sexta-feira, 21 de março de 2025

A vida pode não ter começado com o código genético do DNA

 

A vida pode não ter começado com o código genético do DNA

Redação do Diário da SaúdeA vida pode não ter começado com o código genético do DNA
Você sabia que os raios solares afetam o RNA, e não o DNA?
[Imagem: AI-generated/Joanna Masel]

Reescrevendo a história do código genético

Você leu há poucos dias sobre a descoberta de que a evolução não é cega e nem aleatória, que há uma "previsão" na evolução? Pois agora cientistas descobriram aspectos totalmente novos sobre a origem do código genético, e estão afirmando que a história dos registros em nosso DNA pode precisar ser reescrita.

Apesar de uma diversidade excepcional, quase todas as formas de vida na Terra - das bactérias às baleias azuis - compartilham o mesmo sistema de código genético, com "instruções" impressas em pares de base nas moléculas de DNA.

Mas como e quando esse código genético surgiu pela primeira vez nos seres vivos tem sido objeto de muita controvérsia científica.

Adotando uma nova abordagem para esse problema antigo, Sawsan Wehbi e colegas da Universidade do Arizona (EUA) descobriram agora fortes evidências de que a versão clássica - a mais aceita pelos cientistas - de como o código genético universal evoluiu precisa ser revisada.

"O código genético é uma coisa incrível, na qual uma sequência de DNA ou RNA contendo sequências de quatro nucleotídeos é traduzida em sequências de proteínas usando 20 aminoácidos diferentes," contextualiza a professora Joanna Masel. "É um processo assustadoramente complicado, e nosso código é surpreendentemente bom. É quase ótimo para um monte de coisas, e deve ter evoluído em estágios."

E é aí que surge o problema: Os novos dados indicam que a ordem em que os aminoácidos - os blocos de construção do código genético - foram recrutados está em desacordo com o que é amplamente considerado o consenso da evolução do código genético.

A vida pode não ter começado com o código genético do DNA
Misteriosos nós de DNA estão espalhados em pontos essenciais do genoma humano.
[Imagem: Cristian David Peña Martinez et al. - 10.1038/s44318-024-00210-5]

Experimentos falhos

O estudo revelou que a vida primitiva preferia moléculas de aminoácidos menores, em vez de maiores e mais complexas, que foram adicionadas mais tarde. Além disso, aminoácidos que se ligam a metais se juntaram muito antes do que se pensava anteriormente. Finalmente, a equipe descobriu que o código genético de hoje provavelmente veio depois de outros códigos que já foram extintos.

Os pesquisadores argumentam que a compreensão atual de como o código genético evoluiu é falha porque se baseia em experimentos de laboratório, e não em evidências evolutivas, e esses experimentos podem ser enganosos ou mal projetados.

Por exemplo, um dos pilares das visões convencionais da evolução do código genético veio do famoso experimento Urey-Miller, feito em 1952, que tentou simular as condições na Terra primitiva que provavelmente testemunharam a origem da vida.

Embora tenha sido valioso ao demonstrar que a matéria não viva pode dar origem aos blocos de construção da vida, incluindo aminoácidos, por meio de reações químicas simples, as implicações do experimento foram questionadas. Por exemplo, ele não produziu nenhum aminoácido contendo enxofre, apesar de esse elemento ser abundante na Terra primitiva. Como resultado, passou-se a acreditar que os aminoácidos sulfúricos teriam se juntado ao código genético muito mais tarde. No entanto, esse resultado não é surpreendente simplesmente porque o enxofre não entrou na lista de ingredientes usados naquele experimento.

Ancestral comum universal

A equipe usou ainda um novo método para analisar sequências amino na árvore da vida, voltando até o último ancestral comum universal, ou LUCA (Last Universal Common Ancestor)), uma população hipotética de organismos que teria vivido há cerca de 4 bilhões de anos e representa o ancestral compartilhado de toda a vida na Terra hoje.

Ao contrário de estudos anteriores, que usaram sequências de proteínas de comprimento total, a equipe se concentrou em domínios de proteínas, trechos mais curtos de aminoácidos. "Se você pensar na proteína como um carro, um domínio é como uma roda. É uma peça que pode ser usada em muitos carros diferentes, e as rodas existem há muito mais tempo do que os carros," comparou Wehbi.

A equipe identificou mais de 400 famílias de sequências que datam do LUCA. Mais de 100 delas se originaram ainda mais cedo e já tinham se diversificado antes de LUCA. Essas acabaram contendo mais aminoácidos com estruturas de anel aromático, como triptofano e tirosina, apesar desses aminoácidos serem adições tardias ao nosso código.

