quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A senciência dos animais, porta aberta para outro entendimento

Gilberto Pinheiro

A senciência dos animais, porta aberta para outro entendimento

Em junho de 2012, um grupo de neurocientistas canadenses e também de outras nacionalidades descobriu que os animais possuem peculiaridades antes entendidas como privilégio da espécie humana – a senciência,...

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12/07/2018 às 15:00
Por Gilberto Pinheiro 

 
Em junho de 2012, um grupo de neurocientistas canadenses e também de outras nacionalidades descobriu que os animais possuem peculiaridades antes entendidas como privilégio da espécie humana – a senciência, ou capacidade de sentir, ter consciência, emoções, sentimentos.


Concluíram que todos os mamíferos, peixes, aves, moluscos possuem os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos formadores da consciência, uma revolução científica, capitaneada pelo proeminente Philip Low, docente da Universidade Stanford e pesquisador do MIT (Massachussets Institute of Technology).


Tal comprovação de seus estudos foi demonstrada à nata científica na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, através de declaração assinada por ele e subscrita por seus pares, inclusive, pelo cosmólogo e físico, recentemente falecido, Stephen Hawking.


Divulgação

Surgiu, assim, uma luz no fim do túnel, uma vez que a ontologia cartesiana sempre foi fonte de entendimento reacionário e preconceituoso em relação à fauna, entendendo os animais como seres autômatos, semoventes, desprovidos de quaisquer tipos de peculiaridades tais como consciência, emoções e sentimentos. Desde os primórdios dos tempos, criou-se o mito de que animais são seres inferiores e nascem para servir à humanidade como melhor lhe aprouver. Descartes, proeminente filósofo e matemático francês no século 17, entendia que os animais estão no mundo para servir ao ser humano e nada mais que isso, concedendo salvo-conduto àqueles que desejam utilizá-los como tração animal, alimentação, serviços pesados, caça, divertimento etc.

Nas sombras desse entendimento, surgiram as experiências laboratoriais, utilizando cobaias animais sem analgesia, um filme de horror e dor que chegou aos nossos tempos e, agora, terá fim em breve tempo, em virtude das novas e bem-vindas descobertas.

Cientes de tais descobertas, é inadmissível que ainda existam rodeios, vaquejadas, rinhas de galo e outras formas de crueldade que subvertem a vida da fauna em amplo espectro. Assim, abrem-se portas para outro entendimento, novas leis que amparem os animais, uma vez que a Lei Federal 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) é branda e incipiente, não punindo com rigor aqueles que maltratam a fauna em sua diversidade, característica comum, conhecida como especismo.

A senciência e direitos dos animais precisam ser disciplina escolar em todos os níveis, inclusive no ensino superior, como disciplina propedêutica. Aqui, no Brasil, estamos distantes desse alvissareiro objetivo e, enquanto isso, nos EUA há dezenas de faculdades de Direito ministrando a matéria Direito Ambiental e, no caso, a bioética animal. Claro que a senciência está inserida no contexto. Um dia, creio eu, também será assim no Brasil. É questão de bom senso e boa vontade por parte das autoridades responsáveis pela educação em nosso país.

*Jornalista

Fonte: Jornal do Brasil 

Documentário ‘Cidadão Animal’ exalta a necessidade dos direitos animais

ATIVISMO


Dirigido e escrito por Oliver Kyr, ‘Cidadão Animal’ mostra realidades em que os animais têm tantos direitos quanto humanos e ressalta a importância disso

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26/04/2018 às 16:30
Por Fernanda Cotez, ANDA 
 
Uma onda de produções audiovisuais estouraram nos últimos anos, com a ascensão do veganismo e do estilo de vida livre de crueldade animal. Conteúdos repletos de informações acessíveis e denúncias de maus-tratos intrínsecos à exploração animal foram capazes de abrir os olhos de incontáveis pessoas ao redor do mundo para a necessidade dos direitos animais serem defendidos.

O veganismo foi, finalmente, deixado de ser visto como um ‘nicho de mercado’, e começou a ser encarado como um fenômeno consciente de resistência ao atual sistema mundial, que é insustentável. O estilo de vida baseado em exploração animal interfere diretamente nas relações de poder existentes no planeta, intensificando atitudes consumistas e irresponsáveis.

Que a disseminação das informações sobre um mundo mais sustentável e baseado em conscientização está influenciando pessoas, não é novidade. E o que seria uma viagem de férias do diretor de cinema Oliver Kyr transformou-se, curiosamente, em uma busca por ativistas dos direitos animais. Tal jornada resultou na produção do recente documentário “ Cidadão Animal – Uma Busca pelos Direitos Animais”.
O documentário 'Cidadão Animal' é uma obra em destaque sobre a necessidade dos direitos animais (Foto: Divulgação)
O documentário ‘Cidadão Animal’ é uma obra em destaque sobre a necessidade dos direitos animais (Foto: Divulgação)

O documentário, que será lançado hoje nos cinemas da Alemanha, terra natal de Oliver, aconteceu por acaso. Em uma viagem à Espanha, acompanhado por sua esposa e sua filha de três anos, uma van e uma câmera, acabaram passando por uma aldeia onde cães e gatos têm os mesmo direitos que os cidadãos humanos, apelidada de “capital mundial dos animais”, onde os animais são chamados ‘vecinos’, que significa ‘vizinhos’ em espanhol. Lá, tudo começou.

