segunda-feira, 8 de abril de 2019

Avanço da agropecuária, estradas ilegais e floresta no chão. Assim começa o ano no Xingu





por ISA – 
 
Destruição da vegetação nativa na bacia do Xingu nos dois primeiros meses de 2019 superou em 54% o desmatamento no mesmo período em 2018. Em média, 170 mil árvores foram derrubadas por dia

Nos dois primeiros meses do ano, mais de 8.500 hectares de floresta, o equivalente a 10 milhões de árvores, foram derrubados na bacia do Xingu. O avanço da agropecuária, grilagem e abertura de estradas ilegais explicam esses índices, que superaram em 54% o total desmatado no mesmo período em 2018, quando foram detectados pouco mais de 5 mil hectares.
No porção mato grossense da bacia, essa porcentagem atingiu 204%, impulsionada por três municípios: Santa Carmem, com 1.119 hectares e Feliz Natal, com 755 hectares. Em União do Sul, os 1.139 hectares de floresta destruídos nos dois primeiros meses de 2019 representam 30% do total desmatado em 2018.



Avanço do desmatamento no Xingu.
Devido às fortes chuvas em dezembro, houve uma redução no desmatamento em Terras Indígenas (TIs) em comparação com os últimos meses de 2018. O aumento dos índices em relação ao ano anterior, no entanto, é significativo: em janeiro, a destruição da floresta cresceu 221% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Já em fevereiro, a taxa atingiu 361% a mais do que o detectado em 2018.


Estrada ilegal ameaça isolados
A TI Ituna/Itatá, no Pará, foi a mais desmatada nos dois primeiros meses do ano, com 453 hectares. Nesse período foi detectada uma estrada no interior da TI, que se espalhou criando ramificações e segue em direção à vizinha TI Koatinemo, do povo Assurini. O ramal, localizado no meio da floresta, provavelmente está sendo utilizado por grileiros e madeireiros. A abertura de uma estrada para retirada ilegal de madeira na região é sem precedentes.

O território é uma área com restrição de uso, que impede a circulação de não-indígenas e destina seu uso exclusivo aos grupos isolados que ali vivem. Em 9 de janeiro, uma Portaria renovou a restrição de uso da área por mais três anos. Apesar disso, foi constatada a inscrição de CAR em dezenas de propriedades dentro da área interditada, que muitas vezes se sobrepõe. Algumas áreas dentro da TI chegam a ter cinco registros, o que indicaria que o território está sendo disputado por vários grupos de grileiros.

A TI localiza-se a menos de 70 quilômetros do sítio Pimental, principal canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte, e a destruição da floresta vem aumentando exponencialmente desde 2011, início da construção da usina. A implantação de um plano de proteção à Tis é uma condicionante de Belo Monte, mas nunca foi integralmente cumprida. [Saiba mais]



Desmatamento na Terra Indígena Ituna/Itatá, no Pará, ameaça indígenas isolados| 
Juan Doblas –
ISA
Na rota da Ferrogrão
A expectativa da construção da Estrada de Ferro 170, conhecida como Ferrogrão, vêm aquecendo o mercado de terras na região oeste do Mato Grosso. No ano passado, 17.685 hectares foram desmatados nos municípios de Cláudia, Feliz Natal, Marcelândia, União do Sul e Santa Carmem, todos na área de influência do projeto. Em União do Sul, município campeão de desmatamento em fevereiro, foram produzidos mais de 196 mil toneladas de soja em uma área de 59 mil hectares, segundo dados do IBGE/2017.

Se sair do papel, a obra vai conectar a região produtora de grãos do Mato Grosso aos portos de exportação no Pará, consolidando um novo corredor logístico de exportação do Brasil pela Amazônia. A construção da ferrovia deve potencializar os impactos socioambientais das áreas protegidas nas proximidades do seu trajeto, além de acirrar os conflitos fundiários da BR-163, rodovia paralela à Ferrogrão.