"Isso dá dicas sobre outros códigos genéticos que vieram antes do nosso, e que desde então desapareceram no abismo do tempo geológico," propõe Masel. "A vida primitiva parece ter gostado de anéis."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Order of amino acid recruitment into the genetic code resolved by last universal common ancestor’s protein domains
Autores: Sawsan Wehbi, Andrew Wheeler, Benoit Morel, Nandini Manepalli, Bui Quang Minh, Dante S. Lauretta, Joanna Masel
Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences
Vol.: 121 (52) e2410311121
DOI: 10.1073/pnas.2410311121

A partir do barro, artista indígena cria peças que denunciam ‘craquelamento’ da terra pelo agronegócio

 https://www.brasildefato.com.br/podcast/bem-viver/2025/03/19/a-partir-do-barro-artista-indigena-cria-pecas-que-denunciam-craquelamento-da-terra-pelo-agronegocio/

A partir do barro, artista indígena cria peças que denunciam ‘craquelamento’ da terra pelo agronegócio

De Goiânia, Sallisa Rosa está em exposição no Sesc Pompeia, em São Paulo, com entrada gratuita

 Lucas Salum



 Em cartaz no Sesc Pompeia, região central de São Paulo (SP), a exposição Eixo Terra, de Sallisa Rosa, é resultado da percepção da artista sobre como os recursos naturais estão se esgotando e alterando o eixo de rotação do planeta.

“Às vezes, quando a gente pensa em aquecimento global, a gente está pensando no gelo derretendo. Mas essa água que está dentro do planeta, no lençol freático, é justamente a água que é usada no processo de irrigação de produção de alimento, que é a água usada pelo agronegócio”, explica em entrevista ao Conversa Bem Viver desta quarta-feira (19). “O processo de irrigação tira gigatoneladas de água de um lugar e joga em outro. E isso poderia estar afetando o eixo de rotação da Terra.”

“A exposição foi feita como uma provocação muito grande pra gente pensar nesse craquelamento, na desertificação, nas voçorocas que estão acontecendo no Brasil em várias partes. Isso tudo tem relação com essas águas subterrâneas.”

Construídas a partir de barro e água, as obras em exposição foram feitas enquanto a montagem era construída, de modo que os visitantes pudessem acompanhar o processo. Os trabalhos são constituídos por tijolo de adobe, pau a pique, taipa de pilão e hiperadobe.

Natural de Goiânia (GO), Sallisa Rosa atualmente é residente artística na Rijksakademie, em Amsterdã. Já realizou exposições individuais, como na Pinacoteca de São Paulo (2024) e no Museu de Arte Moderna (MAM) Rio de Janeiro (2021), além de participar de importantes mostras coletivas, incluindo Social Fabric: Art and Activism in Contemporary Brazil em Austin, Texas, nos Estados Unidos, e Histórias Brasileiras e Histórias Feministas no Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Em 2021, foi premiada com o Príncipe Claus Seeds Awards, e seu trabalho foi destacado na Trienal do Serviço Social do Comércio (Sesc) em Sorocaba (SP). A artista também integrou a coletiva Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena no Museu de Arte do Rio (MAR), em 2017.

Confira a entrevista na íntegra

Como foi constituído a ideia da exposição?

O trabalho está relacionado com uma matéria que eu li em um artigo científico, na verdade, na revista Science, há uns dois anos. Eu não sou cientista, mas me senti provocada pelo artigo que falava do movimento das águas internas do planeta, que isso é muito relacionado com o lençol freático.

Eu fiquei muito intrigada com isso, porque, às vezes, quando a gente pensa em em aquecimento global, a gente pensando no gelo derretendo, e essa água que está dentro do planeta, que é uma coisa muito invisível, é justamente a água que é usada no processo de irrigação de produção de alimento, que é a água usada pelo agronegócio.

Esse artigo falava da possibilidade de mudança de peso do planeta porque o processo de irrigação tira gigatoneladas de água de um lugar e joga em outro. E isso poderia estar afetando o eixo de rotação da Terra.

Então chama Eixo Terra para pensar nessa provocação de como que a humanidade está desequilibrando esse eixo do planeta.

A exposição foi feita como uma provocação muito grande pra gente pensar nesse craquelamento, na desertificação, nas voçorocas que estão acontecendo no Brasil em várias partes. Isso tudo tem relação com essas águas subterrâneas.

Você percebe que as pessoas têm captado a mensagem dos seus trabalhos?

Uma vez eu fiz, quando eu fiz essa residência em Belo Horizonte, o objetivo era fazer uma horta de mandioca.

