Segunda-feira, 9 de maio de 2016
Empresas que se instalaram em Moçambique através de projetos exportados
pelo Brasil avançam sobre as terras dos camponeses enquanto o país, em
crise, se afasta dos programas de cooperação na África.
Por Marina Amaral*
A província de
Niassa compartilha com o Malavi as águas azuis do terceiro maior lago da
África e um espaço imaginário com o Brasil, entre os paralelos 13o e
17o Sul. Nessa latitude, a savana se torna cerrado do outro lado do
Atlântico, onde a terra vermelha, o calor tropical e a vegetação baixa
sombreada por árvores aproximam ainda mais Brasil e Moçambique,
irmanados na língua e no passado de escravidão que marcou sua gente.
Vista
de perto, porém, a savana, pontilhada de casinhas de adobe e teto de
palha, não guarda mais nenhuma semelhança com o cerrado desfigurado pela
soja, a principal commodity brasileira, responsável por 12,7% das
exportações. Lichinga, a capital do Niassa, tem a mesma latitude de
Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, estado onde a soja se estende por
mais de 8 milhões de hectares. Aqui, as machambas (roças) são pequenas e
produzem milho, feijões e amendoim, algumas culturas de rendimento como
gergelim, girassol e chá.
Da janela do carro, vemos as crianças
pastoreando os cabritinhos na entrada das aldeias e as mulheres,
enroladas em capulanas coloridas, com potes de água na cabeça. Os homens
se aproximam, oferecendo bacias de cenouras, milho assado, feixes de
lenha, sacos de carvão. Mais de 76% dos habitantes da província vivem do
trabalho nas machambas, vendendo o excedente – e os produtos mais
valiosos, como os animais e hortaliças – nas estradas e nos mercadinhos
locais.
Trata-se de uma população rural proporcionalmente elevada
até em relação ao país, em que 68% dos 27 milhões de habitantes vivem
da terra. São as machambas, cultivadas de sol a sol com a enxada de cabo
curto, que garantem a alimentação de mais de 90% das famílias
moçambicanas, baseada na chima (um angu de milho-branco) acompanhada do
caril, feito de amendoim, feijões e hortaliças.
Com 142 mil
habitantes, Lichinga é o centro urbano da área mais fértil do corredor
de Nacala, um cinturão agrícola de 14 milhões de hectares que vai do
lago Niassa, no noroeste do país, ao porto de Nacala, no oceano Índico,
onde 4,5 milhões de camponeses vivem nas províncias de Niassa, norte da
Zambézia, Nampula e um pequeno trecho de Cabo Delgado.
A
coincidência de latitude entre o corredor de Nacala e a zona produtora
de soja brasileira é a pedra fundamental do Programa de Cooperação
Tripartida para o Desenvolvimento Agrícola da Savana Tropical
(ProSavana). Assinado em 2009 pela Agência Brasileira de Cooperação
(ABC), Japan International Cooperation Agency (Jica) e Ministério da
Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique (Masa), o ProSavana
nasceu para desenvolver a agricultura do país, implantando a monocultura
de soja e de outras commodities.
O projeto tem DNA brasileiro. O
Plano Diretor foi elaborado pela GV Agro, um think tank do agronegócio
da Fundação Getulio Vargas, presidido por Roberto Rodrigues, ex-ministro
da Agricultura do governo Lula e cotado para o mesmo cargo em um
eventual governo Temer. A GV Agro criou também um fundo de investidores
privados, o Fundo Nacala, para um investimento conjunto de empresários
brasileiros de produção de grãos. A Embrapa é a coordenadora técnica do
projeto, inspirado no Programa de Cooperação Nipo-Brasileira (Prodecer),
que desmatou o cerrado do Centro-Oeste brasileiro e expulsou
comunidades para implantar a monocultura da soja a partir dos anos 1980.
Financiado pela Jica, o programa doou equipamentos, ofereceu
consultores e enviou pesquisadores brasileiros da Embrapa ao Japão para
aprimorar a produção de soja no cerrado.
