segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Matas ciliares ajudam a manter fertilizantes fora dos rios, afirmam cientistas


19.01.2017Notícias
 
  Resultados preliminares de uma pesquisa realizada na Fazenda Tanguro (MT) indicam que fertilizantes usados na agricultura que caem em córregos podem impactar a qualidade da água nas propriedades e até fora delas, reforçando a necessidade de se recuperar e proteger matas ciliares. O estudo é conduzido por cientistas americanos em colaboração com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).



Um experimento mostra que o nitrogênio, ao cair em um córrego, pode viajar até um quilômetro, com potencial de atingir rios maiores. O fósforo, por sua vez, é em grande parte absorvido localmente, o que estimula a produção de algas. Elas alteram a disponibilidade de oxigênio na água e modificam a cadeia alimentar do local.



“O ideal é que estes nutrientes agrícolas sejam processados antes de chegar na água, mas é preciso investigar as possibilidades”, explica a cientista KathiJo Jankowski, do Marine Biological Laboratory (MBL). “Se você consegue prever as consequências, é possível definir as melhores alternativas.”



O estudo começou no início de 2016 e uma nova rodada de experimentos e coleta de dados na fazenda foi feita em outubro. A boa notícia é que tanto o solo quanto a mata ciliar preservada servem como filtros desses fertilizantes. Na mesma Tanguro, estudos realizados desde 2008 mostram que esses elementos tendem a nem chegar na água, ficando estocados abaixo de dois metros de profundidade no solo agrícola.



“Os produtores devem maximizar a produtividade minimizando os impactos. Utilizamos os experimentos para identificar corretamente o ponto em que esse equilíbrio acontece”, afirma o co-autor da pesquisa, Christopher Neill, do Woods Hole Research Center (WHRC).



Dinheiro rio abaixo
Jankowski conta que, nos Estados Unidos, gasta-se milhões de dólares todo ano para melhorar a qualidade da água do Rio Mississipi, e que o Golfo do México apresenta zonas mortas (sem oxigênio), porque está saturado com nitrogênio e fósforo.



No Brasil, o Código Florestal prevê essa proteção na figura das APPs, ou áreas de preservação permanente. São trechos de vegetação situadas às margens de corpos d´água, como córregos ou nascentes, além de topos de morro e encostas, fundamentais para manter a segurança e a qualidade da água e dos ecossistemas ali existentes.



“As florestas ripárias, junto a um bom manejo, oferecem um caminho para evitar danos ecológicos associados à produção agrícola e mantêm a integridade de ambientes aquáticos”, afirma a pesquisadora Marcia Macedo, também do WHRC.



Ao sombrear o córrego, as árvores deixam cair folhas, insetos e galhos dentro da água, formando micro-habitats que são importantes para a vida aquática. Além disso, a vegetação regula a temperatura da água, pois barra a entrada excessiva de luz.


“O Brasil tem a oportunidade de manejar a paisagem de forma mais sustentável do que o resto do mundo. Imagina o quanto pode-se poupar por não precisar restaurar rios, apenas fazendo o manejo da forma mais adequada e protegendo as APPs”, diz Jankowski.



“É essencial conservar as florestas. Para isso a intensificação da produção pode ser um caminho. Ter APPs devidamente protegidas é bom para o ecossistema aquático, para os animais que utilizam como corredores ecológicos e para a produção de alimentos”, explica Neill.



Segundo o Instituto Internacional de Nutrição Vegetal, que congrega grandes empresas produtoras de fertilizantes do mundo, em 2015 o Brasil apresentou um consumo aparente de 3,64 milhões de toneladas de nitrogênio e 4,66 milhões de toneladas de fósforo.



Impacto no clima
Além da água, outro efeito do uso de fertilizantes sintéticos na agricultura é a emissão de gases do efeito estufa. Segundo o SEEG (www.seeg.eco.br), seu uso responde a emissão de 13,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2015.



Na Fazenda Tanguro, um estudo de 2013 concluiu que a quantidade de aduba­ção nitrogenada utilizada para a plantação de soja (80 qui­los por hectare) minimizou as emissões de N2O e maximizou a produção.

Peixes-bois-da-amazônia sabem a hora de partir


Por Vandré Fonseca
No Médio Solimões, peixes-boi amazônicos migram para o lago Amanã em busca de segurança na época da seca. Foto- Amanda Lelis.
No Médio Solimões, peixes-boi amazônicos migram para o lago Amanã em busca de segurança 
na época da seca. Foto- Amanda Lelis.



Manaus, AM -- Pesquisadores do Instituto Mamirauá, interior do Amazonas, ficaram intrigados quando o sinal de rádios-transmissores colocados em peixes-bois-da-amazônia (Trichechus inunguis) sumia durante a estação seca. Graças a uma dica dada por ribeirinhos, confirmaram uma rota de migração entre as Reservas de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e Amanã. E com a contribuição de colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foram além, descobriram que os bichos são capazes de escolher o melhor momento para abandonar os ricos ambientes da várzea e seguir rumo a águas mais profundas.



A coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, Miriam Marmontel, explica que a várzea é um ambiente rico, onde o peixe-boi encontra maior disponibilidade de alimentos. Porém, durante a estação seca, o rio recua e os bichos precisam procurar outros ambientes, onde a comida não está tão disponível. “Eles poderiam ficar presos ou vulneráveis aos pescadores”, explica Miriam  Marmontel. “(De Mamirauá) eles vão para Amanã, onde tem águas mais profundas. Não tem tanta alimentação, mas eles conseguem comer alguma coisa na matéria orgânica no fundo”, completa.



Saber o momento certo de partir é importante. Se o animal sair antes, perde oportunidade de se alimentar melhor e se preparar para a dieta dos meses seguintes. Se demorar demais, pode ficar encalhado no caminho. No estudo publicado no início deste ano na revista Acta Amazônia, pesquisadores de Mamirauá e do Inpe concluíram que os peixes-bois são capazes de se adaptar às mudanças naturais que ocorrem nos ciclos de cheia e seca da Amazônia e iniciam a migração entre dois e quatro dias antes dos trechos mais rasos do percurso, denominado por eles de gargalos, secarem.



Os pesquisadores monitoraram um grupo de dez peixes-bois machos ao longo de 11 anos. As informações foram combinadas com imagens de satélite da região obtidas ao longo de 30 anos e da hidrografia, além de uma modelagem em três dimensões de rios e lagos que fazem parte da rota de migração dos bichos. De acordo com Miriam Marmontel, os peixes-bois tem uma grande percepção do ambiente e são capazes de se adaptar às variações do clima e do ambiente. Segundo o estudo, “possuem um mapa cognitivo atualizável do ambiente e são comportamentalmente plásticos". Ela acredita que além da profundidade, fatores como alterações químicas na água e na quantidade de nutrientes podem ser percebidas pelo peixe-boi.



O peixe-boi amazônico é uma espécie ameaçada de extinção. Perigo aumentado com a construção de barragens hidrelétricas na bacia amazônica. Foto Amanda Lelis.
O peixe-boi amazônico é uma espécie ameaçada de extinção. Perigo aumentado com a construção de barragens hidrelétricas na bacia amazônica. Foto Amanda Lelis.



O estudo ajuda a compreender os possíveis efeitos de hidrelétricas sobre o peixe-boi-da-amazônia. A oceanógrafa destaca que barragens criam mais gargalos e muda o regime de inundação, dificultando a migração dos animais. No ano passado, os pesquisadores do Mamirauá e do Inpe já havia feito um alerta sobre os riscos de projetos de geração de energia para a população de peixes-bois dos rios amazônicos. Na carta publicada na revista Science, eles afirmavam que “a busca pelo crescimento econômico pela América do Sul em geral, pelo Brasil em particular, não deve vir à custa da extinção do peixe-boi amazônico. Mais amplamente, é imperativo e urgente discutir formas de desenvolver a região sensíveis a miríade de valores (monetários e não monetários) de um dos maiores tesouros naturais que ainda existem em nosso planeta”

Saiba Mais
Bottlenecks in the migration routes of Amazonian manatees and the threat of hydroelectric dams

Quando o aquecimento global bateu à minha porta

19.1.17


CLAUDIO ANGELO


Meus amigos paulistanos riram por último. Durante mais de ano, tiveram de aguentar minhas piadas de mau gosto sobre a crise hídrica que forçou a classe média da maior cidade do país a escovar os dentes com copinho e tomar banho de balde. Pois bem: nesta segunda-feira (16/1), Brasília iniciou seu primeiro racionamento de água em 56 anos, que afetará 60% da população. A decisão foi tomada depois que a barragem do Descoberto, a maior do DF, atingiu o menor volume útil de sua história: 18,9%, no auge da estação chuvosa.



Se havia um lugar do país onde a perspectiva de racionar água parecia irreal há alguns anos, esse lugar era Brasília. A capital do país está sentada no divisor de águas das bacias do Paraná, do Tocantins e do São Francisco. E temos um parque nacional criado de forma presciente para proteger nosso segundo maior reservatório, a barragem de Santa Maria (que está com 41% do volume).


Décadas de desperdício, de aumento de consumo, desmatamento do cerrado e ocupação criminosa de mananciais, tolerada ou estimulada por políticos do calibre de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, corroeram a segurança hídrica da região. Mas o clima se encarregou do empurrão decisivo: foram dois anos seguidos de precipitação muito abaixo da média e calor intenso, que secou o solo e impediu que os reservatórios se recuperassem.