Em entrevista à Deutsche Welle, Oliver contou a trajetória de surgimento da ideia do documentário. “Ficamos uma semana inteira [na aldeia] para fazer entrevistas. E então os habitantes de Trigueras de Vallos nos aconselharam também a visitar o Santuario de Animales, um santuário de animais nas proximidades. Eles construíram uma instalação de reabilitação inteira para um porco lá. Assim nós visitamos o hospital animal de lá, e as pessoas recomendaram mais lugares para nós visitarmos.

Naquele momento, já estávamos no meio de um documentário que não havíamos planejado”, conta.
Oliver ressaltou a forma como os direitos animais são vistos em toda a Europa. Na Alemanha, a proteção animal é frequentemente associada a animais negligenciados ou torturados. Já os direitos animais na Espanha são extremamente negligenciados, e há muita crueldade, como você pode testemunhar em touradas e coisas desse tipo. Mas por outro lado, há pessoas altamente comprometidas os animais e seus direitos na Espanha.

Oliver, sua esposa e os cães do santuário em que visitou na Espanha (Foto: T Kühr)
Oliver, sua esposa e os cães do santuário em que visitou na Espanha (Foto: T Kühr)

“Na Suíça, para citar outro exemplo, há uma ampla conscientização pública sobre o fato de que os animais não são coisas, que têm sentimentos e emoções, que sofrem de dor e outros. Esse tipo de consciência ainda não é prevalente em outros lugares, certamente não na Romênia, onde cães de rua são mortos de uma forma extremamente cruel”.

‘Cidadão Animal’ exibirá entrevistas não apenas de ativistas dos direitos animais, mas também de um chef vegano, para despertar “a consciência de que não temos o direito de comê-los”, conforme explicou Oliver à DW.

A intenção da obra é despertar o debate e promover a conscientização. “Chegamos à conclusão de que o mundo em que nossa filha nasceu não é o que gostaríamos que fosse, e por isso eu e minha esposa partimos para realizar projetos que inspirariam as pessoas a aceitar as mudanças necessárias nos seus estilos de vida, para ajudar ativamente a salvar nosso planeta”.

Vidas marinhas ameaçadas na zona costeira do Ceará

Vidas marinhas ameaçadas na zona costeira do Ceará

É possível uma terra viva sem continente, mas pouco provável sem oceano. A biodiversidade existente nas águas salgadas, muito maior que em todas as florestas, é uma riqueza e um...

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27/05/2018 às 17:30
Por Redação

É possível uma terra viva sem continente, mas pouco provável sem oceano. A biodiversidade existente nas águas salgadas, muito maior que em todas as florestas, é uma riqueza e um risco para ela própria, porque é boa e ruim a relação com a exploração humana.

No cartão-postal de Fortaleza, ou do Rio de Janeiro, o recorte é uma beira-mar gigante coroada pelas ondas espumadas, o que não é diferente em mais de 7 mil km de costa brasileira. Como se estivessem debaixo do tapete, os azuis ou verdes mares escondem a vida aquática muitas vezes só visível quando se afoga em terra.

Reprodução | Diário do Nordeste

https://youtu.be/z-bh808CUPU

O mar é imenso, mas nem tudo é a abundância que já foi no lugar onde a descoberta é a porta para preservação ou extinção. Sejam mamíferos, répteis, moluscos, crustáceos, aves marinhas ou simplesmente peixes, as mais de 500 mil espécies de animais marinhos, os bichos do mar, cada uma tem sua batalha no ciclo da vida.

A tartaruga, que já poderia se considerar excepcional vitoriosa ao nascer, chegar ao mar e crescer (uma em cada mil), topa com uma sacola plástica no meio do caminho. Outra, mais outra, até que o corpo cascudo e resistente coma o lixo pensando ser água-viva, folhas e algas. Algumas importantes espécies de animais marinhos vindos de variados recantos do mundo estão ainda mais ameaçadas de extinção quando chegam aos mares brasileiros.

O problema vai se arrastando pelas águas quentes do Nordeste, ricas em matéria orgânica feito banquete para alimentação da fauna. Se os animais cruzam os oceanos, o lixo faz o mesmo. O plástico é como um câncer para esses animais. Somos, assim, a célula cancerígena. Quem tenta não ser esse mal compõe-se em organizações não governamentais ou entidades públicas de conservação, geralmente com poucos recursos financeiros.

Conhecemos mais das cavidades da lua do que as montanhas e ‘rios’ que correm no fundo do mar.
Este DOC, dividido em duas edições, visita os trabalhos de algumas entidades cearenses de leste a oeste da zona costeira. Se não têm como fiscalizar, pescam nos resgates à beira-mar ou na educação de crianças jeitos de uma consciência ambiental para as próximas gerações irem mais fundo que as anteriores. Estão em Acaraú, Itarema, Aracati, Icapuí, Caucaia e Fortaleza. Dentro e fora do mar.

A série
Aves migratórias,  lixo marinho, educação ambiental e falta de investimento às instituições  são temas da 2ª  edição do DOC “Bichos do Mar – Conscientizar é preciso”. A segunda parte da série será publicada na versão impressa e web do Diário do Nordeste dos dias 2 e 3 de junho de 2018.

