Ministro Ricardo Salles diz que seca rigorosa está entre causas das queimadas no Pantanal
Aumento
no número de brigadistas para conter as chamas e do emprego de
aeronaves estão entre ações para o combate ao fogo no bioma
Publicado em13/10/2020 14h04
Entre as ações citadas pelo ministro do Meio Ambiente para combater o
fogo no Pantanal está o aumento no número de brigadistas e aeronaves de
lançamento de água
- Foto:
José Cruz/Agência Brasil
O
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse, nesta terça-feira
(13), que a estiagem e o excesso de calor neste ano estão entre os
principais responsáveis pelas queimadas que ocorrem na região do
Pantanal. Salles detalhou as medidas tomadas pelo Governo Federal para
prevenir e combater os incêndios no bioma ao falar na Comissão
Temporária Externa do Senado que acompanhas as ações no Pantanal.
“A grande causa das queimadas é a
estiagem, o excesso de calor, o tempo seco, ventos fortes, que
trouxeram essas queimadas no patamar que nós assistimos esse ano e que,
infelizmente, trouxe por sua vez os danos ambientais a fauna e a flora
que vêm sendo testemunhados”, disse Ricardo Salles.
“Temos que ter em conta que
grande parte desses incêndios não decorre de más ações dos produtores
rurais, ao contrário, os produtores rurais são aqueles que têm interesse
que suas propriedades continuem saudáveis, não haja dano ambiental,
porque vivem da sanidade da sua propriedade. Ao reconhecer isso, sabemos
que a principal causa é a questão do clima quente, seco, ventos
fortes”, completou o ministro.
Medidas
Entre as ações citadas pelo
ministro do Meio Ambiente para combater o fogo no Pantanal está o
aumento no número de brigadistas e aeronaves de lançamento de água.
Segundo Salles, em 2020, o Governo Federal ampliou para 3 mil o número
de brigadistas, quase o dobrou de 2019.
“As aeronaves que fazem o combate
aéreo de lançamento de água também foram aumentadas para 10 aviões que
cobrem todo o território nacional”, disse Salles.
Ele relatou que há cerca de dois
meses esteve no Pantanal já acompanhando o trabalho de brigadistas do
Ibama e do ICMBio que ajudavam no combate aos incêndios.
O lançamento do Programa
Floresta+ foi citado pelo ministro como uma política importante para
auxiliar o combate ao problema na região. A iniciativa tem o objetivo de
valorizar as ações de preservação da floresta nativa brasileira. O
projeto inicial vai ser realizado na Amazônia Legal e serão destinados
mais de R$ 500 milhões para atividades que melhorem, conservem e
recuperem a natureza.
O uso do fogo preventivo para
controlar queimadas foi outro tema abordado por Ricardo Salles. “Algumas
constatações, a primeira de que é preciso seguir com a política de uso
preventivo do fogo, o chamado fogo frio, que é um instrumento importante
de combate às queimadas uma vez que diminui o volume de massa orgânica
depositado, feito no momento adequado, de forma adequada”, disse.
Salles ainda tratou do uso de
produto retardante de chamas que, segundo ele, é usado por países como
Estados Unidos, Japão e Canadá. “Por fim, a utilização do componente
retardante de fogo que também foi uma discussão muito grande do porque
não se utilizar uma vez que ele aumenta em 5 vezes a capacidade de
resposta das aeronaves que lançam água”, detalhou.
Salles informou que o Mato Grosso
começou utilizar o produto e o Governo Federal aplicou o retardante no
combate ao fogo na Chapada dos Veadeiros. “Essa visão de que o emprego
de tecnologia não é salutar é uma visão equivocada”, avaliou.
Ações coordenadas
Aos senadores, o ministro do Meio
Ambiente afirmou ser importante os governos federal, estaduais e
municipais estarem alinhados para a atuação no combate aos incêndios no
Pantanal. O que segundo, ele, vem ocorrendo.
“A área relativa à competência
fiscalizatória dos órgãos federais no Pantanal corresponde a 6% do
território do bioma. Estamos falando de áreas que compreendem florestas
destinadas, unidades de conservação, terras indígenas e assentamentos”,
disse. “Portanto, é importante que tenhamos os estados realmente
envolvidos nisso”, explicou.
COMENTÁRIO
A seca rigorosa será a causa ou a consequência das quiemadas no Pantanal?. O calor sufocante que atingiu Brasília e as nuvens de fumaça que cobriram o céu antes tão azul daquela capital foram consequências das queimadas, consequências das fazendas de gado que introduziram capim no Pantanal, capim que durante a seca fica extremamente inflamável, além de esterco que é um material tão inflamável que é usado como combustivel nos países em desenvolvimento.
Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Stirling-Motor alimentado com esterco de vaca na coleção Hochhut Técnico
em Frankfurt on Main
Combustível estrume seco (ou combustível estrume seco ) é de origem
animal fezes que foi secado a fim de ser utilizado como uma fonte de
combustível. Ele é usado como combustível em muitos países ao redor do
mundo. Usando seco esterco como fonte de combustível é um exemplo de
reutilização de excreções . Uma desvantagem da utilização deste tipo de
combustível é aumentada a poluição do ar. Na Índia, este tipo de fonte
de combustível é conhecido como "bolos de esterco". Dry esterco de
combustível - https://pt.qaz.wiki/wiki/Dry_dung_fuel
Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Stirling-Motor alimentado com esterco de vaca na coleção Hochhut Técnico
em Frankfurt on Main
Combustível estrume seco (ou combustível estrume seco ) é de origem
animal fezes que foi secado a fim de ser utilizado como uma fonte de
combustível. Ele é usado como combustível em muitos países ao redor do
mundo. Usando seco esterco como fonte de combustível é um exemplo de
reutilização de excreções . Uma desvantagem da utilização deste tipo de
combustível é aumentada a poluição do ar. Na Índia, este tipo de fonte
de combustível é conhecido como "bolos de esterco". Dry esterco de
combustível - https://pt.qaz.wiki/wiki/Dry_dung_fuel
Regularização fundiária dará ao proprietário o dever de preservar o meio ambiente, diz Mourão
O título da terra garante acesso a políticas de crédito e de apoio à produção, aumentando a renda dos produtores
Publicado em26/10/2020 18h04
A expectativa é que a regularização alcance mais de 700 mil famílias de assentados na região.
