quarta-feira, 20 de julho de 2022

Flagrante de homem que escapa das chamas na Espanha é retrato do ‘inferno’ vivido por europeus diante de verões cada vez mais quentes

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Flagrante de homem que escapa das chamas na Espanha é retrato do ‘inferno’ vivido por europeus diante de verões cada vez mais quentes

Flagrante de homem que escapa das chamas na Espanha é retrato do 'inferno' vivido por europeus diante de verões cada vez mais quentes

Desde 1990, os países da União Europeia conseguiram reduzir em 30% suas emissões de gases de efeito estufa. Ao investir em energias renováveis, como a solar e a eólica, estimular a transição de veículos movidos a combustíveis fósseis para os elétricos e adotar políticas que taxam o uso de fontes sujas, governos europeus têm obtido resultados ainda muito distantes daqueles sonhados por Estados Unidos, China, Japão ou Austrália, por exemplo. Mas apesar de todos esses esforços rumo a uma economia menos baseada no carbono, nos últimos dias, a população do continente viveu dias infernais. Literalmente.

No Reino Unido a temperatura foi recorde e um alerta máximo vermelho foi acionado pela primeira vez na história. Em Londres, a capital fria e chuvosa da Inglaterra, os termômetros registraram incríveis 40oC. E o calor extremo foi sentido ainda pelos cidadãos da França, Itália, Bélgica, Grécia e Espanha.

Neste último, uma imagem chocou o mundo e se tornou um retrato desses tempos dignos do inferno da Divina Comédia, de Dante Alighieri. Na segunda-feira, 18/07, um espanhol foi flagrado fugindo das chamas que devoravam uma área na região de Castilla y León.

Ángel Martín Arjona estava cavando uma trincheira para conter o avanço do incêndio, quando a escavadeira foi engolida pelo fogo. Em seguida, é possível ver a sombra do homem andando em meio ao horizonte tomado pelo vermelho e tentando escapar.

Arjona aparece enfim com as roupas em frangalhos. Segundo amigos, ele foi levado imediatamente para atendimento local e depois, transferido de helicóptero, para o Hospital Universitário, em Valladolid, uma cidade próxima. Ele teve graves queimaduras por todo corpo.

Calor cada vez mais intenso e frequente

De acordo com especialistas da agência meteorológica europeia, o pico dessa onda de calor na Europa foi atingido na terça, 19/07. Todavia, novas devem acontecer, dado que o verão no Hemisfério Norte vai até meados de setembro. E bombeiros continuam combatendo ainda incêndios tanto na Espanha como em Portugal.

Até o momento, já foram registradas mais de 1 mil mortes associadas com as altas temperaturas. As cidades europeias não foram construídas para verões escaldantes, pelo contrário, a grande maioria das casas e edifícios não possui aparelhos de ar-condicionado e é projetada para reter o calor.

O que os cientistas são unânimes em afirmar é que certamente esse clima atípico, que se tornou cada vez mais frequente e intenso em diversas regiões do continente, resulta dos efeitos das mudanças climáticas – a França teve este ano o mês de maio mais quente de sua história.

“As temperaturas extremas que temos experimentado no Reino Unido são sem precedentes na história. Em um clima não afetado pela influência humana, a modelagem climática mostra que é praticamente impossível que as temperaturas no Reino Unido atinjam 40°C”, afirma Stephen Belcher, cientista-chefe do Met Office.

Uma das possíveis causas para o ocorrido nos últimos dias são ventos e correntes oceânicas mais fracas que não conseguem mover zonas de baixa pressão da costa.

“Essas zonas de baixa pressão tendem a atrair ar para elas. Nesse caso, a zona de baixa pressão vem atraindo ar do norte da África para ela e para a Europa. Está bombeando ar quente para o norte”, explicou Kai Kornhuber, pesquisador do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia ao jornal The New York Times.

