terça-feira, 31 de julho de 2018

Será mesmo possível construir uma civilização sustentável?

Será mesmo possível construir uma civilização sustentável?

Apocalipse alienígena: Uma civilização pode superar os limites do seu próprio planeta?
Da Ilha de Páscoa para o Universo: modelos encaram possibilidade de vida sustentável no cosmos. [Imagem: Michael Osadciw/University of Rochester]


Perspectiva astrobiológica
Diante das mudanças climáticas, do desmatamento e da perda da biodiversidade, criar uma versão sustentável da nossa civilização é uma das tarefas mais urgentes da humanidade.
Mas, quando decidimos encarar esse desafio imenso, raramente nos fazemos aquela que pode ser a questão mais crucial de todas: Como saber se a sustentabilidade é mesmo possível?
Os astrônomos já fizeram um inventário considerável de planetas fora do Sistema Solar e tem havido muita discussão em torno dos exoplanetas habitáveis e das possíveis civilizações extraterrestres.
A pergunta a seguir é: Existem planetas com civilizações sustentáveis? Ou todas as civilizações que surgiram no cosmos duraram apenas alguns poucos milênios antes de sucumbir nas próprias mudanças climáticas que desencadearam?
Estas foram as perguntas levantadas por uma equipe formada por Adam Frank e Jonathan Nellenback (Universidade de Rochester - EUA), Marina Alberti (Universidade de Washington - EUA) e Axel Kleidon (Instituto Max Planck de Biogeoquímica - Alemanha).
E eles se propuseram a dar os primeiros passos para respondê-las adotando o que chamam de uma "perspectiva astrobiológica".
Apocalipse alienígena: Uma civilização pode superar os limites do seu próprio planeta?
A chave parece estar em encontrar um equilíbrio entre ambiente e população - qualquer que seja seu número, contudo, essa população deverá fazer uso racional dos recursos. [Imagem: Adam Frank et al. - 10.1089/ast.2017.1671]
Contexto cósmico
A equipe justifica sua abordagem argumentando que as discussões sobre as mudanças climáticas raramente ocorrem nesse contexto mais amplo, que leva em conta a probabilidade de que esta pode não ser a primeira vez na história cósmica que um planeta e sua biosfera evoluíram para algo parecido com o que criamos na Terra.
"O ponto é reconhecer que a mudança climática pode ser algo genérico," explica Frank. "As leis da física exigem que qualquer população jovem, construindo uma civilização intensiva em energia como a nossa, vai receber feedback do seu planeta. Ver a mudança climática nesse contexto cósmico pode nos dar uma melhor visão do que está acontecendo conosco agora e como lidar com isso."
À medida que a população de uma civilização cresce, ela usa mais e mais recursos. Ao consumir os recursos, a civilização muda as condições do planeta. Em suma, civilizações e planetas não evoluem separadamente um do outro, eles evoluem interdependentemente. E o destino da civilização depende de como os recursos do planeta são usados.
Pensando em civilizações e planetas - incluindo exoplanetas e civilizações alienígenas - como um todo, os pesquisadores acreditam ser possível prever melhor o que pode ser necessário para o projeto humano de fazer com que sua civilização sobreviva. "Se não somos a primeira civilização do universo, isso significa que provavelmente haverá regras sobre como o destino de uma civilização jovem como a nossa progride," disse Frank.
Para ilustrar como os sistemas planeta-civilização coevoluem, Frank e seus colegas desenvolveram um modelo matemático para mostrar caminhos pelos quais uma população tecnologicamente avançada e seu planeta poderiam se desenvolver juntos.
Usando seu modelo matemático, a equipe chegou a quatro cenários que podem ocorrer em um sistema planeta-civilização:
Apocalipse alienígena: Uma civilização pode superar os limites do seu próprio planeta?
Gráficos do quatro cenários construídos pela equipe (veja o texto). [Imagem: Michael Osadciw/University of Rochester]
Sucumbir
A população e o estado do planeta (indicado por algo como sua temperatura média) aumentam muito rapidamente. Eventualmente a população atinge seu pico e declina rapidamente à medida que a temperatura planetária crescente torna as condições de sobrevivência mais difíceis. Finalmente alcança-se um nível populacional estável, que é apenas uma fração da população no seu pico. "Imagine se 7 em cada 10 pessoas que você conhece morressem rapidamente," detalha Frank. "Não está claro se uma civilização tecnológica complexa poderia sobreviver a esse tipo de mudança."
Sustentabilidade
A população e a temperatura aumentam, mas acabam chegando a valores estáveis sem nenhum efeito catastrófico. Este cenário ocorre nos modelos em que a população reconhece que está tendo um efeito negativo no planeta e migra de recursos de alto impacto - o petróleo é um bom exemplo - para recursos de baixo impacto - como a energia solar.
Colapso sem mudança de recursos
A população e a temperatura aumentam rapidamente, até que a população atinge um pico e cai de forma drástica. Nesses modelos, a civilização entra em colapso, embora não esteja claro se a espécie é completamente extinta.
Colapso com mudança de recursos
A população e a temperatura aumentam, mas a população reconhece que está causando um problema e muda de recursos de alto impacto para recursos de baixo impacto. As coisas parecem se estabilizar por um tempo, mas a resposta acaba chegando tarde demais, e a população entra em colapso de qualquer maneira.