- Foto:
Valter Campanato/ Agência Brasil
O
processo de regularização fundiária na Amazônia deve ser acelerado a
partir de dezembro deste ano. A expectativa é que a regularização
alcance mais de 700 mil famílias de assentados e cerca de 200 mil
famílias que vivem em posses precárias na região.
As informações são do presidente do
Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Geraldo Melo Filho,
que, nesta segunda-feira (26), foi o convidado do vice-presidente
Hamilton Mourão, no Programa Por Dentro da Amazônia, que vai ao ar
semanalmente na Rádio Nacional.
“Já fim do ano agora, nossas ações de
regularização fundiária estão sendo aceleradas e, ainda antes do final
do ano, as primeiras ações de campo estarão acontecendo na Amazônia com
força tarefa de trabalho em Rondônia e no Pará já com as primeiras
emissões de títulos acontecendo”, disse o presidente do Incra.
Com o título da terra em mãos, as
famílias passam a ter acesso a políticas públicas com o crédito e
assistência técnica. “É uma ação indutora de geração de riqueza para
essas famílias. Estamos tratando da região mais rica do país que, na
prática, tem as pessoas com o menor IDH [Índice de Desenvolvimento
Humano]. Não é condizente. Você tem uma riqueza natural enorme, mas as
pessoas não conseguem usufruir essas riquezas”, avaliou Geraldo Melo.
O vice-presidente Hamilton Mourão, que
também preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, lembrou que a
regularização fundiária traz benefícios, mas também deveres quanto a
preservação ambiental nas propriedades e responsabilização por
ilegalidades.
“A turma que desmatou ilegalmente não
vai receber título de terra, não. Então, tratem de replantar o que
derrubaram. A titulação da terra é um casamento, você vai receber um
papel que faz a união permanente com aquela terra que você está
habitando e passa a ser responsável por tudo que acontece nela. Não é só
o benefício, também tem aquilo que cada um de nós tem que fazer para a
preservação do meio ambiente”, disse Hamilton Mourão.
“A partir daí, chega financiamento e
assistência técnica, aí, ao invés de só ter menos de uma cabeça de gado
por hectare, a gente vai colocar cinco, seis, e a produtividade vai
aumentar, e a renda do nosso produtor rural também”, completou Mourão.
Para obter o registro da terra, é
preciso cumprir o Código Florestal, que exige 80% de preservação nas
propriedades rurais localizadas na região da Amazônia Legal. Com a área
regularizada, os proprietários terão de responder por eventuais
irregularidades, como queimadas ou desmatamento ilegal, que venham a
ocorrer nos terrenos.
Conselho da Amazônia
Está marcada para o dia 3 de novembro a
próxima reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal com a
participação de ministros para discutir temas relativos à preservação da
região.
Segundo Hamilton Mourão, a Operação
Verde Brasil 2 deverá ser prorrogada até abril de 2021. A operação foi
iniciada em maio com o objetivo de prevenir e reprimir delitos
ambientais na Amazônia Legal e seria encerrada em novembro
“Estamos com o recurso e o recurso é
suficiente para chegar até abril”, disse Mourão em entrevista a
jornalistas na manhã desta segunda-feira. “Precisamos prosseguir porque
queremos entrar em um ciclo virtuoso de queda do desmatamento. É nosso
compromisso derrubar isso. E para derrubar tem que ter gente em campo,
fiscalizando”, completou.
COMENTÁRIO
Até parece que essa determinação de "preservar o meio ambiente" vai impedir os invasores e grileiros que foram incentivados a se instalarem na Amazónia pelos governos anteriores a respeitarem a natureza. Se não respeitam leis é claro que não vão respeitar .. arvoes. E nem animais. Vão caçar, desmatar , fraccionar e vender os lotes. Como eu sei disso? Por que é isso que todo grileiro e invaor faz e tem feito Brasil afora.
E quem achar que na Amazonia será o contrario ou está de brincadeira ou gosta de ser enganado.
Quando um pintinho sai do ovo, tem coração, sistema nervoso, pulmões.
Logo depois do nascimento já é capaz de comer sozinho e sair andando
atrás da mãe.
No entanto, se ele for um pintinho macho da linhagem de avicultura de
postura, ou seja, o tipo de ave usado na indústria para botar ovos e
não para ser vendida por sua carne, provavelmente será jogado numa
espécie de triturador assim que nascer e seu sexo for identificado.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) diz que no
Brasil esse é o destino de em torno de 6-7 milhões de pintinhos por mês,
considerando que aproximadamente 50-52% dos ovos férteis incubados
darão origem a pintos machos.
Na criação comercial de aves poedeiras, os machos, que não botam
ovos, não servem. A indústria cria dois tipos de animais: de postura,
que botam ovos, e a de frangos de corte, criados para serem mortos e
comidos.
Os machos da linhagem de postura não botam ovos e ao mesmo tempo são
considerados inadequados para corte porque demoram mais a ganhar peso e
não ficam do tamanho de um frango do tipo usado para abate.
A morte e o descarte de pintos machos logo após o nascimento é
prática comum na produção de alimentos em todo o mundo. No Brasil, não
há um método estabelecido e obrigatório por normas do Ministério da
Agricultura. No entanto, a maceração mecânica, espécie de trituração, é o
mais adotado em todo o mundo.