Para mim, que escrevo sobre mudanças climáticas há mais tempo do que seria saudável, o racionamento e outros eventos recentes marcam uma alteração de pronome. Sai o “eles” solidário, mas condescendente, com que tenho tratado até aqui as vítimas do clima, e entra o “nós”. O aquecimento global bateu à minha porta. E não está sendo nada divertido.
É nítido para qualquer brasiliense, em especial os que passaram muito tempo fora e voltaram, que algo mudou por aqui. Para nossa infelicidade, a ciência corrobora essa impressão. Você não consegue mais dormir à noite sem ventilador? Pois saiba que o número de noites quentes no DF – nas quais a mínima da madrugada é superior a 20oC – decuplicou em 2000-2010 em relação a 1962-1970, segundo dados compilados pelo meteorologista Francisco de Assis Diniz, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).


Torrou na primavera nos últimos anos? Pois extremos de temperatura também estão mais frequentes: Brasília bateu seis recordes históricos de calor nos últimos nove anos – dois deles em apenas uma semana, no bizarro outubro de 2015. (Muito a propósito, a primeira quinzena de janeiro de 2017 registrou temperaturas máximas quase 4oC superiores à média.)


Aprendeu na escola que Brasília tem a tal “amplitude térmica de deserto”? Reveja: a diferença entre a mínima e a máxima no inverno caiu 2,1oC e, no verão, 2,25oC.
Informações sobre mudança do clima na cidade são escassas. O único trabalho completo já publicado foi feito pela meteorologista paraibana Morgana Viturino de Almeida, também do Inmet, em 2012. Algumas de suas conclusões principais estão num relatório que a Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) do GDF produziu em dezembro, que será publicado nos próximos dias na página da secretaria na internet.


“A população ainda não consegue fazer a ligação entre os extremos, as enxurradas como a que atingiu Samambaia [cidade-satélite, no fim do ano passado], ondas de calor ou a situação de água que temos agora e a mudança do clima”, diz Leila Soraya Menezes, chefe da Unidade Estratégica de Clima da Sema e coautora do relatório. “As políticas públicas são baseadas ainda em séries históricas, só que as médias históricas não significam muita coisa mais na atual realidade do clima.”


Em seu trabalho, Morgana de Almeida analisou 26 parâmetros climatológicos em todo o Centro-Oeste. O que ela viu foi uma tendência semelhante em quase todas elas: noites mais quentes, maior número de dias secos consecutivos, maior frequência de ondas de calor. Na capital, as temperaturas mínimas médias subiram 1,85oC e as mínimas mínimas, ou seja, as menores temperaturas do ano, subiram 2,6oC desde 1961. O número de dias com umidade do ar abaixo de 30% cresceu 50%, e o número de períodos com baixa umidade quase dobrou. Em 2010 havia 48 dias a mais no ano com temperaturas máximas acima de 25oC do que em 1961.


Curiosamente, as máximas temperaturas máximas cresceram bem menos – 0,85oC no período. E as máximas médias tiveram uma diminuição, embora esta não seja estatisticamente significante.
Tampouco é possível ver mudanças expressivas na quantidade total de chuvas no DF até 2010. Não há informação sobre violência das chuvas, mas elas têm feito mais estragos – por consequência da urbanização. No entanto, em novembro de 2014, a capital registrou seu primeiro tornado.


Almeida pede cautela na interpretação dos dados, dizendo não ser possível separar o efeito da mudança climática do da ilha de calor urbana – o mais provável é que haja sinergia entre ambos. Outros lugares do Centro-Oeste que observaram tendência semelhante à de Brasília passaram por desmatamento nas últimas décadas, o que pode ter influenciado os índices. Mas o fato permanece que o sinal de aquecimento e aumento de dias com baixa umidade relativa do ar é nítido em toda a região.


E esta é só a primeira gongada: vem muito mais por aí.


O relatório da Sema também traz projeções regionais de temperatura e precipitação para o DF, feitas pelo grupo de Sin Chan Chou, do Inpe. O estudo considera dois modelos climáticos, um mais “seco” e um mais “úmido”, e dois cenários de emissões de CO2, um moderado e um alto. A depender co cenário, o aquecimento adicional no DF entre 2011 e 2040 vai de 1oC a 3oC.



No fim do século, pode chegar a 6o C. Já a precipitação, que hoje não aparece com um sinal claro nas observações, ganha um imenso viés de baixa em todos os cenários, em especial de dezembro a fevereiro, auge da chuva. A anomalia que fez o DF escorregar na crise hídrica pode ser, portanto, um aperitivo das próximas décadas.


Como disse de maneira célebre o climatologista americano John Holdren, só há três coisas a fazer a respeito da mudança climática: mitigar, adaptar e sofrer. O GDF parece pelo menos disposto a discutir as duas primeiras. No ano passado, iniciou a discussão para a criação de um fórum de mudanças climáticas distrital, a ser lançado em julho.


Na população, quem pode vai se adaptando. Eu comprei um aparelho de ar-condicionado logo após a onda de calor de 2015 e instalei telas mosquiteiras em todas as janelas (afinal, com o calor vêm os mosquitos, que também estão mais numerosos).


