quinta-feira, 12 de março de 2015

Uma outra opção a atropelamento, à morte: CARINHO!!


Conheça o animalzinho que os americanos criam como animal de estimação ( pode ser alimentado com ração para cachorros) e que nós nos divertimos em... atropelar!!


Poderiamos aprender com eles.Pena, porque nós os estamos dizimando! Conheça como é a convivência entre várias espécies de animais


ANDA » Agência de Notícias de Direitos Animais

Biodiversidade

01 de março de 2011 às 8:45

Quem vê de longe o verde que cobre as montanhas e planícies do litoral brasileiro, não faz ideia das mudanças imperceptíveis aos nossos olhos na estrutura da floresta e dos inúmeros segredos escondidos sob este tapete. Um deles é a convivência entre as várias espécies de animais, que bem poderia ser um exemplo para a nossa vida em comunidade se aprendêssemos a respeitar os recursos naturais disponíveis.

Imagem: EPTV.com

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Outro marzupial, o sariguí - tão comum no Brasil- além de ser um animal útil, pois come ratos e insetos- também é um excelente animal de estimação!

mamãe gambá carregando suas crias
O conceito que temos de biodiversidade tem a ver com os animais dos quais nos aproximamos ou que se aproximam da nossa casa: gambás, morcegos, aranhas, mosquitos ou ainda algumas aves, como beija-flores e corujas. É fácil entender como essas espécies convivem, porque têm ambientes, alimentos e horários de atividades diferentes.

filhote de gambá agarrado a um raminho

Os beija-flores são diurnos e se nutrem de néctar, enquanto as corujas são noturnas e se alimentam de outros animais. Gambás e morcegos vivem na mesma floresta, têm hábitos noturnos e comem frutos e insetos, mas não brigam por espaço ou comida. Os gambás forrageiam principalmente no solo, o estrato mais baixo da floresta; os morcegos capturam insetos em pleno voo e buscam frutos em árvores inacessíveis aos gambás. Sem disputa acirrada pelos mesmos recursos, não há conflitos.
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Por outro lado, a biodiversidade brasileira é tão exuberante que podem ser encontradas, numa mesma área, diferentes espécies silvestres com parentesco muito próximo, atividade nos mesmos períodos e com dietas e tamanhos semelhantes. Isso poderia levá-las a sofrer de forma mais intensa as pressões seletivas da competição, com mudanças de hábito e até extinção de espécies. Por que, então, isso não acontece? Os marsupiais – um grupo peculiar de mamíferos – podem nos ajudar a responder a esta pergunta.

Imagem: EPTV.com

Em aproximadamente 20 anos de estudos em fragmentos florestais, ilhas costeiras e Unidades de Conservação nos estados de Santa Catarina e Paraná, tivemos a oportunidade de observar os hábitos de seis das maiores espécies de marsupiais americanos que ocorrem em áreas de Mata Atlântica.

(Quantos sobreviverão à Devastação Olímpica, que arrasa com o que restou da Mata Atlântica para criar campos de golpe para aRio2016?)

As espécies de marsupiais pesquisadas foram: Chironectes minimus (cuíca-d’água), Metachirus nudicaudatus (cuíca-de-quatro-olhos-marrom), Philander frenatus (cuíca-de-quatro-olhos-cinza), Lutreolina crassicaudata (cuíca-marrom), Didelphis aurita (gambá-de-orelha-preta) e Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca). Nesses estudos foram usadas mais de 50 mil armadilhas-noite para captura de animais vivos, roedores e marsupiais, e 10 mil armadilhas dia para registros fotográficos obtidos por meio de máquinas equipadas com sensores de movimento. Todas as espécies de marsupiais registradas nesse estudo são noturnas e oportunistas quanto à dieta, geralmente composta por insetos, pequenos vertebrados e frutos, exceção para a cuíca-d’água, que se alimenta principalmente de insetos, peixes e crustáceos aquáticos.


Apesar de as espécies não serem exclusivas de um único ambiente, geralmente ocorrem em maior abundância naqueles onde conseguem explorar os recursos com maior eficiência, incluindo itens alimentares, abrigos, parceiros, e minimizar fatores adversos como competição, parasitismo e predação. Os ambientes em que cada um desses animais ocorre são conhecidos como hábitat, e o conjunto de recursos que utiliza, incluindo o hábitat, é chamado de nicho ecológico.