Apocalipse alienígena: Uma civilização pode superar os limites do seu próprio planeta?
Para encontrar civilizações alienígenas, os aglomerados estelares parecem ser um bom ponto de partida. [Imagem: ESO/J. Emerson/VISTA]
Exemplo da Ilha de Páscoa
Os pesquisadores construíram seus modelos baseando-se, em parte, em estudos de casos de civilizações extintas, como os habitantes da Ilha de Páscoa. Os dados disponíveis indicam que o ser humano começou a colonizar a ilha entre 400 e 700 da nossa era, e atingiram uma população de pico de 10.000 habitantes em algum momento entre 1.200 e 1.500. No século XVIII, no entanto, os habitantes haviam esgotado seus recursos e a população caiu drasticamente para cerca de 2.000 pessoas.
A extinção da civilização da Ilha de Páscoa está relacionada a um conceito chamado capacidade de carga, ou o número máximo de espécies que um ambiente pode suportar. "Se você passar por uma mudança climática realmente forte, sua capacidade de carga pode diminuir, porque, por exemplo, a agricultura em grande escala pode ser fortemente prejudicada. Nós não poderíamos cultivar alimentos e nossa população diminuiria," detalha Frank.
Será que o mesmo irá acontecer conosco em escala planetária? A resposta a essa questão dependerá dos caminhos escolhidos - tudo o que os modelos construídos pela equipe fazem é mostrar possibilidades. "Esses modelos mostram que não podemos simplesmente pensar em uma população evoluindo por conta própria. Temos que pensar em nossos planetas e civilizações coevoluindo," conclui Frank.
A equipe pretende agora desenvolver modelos mais detalhados dos modos pelas quais os planetas podem se comportar quando uma civilização consome energia de qualquer forma para crescer.

Bibliografia:

The Anthropocene Generalized: Evolution of Exo-Civilizations and Their Planetary Feedback
Adam Frank, Jonathan Carroll-Nellenback, Marina Alberti, Axel Kleidon
Astrobiology
Vol.: 18 (5): 503
DOI: 10.1089/ast.2017.1671

El País (Espanha) – La eficiencia energética, fundamental para un futuro con ciudades sostenibles / Artigo / Mariana Kaipper Ceratti

El País (Espanha) – La eficiencia energética, fundamental para un futuro con ciudades sostenibles / Artigo / Mariana Kaipper Ceratti


Mariana Kaipper Ceratti es productora online del Banco Mundial.

¿Puedes imaginar cuánto se podría ahorrar en dinero y recursos naturales si los países adoptaran la eficiencia energética como prioridad en sectores como iluminación pública o industria? Este es un concepto esencial para el futuro de la infraestructura y, sin embargo, todavía poco difundido.

Cuando se habla en eficiencia energética, diversos datos muestran cuánto aún queda por hacer. El Consejo Americano para una Economía Energéticamente Eficiente (ACEEE), por ejemplo, hizo en 2016 un análisis de las políticas y el desempeño de los 23 países campeones de consumo.

Uno de ellos fue Brasil, que ocupa uno de los últimos lugares de la lista de ACEEE, y donde en las dos últimas décadas, las inversiones para sustituir o reparar la infraestructura ya existente quedaron muy por debajo de lo necesario (al menos el 3% del PIB). Solo en el sector de energía, cayeron del 2,13% del PIB en la década de 1970 al 0,7% en 2016, según un reciente informe del Banco Mundial.

Ante esta situación, una nueva iniciativa - combinando innovaciones financieras y tecnológicas - puede representar un paso importante en la formación de un sector energético más eficiente y sostenible. El Proyecto de Instrumentos Financieros para Ciudades con Eficiencia Energética de Brasil (FinBRAZEEC), que une el Banco Mundial y la Caixa, tiene el objetivo de movilizar capital del sector privado para inversiones en las áreas de industria e iluminación pública urbana en los próximos 15 años.

Con este programa, los centros urbanos Brasileños podrán crear subproyectos para sustituir completamente las actuales lámparas de vapor de sodio por LED, por ejemplo. En tanto, las industrias podrán modernizar sistemas de bombeo, motores, hornos y otros tipos de equipos.

El foco en las ciudades se justifica porque el 86% de los Brasileños viven en ellas. Por lo tanto, las iniciativas de eficiencia energética urbana tienen un impacto beneficioso para una parte significativa de la población, ya que al sustituir tecnologías ineficientes se reducen el consumo energético, la contaminación y las emisiones de gases de efecto invernadero.