É essa tecnologia,
baseada na cultura de sementes comerciais, com o uso de adubos e
defensivos químicos, que está sendo exportada para a savana africana.
Como diz Vicente Adriano, um dos diretores da União Nacional de
Camponeses (Unac), “o ProSavana vai exportar para Moçambique os poucos
problemas que ainda não temos, como a falta de terras para os camponeses
e o uso de agrotóxicos nas machambas”.
“Os camponeses querem
água encanada nas casas, microssistemas de irrigação e extensão rural
para melhorar a produtividade das machambas”, diz Adriano, rebatendo as
acusações de que os inimigos do programa estão contra o progresso. “Mas
como levar a sério um governo que investe apenas 5% do orçamento na
agricultura enquanto 81% da população ativa trabalha na terra?”,
pergunta.
Não ao ProSavana
O governo moçambicano alega
dispor de uma grande extensão de terras “não aproveitadas” para oferecer
ao agronegócio estrangeiro. Só em Niassa, a província com a menor
densidade demográfica do país (11 habitantes por km2), o Masa calcula
que há 2 milhões de hectares “não aproveitados” para destinar ao
programa.
Na avaliação dos camponeses, porém, essa conta
desconsidera o sistema de pousio, tradicional na agricultura familiar.
Para fazer o rodízio das machambas, com intervalos para o solo
“descansar” (o pousio), o território tem de ser bem maior do que as
áreas efetivamente plantadas. Segundo eles, o governo ignora também o
modo de vida nas aldeias, onde o espaço comunitário inclui os caminhos
que levam às fontes de água, o território das mangueiras e embondeiros
(baobás), a vegetação nativa que fornece as ervas medicinais, a lenha
para cozinhar e a palha que cobre as casas.
Pela legislação de
Moçambique, todas as terras pertencem ao Estado – as pessoas têm direito
à posse dos territórios que habitam, desde que estejam neles há pelo
menos dez anos. Os camponeses, porém, desconfiam que o governo pretende
desapropriar suas terras utilizando a ressalva legal que o permite
destinar áreas a projetos de desenvolvimento de “interesse público”. E
argumentam: a legislação de terras vem sendo alterada por pressão de
projetos como o ProSavana e a Nova Aliança para Segurança Alimentar e
Nutricional, uma iniciativa do G8 – os países mais ricos do mundo – para
a África que obteve a adesão de Moçambique em 2013.
Eles não
veem com bons olhos também a previsão do governo de que os camponeses
participarão dos empreendimentos agrícolas através do sistema de
contratos, utilizado no país desde a colonização portuguesa.
Teoricamente, seria uma venda antecipada da safra, já que a produção é
previamente comprada pelos fazendeiros e empresários que fornecem os
insumos e os descontam na hora em que recebem a produção. Na prática,
porém, é o camponês que arca com o prejuízo, porque tem de pagar os
insumos mesmo que a safra quebre; se tudo correr bem, é o empresário que
fica com a maior parte do lucro, já que revende a preço de mercado o
que obteve barato do camponês.
Em Niassa, a desnutrição crônica
infantil alcança 44% dos menores de 5 anos, taxa que ultrapassa 55% em
Nampula e na Zambézia (dados do Inquérito Demográfico da Saúde/2011).
A
Unac, que congrega 100 mil camponeses, lidera a mobilização contra o
ProSavana desde que ele se tornou público, o que ocorreu só dois anos
depois do acordo triangular ter sido assinado. Todos os debates foram
feitos a portas fechadas sem a participação dos camponeses. Em julho de
2012, o vice-presidente Michel Temer viajou a Maputo para o lançamento
do Fundo Nacala, com a presença do então presidente de Moçambique,
Armando Guebuza (2005-2014), atraindo a atenção da mídia para o
programa.