As áreas foram detectadas pelo Sirad X, o sistema de monitoramento de desmatamento da Rede Xingu +. Por meio da tecnologia de radar, é possível detectar o desmatamento através das nuvens que cobrem a região entre setembro e maio. Os boletins são publicados na Plataforma Rede Xingu +. Clique aqui para acessar a edição nº11.

ONU defende educação sobre florestas para preservar recursos naturais



No Dia Internacional das Florestas, lembrado nesta quinta-feira (21), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) defende a educação sobre esses ecossistemas como estratégia para preservar os recursos naturais do planeta. Cerca de 90% de todas as espécies terrestres de seres vivos são encontradas nas florestas, que oferecem não apenas um habitat para a biodiversidade, mas também uma série de serviços ecossistêmicos para os humanos.

“As florestas ajudam a manter o ar, o solo, a água e as pessoas saudáveis. E elas desempenham um papel vital no combate a alguns dos maiores desafios que enfrentamos, tais como a luta contra as mudanças climáticas e a erradicação da fome”, afirmou em mensagem para a data o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva.

Em 2019, a ONU comemora o dia internacional com o tema Florestas e educação. “A educação é um passo crítico para proteger os recursos naturais para as gerações futuras. É essencial que as crianças aprendam sobre as florestas desde cedo”, acrescentou Graziano.

Embora os benefícios trazidos pelas florestas sejam amplamente documentados, a integridade e a sustentabilidade dessas formações vegetais, alerta a FAO, estão ameaçadas pelos efeitos cumulativos do desmatamento, degradação da terra e competição por usos alternativos do solo.

De 1990 a 2015, a proporção da superfície do planeta coberta com florestas passou de 31,6% para 30,6%. Os dados são do último Panorama Ambiental Global, divulgado na semana passada pela ONU Meio ambiente.


Mata fechada na Amazônia peruana. Foto: Flickr (CC)/Joseph King
O relatório alerta ainda que, conforme o desmatamento avança na Floresta Amazônica, o volume de chuvas tem diminuído — um sintoma da interação entre as florestas, o clima e as necessidades humanas. Estimativas recentes indicam que, caso o desflorestamento destrua de 20 a 25% da cobertura vegetal original da bacia amazônica, o bioma chegará a um “ponto sem retorno”, com prejuízos irreversíveis para o ciclo hidrológico. Nos últimos 50 anos, 17% da extensão original da Amazônia foi devastado, de acordo com dados da WWF citados no panorama da ONU.



Talvez o maior desafio dos esforços de conservação, aponta a FAO, seja a falta de entendimento sobre os modos como as florestas contribuem com a sociedade global. Parte das lacunas nessa compreensão se deve à crescente desconexão entre as pessoas e a natureza, em particular nas áreas urbanas. A FAO ressalta que esse problema precisa ser encarado e revertido — e que a educação pode ajudar a superar esse cenário.

O organismo internacional destaca, porém, que a educação sobre florestas é frequentemente inadequada e não é capaz de abordar desafios emergentes. Menos jovens estão estudando o uso dos recursos florestais nas universidades e um número ainda menor de escolas dos ensinos fundamental e médio inclui a educação sobre florestas em seus currículos. Quando o tema é inserido na formação de crianças e adolescentes, nem sempre o assunto é trabalhado de maneira a explicar o papel multifuncional das florestas.

A FAO tem trabalhado com parceiros para conscientizar os jovens e a população em geral sobre as ameaças às florestas. A agência empreende esforços na criação de programas educativos abrangentes e também no estabelecimento de escolas vocacionais rurais, que possam capacitar profissionais do setor de silvicultura.

Nesse dia internacional, o organismo liderado por Graziano anunciou a implementação de dois projetos de “alfabetização florestal” para crianças de nove a 12 anos, na Tanzânia e Filipinas.


