quarta-feira, 11 de março de 2020

O incansável e falacioso mito da internacionalização da Amazônia, por Henrique Cortez

O incansável e falacioso mito da internacionalização da Amazônia, por Henrique Cortez


Amazônia continental

[EcoDebate] Retornam as alegações do risco de internacionalização da Amazônia, inclusive servindo de lastro para acusar os ambientalistas, ONGs e críticos da devastação, como se estivessem a soldo de interesses escusos. Como pano de fundo, supostos inimigos externos interessados em ocupar a nossa Amazônia.
Aliás, freqüentemente falamos da nossa Amazônia, das ameaças à nossa Amazônia, dos desafios da nossa Amazônia e por aí vai, sempre esquecendo que a região não é apenas nossa. O eterno argumento em defesa da “nossa Amazônia” contra a internacionalização é um equívoco, porque, composta por 8 países, a Amazônia continental já é internacionalizada.
Então, com um pouco de geografia básica, percebe-se que a nossa Amazônia não é só nossa e não corre risco de ser “internacionalizada”, pois já pertence a mais oito países vizinhos. Precisamos é agir em parceria em sua defesa, pelo seu desenvolvimento e pela conservação de seus recursos naturais. Devemos ter a responsabilidade de compreender que os equívocos de nossas políticas públicas (ou da ausência delas) na conservação e uso sustentável da “nossa amazônia” afetam diretamente mais 8 países e, indiretamente, todo continente e, em seguida, todo o planeta.
A omissão das autoridades, a falta de uma compreensão real e efetiva do que seja desenvolvimento sustentável, a descontrolada expansão da fronteira agropecuária e a atuação impune e, agora, incentivada de garimpeiros, grileiros e madeireiros, são claros componentes da sua devastação. A expansão irresponsavelmente descontrolada da fronteira agropecuária está devastando o presente e pode exterminar o futuro, não apenas do cerrado e da Amazônia, como de toda a agricultura sustentável de nosso país.
Todas as autoridades públicas, têm a obrigação de saber disto e atuar na defesa dos interesses nacionais, sem apelar para o fácil argumento de um pretenso inimigo externo, como justificativa para a ocupação e exploração irresponsável.
Mais uma vez reafirmo que compreendo o desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento.
E continuaremos repetindo à exaustão que este equivocado modelo de desenvolvimento é apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.
Por outro lado, o discurso do risco de internacionalização, com invasão pelos marines e tudo mais, apenas serve à direita desenvolvimentista, que sempre usa pretensas ameaças externas como justificativa do que quer que seja. É importante lembrar que a ditadura militar cansou de usar o pseudo-argumento “Integrar para não entregar”, na tentativa de justificar a ocupação desordenada da Amazônia, raiz de sua devastação.
Todos os recursos da Amazônia, a nossa e dos outros, já estão à disposição do mercado internacional, tendo em vista a perpetuação de nossa pauta colonial de exportação de produtos primários, que corresponde a mais de 50% de nossas exportações. Ninguém precisa nos invadir simplesmente porque já vendemos tudo aos “melhores” preços, sem que isto tenha realmente contribuído para a melhoria dos indicadores sociais e econômicos da região.
Não há qualquer recurso natural que já não esteja à disposição dos interesses econômicos, nacionais e transnacionais.
Além dos discursos e bravatas pouco ou nada fazemos de real pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, da nossa e dos nossos vizinhos, além de não temos uma verdadeira estratégia de integração com os demais países amazônicos.
Para que a “nossa” Amazônia seja realmente nossa, precisamos retoma-la dos grileiros, madeireiros ilegais, agro-gananciosos, garimpeiros ilegais e outros devastadores, incluindo políticos que ainda agem como donatários das Capitanias Hereditárias. Ela será nossa na exata medida em que formos efetivamente responsáveis pelo seu destino.
Não creio que corremos o risco real de ter a “nossa” Amazônia invadida em prol da governança global, mas certamente teremos problemas nas relações multilaterais, no acesso aos financiamentos internacionais e no boicote aos nossos produtos e serviços, inclusive justificando uma renovada onda protecionista. Este é um risco real e imediato.
Não há como negar que seremos cobrados e muito. Cobrados e com razão. Mas ainda temos tempo e oportunidade de dizer a nós mesmos, antes de dizer ao mundo e aos nossos vizinhos, que somos capazes de agir com responsabilidade e seriedade.
Henrique Cortez, jornalista, ambientalista, editor da revista eletrônica EcoDebate