O problema é como fica a maior parte dos moradores do DF e entorno, que tem menos recursos para se adaptar. A essas pessoas parece estar reservada uma fatia desproporcional do sofrimento.


Fonte: Observatório do Clima

Comentário:

E o Governador, a exemplo de seus  antecessores, continua firme na iniciativa de continuar desmatando e adensando o cerrado, o que significará maior necessidade  de agua e ...de esgoto.Está pouco se importando com as crescentes ondas de calor que o cimento e o asfalto, acrescidos da poluição dos carros, vão gerar.Ou com o desconforto da população.

Anônimo

A escola de samba que desafiou o agronegócio do Brasil


Imperatriz Leopoldinense, em homenagem aos índios do Xingu, denunciará ameaças contra a natureza

Setor reage com revolta


O Carnaval de 2017 ainda nem começou, mas já vestiu a fantasia da polêmica. Enquanto milhares de foliões começam a se cobrir de purpurina para ir atrás dos blocos do pré-Carnaval carioca, os senhores do mundo rural rugem furiosos a milhares de quilômetros daqui.


A razão é o enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que, rompendo a norma não escrita de não apresentar temas muitos espinhosos, dedicará seu desfile às tribos do Xingu, em Mato Grosso, um parque indígena do tamanho da Bélgica. Apesar de se tratar de um território indígena protegido desde 1961, o entorno do parque não para de sofrer os impactos do desmatamento ilegal, dos agrotóxicos e da megaobra da usina hidrelétrica de Belo Monte, construída no rio de mesmo nome, no Pará.



A letra do samba-enredo é uma homenagem à natureza e às tribos, e uma crítica ao homem branco que ameaça sua sobrevivência. “Jardim sagrado, o caraíba [referência ao homem branco] descobriu. / Sangra o coração do meu Brasil,/ o belo monstro [a hidrelétrica] rouba as terras dos seus filhos,/ devora as matas e seca os rios,/ tanta riqueza que a cobiça destruiu!”, diz a canção. Durante o desfile, haverá uma ala fantasiada de borrifadores de pesticida.



Os acordes caíram feito uma bomba para os poderosos representantes do agronegócio, que vestiram a carapuça e se autointitularem os salvadores de um Brasil em crise. Associações de pecuaristas, plantadores de cana e até de engenheiros agrônomos fizeram um estardalhaço em cartas públicas de repúdio.




“A abordagem generalista proposta pela Imperatriz Leopoldinense sobre o produtor rural, sem separar o joio do trigo, é incorreta, injusta e inadequada, com a tendência tipicamente alarmista que é característica da linha de pensamento pseudoambientalista”, disseram os engenheiros agrônomos em sua nota.



“O produtor rural brasileiro deveria ser reverenciado por estar salvando o país da bancarrota há décadas, ao representar, por sua competência, 22% do PIB e gerar 37% dos empregos do país”, acrescentaram os ofendidos em suas cartas. Outras manifestações do mundo rural foram bem menos comedidas.





Os responsáveis pela escola já nem se dão mais ao trabalho de ler os insultos que recebem desde que o enredo foi divulgado. “A polêmica deixou claro um enorme preconceito e racismo contra os índios e contra a escola”, lamenta o carnavalesco da Imperatriz, Cahê Rodrigues.




“Nossa crítica se baseia no uso indevido de pesticidas que poluem rios, matam peixes e causam danos muito sérios na vida do ser humano, assim como outras agressões à natureza que levam os índios ao desespero. A escola nunca pretendeu ofender o agronegócio, foram eles que se sentiram aludidos.”




A polêmica chegou ao Congresso Nacional, onde o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), da bancada ruralista, propôs a criação de uma comissão temática para discutir o assunto, o que incluiria convocar integrantes da escola e investigar suas fontes de financiamento. Caiado acredita que a escola “denegriu” o setor e difamou quem deveria ser enaltecido. A direção da escola disse ao EL PAÍS que não há grande mistério em seus patrocinadores, já que o desfile conta apenas com verbas de incentivo da Prefeitura do Rio e da Liga das Escolas de Samba, além dos direitos de imagem pagos pela TV Globo.



O Carnaval 'chapa-branca'

 

 

 

A ousadia da Imperatriz é uma novidade num Carnaval que acabou sendo silenciado por seus patrocinadores, boa parte deles empresas, instituições públicas e Governos sem interesse em polemizar.




Até os anos 90, as escolas mantinham seus desfiles com o financiamento de seus beneméritos, os banqueiros do jogo do bicho, e de comerciantes das respectivas comunidades, mas, à medida que a festa foi crescendo, se tornou mais cara e impossível de ser bancada apenas com os recursos tradicionais. Entraram na passarela então os grandes patrocinadores para arcar com desfiles que, apesar da opacidade das cifras, podem chegar a custar oito milhões de reais por escola.



