sábado, 2 de setembro de 2017

Pesquisa revela que exposição a pesticidas durante a gravidez aumenta os resultados adversos de nascimento

quinta-feira, 31 de agosto de 2017


Embora uma opinião comum sustente que a exposição a pesticidas aumenta os resultados adversos de nascimento, o conjunto de evidências científicas existentes é ambíguo. Barreiras logísticas e éticas – os dados de uso de pesticidas não estão amplamente disponíveis e os ensaios de controle randomizados são impossíveis – não permitiram conclusões mais precisas.






Um novo estudo, realizado por pesquisadores da UC Santa Barbara, aborda a questão de forma inovadora – analisando os resultados de nascimentos no Vale de San Joaquin, Califórnia.


Com mais de um terço dos vegetais dos EUA e dois terços de suas frutas e nozes produzidas lá, no Vale de San Joaquin, não é de surpreender que seja uma região de intenso uso de pesticidas. A equipe da UCSB investigou o efeito da exposição durante a gravidez nesta área agrícola e observou um aumento nos resultados adversos, que acompanham níveis muito altos de exposição a pesticidas. Suas descobertas aparecem no jornal Nature Communications.





“Para a maioria dos nascimentos, não há impacto estatisticamente identificável da exposição a pesticidas no resultado do parto”, diz o autor principal Ashley Larsen, professora-assistente na Bren School of Environmental Science & Management da UCSB. “No entanto, as mães expostas a níveis extremos de pesticidas, definidas aqui como os 5% superiores da distribuição de exposição a pesticidas, experimentaram entre 5 e 9% de aumento na probabilidade de resultados adversos, com uma diminuição de aproximadamente 13 gramas no peso ao nascer”.





Usando registros de certidão de nascimento para mais de 500 mil nascimentos únicos entre 1997 e 2011, combinado a dados de uso de pesticidas em uma escala espacial e temporal, os cientistas puderam determinar se a exposição residencial de pesticidas agrícolas durante a gestação – por trimestre e por toxicidade – influenciariam peso de nascimento, duração gestacional ou anormalidades de nascimento.


Eles encontraram efeitos negativos da exposição a pesticidas para todos os resultados de nascimento – baixo peso ao nascer, gestação, parto prematuro, anormalidades de nascimento, mas apenas para gestantes expostas a níveis muito altos de pesticidas – os 5% superiores da exposição nesta amostra. Este grupo foi exposto a 4.200 kg de pesticidas aplicados em áreas de 1 Km2 abrangendo seus endereços durante a gravidez.


“Se podemos identificar onde e por que esses níveis extremamente elevados de uso estão ocorrendo, particularmente perto de assentamentos humanos, formuladores de políticas e profissionais de saúde podem trabalhar para reduzir exposições extremas perto de comunidades agrícolas, através de campanhas de informação ou divulgação aos agricultores”, explicou Larsen.




Numerosos produtos químicos são usados diariamente nas proximidades de áreas residenciais, dificultando a verificação de um agente responsável específico. Como resultado, neste estudo, os pesquisadores analisaram os resultados combinados de todos os pesticidas utilizados na região.




“Nós não temos uma boa compreensão de como diferentes produtos químicos interagem uns com os outros no meio ambiente”, disse Larsen. “É necessário um trabalho adicional para entender quais produtos químicos ou combinações de produtos químicos são mais perigosos para a saúde humana”.




Referência:




Agricultural pesticide use and adverse birth outcomes in the San Joaquin Valley of California
Ashley E. Larsen, Steven D. Gaines & Olivier Deschênes
Nature Communications 8, Article number: 302 (2017)
doi:10.1038/s41467-017-00349-2
https://www.nature.com/articles/s41467-017-00349-2
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate




Fonte: EcoDebate

Índice de Limpeza Urbana mostra que lixões a céu aberto afetam 75 milhões de brasileiros



G1 Sexta-feira, 01/09/2017, às 22:56, por Amelia Gonzalez

A disposição inadequada de lixo urbano vai custar  entre US$ 3,25 bilhões a US$ 4,65 bilhões ao Brasil no período que vai de 2016 a 2021, não só em perda de saúde das pessoas, como também em impactos ambientais graves.  Isso acontece porque ainda há muitos lixões a céu aberto espalhados pelos municípios, sobretudo entre as 3.049 cidades que foram alvo de estudo. Os dados foram coletados em 2015 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e estão na segunda edição do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (Islu), elaborado pelo Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana e pela PwC (disponível aqui)  e que acaba de ser divulgado.