Y la búsqueda por más participación del sector privado en infraestructura es esencial en un momento de restricción en el uso de los recursos gubernamentales. Hoy, la gran mayoría de las inversiones (alrededor del 70%) todavía provienen de fuentes públicas, incluyendo bancos estatales.

Reducir los riesgos

El nuevo proyecto prevé un préstamo de 200 millones de dólares del Banco Mundial, combinado con 195 millones de dólares del Fondo Verde para el Clima (GCF) y 20 millones de dólares del Fondo de Tecnología Limpia (CTF). Por su parte, la Caixa -el cuarto banco más grande de Brasil y la segunda institución financiera más grande de Latinoamérica- recibirá el préstamo, liderará la formación de un consorcio de acreedores comerciales y creará un mecanismo para proporcionar garantías parciales de crédito. Estas garantías servirán para disminuir el riesgo relativo a los proyectos de iluminación urbana y eficiencia energética industrial.

En total, se espera que el FinBRAZEEC movilice más de 1.000 millones de dólares para proyectos de eficiencia energética urbana. Con ello, el proyecto será un ejemplo de cómo los recursos del sector público en Brasil, particularmente los de los tres mayores bancos estatales, pueden ser usados para aprovechar el capital del sector privado para inversiones en infraestructura.

El FinBRAZEEC también contemplará asistencia técnica en el área de preparación de proyectos. La actividad se realizará con el apoyo del GCF, del Fondo Global de Infraestructura y del Programa de Asistencia para la Gestión del Sector de Energía (ESMAP), del Banco Mundial.

"Este modelo de financiación innovadora nos ayudará a desbloquear el potencial de inversión en los sectores de iluminación pública y eficiencia energética industrial, que ya habían sido identificados como particularmente prometedores para soluciones basadas en el mercado. Pero esperamos que el ejemplo incentive enfoques similares también en otras áreas", afirma Martin Raiser, director del Banco Mundial para Brasil.

De hecho, movilizar inversiones del sector privado será importante para la infraestructura de Brasil y, sobre todo, para cumplir los Objetivos de Desarrollo Sostenible (ODS) de las Naciones Unidas para el año 2030. La Conferencia de las Naciones Unidas para el Comercio y el Desarrollo (UNCTAD) calcula que solo en los países en desarrollo se necesitarían inversiones anuales de entre 3,3 billones y 4,5 billones de dólares. Faltan alrededor de 2,5 billones de dólares al año para suplir esa necesidad.

Contribución para el clima

Por medio del FinBRAZEEC, Brasil podrá dejar de emitir 12,5 millones de toneladas de CO2 equivalente durante la vida del proyecto. Este programa también busca ayudar al país a cumplir una de sus metas determinadas en el Acuerdo de París contra el cambio climático: mejorar la eficiencia en el sector eléctrico en un 10% para 2030.

Al combinar innovaciones financieras y climáticas, el proyecto puede servir de modelo para inversiones tanto en energía limpia como en otros sectores en Brasil y en todo el mundo en desarrollo, donde las necesidades de infraestructura son muchas, y los recursos públicos, limitados. Además, contribuir a un futuro con ciudades más sostenibles, en las que la iluminación pública y la industria cumplen sus funciones sociales y económicas sin dañar los recursos naturales.

Economia brasileira colabora para o consumo de agrotóxicos


Economia brasileira colabora para o consumo de agrotóxicos

Cerca de 30% dos agrotóxicos utilizados no Brasil são proibidos nos países onde são desenvolvidos, diz especialista




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O programa Ambiente É o Meio desta semana traz o tema geografia agrária e agrotóxicos, com a professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia e do programa de pós-graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em 2017, como resultado de seu pós-doutorado na Universidade de Strathclyde, na Escócia, publicou o Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia.


Larissa ressalta que o Brasil vem cada dia mais se configurando como um país agroexportador; de cada dez produtos mais exportados, sete são de origem agropecuária. “Isso leva o Brasil a ser um dos maiores produtores, por exemplo, de soja, açúcar, papel e celulose, uma das raízes que faz do País um grande consumidor de agrotóxico”, esclarece.


Boa parte dos agrotóxicos, lembra a professora, utilizados no Brasil são ilegais no exterior. “O produto que é importado para cá, em sua maioria, é de origem europeia. Existe ainda uma contradição lícita neste processo, afinal cerca de 30% dos produtos utilizados no País são proibidos na União Europeia.”


Ambiente É o Meio é uma produção da Rádio USP Ribeirão Preto em parceria com professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e Programa USP Recicla da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP.


Ouça na íntegra o programa Ambiente É o Meio.