Fonte: Diário do Nordeste

Antidepressivos poluem águas e afetam o comportamento dos animais

Antidepressivos poluem águas e afetam o comportamento dos animais

Com o aumento do número de pessoas jovens e idosas com problemas de saúde mental e o rápido aumento das prescrições de antidepressivos e medicamentos ansiolíticos, esses problemas de contaminação da água devem piorar, tendo ainda mais impacto na vida selvagem


15/08/2018 às 06:20
Por Bárbara Alcântara, ANDA 
 
Um dos efeitos colaterais muito conhecido dos antidepressivos é a redução da libido em humanos. Novas pesquisas mostraram, no entanto, que não são apenas as pessoas afetadas pelas substâncias presentes na fluoxetina (Prozac). Fêmeas de estorninhos, tipo de pássaro muito comum na Europa, que muitas vezes consomem a droga que tem poluído as águas, se tornam menos “atraentes” para os machos e menos propensas a acasalar. Esta é a última evidência que destaca o dano potencial do que tem sido liberado no meio ambiente.

Como muitas drogas que são consumidas no cotidino, os antidepressivos que não se dissolvem completamente em nossos corpos são excretados pela urina, e encontram o caminho para as estações de tratamento de águas residuais. Essas instalações não têm a capacidade de decompor as drogas, que entram em nossos rios e estuários e entram em contato e se acumulam nos organismos de animais selvagens.
Reprodução | The Independent

Com o aumento do número de pessoas jovens e idosas com problemas de saúde mental e o rápido aumento das prescrições de antidepressivos e medicamentos ansiolíticos, esses problemas de contaminação da água devem piorar. Já sabemos bastante sobre os efeitos da poluição do comportamento animal. Sabemos que os produtos químicos podem alterar a agressão, a capacidade de cheirar, o namoro e a reação da vida selvagem a estímulos como a luz.

Todos esses comportamentos são críticos para os animais que fogem de predadores, encontram comida e companheiros ou defendem territórios. Mas a maioria desses dados vem de estudos em laboratórios. E o comportamento de um animal é muitas vezes muito sensível ao ambiente. Então, para descobrir exatamente como a poluição das drogas está afetando os animais na natureza, meus colegas e eu nos voltamos para a tecnologia para rastrear, medir e analisar seu comportamento.


Uma das dificuldades com isso é que o comportamento animal frequentemente muda rapidamente e é difícil de gravar sem perturbar os espécimes que você está tentando monitorar, especialmente em algo como um rio sombrio. Para levar os humanos como um exemplo, um indivíduo pode não ser agressivo ou ansioso o tempo todo. Seu comportamento pode alterar dependendo se eles estavam em um espaço grande ou contido, ou a hora do dia.

Se você quisesse medir o “efeito feminilizante” do efluente de esgoto nos peixes, você poderia coletar alguns peixes a montante e a jusante da instalação de esgoto e dissecá-los. Ou você pode tirar amostras de sangue que lhe dão um retrato da sua fisiologia ao longo do tempo. Alternativamente, você poderia prender um animal a jusante de uma estação de tratamento de esgoto e fazer medições semelhantes.


Soluções técnicas
Mas quando se tenta medir o comportamento dos peixes, não há um exame de sangue fácil ou uma amostra de tecido que lhe dê um instantâneo do comportamento anormal. Cagar animais naturalmente altera seu comportamento. É aí que a tecnologia pode ajudar.


Por exemplo, marcar animais com marcadores GPS e segui-los com satélites permitiu que os cientistas estudassem o movimento das baleias azuis gigantes em resposta ao ruído, bem como o mergulho em tartarugas e a migração de pássaros. Essas tecnologias permitiram aos cientistas determinar as novas partes das histórias de vida de espécies remotas e ameaçadas, como rotas de migração anteriormente desconhecidas, e como elas respondem a alimentos, predadores e até mesmo distúrbios humanos, como o transporte marítimo.

Pesquisas anteriores em meu próprio laboratório mostraram que crustáceos expostos a antidepressivos gastam cinco vezes mais tempo na luz do que animais que não receberam drogas. Usando câmeras infravermelhas e software de rastreamento, estamos agora otimizando nossos experimentos para que possamos medir seu comportamento no escuro. O software nos permitiu medir automaticamente muitos aspectos do comportamento dos crustáceos, como quais atividades eles realizam, a distância e a velocidade de seus movimentos e a velocidade e ângulos de seus giros. Antes, teríamos que ver meticulosamente horas de vídeos chatos de seus movimentos e registrar manualmente suas ações específicas.

Novos sistemas de software agora incluem software de reconhecimento de comportamento. Por exemplo, se estivéssemos estudando um rato ou um rato, o software registraria automaticamente o tempo que o animal passou preparando, farejando ou comendo, para citar apenas alguns tipos de comportamento. Os desafios futuros envolverão o uso de algoritmos de aprendizado de máquina (uma forma de inteligência artificial) que permitem que o computador identifique padrões de comportamento que não conhecíamos e comportamentos muito sutis não reconhecíveis para os seres humanos. Isso ajudará os pesquisadores a descobrir tipos incomuns de comportamento causados ​​pela poluição.