Financiados com mais de 1 milhão de dólares do governo da Alemanha, os programas terão duração de três anos e vão envolver a elaboração de módulos educativos que sejam práticos e interativos. A iniciativa prevê a divulgação posterior desse material por meio online, para todo o mundo.


Tanto nas Filipinas quanto na Tanzânia, as florestas são vitais, especialmente para a nutrição das populações rurais, para as necessidades de energia e para os meios de subsistência.

Quase metade da população tanzaniana e um terço da população filipina têm menos de 15 anos de idade. A FAO acredita que educar estudantes do fundamental I sobre o uso sustentável e conservação das florestas é uma porta de entrada para a saúde a longo prazo das florestas dos dois países.


Também com financiamento alemão, a FAO, a Organização Internacional de Madeira Tropical (ITTO) e a União Internacional da Organização de Pesquisa Florestal (IUFRO) estão cooperando para realizar, com outras instituições, um inventário da educação florestal. O levantamento deve catalogar e analisar o estado de práticas de aprendizado sobre o tema em todo o mundo, a fim de identificar lacunas e propor recomendações. O projeto prevê ainda o lançamento de uma plataforma virtual que deverá ser a principal referência global em educação florestal.


Florestas e biodiversidade

 

 

Em mensagem para a data, a secretária-executiva da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, Cristiana Pasca Palmer, afirmou que as florestas, com as suas complexas interações entre seres vivos, são “grandes professoras” para os humanos.

“Elas nos ensinam sobre as variadas formas pelas quais todos os organismos no planeta estão interconectados e, de muitas maneiras, dependem uns dos outros para sobreviver”, disse a dirigente.
“A educação florestal deve incluir tanto a pesquisa científica de ponta como também os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas, que vivem lado a lado da biodiversidade das florestas por inúmeras gerações.”

Cristiana enfatizou ainda que os conhecimentos sobre os benefícios das florestas devem ser acessíveis para crianças, jovens e também para homens e mulheres, sem discriminação de gênero.

(#Envolverde)

Projetos protegem 3,9 milhões de hectares de florestas em Mato Grosso, Rondônia e Amazonas


 


Iniciativas apoiadas pelo Programa Petrobras Socioambiental também já recuperaram 1.700 hectares de áreas degradadas
 
No dia Internacional das Florestas, cinco projetos apoiados pelo Programa Petrobras Socioambiental na Amazônia comemoram a proteção de mais de 3,9 milhões de hectares de florestas e a recuperação de 1.700 hectares de áreas degradadas. As iniciativas acontecem em terras indígenas, reservas extrativistas e propriedades de agricultura familiar no Amazonas, Mato Grosso e em Rondônia.
Os projetos envolvem atividades de assistência técnica para indígenas, extrativistas, pequenos produtores rurais, produção de mudas, educação ambiental e acesso a mercados. Com o trabalho, mais de 6,5 mil pessoas são beneficiadas pelos projetos, cujo apoio vai desde a oferta de cursos de formação até a compra de equipamentos e construção de infraestrutura de apoio à produção.

Em Mato Grosso, a Associação Pacto das Águas ajuda extrativistas da Reserva Guariba Roosevelt e indígenas Rikbaktsa das terras Escondido e Japuíra com a melhora na qualidade da produção de castanha e borracha e com apoio no acesso a mercado. São mais de 800 pessoas envolvidas diretamente e 485 mil hectares de florestas que são protegidas gerando renda para as comunidades.

Só no ano passado, a comercialização de 80 toneladas de castanha e 11 toneladas de borracha nativa de alta qualidade gerou um faturamento de R$ 50 mil para as três comunidades. “Isso é um resultado incrível para as comunidades. Antes do projeto, a maioria dos extrativistas nem recebia pela venda dos produtos, acabava trocando por mercadorias. Com o projeto, as comunidades ganham mais autonomia”, comemora Emerson de Oliveira, coordenador do projeto que leva o mesmo nome, Pacto das Águas.

