Há uma permanente e inexorável degradação ambiental no Brasil,
resultante de décadas de má administração na área ambiental, descaso de
autoridades municipais e de muitos estados relativamente à poluição, e o
avanço permanente de urbanização e de infraestrutura que alteram os
ambientes naturais e contribuem para um crescimento dos problemas de
poluição e contaminação.
A expansão de fronteira agrícola com o aumento do desmatamento; o uso
intensivo do solo e das bacias hidrográficas, com práticas agrícolas
defasadas, aplicações exageradas de fertilizantes e defensivos
agrícolas; a crescente urbanização que trata somente 40% dos esgotos
domésticos do Brasil; os inúmeros problemas resultantes da disposição de
resíduos sólidos, que contribuem para uma poluição difusa persistente,
do solo, da água e do ar; e um aumento da toxicidade em geral do solo,
água e ar, que seguramente afetam a saúde humana, o funcionamento dos
ecossistemas, reduzem a biodiversidade e comprometem os recursos
naturais são todos causas efetivas.
A mineração é uma das atividades que mais causam problemas na
deterioração da qualidade das águas superficiais e subterrâneas, na
paisagem e na biodiversidade terrestre e aquática. Além dos acidentes,
como o caso da Samarco no Vale do Rio Doce, que causam enormes impactos e
grandes prejuízos em pouco tempo.
As áreas costeiras também são afetadas por estuários contaminados e com
alto grau de poluentes, e por degradação gerada por sedimentos em
suspensão e deterioração das regiões costeiras.
Dentre os principais problemas de contaminação e poluição do Brasil,
está o da deterioração das águas superficiais e subterrâneas. Muitas
reservas de águas doces que abastecem cidades e condomínios estão
contaminadas, o que demanda um enorme investimento para o tratamento da
água a fim de torná-la potável. Há poucas regiões do Brasil atualmente
com águas naturais pristinas e sem contaminação.
Todo este conjunto de problemas, que resulta da intensificação das
atividades humanas-urbanização, produção de alimentos, produção de
energia, resulta em um impacto econômico certamente de grandes
proporções ainda não mensurado adequadamente, mas certamente muito
significativo (Tundisi et al., 2015).
Por exemplo, o tratamento de água para produção de água potável é
extremamente dispendioso. São precisos de R$ 200,00 a R$ 300,00 reais
para a produção de 1.000 m3 de água potável a partir de fontes
degradadas. O custo para tratar águas pristinas e não contaminadas pode
chegar, no máximo, a R$ 10,00 reais (Tundisi & Matsumura-Tundisi,
2010).
Este é um exemplo. Há outros custos não contabilizados:
internações por doenças de veiculação hídrica; número de horas de
trabalho perdidas por ausência devido a doenças com origem nas águas
contaminadas; número de horas perdidas nas escolas por ausência devido a
doenças de veiculação hídrica; intoxicações por substâncias tóxicas –
não custa repetir.
Sobre este conjunto complexo deve-se ainda considerar o impacto das
mudanças climáticas e o acúmulo dos POPs (Poluentes Orgânicos
Persistentes) nas águas superficiais e subterrâneas
Há, portanto, um enorme conjunto de danos à saúde pública, não
contabilizados ou dimensionados, resultantes da poluição e contaminação.
Em áreas metropolitanas a baixa qualidade do ar pode produzir inúmeras
doenças respiratórias cujo impacto econômico deve ser mensurado.
A degradação ambiental no Brasil decorre de um quadro cada vez mais
difícil de controlar: as leis existentes são adequadas, já a
fiscalização é, no entanto, ineficiente e o treinamento e capacitação de
agentes públicos são precários ou reduzidos. O monitoramento é pouco
efetivo em escala nacional. Esta deveria prover um banco de dados
competente e útil para promover políticas de recuperação e conservação.
Quanto custa a poluição no Brasil? Com a palavra os economistas, para apresentarem os estudos com as ferramentas de que dispõem
Um dos problemas que mais afetam a população está relacionado com a
qualidade das águas. Recreação, turismo, abastecimento público ficam
ameaçados pela eutrofização, que representa o impacto de nitrogênio e
fósforo por esgotos não tratados. Sobre esse conjunto complexo deve-se
ainda considerar o impacto das mudanças climáticas e o acúmulo dos POPs
(Poluentes Orgânicos Persistentes) nas águas superficiais e
subterrâneas.
Tais poluentes, uma inexorável e permanente contaminação, são resultado
da adição de medicamentos, cosméticos, antibióticos, hormônios
dissolvidos nas águas de rios, represas e águas subterrâneas e
constituem a mais recente ameaça à saúde humana, à biodiversidade e ao
funcionamento dos ecossistemas (Young et al., 2015).
O Brasil muito se beneficiaria se o custo agregado deste conjunto todo
de degradações fosse contabilizado. Deve-se ainda considerar o
investimento na recuperação de sistemas degradados, o que amplia a
necessidade de investimentos nessa área. Quanto custa a poluição no
Brasil? Com a palavra, os economistas para apresentarem os estudos com
as ferramentas de que dispõem.
Investir em saneamento básico no Brasil para colocá-lo em um lugar mais
privilegiado juntamente com os países desenvolvidos deve ser uma
política de Estado de longa e permanente duração.
Para tanto, é necessário calcular e dimensionar quanto se deve investir
ao longo dos próximos 20 anos. O País progrediu em modernização. O País
não progrediu em desenvolvimento. Este é o dilema que precisa ser
resolvido para ingressar o Brasil definitivamente no século 21. Ainda
estamos longe. Existem tecnologia, conhecimento, informação. A execução
é, no entanto, precária. (Tundisi & Matsumura-Tundisi, 2016).
Bibliografia
Tundisi, J.G. & Matsumura-Tundisi, T., 2010. Impactos potenciais das
alterações do Código Florestal nos recursos hídricos. Biota Neotrop. 10
(4), pp 67-76, 2010.
http://www.biotaneotropica.org.br/v10n4/pt/abstract?article+bn01110042010,
ISSN 1676-0603.
Tundisi, J.G., Matsumura-Tundisi, T., Ciminelli, V.S., Barbosa, F.A.R.,
2015a. Water availability, water quality water governance. In: Cudennec,
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Present and Future, vol. 366. PIAHS, pp. 75-79.
Tundisi, J.G. & Matsumura-Tundisi, T. Integrating ecohydrology,
water management and watershed economy: case studies from Brazil.
Ecohydrology & Hydrobiology. vol. 16, pp. 83-91, 2016.
Young, G., Demuth S., Mishra, A. & CUDENNEC C. Hydrological Sciences
and Water Security: and overview. In: CUDENNEC, C. et al. (Editors).
Hydrological Sciences and Water Security. Past, Present, Future. IAHS
Publ. 366, pp. 1-6, 2015.
José Galizia Tundisi é professor titular aposentado da Escola de
Engenharia de São Carlos da USP, professor titular da Universidade
Feevale (RS) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências
Fonte: EcoDebate