Embora uma opinião comum sustente que a exposição a pesticidas aumenta
os resultados adversos de nascimento, o conjunto de evidências
científicas existentes é ambíguo. Barreiras logísticas e éticas – os
dados de uso de pesticidas não estão amplamente disponíveis e os ensaios
de controle randomizados são impossíveis – não permitiram conclusões
mais precisas.
Um novo estudo, realizado por pesquisadores da UC Santa Barbara, aborda a
questão de forma inovadora – analisando os resultados de nascimentos no
Vale de San Joaquin, Califórnia.
Com mais de um terço dos vegetais dos EUA e dois terços de suas frutas e
nozes produzidas lá, no Vale de San Joaquin, não é de surpreender que
seja uma região de intenso uso de pesticidas. A equipe da UCSB
investigou o efeito da exposição durante a gravidez nesta área agrícola e
observou um aumento nos resultados adversos, que acompanham níveis
muito altos de exposição a pesticidas. Suas descobertas aparecem no
jornal Nature Communications.
“Para a maioria dos nascimentos, não há impacto estatisticamente
identificável da exposição a pesticidas no resultado do parto”, diz o
autor principal Ashley Larsen, professora-assistente na Bren School of
Environmental Science & Management da UCSB. “No entanto, as mães
expostas a níveis extremos de pesticidas, definidas aqui como os 5%
superiores da distribuição de exposição a pesticidas, experimentaram
entre 5 e 9% de aumento na probabilidade de resultados adversos, com uma
diminuição de aproximadamente 13 gramas no peso ao nascer”.
Usando registros de certidão de nascimento para mais de 500 mil
nascimentos únicos entre 1997 e 2011, combinado a dados de uso de
pesticidas em uma escala espacial e temporal, os cientistas puderam
determinar se a exposição residencial de pesticidas agrícolas durante a
gestação – por trimestre e por toxicidade – influenciariam peso de
nascimento, duração gestacional ou anormalidades de nascimento.
Eles encontraram efeitos negativos da exposição a pesticidas para todos
os resultados de nascimento – baixo peso ao nascer, gestação, parto
prematuro, anormalidades de nascimento, mas apenas para gestantes
expostas a níveis muito altos de pesticidas – os 5% superiores da
exposição nesta amostra. Este grupo foi exposto a 4.200 kg de pesticidas
aplicados em áreas de 1 Km2 abrangendo seus endereços durante a
gravidez.
“Se podemos identificar onde e por que esses níveis extremamente
elevados de uso estão ocorrendo, particularmente perto de assentamentos
humanos, formuladores de políticas e profissionais de saúde podem
trabalhar para reduzir exposições extremas perto de comunidades
agrícolas, através de campanhas de informação ou divulgação aos
agricultores”, explicou Larsen.
Numerosos produtos químicos são usados diariamente nas proximidades de
áreas residenciais, dificultando a verificação de um agente responsável
específico. Como resultado, neste estudo, os pesquisadores analisaram os
resultados combinados de todos os pesticidas utilizados na região.
“Nós não temos uma boa compreensão de como diferentes produtos químicos
interagem uns com os outros no meio ambiente”, disse Larsen. “É
necessário um trabalho adicional para entender quais produtos químicos
ou combinações de produtos químicos são mais perigosos para a saúde
humana”.
Referência:
Agricultural pesticide use and adverse birth outcomes in the San Joaquin Valley of California
Ashley E. Larsen, Steven D. Gaines & Olivier Deschênes
Nature Communications 8, Article number: 302 (2017)
doi:10.1038/s41467-017-00349-2
https://www.nature.com/articles/s41467-017-00349-2
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate
Fonte: EcoDebate