Ancestrais das aves sobreviveram a meteoro que extinguiu dinossauros

Ancestrais das aves sobreviveram a meteoro que extinguiu dinossauros

Nas florestas reconstruídas as aves ocuparam os galhos das árvores e desenvolveram membros mais curtos






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Representação artística e hipotética de como teria sido o impacto do asteroide que formou a cratera de Chicxulub, no México – Imagem: Donald E. Davis
– www.jpl.nasa.gov / Domínio público
Há 66 milhões de anos, um meteoro, de aproximadamente dez quilômetros de diâmetro, caiu na região que hoje é conhecida como a costa da Península de Yucatán, no México, e causou grande destruição na Terra, que é vista como uma das principais causas da extinção dos dinossauros.
Pesquisadores britânicos, americanos e suecos descobriram que aves que viviam no solo conseguiram sobreviver e ocuparam as árvores quando as florestas ressurgiram, desenvolvendo membros mais curtos e características para agarrar galhos e ramos.

O professor Max Langer, do Laboratório de Paleontologia do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) da USP, em Ribeirão Preto, comentou a pesquisa.
Ecomorfologia de membros inferiores sugere transições mais demoradas para arborealidade entre aves do cenozóico – Imagem: Daniel Field e colaboradores / revista Current Biology
Ele disse que além dessas, espécies muito recifes e grupos de corais foram extintos na mesma época. 
Ouça, no link acima, a íntegra da entrevista.






Contaminação oceânica atinge a saúde humana



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O programa Ambiente é o Meio desta semana entrevista Caio Vinícius Zecchin Cipro, engenheiro de alimentos pela Unicamp, atualmente bolsista de pós-doutorado pela Fapesp junto ao Instituto Oceanográfico (IO) da USP.


Cipro explica o que são e quais são os metais pesados que contaminam os oceanos e lembra que essa expressão nem é mais usada. “Nem todos os elementos são metais e nem todos são pesados, então hoje usa-se elementos-traço.”


Esses elementos-traço vêm de fontes naturais, mas, por conta da ação humana, desde a economia até o avanço da tecnologia, esses elementos estão sendo usados de outras formas, muitas delas prejudiciais. “Existe uma série de efeitos nocivos para a saúde humana. O mercúrio, por exemplo, bastante conhecido e muito usado no garimpo, e o chumbo são elementos que possuem uma série de efeitos neurotóxicos; já o cádmio interfere na formação dos ossos e é super tóxico para os rins. 

Sozinhos esses elementos já são tóxicos, quando se misturam com outros a toxicidade aumenta”, alerta. 


Por: Vitória Junqueira

Descarte de resíduos químicos poderia ser mais eficiente, aponta estudo


Descarte de resíduos químicos poderia ser mais eficiente, aponta estudo

Pesquisa analisou o descarte de resíduos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, sugerindo melhorias





Foto: scheidegger0/Pìxabay CC0
Muitas vezes, o vidro que foi para o lixo de casa é separado por ser perigoso para quem coleta. Essa é uma forma simples e prática de prevenir acidentes no descarte doméstico. Mas, e no caso de resíduos oriundos de laboratórios químicos? Como o descarte deve ser feito para evitar danos à saúde ou mesmo gastos desnecessários? A pesquisadora Patrícia Amorim, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP investigou o despejo de resíduos químicos nos laboratórios da faculdade. 


Os resultados do seu trabalho foram um aumento na conscientização da comunidade, trazendo a informação de que 10% dos resíduos gerados são facilmente tratáveis ー sem grande esforço ou investimento em infraestrutura, só com capacitação das pessoas envolvidas ー, e isso  também ocasionaria uma redução nos gastos com os descartes.


Um exemplo dessa possibilidade de tratamento é a recuperação da acetonitrila, um solvente orgânico muito utilizado em análises, como a cromatografia líquida ー um método de separação de compostos químicos. “A acetonitrila é um subproduto do petróleo, então se ele entra em crise, nós tentamos recuperá-la com um nível de pureza satisfatório ー conseguimos soluções com mais de 99% de pureza ー usando uma concentração padrão, com descarte frequente na faculdade. Além dela, podem ser recuperados outros solventes, como o metanol e o acetato de etila, por exemplo.”

Identificar para tratar

Em sua pesquisa, Patrícia analisou o descarte de resíduos sob duas perspectivas complementares: gerenciamento e tratamento. Ela conta que no gerenciamento foi feito o levantamento de resíduos descartados no período estudado, além de outras identificações. “Fizemos um levantamento de todos os resíduos gerados aqui [na FCF] no período de janeiro de 2014 a agosto de 2016, e de como eles estavam sendo descartados. Então foi feito um inventário, para manter um controle de identificação, quantificação e rastreabilidade, para saber de onde vinha o resíduo.”

Com sua pesquisa, Patrícia Amorim tentou trazer mais conhecimento e eficiência no descarte de resíduos químicos – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Ao todo, a FCF tem mais de 73 laboratórios. Esse número permite uma visualização do quanto de resíduo é produzido e por isso a faculdade faz, mensalmente, o descarte dos resíduos químicos ー considerados perigosos. “No entanto, alguns dos resíduos gerados não precisariam ser descartados como perigosos se tivessem um tratamento prévio antes de sair do laboratório gerador. Diminuindo riscos posteriores para as pessoas que transportam os resíduos e produzindo benefícios ambientais e econômicos para a unidade”, conta Patrícia. 