Outros pesquisadores ressaltam que também há indícios de que mudanças em uma das principais correntes oceânicas do mundo, a Circulação Meridional do Atlântico, pode estar afetando o clima da Europa.

Já há alguns anos os europeus sentem na pele que seus verões estão muito mais quentes. E infelizmente, mesmo se o continente zerasse suas emissões de gases de estufa hoje, o carbono emitido na atmosfera terrestre fica concentrado nela por milhares de anos.

Não existe solução de curto prazo, mas apenas ações que já deviam ter sido tomadas há anos: as mudanças climáticas precisam ser encaradas como uma crise e medidas urgentes para combatê-la têm que se tornar prioridade para governos do mundo inteiro.

“Sob um cenário de emissões muito altas, poderíamos ver temperaturas superiores a 40 graus tão frequentemente quanto a cada três anos até o final do século no Reino Unido. Reduzir as emissões de carbono ajudará a reduzir a frequência, mas ainda continuaremos a ver algumas ocorrências de temperaturas superiores a 40°C e o Reino Unido precisará se adaptar a esses eventos extremos”, alerta Belcher.

*Com informações dos jornais The Guardian The New York Times

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Foto: reprodução vídeo G1 e vídeo YouTube Africa the Beautiful

‘Não deixe a soja entrar no Pantanal!’: organização lança campanha para sensibilizar sociedade e poder público sobre expansão do cultivo de soja no bioma no MS

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‘Não deixe a soja entrar no Pantanal!’: organização lança campanha para sensibilizar sociedade e poder público sobre expansão do cultivo de soja no bioma no MS

Que beleza majestosa! O Pantanal é a maior planície inundável do planeta em extensão contínua, que abriga uma rica e única biodiversidade. Um paraíso que continua ameaçado: depois de sofrer com os incêndios de 2020, está sendo progressivamente devastado pela expansão do cultivo de soja em suas áreas naturais de planície, localizadas em Mato Grosso do Sul. E os danos podem ser irreversíveis

A situação é grave e, por isso, o Instituto SOS Pantanal – que atua na região desde 2009 – decidiu promover uma campanha para conscientizar e sensibilizar a sociedade civil e o poder público, com uma petição online – ‘Não deixe a soja entrar no Pantanal!’. O objetivo é recolher assinaturas de todos que se solidarizam com a causa. Quanto mais, melhor! 

A iniciativa já conta com o apoio de diferentes organizações que atuam em prol da conservação ambiental – como Ampara Silvestre, Ecoa, Onçafari, Instituto Arara-Azul, Projeto Onças do Rio Negro, SOS Mata Atlântica e WWF Brasil – e, segundo Gustavo Figueirôa, diretor de comunicação e engajamento do SOS Pantanal, tem conquistado grande adesão e receptividade junto aos pantaneiros

“Eles têm a compreensão de que a natureza fala mais alto nesse bioma e precisa ser respeitada”, lembrando que, no Pantanal, há cerca de 4.700 espécies, sendo 3.500 de plantas, 650 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce. E muitas já estão ameaçadas de extinção

“Não podemos permitir que esse equilíbrio seja abalado por uma atividade altamente destrutiva como os plantios de soja em larga escala”, pondera o biólogo.

Alexandre Bossi, presidente do SOS Pantanal, destaca que, com a campanha, o instituto reafirma seu compromisso com as práticas sustentáveis na região. 

“Nossa principal agenda sempre foi, e continua sendo, o desenvolvimento econômico aliado à conservação ambiental. Para nós, a produção agropecuária conduzida de forma sustentável, aliada ao desenvolvimento do ecoturismo, é o caminho rumo a esse objetivo. É exatamente por isso que ressaltamos que o Pantanal não é lugar de soja!”.

Biodiversidade e povos tradicionais

O Mato Grosso do Sul tem 35,7 milhões de hectares, no total. Entre 2021 e 2022, cerca de 3,7 milhões de hectaresforam utilizados para o plantio de soja em planície pantaneira – , mais especificamente nos municípios de Coxim, Miranda e Aquidauana -, o que representa 11% do Estado. 