“As escolas sempre se caracterizaram por seu jogo de cintura e seu papel negociador para sobreviver. Num ano faziam um desfile crítico, mas isso não significava que no ano seguinte não pudessem homenagear quem tinha sido criticado anteriormente”, explica o historiador Luiz Antônio Simas. “Mas foi a partir daquela década que a visão empresarial se tornou muito mais presente”, acrescenta. A partir dos anos 90, deixou de ser obrigatório que os enredos versassem sobre assuntos da cultura nacional, e as escolas então começaram a vender seus desfiles.



 “Vendiam-nos a cidades com interesse turístico, que viam nos enredos uma excelente forma de se divulgar, mas também a companhias aéreas e até a empresas de laticínios. Transformaram-se em instrumentos de propaganda de massa, chapa branca”, explica Simas, coautor do livro Dicionário da História do Samba.




A tendência não passou despercebida ao público da Sapucaí. Há mais de uma década os amantes da festa mais famosa do Brasil lamentam a ausência de crítica social nos desfiles do Sambódromo. Perdeu-se a personalidade do discurso das escolas e a crítica a políticos e igrejas, bem como a denúncia dos preconceitos, das injustiças e da desigualdade social que marcam o país.




“A crise criou agora uma situação em que os patrocínios começaram a cair, e as escolas voltaram a fazer enredos autorais, propostos pelo carnavalesco, e não por uma empresa. O que tampouco impede que no ano que vem a Imperatriz Leopoldinense faça um enredo a favor do agronegócio. Sempre se procurou o equilíbrio”, opina Simas.




Atualmente, o papel de denúncia acabou recaindo nas mãos e ritmos dos blocos de rua, bem menos engessados e mais irreverentes que os desfiles do Sambódromo. “O mundo rural despertou um gigante adormecido”, diz Rodrigues. “Com suas críticas eles revelaram o poder das escolas de aproveitar a festa para levantar bandeiras e tocar em assuntos polêmicos.”
'Tema péssimo, mas acordou o vulcão do agro', avalia Neri Geller

Entre o balanço de 2016 e as perspectivas de 2017, o secretário de política agrícola comentou o polêmico tema carnavalesco da escola de samba da Imperatriz Leopoldinense
Canal Rural - Leia mais no link http://www.canalrural.com.br/noticias/direto-ao-ponto/tema-pessimo-mas-acordou-vulcao-agro-avalia-neri-geller-65700 ou compartilhe este conteúdo através das ferramentas oferecidas na página. Os textos, fotos, vídeos e demais conteúdos do Canal Rural estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral, e não podem ser reproduzidos sem autorização prévia. Caso queira replicar algum conteúdo do Canal Rural, por favor, utilize o link original ou entre em contato (canalrural@canalrural.com.br). Siga-nos: https://www.facebook.com/canalrural, https://twitter.com/canalrural, https://instagram.com/canalrural
'Tema péssimo, mas acordou o vulcão do agro', avalia Neri Geller

Entre o balanço de 2016 e as perspectivas de 2017, o secretário de política agrícola comentou o polêmico tema carnavalesco da escola de samba da Imperatriz Leopoldinense
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Estudo cria mapas globais de espécies ameaçadas por consumo das grandes potências


Estilo de vida nos EUA, União Europeia, China e Japão impactam o mundo inteiro

por

RIO — Encontrado na região Norte do Brasil e nas Guianas, o macaco-aranha-preto é classificado como espécie vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Segundo os autores de uma pesquisa publicada pelo periódico científico “Nature Ecology & Evolution”, a ameaça ao primata não pode ser entendida sem se relacionar o impacto de atividades econômicas, sobretudo a agricultura e a extração de madeira, para atender a consumidores finais nos Estados Unidos.




Usando de metodologia inovadora, que precisou de supercomputadores para cruzar dados sobre biodiversidade com informações de 15 mil indústrias de commodities consumidas em 187 países, os cientistas geraram mapas inéditos. Neles, é possível visualizar o grau de impacto, para espécies terrestres e marinhas, da exportação de produtos para quatro grandes mercados: Estados Unidos, União Europeia, China e Japão.



Os autores do estudo, Keiichiro Kanemoto, da Universidade de Shinshu, no Japão, e Daniel Moran, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega, detalham, por exemplo, o impacto do consumo americano sobre as espécies terrestres, incluindo uma surpresa no Brasil. Na pesquisa, eles indicam um alto impacto dos EUA em áreas como Sudeste da Ásia, partes da Europa, Madagascar, Canadá, América Central e, como era de se esperar, o Brasil. Porém, apesar de toda a atenção da comunidade internacional dedicada à Amazônia, eles alertam que é o Cerrado o bioma brasileiro com a biodiversidade mais afetada pela demanda do Tio Sam, sobretudo pelas atividades agropecuárias.