Imagem: EPTV.com


O nicho de algumas espécies pode ser bem mais amplo que o de outras. A dieta dos gambás, que são maiores que as cuícas, inclui de ouriços marinhos e mariscos a sementes, frutos, insetos, vertebrados e até mesmo restos de comida de humanos e carcaças de outros animais. Ou seja, é bem mais diversificada do que a da cuíca-d’água, que se alimenta principalmente de animais aquáticos de rios e córregos. Isso é fácil de compreender, pois os gambás são encontrados em quase todos os ambientes utilizados pelas outras espécies, ou pelo menos muito próximos a esses ambientes, e também em ambientes onde as outras espécies não são encontradas, como os insulares e urbanos.


Por outro lado, as quatro cuícas são menores, com indivíduos adultos podendo pesar entre 200 e 800 gramas, e são bem mais exigentes quanto ao ambiente que utilizam. Assim, para que todas existam ao longo de boa parte da Mata Atlântica, precisam usar ambientes distintos. A cuíca-d’água habita rios e córregos principalmente em áreas de encosta.

A cuíca-de-quatro-olhos-marrom vive em ambientes florestais bem preservados, com relevo pouco acidentado em áreas propícias à formação de grandes adensamentos de bromélias no solo. A cuíca-de-quatro-olhoscinza é encontrada em ambientes florestais bem preservados e úmidos com relevo acidentado, geralmente nas margens de rios e córregos. A cuíca-marrom habita ambientes alagados, principalmente banhados, tanto em áreas florestais quanto arbustivas.

Em nossos estudos, o hábitat se mostrou um dos mais importantes recursos utilizados por essas espécies de marsupiais e as alterações ambientais foram determinantes para o desaparecimento, a diminuição ou mesmo o aumento das populações (confira informações junto com as fotos). E qual a lição que a convivência desses animais pode nos trazer?


Imagem: EPTV.com

Nós vivemos no meio desses animais, mas expandimos cada vez mais nosso hábitat, nossas fronteiras. Com isso, os hábitats de outras espécies estão sendo alterados ou reduzidos abaixo das condições mínimas necessárias para que certas espécies vivam neles, reproduzam-se e mantenham populações viáveis. Esta condição tem levado ao desaparecimento de muitas espécies de áreas perto das nossas casas e, se não enxergamos o que ocorre com as espécies tão próximas a nós, o que dizer daquelas que estão distantes de nossos olhos?


Temos culturalmente o meio ambiente à nossa mercê, quando deveríamos pensar que somos apenas mais uma espécie dentro deste imenso sistema vivo que levou bilhões de anos para se formar. Os sinais de que nossa expansão ultrapassou os limites são marcantes e aparecem frequentemente em todo o mundo. E, ao prejudicarmos o meio ambiente, estamos não só diretamente prejudicando a fauna e a flora, mas também a nós mesmos. Exemplo disso é a extinção de várias espécies de seres vivos e o aquecimento global atual.

A nossa fauna, mesmo aquela com características e comportamentos aproximadamente semelhantes, ensina-nos que muitas espécies podem conviver na Mata Atlântica. Ao dividir os espaços, não precisam excluir umas às outras, pois consomem o alimento disponível no ambiente onde ocorrem, e todas podem evitar a exposição à luz do dia, onde seriam mais vulneráveis aos predadores. Os processos geológicos, climáticos, ecológicos e histórico-evolutivos geraram essas condições, tornando o Brasil um lugar raro no mundo: um país de megadiversidade.

E nós estamos inseridos neste meio. Muitas famílias vivem em casas cercadas de matas e muitos animais silvestres em matas cercadas de casas. Áreas bem preservadas precisam existir e as cidades podem coexistir com ambientes naturais se passarmos a respeitar a vida que circula pelos lugares onde o ser humano habita.

Conhecer o papel e os limites de cada um na natureza é de fundamental importância neste processo de conservação ambiental. Cabe a nós aprendermos o mais rapidamente possível a conviver de forma harmoniosa com toda essa riqueza de vida, como nos mostra a comunidade dos maiores marsupiais da Mata Atlântica.

Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca)
Ocupa ambientes florestais mais abertos e arbustivos ou alterados pelo homem. Também pode ser encontrado em áreas urbanizadas, mas está ausente das pequenas ilhas litorâneas onde predominam florestas. Também é considerado um importante dispersor de sementes.

Chironectes minimus (cuíca-d’água)
O único marsupial com hábitos aquáticos, tem como principal ameaça à espécie a poluição das águas, assoreamento dos rios e a alteraçãoderrubada da mata ciliar ao longo de rios e riachos.

Philander frenatus (cuíca-de-quatro-olhos-cinza)
Caminha principalmente pelo solo, mas possui também habilidade de subir em árvores. A principal ameaça à conservação da espécie é a fragmentação florestal, que transforma florestas contínuas em capões isolados de mata.


Lutreolina crassicaudata (cuíca-marrom)
Considerado o principal carnívoro entre os marsupiais americanos, a mais temida ameaça à conservação da espécie é a drenagem, aterramento e ocupação de ambientes alagados para construções e agricultura.


Quem são:
Maurício E. Graipel é coordenador do Projeto Parques & Fauna do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Thiago Bernardes Maccarini, Felipe Moreli Fantacini e Laise Orsi Becker são alunos do curso de Graduação em CiênciasBiológicas da UFSC e Nilton Cáceres éprofessor do Departamento de Biologia daUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)


Fonte: EPTV
Palavra Animal

Atropelamento de fauna: desastre ambiental fácil de evitar


Fernanda D. Abra* - 30/06/14

ESTRADA-1
"Roads are seeds of tropical forest destruction".
(Estradas são as sementes da destruição da floresta tropical.)
Thomas Lovejoy


Desde a primeira vez que ouvi esta frase em uma palestra entendi que uma recém-proposta disciplina, a Ecologia de Rodovias, ramo da grande Ecologia, seria bastante aplicável no Brasil, pois, entre tantas coisas trazidas da América do Norte e Europa, o Brasil adotou o Sistema Rodoviário como o principal modal de transporte para o desenvolvimento socioeconômico do país.


A origem das Rodovias no Brasil se deve ao slogan de campanha "Governar é abrir estradas" de Washington Luís – o estradeiro – que em 1920 utilizou esta marca em sua campanha para Governador do Estado de São Paulo (1920 – 1924) e posteriormente para Presidente da República (1926 - 1930). Durante suas gestões, foi responsável por grandes marcos no desenvolvimento do modal rodoviário no país, mas principalmente no Estado de São Paulo. Seus próximos cinco sucessores do governo paulista perpetuaram a abertura de estradas e rodovias durante suas gestões, com destaque a importantes obras interligando cidades do interior paulista.


A década de 1930 foi marcante pelo surgimento de importantes rodovias, como a Rio-São Paulo, Rio-Petrópolis e Itaipava-Teresópolis. Estas marcaram o início da implantação de uma malha rodoviária moderna no país, que ganharia impulso nas décadas seguintes, espelhando-se em exemplos de países com economias bem sucedidas, como as autobahns alemãs e highways norte americanas que escoavam mais facilmente seus produtos, barateavam mercadorias e integravam cidades.


Ao mesmo tempo em que nas décadas de 1920 e 30 foram abertas as primeiras estradas e rodovias¹ brasileiras, nos Estados Unidos da América, foram publicados os primeiros artigos científicos sobre impactos destes empreendimentos sobre o meio ambiente natural – um abismo temporal no conhecimento teórico e aplicado sobre o assunto. Estes estudos apontavam uma grande perda de biodiversidade causada pelo atropelamento de animais silvestres na malha rodoviária do país².
Pesquisadores de países desenvolvidos começaram a reconhecer impactos ambientais decorrentes da implantação e operação das rodovias – como citado por Willian Laurence, "estava aberta a caixa de pandora".