São cerca de 75 milhões as pessoas afetadas pelos lixões a céu aberto  espalhados  pelo  país. É bom lembrar que a Política Nacional de Resíduos Sólidos , sancionada em 2 de agosto de 2010, dava o prazo de quatro anos para as cidades brasileiras acabarem com os lixões, sob pena de elas terem que responder por crime ambiental. Mas a política é uma das muitas que não pegaram, como se vê. E, se o cenário permanecer como está, ou seja, se as cidades continuarem crescendo mais demograficamente do que os progressos na área de saneamento ambiental, nos próximos dez anos a situação, é claro, tenderá a se agravar.

O Sistema Único de Saúde, segundo o estudo lançado pelo Sindicato, gasta anualmente cerca de R$ 1,5 bilhão tratando de pessoas que têm doenças causadas pela falta de destinação e de tratamento correto de resíduos sólidos. Surtos de dengue, por exemplo, poderiam simplesmente não existir em alguns lugares não fossem a sujeira e a destinação inadequada de resíduos sólidos. É questão de saúde pública, e deveria ser tratado como tal.  A sugestão dada pela equipe que elaborou o relatório é que a sociedade civil comece a exigir mudança – também – nesta realidade. Como se vê, não está nada fácil ser cidadão comum num país com falhas tão graves em políticas de respeito ao socioambiental.

E o estudo revela ainda que há 17 milhões de brasileiros que não têm sequer coleta de lixo na porta de casa, portanto, muito mais abandonados à própria sorte no que diz respeito à saúde do que quaisquer outros.  Só para ilustrar: este número equivale à população da Holanda. O que fazer?

Uma das conclusões do Índice  é que as cidades que contam com um planejamento de limpeza urbana também apresentam um desempenho melhor.

“O estudo mostra que 75% dos munícipios com esse tipo de plano e arrecadação específica dispõem o lixo em aterros sanitários, ante 24% daqueles sem arrecadação e planejamento de sustentabilidade”, diz o texto do índice, que tem como objetivo suprir a falta de informações sobre a coleta de resíduos nas cidades brasileiras e mapear o cumprimento das recomendações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

 Os municípios mais bem pontuados no Islu foram os do Rio Grande do Sul, que implantaram aterros sanitários regionais, criando uma escala econômica. Esta pode ser uma boa sugestão, mas se não quisermos continuar deixando unicamente nas mãos do estado a solução do problema, de fato é preciso que os cidadãos passem a encarar os lixões a céu aberto como um problema, assim como a falta de saneamento.

O Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público formada por empresas que se interessam pelo avanço do saneamento básico e pela proteção dos recursos hídricos, decidiu investir numa abordagem otimista para mostrar a importância de se levar água e esgoto tratado para todos os cidadãos. Com o minidocumentário “O Básico que salva vidas” , deixa que os moradores  de várias comunidades paulistas contem como a vida deles mudou depois que a região onde moram recebeu o direito de ter tais serviços básicos à porta de casa. Da saúde das crianças - que agora não têm mais diarreia causada pela sujeira na água que bebiam – até outros benefícios, como a costureira que agora pode receber sua clientela porque não tem mais lama na porta de casa, são visíveis as transformações na vida de todos os moradores.

A pergunta é: por que, então, criar sistema de esgoto eficiente e de água tratada não é prioridade para os governantes? Em conversa com o presidente do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos, há cerca de quatro anos, ele me respondeu a essa questão de forma bastante direta: falta vontade política.

“Uma obra por cima da terra, como construção de estádios ou postos de saúde, fica bem para a imagem do prefeito ou do governador, muito mais do que rede de esgoto, que fica debaixo da terra e ninguém vê”, disse-me ele.