Também se usa o método de asfixia por gás, mas esse é menos comum,
dizem especialistas. Mesmo empresas que vendem ovos de galinhas criadas
livres e têm perfil de maior preocupação com bem-estar animal compram
animais de incubatórios onde o descarte dos machos é praxe.
O assunto é tabu na indústria porque ainda não há solução que possa
ser adotada em grande escala. A Associação Brasileira de Proteína Animal
(ABPA), que representa a avicultura e a suinocultura do Brasil,
respondeu perguntas enviadas por e-mail, mas negou pedido de entrevista.
A veterinária Vania Plaza Nunes, diretora do Fórum Nacional de Defesa
e Proteção Animal, considera o assunto uma questão ética urgente. “Você
está condenando um animal à morte porque nasceu do sexo errado”, diz a
veterinária. Além disso, diz, deve-se levar em conta o bem-estar do
animal.
A ABPA, por sua vez, diz que o método é adotado em vários países e
considerado “humano” e que “defende o debate racional e a apresentação
de alternativas que permitam a preservação do status sanitário e a
viabilidade econômica, que evitem impactos financeiros significativos ao
preço para o consumidor”.
“Vale lembrar que o ovo é uma proteína acessível, estratégica para a
garantia de segurança alimentar para a população”, escreveu a
associação.
Um posicionamento do Diretor do Departamento de Saúde Animal do
Ministério da Agricultura, Geraldo Marcos de Moraes, escrito em agosto
de 2019 e obtido pela BBC News Brasil via Lei de Acesso à Informação,
sugere um desejo de redução dessa prática, mas descreve obstáculos.
“Para a adoção das boas práticas na avicultura, incluindo a redução
do descarte de pintos de um dia, é necessário mudança de cultura e
conscientização dos produtores (…) A redução do descarte de pintos de um
dia é um processo longo e gradual, que depende de vários fatores e
envolve diversas instituições além do Ministério da Agricultura, como
instituições de pesquisa, órgãos estaduais de fomento e extensão
agrícola etc.”, escreveu o diretor.
‘Espécie de liquidificador’
Quando os filhotes saem dos ovos, uma pessoa treinada na técnica de
sexagem, ou seja, a identificação do sexo da ave, separa machos e
fêmeas. Os machos são descartados em seguida.
“Eles são jogados numa espécie de liquidificador”, diz a veterinária
Vania Nunes. É o processo chamado na indústria de “maceração”.
Segundo o guia brasileiro de boas práticas para eutanásia em animais,
do Conselho Federal de Medicina Veterinária, é o “método empregado com o
uso de equipamento apropriado em que a velocidade das lâminas produz
imediata destruição por laceração dos tecidos e induz rapidamente a
morte de um grupo de pequenos animais”.
“A maceração pode ser considerada equivalente ao deslocamento
cervical ou ao trauma sobre a cabeça. Suas vantagens são a morte
instantânea e a possibilidade de ser aplicada a um grande número de
animais”, diz o texto.
Depois, o que sobra — uma espécie de massa — é descartado, segundo o
Ministério da Agricultura, e usado em compostagem ou depositado em
aterros sanitários, dependendo da legislação ambiental de cada Estado.
Segundo a Embrapa, o material oriundo do descarte de pintos de um
dia, cascas de ovos, ovos inférteis e não eclodidos pode servir, depois
de tratado, de composto fertilizante para utilização em lavouras, áreas
de hortifrúti ou para alimentação de peixes.
‘Seres sencientes’
Uma resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária diz que os
animais a serem mortos “são seres sencientes”, portanto, capazes de
sentir ou ter sensações.
A veterinária Vania Nunes diz que os pintinhos sofrem de várias
maneiras durante esse processo. “Ele vai sentir dor física porque o
sistema nervoso central já está formado”, diz ela.
A veterinária acrescenta que o pintinho é capaz de perceber o que
acontece no seu entorno e por isso sofre psicologicamente também. “Ele
tem capacidade de percepção sensorial desenvolvida quando sai de dentro
do ovo. Ele é capaz de entender o ambiente onde ele está”, diz ela.
Além disso, diz, ela, “aquele indivíduo já é um vencedor porque se
ele nasceu direitinho, inteiro, do ponto de vista biológico, já é uma
vitória. Você está condenando um animal à morte porque nasceu do sexo
errado”.
Fabiana Ferreira, professora de zootecnia do campus de Montes Claros
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que, se a máquina
estiver bem ajustada e trabalhando na capacidade correta, o processo é
rápido e não gera erros.
“O grande problema é quando a manutenção não está boa ou se
sobrecarrega a máquina. Nesses casos, pode ser que algum animal passe
sem ser macerado de forma imediata e demore alguns segundos para
morrer”, diz a especialista. Segundo ela, a fiscalização dos
estabelecimentos regularizados é eficaz.
No entanto, continua, “por mais éticos que tentamos ser, ainda é um
processo que poderia ter alternativas, como a identificação do sexo
enquanto ele ainda está no ovo em fase de desenvolvimento embrionário, a
não realização da eliminação do animal (destinando esse à criação
alternativa de aves). Toda vida que vem ao mundo tem que ter qualidade,
mesmo que por um dia”, acrescenta.
Segundo a zootécnica, uma alternativa mais humanitária seria a morte
do animal por deslocamento cervical, “que é um método de eutanásia ainda
aceito quando ave tem pouco peso, como o caso dos pintinhos”, mas esse
método é mais trabalhoso por causa do grande número de animais a serem
submetidos a ele, um por um.