Danos generalizados
Da mesma forma que na mitologia grega, a abertura da caixa libertou – ou melhor, escancarou – todos os males do mundo, a implantação de Rodovias afeta direta ou indiretamente a integridade biótica, causando danos significativos. Estes incluem a dispersão de espécies invasoras por meio dos corredores lineares, alterações de ciclos hidrológicos devido a interrupções na drenagem, mudanças microclimáticas devido à pavimentação – que tende a aumentar as temperaturas locais e diminuir a umidade do ar – poluição atmosférica devida à produção de gases tóxicos e material particulado, produção de ruído, contaminação das águas e do solo, perda e degradação de habitats e fragmentação de ambientes naturais.


Especificamente para a fauna silvestre, há dois impactos principais: a perda de espécies por atropelamento, que é direto, visível e mensurável por conta das carcaças presentes em faixas de rolamentos e acostamentos, e o efeito barreira, um impacto indireto e não mensurável que resulta do não encorajamento dos indivíduos em atravessar rodovias, consequentemente trazendo problemas relativos ao isolamento e perda de variabilidade genética, eventualmente ocasionando extinções locais e regionais.


Países como Estados Unidos e Canadá, e da União Europeia, possuem um robusto acervo de estudos, de longo prazo inclusive, monitorando animais em rodovias. Estes produziram estimativas assombrosas, como 1 milhão de vertebrados terrestres sendo atropelados diariamente na malha rodoviária dos Estados Unidos, um dado perturbador mas justificável pela alta densidade de rodovias e animais do país.


Mas, e no Brasil? Sendo a Ecologia de Rodovias uma disciplina tão recente e ainda com poucos estudos conclusivos por aqui, o que está acontecendo com a nossa fauna desde o slogan retumbante do Presidente Washington Luis? Quais espécies são as mais afetadas? Os atropelamentos ocorrem mais com a fauna generalista porque são mais encorajadas a atravessar as rodovias? E as espécies especialistas, as essencialmente florestais, que evitam rodovias e ficam isoladas, separadas por 20-40 metros de plataforma pavimentada? Qual a viabilidade populacional de algumas espécies afetadas por rodovias seja por quaisquer dos impactos citados? O que acontecerá com o lobo guará, a onça parda, uma vez que, p. ex. para algumas rodovias paulistas é conhecida a significativa perda de indivíduos por atropelamento?


Estas questões são importantes não só pela dimensão da malha rodoviária brasileira, mas também porque rodovias já impactam áreas protegidas únicas. Por exemplo, o Parque Estadual do Morro do Diabo é cortado pela SP-613, enquanto as Reservas Biológicas de Sooretama (ES) e União (RJ) o são pela BR 101.


Mais que isso, a proposta para reabertura da Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu (PR) mostra como a ciência ainda passa longe das políticas públicas, uma simples inclusão do termo "estrada-parque" na Lei do SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, "resolve" todos os problemas e impactos ambientais de uma estrada dentro da área inatingível de um Parque Nacional, simples assim.


Segurança em risco

ESTRADA-2Além da necessidade de estudos e diagnósticos, temos problemas recorrentes com fauna silvestre e doméstica, todos os dias nas nossas rodovias, os animais adentram as faixas de rolamento, colocando em risco a segurança do usuário. Este é um erro grave tanto da administração pública como privada de Rodovias, e é neste aspecto que há possibilidades de tomadas de decisões efetivas em relação à implantação de medidas mitigadoras para atropelamentos: a segurança do usuário. A administração rodoviária está preocupada, acima de tudo, em diminuir acidentes.


A pesquisa científica gerou diversas medidas de mitigação, como as passagens de fauna inferiores e superiores, cercas, placas de sinalização, redutores de velocidade físicos e eletrônicos, sistemas de detecção animal e várias práticas de conserva da própria rodovia que colaboram para evitar atropelamentos e reestabelecer a conectividade estrutural e funcional entre ambientes cortados por empreendimentos rodoviários.


Com certeza tais medidas, muitas delas trazidas de outros países, deverão ser aos poucos ajustadas para cada grupo faunístico específico e para cada bioma brasileiro. Com quase um século de pesquisas, o profissional da conservação e os engenheiros rodoviários brasileiros não precisam inventar a roda, eles somente devem ajustá-la e inová-la, quando necessário.


