sexta-feira, 8 de julho de 2022

Queimadas: Amazônia tem pior mês de junho em 15 anos

 


Queimadas: Amazônia tem pior mês de junho em 15 anos

Dados do Inpe apontam maior número de focos de incêndio desde 2007 no período. Primeiros seis meses do ano também registram alta de 19% em queimadas em comparação a 2021.

Os sistemas que monitoram o ritmo de destruição da Amazônia registraram mais um recorde. O mês de junho de 2022 concentrou o maior número de focos de incêndio dos últimos 15 anos: foram 2.562 pontos de calor detectados por satélite. O pico anterior havia sido registrado em 2007, com 3.519 focos ativos.

Os dados são acompanhados e divulgados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mantém uma série histórica desde 1998. Anteriormente, o ponto máximo atingido em um mês de junho havia sido em 2004, com 9.179 focos.

O cenário atual confirma a tendência observada desde o começo do ano, segundo levantamento feito por Rafaella Silvestrini, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

“Desde o começo de 2022, houve um aumento de 19% de focos de queimadas no bioma em relação ao mesmo período de 2021”, afirma Silvestrini à DW. “É preocupante porque o período de seca, na prática, começa em junho. Pode ser que nos próximos meses continue a tendência forte de aumento”, acrescenta.

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Onde há mais focos

Entre os estados amazônicos, Mato Grosso e Pará são os destaques negativos, com 64,5% e 21,7% dos focos, respectivamente. Sozinho, o município de Nova Ubiratã, na região central mato-grossense, registrou 11,4% do fogo no estado.

“São municípios que estão vivenciando um processo de expansão das áreas de plantio de soja”, analisa Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), em entrevista à DW.

“Dos focos de calor identificados, 80% ocorreram em imóveis rurais cadastrados, o que mostra a associação do uso do fogo para limpeza dessas áreas”, explica Silgueiro, ressaltando que há casos em que esse manuseio recebeu autorização dos órgãos estaduais, e que parte das queimadas são ilegais.

“Como em julho se inicia o período proibitivo do uso do fogo, os donos de imóveis rurais aproveitam os meses de maio e junho, em que já há uma redução de chuvas, para a queima”, diz.

Segundo um decreto do estado de Mato Grosso, as queimadas são proibidas entre julho e fim de outubro. Nesse período, são permitidas apenas atividades de prevenção e combate a incêndios feitas pelas instituições públicas autorizadas. Em nível federal, um decreto semelhante passou a vigorar em 22 de junho.

“Nos próximos meses, espera-se que outros estados, como Rondônia e Amazonas, apareçam nesse ranking, já que são regiões com fronteira ativa de desmatamento”, comenta Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, sobre os dados de junho.

Entre os estados que formam a região amazônica, Mato Grosso (64,5%) e Pará (21,7%) são os destaques negativos

Fogo atrai mais fogo

Embora a maior parte do fogo detectado pelos satélites em toda a Amazônia esteja em áreas privadas, com 64,6% do total registrado em imóveis rurais de janeiro a junho, Silvestrini chama a atenção para a alta acentuada observada em unidades de conservação (UC) e terras indígenas (TI).

Em comparação com 2021, os pontos de calor em TIs aumentaram 36% nos primeiros seis meses do ano. Em UCs, essa taxa é de 54,5%.

“Isso é um indício de que o fogo está avançando mais para terras públicas. Isso é perigoso, porque TIs e UCs deveriam ser as áreas de preservação”, pontua Silvestrini.

Em entrevista recente à DW, o climatologista Carlos Nobre falou sobre essa frente de devastação na Amazônia, maior floresta tropical úmida do mundo.

“Cerca de 95% das queimadas – ou mais – têm causa humana, não são causadas por descargas elétricas [raios]”, explicou.

Ainda segundo Nobre, na maioria das vezes, o fogo é iniciado de forma criminosa, após o desmatamento.

“Ele é colocado nessa floresta degradada para ir queimando, acabando com a floresta. Outra parte são incêndios que partem do uso do fogo na agropecuária na Amazônia. Nas pastagens, é comum o pecuarista usar o fogo, e o fogo pula da pastagem para a floresta degradada que está ali do lado”, explicou.

