terça-feira, 27 de maio de 2014

Desmate na Mata Atlântica aumenta 9% entre 2012 e 2013, aponta estudo





Total de vegetação derrubada equivale a 24 mil campos de futebol.
Levantamento foi divulgado pela ONG SOS Mata Atlântica e o Inpe.

Do G1, em São Paulo
Pontos verdes no mapa mostram áreas de floresta da Mata Atlântica que ainda estão em pé no Brasil. Área em amarelo é o total do bioma. Atualmente, restam 8,5% da vegetação original (Foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica/Inpe) 
 
Pontos verdes no mapa mostram áreas de floresta da
Mata Atlântica que ainda estão em pé no Brasil. Área
em amarelo é o total do bioma. Atualmente, restam
8,5% da vegetação original
 
Dados divulgados nesta terça-feira (27) apontam que a Mata Atlântica perdeu 235 km² de vegetação entre 2012 e 2013, aumento de 9% em relação ao último período avaliado (2011-2012).

A área equivale a quase seis vezes o tamanho do Parque Nacional da Tijuca, que fica no Rio de Janeiro, ou ainda a 24 mil campos de futebol.

As informações fazem parte do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, e a ONG SOS Mata Atlântica.

De acordo com a organização, a taxa anual de desmatamento é a maior desde 2008, quando houve a perda de 343,1 km² de floresta. No período 2008 a 2010, a taxa média anual foi de 151,8 km.

Atualmente, restam apenas 8,5% de remanescentes florestais acima de 100 hectares. Somados todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, restam 12,5% da área original de Mata Atlântica, que tinha 1,3 milhão de km² quando o Brasil foi descoberto.

Essa paisagem natural é uma das mais ricas em biodiversidade, e até 60% de suas espécies de plantas são endêmicas, ou seja, só existem naquela região.

Dados por estado
 
Pelo quinto ano consecutivo, Minas Gerais foi o estado que mais devastou o bioma.

O levantamento aponta perda de 84,3 km² de floresta – queda de 22% em relação ao total desmatado entre 2011 e 2012, que foi de 107 km².

Segundo Marcia Hirota, diretora-executiva da ONG, a redução é resultado de moratória que, desde junho do ano passado, impede a concessão de licenças e autorizações para supressão de vegetação nativa.

Piauí vem em seguida, com a supressão de 66,3 km² de floresta. Bahia foi o terceiro estado que mais desmatou, responsável pela derrubada de 47,7 km² de vegetação no período avaliado.

São Paulo registrou queda de 51% no desmate na comparação com o último período, no entanto, quase 1 km² de floresta desapareceu entre 2012 e 2013. Nesse período, Rio de Janeiro teve perda de 0,1 km².

De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, mesmo com índices baixos, há uma preocupação com o desmate nesses dois estados pela forma como acontecem. Essa característica, chamada de "efeito formiga", não suprime grandes proporções de mata, porém, a perda ainda acontece devido à expansão de moradias e infraestrutura.

Olavo de Carvalho: Direitista à força


Desde que comecei a ler livros, meu sonho era um dia emergir do meio social culturalmente depressivo e ter um círculo de amigos com quem pudesse conversar seriamente sobre arte, literatura, filosofia, religião, as perplexidades morais da existência e a busca do sentido da vida – o ambiente necessário para um escritor desenvolver sua autoconsciência e seus talentos. Li centenas de biografias de escritores e todos eles tiveram isso.

Nunca realizei esse sonho, nunca tive esse ambiente estimulante.

Por volta dos quarenta anos, entendi que não o teria nunca, e decidi que minha obrigação era fazer tudo para que outros o tivessem.

Toda a minha atividade de ensino é voltada para isso. É com profundo desprezo que ouço gente dizendo que o objetivo dos meus esforços é “criar um movimento de direita”.

Não conheço coisa mais inútil do que tomadas de posição doutrinal em política. O sujeito adota certas regras gerais e delas deduz o que se deve fazer na prática. Por exemplo, acredita em liberdade individual e daí conclui que não se pode proibir o consumo de cocaína e crack. Ou acredita em justiça social e por isso acha que o governo deve controlar todos os preços e salários. O que caracteriza esse tipo de pensamento é a arbitrariedade das premissas, escolhidas na base da pura preferência pessoal, e o automatismo mecânico do raciocínio que leva às conclusões.

No Brasil, praticamente todas as diferenças entre direita e esquerda se definem assim.

A coisa torna-se ainda pior pela tendência incoercível de raciocinar a partir de figuras de linguagem, chavões e clichês, em vez de conceitos descritivos criticamente elaborados. Isso torna o “debate político nacional” um duelo entre  fetiches verbais imantados de uma carga emocional quase psicótica. Os fatos concretos, a complexidade das situações, as diferenças entre níveis de realidade, o senso das proporções e das nuances, ficam fora da conversa.

Aristóteles já ensinava que a política não é uma ciência teorético-dedutiva, na qual as conclusões se seguissem matematicamente das premissas, mas uma ciência prática enormemente sutil, onde tudo dependia da frónesis, o senso da prudência, assim como do exercício da dialética. Mas a dialética é a arte de seguir ao mesmo tempo duas ou mais linhas de raciocínio, e a impossibilidade de fazer isso é, dentre as 28 deficiências de inteligência assinaladas pelo pedagogo israelense Reuven Feuerstein, certamente a mais disseminada entre estudantes, professores, jornalistas e formadores de opinião em geral no Brasil. Não raro essa deficiência é tão arraigada que chega a determinar, por si, toda a forma mentis de alguma personalidade falante. Naquilo que neste país se chama um “debate”, o que se observa nos contendores é a incapacidade de apreender o argumento do adversário, a ausência de uma verdadeira relação intelectual, substituída pela reiteração de opiniões prontas que o debate em nada enriquece.