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/03/2020
O incansável e falacioso mito da internacionalização da Amazônia, por Henrique Cortez, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/03/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/03/11/o-incansavel-e-falacioso-mito-da-internacionalizacao-da-amazonia-por-henrique-cortez/.

Elevação do nível do mar pode provocar ‘desaparecimento’ de quase 50% das praias do planeta

Elevação do nível do mar pode provocar ‘desaparecimento’ de quase 50% das praias do planeta

Elevação do nível do mar pode provocar 'desaparecimento' de quase 50% das praias do planeta até 2100
*Por Claudio Angelo
Ai de ti, Copacabana! Um estudo publicado esta semana sugere que até 49% das praias do mundo correm risco de quase desaparecer do mapa devido principalmente à elevação do nível do mar no fim deste século.


O Brasil é um dos países que sofrerão, especialmente no Nordeste. Mas o principal afetado será a Austrália, que no melhor cenário pode perder mais de 11 mil quilômetros de praia – metade do litoral.
A pesquisa foi feita por cientistas europeus liderados por Michalis Vousdoukas, da Comissão Europeia, e publicada na edição on-line do periódico Nature Climate Change. Segundo os autores, a subida dos oceanos causada pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa está se tornando o principal causador de erosão marinha no mundo – o processo é natural em alguns lugares, em outros é agravado pela ocupação humana.

Até 2100, escrevem Vousdoukas e colegas, 82% da retração de praias ocorrerá como resultado direto da subida do nível do mar. O restante se deverá a alterações ambientais locais.

Para fazer seu estudo, o grupo analisou dados sobre o histórico de retração ou aumento de praias no mundo inteiro e extrapolou essa tendência para o fim do século. Em cima disso, inseriu num modelo de computador a variação do nível do mar estimada em dois cenários do IPCC, o comitê de climatologistas da ONU: o chamado RCP 4.5, de emissões moderadas (mas no qual a meta do

Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento da Terra abaixo de 2oC é perdida), e o RCP 8.5, no qual o mundo falha em reduzir emissões.

No cenário moderado, a linha de praia recua em 1 m a 78 m nos cinco continentes até o meio do século, e em 15 m a 164 m no fim do século. No pior cenário, o recuo chega a 240 m no fim do século, o que implicaria em perda de 35,7% a 49,5% das praias de areia do planeta.

No Nordeste do Brasil o recuo seria de mais de 150 metros no pior cenário, no fim do século. Mas já em 2050 as praias nordestinas podem perder 40 metros de faixa de areia, em média, mesmo num cenário de emissões moderadas.

Nada que se compare ao sul da Ásia, que pode ver recuos de 130 metros na faixa de areia no meio do século (no RCP 4.5) e de mais de 400 metros em 2100 no RCP 8.5.

Além da Austrália, figuram na lista dos países mais afetados o Canadá, o Chile, o México (que já precisa “engordar” artificialmente as praias de Cancún todos os anos) e os Estados Unidos.

Os cientistas lembram que não se trata só de perda de um lugar ao sol: as praias também protegem as populações costeiras contra ressacas – que, aliás, estão cada vez mais fortes também por causa do aumento do nível do mar, como a cidade de Ubatuba descobriu neste Carnaval.

“Além da maior vulnerabilidade a desastres costeiros, vários desses países também tendem a experimentar impactos socioeconômicos sérios devido a economias frágeis e dependentes do turismo, que têm nas praias de areia sua maior atração turística.”

O recado serve para o presidente Jair Bolsonaro, que advoga impulsionar o turismo de sol e praia no Brasil ao mesmo tempo em que seu gabinete nega as mudanças climáticas e seu governo trabalha para aumentar as emissões de carbono que estão destruindo nossas praias.