E isso não é pouco, pois o risco que vem e virá com o crescimento desse cultivo, nos próximos anos, afetará drasticamente o equilíbrio do meio ambiente. Com mais um detalhe: o governo do estado tem investido em estradas e aterros nessa região, o que facilitará sobremaneira a produção e o escoamento dessa produção.

É bem possível que tais investimentos em infraestrutura estejam sendo feitos com essa finalidade. Ainda mais porque o estado – ao contrário do Mato Grosso – não tem leis ambientais para barrar esse tipo de avanço.  

Figuerôa destaca que, embora ainda não seja possível avaliar os impactos gerados por essa área cultivada, já existe consenso – entre representantes rurais e outras instituições que atuam na defesa do ecossistema – de que o plantio do grão em larga escala é uma grande ameaça, pois interfere diretamente no meio ambiente e o Pantanal não tem vocação para esse cultivo. 

“O bioma tem vocação para a pecuária, que está estabelecida na região há mais de 200 anos. Bem manejada, a produção pecuarista mantém uma relação de equilíbrio com o Pantanal. Já a soja, não, pois requer o desmate de grandes áreas e o uso de defensivos agrícolas para viabilizar a produção em larga escala”.

O biólogo exemplifica a questão com um caso contundente na região, em Bonito (MS), cidade vizinha ao Pantanal: seus principais rios estão ameaçados pelo avanço do cultivo de soja em regiões de banhado, super vulneráveis a qualquer alteração. 

E acrescenta: “A morosidade do Estado em pautar ou direcionar o avanço dessas lavouras propiciou que ele fosse desordenado em locais ambientalmente sensíveis a um custo enorme para a região”.

Por ser uma grande extensão alagável, o risco dos impactos gerados por uma produção agrícola em larga escala no Pantanal é potencializado com a utilização de moléculas de ação biocidas (inseticidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas) para controlar pragas, doenças e plantas invasoras. E esses produtos ainda possuem compostos poluidores, como metais pesados, surfactantes e emulsificantes que, quando entram em contato com o solo, nada pode impedir a contaminação da água de todo o sistema, afetando o bioma em todos os aspectos: a rica biodiversidade e a vida das populações tradicionais.

Legislação ambiental

Hoje, há 8 milhões de hectares de áreas degradadas que podem ser utilizadas para plantio de soja e outras produções, sem necessidade de avançar no Pantanal. Mas, como   contei acima, faltam leis que impeçam tanta destruição.

Ao contrário do Mato Grosso do Sul, o estado vizinho – Mato Grosso – possui legislação ambiental, por isso, ali o Pantanal não sofre com o avanço da soja! E esta é uma das bandeiras do SOS Pantanal, como destaca Bossi: 

“O Mato Grosso do Sul deveria seguir o mesmo caminho. Viemos alertar sobre o futuro da planície e trazer à tona futuros problemas e, com eles, possíveis soluções, inclusive econômicas”. E completa: “Diante desse cenário, a hora de pautar e direcionar esforços nessa legislação é agora, quando ainda há poucos hectares de soja na planície e não há tempo a perder”.

A campanha e sua petição online destacam a urgência de sensibilizar a todos – sociedade civil, opinião pública, ambientalistas e a classe política do Mato Grosso do Sul – sobre os riscos que o amplo cultivo de soja pode acarretar.

Contar com sua adesão e assinatura é mais um passo para ajudar os defensores do Pantanal, como o SOS Pantanal, a garantir a preservação deste bioma tão lindo que tem encantado tanta gente ao vivo e, todas as noites, na novela Pantanal.