O que me colocou contra a esquerda nacional desde o início dos anos 90 não foi nenhuma tomada de posição “liberal” ou “conservadora”, mas a simples constatação de dois fatos: (1) a instrumentalização política das instituições de cultura e ensino pela “revolução gramsciana” estava acabando com a vida intelectual no Brasil e em breve iria reduzi-la a zero, como de fato veio a acontecer; (2) a opção preferencial dos partidos de esquerda pelo Lumpenproletariat, tomado erroneamente como sinônimo de “povo” por influência residual de Herbert Marcuse, estava destinada a transformar a existência cotidiana dos brasileiros no carnaval sangrento que hoje vemos por toda parte. 

Como é óbvio e patente que a solução de quaisquer problemas na sociedade depende da dose de inteligência circulante e do nível de consciência moral da população, daí decorria que, para denunciar a atividade maligna da esquerda nacional, que estava destruindo essas duas coisas, não era preciso que eu me definisse quanto àqueles inumeráveis pontos específicos de política econômico-social em que tanto de deliciam os doutrinários de todos os partidos e que em muitos casos eu considerava superiores à minha capacidade de análise.

Nos meus artigos, aulas e conferências, como o pode atestar qualquer observador isento, não se trata nunca de advogar determinada política em particular, mas apenas de lutar para que as condições intelectuais e morais mais genéricas e indispensáveis a qualquer debate político saudável não se percam ao ponto de desaparecer por completo do horizonte de consciência da classe nominalmente “intelectual”.

Quando essas condições forem restauradas, não terei a menor dificuldade de me voltar para assuntos da minha preferência e deixar que o debate político transcorra normalmente sem a minha gentil intervenção.

Mas o fato é que, se a deterioração mental do país começou já no tempo dos militares, logo em seguida a esquerda triunfante a agravou ao ponto da mais desesperadora calamidade, e o fez de propósito, planejadamente, maquiavelicamente, disposta a tudo para impor, de um lado, a hegemonia cultural de cabos eleitorais, agitadores de botequim e doutores salafrários com carteirinha do Partido; de outro, a beatificação do Lumpenproletariado e, com isso, a completa perversão da consciência moral na população brasileira.

Até o momento nenhum partido de esquerda deu o menor sinal de arrependimento. Ao contrário, cada um se esmera na autoglorificação como se fosse uma plêiade de heróis e santos.


Assim, não me deixam remédio senão estar na direita, no mínimo porque esta, no momento, não tem os meios de concorrer com a esquerda na prática do mal.
 

Ronald Guimarães Levinsohn: Trapalhada do MEC


Dias antes de o senador Aloizio Mercadante ser promovido para a Casa Civil, professores, funcionários e alunos da Universidade Gama Filho e da UniverCidade, em greve por salários atrasados, invadiram o gabinete do então ministro da Educação. Exigiam que a mantenedora Galileo fosse federalizada através de medida provisória.

A Galileo é uma sociedade de papel, sem qualquer ativo, criada há apenas três anos, pertencente ao bispo Adenor Gonçalves dos Santos, sem experiência no ensino universitário e sem currículo adequado para ser empresário de educação. Entretanto, ele foi aprovado e festejado pelo baixo clero do MEC.

A mídia destacou a balbúrdia durante dias e, à medida que se aproximava a posse de Mercadante no Palácio do Planalto, as exigências dos grevistas aumentavam e a barulheira tomou conta das ruas. Como o pleito dos grevistas é vedado pela Constituição, o ministro e a nomenklatura do MEC não puderam atender seus correligionários, e preferiram impor punição maior à Galileo: o descredenciamento dos cursos, ou seja, a decretação de uma falência indireta das duas instituições envolvidas. A Galileo, que emitiu debêntures de R$ 100 milhões mediante a garantia das mensalidades do curso de Medicina da Gama Filho, ficou impossibilitada de pagá-los. O MEC, além de causar confusão no setor, impingiu prejuízo aos fundos Postalis e Petros, que haviam adquirido tais debêntures.

Sem o devido processo legal em razão da pressa de blindar a promoção do ministro Mercadante, é bem possível que o ato do MEC, quando submetido aos tribunais, gere indenização e vultoso precatório.

Se o MEC tivesse a expertise do Banco Central para atuar no mercado, tudo teria sido feito em silêncio, apontando ao bispo Adenor um comprador para as instituições que administrava — inclusive os próprios antecessores, corresponsáveis pelo pagamento dos débitos fiscais e trabalhistas, e que poderiam ter posto os salários imediatamente em dia.

O mais grave é que a Galileo não cumpriu as obrigações previstas nos contratos que celebrara com as sociedades mantenedoras, e a Justiça certamente os anulará, devolvendo a Associação Educacional São Paulo Apóstolo (Assespa), antiga mantenedora da UniverCidade, e a Sociedade Universitária Gama Filho, mantenedora da Gama Filho, aos seus antigos associados.

O volumoso débito das citadas sociedades poderia ser pago através do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior, a longo prazo e mediante concessão de bolsas de estudo e dinheiro. A Assespa possui imóveis em valor superior a seus débitos fiscais e trabalhistas. Igualmente, a família Gama possui, em nome de sociedade constituída em paraíso fiscal, imóveis em valor superior ao débito.

Quem sabe o senador Mercadante, já instalado no Palácio do Planalto, e o atual ministro da Educação, já consolidado no Ministério da Vergonha Nacional, encontrem um caminho para desfazer a atrapalhada decisão. Parece coisa de aloprados.


Ronald Guimarães Levinsohn é ex-reitor da UniverCidade e presidente da Assespa

José Nêumanne: Por que enterrar as verdades de agora?