*Texto publicado originalmente em 02/03/20 no site do Observatório do Clima

Leia também:
Qual a relação entre o calorão na Antártica e as tempestades no Sudeste?
Jeff Bezos, CEO do Amazon, anuncia fundo de US$ 10 bilhões para financiar cientistas, ativistas e ONGs no combate à crise climática
Iceberg com mais de 300 km² – quase o tamanho de Belo Horizonte – se solta da Antártica
Concentração de CO2 na atmosfera da Terra bate novo recorde histórico

Foto: domínio público/pixabay


Brasil está entre as 6 economias mais afetadas pela devastação da natureza, revela estudo global

Brasil está entre as 6 economias mais afetadas pela devastação da natureza, revela estudo global

Pesquisadores do WWF International revelaram o óbvio, na verdade, mas, neste mundo essencialmente capitalista, é necessário apresentar dados para embasar o que só não se quer ver, nem admitir. Eles calcularam o custo econômico do declínio da natureza em 140 países e revelaram o resultado no relatório Global Futures (Futuros Globais). E este é uma sentença.

Se o mundo continuar promovendo a devastação ambiental em beneficio dos negócios, sem considerar a vida – ou seja, agir pautado pela máxima do business as usual -, os EUA, que lideram este movimento de destruição – inclusive com as guerras que promove -, sofrerão as maiores perdas do PIB anual em termos absolutos. Em números, isso significa que “US$ 83 bilhões serão varridos de sua economia por ano até 2050: uma quantia equivalente a todo o PIB anual da Guatemala”.

Esse total se deve, em grande parte, aos danos que poderão ser causadas a suas infraestruturas costeiras e terras agrícolas, devido ao aumento das inundações e da erosão. Estas, por sua vez, podem aumentar assustadoramente por causa da destruição das defesas naturais da costa do país, como manguezais e recifes de coral.

Danos às zonas costeiras, aliás, também serão a principal causa dos prejuízos à economia brasileira, o que coloca o nosso país em sexto lugar no ranking do estudo do WWF. As perdas estão calculadas em US$ 14 bilhões (ou cerca de R$ 65 bilhões no câmbio de hoje: 1 dólar = 4,67 reais) ao ano até 2050. Leve em conta que a zona costeira abriga cerca de 60% dos brasileiros e é a mais vulnerável frente às mudanças climáticas.
Foto: Joakant/Pixabay
Por ano, de acordo com a área afetada, os prejuízos no Brasil poderão seguir este script:
ZONAS COSTEIRAS – Bens e pessoas serão constantemente afetados pelo aumento do nível do mar e das erosões, impactando a economia de forma assustadora. Nos primeiros anos, os prejuízos poderão ser de US$ 12,382 bilhões/ano ou quase R$ 58 bilhões.

FLORESTAS – A perda de produtividade nas áreas florestais tem origem no uso indevido do solo e no desmatamento, que afetam diretamente o clima. Em 2019, 9.762 km² foram desmatados e as emissões por uso de solo representaram 44% da emissão do país. Nesse cenário, os prejuízos, então, poderão ser da ordem de US$ 1,326 bi/ano ou cerca de R$ 6.1 bilhões.
Foto: José Sabino
POLINIZAÇÃO – Muita gente ainda não sabe, mas cerca de 32 alimentos dependem exclusivamente de polinizadores. Com as alterações do clima, este ciclo de produção fica altamente comprometido. E, por isso, os prejuízos podem chegar a US$ 1,013 bi/ano ou pouco mais de R$ 4.7 bilhões.
Pesticidas afetam memória e poder de polinização das abelhas
Foto: Domínio público/pixabay
ÁGUA DOCE E PESCA – Ambos são consideravelmente afetados à medida que as chuvas sofrem alterações de intensidade e frequência, modificando o ciclo hidrológico. Isso impacta na segurança das comunidades costeiras, na mudança de seu habitat e na reprodução dos peixes. E ainda provoca grandes períodos de estiagem.