A Embrapa considera a prática “admissível”. Citando norma do Conselho
de Veterinária, diz que os métodos aplicados devem assumir “princípios
básicos norteadores dos métodos de eutanásia: elevado grau de respeito e
ausência ou redução máxima de desconforto e dor nos animais; busca da
inconsciência imediata seguida de morte; ausência ou redução máxima do
medo e da ansiedade; segurança e irreversibilidade”. Segundo a
organização, a maceração se encaixa na categoria.
O Ministério da Agricultura diz que o método “é considerado pela
Organização Mundial de Saúde Animal como adequado, do ponto de vista do
bem estar animal (…) e tem como uma de suas vantagens a morte imediata
dos animais. (…) Esse método também está previsto no Guia Brasileiro de
Boas Práticas para a Eutanásia de Animais, do Conselho Federal de
Medicina Veterinária”, diz a pasta, em resposta enviada por e-mail à BBC
News Brasil.
No posicionamento obtido via Lei de Acesso à Informação pela BBC, o
diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura,
Geraldo Marcos de Moraes diz que a proibição do descarte desses animais
geraria “outro problema grave, decorrente da falta de destinação a esses
animais, incluindo, por exemplo, abandono, alimentação inadequada e
consequente problemas sanitários”, escreve ele.
“Atribuir ao produtor o ônus de manter estes animais sem que haja
mercado para os mesmos também geraria problemas, uma vez que o custo da
produção aumentaria significativamente, tornando a atividade inviável e
resultando no abandono da produção.”
Busca por alternativas
Alguns países estão tentando mudar essa prática; no Brasil há menos sinais de esforços nesse sentido.
A França prometeu proibir a prática de abater filhotes machos
indesejados até o final de 2021, como parte das reformas do bem-estar
animal, mas as alternativas ainda estão em discussão. Na Alemanha, um
tribunal decidiu que a prática pode continuar temporariamente até que
uma alternativa seja encontrada. No ano passado, a Suíça proibiu a
maceração.
Equipes de pesquisa na Alemanha e na Holanda desenvolveram uma
tecnologia que permite identificar o sexo de um pintinho nas primeiras
fases da incubação, que dura 21 dias. Assim, machos podem ser
descartados antes da eclosão. Uma empresa alemã, a Selectegg, vende ovos
usando essa tecnologia em redes de supermercados na França e na
Alemanha; eles foram batizados de “respecteggs”.
Outra estratégia, esta adotada por pequenos produtores de ovos, é
criar aves de “dupla finalidade”, ou seja, raças nas quais os galos são
robustos o suficiente para que possam ser criados para corte, em vez de
descartados. Segundo a Embrapa, “o foco são nichos de mercado, cujo
produto assemelha-se a galetos/conformação de aves menores”.
O Diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da
Agricultura comenta sobre o tema em texto obtido pela BBC via Lei de
Acesso à Informação em agosto de 2019.
“O desenvolvimento de aves de dupla aptidão permitirá que os animais
tenham algum rendimento em qualquer uma das finalidades, reduzindo o
descarte dos machos de aves de postura. É preciso destacar, no entanto,
que as aves de dupla aptidão sempre terão um rendimento inferior ao das
aves geneticamente selecionadas para uma finalidade específica,
aumentando o custo de sua produção e reduzindo os ganhos com o produto,
sendo necessários programas de incentivo ao produtor para criação de
aves de dupla aptidão. Adicionalmente, a seleção genética para o
desenvolvimento de linhagem de dupla aptidão comercialmente viável é um
processo de longo prazo.”
No Brasil, segundo escreveu a ABPA por e-mail, empresas de genética e
de avicultura de ponta no Brasil “participam ativamente” em buscas por
alternativas como a identificação do sexo dentro do ovo e estudos de
utilização comercial dos machos. “Porém as alternativas ainda não estão
completamente aprovadas e/ou disseminadas. Em uma cadeia produtiva longa
e de dimensões continentais — como é a brasileira — são processos que
demandam tempo para viabilização da implantação”, diz a associação.
A empresa brasileira Korin, a primeira do país a ter um certificado
dado pelo Certified Humane, instituto de certificação de granjas que
garantem bem-estar animal, diz que o assunto é uma de suas principais
preocupações.
“Não temos como evitar isso (descarte), não somos nós (que criamos as
galinhas) que fazemos”, diz Luiz Carlos Demattê Filho, Diretor de
Agricultura e Meio Ambiente da empresa.
Demattê explica que compra fêmeas de casas genéticas, que
comercializam o material genético que vai para granjas para se
transformar em fêmeas produtoras de ovos.
“Há algum tempo estamos falando que precisamos de uma resposta melhor
para isso. A empresas respondem dizendo que estão desenvolvendo a
tecnologia de sexagem de ovos. Estão surgindo soluções”, diz ele.
Segundo o diretor, a pressão para isso vem da base de consumo.
Demattê diz que a Korin também compra machos, que são criados juntos
com as fêmeas. A empresa faz isso porque as galinhas “gostam de ter
alguns machos com elas. O sistema fica todo mais harmonizado, há menos
conflitos”, diz ele. Depois, quando chegam no fim da vida (cerca de dois
anos), essas aves, tanto machos quanto fêmeas, são vendidas para corte.
É uma forma, diz ele, de resolver o problema em pelo menos uma parte da
produção.
“Está tudo bem”, sussurrou Bonnie Siegfried, tentando confortar um
pombo em convulsão envolto em um cobertor de lã. O corpo da ave se
contorcia violentamente e emitia sons enquanto ela a segurava em seus
braços. O pombo
morreu cerca de meia hora depois, enquanto Siegfried, que mora em
Londres, na província canadense de Ontário, esperava um agente do centro
de controle de animais chegar. Mais tarde, ela publicou um vídeo do
pombo no Facebook.