Na mesma região, o projeto Poço de Carbono Juruena, desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – Aderjur, oferece alternativas sustentáveis de renda aos agricultores familiares e povos indígenas, incentivando o extrativismo de castanha-do-brasil e babaçu, além do uso de sistemas agroflorestais.

No Poço de Carbono, os agricultores têm diversas opções de cultivos e uma renda garantida e melhor distribuída ao longo do ano. Além do benefício econômico, os sistemas agroflorestais “imitam” o comportamento da floresta, armazenando carbono e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

“Nós temos uma forte experiência com a castanha-do-brasil, em que 300 famílias de agricultores e indígenas produziram, somente na última safra, 200 toneladas de castanha e produtos derivados e geraram uma renda de 2,5 milhões de reais”, explica Paulo Nunes, coordenador do projeto. Isso representa apoio a proteção de quase 1,6 milhão de hectares. Além disso, outros 100 hectares de áreas degradadas estão sendo recuperados  pelo projeto.


Em Rondônia, dois projetos incentivam a recuperação de áreas degradadas. Desenvolvido pela CES Rioterra desde 2010, o projeto Semeando Sustentabilidade já recuperou 350 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APP), atendendo a mais de mil agricultores familiares em 17 municípios. Além disso, o projeto também distribuiu mais de 1 milhão de mudas de diversas espécies, o suficiente para recuperar mais de 900 hectares de áreas degradadas. Pelos cálculos do CES Rioterra, o plantio dessas árvores resulta em mais de 52,3 milhões de toneladas de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2) removido da atmosfera. “Com todo o nosso trabalho de educação e esclarecimento os agricultores já começam a perceber o retorno dos serviços ambientais que melhoram a sua produção, ou seja, agora ele entende a importância de se adequar para além da legislação, mas principalmente quanto ao meio ambiente por meio da regeneração do solo e da floresta”, reforça Fabiana Barbosa, gerente Geotecnologia e Pesquisa da CES Rioterra.

Outros 350 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APP’s) e Sistemas Produtivos Sustentáveis em oito municípios da zona da mata rondoniense e centro sul do estado de Rondônia, foram e estão sendo recuperados pelo projeto Viveiro Cidadão, realizado pela Ecoporé, desde 2013. A iniciativa atua com mais de 600 proprietários rurais, entre agricultores familiares, mulheres do campo e jovens agricultores, onde já distribuiu de mais de 1 milhão de mudas de diversas espécies frutíferas e florestais.

As mudas e apoio técnico do projeto têm mudado a vida das comunidades. “Eu tenho duas áreas que quero utilizar com apoio do projeto, uma em que eu vou plantar agrofloresta e outra que quero recuperar utilizando espécies apícolas. Se não fosse o Viveiro Cidadão e os técnicos me incentivando nada disso poderia se tornar realidade”, conta a jovem Ana Lúcia Cardoso Martins, de 18 anos, filha de agricultores familiares de Pimenta Bueno.
No Amazonas, o projeto Raízes do Purus apoia quatro povos indígenas de seis terras indígenas na bacia hidrográfica dos Médios rio Purus e Juruá. Juntos, estes territórios protegem uma área de 2,3 milhões de hectares de floresta, da qual cerca de duas mil pessoas tiram seu sustento sem desmatamento, associando o trabalho com as cadeias de valor da sociobiodiversidade a ações de vigilância e proteção territorial. As atividades são coordenadas pela Operação Amazônia Nativa (Opan) e incluem apoio ao manejo sustentável do pirarucu e dos sistemas agroflorestais

O povo Paumari, por exemplo, tem o manejo de pirarucu como sua principal atividade econômica. Em 2018, com apoio do projeto, conseguiram comercializar 30 toneladas do peixe. Já o povo Deni realizou sua segunda pesca manejada de pirarucu e conseguiu comercializar 70 peixes em parceria com as comunidades extrativistas da região. “Não gabando a gente mesmo, mas o nosso peixe é da melhor qualidade”, diz o coordenador do manejo Francisco Paumari.