No caso da água, os prejuízos podem chegar a US$ 0,69 bi/ano ou R$ 3,2 bilhões. Já a produção pesqueira pode registrar US$ 0,108 bi/ano ou R$ 504 milhões.
Foto: Marcos Amend
O estudo Global Futures ainda prevê outras perdas globais anuais até 2050 relacionadas a essas áreas:

– US$ 327 bilhões (ou R$ 1,5 trilhão) em proteções danificadas por inundações, tempestades e erosão devido a mudanças na vegetação ao longo da costa e ao aumento do nível do mar;

– US$ 128 bilhões (ou quase R$ 584 bilhões) com a perda de armazenamento de carbono que protege o planeta contra as mudanças climáticas;

– US$ 15 bilhões (ou R$ 70 bilhões) por causa da destruição de habitats de abelhas e outros insetos polinizadores;

– US$ 19 bilhões (ou R$ 88,7 bilhões) provenientes da redução da disponibilidade de água para a agricultura; e

– US$ 7,5 bilhões (ou R$ 35 bilhões) com a perda de florestas e serviços de ecossistemas florestais.

E se a economia fosse de baixo carbono?

Foto: WWF International/Global Futures
Para as commodities agrícolas, o cenário obviamente não é promissor se continuarmos investindo no modelo atual, intensivo em carbono.

O setor agrícola global será o mais atingido pelo declínio dos serviços ecossistêmicos da natureza: sofrerá com a escassez de água e a diminuição de abelhas e outros insetos polinizadores. E isso também poderá levar a um aumento dos preços dos alimentos em todo o mundo, com implicações graves para a segurança alimentar em muitas regiões.

Assim, se continuarmos nessa toada, estão previstas perdas anuais de US$ 8 milhões ou R$ 37,36 milhões na cultura de cana e US$ 51 milhões ou R$ 238 milhões na pecuária. Mas, e se fossem adotados modelos mais limpos e sustentáveis? Ganhos anuais seriam possíveis: US$ 87 milhões ou R$ 406 milhões para a cana, e US$ 4 milhões ou R$ 18,6 milhões para a pecuária. 

Na indústria alimentícia, desconsiderando os serviços sistêmicos como agora, a perda prevista é de US$ 460 milhões ou R$ 2.148 bilhão. E, na indústria em geral, pode ser de US$ 2,2 bilhões ou R$ 10,274 bilhões. E se estivéssemos numa economia de baixo carbono? Os ganhos seriam, respectivamente, de US$ 459 ou R$ 2.143 bilhão e US$ 1,5 bilhão ou pouco mais de R$ 7 bilhões.

Já o setor de serviços perde nos dois cenários, mas, em proporções bem diferentes, veja só. Numa economia como a atual, perderá US$ 9,3 bilhões ou R$ 43 bilhões; numa economia verde, continuaria perdendo, mas muuuuito menos: US$ 1,6 bilhão ou quase R$ 7,5 bilhões.

E não será possível fugir dos aumentos nos preços globais para as principais commodities nos próximos 30 anos:
– Madeira: + 8%
– Algodão: + 6%
– Sementes oleaginosas: + 4%
– Frutas e verduras: + 3%.

Os três países mais impactados

Países em desenvolvimento como o Brasil – África Oriental e Ocidental, a Ásia Central, além de alguns da América do Sul – também sofrerão grandes impactos devido à perda de seus serviços ecossistêmicos, o que afeta os níveis de produção, o comércio e os preços dos alimentos.

De todos, os três países que mais devem perder PIB em termos percentuais são Madagascar, Togo e Vietnã. Até 2050 certamente sofrerão quedas de 4,2%, 3,4% e 2,8% ao ano, respectivamente.
Levemos em conta que perder PIB não precisa ser ruim, somente numa sociedade capitalista. Esta pode ser uma grande oportunidade para implementar mudanças nos valores morais, éticos e financeiros.

Cenário inóspito para as futuras gerações

Foto: Vinícius Mendonça/Ibama
“Este estudo inovador mostra como a natureza perdida não apenas terá um enorme impacto na vida e nos meios de subsistência humanos, mas também será catastrófica para nossa prosperidade futura. Pessoas de todo o mundo já estão sentindo o impacto do aumento dos preços dos alimentos, secas, escassez de mercadorias, inundações extremas e erosão costeira. No entanto, para a próxima geração, as coisas serão muito piores, com trilhões varridos das economias mundiais até 2050”, ressaltou Marco Lambertini, diretor geral do WWF Internacional, no lançamento do estudo.

