A degradação florestal na
Amazônia, por fogo e eventos de secas extremas, tem se tornado frequente
nos últimos anos. Para avaliar quais são os próximos cenários,
cientistas aprimoraram um modelo que analisa o comportamento do fogo e a
dinâmica de carbono, prevendo os padrões futuros da potencial
degradação no bioma amazônico.
Esse modelo permite aos pesquisadores,
por exemplo, prever que se uma seca como a de 2010 ocorrer em meados do
século, entre 2040 e 2069, cerca de 550.000 km2, uma área maior que a França, estará vulnerável a incêndios florestais intensos.
O estudo, publicado na revista Environmental Research Letters dentro da edição especial Focus on Changing Fire Regimes,
considera o aumento da temperatura e a diminuição da precipitação como
os principais fatores para a frequente intensidade de fogo no futuro.
Segundo um dos autores, Bruno Lopes,
estudante de doutorado da Universidade Federal de Viçosa (UFV), a
pesquisa é inédita por desenvolver um modelo que representa a seca e
seus efeitos na mortalidade de árvores, bem como as suas interações com
os regimes de fogo.
“Esses aumentos previstos na intensidade
do fogo podem ser até 90% mais letais para as árvores da floresta
amazônica e consequentemente ocasionar um acréscimo nas emissões de
carbono florestal na mesma proporção”, afirma Lopes.
O equilíbrio climático da Amazônia é
perturbado por uma série de fatores, como mudanças de uso da terra,
aquecimento global, incêndios florestais, elevadas concentrações de CO2
na atmosfera e aumentos na frequência e intensidade das secas. Desde
meados de 1970 ocorre um aquecimento médio de cerca de 0,26°C por década
nas regiões de floresta tropical. Os modelos climáticos globais sugerem
um aquecimento maior em todas as regiões de florestas tropicais entre 3
e 8°C até ao final do século. Isto aponta que em 2100 as temperaturas
tropicais atingirão valores nunca antes alcançados, fora da
variabilidade natural dos últimos 2 milhões de anos.
Modelos de fogo e os impactos nos
estoques de carbono da vegetação se destacam pela importância na
investigação de um limiar crítico de temperatura e intensidade de seca, e
consequentes alterações nos regimes de fogo que poderiam levar a um
declínio substancial da floresta em um futuro próximo. Compreender e
monitorar as respostas da vegetação em relação às mudanças climáticas é
essencial para ampliar as opções de políticas de conservação.
“Assim, podemos ter um novo modelo de
desenvolvimento agropecuário com uso sustentável do fogo em áreas
vulneráveis e a criação de um plano nacional de combate a incêndios para
a Amazônia, tendo implicações diretas na biodiversidade e ciclo de
carbono”, defende Lopes.
Os dados do modelo tiveram como base
experimentos realizados na Fazenda Tanguro, em Querência (MT), onde o
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM desenvolve pesquisas
que analisam como conciliar a produção de alimentos,
conservação ambiental e mudanças climáticas.