Por Colleen Weiler, WDC / Tradução de Alice Wehrle Gomide
O amanhecer de uma nova era, apelidada de Antropoceno, tem
sido manchete ultimamente; o impacto que os humanos agora estão fazendo
na Terra deixará traços duradouros na memória geológica do planeta.
Daqui a milhões de anos, nossa era será claramente delineada pelos
restos de concreto, alumínio e plástico; somado aos elevados níveis de
gases de efeito estufa, nitrogênio e fósforo originados da agricultura e
isótopos radioativos deixados em camadas de rochas e gelo.
Mas qual é o seu efeito na Terra nos dias de hoje? Como
estes lembretes duradouros estão atualmente impactando nossos oceanos e o
meio ambiente? Assim como o projeto Rekos Fellow for Orca Conservation para a organização Whale and Dolphin Conservation,
eu preciso saber como estas coisas afetam as populações de orcas nos
dias atuais para ajudar a encontrar maneiras de mitigar seus efeitos.
O impacto do plástico nas orcas
Juntamente com as notícias do Antropoceno, várias mortes de
orcas também se tornaram notícias nos últimos meses.
O caso incomum de uma orca encalhada numa praia da África do Sul recebeu atenção internacional quando a necropsia revelou que seu estômago estava cheio de lixo. Grandes pedaços de plástico, incluindo potes de iogurte e embalagens de alimentos, foram encontrados em seu estômago junto com outros itens não-digestíveis.
O caso incomum de uma orca encalhada numa praia da África do Sul recebeu atenção internacional quando a necropsia revelou que seu estômago estava cheio de lixo. Grandes pedaços de plástico, incluindo potes de iogurte e embalagens de alimentos, foram encontrados em seu estômago junto com outros itens não-digestíveis.
As orcas da África do Sul tipicamente
comem outros animais marinhos, peixes grandes ou lulas e, ainda que os
pesquisadores estejam incertos de que o plástico foi a causa final da
morte, ele certamente ajudou. Alguns cientistas acreditam que ela se
separou de seu grupo, possivelmente devido a uma doença, e nadou até as
águas rasas, onde ela comeu tudo que encontrava em uma tentativa de
sobrevivência.
Os plásticos, descritos como “a maior ameaça para a vida
selvagem marinha”, frequentemente dominam as listas dos restos mortais
do oceano, por causa de sua natureza onipresente e uma vida útil muito
longa. Mesmo quando eles são decompostos, eles primeiro se tornam
pedaços menores chamados de microplásticos, uma categoria que inclui as
recentemente banidas microesferas.
Encontradas em muitos produtos de
cuidado pessoais, seus tamanhos minúsculos permitem que elas atravessem
as plantas de tratamento de água, e elas acabam chegando ao oceano, se
somando à quantidade crescente de plástico encontrado na água de nosso
planeta. Minúsculos zooplânctons confundem os pedaços ainda menores com
comida e se enchem deles; eles acabam sendo comidos por seres maiores, e
assim seguem na cadeia alimentar.
Em adição à contribuição ao problema de lixo marinho, estas minúsculas partículas também podem carregar substâncias químicas tóxicas; os poluentes na água se unem ao plástico, aumentando a toxicidade das microesferas e o impacto no ecossistema oceânico.
Em adição à contribuição ao problema de lixo marinho, estas minúsculas partículas também podem carregar substâncias químicas tóxicas; os poluentes na água se unem ao plástico, aumentando a toxicidade das microesferas e o impacto no ecossistema oceânico.
A poluição tóxica é a maior ameaça às múltiplas populações de orcas ao redor do mundo, desde as orcas ameaçadas de extinção que residem no sul, na costa oeste dos EUA, até as pequenas comunidades da costa oeste que habitam as águas ao redor das ilhas britânicas; orcas árticas perto da Groenlândia e as populações que residem na Nova Zelândia. Pesquisas recentes indicam que PCBs (bifenóis policlorinados) podem estar levando as populações de orcas do Atlântico Norte à extinção, com níveis de contaminantes entre os maiores do mundo.
Contaminantes plásticos e a vida marinha
Apesar das proibições terem começado no fim dos anos 70, os
PCBs são parte da classe de toxina dos “poluentes orgânicos
persistentes” (POPs), denominados pela sua atração aos lipídios (eles se
acumulam nos tecidos adiposos) e alta estabilidade (eles levam muito
tempo para se decompor e desaparecer). PCBs estão entre os mais bem
conhecidos POPs, junto de DDT e PBDEs, um tipo de retardante de chamas.