Mas ele chama a atenção para um fato alarmante: nesta previsão, as estimativas são conservadoras. Isto porque apenas alguns dos inúmeros benefícios que a natureza nos oferece podem ser modelados e, também, porque “não é possível levar em conta os efeitos multiplicadores de riscos dos pontos de inflexão ambiental, além dos quais os habitats mudam rápida e irreversivelmente, levando à súbita perda catastrófica dos serviços da natureza”.

Portanto, se todas as questões levantadas por ele fossem levadas em consideração, o estudo apresentaria cenários ainda mais assustadores. Levando em conta que este é o legado que estamos deixando para os jovens de agora e as futuras gerações, isso é muito grave. Perverso.
Já Alexandre Prado, diretor de Economia Verde do WWF-Brasil, destaca a estreita relação entre economia e conservação confirmada pelo estudo e o que devemos fazer a partir dele, lembrando que a desigualdade também está presente na forma como os prejuízos afetam cada região no planeta: “os países-ilha, por exemplo, serão varridos do mapa”.

“É necessário dar ênfase e escala a modos de produção e consumo mais sustentáveis. Os serviços ecossistêmicos não são somente a garantia de nossa sobrevivência em nosso planeta, mas também da geração de oportunidades econômicas e da qualidade de vida para as sociedades humanas. O mundo perde muito em não agir, principalmente pelo aumento do nível do mar e demais eventos extremos nas costas, mas também pela perda de produtividade agrícola e florestal e o menor volume de água doce disponível. Só vamos conseguir manter o crescimento econômico e a prosperidade global em um cenário de conservação”.

Futuro global positivo

Foto: WWF International/Global Futures
O estudo do WWF International avalia o impacto macroeconômico caso os países ricos e em desenvolvimento continuem apostando no modelo predatório e não aprendam a conciliar economia e conservação. É óbvio que este modelo não funciona e está nos arrastando para o abismo. Os impactos são, sim, desiguais, mas ninguém escapará se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando e prosseguirmos com a destruição do que chamamos de recursos naturais.

Por que é tão difícil entender que, em um cenário no qual o uso da terra seria gerenciado de forma a evitar novas perdas da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicoschamado pelo estudo de cenário de Conservação Global -, é também óbvio que os resultados econômicos seriam “dramaticamente melhores”? O PIB global, por exemplo, aumentaria 0,02% ao ano, resultando num ganho líquido de US$ 490 bilhões (ou R$ 2,28 trilhões) no mesmo período, ou seja, acima do cálculo da economia, como sempre.

Global Futures é resultado do uso de um método pioneiro de análise criado por meio de uma parceria entre o WWF, o Projeto Global de Análise de Comércio da Universidade de Purdue (Indiana, EUA) e o Projeto Capital Natural da Universidade de Minnesota.

Steve Polasky, co-fundador do Projeto Capital Natural, é taxativo: “as economias do mundo, as empresas e nosso próprio bem-estar dependem da natureza”. E chama a atenção para o fato de que “as mudanças climáticas, as condições climáticas extremas e as inundações, a falta de água, a erosão do solo e as extinções de espécies são algumas das evidências que mostram que nosso planeta está mudando mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história”.
E completa: “A maneira como alimentamos, abastecemos e financiamos a nós mesmos está destruindo os sistemas de apoio à vida dos quais dependemos, arriscando a devastação econômica global”.

Já Thomas Hertel, diretor executivo do Projeto Global de Comércio e Análise, um dos parceiros do estudo, lembra que “a ciência e a economia são claras. Não podemos mais ignorar o forte argumento econômico de restaurar a natureza. A inação nos custará muito mais do que ações para proteger as contribuições da natureza para a economia”. E sinaliza: “Para garantir um futuro global positivo, precisamos alcançar padrões mais sustentáveis de produção e de uso da terra, e reformar os sistemas econômico e financeiro para incentivar a tomada de decisão baseada na natureza”.