— A Amazônia tem uma biodiversidade mais rica, mas, na verdade, a indústria está mais presente no Sul, então, no final, o que pode acontecer é que há uma pressão maior onde as espécies aparecem em menor quantidade, mas a produção é mais ativa. O Brasil e a Amazônia estão entre as maiores reservas de biodiversidade no mundo, e também o país está crescendo de uma forma geral, tanto interna quanto externamente. Isto significa que o Brasil está envolvido em muitas ameaças à biodiversidade ligadas ao comércio — explicou Moran, em uma entrevista por e-mail ao GLOBO.





Bioma marinho pouco protegido no Brasil
Os mapas revelam cores — e situações — gritantes. A ameaça a espécies marinhas, por exemplo, tem a situação mais crítica do Sudeste da Ásia, atingindo países como Indonésia, Cingapura e Papua Nova Guiné. Os EUA e a União Europeia exercem, por meio do consumo de seus habitantes, uma intensa pressão naquela região, prioritariamente pela atividade pesqueira e de aquicultura, além da poluição decorrente das próprias indústrias. Nas Américas, o impacto dos EUA atinge especialmente a Nicarágua, a Costa Rica e Trinidade e Tobago.




Segundo o mapa elaborado pela pesquisa, o impacto do consumo estrangeiro é um pouco menor no litoral brasileiro, o que não quer dizer que as espécies marinhas não estejam ameaçadas por aqui — muito pelo contrário, alerta o diretor de estratégia costeira e marinha da Conservação Internacional, Guilherme Dutra:




— O Brasil não exporta muito. Mas internamente, temos a sobrepesca no nosso litoral, além da poluição de baías e rios e um percentual muito pequeno de área protegida, de 1,57% do total do bioma marinho, muito abaixo do que aquilo com o qual o Brasil se comprometeu em conferências das Nações Unidas — ressalta Dutra, acrescentando que a exploração no Sudeste de Ásia se deve, em boa parte, à pesca de grandes cardumes, como o atum.




Mesmo a produção de azeite provoca seus danos à biodiversidade de países. Kanemoto e Moran mostram que, na Espanha e em Portugal, espécies ameaçadas como o lince ibérico vêm perdendo habitat devido a hidrelétricas — que servem para a irrigação na agricultura e produção de bens como o azeite de oliva. Já no pequeno território de Papua Nova Guiné, a extração de ouro destinado ao Japão contribui para a vulnerabilidade do dugongo, um mamífero marinho da ordem do peixe-boi.




Para os autores, a responsabilidade pelas pressões ambientais devem ser compartilhadas ao longo das cadeias de comércio, e mapeamentos como estes podem facilitar o início de ações mais diretas entre produtores e consumidores. Kanemoto e Moran têm trabalhado juntos com cruzamentos como estes há anos, e desenvolveram, por exemplo, uma grande plataforma em 2012, que contabilizou ameaças a espécies por países: foi estimado que o consumo no Brasil, por exemplo, ameça 453 espécies em seu território e 111 no exterior — Argentina e Uruguai seriam os mais afetados. A demanda do Reino Unido ameaça 443 espécies no exterior, e a dos Estados Unidos, 1977.




“Pegadas” ambientais da poluição do ar ou da água também têm lugar na literatura científica. Em 2007, uma pesquisa publicada no periódico “Water Resources Management” calculou a “água virtual” — aquela usada para a produção — de bens e mercados consumidores pelo mundo. Novamente, os Estados Unidos lideram no impacto per capita. De quebra, os pesquisadores calcularam o volume de água necessário para a produção de bens como uma fatia de pão (40 litros) e uma camisa de algodão (2.000 litros).




Apesar do necessário alarme soando, já há iniciativas, inclusive no Brasil, para tornar a gestão de negócios mais responsável em toda a cadeia. Uma delas é a Certificação Life, que avalia e oferece metodologia para minimizar os impactos das empresas na biodiversidade. Corporações como a Itaipu Binacional e o Grupo Boticário já foram certificadas, e o Instituto Life está se preparando para implementar a metodologia em Paraguai, Chile, Argentina e Peru.


— A crise da perda de biodiversidade é avassaladora. As empresas falam muito sobre sustentabilidade, mas não detalham como fazer isso proativamente. É preciso ir além do bê-a-ba. Só cumprir a lei, por exemplo, não é mais suficiente — alerta a diretora-executiva do instituto, Maria Alice Alexandre.



O diretor-executivo da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Fabio Scarano, destaca a Moratória de Soja como exemplo importante no país. O acordo de 2006 entre sociedade civil, indústria e governo, válido até hoje, firmou o compromisso de empresas no sentido de não comprar grãos oriundos de áreas desmatadas, fruto de invasão de terras indígenas ou ainda do trabalho escravo na Amazônia. No final do ano passado, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, propôs uma moratória semelhante para o Cerrado.



— A pressão dos Estados Unidos sobre o Cerrado me surpreendeu, não imaginava que fosse tão concentrada — destaca Scarano ao comentar o estudo publicado na “Nature Ecology & Evolution”. — A União Europeia, por exemplo, consome mais da metade do café no mundo, o que leva ao desmatamento no continente africano. Já se sabe que o café cultivado à sombra é melhor para o meio ambiente. A decisão está ao alcance de quem compra.