Apesar dos problemas relatados, ainda temos um freio cultural. De forma geral, os profissionais da conservação, principalmente, tem tanto medo de testar, errar e de ser criticado que, no fim das contas (uma conta cara por sinal), o argumento de "não fazer" baseado na falta de publicações, insuficiência de dados e validações estatísticas é maior do que o fato real de que "a nossa biodiversidade está se esvaindo no asfalto". Isso é difícil de ser compreendido uma vez que no universo da Ecologia de Rodovias, novos conhecimentos devem ser aplicados, testados e ajustados, como em um ciclo virtuoso, até que se atinja o objetivo planejado.


É recorrente iniciar um assunto sobre medidas de mitigação para atropelamentos e ouvir: "mas e os predadores que vão ficar espreitando e predando animais dentro das passagens de fauna? Li um relato de uma onça parda comendo tatus nessas passagens!" - como se isso – se e quando ocorre – justificasse não implantar as estruturas e fosse pior que deixá-las sendo atropeladas e causando acidentes.ESTRADA-3

"Os custos de implantação de cercas e passagens oneram muito a obra." Pois é, e quantos anos uma rodovia permanece na paisagem? É uma cicatriz permanente que impacta a fauna desde a sua implantação até quanto durar a sua operação. Implantação de medidas de mitigação não é um luxo exclusivo de grandes obras rodoviárias ou rodovias concessionadas, elas são urgentes, necessárias e na verdade oneram, no máximo, uma casa decimal do valor total do empreendimento.


Estudos sobre o custo benefício da implantação de medidas mitigatórias para atropelamentos mostram que os empreendedores poupam dinheiro com a diminuição de acidentes³, pois nesses casos eles devem, impreterivelmente, indenizar os usuários.


A única certeza que temos é que "governar é abrir estradas" está arraigado nas nossas gestões públicas nos âmbitos federais e estaduais. Em pleno século XXI, frequentemente testemunhamos a abertura de novas rodovias e, principalmente obras de duplicações, ampliando, sobremaneira, o avanço do pavimento impermeável nas áreas naturais do nosso país. Enquanto isso, pessoas e animais morrem todos os dias em acidentes rodoviários perfeitamente evitáveis.


1. O nome "Ecologia de Estradas" é a tradução exata do inglês Road Ecology. Entretanto, o Código Brasileiro de Trânsito diferencia "estrada" de "rodovia". Estrada é classificada como uma via rural sem pavimentação, enquanto que a rodovia é necessariamente uma via rural pavimentada.


Dessa forma, o termo "Ecologia de Rodovia" é mais bem empregado para tratar das vias principais e secundárias no âmbito municipal, estadual e federal e é com base nessas rodovias que a maioria dos estudos sobre atropelamento de fauna silvestre e implantação e monitoramento de medidas de mitigação são realizados.


2. STONER, D., 1925. The toll of automobile. Science 61, 56-58.


3. HUIJSER, M.P., ABRA, F.D., DUFFIELD, J.W., 2013. Mammal road mortality and cost benefit analyses of mitigation measures aimed at reducing collisions with Capybara (Hydrochoerus hydrochaeris) in São Paulo State, Brazil. Oecologia Australis, 17: 129-146.


*Fernanda D'Abra é bióloga e especialista em ecologia de estradas.


Lançada petição para frear matança de animais em estrada

atropelamento1103
((o))eco - 11/03/15

Na manhã deste sábado (07) uma onça parda (Puma concolor) foi morta ao tentar atravessa a BR 101, no trecho em que a estrada corta a Reserva Biológica de Sooretama, situada no norte do Espírito Santo. Um vídeo foi feito e uma petição online iniciada para que imagens como esta que ilustra a matéria não volte a se repetir.


Segundo os pesquisadores do Instituto Últimos Refúgios, que lidera a campanha em prol de reajustes na estrada, cerca de 20 mil animais são mortos todos os anos nesse trecho de 25 km da estrada que corta duas áreas protegidas, a Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural Vale, além de ser próxima das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Mutum Preto e Recanto das Antas.