Nosso próximo objetivo também é determinar se os efeitos do registro da poluição antidepressiva no laboratório também estão ocorrendo na natureza. Pesquisadores na Suécia têm abordado essa mesma questão usando gravações sonoras para rastrear o comportamento de peixes expostos à medicação anti-ansiedade (oxazepam) em um lago inteiro.

Os peixes foram equipados com transmissores acústicos cujos sinais foram captados por receptores ao redor do lago que poderiam triangular com precisão as posições dos peixes. Curiosamente, os peixes expostos ao oxazepam eram mais ousados ​​e se aventuravam mais longe das margens do lago, possuíam territórios maiores e geralmente eram mais ativos. Esses resultados de campo espelharam aqueles reunidos no laboratório, dando certo grau de confiança de que experimentos baseados em laboratório podem estar fornecendo boas informações sobre os efeitos de drogas na natureza.

No futuro, esperamos que o hardware usado para rastrear animais se torne ainda menor, de modo que até pequenos invertebrados, como camarões e caracóis, possam ter seu comportamento monitorado. Mas mesmo agora, essa tecnologia já está nos dando uma boa visão do comportamento de nossa vida selvagem e fornece uma indicação preocupante do impacto das drogas no meio ambiente.

Correio Braziliense – Impostos contêm avanço das novas tecnologias/Entrevista/ Rodrigo Sauaia

MEIO AMBIENTE E ENERGIA



São Paulo — O executivo Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), tem travado uma batalha em Brasília e nas sedes dos governos estaduais para tentar difundir o sistema de geração distribuída, modelo que consiste na produção própria de eletricidade em residências, empresas e indústrias. Atualmente, a energia solar representa menos de 1% da matriz elétrica brasileira, mas chegará a 10% em 2030, e a 32%, em 2040, segundo projeções da consultoria Bloomberg New Energy. Em entrevista, Sauaia afirma que o maior obstáculo para o setor é a elevada carga tributária. Confira os principais trechos da entrevista.

Em que estágio se encontra o setor de energia solar fotovoltaica no Brasil?
A energia fotovoltaica é uma tecnologia recente na matriz elétrica brasileira, mas com grandes oportunidades e que tem crescido nos últimos anos pelo forte interesse demonstrado pela população e também em razão do ganho de competitividade que essa tecnologia traz. A fonte está se tornando cada vez mais barata e acessível. Hoje, o Brasil tem menos de 1% da sua matriz elétrica atendida por energia solar fotovoltaica. Então, é uma tecnologia que ainda está em fase de inserção na nossa matriz.

Qual é o potencial dessa fonte?
Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética, a fonte solar fotovoltaica poderá passar a representar aproximadamente 10% da matriz elétrica brasileira já em 2030. Isso mostra que, ao longo dos próximos anos, esse segmento deve crescer fortemente e a fonte solar fotovoltaica estará cada vez mais presente no dia a dia das pessoas.

Na comparação com países desenvolvidos, o Brasil está bem posicionado nesse mercado?
Quando a gente compara a posição do Brasil com a de outros países, ainda temos muito a fazer. O país está mais ou menos 15 anos atrasado em comparação com as nações líderes em energia solar fotovoltaica. É interessante notar que o Brasil, por outro lado, tem um dos maiores potenciais de energia solar fotovoltaica do mundo, porque tem índices de irradiação solar superiores à média mundial, além da área territorial vasta, e continental, e que pode ser bem aproveitada para gerar energia renovável, limpa e de baixo impacto ambiental por meio do sol.

Qual é a posição do Brasil nesse ranking?
O Brasil, hoje, está entre o 25º e 30º lugar no ranking mundial de potência acumulada em energia solar fotovoltaica. Esse ranking é liderado por países como China, seguida de Estados Unidos, Japão, Alemanha e Itália. A Índia também está bem colocada. Quando a gente olha para quantidade, a potência, aí o Brasil aparece no top ten. Mas ainda estamos atrasados. Precisamos de ações efetivas por parte do governo federal, governos estatuais e municípios, para acelerar o desenvolvimento dessa tecnologia, já que o Brasil tem condições de ser uma liderança mundial em energia solar fotovoltaica, como já é em outras fontes renováveis como hídrica, eólica e biomassa.

Quais são os maiores entraves, para o setor?
Um de nossos grandes desafios está na carga tributária, a tributação desigual, desequilibrada e injusta sobre a energia solar fotovoltaica. Os tributos que incidem sobre os equipamentos e insumos produtivos são muito elevados. Isso faz com que a energia solar fotovoltaica chegue à população a um preço mais elevado do que poderia chegar. Então, é muito importante que o governo realize uma correção na carga tributária. Outro ponto é o financiamento para as famílias e empresas que querem investir na geração de energia solar fotovoltaica nos telhados de residências, comércios e indústrias, e também linhas de financiamento para que o poder público possa inserir essa tecnologia nas suas edificações, como escolas, hospitais, postos de saúde, entre outros. Existem poucas linhas disponíveis em condições competitivas e isso é fundamental.

As boas perspectivas de desenvolvimento de carros elétricos têm ajudado a incentivar investimentos em energia solar?
A energia solar fotovoltaica tem muita sinergia com novas tecnologias e inovações. Então, sim, carros elétricos e o armazenamento de energia em baterias cada vez mais eficientes e baratas são fatores que têm boa sinergia e conversam muito bem com a fonte solar fotovoltaica.