Scarano ressalta, porém, que a região amazônica é cenário de uma volumosa extração de madeira ilegal — e uma vez que o estudo da dupla de pesquisadores Kanemoto e Moran não considera o contrabando em seus mapas, até porque seria difícil mensurar esse problema, o impacto do consumo global no bioma pode, apesar de tudo, estar subestimado.

Coalizão mundial para prevenir pandemias é criada em Davos


Ela pretende angariar US$ 1 bi para pesquisas sobre vírus letais, incluindo o da zika

por
Congo foi um dos países mais atingidos pelo vírus ebola - AFP

DAVOS, Suíça — Governos e fundações ao redor do mundo anunciaram na reunião do Fórum Econômico Mundial que acontece esta semana em Davos, Suíça, doações de US$ 460 milhões para combater doenças emergentes e prevenir pandemias.
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Sob a égide da recém-lançada Coalizão para Inovações nos Preparativos Epidêmicos (Cepi, na sigla em inglês), eles pretendem arrecadar US$ 1 bilhão em cinco anos para financiar pesquisas de vacinas contra os vírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), da febre hemorrágica de Lassa e Nipah, mal que ataca o sistema respiratório e o cérebro, além de angariar apoio para estudos de imunizantes contra linhagens do ebola, febre de Marburg e o zika, todos com grande potencial de matar ou de deixar sequelas em suas vítimas.




— Ebola e zika mostraram como o mundo está tragicamente despreparado para detectar surtos locais e responder rápido o bastante para prevenir que eles se tornem pandemias — afirmou Bill Gates, cuja Fundação Bill & Melinda Gates se comprometeu a injetar US$ 100 milhões na iniciativa nestes cinco anos. — Sem investimentos em pesquisa, continuaremos desprotegidos quando encararmos a próxima ameaça. A capacidade de desenvolver e fornecer rapidamente vacinas quando a próxima doença emergir é nossa maior esperança para superar as epidemias, salvar vidas e evitar suas desastrosas consequências econômicas.




DESENVOLVIMENTO DE MAIS VACINAS
A criação da Cepi é uma resposta direta às recomendações de quatro estudos independentes sobre a mais recente epidemia de ebola no Oeste da África, que entre 2014 e 2016 atingiu mais de 28 mil pessoas, das quais cerca de 11 mil morreram. Segundo a avaliação dos especialistas, o surto evidenciou a necessidade de um novo sistema para estimular o desenvolvimento de vacinas contra potenciais ameaças epidêmicas.




— As epidemias são uma ameaça ao futuro. Elas podem arruinar sociedades em escala só atingida por guerras e desastres naturais. Elas não respeitam fronteiras e não se importam se somos ricos ou pobres. Proteger os vulneráveis é proteger a nós mesmos. É por isso que precisamos trabalhar juntos para estarmos melhor preparados.




E também porque meu governo está comprometido em assegurar que a Cepi cumpra sua missão — resumiu Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega, país que vai dar à iniciativa 1 bilhão de coroas norueguesas (atualmente cerca de US$ 120 milhões) nos próximos cinco anos.


Alemanha visita projeto de conservação em PE




sábado, 21 de janeiro de 2017


O Brasil apresentará ao governo alemão o programa para proteção da Costa dos Corais, entre Pernambuco e Alagoas.




Na próxima sexta-feira (20/01), representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco acompanharão comitiva dos dirigentes alemães em Tamandaré (PE) para reconhecimento do projeto Proteção e Gestão Integrada da Biodiversidade Marinha e Costeira (TerraMar).




O programa prevê um investimento total de 11 milhões de euros e tem o objetivo de promover a conservação ambiental tanto na região da Costa dos Corais quanto dos Abrolhos, entre Espírito Santo e Bahia. Desse total, 6 milhões de euros são provenientes do governo alemão e o restante corresponde à contrapartida brasileira, conforme termo de cooperação firmado pelo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, em meados de 2016.




O secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do MMA, Jair Tannus, o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, Sérgio Xavier, e gestores do ICMBio representarão o Brasil durante a visita da comitiva alemã, liderada pelo embaixador Georg Wistschel. Também estarão presentes integrantes da Cooperação Técnica Alemã (GIZ).




Para o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, Sérgio Xavier, a “abordagem integrada de planejamento ambiental e territorial da região costeira torna o Projeto TerraMar um excelente instrumento de proteção da biodiversidade marinha numa área com muitas atividades econômicas”.




Como resultado previsto, segundo ele, está o fortalecimento do país para alcançar as Metas de Aichi, um conjunto de objetivos para reduzir a perda da biodiversidade a nível mundial. Cavalcanti explica que essas metas incluem adoção do manejo e pesca sustentável, proteção dos recifes de coral impactados pela mudança no clima e ampliação das unidades de conservação marinhas.