Na sexta-feira, a professora Marilena Nakano fez parte de um grupo de ex-militantes contra a ditadura convidados para receberem uma homenagem prestada por movimentos sociais, sindicatos e pela Prefeitura Municipal de Mauá, na Grande São Paulo. Ela, porém, recusou-se a participar do evento por discordar ética e moralmente de alguns de seus organizadores. E aproveitou a ocasião para divulgar um documento intitulado Carta aberta de repúdio contra aqueles que desejam o poder pelo poder e fazem uso político dos mortos, presos, torturados e exilados dos tempos da ditadura como trampolim para permanecer no poder. Esse título denota uma dura condenação aos atuais donos do poder na República e situa a signatária entre os que não concordam com o uso politiqueiro do combate armado ao arbítrio militar. Ou seja, torna-a uma crítica singular dos que tentam usar os porões da repressão como comitês de campanha eleitoral.

Urge, de início, prestar um esclarecimento que convém ser dado, a começar por um questionamento. Ela própria foi vítima da crueldade e da abominação na forma com que os militares que subiram ao poder em 1964 e do qual foram apeados em 1984 com a eleição de Tancredo Neves para suceder ao último general-presidente, João Figueiredo, combateram todos quantos se opuseram ao seu arbítrio, seja de armas na mão ou protestando nas ruas. Que razões teria ela para não se acomodar às benesses do poder, tornadas possíveis nas gestões dos presidentes eleitos pelo voto direto e universal depois da queda da ditadura: Fernando Henrique, Lula da Silva e Dilma Rousseff? Na ditadura, ela militou na política estudantil e, depois, fez parte da Ação Popular (AP), grupo de extrema esquerda originado na ala progressista da Igreja Católica. Poderia agora, como alguns sobreviventes da repressão, estar à sombra de um cargo público. Mas não: preferiu ficar na posição solitária, inóspita e desconfortável de denunciar o oportunismo e a desfaçatez de ex-companheiros de jornada.

Irmã de Maria, viúva de Betinho, o “irmão do Henfil” que virou símbolo da volta dos exilados na canção O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, tornada hino da anistia na voz de Elis Regina, a sra. Nakano carrega nas veias a chance de ser tratada como sobrevivente da porfia quixotesca do cunhado contra a fome no País. Nas três gestões petistas, cuja permanência no poder é garantida pela esmola mensal do Bolsa Família para miseráveis, ela poderia ter virado ícone do imenso curral eleitoral beneficiado pela benemerência feita com dinheiro tomado da Nação por um Fisco de apetite pantagruélico. Mas pelo mesmo motivo com que recusou a última homenagem, rejeitou também esse benefício.

Não o fez por capricho, mas por fidelidade a antigos princípios e a outros laços de família, mais recentes, com os parentes de Celso Daniel, prefeito de Santo André cujos assassinos gozam até hoje de impunidade. Ela não aceita a versão oficial de que o cunhado teria sido assassinado por acaso.

Melhor deixar que ela própria explique sua atitude. “Esses mesmos ideais que me conduziram à prisão no passado conduziram-me recentemente a viver a experiência do exílio no período de 2006 a 2010, porque ousei, com meu companheiro, Bruno José Daniel, não aceitar o silêncio como forma de agir diante do assassinato de Celso Daniel. Pelo fato de não termos abdicado ao direito à palavra, nos deparamos com nossos algozes atuais, que são capazes de tudo em nome do poder. Com uma mão eles acariciam, homenageiam e, com a outra, realizam atos que se assemelham aos praticados pelos ditadores, com os quais convivemos, mas de formas sutis, porque hoje se encontram travestidos de democratas e defensores dos trabalhadores, dos pobres de nosso país... A minha ausência é a forma de dizer que sigo na luta, que meus algozes não me farão calar, salvo se me matarem”, escreveu.

Os inimigos da sra. Nakano podem argumentar que ela exagera no tom para chamar a atenção para a causa a ser perdida pela família Daniel. Trata-se de gente muito poderosa. O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi acusado, em acareação, por João Francisco Daniel, irmão do prefeito morto, de transportar malas com dinheiro das mãos de Celso para as do então presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, hoje, como se sabe, residente no presídio da Papuda, em Brasília, por outros crimes pelos quais foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De qualquer maneira, nunca será demais lembrar que seis pessoas envolvidas no caso foram mortas nestes 12 anos depois da morte do então coordenador do programa de campanha de Lula à Presidência em 2002.

Contra a teimosia dos Daniel argumenta-se que a polícia paulista, sob comando do PSDB e do PFL, desde então, garante que Celso foi sequestrado por bandidos que o confundiram com outra pessoa e que um menor o teria atingido de madrugada, num matagal, com uma certeira bala na testa disparada de uma distância de dez metros. Não é mesmo fácil argumentar contra isso. Mas, como o clã Daniel, o Ministério Público Estadual (MPE) desqualifica a investigação policial. E da luta de poucas esperanças de quem nega esse óbvio aparente resultam dúvidas graves. Os argumentos do MPE dormem nas gavetas do Supremo em que repousa o habeas corpus, concedido por Nelson Jobim à época em que presidiu o órgão máximo do Poder Judiciário, ao principal suspeito de quem desconfia que houve execução encomendada: Sérgio Gomes da Silva.


A carta da sra. Nakano soa como cobrança para o STF decidir já sobre isso. E provoca uma desconfiança: por que o governo, que manda exumar cadáveres enterrados há mais de 40 anos, empenha sua força no Congresso para manter sob sete palmos de terra verdades atuais, como o arrombamento dos cofres da Petrobrás?
 
 

Daniel Greenfield: É difícil ver seu próprio racismo quando se é um coletivista



O racismo, para a esquerda, existe sistemicamente. Ele existe institucionalmente. Ele existe coletivamente, mas não individualmente.

