida está
exquisita” (deliciosa)”, você está dizendo na cara da pessoa que deu a vida por te atender bem: “garçom, a comida está esquisita”.
Além disso, os brasileiros não dizem “
apellido”,
mas “sobrenome”, portanto se você chegar ao hotel e tiver que preencher
uma ficha não coloque: el colorado (o ruivo), el lechón (gordinho) ou
el narigueta (narigudo). Dificilmente isso coincida com o seu documento.
Se te acusarem de “surdo” (canhoto), o é que eles estão dizendo que você é surdo.
Aquele cartaz de “borracharia” (os argentinos lembram de
borrachera) não é a entrada do bar: é a entrada para uma borracharia para os automóveis.