A seguir, assista ao vídeo da campanha no YouTube:

Fotos: SOS Pantanal/Divulgação

Beatriz Diniz: “Precisamos saber mais e usar melhor os recursos das redes sociais para espalhar nossas causas”

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Beatriz Diniz: “Precisamos saber mais e usar melhor os recursos das redes sociais para espalhar nossas causas”

 19 de julho de 2022  Maura Campanili



Com atuação dedicada às pautas ambientais, a comunicadora Beatriz Diniz passou a militar ativamente no Twitter para que organizações voltadas às causas de direitos humanos e ambientais usassem melhor essa plataforma.

Para tanto, articulou e organizou um treinamento oferecido pela própria plataforma para esse grupo, criou uma newsletter e dá consultoria sobre o tema. Em alguns casos, entra em contato com a pessoa ou a organização para dar alguma dica que considera imprescindível.

Em tempos de acirramento nas redes sociais, Beatriz conta, aqui no blog Mulheres Ativistas, do Conexão Planeta, sobre sua trajetória e motivações, além de ajudar a pensar em como podemos fazer melhor uso de seus recursos.

“Precisamos saber mais e usar melhor os recursos para espalhar nossas causas. As plataformas de mídias sociais são espaços de disputa de narrativas e a extrema direita ganha da gente”, destacou.

“A primeira coisa que deveríamos fazer é agir em rede nas plataformas: nos compartilhar, validar e comentar aliados, mesmo que não estejamos com tempo de ler tudo ou concordemos totalmente. Essa é a forma como dizemos para as plataformas que o conteúdo nos interessa”.

Como você se tornou ativista?

Sou apaixonada por comunicação. Me formei em jornalismo pela Faculdade de Comunicação Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, mas não sou repórter, sou produtora de conteúdo e editora. Enquanto estudava, participei do primeiro Dia da Terra no Brasil como voluntária na produção. Depois, na Rádio e TV Búzios, que era uma proposta interessante de jornalismo ecológico e comunitário, e com projetos como o SOS Região dos Lagos, fazíamos grandes shows em áreas ameaçadas, como em Massambaba, onde Gilberto Gil cantou.

Depois de formada, me mudei para o Mato Grosso do Sul a convite de uma amiga da faculdade que é de lá. Trabalhei em campanhas eleitorais a partir de 1992, quando ainda eram baseadas em jornalismo, dados. Fui convidada para trabalhar na Secretaria Municipal de Cultura de Campo Grande e comecei a ter contato com políticas públicas.

Morei 14 anos na cidade e foi onde desenvolvi minha carreira. Conheci organizações não governamentais e passei a fazer assessoria de comunicação e de imprensa para o Movimento Popular de Mulheres, o Centro de Documentação e Apoio aos Movimentos Populares (Cedampo) e a Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS.

Trabalhei, ainda, na Secretaria de Estado da Educação, em uma época em que o Ministério da Educação capacitou todos os assessores de comunicação das secretarias estaduais para ampliar a pauta de educação. Isso foi importante porque apliquei esse conhecimento em todas as políticas públicas para as quais trabalhei.

Como se aproximou da pauta ambiental?

Isso aconteceu em Mato Grosso do Sul. Mas, no final de 2005, quis voltar para o Rio de Janeiro por conta da família. Quando cheguei foi difícil conseguir uma colocação e, como meio ambiente e sustentabilidade eram tendências, fiz uma extensão na Fundação Getúlio Vargas em Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Socioambiental Corporativa.

Nos fóruns do curso, percebi que meus comentários faziam muito sucesso na turma, então, passei a publicar sobre o tema nos meus perfis do Facebook e do Twitter. Quando o Facebook lançou as páginas, resolvi experimentar e criei o Eco Lógico Sustentabilidade.

Paralelamente, atuei na comunicação de um dos postos do Sistema Nacional de Emprego (Sine), ligado à União Geral dos Trabalhadores (UGT), o maior da cidade do Rio de Janeiro e o primeiro informatizado e online no país. Consegui parcerias com o programa Bom Dia Rio e com o jornal Extra para divulgar semanalmente vagas de empregos. E fiz uma especialização em Gestão Ambiental enquanto seguia produzindo conteúdo para o Eco Lógico.