Há alguns anos, a capa da versão impressa da revista Newsweek questionou: “Seu Bebê é Racista?” A foto do bebê olhando exposta nas gôndolas dos supermercados, exposta nos aeroportos para ser vista pelos passageiros à espera do seu voo e para ser vista pelos pacientes em consultórios de odontologia têm olhos azuis.

A estigmatização de racistas como sendo brancos veio a se tornar um estereótipo racial. E não é uma estereotipação acidental.

Nos subterrâneos do apoio da esquerda às políticas de ações afirmativas existe a crença que o racismo dos brancos é o único tipo de racismo que existe. O racismo dos negros, eles insistem, é na verdade chamado de “racismo reverso” e é um mito construído por pessoas brancas.

Não se trata da esquerda acreditar que as políticas afirmativas não sejam racistas. É que ela acredita que não existe uma coisa como isso de racismo contra pessoas brancas. É como o Knockout Game (1) ou como estudantes brancos que se qualificaram por mérito mas não puderam entrar na universidade por causa das quotas de diversidade racial; trata-se de uma categoria inválida. Um mito.

E se é um mito, então não há nada de errado com um pouquinho de violência racial ou algumas preferências raciais.

O nosso sistema não é imune a surtos de loucura pontuais. Uma porção considerável de Hollywood acredita que suas almas originaram-se em outro planeta e que eventualmente elas irão ganhar superpoderes. Muitos em Washington D.C. Acreditam que é possível imprimir dinheiro infinitamente e com benefícios econômicos infinitos. E, por sua vez, os acadêmicos e organizações sem fins lucrativos acreditam que o racismo contra pessoas brancas não existe.

A esquerda é delirante, mas não é completamente insana. Ela não nega que possa ocorrer crimes de ódio por parte de negros. Tampouco ela irá negar atos ocasionais de discriminação institucional. No entanto, ela reconhece o racismo apenas como sendo um fenômeno coletivo.

O debate a respeito das políticas de ações afirmativas diz respeito ao coletivo e ao indivíduo.

“Não é possível acolher a ideia que todos os indivíduos de uma mesma raça pensam de modo igual como sendo uma proposição séria”, escreveu o Juiz da Suprema Corte de Justiça Anthony Kennedy na decisão Schuette vs. BAMN, decisão que permite banir a discriminação das políticas de afirmação racial em Michigan.

Todavia é exatamente nisso que a esquerda acredita.

O racismo, para a esquerda, existe sistemicamente. Ele existe institucionalmente. Ele existe coletivamente, mas não individualmente.

Todos os brancos são racistas. Todos os negros são vítimas do racismo. Qualquer acontecimento que diga o contrário é uma exceção à regra. O racismo só pode existir numa mão única que vai de uma maioria para uma minoria.

Qualquer outra coisa é um “racismo inverso” fantasioso.

Conservadores enxergam as pessoas enquanto indivíduos. Esquerdistas enxergam as pessoas como parte de um sistema. Para um conservador, o racismo é algo que ocorre entre indivíduos (2). Para um esquerdista, trata-se de um atributo de um sistema. A tentativa de convencer um esquerdista que o racismo negro existe ou que as políticas afirmativas são racistas é como tentar convencê-los de que algumas das células em seus corpos estão tramando algo contra o corpo.

Eles não enxergam indivíduos, eles enxergam um sistema.

O debate sobre políticas afirmativas é, na verdade, um debate sobre se nós visualizamos as pessoas como indivíduos ou como células, um debate sobre se estudantes brancos e negros que desejam ser tratados como indivíduos irão prevalecer ou se a esquerda totalitária continuará ganhando espaço e poder com a sua insistência em encará-los como bolinhas de diferentes cores num sistema simplório.

Da mesma forma na política, conservadores aproximam-se de pessoas que concordam com sua visão política, a despeito da raça, construindo assim grupos menos diversos, mas grupos que são intelectualmente mais robustos, ao passo que esquerdistas formam coalizões raciais. Esquerdistas acusam os conservadores de racismo, pois estes são vistos, não como uma coalizão de indivíduos, mas como um coletivo racial, tal como eles mesmos [os esquerdistas] são.

Os ajustes raciais (3) na América ainda não começaram a ocorrer em um nível coletivo. Nós [indivíduos] não somos reajustados como um sistema. Nós mudamos individualmente.

É isto que a esquerda, com a sua obsessão por sistemas, não é capaz de ver e não é capaz de lidar. A Grande Sociedade falhou miseravelmente porque nós, todos juntos, já éramos uma grande sociedade (4). Nós não formamos uma bela sociedade por sermos perfeitos, mas porque nós estivemos nos esforçando constantemente para melhorar enquanto indivíduos.

E é essa característica que as políticas afirmativas e o coletivismo esquerdista fazem solapar.

Sistemas não rejeitam o racismo. Indivíduos, sim.

É essa verdade fundamental que a obsessão da revista Newsweek com o racismo de bebês recém-nascidos e com o privilégio dos brancos pretende combater. A mensagem coletiva deles é que os indivíduos são produtos de um sistema, fantoches da sua biologia, condenados para todo o sempre por algo como um pecado original racista que impregna cada parte do seu ser e dos seus estados mentais de tal forma que é possível jamais escapar dessas influências.

A não ser que o sistema mude.

Esta fora a resposta dos esquerdistas totalitaristas para a questão das classes. O fracasso dos seus sistemas de gerenciamento da economia e o sucesso do capitalismo destruiu a credibilidade das suas opiniões sobre classes. As noções de que a classe trabalhadora, sob empreendimentos privados, jamais conseguiria escapar da pobreza foi sepultada tão profundamente quanto às estátuas de Marx e Lênin.