Foi muito doido porque eu lembro que eu postei no Facebook e eu não conhecia ninguém na cidade e apareceram 100 pessoas querendo plantar a mandioca.

Então eu acho que as pessoas têm uma necessidade muito grande, especialmente na cidade, de entrar em contato com a Terra e de aprender essas coisas que a gente esqueceu.

Eu acho que faz muito mais sentido fazer isso em São Paulo, especialmente, porque é uma cidade muito concreta, e as pessoas estão muito interessadas nisso.

Você fala também que sua obra tem um resgate de memórias. Ao que você se refere?

A minha avó se chama América justamente. Eu sempre fiz muita relação da minha avó América com o continente América.

A minha avó é grande, ela é farta… Quando a minha avó foi diagnosticada com o Alzheimer eu tive muita dificuldade de lidar.

A partir daí eu comecei a pensar em memória de outro jeito, fazendo uma relação da memória da minha avó América com a memória coletiva do continente América.

Eu acho que tem uma questão da memória coletiva no Brasil, que não é específica da minha família, mas de muitas famílias, que é essa coisa de não ter acesso à sua memória e de perder a memória de alguma maneira.

Então eu comecei a trabalhar pensando como que eu poderia guardar essa memória, essa pouca memória que restava pra mim, pra minha família.

A forma que eu encontrei de cuidar dessa memória foi colocar essa memória na terra.

Então, o meu processo de trabalhar com a cerâmica é muito artesanal, usando sempre só as mãos e mentalizando isso, as lembranças e as recordações de colocar ela nessa terra.

Ao mesmo tempo, eu acho muito forte o fato de uma pessoa lá do Centro-Oeste, uma pessoa racializada, ter esse nome porque nasceu no dia 12 de outubro, que é o dia que foi invadida essa terra.

É uma forma de pensar a minha avó como um território, a América como um território

Eu sou de uma geração que as avós tiveram que trabalhar muito e lutar muito para a gente conseguir um pouquinho. Então eu falo que agora eu estou fazendo esse trabalho de lembrar o que essa geração teve que esquecer. Porque muita gente, muita coisa, a gente não sabe porque são histórias de violência.

Então eu estou fazendo esse trabalho de neta, que é esse trabalho de lembrar, e eu acredito que a Terra ajuda a gente a lembrar.

Quando o arqueólogo encontra, sei lá, um pote, uma cerâmica, tem toda uma história atrás desse pote, dessa cerâmica, e eu acho que entrar em contato com a Terra, que é essa memória muito antiga, ajuda a gente a lembrar também.

 

Perda de água no Cerrado resulta em seca no Pantanal; desmatamento tem papel central

https://www.brasildefato.com.br/2025/03/21/perda-de-agua-no-cerrado-resulta-em-seca-no-pantanal-desmatamento-tem-papel-central/

Perda de água no Cerrado resulta em seca no Pantanal; desmatamento tem papel central

Dados do MapBiomas indicam que o Brasil perdeu 2% de superfície de água em comparação ao ano anterior

21.mar.2025 às 00h01

 São Paulo (SP)

 Carolina Bataier


 

Nos últimos 40 anos, 91% das bacias hidrográficas do Cerrado perderam água, com destaque para as áreas de atividade agropecuária. A seca no bioma, que tem o desmatamento como uma das principais causas, impacta o Pantanal.

As informações foram extraídas de dados da iniciativa MapBiomas Água, divulgados nesta sexta-feira (21). O levantamento indica que o Brasil perdeu 2% de superfície de água em comparação ao ano anterior.

As cinco bacias hidrográficas que mais perderam superfície de água estão na região do planalto do Alto do Rio Paraguai, na conexão entre o Cerrado e o Pantanal. É o que explica Dhemerson Conciani, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da rede MapBiomas.

“Essa região abriga as nascentes dos principais rios que regulam os pulsos de inundação no Pantanal e a diminuição na superfície natural de água é crítica para o funcionamento dos dois biomas”, diz.

O problema é acentuado também no Matopiba, área que abrange Tocantins e parte do Maranhão, Piauí e Bahia. A região enfrenta o avanço do agronegócio, com destaque para a pecuária e as plantações de soja. Entre as bacias hidrográficas que mais perderam água, as duas com redução mais acentuada estão nessa região: a bacia do Grande São Francisco, com redução de 60% de água em 2024 em comparação com a média histórica dos últimos 40 anos; e a bacia do Carinhanha, que perdeu cerca de 58% no mesmo período.