Esse processo repetido enfraquece o bioma, argumenta Silvestrini: “Quando o fogo entra uma vez, a floresta perde cobertura, fica mais vulnerável, e a próxima vez que o fogo chegar, queimará com mais facilidade. Fogo atrai fogo”, diz.

Contexto político: especialistas apontam que tramitação de projetos antiambientais no Congresso também influencia cenário negativo

Contexto político

Para Mazetti, do Greenpeace, o que acontece em Brasília tem reflexo direto nos patamares observados quanto aos focos de calor e alertas de desmatamento.

“É resultado de todo um contexto não só de tolerância como de incentivo ao crime ambiental que se estabeleceu no Brasil nos últimos anos”, afirma à DW, em referência ao governo Jair Bolsonaro.

Além do enfraquecimento dos órgãos ambientais, como o Ibama, e a falta de um plano robusto de combate e prevenção ao desmatamento, a tramitação de projetos antiambientais no Congresso Nacional também influencia o cenário, avalia Mazetti.

“Mesmo que essas alterações ainda não tenham sido aprovadas, só a expectativa de flexibilização da lei, seja fundiária ou ambiental, já age como estímulo à destruição”, pontua Mazetti, fazendo referência aos projetos que receberam a alcunha de “Pacote da Destruição”, que inclui mudanças de licenciamento ambiental, liberação de agrotóxicos e a permissão para exploração das terras indígenas.

Um outro elemento pode impulsionar o desmatamento e as queimadas nos próximos meses: as eleições.

“Esse pode ser um possível último ano de governo Bolsonaro, em que o crime foi muito incentivado. Então pode haver uma corrida desenfreada para desmatar porque ‘não se sabe o dia de amanhã'”, analisa Mazetti.

Outro ponto preocupante são as queimadas criminosas de invasores que ameaçam indígenas e unidades de conservação: “Temos visto aumento do fogo e da violência contra indígenas e comunidades nos últimos anos, o que serve de alerta a toda a sociedade”, conclui.

Fonte: Deutsche Welle

Dados do Inpe apontam maior número de focos de incêndio desde 2007 no período. Primeiros seis meses do ano também registram alta de 19% em queimadas em comparação a 2021.

Os sistemas que monitoram o ritmo de destruição da Amazônia registraram mais um recorde. O mês de junho de 2022 concentrou o maior número de focos de incêndio dos últimos 15 anos: foram 2.562 pontos de calor detectados por satélite. O pico anterior havia sido registrado em 2007, com 3.519 focos ativos.

Os dados são acompanhados e divulgados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mantém uma série histórica desde 1998. Anteriormente, o ponto máximo atingido em um mês de junho havia sido em 2004, com 9.179 focos.

O cenário atual confirma a tendência observada desde o começo do ano, segundo levantamento feito por Rafaella Silvestrini, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

“Desde o começo de 2022, houve um aumento de 19% de focos de queimadas no bioma em relação ao mesmo período de 2021”, afirma Silvestrini à DW. “É preocupante porque o período de seca, na prática, começa em junho. Pode ser que nos próximos meses continue a tendência forte de aumento”, acrescenta.

Onde há mais focos

Entre os estados amazônicos, Mato Grosso e Pará são os destaques negativos, com 64,5% e 21,7% dos focos, respectivamente. Sozinho, o município de Nova Ubiratã, na região central mato-grossense, registrou 11,4% do fogo no estado.

“São municípios que estão vivenciando um processo de expansão das áreas de plantio de soja”, analisa Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), em entrevista à DW.

“Dos focos de calor identificados, 80% ocorreram em imóveis rurais cadastrados, o que mostra a associação do uso do fogo para limpeza dessas áreas”, explica Silgueiro, ressaltando que há casos em que esse manuseio recebeu autorização dos órgãos estaduais, e que parte das queimadas são ilegais.

“Como em julho se inicia o período proibitivo do uso do fogo, os donos de imóveis rurais aproveitam os meses de maio e junho, em que já há uma redução de chuvas, para a queima”, diz.