A hora de agir é agora

Foto: WWF International/Global Futures
Portanto, o futuro continua em nossas mãos. O nosso, o dos jovens, das crianças e das criaturas que ainda não chegaram ao planeta. Não sei se consigo ser otimista como Marco Lambertini, diretor geral do WWF Internacional: “A boa notícia é que esses resultados desastrosos podem ser evitados se, em vez de continuarem atuando com o modelo antigo de fazer negócios, os governos agirem urgentemente para deter a perda de natureza e enfrentar a nossa emergência planetária”. Mas creio que é preciso lutar, cobrar e tentar.

Lambertini finaliza seu depoimento, valorizando o Acordo de Paris: “Não precisamos nada menos que um novo acordo para a natureza e as pessoas, tão abrangente, ambicioso e científico como o acordo climático global acordado em Paris em 2015”.

No sumario do estudo, o WWF reforça esse otimismo:

“Este relatório chega em um momento crítico, marcando o início de um ano histórico para o futuro do nosso planeta. Durante 2020, líderes políticos e negociadores fornecerão uma série de importantes resultados globais sobre natureza, clima e desenvolvimento e estabelecer um novo acordo abrangente para a natureza e as pessoas que incorporam uma forte estrutura pós-2020 para a proteção da biodiversidade global.

Também haverá novas evidências e recomendações em desenvolvimento sobre como abordar essas questões, inclusive, por exemplo, através da próxima revisão de Dasgupta sobre economia da biodiversidade, encomendada pelo Tesouro do Reino Unido.

Como o IPBES (Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas em Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas lançada por 94 governos em 2012) e outros relatórios globais alertaram, e este relatório corrobora, os atuais níveis de ambição não são suficientes.
Para reverter o declínio da natureza e para que a humanidade desfrute de um futuro sustentável e próspero, precisamos urgentemente de mudanças transformacionais em nossos sistemas econômico e financeiro. Orientar esses sistemas para proporcionar prosperidade sustentável a longo prazo incentivará a proteção e a restauração da natureza.

Esperamos que este relatório, juntamente com outras evidências, incentive e permita que os líderes mundiais tomem ações decisivas antes que seja tarde demais”.

Nós, do Conexão Planeta, esperamos também.
Com informações do site WWF Brasil / Foto: Divulgação/Projeto Baleia Jubarte (abertura)


Novo coronavírus deve causar perdas de US$ 1 trilhão à economia mundial em 2020


 





Novo coronavírus deve causar perdas de US$ 1 trilhão à economia mundial em 2020
BR

Foto ONU/Mark Garten
Mercados financeiros têm mostrado trubulência causada pela vírus

10 março 2020
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, revela que crescimento deve ser menor que 2% esse ano; até essa terça-feira, tinham sido confirmados 113,851 casos e 4,015 mortes em 110 países.

A incerteza econômica causada pelo covid-19 deve custar US $ 1 trilhão à economia global em 2020, informou a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.
Segundo o diretor da divisão Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da agência, Richard Kozul-Wright, a economia deve desacelerar e crescer menos de 2%.


Causas

O especialista diz que o vírus causa instabilidade nos mercados financeiros mundiais, preocupações sobre a cadeia de suprimentos mundial e incerteza no preço do petróleo. Segundo ele, poucos países devem escapar aos seus efeitos.

Na segunda-feira, os mercados financeiros tiveram a sua maior queda desde a crise financeira de 2008.

Os preços do petróleo também caíram de forma acentuada. Na terça-feira, os mercados continuavam instáveis, com alguns sinais de recuperação.

A Unctad também analisou as consequências do pior cenário, em que a economia mundial cresceria apenas 0,5%, concluindo que teria um impacto de US $ 2 trilhões no Produto Interno Bruto, PIB, mundial.

Kozul-Wright disse que é difícil prever como os mercados financeiros irão reagir, mas que os sinais "sugerem um mundo extremamente ansioso." Segundo ele, "existe um grau de ansiedade que está muito além dos problemas de saúde, que são muito sérios e preocupantes".