Com isso em mente, e com o apoio de sua xará, a especialista do Instituto de Química (IQ) da USP Patrícia Busko di Vitta, Patrícia Amorim analisou e identificou resíduos tratáveis dentro da própria faculdade com base em compatibilidade química, segurança e facilidade de manuseio.

Treinamento necessário

Patrícia Amorim diz, no entanto, que para que haja essas melhorias no tratamento e no gerenciamento de resíduos, fazem-se necessárias algumas medidas, como a capacitação das pessoas envolvidas ー devido à alta rotatividade do corpo discente ー e a criação de um centro de tratamento de resíduos, como o do IQ, instituto modelo na USP quando se trata de descarte de resíduos químicos. Segundo a pesquisadora, a diretoria da faculdade tem sinalizado interesse nas propostas de melhoria no processo de descarte e tem, também, investido nessa questão, como, por exemplo, na compra de um carrinho elétrico para auxiliar no transporte dos resíduos até o prédio Semi Industrial da FCF, próximo à Poli-Química (prédio da Engenharia Química da Escola Politécnica).

A dissertação de mestrado de Patrícia Amorim teve orientação do professor Ricardo Pinheiro, presidente da Comissão de Resíduos da Comissão Interna de Segurança Química e Biológica da FCF.

Mais informações: e-mail pmsa@usp.br, com Patrícia Amorim






Maior rigor contra desmatamento tiraria menos de 1% do PIB do Brasil

 

Maior rigor contra desmatamento tiraria menos de 1% do PIB do Brasil

 

Economia suportaria impacto em troca de maior regeneração da mata nativa, mas efeitos variam por estado





 Estados que cultivam produtos como arroz, milho e trigo têm a economia menos afetada pelas restrições sobre o uso da terra  – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens.
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Mudanças que tornassem o Novo Código Florestal mais rigoroso do que é hoje resultariam em perdas inferiores a 1% no resultado do PIB nacional até 2030. As estimativas são da economista Mari Aparecida dos Santos, que avaliou cenários sem dois mecanismos de compensação ambiental que estiveram no centro do debate entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento de um pacote de ações que tratavam da constitucionalidade do Novo Código. O julgamento foi finalizado em fevereiro.


Segundo Mari Aparecida, os benefícios ambientais produzidos pela maior regeneração da vegetação nativa permitem à economia brasileira suportar uma queda do PIB em até 1%. No entanto, os impactos econômicos são distintos entre os estados: os que mais perdem são Pará, Tocantins, Mato Grosso, Goiás e o Distrito Federal. A economista desenvolveu a pesquisa durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.


As estimativas foram geradas a partir de modelos que tomaram como base a total efetividade do Novo Código Florestal. Esta situação base foi comparada com outros três cenários, dois dos quais a economista destaca. O primeiro deles considera a hipótese de que não houvesse Cotas de Reserva Ambiental. 


O segundo projeta uma situação em que não houvesse anistia para desmatadores. A pesquisadora projetou as variações do PIB para o período de 2010 a 2030, considerando a efetiva aplicação da legislação a partir de 2020.

Sem regras flexíveis

As Cotas de Reserva Ambiental são títulos que funcionam como mecanismo de compensação do desflorestamento em propriedades privadas. Pelo Novo Código Florestal, todo imóvel rural deve preservar a vegetação natural em uma área de 20% a 80% do total da propriedade – o percentual varia de acordo com a localização do imóvel. Essa é a chamada Reserva Legal. O julgamento no STF definiu que, se o proprietário do imóvel tiver desmatado mais do que o permitido pela lei, ele poderá compensar o desmatamento em outro imóvel, desde que se localize no mesmo bioma.



Essa flexibilização da regra da Reserva Legal vale somente para áreas que foram desmatadas antes de 22 de julho de 2008 e ainda não foi regulamentada em todo o País. Deverá funcionar da seguinte forma: as propriedades que tiverem superávit de áreas preservadas poderão obter os títulos de Cotas de Reserva Ambiental junto às autoridades e negociá-los na bolsa de valores com proprietários que desmataram acima do limite da Reserva Legal. Supõe-se que o mecanismo será mais utilizado por produtores agrícolas, já que os pecuaristas dispõem de espaço para reflorestamento.

A economista calculou que, na ausência das cotas, haveria uma redução de 0,12% no PIB nacional, sem prejuízo de longo prazo ao nível de emprego. Nesta hipótese, as exportações poderiam até melhorar, em caso de desvalorização do real.