A petição online no Avaaz será entregue ao Ministério Público. O pedido é para que mudanças sejam feitas na estrada, como:
  • Reduzir a velocidade da via para 60 km/h em todo o trecho de 25km;
  • Instalar radares de trecho inteligentes que registram e monitoram a velocidade dos veículos;
  • Desobstruir os túneis de drenagem de água sob a pista que podem servir como passagem de fauna;
  • Fazer o cercamento da via de forma direcional para os túneis;
  • Retirar as árvores frutíferas exóticas das margens da estrada (mangueiras e jaqueiras, por exemplo);
  • Colocar placas temáticas de advertência e educativas no trecho;
  • Instalar passagens de estrato arbóreo (passagens aéreas) para travessia de animais arborícolas (macacos e bicho-preguiça, por exemplo);
  • Retirar o lixo das florestas e corpos d’água no entorno na rodovia;
  • Promover ações de sensibilização dos usuários da rodovia;
  • Disciplinar o uso da via pela comunidade e empreendedores locais.
Em novembro, os pesquisadores Aureo Banhos, Andressa Gatti, Marcelo Renan de Deus Santos e Leonardo Merçon, o último presidente do Instituto Últimos Refúgios, publicaram uma coluna aqui em ((o))eco denunciando a matança na estrada, que passa por estudo de impacto ambiental para permitir a expansão e duplicação da pista.

De lá pra cá, nada mudou.


 

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O lado podre do capitalismo-Indústria do açúcar manipulou a ciência como fez a do tabaco



Ciência
SAÚDE PÚBLICA


Empresas dos EUA influíram na concepção das políticas públicas de prevenção da cárie para que o consumo de açúcar não fosse reduzido


Os açúcares adicionados aos alimentos foram relacionados com a cárie. / Paul Townsend
 Industria del Azúcar

Em 1954, Robert Hockett foi contratado pelo Comitê de Pesquisa da Indústria do Tabaco nos EUA. O objetivo (não declarado) dessa instituição era semear dúvidas sobre a solidez científica dos estudos que mostravam os perigos do tabagismo. Por meio de ferramentas como essa, as indústrias do setor estabeleceram vias de colaboração com o Estado, em princípio para cooperar com o desenvolvimento de estratégias para reduzir os danos à saúde causados por seus produtos. 


Entretanto, como determinaram sentenças judiciais nos últimos anos, a indústria aproveitou tais espaços para bloquear todo tipo de medidas que pudessem prejudicar seus interesses comerciais, como o financiamento de programas para deixar de fumar.

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As más práticas da indústria do tabaco ficaram registradas em vários litígios dos quais se tornaram públicos documentos que mostravam suas táticas de manipulação. Entretanto, essa indústria não é a única que utilizou a ciência para desvirtuar resultados científicos que podiam prejudicar seu negócio.


De fato, antes de trabalhar para as indústrias de tabaco, Hockett fez carreira fomentando a suspeita para a indústria do açúcar. Neste caso, o objetivo era evitar que a evidência de seus danos para a saúde dental se traduzisse em políticas de saúde que reduzissem o consumo de açúcar.


Nesta semana, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, publicam na revista PLOS Medicine uma análise de 319 documentos internos da indústria do açúcar produzidos entre 1959 e 1971. Por meio deles se pode ver como tentaram influir nas prioridades científicas do Programa Nacional para a Cárie (NCP, na sigla em inglês), criado no fim desse período.


O Estado aceitou 78% das propostas da indústria do açúcar para evitar a cárie
“A indústria açucareira não podia negar o papel da sacarose na cárie dental, dada a evidência científica”, explicam os autores. “Portanto, adotou uma estratégia que consistia em desviar a atenção para intervenções de saúde pública que implicassem na redução dos danos do açúcar ao invés de restringir seu consumo”, acrescentam. Com esse plano, promoveram o financiamento de pesquisas sobre enzimas capazes de desfazer a placa dental e sobre uma vacina experimental contra a deterioração dos dentes que nunca demonstrou ser aplicável em grande escala.