Porém, ao invés de reelaborar o seu paradigma, a esquerda substituiu classes por raças. A classe trabalhadora pôde ser bem sucedida sob empreendimentos privados, mas apenas enquanto ela for branca.

Isso ainda permanece errado.

As raças, tal como as classes, não é uma problemática ligada ao sistema, mas aos indivíduos. Não há uma única solução coletiva, apenas as soluções que os indivíduos encontraram para si próprios. Nós não somos uma nação segregada entre pretos e brancos, ou entre os brancos desbotados e o 'povo preto'.

Somos indivíduos. E somos assim desde sempre.

As políticas de ações afirmativas negam que a raça é uma experiência individual. Elas negam que raça não é a soma de indivíduos. Elas negam o sofrimento daqueles que se enredaram nos meandros do sistema por serem membros da “raça errada”.

Elas negam o indivíduo. Elas negam a sua identidade, o seu valor e as suas ações. Elas põem o sistema acima do indivíduo e retiram os direitos de todas as pessoas, de todas as raças, gênero e de diferentes identidades.

A esquerda é obcecada com a 'brancura' do sistema. A sua obsessão não é apenas racista, mas ela substitui um sistema aberto no qual as pessoas podem mudar e estão mudando...por um sistema estanque no qual não é possível mudar. Este aspecto totalitário desse sistema veio sendo escondido sob a fraude do empoderamento e dos rituais de vitimização que recompensa aqueles que usam a raça como uma carta coringa à custa daqueles que tentam fazer o seu melhor.

O que irá determinar o resultado do debate sobre as políticas afirmativas e os debates mais amplos sobre raça e classes é se nós o abordaremos como indivíduos ou como partes de um sistema. Os Americanos [nos EUA] resistem em ser tratados como partes intercambiáveis de um sistema, porém as narrativas individuais que a esquerda tão efetivamente usa são um disfarce para fazer uma abordagem sistêmica e apresentar soluções sistêmicas.

A esquerda tem respondido ao racismo institucionalizado usando racismo institucionalizado até ao ponto de tornar-se uma instituição mais racista do que aquela contra a qual ela lutava. Instituições não combatem o racismo, elas criam o racismo. O argumento mais convincente contra as políticas raciais coletivistas da esquerda sempre foi o indivíduo.

Organizações e coletivos podem criar o ódio, mas apenas indivíduos podem substituí-los com o amor.


Notas:

(1) “Knockout game”, literalmente, “jogo do nocaute” - um “jogo” criminoso praticado por jovens negros nos Estados Unidos. O grupo faz uma aposta se um dos membros conseguirá nocautear com um único soco uma pessoa aleatoriamente escolhida na rua (mulheres e velhos também são escolhidos). Exemplo #1. Exemplo #2. Segundo relatos, a mídia cobre essa prática sem abordar o aspecto racial, acobertando o ódio de negros contra brancos. Uma assimetria, dado que violência de brancos contra negros via de regra é tratada como racismo (Exemplo: caso George Zimmerman que em legítima defesa assassinou Trayvon Martin).

(2) N. Do T.: o mesmo aplica-se ao ódio e preconceito contra gays (“homofobia”), à posturas que degradam a mulher, etc.

(3) O autor utiliza a expressão “racial healing” que de maneira mais direta poderia ser traduzida como “cura racial” ou “cicatrização racial”.


(4) “Great Society” contraposto a “great society” escrito com minúsculas. “Great Society” foi um programa de iniciativas políticas e sociais do Presidente Lyndon Johnson.
 

Fernando Gabeira: Esses babacas do metrô



Houve um tempo em que esperávamos a Lua entrar na sétima casa, Júpiter se alinhar com Marte e a paz reinar no planeta. Era a aurora da era de Aquarius. Aquarius, Aquarius. As mulheres arrancando os sutiãs, os homens com calça boca de sino, cavalos da polícia dançando, tudo porque a Lua tinha, finalmente, entrado na sétima casa.

Nossas esperanças hoje são mais prosaicas. Em vez de Júpiter se alinhar com Marte, contemplamos o alinhamento da Copa do Mundo com as eleições no Brasil. E os nervos estão mais sensíveis. Na cúpula, governo e Fifa se estranham. Para Jérôme Valcke, o contato com as autoridades brasileiras foi um inferno. Para Dilma Rousseff, Valcke e Joseph Blatter são um peso.

É o tipo de divórcio que não se resolve com as cartomantes que trazem de volta a pessoa amada em três dias. Eles se distanciam num mero movimento defensivo. Quem será o culpado se as coisas não derem certo?

Dilma, com a Copa das Copas, quer enfrentar a eleição das eleições e põe toda a sua esperança nos pés dos atletas. A Fifa não gostaria de entrar numa gelada no Brasil, mesmo porque o Qatar a espera com calor de 52 graus. Seriam dois fracassos seguidos, pois Blatter já admitiu que o Qatar foi um erro.

Essa conjunção histórica está levando a uma certa irritação da cúpula conosco, que não inventamos essa história. Blatter declarou que os brasileiros precisavam trabalhar mais porque as promessas de Lula não foram cumpridas. Nada mais equivocado do que essa visão colonial. Se Blatter caísse no Brasil e vivesse nossa vida cotidiana, constataria que trabalhamos muito mais que ele mesmo, um cartola internacional. Desde quando o objetivo do nosso trabalho é cumprir as promessas de Lula?

A tática de Lula é diferente da de Blatter. Lula não critica nossa insuficiência no trabalho, mas nossas aspirações de Primeiro Mundo. Ele, que vive espantando o complexo de vira-latas, apossando-se politicamente de uma frase de Nelson Rodrigues, nos convida agora a reviver o espírito que tanto condena: “Querer vir de metrô ao estádio é uma babaquice. Viremos a pé, de jumento...”. Para Blatter, precisamos trabalhar mais; para Lula, desejar menos. Só assim nos transfiguramos na plateia perfeita para o espetáculo milionário.