A visita à região está prevista para começar às 13h45, com um almoço no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene). Às 14h45, a comitiva fará um percurso de barco para reconhecimento da biodiversidade marinha e dos bancos de corais da região, com mergulho.




O secretário da Semas explicará as dinâmicas ambientais, sociais e econômicas do território, que muitas vezes irradiam impactos ambientais para além de seus limites. Já o gestor da APA Federal Costa dos Corais, Iran Normande, apresentará as propostas do Projeto TerraMar voltadas para ações de planejamento, fortalecimento institucional, proteção da biodiversidade e monitoramento da qualidade ambiental.





Lançado em agosto de 2015, o projeto já realizou um ciclo de oficinas de diagnóstico, entre elas a do Cepene, em Tamandaré (PE), que contou com a participação da Semas/PE. O objetivo foi reunir informações e identificar os instrumentos locais de gestão já existentes, a exemplo do zoneamento ecológico-econômico costeiro (ZEEC) do litoral sul do Estado de Pernambuco, definição da linha de costa estadual (Decreto nº 42.010/2015), além outros instrumentos, para melhor planejar e propor ações de conservação a serem executadas pelo Projeto até 2020.




Márcia Oliveira, analista ambiental do MMA, destacou a importância das oficinas realizadas nas duas áreas selecionadas no Brasil: “Buscamos o olhar local sobre as necessidades, potencialidades, problemas e ameaças identificadas nesta região da APA Costa dos Corais para que possamos fazer o planejamento. Queremos escutar para poder realmente estabelecer quais são as linhas estratégicas que o projeto vai seguir e apoiar o desenvolvimento sustentável da região”.



Fonte: MMA

Governo revoga portaria, mas mantém GT para avaliar demarcações




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Após pressão do movimento indígena, Ministério da Justiça recua, mas nova medida ainda permite a revisão dos estudos de demarcação, fragilizando o trabalho técnico da Funai
 
 
 
O governo Temer revogou nesta sexta-feira (19), a Portaria nº 68, que alterava a forma como são demarcadas as Terras Indígenas (TIs) no Brasil. A nova portaria, anunciada ontem pelo Ministério da Justiça e publicada hoje no Diário Oficial da União mantém a criação de um Grupo Técnico Especializado (GTE) para tratar de processos de demarcação de TIs, agora com atribuições que reprisam exatamente o que está disposto no Decreto nº 1.775/1996.



Confira.
O recuo, no entanto, não é motivo para comemoração. Na avaliação de Juliana de Paula Batista, advogada do ISA, a medida dá ao GTE o poder de revisar o trabalho técnico de elaboração dos estudos conduzidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai), o que fragiliza o trabalho da instituição: “O instrumento ainda comporta críticas, pois o GTE tem a clara finalidade de reanalisar os trabalhos da Funai e interferir politicamente em estudos técnicos”.




Desde quarta-feira (17), a edição da Portaria nº 68 tem sido alvo de intensas críticas por parte do movimento indígena, juristas, organizações da sociedade civil e do Ministério Público Federal - que, em entrevista ao ISA, apontou a ilegalidade e inconstitucionalidade da proposta. Saiba mais. A norma também foi criticada pelo Diretor de Proteção Territorial (DPT) da Funai, Walter Coutinho, que, em nota publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, pedia a revogação da medida e denunciava que o órgão sequer havia sido comunicado sobre as mudanças.




A Portaria nº 80, publicada nesta sexta-feira (20/1), é a terceira iniciativa do governo Temer para impor retrocessos ao direito indígena à terra, garantido pela Constituição. No final do ano passado, a imprensa já havia ventilado uma minuta de alteração do Decreto nº 1775/1996, que, se efetivada, poderia acabar definitivamente com as demarcações; ela teve suas premissas recuperadas no texto da Portaria nº 68, revogada hoje. “Com essa sucessão de atos, o governo mostra a total falta de compromisso com a obrigação legal do Estado brasileiro de demarcar Terras Indígenas”, critica Juliana Batista.



Tatiane Klein
ISA
Imagens: 

     22/12/2016

Governo federal cede a pressões de políticos e produtores rurais e, segundo ambientalistas, emite sinal de que invadir áreas protegidas vale à pena

Garimpo ilegal na Flona Jamanxim | © Badaró Ferrari - Ascom-Ibama
Garimpo ilegal na Flona Jamanxim | © Badaró Ferrari - Ascom-Ibama
O governo federal alterou os limites de quatro Unidades de Conservação (UCs) e criou uma nova no sudoeste do Pará, onde está uma das principais frentes de expansão do desmatamento da Amazônia.


Ambientalistas avaliam que, ao atender as pressões de políticos e produtores rurais com a medida, o governo emite um sinal para grileiros de terra de que vale à pena invadir essas áreas e apostar numa futura regularização.


Leia a matéria completa no site do Instituto Socioambiental.