Os resultados da estreita relação entre a indústria e os responsáveis pelos organismos públicos que deveriam definir as prioridades da saúde pública e a pesquisa se observa em alguns dados chamativos: 78% de um relatório remetido pela indústria foi incorporado aos editais de projetos de pesquisa do Instituto Nacional para a Pesquisa Dental, e outros trabalhos, como os pensados para medir como alguns alimentos específicos causam cárie (uma abordagem que poderia prejudicar a indústria) desapareceram da lista de prioridades do NCP. 


Depois de uma década liderando a agenda científica para combater a cárie nos EUA, o NCP “não conseguiu reduzir significativamente o problema da cárie dental, doença que se pode prevenir e que continua sendo a principal doença crônica entre crianças e adolescentes dos EUA”, concluem os pesquisadores.


Ildefonso Hernández, catedrático de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade Miguel Hernández (UMH) de Alicante (Espanha) afirma que táticas como as refletidas nos documentos publicados pela PLOS Medicine continuam vigentes. 


“É o que se chama captura da ciência”, aponta Hernández. “A estratégia da indústria açucareira que se vê nesses documentos é a mesma praticada agora com a obesidade, centrando o foco na necessidade de fazer exercício e deixando de lado a necessidade de reduzir o consumo de açúcar”, continua.


O ‘lobby’ do açúcar pressiona para evitar que a OMS estabeleça limites ao seu consumo

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Atualmente, a Organização Mundial de Pesquisa sobre o Açúcar (WSRO, na sigla em inglês), o lobby científico da indústria açucareira mundial –no qual figuram corporações como a Associação Açucareira dos EUA e a Coca-Cola, conforme lembra o estudo– continua pressionando para que as políticas de saúde não prejudiquem seus negócios. 



Em 2003, as empresas obtiveram que não se assumissem como políticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) a recomendação feita por um comitê conjunto dessa organização e da Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO) de reduzir os açúcares adicionados ao máximo de 10% das calorias consumidas diariamente. A WSRO defendeu que, ao invés de tratar de reduzir o açúcar na dieta, as políticas de saúde dental deveriam centrar-se no uso regular de pasta de dente com flúor.


Finalmente, a OMS não incluiu em seus guias um limite concreto e se conformou com o impreciso conselho de “limitar a ingestão de açúcares adicionados”. A WSRO também se opôs à recomendação de 2014 da OMS que pede a redução dos açúcares adicionados a 10% da dieta diária com a aspiração de deixá-los em 5% no futuro.

 

Controle insuficiente do lobby

 

Hernández considera que os conflitos de interesse das pessoas que criam as políticas de saúde e de pesquisa ainda não são regulados por uma legislação adequada. “Na Europa, tanto a Agência Europeia do Medicamento (EMA) como a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) chamaram atenção para o problema do conflito de interesse, mas a legislação ainda não é bastante estrita”, afirma o pesquisador. “Na Espanha, a lei de saúde pública diz que é preciso regular os conflitos de interesse, mas depois nem sequer as tímidas medidas incluídas chegaram a ser desenvolvidas. Sem ir mais longe, o comitê da hepatite C se reuniu recentemente e não foram publicados os conflitos de interesse de seus membros”, acrescenta.



Para o catedrático da UMH, é necessário que legislações como as que devem regular a pesquisa para reduzir os danos derivados do consumo excessivo de açúcar sejam redigidas por agências com a suficiente independência. “Uma agência independente, acreditada e legítima pode ser vital para que o público confie nela e para que as políticas baseadas em testes avancem”, aponta. “Agora é um bom momento para criar esse tipo de agências, porque as pessoas estão cansadas das influências das empresas sobre as políticas públicas, mas há pouca vontade política para facilitar isso”, explica.



Nos EUA, os autores afirmam que houve uma melhora. “As primeiras políticas relativas à declaração de conflitos de interesse para conselhos assessores federais foram desenvolvidas no começo dos anos 1960”, escrevem. “Antes disso, a preocupação de que os interesses empresariais fossem uma ameaça para a integridade científica era um ponto de vista minoritário”, continuam. 



Isso começou a mudar nos anos 70, e em 2015 os NIH (a maior agência de financiamento da biomedicina dos EUA) tinham um programa completo dedicado ao contato ético entre seus institutos para fazer frente aos efeitos adversos para a ciência de conflitos de interesse com a indústria.

El País--“Vaca” até quando?