Segundo um decreto do estado de Mato Grosso, as queimadas são proibidas entre julho e fim de outubro. Nesse período, são permitidas apenas atividades de prevenção e combate a incêndios feitas pelas instituições públicas autorizadas. Em nível federal, um decreto semelhante passou a vigorar em 22 de junho.

“Nos próximos meses, espera-se que outros estados, como Rondônia e Amazonas, apareçam nesse ranking, já que são regiões com fronteira ativa de desmatamento”, comenta Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, sobre os dados de junho.

Entre os estados que formam a região amazônica, Mato Grosso (64,5%) e Pará (21,7%) são os destaques negativos

Fogo atrai mais fogo

Embora a maior parte do fogo detectado pelos satélites em toda a Amazônia esteja em áreas privadas, com 64,6% do total registrado em imóveis rurais de janeiro a junho, Silvestrini chama a atenção para a alta acentuada observada em unidades de conservação (UC) e terras indígenas (TI).

Em comparação com 2021, os pontos de calor em TIs aumentaram 36% nos primeiros seis meses do ano. Em UCs, essa taxa é de 54,5%.

“Isso é um indício de que o fogo está avançando mais para terras públicas. Isso é perigoso, porque TIs e UCs deveriam ser as áreas de preservação”, pontua Silvestrini.

Em entrevista recente à DW, o climatologista Carlos Nobre falou sobre essa frente de devastação na Amazônia, maior floresta tropical úmida do mundo.

“Cerca de 95% das queimadas – ou mais – têm causa humana, não são causadas por descargas elétricas [raios]”, explicou.

Ainda segundo Nobre, na maioria das vezes, o fogo é iniciado de forma criminosa, após o desmatamento.

“Ele é colocado nessa floresta degradada para ir queimando, acabando com a floresta. Outra parte são incêndios que partem do uso do fogo na agropecuária na Amazônia. Nas pastagens, é comum o pecuarista usar o fogo, e o fogo pula da pastagem para a floresta degradada que está ali do lado”, explicou.

Esse processo repetido enfraquece o bioma, argumenta Silvestrini: “Quando o fogo entra uma vez, a floresta perde cobertura, fica mais vulnerável, e a próxima vez que o fogo chegar, queimará com mais facilidade. Fogo atrai fogo”, diz.

Contexto político: especialistas apontam que tramitação de projetos antiambientais no Congresso também influencia cenário negativo

Contexto político

Para Mazetti, do Greenpeace, o que acontece em Brasília tem reflexo direto nos patamares observados quanto aos focos de calor e alertas de desmatamento.

“É resultado de todo um contexto não só de tolerância como de incentivo ao crime ambiental que se estabeleceu no Brasil nos últimos anos”, afirma à DW, em referência ao governo Jair Bolsonaro.

Além do enfraquecimento dos órgãos ambientais, como o Ibama, e a falta de um plano robusto de combate e prevenção ao desmatamento, a tramitação de projetos antiambientais no Congresso Nacional também influencia o cenário, avalia Mazetti.

“Mesmo que essas alterações ainda não tenham sido aprovadas, só a expectativa de flexibilização da lei, seja fundiária ou ambiental, já age como estímulo à destruição”, pontua Mazetti, fazendo referência aos projetos que receberam a alcunha de “Pacote da Destruição”, que inclui mudanças de licenciamento ambiental, liberação de agrotóxicos e a permissão para exploração das terras indígenas.

Um outro elemento pode impulsionar o desmatamento e as queimadas nos próximos meses: as eleições.

“Esse pode ser um possível último ano de governo Bolsonaro, em que o crime foi muito incentivado. Então pode haver uma corrida desenfreada para desmatar porque ‘não se sabe o dia de amanhã'”, analisa Mazetti.

Outro ponto preocupante são as queimadas criminosas de invasores que ameaçam indígenas e unidades de conservação: “Temos visto aumento do fogo e da violência contra indígenas e comunidades nos últimos anos, o que serve de alerta a toda a sociedade”, conclui.