Os camponeses passaram a exigir transparência do
governo e a cobrar as audiências públicas sobre o projeto, previstas por
lei. Em 2013, quando elas finalmente começaram a ocorrer, vazou uma
versão do Plano Diretor do ProSavana, feita pelos brasileiros da GV
Agro. A notícia de que 14 milhões de hectares seriam utilizados pelo
programa provocou um rebuliço – depois o governo apresentaria uma nova
versão resumida, a Nota Conceitual, sem informar a área que será
destinada aos empresários do ProSavana, o que se repetiu no lançamento
da versão “zero” em março de 2015 (veja aqui as respostas do governo
moçambicano às informações pedidas pela Pública).
Um apelo aos brasileiros
Um
mês depois do vazamento da versão dos brasileiros, em maio de 2013, a
publicação de uma carta aberta dirigida a Guebuza, à presidente do
Brasil, Dilma Rousseff, e ao primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe,
ganhou repercussão internacional. Subscrita por organizações de
camponeses e de direitos humanos de Moçambique, Brasil e Japão, a carta
pedia a “suspensão imediata” do ProSavana e o diálogo “democrático e
inclusivo” com as comunidades e alertava para “as sérias e iminentes
ameaças de usurpação de terras dos camponeses e remoção forçada das
comunidades”.
No final de 2013, os representantes da Unac
vieram conhecer a zona produtora de soja do Mato Grosso. Voltaram a São
Paulo estarrecidos com a destruição do cerrado – até hoje o estado é
líder em desmatamento na Amazônia Legal – e foram para um encontro com
movimentos e organizações de trabalhadores rurais brasileiras no
Instituto Lula, onde falaram sobre as razões dos camponeses para
resistir à implantação do projeto idealizado pelos brasileiros.
A
desconfiança foi vencida pela dificuldade de serem ouvidos no próprio
país, governado pela ex-socialista Frente de Libertação de Moçambique
(Frelimo) desde a independência. Apesar da decepção com os brasileiros,
eles ainda creditavam ao país as políticas públicas levadas a Moçambique
no governo Lula, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o
Mais Alimentos, ambos destinados a fomentar a agricultura familiar.
O
que eles não imaginavam, porém, é que a esperança de sensibilizar os
formuladores da política Sul-Sul para o equívoco de seu projeto
esbarraria a seguir no desinteresse absoluto dos brasileiros.
A
queda no preço das commodities, que daria início à crise econômica do
fim do primeiro governo Dilma, arrefeceu o ânimo do país em relação à
África. Entre 2012, quando Temer foi a Maputo, e o fim de 2014, o
orçamento executado dos programas de cooperação na África, que já vinha
baixando desde a saída de Lula, caiu de US$ 36 milhões para US$ 28
milhões. O Fundo Nacala foi desativado sem ter captado nenhum recurso,
segundo Cleber Guarani, responsável pelo projeto. O acordo com a Embrapa
acaba no próximo mês, embora ainda possa ser renovado por mais 18
meses, segundo a assessoria de imprensa da ABC, ligada ao Ministério de
Relações Exteriores.
Tudo indica, porém, que os moçambicanos
perderam os interlocutores oficiais sem se livrar do ProSavana – nem das
empresas brasileiras. A Agromoz, por exemplo se estabeleceu em 2012 no
distrito de Gurué, na divisa entre Niassa, Nampula e Zambézia, com o
objetivo de plantar 3 mil hectares de soja. Em 2013, a empresa desalojou
mil camponeses, segundo a Unac (a empresa diz que 235 famílias foram
atingidas) e desestruturou a comunidade que acolheu parte dos expulsos,
como constatou a Pública ao visitar o local no ano passado.
A
Agromoz é uma sociedade do grupo brasileiro Pinesso, com a portuguesa
Américo Amorim, que também cultiva soja no Brasil e pela moçambicana
Intelec – uma das empresas de fachada do ex-presidente Guebuza. De
acordo com o banco de dados de Interesses Empresariais do CIP – Centro
de Integridade Pública – de Moçambique, o ex-presidente, que se tornou
milionário no desmonte do Estado socialista que ajudou a fundar,
controla através de “laranjas” mais de 30 empresas no país.