Lula começou sua carreira falando em aspirações dos mais pobres, hoje prega o conformismo. Não é por acaso que o PT faz anúncios inspirados no medo de o adversário vencer as eleições. Não há mais esperança, apenas um apego desesperado aos carguinhos, à estrutura do Estado, aos grandes negócios.

No passado exibi um filme em que Lula e Sérgio Cabral dialogam com um garoto do Complexo da Maré. Eles entram em discussão, Cabral ofende o jovem e Lula diz ao garoto que gostava de jogar tênis: “Tênis é um esporte de burguês”. Na cabeça de Lula, o menino tinha de se dedicar ao futebol. Outras modalidades seriam reservadas aos ricos. Se pudesse livrar-se de seus aspones e andar um pouco até a Baixada Fluminense, veria um campo de golfe em Japeri onde atuam dezenas de garotos pobres da região. Dali saem alguns dos melhores jogadores de golfe do Brasil.

Lá por cima, pela cúpula, muito nervosismo, uma certa impaciência com um povo que não se ajusta ao espetáculo. Estão mais ansiosos que os próprios jogadores para que o juiz dê o apito inicial. Nesse momento, acreditam, o Brasil cai num clima de festa. Com a vitória da seleção o Brasil entraria num alto-astral e os carguinhos, os grandes negócios, tudo ficaria como antes.

Li nos jornais algumas alusões à Copa de 70, a que assisti na Argélia. De fato, o PT vai se agarrar à seleção como o governo Médici o fez naquela época.

Mas já se passaram tantos anos, o Brasil mudou tanto, e o alinhamento das eleições com a Copa, organizada pelo País, tudo isso traz novidades que a experiência de 1970 não abarca.

Estamos entrando num momento inédito. Dilma é vaiada em quase todo lugar por onde passa. Lula está visivelmente ressentido com o povo, que não o celebra pela realização da Copa; que é babaca a ponto de desejar ir de metrô ao estádio.

Não importa qual deles venha. “Que vengan los toros”, como dizem os espanhóis. Não importa quantos gols nosso ataque faça - e espero que sejam muitos -, a glória do futebol não obscurece mais nossas misérias políticas e sociais. Se os idealizadores da Copa no Brasil fizessem uma rápida pesquisa, veriam que o sonho de projetar a imagem de um país pujante e pacífico está ardendo nas fogueiras das ruas, na violência das torcidas, no caos cotidiano nas metrópoles, nos relatos sobre a sujeira da Baía de Guanabara.

O governo do PT e aliados não poderá esconder-se atrás do futebol, porque eles já foram descobertos antes de a Copa começar. A Copa do Mundo não sufoca as denúncias de corrupção porque a própria Copa está imersa nela. A Fifa, com Jérôme Valcke sendo acusado de venda irregular de jogadores, não ajuda. Até o técnico Felipão caiu nas redes do fisco português.

O sonho de uma plateia ideal para a Copa, milhares de pessoas com bandeirinhas, de um eleitorado ideal que vota sempre nos mesmos picaretas, de torcedores ideais que vão a pé ou de jumento para estádios bilionários, esse sonho entra em jogo também. Assim como aquele de projetar a imagem positiva do Brasil, o sonho de uma plateia ideal para a Copa foi por terra. Nem todos cantam abraçados diante das câmeras.

Começou um jogo delicado em que a Copa do Mundo é apenas uma etapa. Valcke vai viver o inferno nos 52 graus do Qatar e Dilma enfrentará a eleição das eleições, a qual precisa vencer, mas não para de cair.

A Lua entrou na sétima casa e não veio o paraíso. As eleições se alinham com a Copa, como Júpiter e Marte, e o Brasil, num desses momentos de verdade decisivos para sair dessa maré. Se estão nervosos agora, imagino quando as coisas esquentarem.

Os babacas que querem ir ao estádio do metrô podem querer também um governo limpo, um combate real à corrupção, serviços públicos que funcionem.

Babacas, felizmente, são imprevisíveis.
 

Segundo principal pesadelo da petralhada – o primeiro continua sendo o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel – está solto e possui dupla cidadania

Blog Prontidão




PF descobre que ex-diretor da Petrobras tem passaporte português
Paulo Roberto Costa omitiu cidadania portuguesa e entregou à polícia apenas passaporte brasileiro
A Polícia Federal descobriu que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos principais alvos da Operação Lava-Jato, tem cidadania e passaporte portugueses. Segundo uma autoridade policial, o ex-diretor não entregou o documento à Justiça Federal, nem mesmo quando pediu para responder aos processos da Lava-Jato em liberdade. Ele teria devolvido o passaporte brasileiro e guardado o documento português. Na semana passada, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu pedido do advogado Fernando Fernandes e mandou soltar o ex-diretor, que estava preso desde 20 de março.

  ÁS DA COPAS

O ex-diretor foi o único dos 12 presos da Lava-Jato beneficiado pelo habeas corpus concedido por Teori. Os demais investigados, entre eles o doleiro Alberto Youssef, continuam presos. A determinação inicial do ministro era para soltar todos os acusados. Mas a ordem foi reconsiderada menos de 24 horas de depois que o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, alertou o ministro sobre riscos de fuga de Youssef e da também doleira Nelma Kodama. Os dois teriam somas expressivas de dinheiro no exterior.