Agroflorestas também fazem parte das atividades incentivadas com os recursos da Petrobras. É o caso do povo Apurinã, que está ampliando suas unidades de sistemas agroflorestais na Terra Indígena Caititu. O quarto povo apoiado pelo projeto da Opan, o Jamamadi, vem trabalhando pela melhoria da qualidade da farinha de mandioca. O foco é produção para consumo próprio, mas eles trabalham com a com possibilidade de comercialização do excedente.

Fatos e dados
Geral

  • 2,7 milhões de hectares de floresta protegidos em três estados
  • Mais de 4 mil pessoas envolvidas
  • 600 hectares de áreas degradadas em recuperação
  • 2 milhões de mudas plantadas
Mato Grosso
  • 2mil hectares de floresta protegidos
  • Povo indígena beneficiado: Rikbaktsas das Terras Indígenas Escondido e Japuíra
  • Extrativistas da Reserva Extrativista Estadual Guariba Roosevelt
  • Municípios abrangidos: Aripuanã, Colniza, Cotriguaçu, Juara, Juruena e Rondolândia
Rondônia
  • 600 hectares recuperados
  • 2 milhões de mudas plantadas
  • 25 Municípios abrangidos: (CES Rioterra + Ecoporé)
Amazonas

  • 2,3 milhões hectares de floresta protegidos
  • Povos indígenas envolvidos: Deni, Jamamadi, Paumari e Apurinã
  • Terras Indígenas: TI Paumari do Lago Cuniuá, TI Paumari do Lago Paricá, TI Paumari do Lago Manissuã, TI Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, TI Caititu e TI Deni.
  • Municípios abrangidos: Carauari, Itamarati, Lábrea, Tapauá.

Quem são os inimigos dos ambientalistas

por Samyra Crespo – 
 

Quem são os inimigos dos ambientalistas

Mia Couto filósofo e escritor moçambicano, diz que em vez de produzir riquezas, estamos produzindo ricos

Posso afirmar sem medo de errar que os ambientalistas, em sua maioria, acreditam na possibilidade de reformar o capitalismo, dando a ele uma feição inteligente (mais eficaz nas suas promessas de prosperidade) e mais ecológica. Os teóricos chamam a essa tendência majoritária hoje, cujos operadores são os sustentabilistas, de “A modernização ecológica do capitalismo”. Assim, longe de ser revolucionário este movimento vem abraçando o reformismo como ideologia politico-econômica.
Este veio de crenças e sua diligente tradução em práticas de “negócios sustentáveis” se configurou nas primeiras duas décadas deste século, ainda em curso. O mote principal dos sustentabilistas é mainstreamming the ecology (colocar a ecologia no coração da economia capitalista).

Portanto não venham com esse papo de que somos marxistas e anticapitalistas ferrenhos. Há os que discordam do status-quo. São antes anti-establishment. E representam hoje grupos minoritários.
Vamos aprofundar isto. E vou precisar de dois posts para o mesmo assunto. Um texto muito grande ninguém lê e aqui é um embate público, não acadêmico.

Quando eu estava na faculdade um professor que estudara a formação da classe industrial paulista e a formação das novas fortunas originadas na commodity da época – o café – se espantava com os alunos da pós graduação que só tinham apetite para falar dos movimentos sociais, dos pobres e oprimidos. Inclusive eu que naquele momento desenvolvia meu mestrado estudando os integristas católicos envolvidos no Golpe de 64.

Vocês devem estudar os ricos, o poder econômico por eles constituído pois a opressão e a pobreza estão aí como resultado, dizia nosso professor de estudos agrários.

Essas reminiscências me vêm à mente quando vejo diariamente as cotações do dólar dar taquicardia e os colunistas políticos e econômicos se referirem ao Deus MERCADO. O mercado pensa assim, o mercado pensa assado.