Nada a comentar, a não ser concordar. Termino este texto com uma informação que não deixa ninguém orgulhoso de estar vivendo num mundo com tanta desigualdade:  de acordo com documento da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de pessoas sem acesso à água potável em casa é de 2,1 bilhões em todo o mundo. O quadro fica ainda pior se considerarmos que 860 milhões ainda passam fome em todo o mundo.

Bem, mas aí passaríamos a convocar para a reflexão socioeconomistas que pudessem nos explicar melhor a mágica que faz com que os países ricos fiquem a cada dia mais ricos enquanto os países pobres continuam pobres.


Fogo no Parque Nacional de Brasília já consumiu 4,7 mil hectares


Por Daniele Bragança*
Incêndio consome Parque Nacional de Brasília. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Incêndio consome Parque Nacional de Brasília.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.


Os ventos fortes e o tempo seco dificultam o trabalho dos brigadistas e voluntários que lutam desde terça-feira (29) para acabar com o incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília, no Cerrado. O incêndio já queimou 4,7 mil ha, o equivalente a 11% da área total da unidade. Desde 2011, quando a unidade sofreu com um grande incêndio, que devastou 40% da sua área, o parque não sofria com queimadas. 


O incêndio começou no domingo (27) em área fora do parque e só na terça-feira entrou na unidade de conservação. Na frente da batalha, mais de cem homens, entre servidores e brigadistas do ICMBio e do Ibama, bombeiros do DF e grupos de voluntários, participam das ações de combate ao incêndio. O tempo seco e o vento forte contribuem para espalhar as chamas. 


Segundo o ICMBio, até o final da tarde desta quinta, o fogo persistia na região da Chapada Imperial, no extremo oeste do parque. O local é montanhoso, de difícil acesso, o que atrapalha ainda mais a aproximação por terra dos combatentes.


Combate
Além de homens em terra, o combate ao fogo está sendo feito com quatro aviões air tractor (que lançam água sobre a vegetação em chamas). Um helicóptero está fazendo o monitoramento. Serão usados ainda carros pipas e viaturas para transporte de tropas.
Brigadistas trabalham para conter incêndio florestal no Parque Nacional de Brasília. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Brigadistas trabalham para conter incêndio florestal no Parque Nacional de Brasília. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.


Segundo Christian Berlinck, coordenador Nacional de Prevenção a Incêndios Florestais do ICMBio, a tendência é que de que a linha de fogo, que avança no sentido sudoeste, seguisse a partir desta sexta para áreas fora do parque. Ele garantiu que o combate continuará até que as chamas sejam totalmente extintas.


Visitação
Apesar do incêndio, as piscinas de água corrente, muito usadas por visitantes e moradores de Brasília, principalmente nesse período de seca, seguem funcionando normalmente. A área em torno das piscinas não foi atingida pelas chamas, assim como a região da barragem de Santa Maria, que fica no interior do parque e é responsável pelo abastecimento d´água de 40% da população do DF.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Ainda é cedo para calcular as perdas na Flora e na Fauna. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Ainda é cedo para calcular as perdas na Flora e na Fauna. 


Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.

Abolição de reserva na Amazônia afeta animais em extinção e terras indígenas


25.08.2017Notícias
 
 
O fim da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), assinada pelo presidente Michel Temer, abriu um precedente perigoso: os conflitos socioambientais e fundiários inerentes a uma ocupação humana súbita e à extração mineral em uma região cercada de terras indígenas e unidades de conservação. Ainda que o governo tenha aparentemente voltado atrás na decisão, após a mobilização da sociedade, o ato demonstra a necessidade de se discutir com mais profundidade decisões que podem impactar as próximas gerações.


A Renca é uma área de 47 mil quilômetros quadrados de mata fechada entre os estados do Amapá e Pará – do tamanho do Espírito Santo ou oito vezes o Distrito Federal – criada em 1984 no apagar das luzes do governo militar, que não teve tempo de explorá-la, como era a intenção.