Para a PF, com nacionalidade e passaporte portugueses Paulo Roberto também entra no grupo de risco de fuga. Procurado pelo GLOBO no final da manhã desta segunda-feira, Fernando Fernandes, responsável pela defesa de Paulo Roberto, disse que desconhecia o caso e não saberia dizer se o cliente devolveu ou não o passaporte português. Momentos depois, enviou mensagem por telefone para dizer que, segundo advogados de Paulo Roberto em Curitiba, o documento já foi entregue à Justiça Federal.

Petistas blindam Paulo Costa e fingem que fritam André Vargas para adiar efeitos negativos da Lava Jato
O PT produz mais um jogo de cena, digno de ganhar um Oscar de defeitos especiais, para conter os efeitos negativos da Operação Lava Jato sobre a campanha reeleitoral. Duas táticas são prioritárias. A primeira é manter a blindagem sobre Paulo Roberto Costa, que sabe tudo, é já está solto. A segunda é fingir que a cúpula partidária rompeu politicamente com o deputado Federal André Vargas, elo entre muitos políticos (principalmente do partido) e o doleiro Alberto Youssef.

Por isso, vazou, propositalmente, a mentirinha de que o PT deseja ver Vargas fora do Congresso. A pressão pública para que ele saísse do partido já mereceria um Molière do teatrinho petralha. Agora, a insistência para que saia mesmo do PT, expulso por “infidelidade partidária”, conforme processo aberto no Tribunal Superior Eleitoral, é uma manobra diversionista. Não dá para apagar os serviços que Vargas fez aos petistas, em passado recente, apenas detonando-o do PT.

A cúpula petista, na verdade, deseja ganhar tempo. Sabe que hoje, com a apresentação dos jogadores da Seleção Brasileira ao técnico Felipão, começa, efetivamente, a Copa do Mundo da Fifa – que terá efeitos ilusionistas sobre a política e a economia brasileira, até a metade do mês de julho. Até lá, com a maioria esmagadora torcendo fanaticamente pelo time da CBF, os petistas e o governo esperam que muitas broncas, como a Lava Jato, fiquem providencialmente abafadas. [para os brasileiros estupidamente torçam  pela chamada seleção brasileira de futebol  até metade do mês de julho é necessário que a seleção ainda estivesse, naquela data, disputando a Copa do Mundo e o tempo (sempre o senhor da razão) mostrará que a chamada seleção chegará, no máximo, às Oitavas, que terminam no primeiro dia de julho.]

No caso específico de André Vargas, os petistas não querem que ele deponha, tão depressa, ao Conselho de Ética da Câmara, para tentar justificar suas relações com o doleiro Alberto Yousseff. Para isso, uma cassação urgente de André Vargas seria um excelente negócio. A investigação seria suspensa automaticamente. Vargas não teria de explicar, politicamente, qual a relação dele e do amigo doleiro com o Ministério da Saúde na gestão do ministro Padilha. Vargas também não teria de esclarecer a suspeita de tráfico de influência em favor do doleiro nos fundos de pensão de estatais e na Caixa Econômica Federal.


Fonte: Blog Alerta Total -  O Globo

Um juiz, a principio, é livre para entender o que quiser; até interpretar, equivocadamente ou de forma parcial; para repor a Justiça nos trilhos existem as instâncias superiores



Justiça abre processo contra cinco militares pela morte de Rubens Paiva


Juiz entendeu que crime não está coberto pela Lei da Anistia


Reús vão responder por homicídio, ocultação de cadáver, associação criminosa e fraude processual


Os cinco militares acusados pelo homicídio e ocultação do cadáver do ex-deputado federal Rubens Paiva, em janeiro de 1971, viraram réus. A Justiça Federal recebeu nesta segunda-feira a ação penal proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o general reformado José Antônio Nogueira Belham, os coronéis reformados Raymundo Ronaldo Campos e Rubens Paim Sampaio e os sargentos reformados Jurandyr e Jacy Ochsendorf e Souza. Eles passarão a responder, também, pelos crimes de associação criminosa armada e fraude processual.



 O juiz federal Caio Márcio Gutterres Taranto explicou, na decisão, que a denúncia do MPF trata de crimes previstos no Código Penal não protegidos pelas disposições da Lei da Anistia concedida em 1979. Para o magistrado, o Artigo 1º da Lei de Anistia (Lei 6.683/79) não perdoa os crimes previstos na legislação comum, mas apenas os crimes políticos ou conexos a esses, “punidos com fundamento em atos institucionais e complementares”. Na ação penal, os acusados vão responder também pelos crimes de associação criminosa armada e fraude processual.  

Outro fundamento alegado pelo juiz é o de que a morte de Paiva se insere “na qualidade de crimes contra a humanidade”, que impede a incidência da prescrição: “O homicídio qualificado pela prática de tortura, a ocultação do cadáver (após tortura), a fraude processual para a impunidade (da prática de tortura) e a formação de quadrilha armada (que incluía a tortura em suas práticas) foram cometidos por agentes do Estado como forma de perseguição política. A esse fato, acrescenta-se que o Brasil reconhece o caráter normativo dos princípios de Direito costumeiro internacional preconizados pelas leis de humanidade e pelas exigências da consciência pública”.
 

Foi a segunda decisão, em menos de um mês, determinando a abertura de ação penal contra crimes praticados por agentes do regime militar. Há duas semanas, a juíza federal Ana Paula Vieira de Carvalho também recebeu a denúncia contra cinco militares e um civil acusados pelo atentado a bomba no Riocentro, em 30 de abril de 1981: o general reformado Newton Cruz, chefe do SNI à época, o coronel reformado Wilson Machado, principais envolvidos no caso, além do ex-delegado Claudio Guerra, do major Divany Carvalho Barros e dos generais reformados Nilton Cerqueira e Edson Sá Rocha. 