Olho para o voo solo e torpedeado de Thomas Piketty, o economista francês – que se utilizando de base de dados sistemáticas e séries históricas, longitudinais, nos mostrou didaticamente como ao longo de séculos – e mesmo enfrentando grandes guerras, as fortunas se mantém nas mãos de algumas poucas famílias. Também explica como a ciranda financeira torna novas pessoas tidas como empreendedores exemplares, tipo Bill Gates e Slim o magnata mexicano muito, muito ricas.

Ao final do século XX vimos dois fenômenos intimamente ligados ocorrer: a expansão do capitalismo (territorial e culturalmente falando) e a concentração brutal da riqueza. Como substrato, massa de pobres e mesmo bolsões de miséria em países tidos como desenvolvidos da Europa e nos Estados Unidos.

Pena, diz Mia Couto filósofo e escritor moçambicano, que em vez de riqueza estamos produzindo ricos, riqueza esta que só é distribuída com escândalo. Basta ver os debates em torno da “renda minima”, não só no Brasil. Faz-se brutais mudanças tecnológicas que destroem milhões de empregos e mesmo as migalhas que serão distribuídas aos que “sobram” desta transição são alvo de controvérsia.

A pergunta que não quer calar é: de onde vêm as fortunas do Brasil?

Respondo que se você quer saber quem são os inimigos dos ambientalistas, siga o dinheiro. Para abrir o apetite para o próximo post, eu adianto:

A riqueza no Brasil tem base fundiária, rentista e imobiliária. Extração de madeira, mineração e comércio do solo urbano. O industrialismo sempre contou com proteção de mercado e as commodities com largos subsídios. O avanço sobre terras públicas, o desmatamento, as Serras Peladas, o avanço do boi e da soja. Sacaram?
Volto com mais detalhes.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo ” O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.

Desenvolvimento economico da Amazonia significará o fim da Amazonia?


 
 
 
Uma carta de intenção entre o Ministério do Meio Ambiente e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), foi divulgada em 18 de março. Nela, os dois países afirmam ter colaborado para a preservação da Amazônia durante décadas e que “ambos os países compartilham a noção de que o engajamento e a parceria com o setor privado são pontos críticos para o desenvolvimento de um modelo de produção sustentável e voltado para o mercado na região da Amazônia”. Enfatizam que a falta de acesso ao crédito e financiamento impedem o empreendedorismo, o surgimento de cadeias de produção, inovação e start-ups na região. Para isso, pretendem criar um fundo de investimento com US$100 milhões provenientes do setor privado, que servirão para financiar empreendimentos que promovam a sustentabilidade, o crescimento econômico, a preservação das florestas e da biodiversidade, assim como o bem-estar de povos tradicionais.
 



Segundo o site da agência, sua presença no Brasil data de 1962, promovendo ações pela melhora da saúde, educação, segurança alimentar, saneamento básico, direitos das crianças e adolescentes, combate ao tráfico humano, desenvolvimento de micro empreendimentos e preservação do meio ambiente. O trabalho de maior destaque desenvolvido no Brasil pela USAID foi o auxílio à consolidação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), criada em 1972 para combater a fome no país. A agência afirma ter colaborado com o aumento de aptidões da EMBRAPA para o desenvolvimento de pesquisas.
 

A carta de intenção surge em um momento polêmico para a política ambiental brasileira – a demarcação de terras indígenas e quilombolas passou para o Ministério da Agricultura, em um claro desvio de competência; o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de alterar ilegalmente o plano de manejo de uma área de proteção ambiental durante seu mandato como Secretário de Meio Ambiente do estado; as taxas de desmatamento e a degradação do meio ambiente na Amazônia têm batido recordes ano após ano. Vista a cadeia de fatos, é necessário compreender os motivos por trás dessa intenção de investimento na Amazônia Legal.

A USAID