O outro cenário relevante diz respeito à anistia ao desmatamento ocorrido antes de 22 de julho de 2008, data em que entrou em vigor o decreto federal que estabelece sanções por crimes ambientais “As propriedades que tiverem áreas consolidadas podem ser anistiadas do desmatamento ocorrido anteriormente à lei de crimes ambientais. Isso serve principalmente para as pequenas propriedades, que não perderão área produtiva. É importante para o pequeno agricultor, para que ele não tenha tantas perdas econômicas”, explica Mari.
No cenário sem anistia, o impacto seria um pouco maior do que no cenário sem as Cotas de Reserva Ambiental, com queda de 0,5% no PIB. “Em contrapartida, vai haver maior regeneração ambiental”, diz a economista.



Perdas regionalizadas

Além de calcular os resultados macroeconômicos nacionais, Mari observou de que forma a ausência dos mecanismos previstos no Novo Código afetariam a economia dos estados.
“Eu verifiquei que o cultivo da soja e a pecuária foram (as atividades) mais afetadas com essas restrições no uso da terra. Por isso, os estados que perdem área produtiva para esses dois produtos também perdem mais na questão econômica”, conta a economista. “Os demais produtos analisados, como o arroz, o milho, o trigo e outros cereais, sofrem variações inferiores a 0,6 milhões de hectares em ambos os cenários, assim como a cana-de-açúcar, a mandioca, o algodão e a exploração florestal. Então, os estados que cultivam esses outros produtos têm uma perda menor”, completa.
No cenário sem cotas, o estado que mais perde é o Mato Grosso, que veria uma redução de 4,5% no PIB estadual. Haveria também perda de 0,9% no Pará e no Tocantins. Já no cenário sem anistia, o estado que mais perde é Goiás, que junto com o Distrito Federal vê o PIB regional recuar 4,3%. O Mato Grosso do Sul veria uma perda de 1,4%.


Nem todos os estados perdem. Os principais beneficiados pelo cenário sem cotas são Rondônia, que veria um acréscimo de 1,5%, e o conjunto formado pelo Acre, Amazonas, Roraima e Amapá, que teria aumento de 0,9% no PIB. Minas Gerais não seria afetada pela ausência do mecanismo.

A economista rodou as simulações a partir de modelos que usam dados macroeconômicos e projeções de uso do solo baseadas em informações georreferenciadas. A matriz de dados é alimentada por dados de pesquisas do IBGE, do Inpe e da SOS Mata Atlântica.

Plástico: um mal necessário que deve ser reciclado adequadamente

Plástico: um mal necessário que deve ser reciclado adequadamente

Não se pode mascarar o problema da falta de reciclagem do plástico com argumentos não completos, diz Saldiva






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Paulo Saldiva, na edição de hoje, comenta as frentes que defendem o uso indiscriminado de plástico em contraposição ao tema da ONU Meio Ambiente deste ano que tratou sobre Acabe com a poluição plástica.

Segundo o professor, o presidente da Fiesp, em uma matéria da Folha de S.Paulo, diz que plástico não faz mal para a saúde porque é composto somente de carbono e hidrogênio. Para Saldiva essa afirmação carece de informação verdadeira. “Não se pode mascarar o problema da falta de reciclagem do plástico através de argumentos não completos. É bom recompor a verdade e afirmar: Sim, nós somos dependentes do plástico, mas para que sejam seguros eles têm que ser reciclados de forma adequada”, afirma.

Ouça, no link acima, a íntegra da coluna Saúde e Meio Ambiente.








Lama da Samarco pode ser “bomba-relógio” de metais pesados no Rio Doce




Lama da Samarco pode ser “bomba-relógio” de metais pesados no Rio Doce

Rejeitos provenientes do desastre em Mariana (MG) continuam chegando ao estuário do Rio Doce






Resíduos do reservatório da Samarco em Minas Gerais continuam chegando ao estuário do Rio Doce e o material está associado a metais pesados que correm o risco de serem liberados no ambiente – Foto: Xosé L.Otero


Uma “bomba-relógio” com metais pesados continua ameaçando o estuário do Rio Doce, mesmo após dois anos e meio do vazamento de 50 milhões de metros cúbicos (m3) de rejeitos de mineração do reservatório da Samarco, localizado no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (Minas Gerais). Essa conclusão é resultado de um estudo desenvolvido em parceria por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA).


“A ideia era de que a maior parte daquele material liberado após o acidente ficasse nas proximidades da barragem e do município de Mariana. No entanto, a lama chegou a Regência, uma vila localizada no litoral do Espírito Santo, região importante ecologicamente, com intensa atividade de pesca e turismo, onde o Rio Doce deságua”, lembra Tiago Osório Ferreira, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq.

Segundo o estudo, o rejeito continua chegando ao estuário e o material está associado a metais pesados, que correm o risco de serem liberados no ambiente. “Em função das condições locais de solo, esses metais podem, a médio ou longo prazo, ser biodisponibilizados”, complementa o docente.
Parte desse estudo foi publicada pelo pesquisador Hermano Queiroz, doutorando do programa de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, da Esalq. Queiroz identifica alguns dos metais encontrados. “Identificamos cobre, manganês, zinco, cromo, cobalto, níquel, chumbo, todos eles associados ao rejeito”, ressalta.