 [decisões adotadas por juízes de primeiro grau e que serão facil e inapelavelmente revogadas nos Tribunais Regionais; a independência dos juízes permite que tomem decisões equivocadas, parciais e a função dos tribunais superiores é recolocar a Justiça nos trilhos.
  São decisões que não transitaram em julgado,  serão contestadas e não formam jurisprudência - mesmo que cem juízes de primeira instância resolvam esposar o mesmo entendimento.]

 
Em tentativa anterior de levar os acusados pelo Riocentro a julgamento, o Ministério Público Militar esbarrou no entendimento do Superior Tribunal Militar (STM), confirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de que o crime estava coberto pela Lei da Anistia.

 
Já o caso Rubens Paiva chega pela primeira vez à Justiça. Suspeito de intermediar a troca de correspondência entre exilados no Chile e seus contatos no Brasil, o ex-deputado foi preso em casa, no Leblon, no início da tarde de 20 de janeiro, por agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa). No mesmo dia, após interrogado, foi transferido para o Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), na Rua Barão de Mesquita, onde não resistiu a “selvagens torturas”, como concluiu o MPF, após três anos de investigação. O corpo da vítima nunca foi localizado.



Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), ano passado, o coronel da reserva Armando Avólio Filho, ex-integrante do Pelotão de Investigações Criminais da Polícia do Exército (PIC-PE), revelou ter visto, por uma porta entreaberta, um tenente identificado como Antônio Fernando Hughes de Carvalho torturando Paiva. 
Avólio disse que, logo após testemunhar a cena, chamou seu chefe imediato, o então major Ronald José Baptista de Leão, e levou o caso ao comandante do DOI, o também major Belham, e ao comandante da PE, coronel Ney Fernandes Antunes. Em carta à CNV, Leão confirmou o episódio. No início deste ano, ele faleceu. 


 [mais uma vez, no intuito de tumultuar o processo a Com(omissão) da Verdade insiste em confundir PIC, unidade da Polícia do Exército, com DOI-CODI.]

 
O general reformado Raymundo Ronaldo Campos revelou, em depoimento ao Ministério Público, que, logo após a morte do ex-deputado, o Exército montou uma farsa, ao sustentar que Paiva teria sido resgatado por seus companheiros “terroristas”, quando era transportado por agentes do DOI no Alto da Boa Vista. 
Campos, que era capitão, dirigia o veículo supostamente atacado e estava na companhia dos sargentos Jacy e Jurandir. Além dos depoimentos, documentos arrecadados na casa do ex-coronel Júlio Molinas Dias, assassinado em 2012 durante um assalto, comprovaram que Paiva, após ser preso pela Aeronáutica, foi levado ao DOI. 

[é público e notório que a praxe era as prisões de subversivos, terroristas e guerrilheiros e outros criminosos da mesma laia, quando efetuadas pela Aeronáutica, os presos serem conduzidos ao Cisa e, posteriormente, no interesse da investigação eram entregues ao DOI-CODI.]

Ao cruzar depoimentos de militares e ex-presos com documentos históricos, os procuradores da República responsáveis pelo caso decidiram denunciar o general Belham e o coronel reformado Paim Sampaio, ex-agente do Centro de Informações do Exército (CIE), que estaria no DOI quando Paiva chegou, por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e associação criminosa armada. Já o coronel Raymundo Ronaldo Campos, oficial de plantão no DOI-I no dia 22 de janeiro, e os sargentos Jurandir e Jacy foram acusados de fraude processual e associação criminosa armada.

  Em março, o tenente-coronel reformado Paulo Malhães revelou ao GLOBO que, na condição de agente do CIE, recebeu em 1973 a missão de desenterrar no Recreio dos Bandeirantes o corpo de Paiva e dar um destino definitivo a ele. Em depoimentos posteriores, mudou a versão.

 
Defesa diz que tentará bloquear a ação Na decisão que acolheu a denúncia, o juiz entendeu que o conceito de crime contra a humanidade inclui “as condutas de homicídio, deportação, extermínio e outros atos desumanos cometidos dentre de um padrão amplo e repetitivo de perseguição a determinado grupo da sociedade civil, por razão política. Nesse contexto, o sentido e conteúdo de crime contra a humanidade deve ser extraído ponderando-se o histórico de militância política da vítima, inclusive sua atuação na qualidade de deputado cassado pelo Movimento de 1964”.
 


A decisão da Justiça Federal conclui afirmando que “a denúncia ofertada encontra-se devidamente acompanhada de documentos e testemunhos aptos ao recebimento da denúncia em desfavor dos acusados. Merece ênfase a declaração manuscrita de Cecília Viveiros de Castro, a declaração de Marilene Corona Franco ao MPF, o depoimento de Cecília Viveiros de Castro à Polícia Federal em 11/09/1986, o recibo de entrega do automóvel da vítima e o conjunto de documentos apreendidos por força da medida cautelar (de busca e apreensão na casa do Paulo Malhães, morto em 24 de abril).”
 

Advogado de três dos acusados (Belham, Paim e Campos), Rodrigo Roca tentará bloquear a ação: — Quando forem citados, vamos oferecer a defesa preliminar e, paralelamente, faremos um habeas corpus, com o objetivo de bloquear a ação penal, tanto pela questão da prescrição dos crimes quanto pela incidência da Lei da Anistia.

Para conhecer através de um estudo técnico e fundamentado a improcedência das decisões proferidas por juízes de primeira instância, que afrontam a Lei da Anistia e o Principio da Prescrição,  clique aqui:  Já passa da hora da Justiça Federal rejeitar sumariamente - por ilegalidadee inconstitucionalidade - as denúncias canhestras apresentadas pelosrevanchistas da burlesca ‘justiça de transição’


ou aqui: A principio, um juiz pode entender o que quiser – porém, terá que ser aceito a tese da não prescrição e apresentadas provas que revoguem decisões do STM e STF