Por que ainda existem poucos fabricantes de placas e equipamentos voltados à geração de energia fotovoltaica no Brasil?
O Brasil tem cerca de 30 fabricantes de equipamentos de energia solar fotovoltaica, o que não é pouco. Na produção de módulos fotovoltaicos, já atuam sete fornecedores instalados no país. O setor gera milhares de empregos e paga milhões em impostos.

A recente valorização do dólar não prejudica a importação, já que encarece os custos dessa operação?
A variação cambial afeta o preço dos equipamentos fotovoltaicos e também os fabricantes com unidades no Brasil que compram insumos no mercado internacional. No entanto, a energia solar fotovoltaica tem também reduzido o preço de seus equipamentos de forma bastante contundente. Na última década, reduzimos mais ou menos entre 70% e 80% o preço dos equipamentos fotovoltaicos. É claro que questão cambial afeta os negócios, mas a tecnologia continua avançando para reduzir os seus preços, seus custos, e tornar essa energia mais democrática e acessível para a população.

Qual segmento tem puxado mais o setor, o empresarial ou o residencial?
O crescimento tem sido equilibrado entre todos os segmentos. O setor residencial responde por cerca de 38% do mercado, enquanto estabelecimentos comerciais representam 44%. As indústrias ficam com 9% dos negócios, à frente da atividade rural, com 6%.

Quais são os números mais recentes de investimento no setor e quais são as perspectivas para os próximos anos?
Seguramente ainda é preciso um envolvimento mais presente do governo federal e também de estados e municípios por meio de programas e políticas de incentivo. Nós estamos 15 anos atrasados, como eu já havia mencionado. A fonte solar fotovoltaica ainda representa menos de 1% da matriz elétrica brasileira, ou seja, de fato, há muito a ser feito, e o governo precisa ter papel mais presente no desenvolvimento dessa tecnologia.

Falta uma política de estado mais agressiva para incentivar a energia solar?
Os municípios também podem fazer sua parte e um bom exemplo disso está em Palmas, no Tocantins, a primeira capital brasileira a desenvolver um programa solar fotovoltaico, e que tem trazido resultados positivos para o uso dessa tecnologia graças aos incentivos oferecidos pelos entes públicos.

Superadas as incertezas eleitorais, os investimentos tendem a crescer?
A questão eleitoral é meramente conjuntural. É cedo para dizer como isso vai afetar as empresas. O que posso dizer é que o setor solar fotovoltaico tem crescido ao longo deste ano mesmo com o Brasil mergulhado no processo eleitoral. Isso é natural. O segmento é muito puxado pela própria conjuntura que o Brasil vive, não na área política, mas na área econômica. O que isso significa? As tarifas de energia elétrica têm subido de forma consistente e isso tem afetado a vida de milhões de brasileiros. Apesar de a inflação média do país estar em torno de 3%, o aumento das tarifas de energia elétrica foi de impressionantes 10%. Isso pesou no bolso do consumidor. Como resultado, as famílias buscaram alternativa, especialmente reduzir os gastos com energia elétrica. Em 2018, o reajuste das tarifas de energia elétrica deverá ficar entre 10% e 15%, percentuais nada desprezíveis, que vão pesar mais uma vez no bolso do consumidor.

Agrotóxicos: PL do Veneno e o fim do sistema de regulação tríplice (agricultura, saúde e meio ambiente)

Agrotóxicos: PL do Veneno e o fim do sistema de regulação tríplice (agricultura, saúde e meio ambiente)

Agrotóxicos e Saúde

PL do Veneno e o fim do sistema de regulação tríplice. Entrevista especial com Aline do Monte Gurgel

IHU
Apesar de o Ministério da Saúde registrar anualmente entre 12 e 14 mil intoxicações por agrotóxicos, e a notificação de casos de intoxicação exógena ser obrigatória no país, “há um grande sub-registro de casos”, informa a pesquisadora da Fiocruz Aline do Monte Gurgel à IHU On-Line. Segundo ela, “estimativas apontam que, para cada caso notificado, 50 outros deixam de ser informados nos sistemas de informação em saúde.


Praticamente todos os casos notificados são de intoxicações agudas, porque é mais fácil estabelecer uma relação causal nessas situações, onde os sinais de intoxicação surgem pouco tempo depois da exposição. Os casos crônicos, onde os sinais de intoxicação demoram mais tempo para aparecer, dificilmente são diagnosticados e notificados, dificultando precisar o número de ocorrências no país”.