Essa página era trabalho voluntário?

Sim, eu produzia conteúdo sobre meio ambiente, sustentabilidade e clima, relacionando com economia e comunicação. Comecei ainda antes do Facebook, enviando para minha rede de contatos via e-mail. Depois, criei a página, e funcionava bem porque o Facebook ainda entregava conteúdo, era possível burlar o algoritmo usando hashtags, marcando pessoas.

Mas o modelo de negócios mudou, você hoje pode ter uma página, mas não tem alcance. Essa é a grande diferença entre Twitter e Facebook.

Foi por isso que apostou no Twitter?

Isso. A vantagem do Twitter é que ele entrega. Se você olhar qualquer tweet seu, mesmo que não tenha nenhuma curtida ou comentário, vai ver que ele foi entregue, às vezes até para mais de 100 pessoas. Claro que seu conteúdo pode não ter interação, mas ele foi entregue.

A partir disso, você pode olhar para sua publicação e ver o que poderia ter usado, em termos de linguagem ou técnica, para alguém interagir. Fazer uma pergunta, por exemplo, porque o Twitter é uma rede que gosta de conversas. Isso é uma técnica.

Como você iniciou o trabalho para o bom uso do Twitter com organizações e ambientalistas?

Em 2014, quando terminei a especialização, meu trabalho de conclusão de curso em Gestão Ambiental demonstrou como a comunicação pode colaborar para a sociedade entender melhor a sustentabilidade e como aplicar princípios da gestão ambiental e da política de responsabilidade social à comunicação de empresas socioambientalmente responsáveis.

Eu escrevia para o EcoDebateEnvolverde e revista Ecológica (que não existe mais) e levava tudo isso para o Twitter, por perceber que, no Facebook, o esforço era muito grande para falar com a mesma bolha. Já o Twitter é uma plataforma com vários recursos para distribuir conteúdo

Hoje, as organizações ambientais, de direitos humanos e políticas públicas precisam investir na gestão profissional das plataformas de mídias sociais, pois estão acostumadas com métodos de comunicação do século passado.

Não adianta gerar pauta no Jornal Nacional e não distribuir a matéria, não usar técnicas do marketing digital, inclusive, porque repetição é sinônimo de relevância. É a técnica que a imprensa usa para dar destaque a uma matéria: repete os tweets de cinco em cinco minutos e diz para a audiência que é relevante.

Os ativistas estão utilizando bem as redes sociais?

Um exemplo é a análise da Carina Pensa, que coletou dados do Twitter antes da última COP do Clima sobre perfis que estavam falando sobre mudanças climáticas, usando hahstag e o termo mudanças climáticasA extrema direita usou muito mais do que os ambientalistas.

Durante a COP, a Lori Regattieri fez um painel em que acompanhou Instagram, Facebook e Twitter e mostrou que, quem mais falou sobre mudanças climáticas durante a conferência, foram Ricardo Salles (então, Ministro do Meio Ambiente) e Bia Kicis (deputada federal do partido do governo). Comentei sobre isso na edição 4 da minha newsletter.

Como isso acontece?

A extrema direita se apropria dos termos usando repetidamente nas redes para negar. É importante gerar uma matéria na Folha de São Paulo, mas esse conteúdo é aberto apenas para assinantes e, para ter realmente repercussão, precisa circular, chegar no “zap” das pessoas.

Então, se uma matéria foi publicada, é preciso usar o marketing digital para uma distribuição massiva e repetitiva, incluindo os termos-chave.

O trabalho de orientação para as organizações, sobre o uso do Twitter, foi voluntário?

Foi porque eu passei a usar mais o Twitter e a entender a plataforma. Organizações, comunicadores e meios especializados devem ter o seu tom de voz definido para serem facilmente reconhecidos com credibilidade.