“Uma informação importante é que em 31% das bacias que perderam superfície de água natural o desmatamento também aumentou entre 2023 e 2024”, ressalta o pesquisador.

A pesquisa do MapBiomas divide as áreas de água em naturais, como rios e lagos; e antrópicos, aqueles feitos por ação humana, como reservatórios e barragens de hidrelétricas.

Embora os rios do Cerrado estejam secando, o bioma registrou aumento na superfície de água, de acordo com dados da iniciativa MapBiomas Água. Isso porque os reservatórios artificiais de água, como aqueles criados a partir de barragens para hidrelétricas, mantêm o volume.

A tendência de redução na superfície de água no Brasil é observada desde 2009. Daquele ano até 2024, apenas em 2022 os pesquisadores registraram aumento da superfície de água. Oito dos dez anos mais secos de toda a série de análises, que tem início em 1985, ocorreram na última década.

Conhecido como berço das águas, o Cerrado concentra as nascentes de oito das 12 principais regiões hidrográficas do país. A redução de água na região pode afetar ao menos 68 milhões de pessoas ao longo da área das bacias, de acordo com análise do
Ipam.

“E é uma região que tem experimentado bastante mudanças no uso e cobertura da terra, principalmente conversão de vegetação nativa para a agropecuária. Então, isso tem afetado as nascentes e, consequentemente, afeta os pulsos de inundação no Pantanal”, avalia Conciani.

Desmatamento intensifica a seca e impacta Pantanal

A derrubada da vegetação nativa, especialmente em áreas próximas a rios, córregos e nascentes, prejudica a proteção dos ecossistemas aquáticos e os ciclos naturais de enchentes e secas.

Além disso, conforme explica Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Ipam e coordenadora do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Cerrado, o desmatamento diminui a quantidade de água nos lençóis freáticos, responsáveis por abastecer rios e lagos.

“Com a retirada da vegetação nativa, essa água da precipitação, em vez de conseguir se se infiltrar no solo, vai bater no solo e escoar direto para os rios”, explica. Ao correr para os rios, as águas das chuvas carregam sedimentos. “Isso vai entupir nos canais dos rios que causam erosão e diminui a vazão. Então o rio, depois de um tempo, vai ficar mais raso e mais largo”, diz.

Embora o Cerrado concentre a perda de água nos fluxos naturais, a bacia hidrográfica que mais secou foi a do rio Paraguai, principal responsável pelos regimes de cheias no Pantanal.

No topo da lista dos municípios que mais reduziram sua superfície de água estão Corumbá (MS), que perdeu quase 260 mil hectares de superfície de água, o equivalente a 95% da perda registrada em todo o estado. Em segundo lugar está Cáceres (MT), com menos 167 mil hectares, o que representa 57% do total perdido nesse estado.

Corumbá foi também o município que mais perdeu superfície de água em 2024 em relação a média da série histórica, com redução de 54%.

Edição: Thalita Pires

 

Brumadinho, Mariana, e os muitos crimes da Vale

 https://www.brasildefato.com.br/2025/03/14/brumadinho-mariana-e-os-muitos-crimes-da-vale/



https://youtu.be/ZVORkrk9Ipw


No começo de fevereiro de 2025, a Polícia Civil de Minas Gerais identificou os restos mortais de mais uma vítima do crime da Vale em Brumadinho. O corpo encontrado ficou embaixo da lama tóxica desde o rompimento da barragem, em janeiro de 2019. 

 Com este, o número de mortos na tragédia chega a 270 – ou 272, já que duas mulheres que perderam a vida estavam grávidas.  Com este, o número de mortos na tragédia chega a 270 – ou 272, já que duas mulheres que perderam a vida estavam grávidas.  

O rompimento da barragem em Brumadinho chocou o Brasil e o mundo pela quantidade de mortos, pela destruição ambiental e por acontecer pouco mais de três anos depois do rompimento de outra barragem, a de Mariana. A empresa responsável era a Samarco, controlada por duas mineradoras: a anglo-australiana BHP Billiton e a brasileira Vale. 19 pessoas morreram. 

Esses dois casos são os exemplos mais extremos de uma trajetória marcada pelo desrespeito ao meio ambiente e aos direitos humanos. Mas como a Vale segue operando, e lucrando, mesmo com constantes denúncias gravíssimas?

O que é a Vale?

A história começa em 1942, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Foi quando nasceu a Vale, que então se chamava Vale do Rio Doce, e era uma empresa estatal. Só que ela foi privatizada em 1997, ainda no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. A venda do controle acionário foi fechada em US$ 3,3 bilhões – o que parece muito, mas correspondia a apenas 27% do capital total da empresa. 