De acordo com Aline, não existe “exposição segura aos agrotóxicos”, porque “o perigo é uma das características intrínsecas” ao produto. A noção de “uso seguro” dessas substâncias, alerta, “é um conceito disseminado majoritariamente pelo agronegócio, que precisa vender a ideia de que as pessoas podem se expor aos agrotóxicos sem que haja intoxicação”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, a pesquisadora também comenta o PL do Veneno. Se a medida for aprovada, afirma, ela irá impor uma série de retrocessos, entre eles, o desmonte do sistema de regulação tríplice e vigente no país, que consiste em liberar os agrotóxicos para comercialização somente depois da análise dos Ministérios da Saúdeda Agricultura e do Meio Ambiente, deixando a avaliação a critério do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa. “Acontece que os órgãos de Saúde e do Meio Ambiente realizam suas avaliações de toxicidade com base em critérios técnicos que são observados por especialistas da área, buscando zelar pela defesa da saúde e proteção da vida. Como o Mapa não possui competência técnica para realizar tais análises, o processo de avaliação dos agrotóxicos pode se tornar um mero procedimento burocrático realizado sem o rigor técnico e científico necessários, uma vez que ele não possui expertise para realizar tais análises. Essa concentração de poderes no Mapa deixa esse Ministério ainda mais vulnerável aos interesses do mercado”, adverte.
Aline do Monte Gurgel é graduada em Biomedicina pela Universidade Federal de Pernambuco – Ufpe e mestra e doutora em Saúde Pública pelo Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é pesquisadora na área de Saúde Pública na Fiocruz.

pulverização aérea de agrotóxicos

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Segundo dados do Ministério da Saúde, são registradas anualmente entre 12 e 14 mil intoxicações por agrotóxicos no país a cada ano. Esse dado é uma surpresa ou não, tendo em vista o uso de agrotóxicos no país?
Aline do Monte Gurgel – Embora a notificação dos casos de intoxicação exógena, como os decorrentes da exposição aos agrotóxicos, seja obrigatória no Brasil, temos observado que há um grande sub-registro de casos. Estimativas apontam que, para cada caso notificado, 50 outros deixam de ser informados nos sistemas de informação em saúde. Praticamente todos os casos notificados são de intoxicações agudas, porque é mais fácil estabelecer uma relação causal nessas situações, onde os sinais de intoxicação surgem pouco tempo depois da exposição. Os casos crônicos, onde os sinais de intoxicação demoram mais tempo para aparecer, dificilmente são diagnosticados e notificados, dificultando precisar o número de ocorrências no país.


Mesmo diante do sub-registro, o número de casos notificados é bastante expressivo e ajuda a entender a dimensão do problema representado pelas intoxicações decorrentes do uso de agrotóxicos no Brasil, que tem grandes impactos para a saúde, o ambiente e a sociedade.


IHU On-Line – Quais são as complicações ou problemas de saúde gerados por conta das intoxicações por agrotóxicos?
Aline do Monte Gurgel – A exposição aos agrotóxicos está associada ao surgimento de diversos problemas para a saúde, desde casos de intoxicação aguda, cujos sinais mais brandos de intoxicação podem incluir náuseas, vômitos e dores de cabeça, a doenças graves como o câncer e Parkinson, além de danos potencialmente irreversíveis e fatais, como mutações genéticas, casos de malformação do feto ainda na barriga da mãe e abortos.
IHU On-Line – É possível estimar quais são as principais causas dessas intoxicações e qual é o perfil dos intoxicados?
Aline do Monte Gurgel – As intoxicaçõesocorrem porque as pessoas se expõem ao veneno, por diferentes vias e em diferentes situações. Pode haver exposição dietética, que se dá pelo consumo de alimentos contaminados com resíduos de agrotóxicos, sejam eles in natura (como frutas e verduras), ultraprocessados (como massas e salgadinhos) ou de origem animal(leite e carne de animais que se expuseram previamente aos agrotóxicos). A exposição também pode ser ambiental, quando a pessoa entra em contato com solo ou água contaminados com resíduos de agrotóxicos, ou por meio da exposição ocupacional, que é quando o contato com o veneno se dá no processo de trabalho, seja ele em uma fábrica que produz agrotóxicos ou no campo, durante a aplicação dos venenos agrícolas, por exemplo.

É importante frisar que a exposição não acontece por um comportamento inadequado da população ou por meio de “atos inseguros” dos trabalhadores que manuseiam agrotóxicos; a toxicidade é uma característica dos agrotóxicos, como o próprio nome diz, e, mesmo que sejam adotadas medidas para reduzir a exposição, o perigo não é eliminado.

É importante destacar que as intoxicações não se distribuem igualmente na população; se concentram nos grupos populacionais mais vulnerabilizados, como trabalhadores rurais, indígenas, quilombolas, bem como pessoas imunocomprometidas, como crianças e idosos.


IHU On-Line – Alguns pesquisadores debatem sobre o uso seguro ou não desses produtos. Na sua avaliação, existe uso seguro de agrotóxicos?
Aline do Monte Gurgel – O uso seguro de agrotóxicos é um conceito disseminado majoritariamente pelo agronegócio, que precisa vender a ideia de que as pessoas podem se expor aos agrotóxicos sem que haja intoxicação. A verdade é que não existe exposição segura aos agrotóxicos, uma vez que o perigo é uma característica intrínseca aos agrotóxicos, não sendo possível eliminá-lo. A adoção de medidas de proteção coletiva e o uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPI pelos trabalhadores pode apenas reduzir o risco de exposição, mas nunca vai alterar o potencial de uma substância de causar intoxicações. Ademais, é preciso considerar que grande parte dos EPI foi concebida para proteger contra agentes isolados, sendo incapazes de proteger contra a exposição a misturas, onde muitas vezes agrotóxicos diferentes interagem entre si, potencializando seus efeitos tóxicos, provocando os chamados efeitos sinérgicos. Os agrotóxicos também podem interagir com os EPI em escala molecular, levando à absorção das moléculas do produto e consequente exposição humana.