“Abrir uma área desse tamanho em uma região tão preservada e com essas características fundiárias é, de fato, temeroso”, alerta Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Atualmente apenas 0,31% da área de floresta da RENCA se encontra desmatada, de acordo com dados do PRODES. Segundo cálculos do IPAM, esse percentual deve aumentar para 5%, mesmo que a proteção das áreas ambientais não seja alterada, ou ainda chegar a 31%, caso estas áreas protegidas percam a efetividade em conter a pressão do desmatamento que pode ser causada pela multiplicação de garimpos legais e ilegais, principalmente na área da Floresta Estadual do Paru, até 2030.  “Isso quando deveríamos proteger mais, e não menos, a floresta: além de ser um patrimônio ambiental dos brasileiros, ela presta um serviço fundamental para regulação do clima e do ciclo hidrológico”, afirma Alencar.
mapa-2030-sem-efetividade



A Renca está localizada em uma das áreas com maior riqueza predita de mamíferos brasileiros ameaçados de extinção. Esse é o caso, por exemplo, do peixe-boi-da-amazônia, espécie aquática ameaçada que já foi observada na Floresta Estadual do Paru, área que agora permite exploração mineral em seu interior. Atividades de mineração são especialmente danosas aos ambientes aquáticos e podem liberar metais pesados, causando intoxicação na população e biodiversidade local. Estudos do ICMBio já identificaram a altíssima contaminação de peixes por mercúrio em área vizinha.


O mapa mostra a altíssima prevalência de mamíferos ameaçados de extinção na Renca:
riqueza_spp
Ainda que o texto do decreto diga que “a extinção da Renca não afasta a aplicação de legislação específica sobre proteção da vegetação nativa, unidades de conservação da natureza, terras indígenas e áreas em faixa de fronteira“, há exemplos históricos sobre o impacto negativo que medidas como essa causam.


Em Roraima, entre 1986 e 1988, mais de 40 mil garimpeiros contaram com o apoio do governo para invadir as terras do estado e em especial o território ianomâmi, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade. O presidente da Funai, na época, era Romero Jucá, atual líder do PMDB no Senado. Como o documento descreve, “comunidades inteiras desapareceram em decorrência das epidemias, dos conflitos com garimpeiros, ou assoladas pela fome. Os garimpeiros aliciaram indígenas, que largaram seus modos de vida e passaram a viver nos garimpos. A prostituição e o sequestro de crianças agravaram a situação de desagregação social.” Estima-se que até um quarto dos ianomâmis tenham morrido por efeitos diretos ou indiretos do garimpo.


“Mesmo com as regras supostamente preservadas como diz o governo federal, o impacto de fora para dentro é enorme. Pode atrair sim invasão de terras, gerar contaminação e outros problemas conhecidos, sendo devastador para a região”, afirma Alencar. Reportagem especial da Agência Pública revela que, na Amazônia Legal, um terço das áreas indígenas tem processos minerários registrados no DNPM, que vão do desejo de explorar ouro, diamante e chumbo a minérios como cassiterita, cobre e estanho. Na região, a proporção é de uma terra indígena para cada dez processos minerários. Campeão nacional, o Pará concentra 50% desses processos em TIs já identificadas oficialmente pela Funai.



A área da agora extinta Renca engloba nove áreas protegidas: o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, as Florestas Estaduais do Paru e do Amapá, a Reserva Biológica de Maicuru, a Estação Ecológica do Jari, a Reserva Extrativista Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e as Terras Indígenas Waiãpi e Rio Paru d’Este.


Uma análise da ONG WWF revela que menos de 30% da Renca estará acessível à exploração dos recursos minerais. As regiões que apresentam contexto geológico favorável à mineração estão inseridas em áreas protegidas, que bloqueiam a extração mineral, o que deve estimular o conflito. Reportagem da BBC mostra que mineradoras canadenses souberam da extinção da reserva 5 meses antes do anúncio oficial.


No momento, são 28 títulos outorgados (autorizações de pesquisa e concessões de lavra) e 189 requerimentos de pesquisa prévios à criação da reserva que deverão ser analisados pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), que, de acordo com as regras publicadas por Temer, será substituído pela Agência Nacional de Mineração (ANM), uma troca vista com desconfiança por especialistas e que, tudo indica, tem a intenção expressa de acelerar processos travados.


* Texto atualizado em 1º de setembro de 2017, para inclusão de desdobramentos da decisão no primeiro parágrafo.