Novo desastre
A disponibilização de metais pesados em um sistema estuarino pode resultar em novo desastre. “Alguns desses metais são tóxicos e podem se acumular em plantas e peixes, acarretando efeitos potencialmente nocivos sobre a fauna e a flora associadas a esse ecossistema”, destaca o professor Ferreira.


Águas do Rio Doce em Galileia (Minas Gerais), com a lama da barragem da Samarco que se rompeu no município de Mariana em 5 de novembro de 2015 – Foto: Eli Kazuyuki Hayasaka via Wikimedia Commons/CC BY-SA 2.0
Os pesquisadores alertam ser perigoso considerar apenas os patamares atuais de contaminação. “Olhando para os níveis de contaminação de hoje, apenas o níquel e o cromo, entre os metais analisados, estão em níveis superiores ao permitido pela legislação brasileira. No entanto, essa visão estática não acompanha a dinâmica da movimentação do material que segue em direção ao estuário periodicamente; por exemplo, cada vez que chove, mais rejeito é depositado”, constata Queiroz.

Além disso, considerar os índices totais de contaminação mascara o fato do rejeito rico em ferro ser uma fração instável, podendo ser solubilizado e facilitar a liberação dos metais pesados. “Os oxihidróxidos de ferro, nas condições de solo estuarino, são suscetíveis a dissolução, o que poderá aumentar a biodisponibilidade e o risco de contaminação por metais”, observa o pesquisador.

O estudo faz parte do projeto Rede de Solos e Bentos na Foz do Rio Doce (Rede SoBEs RIO DOCE), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), e pode ser lido, na íntegra, em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969718315547. Sob solicitação, os resultados foram apresentados ao governo do Estado do Espírito Santo.

Com informações de Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq

Mais informações: e-mails hermanomelo@usp.br, com Hermano Queiroz; e toferreira@usp.br, com o professor Tiago Osório Ferreira

Libération (França) – La vie dans un monde trop chaud

MEIO AMBIENTE E ENERGIA


Libération (França) – La vie dans un monde trop chaud


Plus fréquentes et intenses, les vagues de canicule font sentir leur impact sur la santé et l’environnement. Cette année, c’est tout l’hémisphère Nord qui passe un été hors-norme, entraînant décès et hospitalisations.

A Qurayyat, ville aride du sultanat d’Oman, la température n’est pas descendue en dessous de 42,6°C entre le 25 et le 26 juin. Sur toute une journée, aucun point de la planète n’a jamais connu une telle température. Cet épisode extrême n’est que la pointe émergée de l’iceberg de records de chaleur observés à travers le monde depuis le début de l’année. Ils ont causé plus de 70 morts au Canada et encore davantage au Japon. En Californie, des incendies gigantesques dus à la sécheresse intense font rage et ont tué six personnes depuis le début du mois.

«Il y a une très grande cohérence entre les prédictions de l’évolution du changement climatique et les observations de terrain, affirme Robert Vautard, climatologue au Laboratoire des sciences du climat et de l’environnement du CNRS. En Europe, le réchauffement est même plus rapide que prévu. Dans les prochaines décennies, les vagues de chaleur vont se multiplier et s’intensifier partout sur la planète.» Les années 2016, 2015, 2017 et 2014 ont été, dans cet ordre, les plus chaudes jamais enregistrées. 2018 pourrait bientôt se placer en haut de la liste, selon l’Organisation météorologique mondiale.

Face à ce scénario, les pouvoirs publics commencent à s’inquiéter des impacts sur la santé humaine, alors que de nombreux pays ne sont pas armés pour protéger leur population. Le 26 juillet, des parlementaires britanniques ont alerté, dans un rapport, que la chaleur pourrait causer 7 000 morts par an d’ici 2050 si le gouvernement n’adaptait pas les infrastructures du pays. Dans le Sahel, la saison sèche (au printemps) a vu les températures atteindre des niveaux presque mortels. Le chercheur-climatologue François-Marie Bréon précise que «la durée est aussi importante que la température elle-même» car elle favorise le risque de mortalité pour les personnes vulnérables.

Une étude scientifique publiée en 2017 dans la revue Nature concluait qu’actuellement, près de 30 % de la population mondiale est exposée, au moins 20 jours par an, à des températures et de l’humidité au-delà du seuil létal. Pour 2100, ce pourcentage s’élèverait à environ 48 % si on réduit drastiquement les émissions de gaz à effet de serre (GES), et à 74 % si ces dernières continuent d’augmenter (ce qui est en train d’arriver). Sous l’effet conjugué d’une forte humidité et d’une température de plus de 35°C, le corps humain ne peut plus se refroidir par la transpiration.

Chikungunya

«La chaleur affecte aussi la qualité et la quantité d’eau et de nourriture disponible pour les communautés qui vivent dans ces circonstances climatiques extrêmes pendant très longtemps, décrit Shubhayu Saha, professeur à l’université Emory à Atlanta, spécialiste des impacts du changement climatique sur la santé publique. La sécheresse provoque des incendies qui dégagent des fumées toxiques pour l’homme et les animaux.»