Nas semanas após esse incidente, no fim de agosto de 2020, diversos
moradores de Londres, Ontário, e de cidades vizinhas relataram ter visto
inúmeros pombos em sofrimento — caindo de árvores, batendo as asas,
convulsionando, tentando respirar e, por fim, morrendo. Uma
autópsia posteriormente concluiu que os pombos foram envenenados com Avitrol, um veneno utilizado em aves.
A substância tem seu uso aprovado nos Estados Unidos pela Agência de
Proteção Ambiental desde 1972 e foi registrada novamente para uso no
Canadá em 2016 — embora tenha sido proibida em Londres e outras partes
do Canadá, e em várias cidades dos Estados Unidos. A EPA lista Avitrol
como um avicida, palavra que significa “que causa a morte de aves”.
Utilizado principalmente nos Estados Unidos e no Canadá, Avitrol é o
único avicida disponível no mercado aprovado pela EPA, de acordo com a
organização não-governamental National Audubon Society. (Outro avicida, o
DRC-1339, é aprovado pela EPA, mas somente o Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos pode utilizá-lo.) Avitrol é tóxico para
todos os vertebrados que o ingerem e é classificado, nos Estados Unidos,
como pesticida de uso restrito. Portanto, apenas profissionais com licença de controle de pestes podem empregá-lo.
A empresa Avitrol Corporation descreve o produto como um agente que “exerce o controle do número de aves
de forma não cruel” e diz que o objetivo não é matar aves, embora
reconheça que algumas morram após ingeri-lo. Em vez disso, a
empresa descreve Avitrol como um “agente químico amedrontador”, pois
atua sem causar dor nos sistemas nervoso central e motor dos animais,
levando-as apresentar “comportamentos semelhantes aos observados em uma
crise epiléptica” — como “voar sem rumo, emitir sons, tremer, ter as
pupilas dilatadas, entre outros sintomas”. A intenção dessas reações é
assustar outras aves.
No entanto, defensores do bem-estar animal, após verem vídeos como o
de Siegfried e lerem pesquisas da organização Humane Society dos Estados
Unidos sobre a substância ativa do produto, a 4-aminopiridina,
argumentam que Avitrol causa dor e sofrimento desnecessários. Além
disso, diversos incidentes que terminaram em mortes generalizadas de aves,
como o que ocorreu em Londres, indicam que o produto é frequentemente
utilizado para exterminar esses animais, e não somente afastá-los. Os
defensores também temem que o veneno possa matar acidentalmente animais
selvagens que atacam pombos,
como os falcões-peregrinos do Canadá, ameaçados de extinção e que os
quais os governos locais têm tentado proteger restringindo o uso do
produto químico.
O site da Avitrol Corporation afirma “nunca ter recebido relatos” de
envenenamentos secundários em 50 anos de operação. Mas um estudo de
2013 publicado na revista científica Journal of Toxicology analisou
29 envenenamentos por Avitrol de espécies secundárias — 25 cães, três
gatos e um bovino. Um cão morreu e cinco foram tratados e se
recuperaram. Não se sabe o que aconteceu com os outros animais.
A Avitrol Corporation não respondeu a várias solicitações de entrevista.
Pessoas e empresas possuem diferentes razões para quererem se livrar de aves — normalmente, de pombos, mas também de pardais-domésticos, melros-pretos, aves da espécie quiscalus e corvos.
Muitas vezes, são consideradas um problema devido às suas fezes, além
de sua capacidade de transmitir doenças, incluindo a histoplasmose,
infecção que pode causar febre, calafrios, dores de cabeça e outros
sintomas. Os agricultores, por sua vez, podem querer se livrar delas por
se alimentarem da ração de seus animais. Contudo, muitos países
abandonaram o uso do veneno para controlar aves consideradas “pragas”,
segundo a Audubon Society, e os avicidas estão proibidos em grande parte
da Europa e no Reino Unido.
Não há nenhuma organização que rastreie o uso de avicidas em nível
global, por isso não se sabe exatamente quantos países permitem seu uso
ou em que intensidade ele é aplicado.
A EPA rastreia o uso de pesticidas
nos Estados Unidos, mas se recusou a compartilhar dados sobre a
quantidade utilizada por ano, apesar de vários pedidos de comentários.
‘Uma maneira horrível de morrer’
Um avicida como Avitrol é “extremamente cruel”, alega Stephanie
Boyles Griffin, cientista sênior do departamento de proteção da vida
selvagem da Humane Society dos Estados Unidos, com sede em Washington,
D.C. Por ser uma neurotoxina, veneno que ataca o sistema nervoso, ela
explica que Avitrol pode superestimular os sentidos e desencadear
convulsões. “Qualquer pessoa que já teve uma convulsão severa… sabe como
o evento é traumático.”
Os habitantes que testemunham aves
morrendo nas ruas relatam o ocorrido às autoridades responsáveis pela
preservação da vida selvagem. As autópsias muitas vezes revelaram
Avitrol como a causa da morte, e alguns governos locais — incluindo os
de Nova York, São Francisco, Boulder, Colorado e Portland, no Oregon —
proibiram o uso de Avitrol e outros avicidas.
Moradores de Portland ficaram abalados após dois incidentes, em 2014 e 2018, quando corvos
“literalmente choviam do céu”, caíam na calçada, e gritavam e batiam as
asas, com os olhos revirados, relembra Bob Sallinger, diretor
conservacionista na Audubon Society de Portland. “Eles ficavam deitados
de lado e se debatiam, tinham convulsões e, depois, morriam”, conta ele.
Suas carcaças foram vistas em 30 ou 40 quarteirões da cidade. “Tanto
física quanto psicologicamente, essa é uma maneira horrível de morrer.”
