Por Fabio Pellegrini
- terça-feira, 14 fevereiro 2017 22:39
Cercado
por lavouras de soja e pastagens, Banhado do Rio Formoso atingido por
chamas é
refúgio de animais em extinção. Foto: Divulgação.
Campo Grande (MS) – Um incêndio de grandes proporções atingiu o
Banhado do Rio Formoso, em Bonito, Mato Grosso do Sul, na quinta-feira
(9) e durou até domingo (12), queimando aproximadamente 39% dos seus
2.275 hectares, segundo o Núcleo de Geoprocessamento de Bonito.
Moradores ficaram receosos do fogo atingir atrativos turísticos, sedes
de fazendas e chácaras e se mobilizaram no combate.
O fogo teria sido causado por raios e atingiu a vegetação nativa se
alastrando por pelo menos 20 propriedades rurais. O combate foi feito
por membros da Polícia Militar Ambiental, Guarda Municipal, funcionários
e proprietários das propriedades atingidas, guias de turismo e
voluntários, tendo apoio de um helicóptero particular, um caminhão-pipa
da prefeitura de Bonito e bombeiros da cidade vizinha de Jardim.
O secretário de Meio Ambiente de Bonito, Alexandre Ferro, publicou
nota no sábado (11) dizendo que “a natureza nos mandou dois ou mais
raios, que caíram no banhado do Rio Formoso, e o fogo se alastrou”.
Segundo ele, devido ao terreno brejoso, característica do local, “o
acesso é muito difícil e isso não permitiu um controle rápido e
efetivo”.
O comandante da PMA de Bonito, sub-tenente Rebechi, disse que na
segunda-feira a situação ficou controlada, devido a chuva e aos
esforços: “Há 99% de chances do fogo ter causas naturais pois o lugar
onde começou é inacessível, é brejo. Os fazendeiros gradearam ao redor
das plantações e pastagens para protegê-las. O fogo pegou somente no
banhado”.
Os prejuízos ainda não foram calculados. Um vídeo divulgado nas redes
sociais mostra dois rapazes tentando capturar um tamanduá-mirim que
fugia do fogo e se lançava no rio Formoso.
“A
cidade não tem Corpo de Bombeiros, exceto no aeroporto. Ainda mais com a
infelicidade de ter acontecido em um período do ano em que as brigadas
de incêndios florestais estão desmobilizadas”.
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Para o fotógrafo Daniel De Granville, que atua como guia para
documentaristas de natureza na região e depende diretamente do bom
estado de conservação do banhado e dos rios, o problema trouxe à tona a
falta de estrutura para lidar com problemas assim: “A cidade não tem
Corpo de Bombeiros, exceto no aeroporto. Ainda mais com a infelicidade
de ter acontecido em um período do ano em que as brigadas de incêndios
florestais estão desmobilizadas”.
A brigada do Parque Nacional da Serra da Bodoquena é formada pelo
ICMBio e Ibama somente nos meses da estação de seca, entre maio e
setembro. O banhado é caracterizado pelo capim-navalha, que chega a
alcançar dois metros de altura e o solo encharcado, que acumula matéria
orgânica, atuando como fonte primária de alimento e abrigo para diversas
espécies, inclusive algumas em extinção.
“O acúmulo dessa matéria orgânica funciona como estoque de água, como
uma esponja que armazena água para o ano inteiro. Essa água flui limpa e
é a razão da perenização dos rios”, explica o botânico Arnildo Pott.
O Banhado do Rio Formoso é uma das três áreas que o Conselho
Municipal de Meio Ambiente (Condema) pretendia transformar em unidade de
conservação na categoria Refúgio de Vida Silvestre, mas que tiveram o
processo interrompido judicialmente pelo Sindicato Rural de Bonito.
O superintendente da Fundação Neotrópica do Brasil, Nicholas
Kaminski, entidade favorável à criação da unidade de conservação, lembra
que o banhado não é área de preservação permanente (APP), portanto não
está protegido legalmente.
“A presença de um maior número de UCs no entorno do Parque Nacional da
Serra da Bodoquena pode dar um maior respaldo para manutenção de equipes
de combate a incêndios como o Prevfogo de maneira permanente, e não
apenas durante seis meses do ano”, diz ele.
“Embora natural, o fogo acaba por impactar o banhado, visto que o
entorno está severamente modificado por práticas agrícolas. Dessa forma,
com o incêndio, o ambiente não possui a mesma resiliência para se
recuperar. A fauna não tem ambientes que dão suporte a ela enquanto a
vegetação se recupera e há um comprometimento, mesmo que temporário, das
funções que o banhado realizava, pois não há mata o entorno. É um
ambiente bem peculiar que foi danificado”, diz Kaminski.
Técnicos
do Núcleo de Geoprocessamento de Bonito traçaram polígono a partir da
imagem do
satélite e calcularam que o fogo devastou aproximadamente 880
hectares.
Imagem: NUGEO Bonito.