Os dados preliminares do sistema anual Prodes
anunciados hoje pelo vice-presidente Hamilton Mourão mostram que, pelo
quarto ano consecutivo, a taxa de desmatamento na Amazônia cresceu em
relação ao ano anterior; é o número mais alto já registrado nos últimos
12 anos.
Entre agosto de 2019 e julho de 2020, o INPE (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) registrou 11.088 quilômetros quadrados derrubados
de floresta, ou 9,5% a mais do que foi observado no período anterior.
Esse número ainda tende a subir na versão final no monitoramento, a ser
liberada no primeiro semestre de 2021.
Segundo Mourão, tal qual em 2019, 30% do desmatamento aconteceu em
florestas públicas não destinadas, áreas que não foram ainda designadas
para conservação ou uso privado e estão sob a tutela dos governos
federal e estaduais. É um sinal claro de grilagem, que exige uma ação
urgente do poder público.
Até 2018, 23% dos quase 500 mil km2 de florestas não destinadas, aproximadamente 116 mil km2,
estavam registrados irregularmente como de uso particular no Sistema
Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR). É uma tentativa de
grileiros forjarem propriedade sobre uma área invadida e buscar a
regularização.
O desmatamento acumulado, até 2018, nessas florestas públicas somava 26 mil km2, a maior parte justamente nas áreas griladas. Os dados são parte de um artigo científico publicado neste ano por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e da Universidade Federal do Pará.
“As florestas públicas não destinadas devem ser preservadas, pois
elas são fundamentais para manter o equilíbrio climático e hídrico da
Amazônia. É urgente que o desmatamento ali seja interrompido e que essas
áreas sejam protegidas”, afirma o pesquisador sênior do IPAM, Paulo
Moutinho, que estuda essas áreas. “Mas temos observado o crescimento do
desmatamento nessas florestas públicas nos últimos anos, sem que ações
efetivas sejam tomadas para coibir a invasão ilegal do erário e a
dilapidação de um patrimônio público de todos os brasileiros.”
Boa parte da ocupação das florestas não destinadas é voltada para a
especulação imobiliária. Com frequência, quem invade inicialmente vende
aquela terra, com todos os passivos ambientais, para continuar lucrando
com novas grilagens.
“As estratégias para controlar o desmatamento estão postas e
testadas. É preciso colocar em curso ações de comando e controle para
coibir a ilegalidade; destinar as florestas públicas para conservação, e
assim tirá-las do mercado; e ao mesmo tempo estimular o bom uso das
terras consolidadas e hoje abandonadas, onde é possível expandir as
atividades agropecuárias”, diz o diretor-executivo do IPAM, André
Guimarães. “Com investimento e planejamento, é possível acabar com o
desmatamento na Amazônia.”
Há décadas pesquisadores monitoram a rica biodiversidade da maior floresta tropical do mundo, a Amazônica. Mas em levantamentos recentes, cientistas da Louisiana State University (LSU) descobriram uma redução no número de aves em áreas preservadas da região, ainda intocadas pelas atividades humanas.
A queda na população se dá sobretudo para pássaros que vivem próximo
ao solo da floresta, onde buscam seus alimentos, principalmente insetos.
“Achamos que o que está ocorrendo é uma erosão da biodiversidade,
uma perda de riqueza de espécies em um lugar onde nós esperaríamos que a
biodiversidade pudesse ser mantida” diz Philip Stouffer, professor do
departamento de Recursos Naturais Renováveis da LSU e principal autor de
um artigo publicado na revista Ecology Letters.
Stouffer faz estudos de campo na Amazônia desde a década de 90.
Todavia, por volta de 2008, ele e sua equipe começaram a notar que havia
ficado mais difícil observar alguns tipos de aves. Os pesquisadores
decidiram então fazer uma análise abrangendo uma linha do tempo mais
longa, com informações que começassem ainda nos anos 80.
Depois de avaliarem os dados de 55 localidades diferentes, nos
últimos 35 anos, eles tiveram a certeza que algumas espécies de pássaros
deixaram de ser encontradas em áreas pristinas da Floresta Amazônica.