Sallinger e alguns colegas da Audubon de Portland coletaram dezenas de aves
para análise, e a causa definida foi Avitrol, embora o distribuidor do
veneno nunca tenha sido identificado. “O que importava para a nossa
comunidade era se a população considerava esse produto aceitável”,
explica.
Em uma reunião da câmara municipal em 5 de junho de 2019, a
comunidade de Portland respondeu com um “sonoro não”, disse Sallinger.
A votação proibiu o uso de Avitrol em áreas de propriedade da cidade.
Até mesmo membros da comunidade empresarial local — muitos dos quais
recebem incentivos para se livrarem das aves inconvenientes — votaram contra o veneno.
“Não é comum ver ações locais sendo realmente tomadas em relação a pesticidas,
mas o veneno em questão sofreu oposição em vários lugares, onde as
comunidades se sentiram compelidas a intervir e fazer o que a EPA não se
dispôs a fazer”, explica Sallinger. “Acredito que isso represente como o
produto é danoso e como é irresponsável utilizá-lo.”
Uso indevido na maior parte do tempo
O rótulo de Avitrol descreve as exigências da EPA para uso correto do
produto: distribuição limitada e dispersa em áreas que ofereçam
oportunidades de alimentação apenas para o número necessário de
aves-alvo.
No entanto especialistas constatam que Avitrol é raramente utilizado
da forma correta e Sallinger diz que é difícil, senão impossível,
limitar a ingestão de veneno pelas aves.
A EPA relata que apenas profissionais licenciados que passaram por
treinamento da agência reguladora de seu estado podem distribuir Avitrol
e que o programa de certificação de cada estado é aprovado em nível
federal pela agência.Em 2013, a EPA atualizou o rótulo de Avitrol para
incluir os locais permitidos de aplicação, a necessidade de
monitoramento após a aplicação e a eliminação das aves mortas.
A EPA explica que o “rótulo de um pesticida
é considerado lei”. Se um pesticida registrado estiver sendo utilizado
“de maneira inconsistente com seu rótulo”, a EPA pode interromper a
venda do produto.
Mesmo que os efeitos do avicida sejam “visualmente revoltantes”,
conforme apresentado em um estudo publicado no site da Avitrol, a
empresa afirma que a distribuição cuidadosa do veneno para assustar
bandos de aves pode resultar em “pouca ou nenhuma mortalidade”. A EPA
está de acordo: “Dada a baixa mortalidade esperada de aves
por meio do uso de Avitrol em comparação com alternativas (por exemplo,
matá-las a tiros)”, o produto é considerado “não cruel”.
Porém, Sallinger acrescenta que Portland oferece um exemplo de como
as recomendações do rótulo de Avitrol nem sempre são seguidas. O rótulo
da EPA exige que os usuários coletem e enterrem ou incinerem as
carcaças, mas isso não foi feito com os corvos
que morreram em Portland. Sallinger diz que após a carnificina, passou
dias recolhendo carcaças e colocando-as em sacos de lixo. “Acredito que a
EPA seja negligente ao licenciar o produto porque não há como garantir
que as exigências do rótulo sejam cumpridas.”
‘Uma alegação absurda’
Seja Avitrol empregado corretamente ou não, a declaração da empresa
sobre o produto ser considerado não cruel é “uma alegação absurda”,
contesta Travis Longcore, diretor de ciências do Urban Wildlands Group,
uma organização conservacionista sem fins lucrativos com sede em Los
Angeles. “Isso causa, no mínimo, extremo desconforto às aves,
muito provavelmente dor e, ocasionalmente, sua morte, para ‘assustar’ o
restante delas”, conclui ele. “Está claro que é algo desumano”.
Em 2007, a Humane Society dos Estados Unidos contratou Longcore para
elaborar um relatório sobre a 4-aminopiridina, a substância ativa de
Avitrol. Ao contrário da alegação da Avitrol de que as aves ficam em um
“estado deprimido” e “não sentem dor” antes do início das convulsões,
Longcore descobriu que a exposição a 4-aminopiridina na verdade
“potencializa o que é sentido pelos nervos”, causando uma sensação de
formigamento e dor abdominal.
Avitrol aumenta os níveis de acetilcolina, um neurotransmissor que
controla as contrações musculares. As pessoas que sofrem de esclerose
múltipla às vezes recebem prescrições de medicamentos que contêm a
substância 4-aminopiridina. Pacientes que, acidentalmente, tomam uma
dose adicional “relatam queimação na garganta e desconforto abdominal
seguido de náusea, irritabilidade, fraqueza, tontura, ‘sensação de morte
iminente’, sede e falta de ar”, de acordo com o relatório de Longcore.
Concentrações suficientemente altas da substância também podem causar
convulsões, conforme observado em aves envenenadas com Avitrol.
Em um estudo publicado em seu site, a Avitrol afirma que durante as
convulsões, “o animal não sente dor porque não consegue se lembrar do
incidente”. O estudo também afirma que essa “observação também se aplica
aos seres humanos”. Mas Longcore notou uma escassez de evidências para
afirmar que as aves
não ficam conscientes durante as convulsões, e agora se sabe que os
humanos às vezes permanecem conscientes durante as convulsões focais que
se iniciam em uma parte do cérebro.
Por fim, no que concerne à dor, “não podemos perguntar às aves se
elas a sentem ou não”, declara Longcore. Mas “não há dúvida de que
sentem dor, seja durante a convulsão ou posteriormente, quando se
debatem contra o chão”.
Alternativas não cruéis
Stephanie Boyles Griffin, da Humane Society, afirma que as pessoas
utilizam Avitrol porque acreditam que seja uma “solução rápida”. Porém,
“isso claramente não é verdade”, acrescenta. As aves que veem outros membros de sua espécie em perigo podem até ficar assustadas por um tempo, mas elas sempre voltam.