Igualmente, existem muitas falhas de concepção e de projeto em relação aos EPI. Por exemplo, muitos dos EPI atualmente comercializados para a proteção contra agrotóxicos foram adaptados da indústria sem revisão das especificações, isto é, foram projetados para evitar a exposição a outros produtos químicos, e simplesmente indicados posteriormente para a indústria dos agrotóxicos, sem que houvesse para isso qualquer adaptação que eventualmente se fizesse necessária. Da mesma forma, muitos EPI não foram concebidos para uso simultâneo, havendo casos onde as luvas não se integram com a vedação das mangas das roupas. Tudo isso favorece a exposição do trabalhador, representando um aumento no risco do desenvolvimento de diversos problemas de saúde.
É importante ressaltar que esses dados não se baseiam em uma opinião ou ponto de vista. Todas essas informações podem ser evidenciadas em estudos científicos realizados por pesquisadores no Brasil e em outros países, reforçando a tese de que não é possível se expor aos agrotóxicos de forma segura, mesmo que ele seja utilizado conforme prescrito.

IHU On-Line – Como tem se discutido a responsabilização por essas intoxicações na área da saúde hoje? A responsabilidade é atribuída ao agricultor que teve contato com o produto ou ao fabricante?
Aline do Monte Gurgel – Temos que ter cuidado para não responsabilizar individualmente os trabalhadores pelos casos de intoxicação. Temos no Brasil, especialmente após os anos de 1960-70, no período pós-Revolução Verde, um modelo de produção que praticamente impõe o uso de agrotóxicos para os produtores, pois a oferta de crédito foi atrelada à compra de insumos químicos. Com isso o pequeno produtor era praticamente obrigado a usar agrotóxicos em suas plantações, levando à exposição e, consequentemente, ao crescimento dos casos de intoxicação. Também sabemos que as condições de trabalho no campo são muitas vezes precárias, favorecendo as exposições dos trabalhadores. Não dá para culpar o pequeno produtor pelo seu adoecimento, ele é muito mais uma vítima desse modelo de produção.

IHU On-Line – Qual sua avaliação do PL do Veneno? Quais as desvantagens ou vantagens dele em relação à legislação atual? O que deve mudar na regulamentação de registro dos agrotóxicos em relação ao modo como ela ocorre hoje?
Aline do Monte Gurgel – O PL 6.299 impõe uma série de retrocessos para a saúde e o ambiente. Sua aprovação vai permitir a exposição humana a agrotóxicos que hoje têm seu registro proibido no Brasil, a exemplo daqueles relacionados a danos graves como câncer, malformação congênita, mutações e distúrbios no sistema hormonal, por exemplo. A atual legislação brasileira proíbe o registro de agrotóxicos que possam provocar esses efeitos, porém o PL irá permitir a liberação desse tipo de produto no mercado nacional sempre que o risco para a população for considerado “aceitável”. Acontece que para algumas substâncias que podem provocar câncer ou para aquelas que provocam desregulação hormonal, por exemplo, não é possível estabelecer doses de exposição consideradas seguras, pois há risco de dano para cada dose diferente de zero. Não existe risco que possa ser considerado “aceitável” nesses casos, e o PL negligencia isso.


Outro importante retrocesso relaciona-se ao desmonte do sistema de regulação tríplice vigente no Brasil, onde o registro de um agrotóxico se dá somente após a análise de três ministérios: SaúdeAgricultura e Meio Ambiente. A nova proposta legislativa retira dos órgãos da Saúde e do Meio Ambiente a competência de avaliar os impactos dos agrotóxicos em suas respectivas áreas, que seriam agora feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.


Acontece que os órgãos de Saúde e do Meio Ambiente realizam suas avaliações de toxicidade com base em critérios técnicos que são observados por especialistas da área, buscando zelar pela defesa da saúde e proteção da vida. Como o Mapa não possui competência técnica para realizar tais análises, o processo de avaliação dos agrotóxicos pode se tornar um mero procedimento burocrático realizado sem o rigor técnico e científico necessários, uma vez que ele não possui expertise para realizar tais análises. Essa concentração de poderes no Mapa deixa esse Ministério ainda mais vulnerável aos interesses do mercado.

Outro artigo potencialmente problemático do PL diz respeito à prescrição de receita agronômica antes da ocorrência da praga, de forma preventiva. Esta medida, além de não permitir adequar o uso de agrotóxicos ao problema fitossanitário, ao nível de dano ou o estágio da cultura a ser tratada, favorece ainda mais a exposição dos trabalhadores aos agrotóxicos ao ampliar as possibilidades de exposição no campo.

IHU On-Line – Se o PL do Veneno for aprovado, a nova legislação poderá aumentar o número de intoxicações por agrotóxicos?
Aline do Monte Gurgel – A expectativa é acelerar os processos de registro de agrotóxicos, permitindo inclusive o registro de agrotóxicos que estejam relacionados ao surgimento de cânceres, malformação congênita, danos ao sistema reprodutivo, mutações e distúrbios no sistema hormonal. Também será possível produzir no Brasilprodutos que não tenham registro no país, prescrever o uso de venenos de forma preventiva, antes da ocorrência da praga, bem como registrar agrotóxicos sem que sejam feitos estudos toxicológicos no país. Somando todos esses elementos, é de se esperar um aumento da exposição e, consequentemente, do número de intoxicados.
Embora esse aumento seja esperado, pode ser que, em um primeiro momento, ele não se traduza em dados observáveis nos sistemas de informação em saúde, uma vez que muitos dos potenciais agravos esperados surgem tardiamente, como é o caso dos cânceres, que podem surgir décadas após uma exposição.