Desde 2018, sou também voluntária do Voz das Comunidades, jornal comunitário do Complexo do Alemão, fundado pelo Renê Silva quando tinha 11 anos.

Fui colunista de meio ambiente e sustentabilidade. Em um treinamento para a equipe sobre como usar a plataforma, conheci o profissional responsável por políticas públicas do Twitter e sugeri um treinamento só para ambientalistas. Foram meses de articulação até que conseguimos realizar, no início de 2020, um evento presencial em São Paulo com transmissão online.

Organizei-o com o apoio da Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, e chegamos a mais de 150 ambientalistas, comunicadores e jornalistas inscritos. Com esse contato direto, por exemplo, o Projeto Saúde & Alegria recuperou sua arroba original. Essa era uma questão antiga: a conta havia sido roubada antes das milícias digitais e, por isso, estava suspensa. Finalmente, foi devolvida.

O que aconteceu depois disso?

Foi um treinamento básico, que explicava como o Twitter funciona, mas não dava o “pulo do gato”, as técnicas. Então, comecei a falar mais sobre isso, dar dicas. Quando a conta da pesquisadora Erika Berenguer foi invadida, ajudei para que fosse recuperada rapidamente, fiz um spaces’ com ela e a Adriana Ramos e, depois, ainda fiz uma ‘sequência’ com informações: o que fazer se sua conta for invadida, como se proteger. Percebi que havia demanda e comecei a produzir uma newsletter. 

(*NOTA DO CONEXÃO PLANETA: no Twitter, ‘SPACE é uma conversa de áudio ao vivo; quanto à ‘SEQUÉNCIA’, que também é chamada de ‘FIO’, é um recurso utilizado para completar a informação do tweet principal com mais tweets, sem limite; esses textos adicionais aparecem junto com os comentários de seguidores e os seus).

Hoje, sou a eiiamoreco comunicação de propósito. Propósito no sentido de intencional, que é como deve ser a produção de conteúdo especializado para engajamento, informação e inspiração.

Aplico treinamentos e faço consultoria de marketing digital e Twitter para conteúdo relevante voltados para ativistas e comunicadores. Apliquei esse treinamento gratuitamente para jovens da Greve pelo Clima e do podcast Ju Pimenta do Engajamundo.

E consegui começar a atender organizações, projetos e meios como a Política por InteiroClima de EleiçãoCPT NacionalClimaInfoJusta Moda e revista Cenarium.

Uma das questões que enfatizo nos treinamentos, na newsletter e nas minhas publicações é que nosso comportamento nas redes também é uma forma de nos dar segurançapara não atrair odiadores e odiação.

Estamos lidando com milícias digitais, não podemos esquecer disso, e isso não vai acabar amanhã.

Como fazer para fazer frente a essa guerra de informações?

É preciso entender que as plataformas de mídias sociais não vão banir a extrema direita porque ela é lucrativa, publica e interage muito, usam seus recursos ao extremo. A primeira coisa que deveríamos fazer é agir em rede nas plataformas: nos compartilhar, validar e comentar aliados, mesmo que não estejamos com tempo de ler tudo ou concordemos totalmente. É como dizemos para as plataformas que o conteúdo nos interessa e é de um aliado.

Além disso, as organizações precisam investir em gestão profissional das plataformas de mídias sociais atualizar sua presença digital. As plataformas se atualizam a partir das atualizações umas das outras e é um negócio frenético a serviço da economia de consumo. 

O modelo de negócio inaugurado pelo Zuckerberg com o combo Facebook-Instagram-WhatsApp consolida a economia extrema de consumo.

Eu tenho um perfil da eiiamoreco no Instagram para divulgar produtos de design com causa que vendo no Colab55. Se eu coloco “olhem essa camiseta, ela é 100% sustentável, de algodão…”, o Instagram entrega para cinco pessoas, se eu começar com a frase “compre agora”, entrega para 80.

É possível que as redes sociais melhorem?