Le dérèglement climatique a aussi des effets de long terme sur la santé, mais qui restent encore peu étudiés. Selon l’Association américaine de psychiatrie (APA), l’exposition à de hautes températures est associée à un accroissement de la consommation d’alcool pour lutter contre le stress et à une hausse des admissions dans les hôpitaux et aux urgences des personnes souffrant de troubles mentaux et psychiatriques, ainsi que du nombre de suicides. «On a découvert un lien entre les événements météorologiques extrêmes et une augmentation des comportements agressifs et de la violence domestique», décrit l’APA. «Le désagrément causé par une température trop chaude ou trop froide touche notre système immunitaire, lui-même lié au mental», rappelle le Pr Emmanuel Rusch, médecin de santé publique au CHU de Tours.

Autre conséquence : la transformation des possibilités de transmission des maladies infectieuses. «Les écosystèmes changent, la répartition des insectes aussi, souligne le spécialiste. Il y a dix ans, en Indre-et-Loire, il n’était pas possible d’imaginer la transmission de maladies infectieuses comme le chikungunya véhiculé par le moustique tigre. Aujourd’hui, c’est différent.» Marie Carrega, adjointe au secrétaire général de l’Observatoire national sur les effets du réchauffement climatique (Onerc), confirme : «On s’attend à une remontée des maladies qu’on n’avait plus l’habitude de voir en Europe.» C’est aussi ce que prédit une étude de la revue scientifique britannique Scientific Reports parue l’an dernier et selon laquelle plus de 63 % de 157 agents pathogènes ou maladies (concernant l’homme et l’animal) sont liées au moins à un facteur climatique et pourraient donc évoluer sous l’effet du réchauffement.

Chaleur est aussi synonyme de pollution de l’air. De la frontière nord de la France à la vallée du Rhône en passant par Paris, l’épisode de canicule de la semaine dernière s’est accompagné d’une hausse des concentrations en polluants atmosphériques. «La pollution à l’ozone [qui prend la forme du smog, ndlr] se produit de manière concomitante avec la hausse des températures, affirme Robert Vautard. L’air chaud circule lentement et s’alimente en pollution à son passage au-dessus des régions industrielles et au fort trafic routier.» Respirer beaucoup d’ozone peut provoquer crises d’asthme, encombrements des bronches et irritations oculaires.

Est-on prêt à faire face à ces menaces ? «En France, il a fallu attendre la canicule de 2003 pour développer un plan de prévention et d’adaptation efficace, souligne le chercheur. Il n’est basé que sur les observations, pas sur les prévisions climatiques établies par les scientifiques.» Aux Etats-Unis, plus de 130 groupes de protection des travailleurs ont déposé, le 17 juillet, une requête auprès de l’administration Trump pour l’élaboration d’un plan pour les personnes travaillant en extérieur. La série de canicules de cet été a déjà provoqué la mort de plusieurs personnes, notamment des agriculteurs.

Selon l’Organisation internationale du travail, les chaleurs extrêmes pourraient conduire à des pertes de productivité au travail équivalentes à 2 000 milliards de dollars à l’échelle mondiale. Car «notre activité économique tout comme notre bien-être dépendent du climat», rappelle François-Marie Bréon. En France, le code du travail, par exemple, prévoit pour les travailleurs du BTP la mise à disposition de lieux de repos, mais aussi «de l’eau potable et fraîche, à raison de trois litres au moins par jour et par travailleur» et même «l’arrêt du travail en cas d’intempéries». Mais on est encore loin des bons réflexes de l’Espagne et du Portugal, qui décalent leurs horaires à cause de la chaleur.

Océan saturé de chaleur
Les hommes ne sont pas les seuls touchés. Animaux et végétaux sont aussi bouleversés par la fournaise. En France, certains oiseaux et arbres ont débuté leur ascension vers des altitudes plus fraîches, mais risquent d’être coincés par les hauteurs dans les prochaines décennies. Plus alarmant encore : les océans captent 93 % de la chaleur liée aux émissions de GES. «Ce réchauffement des eaux entraîne la fonte des glaces aux niveaux des pôles et la montée du niveau des mers, développe Françoise Gaill, coordinatrice du conseil scientifique de la plateforme Océan et Climat. Il participe à leur acidification, ce qui a de graves impacts sur certaines espèces marines, notamment les mollusques et les coraux.» Des populations de poissons ont déjà commencé à migrer vers le nord pour éviter de cuire. «Nous savons que l’océan a une limite de chaleur qu’il peut capturer, mais nous ne la connaissons pas encore, reprend la chercheuse. Atteindre ce seuil de saturation aura des conséquences dramatiques pour tous les écosystèmes, les humains y compris.»

Par Aurore Coulaud et Aude Massiot