E o dinheiro para a compra foi disponibilizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, o BNDES, a juros subsidiados. Ou seja: uma empresa pública foi vendida a uma empresa privada usando dinheiro público. A privatização fez milhares de trabalhadores perderem seus empregos, e inaugurou uma nova fase da companhia, marcada pela exploração predatória. 

Denúncias pelo mundo

Hoje, a Vale atua em mais de 30 países e, por onde ela passa, vêm também as denúncias de violação de direitos e destruição ambiental.  

Em novembro de 2013, a empresa foi multada pelo órgão ambiental do Peru por contaminação do ar na província de Piura. No local, a Vale explora jazidas de fosfato, mineral utilizado para a produção de fertilizantes químicos.  

A empresa também foi multada pela justiça de Moçambique por construir uma barreira ao redor do complexo minerário na cidade de Moatize, impedindo a população camponesa de chegar a seus territórios. 

Aqui no Brasil, a Vale teve que pagar multa por causar vazamento de fuligem de grafite e limalha na atmosfera na zona oeste do Rio de Janeiro. Na Grande Vitória, no Espírito Santo, a população sofre com o pó preto produzido pelas mineradoras que atuam na região e, entre elas, está a Vale. E em São Luís, no Maranhão, a qualidade do ar atinge níveis de emergência todos os dias, também devido à presença de mineradoras. A própria Vale chegou a ser notificada pelo governo do estado.  

Em todos esses casos, os mais atingidos são populações já vulneráveis, como camponeses e pescadores artesanais. E a hostilidade da Vale não para por aí: uma reportagem da Agência Pública de 2013 relevou que a empresa tinha como política de segurança infiltrar agentes em movimentos populares e elaborar dossiês sobre defensores dos direitos humanos, incluindo um padre e uma liderança do MST. 

E nada acontece?

Com tantos escândalos e tantas mortes, a sensação que fica é que nada está sendo feito para frear a destruição provocada pela Vale. Até hoje, nenhum executivo da empresa foi preso pelo rompimento das barragens, mesmo havendo provas de que a companhia sabia da condição precária das instalações

Em outubro do ano passado, foi fechado um novo acordo para a recuperação da Bacia do Rio Doce, afetada pelo rompimento da barragem de Mariana em 2015. Movimentos populares, como o Movimento de Atingidos por Barragens, criticam a demora em chegar a um acordo e o baixo valor para as reparações individuais. Os agricultores e pescadores atingidos, por exemplo, devem receber uma indenização no valor de um salário mínimo e meio por mês, durante três anos, e um salário mínimo por mês no quarto e último ano.  

E isso sendo que, só no ano passado, o lucro líquido da Vale ultrapassou R$ 31 bilhões. 

Ou seja, como não há dúvidas de que a atividade das mineradoras vai gerar impactos ambientais consideráveis, a empresa apenas calcula se o custo desse impacto e o risco de sua atividade compensam pelos possíveis lucros e alta de suas ações. E, no caso da Vale, o crime tem compensado.  

O que vem por aí?

Todo esse cenário não seria possível se empresas como a Vale não tivessem um aliado importante: o poder público. Em fevereiro, a Vale lançou o projeto “Novo Carajás”, que deve investir mais de R$ 70 bilhões para a exploração de minérios e produção de cobre até o ano de 2030 no estado do Pará. A cerimônia de lançamento contou com a presença do presidente Lula, que fez votos de que a Vale “volte a ser a primeira empresa do mundo em mineração de ferro, em mineração de materiais críticos, em mineração do que ela quiser”.  

Sendo assim, fica mais difícil lutar contra a impunidade dos dirigentes da empresa, garantir a reparação para quem foi prejudicado por ela e impedir que novas tragédias aconteçam. 

Sinduscon debate a grilagem com GDF, Judiciário e Ministério Público

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Sinduscon debate a grilagem com GDF, Judiciário e Ministério Público

Representantes da indústria da construção civil e autoridades se reuniram para discutir a ocupação ilegal de terras no DF e os impactos ambientais decorrentes desse crime

InícioCidades DF          

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"Precisamos enfrentar esse crime de forma contundente", afirmou Adalberto Valadão (C), na abertura do evento - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF) promoveu, nesta terça-feira (25/9), o 2º Fórum Grilagem e Consequências Ambientais no Distrito Federal. O evento, realizado no auditório da entidade, reuniu autoridades da indústria da construção civil, do Executivo, do Judiciário e do Ministério Público, para discutir estratégias para combater esse tipo de crime.