As redes sociais, como já conhecemos, não existem mais, são plataformas de mídias sociais, o que inclui aplicativos de mensagens, como Whatsapp e Telegram. É um negócio, vai sempre se atualizar pra atender ao mercado.

Por isso é que nós precisamos saber mais e usar melhor os recursos para espalhar nossas causas. As plataformas de mídias sociais são espaços de disputa de narrativas e a extrema direita ganha de nós. Só ganhamos quando chega uma Anitta!

Furar a bolha nas redes é possível?

Sim, mas tem que usar as técnicas de marketing digital: sequências e tuitaços no Twitter são recursos que já bateram no teto, precisa combinar com momentsspaces, e chamar seguidores se quiser furar a bolha.

Por exemplo, o perfil Fiscal do Ibama tem mais de 151 mil seguidores, se quiser fazer um twittaço é bom avisar ele, além de chamar também microinfluenciadores. E precisamos saber usar os recursos para dialogar mais com nossos seguidores, como as comunidades no Twitter. 

Qual o papel do jornalismo nesse processo?

O jornalismo vai pautar meio ambiente, clima e sustentabilidade todo dia, por bem ou por mal. Atualmente estamos vendo que a imprensa está pautando por mal, obrigada pelo contexto de desmonte da política pública de meio ambiente e da facilitação de crimes ambientais.

 


Brasil desmatou 20% a mais em 2021 do que no ano anterior

 


Brasil desmatou 20% a mais em 2021 do que no ano anterior

Relatório aponta alta de destruição em todos os biomas brasileiros. Com 98% de ilegalidade, desmatamento é movido principalmente pelo avanço da agropecuária.

O Brasil perdeu 16,5 mil quilômetros quadrados de mata nativa em 2021, uma área equivalente a dez vezes a cidade de São Paulo. Em relação ao ano anterior, o desmatamento em todo o território nacional cresceu 20%, aponta o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, lançado nesta segunda-feira (18/07).

“Houve alta em todos os biomas, não é algo concentrado na Amazônia. É um fenômeno que está acontecendo em todo o país”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, uma iniciativa que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia e disponibiliza os dados numa plataforma online gratuita.

No ranking da destruição por bioma, a Amazônia é a primeira, com 59% do total de desmatamentos registrados no país. Em 2021, foram 9,7 mil km2 de corte desse bioma, 15% a mais do que o verificado no ano anterior.

O Cerrado vem na segunda posição, com 30% do total desmatado e uma área de 11,6 mil km2 perdida. Na sequência, aparecem a Caatinga, com 1,1 mil km2; a Mata Atlântica, com 301 km2; o Pantanal, com 286 km2, e o Pampa, 24 km2. Esse último foi o bioma que registrou o maior aumento percentual, de 92,1%.

Para chegar aos resultados, a equipe do MapBiomas analisou 69.796 alertas de desmatamento captados pelos satélites que integram diferentes sistemas, como o Deter (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe), SAD (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, Imazom), GLAD (Universidade Maryland), SIRAD-X (Instituto Socioambiental, ISA), SAD Caatinga (Geodatin e Universidade Estadual de Feira de Santana, Uefs), SAD Pantanal (SOS Pantanal e ArcPlan) e SAD Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica e ArcPlan).

“Todos os alertas são avaliados por nossos analistas. Os dados são abertos, gratuitos, podem ser usados não apenas pelo governo, mas por instituições como os bancos. Eles podem, por exemplo, checar se quem pede dinheiro emprestado é um desmatador ilegal usando esse banco de dados”, afirma Azevedo.

Alta ilegalidade, alta velocidade

O relatório, feito pelo terceiro ano seguido, indica também uma alta taxa de ilegalidade: 98% dos desmatamentos detectados estão fora da lei. Isso significa que há problemas como falta de autorização dos órgãos responsáveis, sobreposição a áreas que deveriam ser protegidas nos imóveis rurais ou sobreposição a áreas públicas protegidas, como unidades de conservação.