Fonte: Deutsche Welle

Projeto dos agrotóxicos: oposição no Senado vê ‘atropelo’ na tramitação e pede ação de Pacheco

 



Projeto dos agrotóxicos: oposição no Senado vê ‘atropelo’ na tramitação e pede ação de Pacheco

COMISSÃO DE AGRICULTURA PREVIA AUDIÊNCIAS PÚBLICAS, MAS PRESIDENTE DO GRUPO SUSPENDEU ETAPA E ABRIU CAMINHO PARA VOTAÇÃO. TEXTO É CRITICADO POR AMBIENTALISTAS E DEFENDIDO POR RURALISTAS.

As senadoras Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Zenaide Maia (PROS-RN) pediram nesta quinta-feira (7) ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que contenha o que chamaram de “atropelo” na tramitação do projeto que flexibiliza as regras de controle a aprovação de agrotóxicos no país.

O projeto foi aprovado em fevereiro deste ano pela Câmara dos Deputados e agora está em análise na Comissão de Agricultura do Senado. Pela programação, seriam feitas duas audiências públicas para discutir o texto antes de a proposta ser votada.

Somente uma das duas audiências foi feita e, durante a sessão desta quinta-feira, o presidente da comissão, Acir Gurgacz (PDT-RO), anunciou a suspensão da outra audiência; já fez a leitura do parecer; e concedeu vista coletiva (adiamento da votação). Na prática, abriu caminho para o projeto ser votado na próxima semana.

Em resposta às senadoras, Rodrigo Pacheco disse que nã



o haverá “nenhum açodamento” e “nenhum atropelo” em relação ao projeto, acrescentando que questões relativas às comissões devem ser resolvidas pelas próprias comissões.

4 pontos sobre o PL dos Agrotóxicos

O projeto em discussão

Entre as principais medidas, o texto revoga a lei dos agrotóxicos, de 1989, passa a chamar as substâncias de “pesticidas e produtos de controle ambiental” e altera o trâmite para o registro de agrotóxicos no país.

Ambientalistas criticam a proposta e a chamam de “PL do Veneno”. Afirmam que o texto prevê medidas que podem representar riscos à saúde.

A chamada bancada ruralista do Congresso, por outro lado, defende o texto. Argumenta que as mudanças vão “modernizar” o setor e dar “mais transparência” ao processo de aprovação das substâncias.

A cobrança das senadoras

No plenário, Eliziane Gama pediu providências a Pacheco. “Veja, presidente, uma audiência que nós aprovamos em requerimento e através de conversas e acordos, deixando de lado a tramitação em várias comissões. Não tem mais audiência, o projeto entra extra-pauta, é apresentado o relatório. Não pode isso, presidente, não pode”, afirmou.

A senadora Zenaide Maia (PROS-RN) também cobrou que o texto passe por outras comissões. Argumentou que, apesar de ter possíveis impactos no meio ambiente e na saúde, o projeto está previsto para ser analisado somente pela Comissão de Agricultura, sem passar por outros colegiados.

A resposta de Pacheco

Em resposta, Pacheco afirmou às senadoras que questões relativas às comissões devem ser resolvidas pelas próprias comissões.

Acrescentou que o projeto, dada a complexidade, terá do comando do Senado “toda a atenção”. “Nenhum açodamento, nenhum atropelo, permitindo-se o melhor debate possível em relação a isso”, disse.

“Se necessário for fazer audiências públicas, sessões de debates, e se o entendimento da maioria for a submissão a outras comissões, assim será feito. Então, fique tranquila em relação à Presidência do Senado da compreensão acerca da complexidade desse tema”, afirmou Rodrigo Pacheco.

Irrigação em áreas de preservação

Além de avançar a tramitação do projeto que flexibiliza a aprovação de agrotóxicos, a Comissão de Agricultura aprovou nesta quinta um projeto que altera o Código Florestal para permitir a construção de reservatórios de irrigação em áreas de preservação permanente, destinadas à proteção dos rios.

O texto foi aprovado em caráter terminativo. Dessa maneira, se não houver recursos, seguirá direto para votação da Câmara, sem passar pelo plenário do Senado.

A medida libera as áreas rurais a construírem os reservatórios por meio de barramentos de curso d’água e da infraestrutura física.

Fonte: G1