Boyles Griffin, que se descreve como uma “grande fã de pombos”, está
segura de que a maioria das pessoas não quer causar sofrimento aos
animais silvestres. “As pessoas geralmente são tolerantes com nossos
vizinhos selvagens, como os pombos, e quando precisam resolver um problema envolvendo essas aves, preferem uma abordagem não letal e não cruel.”
A boa notícia, segundo Boyles Griffin, é que existem muitas
alternativas que “funcionam melhor do que as abordagens cruéis e
letais”. Algumas delas requerem uma mudança do comportamento humano —
como simplesmente parar de alimentar as aves para que elas não se
aglomerem. Instalar redes e espinhos artificiais também pode impedir que
pousem em árvores e edifícios próximos a calçadas movimentadas e
estátuas, onde seus dejetos costumam ser considerados um problema.
Outra opção é “o controle planejado de pombos”, explica Erick Wolf,
CEO da OvoControl, a única empresa que produz rações contraceptivas. Seu
produto bloqueia os receptores de esperma nos óvulos das pombas. Se a ração for disponibilizada em comedouros, as aves retornarão todos os dias para se alimentar. Em três meses, o bando e suas fezes começarão a diminuir, esclarece Wolf.
Outra abordagem de limpeza de calçadas, utilizada por Portland durante a carnificina dos corvos,
é um equipamento de limpeza que mais se parece um carrinho no qual você
pode subir, popularmente conhecido como “Poopmaster 6000” (a palavra poop em
inglês significa ‘cocô’). A cidade também contratou falcoeiros para
soltar águias-de-harris e afugentar os corvos para outros locais que
possam servir de poleiro. Tudo faz parte da “responsabilidade da
humanidade de conviver” com a vida selvagem, reitera Sallinger, da
Audubon de Portland.
Considerando as diferentes alternativas e a crescente oposição a
Avitrol, ele reitera que é chegada a hora de a EPA revogar o registro do
veneno. “Há um número crescente de municípios que defendem: ‘Na nossa
comunidade não’. Acredito que isso seja muito significativo e que a EPA
deva prestar mais atenção no assunto em algum momento.”
De acordo com a EPA, o registro de Avitrol está passando por
uma revisão de rotina, que ocorre a cada 15 anos. Provavelmente até o
fim deste mês, a agência afirma que irá concluir uma avaliação
preliminar dos riscos do avicida, em que caracteriza a natureza e escala
dos riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Essas avaliações de risco
do produto são feitas regularmente e disponibilizadas para que as
pessoas possam analisá-las e comentar. “A EPA avaliará cuidadosamente
todos os comentários recebidos durante o período disponibilizado para
tal.” Posteriormente, a EPA chegará a uma decisão final sobre a
renovação ou não do registro do produto.
Pantanal em chamas e a inércia do Sistema de Gestão Ambiental estatal
O Sistema de Gestão Ambiental estatal revelou-se débil
“E a fumaça nos consumiu como uma nuvem, que aparentemente
parecia de chuva, mas era o resultado do fogo” (desabafo de uma
ribeirinha na região de Corumbá-MS)
Artigo de Rodrigo Berté
[EcoDebate]
O tradicional sistema de regulação estatal na gestão ambiental
brasileira, por leis, regulações e fiscalização, revelou-se incapaz de
proteger o meio ambiente e preservar os recursos naturais.
Esse foi o cenário de caos vivido pelas queimadas no Pantanal
mato-grossense e, a inércia do poder público em criar programas mais
eficazes de monitoramento de emergências ambientais, quando da
materialização do risco ambiental.
Porque dizemos materialização do risco ambiental?
No contexto de danos ambientais e prevenção, temos técnicas
importantes para avaliar um risco ambiental e evitar que o mesmo se
materialize. Parece até certo ponto fácil, mas não é. No caso da seca
prolongada no Pantanal, que ocorre todos os anos, e na sequência vem a
chuva para amenizar, as autoridades deveriam criar planos de
contingência ou emergências socioambientais, e neste período, monitorar
todas as áreas mais sensíveis com o objetivo de evitar a materialização
do risco, ou seja, o caso de um indivíduo vir a atear fogo.
Era comum no passado, os fazendeiros neste período atearem fogo no
pasto, porque com a chuva o solo rebrota e pode ser utilizado por mais
alguns anos. Porém, não podemos mais admitir esse cenário. Há outras
técnicas, orientadas pela engenharia agronômica que são eficazes para
melhorar a pastagem.
Estudar o passado e entender o presente é antecipar o futuro. Neste
artigo, podemos entender a ciência e a história em ação. Medidas
adotadas no passado não servem mais. A atuação estatal nesta matéria
deveria estar melhor preparada, o que não ocorre em nosso país.
Atribui-se a este século, um clima de pessimismo perturbante, as
alterações climáticas são uma realidade, as fontes de água estão em
processos de esgotamento, a terra arável e o petróleo cada vez mais
escassos, ecossistemas inteiros estão por desaparecer. Confirmou-se
ainda uma explosão demográfica e fenômenos econômicos de pequena e larga
escala que estão por ser alterados com consequências ainda por apurar.
Como podemos alterar esse cenário? Como tonar o sistema estatal de
fiscalização ambiental mais eficiente? Qual o poder dos cidadãos, da
sociedade civil e dos consumidores?
Essa tríade de perguntas, talvez, levássemos tempo para responder.
Mas acredito que com o esforço do cidadão e uma responsabilidade maior
de reparação de danos causados ao meio ambiente, se tornaria mais
eficiente a ação do Estado, para garantir que as gerações vindouras
tenham um futuro melhor.
Rodrigo Berté é diretor da Escola de Saúde, Biociências, Meio
Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.
A perda atual de espécies afeta diretamente a vida dos
humanos no que diz respeito à nutrição, abastecimento de água, materiais
de construção e fontes de energia.
