Por Paulo Barreto
- quarta-feira, 11 novembro 2015 18:44
Foto: Keith Laverack
Imagine a frustração e desespero. Você investiu em ações da Petrobras
e na Volkswagen confiando que elas seriam empresas sólidas e
produziriam dividendos para sua aposentadoria. Agora que você está
pronto para se aposentar, o valor destas empresas caiu
65% (em comparação a setembro de 2014) e
37%,
respectivamente.
A Petrobras caiu, entre outros, porque o seu principal
acionista usou a empresa para controlar a inflação (impedindo o aumento
do preço dos combustíveis) e porque parte da sua direção indicada por
políticos está envolvida em corrupção. O valor da Volkswagen caiu, pois
se descobriu que a empresa criou um sistema para enganar os testes de
emissões de poluição dos carros a diesel. Depois da queda, ninguém sabe
direito o futuro da Petrobras e da Volkswagen o que aumenta ainda mais o
desespero do investidor.
Agora, você que quer poupar para a sua aposentadoria está ainda mais
preocupado em saber o risco das opções de investimento. Adicione mais
uma preocupação: qual o risco das mudanças climáticas afetarem o
negócio?
Embora alguns poucos continuem negando, as mudanças do clima estão
ocorrendo e afetando os negócios. As seguradoras já estão pagando o
preço por causa do aquecimento global. O pagamento no mundo de seguros
por desastres climáticos quintuplicaram em termos reais (descontando a
inflação)
de cerca de R$ 10 bilhões para R$ 50 bilhões desde a década de 1980,
segundo o presidente do Banco Central da Inglaterra. Além dos seguros,
outras empresas tendem a sofrer. Por exemplo, secas constantes podem
reduzir a produção agropecuária e desvalorizar o valor de determinadas
terras. Novas regras para reduzir as emissões dos gases que causam o
aquecimento global podem impor custos adicionais para as empresas.
O risco é tão grave que a Universidade de Oxford na Inglaterra criou em 2012 um programa chamado Ativos Encalhados (
Stranded Assets) para avaliar os riscos de ativos perderem seu valor. Além disso, o presidente do Banco Central da Inglaterra
alertou que o aquecimento global pode desencadear o colapso no setor de seguros
e afetar o resto da economia. Ele lidera um grupo que sugerirá aos
líderes do G20 (os países com as 20 maiores economias) que as empresas
divulguem o quanto estão envolvidos com as emissões de gases que causam
as mudanças do clima.
Enquanto isso não acontece, cada um deve ser cauteloso nos investimentos.
Este ano, a falta de transparência sobre o risco ambiental me fez
desistir de investir em Letras de Crédito do Agronegócio. Os bancos
emitem estes papeis para buscar recursos para financiar a produção
agropecuária. A funcionária do banco me estimulou a investir na LCA
dizendo que geraria bom rendimento, pois é isenta do imposto de renda e
ainda seria de baixo risco.
O risco seria supostamente baixo porque a
LCA é lastreada em produtos físicos como a soja e milho, máquinas e
equipamentos. Como sei dos riscos ambientais no setor rural, pedi os
prospectos da LCA para estudar em casa. As páginas finais do prospecto
diziam que o desempenho pode ser influenciado por riscos ambientais.
Mais quais os riscos ambientais?
Nenhuma informação estava disponível. O
ideal é que as empresas que captam estes recursos tivessem certificados
de boas práticas ambientais para reduzir seus riscos. Se uma fazenda
desmatou ilegalmente, o órgão ambiental pode confiscar bens e produtos.
Por isso, eu gostaria de um atestado que as fazendas financiadas
respeitam o código florestal.
Falta Transparência
"Ministério
do Meio Ambiente editou regulamentação que proíbe o acesso às
informações sobre os proprietários rurais registrados no CAR."
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Infelizmente, representantes do agronegócio brasileiro tem trabalhado
para reduzir a transparência ambiental do setor em vez de promovê-la.
Por exemplo, o novo código florestal exige que os imóveis rurais sejam
registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O CAR contém o mapa do
imóvel e identifica o seu detentor ou proprietário. Estas informações
permitiriam várias análises sobre riscos ambientais.
Por exemplo, ao
cruzar o mapa do CAR com imagens de satélite, seria possível identificar
desmatamentos ilegais. Segundo o código Florestal, a partir de 2017 os
bancos só poderão emprestar dinheiro para imóveis registrados no CAR.
Entretanto, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do
Senado aprovou em setembro de 2015 que o
prazo para cadastramento no CAR seja adiado até maio de 2018.
Embora o projeto de lei ainda precise ser aprovado por outras comissões
e pelo plenário da Câmara para entrar em vigor, o episódio mostra que
representantes do setor rural preferem adiar a transparência ao invés de
acelerá-la para dar segurança aos investimentos no setor. Além disso, o
Ministério do Meio Ambiente editou regulamentação que proíbe o acesso
às informações sobre os proprietários rurais registrados no CAR.
Ao mesmo tempo, o governo brasileiro tem sido contraditório sobre a
produção e uso de informação sobre os riscos climáticos. A Secretaria de
Estudos Estratégicos da Presidência da República encomendou vários
estudos para prever os riscos e as medidas de adaptação às mudanças
climáticas. Entretanto, a troca de secretário em marco de 2015, levou à
demissão da equipe que coordenava os estudos. Somente em outubro de
2015, foi divulgada parte do estudo “Brasil 2040 – Alternativas de
Adaptação às Mudanças Climáticas”.
Os estudos trazem várias previsões preocupantes
sobre energia, saúde, agricultura e infraestrutura. Se as medidas de
prevenção não forem tomadas, o Brasil tende a ficar mais quente e seco
nos próximos 15 anos. Em consequência disso, a geração de energia
hidrelétrica pode ser reduzida entre 8% e 20%. A redução de área
potencial para lavouras pode ser de até 39,3%, no pior cenário. Por
isso, o valor da terra pode cair em várias regiões: até 36% no Pará; 2% a
16% no Maranhão, 14% a 26% no Tocantins e 3% a 14% no Piauí.
As empresas e governo deveriam considerar estas análises para
projetar investimentos que não fiquem encalhados. Entretanto, o próprio
governo está agindo na direção contrária em alguns casos. Por exemplo, o
Ministério da Agricultura está promovendo a expansão da agricultura na
região chamada de Mapitoba (o cerrado do Maranhão, Piauí, Tocantins e
Bahia). O desmatamento nesta região está aumentando, o que pode aumentar
a seca e reduzir o valor das terras. Isso significa que, além de
demandar transparência sobre os riscos dos investimentos privados, é
necessário demandar que o poder público, que investe nossos impostos,
seja também transparente e não invista em projetos que vão ficar
encalhados.