Recomendações

Para combater esses desafios, o especialista afirma que "os governos precisam investir para evitar um tipo de colapso ainda mais prejudicial."

Kozul-Wright contou que a China, onde o vírus surgiu em dezembro, deve introduzir "medidas expansionistas", como aumento da despesa e cortes de impostos. Segundo ele, os Estados Unidos devem seguir o mesmo caminho.

Sobre a Europa e a zona euro, o especialista disse que os sinais já eram negativos no final de 2019. Agora, é “quase certo” que a região deve entrar em recessão nos próximos meses. Ele destacou a economia da Alemanha, dizendo que é particularmente frágil, a Itália e outros países da periferia, que devem enfrentar “tensões muito sérias.”


Regiões

Passageiros usam máscaras em trem após registro do primeiro caso de coronavírus em Nova Iorque, ONU/Loey Felipe.
Sobre os países da América Latina, o especialista da Unctad disse que são igualmente vulneráveis e que a Argentina, em particular, "estará lutando contra os efeitos indiretos dessa crise".

Os países de baixa renda, cujas economias são impulsionadas pela venda de matérias-primas, também serão atingidos.

Kozul-Wright concluiu dizendo que "são necessárias uma série de respostas políticas e reformas institucionais para impedir que um susto de saúde localizado na China se transforme em um colapso econômico global".


Balanço

A Organização Mundial da Saúde, OMS, informou que, até esta terça-feira, tinham sido confirmados 113,851 casos, com 4,015 mortes em 110 países. A China continua sendo o Estado com mais casos, perto de 81 mil, seguida da Itália, com mais de 9 mil casos.

Também esta terça-feira, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, lançou um apelo de US$ 33 milhões para melhorar a capacidade de resposta ao vírus.

Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, informou que um em cada cinco alunos está fora da escola devido ao covid-19. Nesse momento, 363 milhões de estudantes têm a sua educação interrompida devido ao encerramento de escolas.

 

Termômetros podem registrar temperaturas acima da média sem influência de El Niño

 

Termômetros podem registrar temperaturas acima da média sem influência de El Niño
BR

Pnud Mauritania/Freya Morales
 
Calor também poderá ser influenciado pela tendência de aquecimento global e do ar.
2 março 2020
 
Regiões dos trópicos e extratropicais são as mais prováveis de vivenciar o efeito entre março e maio deste ano; chefe da Organização Meteorológica Mundial, OMM, alerta sobre forte poder da mudança climática induzida pelo ser humano.

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, prevê que as temperaturas estejam acima da média em várias áreas nos próximos meses deste ano. Esta sexta-feira, a agência apontou que não prevê ocorrência do fenômeno climático El Niño.

O evento natural periódico provoca oscilações das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico com riscos de fortes chuvas, inundações e secas.  O fenômeno normalmente influencia o aquecimento das temperaturas globais, enquanto o La Niña tem o efeito oposto.

Superfície

Na Atualização Global sobre o Clima, a OMM destaca que poderão ocorrer temperaturas acima da média da superfície do mar provavelmente em partes consideráveis do globo, tanto nos trópicos quanto em regiões extratropicais.
Reprodução/OMM
 
O ano 2016 lidera e 2019 está em segunda posição como ano mais quente da história.
Entre março e maio, a temperatura da Terra poderá estar acima do normal, principalmente em regiões tropicais. O relatório destaca que essa situação também poderá ser influenciada pela tendência de aquecimento global e do ar.

O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse haver 90% da energia captada pelos gases de efeito estufa entrando no oceano, e que o conteúdo de calor oceânico está em níveis recordes.

O representante lembrou que o ano de 2016 foi o mais quente da história devido à combinação de um forte El Niño e do aquecimento global induzido pelos humanos. Mas 2019 está em segunda posição como ano mais quente, mesmo não tendo sido registrado um forte El Niño.

Força natural 

Depois de janeiro de 2020 ter sido o primeiro mês mais quente registrado em um ano, o representante destacou que isso sinaliza um impulso da mudança climática induzida por seres humanos que é agora comparável ao de uma grande força natural.