No Dia Internacional da Mulher, a presidenta Dilma Rousseff é xingada e isso incomoda homens e mulheres, eleitores dela ou não


Dilma, no dia 1 de março no Rio. / Mario Tama (Getty Images)
Durante o pronunciamento em rede nacional de Dilma Rousseff neste domingo, Dia Internacional da Mulher, centenas de brasileiros, em 12 capitais do país, foram até as janelas e sacadas dos prédios e bateram panelas para se manifestar contra a presidenta. Piscaram as luzes de casa, buzinaram nos carros e gritaram. Além do barulho da colher no teflon, foi possível ouvir xingamentos, como "vaca", "puta" e "arrombada" direcionados à presidenta.


"Corrupta" ou "ladra", também ecoaram das janelas, mas não ficaram em evidência. Na mesma noite, o que incomodou vários homens e mulheres, eleitores de Dilma ou não, foram os xingamentos que ofendem a mulher. O pronunciamento da presidenta, que dentre outras coisas pediu "paciência" e disse que o país está passando por "problemas temporários", poderia ter irritado uma parcela da população que se opõe ao Governo petista. Mas nas redes sociais, o que dominou o debate foi a indignação com os xingamentos direcionados a ela.


Jacqueline Pitanguy, coordenadora-executiva do CEPIA (Cidadania, Estudo Pesquisa, Informação e Ação), uma ONG voltada para a execução dos direitos humanos das minorias, explica que o ódio na política faz vir à tona esse tipo de comportamento. “O que você está assistindo no Brasil hoje é uma coisa nova na nossa política, que é o ódio”, diz ela. “E nesse clima de ódio, esses preconceitos que às vezes ficam maquiados, afloram”.


Para Jacqueline, apesar dos avanços no que diz respeito aos direitos das mulheres, quando algo assim ocorre, só mostra que ainda há muito o que se fazer em relação ao lugar da mulher na sociedade. "O que ocorreu ontem é, basicamente uma questão cultural que mostra o quanto o Brasil ainda é patriarcal", diz. "Que mostra o quanto apesar de avanços, ainda temos presente na nossa cultura claramente a desvalorização do feminino seja ela personificada ou não".

 

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Essa desvalorização da mulher, paradoxalmente, não vem só dos homens. Os xingamentos deste domingo vieram também da boca de muitas mulheres que, certamente, ganham menos que homens em seus trabalhos. De muitas mulheres que são constrangidas diariamente com o assédio nas ruas. De muitas mulheres que têm jornada dupla há anos. 


De mulheres que deveriam cansadas não apenas da política deste ou daquele governante, mas também de uma realidade que, de tão repetida, já se transformou em normal. E como, com tanta luta para ser travada ainda, é possível se tornar normal xingar uma presidenta de vaca? Ou como pode ser normal uma mulher chamar outra de "puta", para expressar a oposição à sua política? Ou o que as vacas ou as putas têm a ver com isso?


A questão não é de classe ou mesmo de gênero, segundo Jacqueline. Mas sim cultural. "E quando falamos de cultura, não estamos falando necessariamente de homens ou mulheres", diz ela. "Mas de uma cultura onde tanto homens quanto mulheres já estão impregnados".


A classe média brasileira vem se manifestando contra o Governo petista há muito tempo. Na abertura da Copa do Mundo no ano passado em São Paulo, parte do público mandou Dilma tomar no cu por algumas vezes. Isso formou uma onda de indignados com o tratamento à presidenta. Assim como agora, na época, mesmo pessoas que não votaram em Rousseff se manifestaram contra a maneira como ela foi tratada publicamente.


A indignação, como reação ao ocorrido no domingo, não é uma questão de classe social. Tanto faz se a manifestação e os xingamentos ecoaram em bairros nobres ou na periferia. O terraço gourmet ou o puxadinho, neste caso, não faz diferença. Assim como eleitores de Rousseff erram o alvo ao criticar a oposição pelo simples fato do poder aquisitivo de grande parcela dela, xingamentos a uma mulher, eleita democraticamente pela maioria, enfraquecem o debate e têm  envergonhado até mesmo aqueles que fizeram campanha contra ela.