Um afago em Guebuza
Enquanto
na janela do nosso carro os camponeses acenavam com suas bacias de
verduras, o Corredor Logístico de Nacala (CLN) estava prestes a ser
inaugurado. Os 912 quilômetros de trilhos incumbidos de escoar o carvão
da Vale e as commodities agrícolas do ProSavana para o porto de Nacala –
onde a Odebrecht construiu um aeroporto de US$ 120 milhões financiado
pelo BNDES – foram um alento para o programa, retardado pela resistência
dos camponeses. Sete anos depois da assinatura do acordo, o ProSavana
contava apenas com cinco projetos piloto em funcionamento, além de dois
campos de experimento da Embrapa, um em Niassa e outro em Nampula. Nessa
etapa inicial, o programa tem orçamento de US$ 35 milhões; destes, US$
8,2 milhões são brasileiros.
Com investimento cem vezes maior, o
projeto da Vale Moçambique vem sendo ainda mais traumático para os
camponeses. O contrato assinado em 2007 com o governo moçambicano,
presidido por Guebuza, concedeu benefícios e incentivos fiscais e não
exigiu nada que pudesse ser revertido para os 54,7% da população que
vivem abaixo da linha da pobreza. Em janeiro de 2012, protestos nos
reassentamentos da Vale, em Moatize, na província de Tete, expuseram
internacionalmente violações das regras do Banco Mundial na remoção de
1.365 famílias camponesas da área ocupada pelas minas de carvão a céu
aberto (veja a reportagem “A multinacional que veio do Brasil”).
Durante
as obras do CLN, mais 1.800 famílias foram expulsas e cerca de 10 mil
foram atingidas em Moçambique e no Malavi, indenizadas “de acordo com o
que estabelecem as leis vigentes” nos dois países, segundo a assessoria
de imprensa da Vale.
Desde a chegada ao país, a multinacional
brasileira se interessava pela possibilidade sugerida por Guebuza de
criar o próprio corredor de exportação, embora não tivesse a menor
intenção de transportar camponeses ou os seus produtos. A ferrovia de
Sena, que parte de Moatize para o porto de Beira, é compartilhada com
outras mineradoras estrangeiras, o que limitava a planejada expansão de
extração, hoje com capacidade de produzir 22 milhões de toneladas de
carvão por ano.
Mas a execução do CLN, orçado em US$ 4,4 milhões,
exigia uma série de negociações. Era preciso obter a concessão da
ferrovia em operação no Malavi – para ir de Tete a Niassa, o CLN
atravessa o país vizinho – e da Linha Norte, que atravessa 583
quilômetros no sentido oeste-leste a área do ProSavana.
Guebuza
mais uma vez se aliou à mineradora brasileira em defesa de seus próprios
interesses. Desde 2000, a estatal Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM)
havia cedido 51% da concessão da Linha Norte e do porto de Nacala à
Sociedade de Desenvolvimento do Corredor de Nacala (SDCN). Os
controladores da SDCN, com 67% da sociedade, eram a NCI, de Fernando
Couto, irmão do escritor Mia Couto, e duas empresas americanas (Railroad
Development Corporation e Edlow Resources).
Os outros 33% da SDCN eram
de “investidores nacionais”, ou seja, “altos dirigentes do Estado e do
partido Frelimo”, deputados, governadores provinciais e, claro,
“laranjas” e membros da família de Guebuza, segundo um estudo do CIP de
dezembro passado sobre a concessão da Linha Norte. Em 2009, as
americanas venderam sua participação para a Insitec, outra empresa de
Guebuza, por um valor nunca revelado.