O debate foi promovido com o objetivo relatar os graves impactos ambientais, que têm sido resultado das ocupações irregulares, como desmatamentos, assoreamentos, ocupações de locais de risco e até destruição de nascentes. O sindicato destacou que as invasões em áreas impróprias podem comprometer a capacidade hídrica de Brasília, uma vez que muitas delas ocorrem em espaços ecologicamente sensíveis. A grilagem pode acarretar a diminuição da capacidade de recarga do aquífero, o que poderá resultar em um desabastecimento da população, como ocorreu em 2018, com o racionamento de água.

O presidente do Sinduscon-DF, Adalberto Cleber Valadão Júnior, abriu o debate enfatizando a necessidade de ações urgentes contra a grilagem. "Precisamos enfrentar esse crime de forma contundente, pois seus impactos vão além do meio ambiente, afetando o desenvolvimento ordenado e sustentável do Distrito Federal", declarou. Ele ressaltou o papel crucial do setor da construção civil para a preservação ambiental e busca por soluções às ocupações irregulares.

Integração

O deputado distrital Wellington Luiz (MDB), presidente da Câmara Legislativa (CLDF), enfatizou que é preciso integração dos poderes públicos nas investigações. "O combate à grilagem é fundamental para garantir a segurança jurídica e ambiental do Distrito Federal. É nosso dever trabalhar em conjunto para combater as irregularidades e assegurar um futuro sustentável", afirmou.

Gutemberg Gomes, secretário de Meio Ambiente do DF, Marcelo Vaz, secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, e Rôney Nemer, presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) também participaram do encontro.

Durante o debate, Nemer destacou a importância de identificar e diferenciar produtores rurais de grileiros para os próximos passos investigativos. "Não somos contra o produtor rural, mas contra os grileiros. Reduzimos as taxas para que o produtor continue atuando aqui e ajudando a preservar o meio ambiente", assinalou.

A programação do evento contou com três mesas de debate. A primeira teve a participação do desembargador Renato Scussel, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que preside a Comissão Regional de Soluções Fundiárias. Ele destacou o papel do Judiciário em garantir a regularização fundiária e evitar a proliferação de ocupações ilegais. Segundo Adalberto Valadão, o setor produtivo espera que o governo possa combater essas irregularidades, incentivar os empreendedores que estão dentro da lei e oferecer segurança jurídica.De acordo com dados da Secretaria DF Legal, de janeiro a agosto do ano passado, foram realizadas 612 operações de combate à grilagem, somando 8.304.400m² de áreas públicas desobstruídas. No mesmo período, em 2024, foram feitas 575 ações investigativas, com 6.045.755m² de áreas públicas desobstruídas.

Críticas

A segunda mesa de debates falou sobre ações no âmbito judicial de combate à grilagem. Participaram o juiz do TJDFT Carlos Maroja e o promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Dênio Augusto de Oliveira Moura. Ambos criticaram a atuação do governo.

Para Carlos Maroja, o governo vem falhando na fiscalização. Ele comentou que o Ibram reclama da falta de fiscais, mas teve profissionais para conferir as mercadorias dos ambulantes e artistas no Eixão do Lazer. O magistrado também observou, diante de 150 aprovados em concurso para o Ibram, que estavam presentes, que é o próprio governo que contrata os fiscais.

O promotor Dênio Moura analisou que o combate à grilagem não é prioridade no DF. Segundo ele, desde o ano passado, quase nada foi feito. O promotor criticou o déficit de 700 auditores no DF Legal, enquanto apenas 10 serão contratados este ano.  "A legislação é frouxa, pois abre brecha para ocupações irregulares. Quem invade é presenteado, mas quem resiste e não permite a grilagem é punido", enfatizou. 

Na terceira e última mesa do fórum, a deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania) e o subsecretário de Meio Ambiente do DF, Renato Santana, discutiram estratégias de fiscalização inteligente e arcabouço legal para proteção urbanística e ambiental da cidade.

Pesquisadores denunciam risco de contaminação por mercúrio de mananciais que abastecem o DF

 Brasil de Fato

https://www.brasildefato.com.br/2024/05/19/pesquisadores-denunciam-risco-de-contaminacao-por-mercurio-de-mananciais-que-abastecem-o-df/

Pesquisadores denunciam risco de contaminação por mercúrio de mananciais que abastecem o DF

Estudo revela que houve um aumento de 250% de mercúrio no solo que cerca estação que abastece Planaltina e Sobradinho

19.maio.2024 às 14h13

 Brasília (DF)

 Júlio Camargo


ia.