A ocorrência de El Niño do Oceano Índico, em julho de 2019, causou secas que provocaram incêndios na Austrália, chuvas e inundações acima da média no leste da África, além de ter favorecido a atual crise de gafanhotos do deserto na região. 

 

ONU: Mudança climática provoca aumento de mortes, doenças e fome no planeta BR


 





ONU: Mudança climática provoca aumento de mortes, doenças e fome no planeta
BR

Reprodução/OMM
O mês de janeiro deste ano foi o mais quente já registrado no mundo.

10 março 2020
Novo relatório destaca consequências do fenômeno global como subida do nível do mar e recordes de temperatura; secretário-geral afirmou que 2020 é um ano chave para enfrentar a emergência climática.

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, publicou esta terça-feira um relatório que mostra as consequências da mudança climática em todo o mundo, como aumento da temperatura, subida do nível dos oceanos e derretimento do gelo.

O relatório foi lançado em Nova Iorque pelo chefe da agência, Petteri Taalas, e pelo secretário-geral, António Guterres.

Custos

Falando aos jornalistas, o chefe da ONU destacou o custo humano e econômico com o efeito de secas, incêndios florestais, inundações e tempestades extremas. E disse que o 2020 é um ano chave para enfrentar a emergência climática.

Guterres afirmou que o mundo “conta o custo” dessa mudança “em vidas humanas, com secas, incêndios, cheias e tempestades extremas que têm consequências mortais.” Segundo ele, não há tempo a perder “para evitar uma catástrofe climática”.

O ano de 2019 terminou com uma temperatura média global de 1,1 ° C acima dos níveis pré-industriais. Guterres disse que o mundo “está fora do caminho para cumprir as metas de 1,5 ° C ou 2 ° C que o Acordo de Paris exige.”

Temperatura

Segundo a pesquisa, o quinquénio 2015-2019 foi o mais quente da história, e o mesmo ocorreu na década passada. Desde a década de 1980, cada década tem sido mais quente do que qualquer década anterior desde 1850.

Para o chefe da ONU, a pesquisa “mostra como são urgentes ações climáticas de longo alcance.”
As concentrações de gases de efeito estufa estão nos níveis mais altos em 3 milhões de anos, como visto em 2019. O aquecimento dos oceanos também está num nível recorde, com temperaturas subindo no equivalente a cinco bombas de Hiroshima por segundo.

Vista aérea das áreas em Moçambique que foram afetadas pelo ciclone Idai., by PMA
O chefe da OMM afirmou que “como os níveis de gases efeito estufa continuam aumentando, o aquecimento também continuará.” Segundo Petteri Taalas, um novo recorde anual de temperatura deve ser atingido nos próximos cinco anos.

Sinais

O especialista destacou vários sinais negativos, como o mês de janeiro, que foi o mês de janeiro mais quente desde que há registos. Para Taalas, o aumento da temperatura é um indicador da mudança climática.

O chefe da OMM ressaltou ainda a fumaça e poluentes causados por incêndios na Austrália, que causaram um aumento nas emissões de CO2, e os recordes de temperaturas registrados na Antártica e o derretimento em larga escala.

Segundo Taalas, “o nível do mar está subindo a um ritmo crescente, em grande parte devido à expansão térmica da água do mar e ao derretimento das maiores geleiras, como na Groenlândia e na Antártica.” Tudo isso “está expondo as áreas costeiras e as ilhas a um risco maior de inundações e a submersão de áreas baixas.”

Mudanças

A pesquisa também mostra os efeitos que as alterações do clima têm no desenvolvimento socioeconômico, na saúde humana, n migração, na segurança alimentar e nos ecossistemas terrestres e marinhos.

O relatório inclui informações de serviços nacionais de meteorologia e hidrologia e contribuições de especialistas internacionais, instituições científicas e agências das Nações Unidas.

Foto: Serviços de Emergência e Incêndio de Queensland
Relatórios da Austrália mostram que mais de 10 milhões de hectares, uma área do tamanho da Inglaterra, queimaram na segunda semana de janeiro,

 

♦ Receba atualizações diretamente no seu email - Assine aqui a newsletter da ONU