Isso é confirmado pelo Jena Experiment, um dos maiores experimentos
sobre biodiversidade em que cientistas do Karlsruhe Institute of
Technology (KIT) estiveram envolvidos.
O consórcio Jena agora relata na Nature Ecology & Evolution que
as funções do ecossistema não podem apenas ser previstas a partir das
propriedades das plantas, mas que toda a complexidade das interações
bióticas e abióticas deve ser considerada. (DOI: 10.1038 /
s41559-020-01316-9)
A biodiversidade na Terra, incluindo a diversidade de espécies, a
diversidade genética dentro das espécies e a diversidade dos
ecossistemas, é a base da vida de todos os organismos, incluindo os
humanos.
Os processos fundamentais dependem da biodiversidade, como o
crescimento das plantas e a estabilidade dos ciclos materiais. No
entanto, a diversidade biológica está diminuindo continuamente. Segundo
os pesquisadores, essa perda atingiu, entretanto, uma extensão
alarmante. Por esse motivo, inúmeros estudos e experimentos científicos
abordam a importância da biodiversidade para o funcionamento dos
ecossistemas e seu uso pelo homem.
A perda de espécies tem consequências diretas para os humanos
Um dos maiores e mais longos projetos sobre biodiversidade é o
Experimento Jena, que foi financiado pela Fundação de Pesquisa Alemã de
2002 a 2019 (DFG; grupos de pesquisa FOR 456 e FOR 1451) e coordenado
pela Universidade Jena. No experimento, pesquisadores de diferentes
instituições científicas estudaram os efeitos da biodiversidade nas
pastagens. Por meio da quantificação abrangente dos ciclos dos
principais elementos químicos e da investigação dos processos acima do
solo e subterrâneos, eles determinaram os mecanismos básicos. O
professor Wolfgang Wilcke, chefe do Grupo de Geomorfologia e Ciência do
Solo do Instituto de Geografia e Geoecologia do KIT (IFGG), e a Dra.
Sophia Leimer, cientista e membro deste grupo, participaram do
experimento e estudaram a relação entre a diversidade de plantas e o
nitrogênio e ciclo do fósforo.
“As descobertas do Experimento Jena confirmam que a perda atual de
espécies tem consequências diretas para a humanidade”, diz Wilcke. “Como
resultado, funções da natureza que aparentemente podem ser consideradas
óbvias são interrompidas.” Segundo o geoecólogo, exemplos são a
produção de biomassa para alimentos, tecidos, materiais de construção e
combustíveis, além dos ciclos de água e nutrientes. Suas mudanças têm
impactos graves, como inundações, secas ou poluição das águas
subterrâneas. “Para interromper esse desenvolvimento e proteger a
diversidade de espécies, são necessárias mais pesquisas e medidas
práticas em todos os níveis, desde o consumidor individual até governos
nacionais e organismos internacionais”, continua Wilcke.
A importância da biodiversidade só pode ser determinada por pesquisa interdisciplinar
Em uma série de três publicações na Nature Ecology & Evolution, o
consórcio Jena publicou os principais resultados entre 2018 e 2020:
Quanto mais funções do ecossistema, como um ciclo fechado de nutrientes,
e os serviços do ecossistema resultantes (por exemplo, produção de
biomassa) forem alcançados, mais espécies de plantas são necessárias,
dizem os cientistas.
Junto com o Experimento BioDIV nos EUA, o consórcio Jena descobriu
que os resultados de experimentos artificiais, nos quais misturas de
espécies de plantas eram geralmente compostas de forma aleatória, são
estáveis e podem ser transferidos para o mundo natural.
Em sua publicação mais recente, o Experimento Jena conclui que as
funções e serviços do ecossistema não podem ser previstos apenas a
partir das propriedades das plantas. É mais necessário considerar toda a
complexidade das interações bióticas e abióticas de um ecossistema, ou
seja, todas as interações na natureza viva e não viva.
Publicações
Meyer, S.T., R. Ptacnik, H. Hillebrand, H. Bessler, N. Buchmann,
A. Ebeling, N. Eisenhauer, C. Engels, M. Fischer, S. Halle, A.-M. Klein,
Y. Oelmann, C. Roscher, T. Rottstock, C. Scherber, S. Scheu, B. Schmid,
E.-D. Schulze, V.M. Temperton, T. Tscharntke, W. Voigt, A. Weigelt, W.
Wilcke, and W.W. Weisser (2018): Biodiversity-multifunctionality
relationships depend on identity and number of measured functions. Nat
Ecol Evol 2, 44-49, published online on November 27, 2017, DOI:
10.1038/s41559-017-0391-4
Jochum, M., M. Fischer, F. Isbell, C. Roscher, F. van der Plas,
S. Boch, G. Boenisch, N. Buchmann, J.A. Catford, J. Cavender-Bares, A.
Ebeling, N. Eisenhauer, G. Gleixner, N. Hölzel, J. Kattge, V.H. Klaus,
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L. Mommer, Y. Oelmann, C. Penone, D. Prati, P.B. Reich, A.
Rindisbacher, D. Schäfer, S. Scheu, B. Schmid, D. Tilman, T. Tscharntke,
A. Vogel, C. Wagg, A. Weigelt, W.W. Weisser, W. Wilcke, and P. Manning
(2020): The results of biodiversity-ecosystem functioning experiments
are realistic. Nat Ecol Evol, published online on August 24, 2020, DOI:
10.1038/s41559-020-1280-9
van der Plas, F., T. Schröder-Georgi, A. Weigelt, K. Barry,
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poor predictors of ecosystem properties and long-term ecosystem
functioning. Nat Ecol Evol, published online on October 05, 2020, DOI:
10.1038/s41559-020-01316-9