IHU On-Line – Como deveriam ser feitos os estudos toxicológicos no país?
Aline do Monte Gurgel – Existe um elemento central que precisa ser considerado em qualquer estudo de exposição a agentes tóxicos: o princípio da precaução. O princípio da precaução é considerado o mecanismo mais importante para a preservação da saúde e do ambiente ao prever que a simples presença de indícios de danos causados por um agente como agrotóxicos já seria suficiente para justificar interromper a exposição das pessoas e dos ecossistemas. Assim, diante da possibilidade de dano irreversível público ou ambiental e na ausência de consenso científico irrefutável, a exposição deve ser evitada até que aquele que pretende causar o dano — no caso as empresas que detêm ou buscam o registro do agrotóxico — possam provar, sem sombra de dúvidas, que a exposição àquele agente pode ser considerada segura. Em síntese, a defesa da vida deve se sobrepor a qualquer interesse econômico.

(EcoDebate, 14/08/2018) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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Aquecimento Global: Europa precisa de medidas de adaptação costeira para evitar inundações catastróficas até o final do século



Aquecimento Global: Europa precisa de medidas de adaptação costeira para evitar inundações catastróficas até o final do século


Aquecimento Global – Sem um aumento do investimento na adaptação costeira, o prejuízo anual esperado causado pelas inundações costeiras na Europa pode aumentar de 1,25 bilhão de euros hoje para entre 93 bilhões e 961 bilhões de euros até o final do século.

Joint Research Centre (JRC)*



Cientistas alertam para o risco de inundação sem precedentes, a menos que as medidas de proteção são sempre tomadas.
Cientistas alertam para o risco de inundação sem precedentes, a menos que as medidas de proteção são sempre tomadas.

Devido a um aumento nos níveis extremos do mar, impulsionado pelo aquecimento global, essas inundações costeiras podem impactar até 3,65 milhões de pessoas todos os anos na Europa até 2100, em comparação com cerca de 102.000 atualmente.


Um em cada três cidadãos da UE vive a 50 km da costa.

 

 

Os resultados são o resultado de dois estudos do CCI, onde os cientistas projetam como os níveis globais do mar irão mudar durante o presente século e como a elevação do nível do mar combinada com a mudança socioeconômica afetará as futuras perdas causadas pelas inundações costeiras.


Eles consideraram tanto um cenário em que esforços moderados de políticas são feitos para mitigar a mudança climática e um cenário de ‘business as usual’.

Os cientistas descobriram um risco de inundação sem precedentes, a menos que sejam tomadas medidas de adaptação oportunas.

Para que a Europa mantenha as perdas futuras de inundações costeiras em relação ao tamanho da economia, as estruturas de defesa precisam ser instaladas ou reforçadas para resistir a aumentos nos níveis extremos do mar que variam de 0,5 a 2,5 metros.


Por que o risco adicional?

 

 

A mudança climática é o principal responsável pelo aumento projetado dos custos das enchentes costeiras, com a importância da migração para o litoral, a urbanização e o aumento dos valores dos ativos declinando rapidamente com o tempo.

Esta é uma mudança em relação à situação atual global, onde o risco crescente foi impulsionado principalmente pelo desenvolvimento socioeconômico.

Os níveis extremos do mar são impulsionados principalmente pelo crescente volume de água nos oceanos, como resultado direto do aumento da temperatura, um processo conhecido como expansão térmica.

Outro importante fator contribuinte é a “perda de massa de gelo” – o derretimento do gelo das geleiras e dos lençóis de gelo na Groenlândia e na Antártida e o aumento do nível do mar.

Fundo

Na realização deste estudo, os cientistas utilizaram o LISCoAsT do CCI – Instrumento de Avaliação Costeira e Costeiro Integrado em Grande Escala , no âmbito do projecto PESETA e em cooperação com o departamento da Comissão Europeia para a acção climática .

O LISCoAsT é uma ferramenta costeira de avaliação de impacto de enchentes que considera a dinâmica espacial e temporal de todos os principais componentes que contribuem para a gravidade e o impacto de uma inundação.

Isso inclui projeções dinâmicas e graduais de exposição e mudanças em todos os componentes extremos do nível do mar, desde o nível do mar até marés e tempestades.

Usando a ferramenta, os cientistas realizaram uma avaliação em escala global com precisão de 100 metros, aproximadamente na mesma extensão de um campo de futebol.

Os resultados dos estudos foram publicados na Nature Climate Change and Nature Communication.
Referência:
Climatic and socioeconomic controls of future coastal flood risk in Europe
Michalis I. Vousdoukas, Lorenzo Mentaschi, Evangelos Voukouvalas, Alessandra Bianchi, Francesco Dottori & Luc Feyen
Nature Climate Change (2018)
https://doi.org/10.1038/s41558-018-0260-4

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/08/2018

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