DDT e PCBs foram banidos na maioria dos países desenvolvidos por
décadas, mas muitas nações em desenvolvimento começaram somente
recentemente, ou ainda nem começaram, a abordar seu uso – e os esforços
para excluir os PBDEs somente começaram no meio do ano 2000. Mesmo com
as proibições de produção, seus longos tempos de vida e habilidade de se
moverem pelo ar e pela água significam que os POPs ainda são
predominantes em nossa terra e água. Enquanto a maioria dos países já
abordou sua produção e uso, infelizmente, os esforços de limpeza são
lentos na melhor das hipóteses.
Estes contaminantes podem afetar os sistemas imunes e
reprodutivos das orcas, atuam como desreguladores endócrinos e alteram o
desenvolvimento dos sistemas nervoso e reprodutivo. Em populações bem
estudadas de orcas, as concentrações de POPs são significantes o
suficiente para podermos dizer onde elas foram procurar comida, baseados
na quantidade de DDT e PBDEs em seu sistema. Assim como o movimento dos
microplásticos na cadeia alimentar, estas toxinas são absorvidas pelas
criaturas na base do ecossistema, então comidos por organismos maiores, e
gradualmente aumentando em um processo chamado de “bioacumulação”.
As
orcas, predadoras no topo do ecossistema marinho, são o recipiente de
uma concentração dos contaminantes por uma inteira cadeia alimentar. Os
filhotes de hoje, que nasceram anos antes do maior uso da maioria dos
POPs, ainda são fortemente impactados por essas toxinas através da
amamentação, quando suas mães liberam suas próprias toxinas ao queimar
reserva de gordura para produzir leite. Nenhuma orca jovem foi vista na
comunidade da costa oeste em décadas de estudos, e uma pequena
comunidade de orcas no sul da Europa somente tiveram cinco filhotes
sobreviventes entre 1999 e 2011.
A ameaça do emaranhamento
Infelizmente, a comunidade da costa oeste agora consiste em
somente oito membros, após a recente perda de uma orca fêmea para outra
significante ameaça causada por humanos: emaranhamento. Lulu, como era
conhecida pelos pesquisadores, encalhou na praia da Ilha de Tiree na
Escócia no fim de 2015 com evidências de um emaranhamento crônico ao
redor de sua cauda.
Apesar das orcas não serem uma das espécies que mais
comumente ficam emaranhadas, elas podem se ferir ou ser mortas por
cordas na água. Outra orca apareceu ano passado na Califórnia com linha e
equipamento de pesca amarrados ao redor da sua cauda; e em um incidente
memorável no verão de 2014, uma jovem orca da ameaçada comunidade que
reside no norte foi libertada de uma rede enquanto sua família esperava
ansiosamente por perto.
Plásticos, toxinas e emaranhamentos são somente algumas das
grandes ameaças para as populações de orcas ao redor do mundo, e em
muitas regiões nós ainda não sabemos o suficiente para entender os
efeitos nestas baleias emblemáticas e marcantes.
Enquanto os pesquisadores coletam informações e aprendem
mais sobre o que as orcas precisam para serem saudáveis e prosperarem,
aqui estão algumas formas de ajudar a diminuir nosso impacto no oceano:
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Reduza, reuse, recicle – diminua os produtos plásticos e embalagens – tente as sacolas reutilizáveis nas compras
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Pratique o cuidado natural do jardim e reduza seu uso de fertilizantes e pesticidas
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Pesquise de onde sua comida vem – prefira opções locais, orgânicas e amigáveis para a natureza
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Restaure – apoie os esforços para acabar com as toxinas, participe de projetos de restauração do ecossistema e de mutirões de limpeza ambiental
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Prefira produtos de limpeza e itens de cuidado pessoal ecológicos
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Trocando de produtos? Trate os produtos de limpeza como lixo tóxico e verifique na sua cidade como descarta-los.
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Clique aqui para saber como se livrar de qualquer coisa que contenha microesferas
Saiba mais sobre como o WDC ajuda baleias e golfinhos ao redor do mundo, e apoie nosso trabalho de conservação das orcas.