 

Estudos em andamento, que estão sendo realizados por pesquisadores da Universidade de Brasília no campus de Planaltina, apontam a presença de alto nível de mercúrio no solo e na vegetação em toda a área de borda da Estação Ecológica de Águas Emendadas (Esec-AE) e até 2 quilômetros dentro da unidade de conservação.

Apesar de o nível de contaminação na área de tratamento de água estar ainda em níveis aceitáveis, grande parte do solo da região está severamente comprometido. O estudo revela que houve um aumento de 250% da presença de mercúrio no solo que cerca a Estação.

De acordo com a pesquisa, a causa do problema se deve à queima de combustível fóssil (gasolina e diesel) e intensa atividade de automóveis nas rodovias da região. 

mercúrio, além de ser altamente tóxico, cancerígeno e causador de danos neurológicos, apresenta duas características que agravam a situação. A primeira é o fator de bioacumulação, ou seja, uma vez ingerido, o elemento não sai do corpo humano, só acumula. A segunda é a biomagnificação, o que significa um aumento progressivo do nível de concentração em organismos vivos.

Por sua periculosidade que afeta água, ar, solo, plantas, animais e seres humanos, o elemento foi considerado pela Convenção de Minamata do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como um "poluente global de controle primário". O elemento pode inclusive estar na forma de vapor, se disseminar pelo ar e afetar a respiração. O relatório da convenção recomenda fortemente a produção de inventários de emissões antrópicas e mobilização para os ecossistemas aquáticos e terrestres e o monitoramento das concentrações de mercúrio em regiões geograficamente representativas.

A área mais afetada pelo mercúrio é a BR-020, exatamente onde está localizada a Estação de Captação de Água da Caesb no córrego do Fumal, que leva água para a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Pipiripau. Esse setor é responsável pelo abastecimento de toda a cidade de Planaltina do DF e parte de Sobradinho, fornecendo recurso hídrico para cerca de 200 mil pessoas.



"Precisamos urgentemente chamar a atenção dos dirigentes públicos em todos os níveis, das cidades, municípios, estados e do governo federal. O que está acontecendo no nosso país, e no caso específico da região de Águas Emendadas, é assustador. É urgente que o governador Ibaneis tome uma decisão imediata na proteção e recuperação dessa área. Uma parte já está perdida, talvez não se recupere mais. Mas nós precisamos fazer alguma coisa para salvar Águas Emendadas", alerta Rosângela Corrêa, pós-doutora em Ecologia Humana e diretora geral do Museu do Cerrado.

Corrêa alerta que a Estação Fumal fica perigosamente próxima à rodovia BR-020, área com alto índice de contaminação. "Ou seja, mesmo que o índice de mercúrio na Estação Fumal esteja dentro dos limites de referência (o que ainda precisa ser esclarecido), ainda assim pode ser potencialmente danoso à vida dos seres humanos e à biodiversidade", explica.

Ameaças

De acordo com o pesquisador Lucas Monteiro, doutorando em Geoestatística da UnB, a estação ecológica de Águas Emendadas, tornou-se um tipo de ilha que, apesar de muito bem preservada, é bastante vulnerável por sua proximidade com os riscos externos correntes nas rodovias locais.

"Não não adianta deixar tudo preservado dentro da estação se o entorno está gravemente comprometido por atividades antrópicas. Podemos comparar desde 1985 uma grande mudança no uso e ocupação em torno da Esec-AE. Houve ao redor um crescimento das áreas urbanas e expansão de setores que foram completamente convertidos para monocultura das lavouras de soja", observa.

O período histórico presente é marcado pelo alto índice de emissão de mercúrio, que pode se dar por fontes naturais como erupções vulcânicas, desgastes de rocha e, particularmente desde a Revolução Industrial, pelas emissões industriais de queima de carvão e mineração de ouro.

Na  escala local, Lucas ressalta que "por aqui, as principais fontes de emissão são os incêndios florestais, o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis como gasolina e diesel. Seja na forma líquida ou na forma de vapor, o mercúrio pode ser facilmente disseminado no ar, na água e no solo. Acaba sendo transferido para invertebrados, como insetos, formigas, aranhas e besouros que servem de alimento para animais como aves, anfíbios, répteis e pequenos mamíferos. Também se dissemina para plantas, peixes e seres humanos".



Devastação ambiental

O processo de devastação ambiental em voga na região é um fator preocupante nessa situação. Lucas afirma que isso "pode influenciar o ciclo biogeoquímico do mercúrio. Temos aqui uma grande perda de habitat, já perdemos cerca de 50% das áreas naturais do cerrado, isso são mais de 99 milhões de hectares. E outro ponto importante são as áreas queimadas. Somente nos anos de 2020 a 2023 foram mais de 2 milhões de hectares no bioma Cerrado".