O que se sabe é que no ano
seguinte a Vale pagou a bagatela de US$ 21 milhões à Insitec para
adquirir 51% de participação na SDCN, que controlava também a Central
East Africa Railway (CEAR), no Malavi. Depois comprou os 16% de Fernando
Couto e passou a deter 67% da sociedade – os outros 33% continuaram com
os “investidores nacionais”. Em 2013, a Vale ficou com 85% da
sociedade, que passou a concessão do porto de Nacala à empresa Porto
Norte, fundada pelos “investidores nacionais” e dirigida por Fernando
Couto. A concessão do porto não interessava à companhia brasileira, que
investiu em um terminal exclusivo em Nacala-a-Velha, na mesma baía.
O
investimento se revelou pesado para a mineradora, que enfrentava os
baixos preços das commodities. Em dezembro de 2014, o maior conglomerado
japonês – que faz parte do grupo acionário que controla a mineradora
brasileira – adquiriu metade da participação da Vale no CLN e 15% das
minas em Tete. Além do aporte de US$ 1 bilhão, a Mitsui se comprometeu a
compensar o investimento nas obras. Até hoje, porém, as sócias discutem
as condições desse acordo.
Ao anunciar a transação em uma
coletiva de imprensa, em 2014, porém, o presidente da Vale, Murilo
Ferreira, sublinhou a necessidade de agradar ao governo de Moçambique – e
aos “investidores nacionais” – abrindo o caminho para o transporte das
mercadorias do ProSavana. “Em 2011, o presidente Guebuza expressou o
interesse dele de que a ferrovia trouxesse benefícios superiores ao do
carvão, que seria originalmente o único produto a ser transportado. Nós
entendemos bem a demanda do governo de Moçambique e tornamos uma
ferrovia aberta para que ela pudesse transportar carga geral, mas sem
dúvida alguma a Vale tem o seu core business. Nosso principal interesse é
estar em Moçambique. Nós recebemos o sócio Mitsui para participar tanto
da mina, com 15%, quanto do corredor Nacala, com 35% do capital total,
assim como nós teremos 35%. A gente acredita que isso será um veículo
importantíssimo para o desenvolvimento de outros negócios dentro de
Moçambique, trazendo oportunidades e emprego para aquele povo que tanto
precisa. Vemos grandes oportunidades na agricultura, nos transportes de
produtos, inclusive, combustíveis, no corredor Nacala. Então, essa
transação com uma casa muito importante, como a Mitsui, traz esse
contexto especial.”
Um alento para o governo moçambicano, ainda
disposto a atrair o capital estrangeiro, e para os japoneses,
interessados na importação dos grãos. Empresas que chegaram ao país em
2013 passam a expandir seus projetos. A Mozaco, acusada de grilar 2 mil
hectares da aldeia de Natuto, em Malema, pretende cultivar 20 mil
hectares de soja e algodão; a sul-africana Alfa Agricultura, que atuava
na área de serviços no porto de Nacala, obteve US$ 77 mil da agência
americana Usaid para instalar um projeto agrícola inicial de 1.000 a
3.000 hectares em Nampula.
Surgiram atravessadores de terra, que
obtêm as concessões de uso do governo moçambicano (o Direito de Uso e
Aproveitamento da Terra – Duat) e as repassam para investidores que
pagam uma taxa anual para explorar a terra, como registra o relatório da
ONG Grain em parceria com a Unac lançado no ano passado. Os camponeses
estão sendo obrigados pelo governo a tirar os Duat de suas terras,
restringindo a posse à área efetivamente ocupada pelas machambas e
fragmentando o espaço coletivo das aldeias. Como previam.
Durante
três semanas, a Pública percorreu mais de 500 quilômetros de estradas
no território do ProSavana, visitando aldeias, projetos agrícolas e
pequenas cidades. Nesse itinerário, encontrou comunidades expulsas pelo
programa, famílias vivendo à beira dos trilhos da Vale, sem proteção ou
indenização, e uma sentida desilusão com os simpáticos ex-amigos
brasileiros.
A Pública entrevistou também várias lideranças
comunitárias dispostas a resistir ao projeto. Como dizem os macuas,
“etthaya hu muhitumihe” – ou, em português, “não se pode vender a
terra”. Em Moçambique ela ainda é de quem a cultiva.
Fonte: Envolverde