Outro destaque negativo é o aumento do tamanho médio dos desmatamentos. De 2020 para 2021, o número de áreas impactadas com mais de 100 hectares saltou de 2.026 para 3.040.

A velocidade com a qual a mata nativa é devastada no país ficou mais acelerada no período: com uma média de 191 novos alertas por dia, a área de desmatamento diário em 2021 foi de 45 km2. É como se um estádio do Maracanã desaparecesse a cada dois minutos.

É possível ainda, mostra o relatório, saber e penalizar quem comete as irregularidades, já que a maior parte do corte, 76%, ocorreu sobre áreas que estão registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Esse registro é obrigatório para todos os imóveis rurais de acordo com o Código Florestal.

“Isso significa que em pelo menos 3/4 dos desmatamentos é possível encontrar um responsável”, diz Azevedo, ressaltando que o dano à vegetação nativa foi registrada em apenas 0,9% dos mais de 7 milhões de imóveis cadastrados no CAR.

De onde vem a pressão

Pela primeira vez desde sua primeira edição, o relatório analisou as atividades econômicas que mais influenciaram as áreas desmatadas. A agropecuária aparece como o principal vetor, responsável por 97% dos casos, seguida pelo garimpo (0,5%), expansão urbana (0,4%), mineração (0,1%) e outros motivos (2,5%) ainda em estudo para futuro detalhamento, como construção de usinas eólicas e solares.

“O desmatamento pode até ter sido feito por um especulador ou grileiro, mas quem mais se beneficia dele, quem mais usa a terra em questão, é a agropecuária”, afirma Azevedo.

Para chegar a essa conclusão, os analistas consideram informações como formato e localização do desmatamento, assim como atividades econômicas do entorno e dados em banco públicos.

Duas regiões em especial são apontadas como as mais afetadas pela expansão da fronteira agrícola, a chamada Amacro, na divisa dos estados de Amazonas, Acre e Rondônia, e a Matopiba, no encontro de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Fiscalização e punição

Apesar de todo detalhamento disponível, a fiscalização ainda segue a passos lentos. Até maio de 2022, apenas 5,2% da área desmatada sofreu embargo ou autuação do Ibama.

“As áreas onde existem indícios de ilegalidade deveriam ser imediatamente embargadas, já que isso pode ser feito remotamente, não é preciso ir até lá. Com isso, a propriedade não conseguiria qualquer tipo de financiamento até que pare o dano e comece a ser feita a recuperação da vegetação”, diz Azevedo.

Um estudo recente publicado pelo Imazom mostrou que a tecnologia pode ser uma importante aliada para barrar os crimes ambientais e a violência no campo. Provas obtidas remotamente, como imagens de satélites e dados públicos sobre terras, passaram a ser consideradas pelo Judiciário e podem acelerar punições.

É o que indica a análise de mais de 3 mil processos movidos entre 2017 e 2020 pelo Programa Amazônia Protege, criado pelo Ministério Público Federal para responsabilizar os desmatadores ilegais por meio de ações civis públicas. Juntos, esses processos tentam punir a derrubada de 2,3 mil km2 de floresta com pedidos de indenizações que somam R$ 3,7 bilhões.

A pesquisa mostrou que, embora a condenação em primeira instância seja baixa (8% dos casos), as instâncias superiores são mais propensas a usar a essas inovações jurídicas que podem mudar o rumo da impunidade.

“Com as decisões favoráveis ao uso de satélite para responsabilizar desmatadores ilegais, já temos um grande avanço no Judiciário, que é esse aporte tecnológico para localizar e punir quem está degradando a Amazônia. Isso desobriga um único meio de comprovação do crime, como a visita in loco dos órgãos ambientais para poder comprovar que a área está sendo desmatada, especialmente na Amazônia, onde as distâncias e o acesso são um grande desafio”, afirma Jeferson Almeida, pesquisador do Imazon.

Fonte: Deutsche Welle