A resolução 420/2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) define como limite de prevenção a quantidade de 0,5 miligramas de mercúrio por cada quilo de solo.

Apesar da concentração do elementar estar dentro da meta aceitável na área da Esec-AE, nas rodovias próximas encontra-se uma quantidade cerca 40 vezes superior ao limite de prevenção. "Comparando com estudos internacionais que incluem países como China, Nova Zelândia, Canadá, Paquistão, Grécia e Japão, o Brasil fica atrás somente do Paquistão. O Brasil fica numa situação de contaminação maior do que o permitido na legislação nacional e também na média global", declara Monteiro.

O coordenador da entidade Guardiões das Águas Emendadas (GAE) e morador do Núcleo Rural Bonsucesso, Marcelo Benini, acrescenta também que esses fatores de risco são ameaças crescentes devido aos "projetos do GDF como o asfaltamento da rodovia DF-131 e o alargamento de faixas da DF-128, que tendem a aumentar o fluxo de veículos e o nível de contaminação. São ameaças às áreas rurais e ao município de Planaltina, em Goiás. Cerca de 109 mil pessoas têm sua fonte de captação de água a apenas 50m da rodovia DF-128".



Ele também explica que já solicitou informações do GDF e questionou sobre qual a capacidade da rede de tratamento de água no DF em analisar o problema e tomar soluções de acordo com as indicações da pesquisa realizada pela UnB. Segundo Benini, "na resposta, a Caesb não deu nenhuma explicação, nem uma palavras sequer. Se limitou a anexar um relatório de uma empresa privada. Esse relatório apenas aponta que o índice de mercúrio está dentro do limite de 0,0002 mg/l estabelecido pela Resolução Conama 357 para águas de classe 2".

Classe 2 se refere a águas destinadas ao abastecimento doméstico após tratamento convencional, à proteção das comunidades aquáticas, à recreação de contato primário, irrigação de hortaliças e frutíferas e à criação natural e/ou intensiva de espécies destinadas à alimentação humana.

Benini critica o parâmetro utilizado. "Como assim a Caesb usa como parâmetro o índice de classe 2 para uma água que nasce dentro de uma Unidade de Conservação de proteção integral e é captada lá mesmo? A água de Águas Emendadas deveria ser uma água de 'classe especial', de maior nível de pureza. Classificar a água da Esec-AE como classe 2 é flexibilizar o nível de contaminação dessas águas e vai contra a resolução da Conama."

Estação Ecológica



A Estação está localizada no coração do Cerrado brasileiro, Mais precisamente a 50 quilômetros da capital federal e a 5 quilômetros de Planaltina. Sob a tutela do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), a área de 10.547 hectares se destaca como um oásis de preservação ambiental, pesquisa científica e educação conservacionista.

Criada em 1968, a Estação ostenta um título de relevância internacional. Em 1992, foi reconhecida pela Unesco como área nuclear da Reserva da Biosfera do Cerrado. Mais do que um mero rótulo, essa distinção reforça o valor inestimável do local para a biodiversidade e o equilíbrio ambiental do planeta.

Com visitação controlada, a Estação abre suas portas para visitantes que desejam mergulhar na riqueza natural do Cerrado, dispõe de trilhas ecológicas com guias para paisagens exuberantes de fauna e flora.

Possíveis soluções

Visando possíveis soluções para o problema, Marcelo Benini acredita que "é preciso interromper imediatamente os projetos de alargamento de faixas/duplicação da DF-128 e o viaduto que vai ligar a BR-020 à DF-128. Essas obras irão agravar ainda mais o risco de contaminação dos mananciais".

Lucas Monteiro aponta que outras medidas seriam a implementação de barreiras vegetais e gesso agrícola, que possui grande aderência ao mercúrio e que poderia contar o elemento, evitando a passagem para a água.

Questionado pelo Brasil de Fato sobre as evidências da pesquisa, o GDF informou que "a qualidade da água produzida a partir desse sistema é monitorada, rigorosamente, pela Caesb e atende a todos os padrões de potabilidade exigidos para o abastecimento da população. O Ibram tem conhecimento do estudo realizado pela UnB e informa que as pesquisas apresentam níveis que não são considerados alarmantes, contudo, demonstram uma contribuição importante de poluentes provenientes de emissões veiculares na ESEC-AE e uma capacidade das bordas da unidade de reter esse poluente de forma a reduzir consideravelmente sua concentração no interior".

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Edição: Márcia Silva