“É um conjunto de dados muito robusto de uma variedade de lugares
coletados ao longo de muitos anos. Não é apenas um acaso. Parece que
existe um padrão real e pode estar relacionado a coisas que sabemos que
estão acontecendo com as mudanças climáticas globais e estão afetando até mesmo este lugar primitivo ”, alerta Stephen Midway, um dos co-autores do artigo.
Stouffer concorda que, se os padrões desses animais estão mudando na
ausência de alteração na paisagem, isso sinaliza um aviso sério de que
simplesmente preservar as florestas não manterá a biodiversidade da mata
tropical.
Aves mais impactadas
Pesquisas preliminares apontaram o declínio no número de pássaros que
estão mais frequentemente no solo da floresta, por ser ali que
encontram suas presas.
Um exemplo é o o pinto-do-mato-carijó (Myrmornis torquata),
que busca seus alimentos embaixo de folhas, que caem das árvores. Outro
pássaro que os cientistas descobriram que se torna cada vez mais raro de
ser avistado na Amazônia é o uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus arada), que possui um dos cantos mais icônicos da floresta (na imagem que abre este post).
O pinto-do-mato-carijó
Entretanto, algumas aves, mesmo aquelas que comem insetos no chão,
não parecem ter sido afetadas. É o caso do papa-formiga-de-topete (Pithys albifrons).
Como ele se alimenta de formigas de correição, que se deslocam pelo
solo da floresta predando tudo o que encontram pela frente, o pássaro
não fica limitado a um território fixo.
Os pesquisadores americanos também notaram que as aves frugívoras,
que tem a dieta baseada em frutas, apresentaram um aumento de sua
população. Eles suspeitam que as espécies com hábitos alimentares mais
variados terão maior resiliência para sobreviver à crise climática.
“A ideia de que há mudanças até mesmo nas partes mais intocadas de
nosso planeta sem que nós as percebamos, nos mostra que precisamos estar
ainda mais atentos a estas transformações,” ressalta Stouffer.
O papa-formiga-de-topete se alimenta de frutas e pesquisadores notaram que ele continua abundante na floresta
Fotos: Philip Stouffer, LSU(abertura), Hector Bottai/Wikimedia Commons (pinto-do-mato-carijoó) e Francisco Enríquez/NBII Image Gallery/Wikimedia Commons(papa-formiga-de-topete)
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Em 2018, o Departamento de Transportes de Utah, nos Estados Unidos, decidiu construir uma passarela para animais
sobre uma rodovia interestadual que passa pelo Canyon de Parsley. O
estado fica numa região montanhosa, com uma diversidade enorme de
espécies vivendo em suas florestas. Mas muitos eram atropelados ao
tentar cruzar esse trecho da estrada.
Inicialmente, previa-se que levaria alguns anos para que os animais
se acostumassem com a nova travessia e começassem a utilizá-la. Todavia,
câmeras revelaram que o viaduto é um enorme sucesso e uma quantidade enorme de bichos o usa diariamente.
Recentemente, o Utah Division of Wildlife Resources,
órgão que cuida da vida selvagem no estado, divulgou em suas redes
sociais um vídeo em que mostra os animais atravessando a passarela:
aparecem veados, ursos, pumas, raposas…
Passarelas para travessias de animais têm se revelado uma ótima solução para evitar o atropelamento de animais.
No ano passado, escrevi sobre um viaduto gigantesco
que estava sendo construído em Los Angeles na US Highway 101. Com um
custo de US$ 87 milhões, o corredor vai conectar áreas da cadeia de
montanhas Santa Mônica. A abertura da passarela, que tem aproximadamente
60 metros e terá ao longo dela vegetação e árvores nativas, está
prevista para 2023. Ela ficará acima de dez pistas da rodovia, por onde
passam, diariamente cerca de 300 mil veículos. O principal objetivo é
proteger o cougar, um leão das montanhas (leia mais aqui).
No Brasil, um projeto semelhante foi feito para preservar uma espécie simbólica do país, o mico-leão-dourado. Conforme mostramos nesta outra reportagem, várias passagem de fauna foram erguidas ao longo da BR-101, no Rio de Janeiro, região onde ficam áreas de preservação que são habitat desse primata.
Pela extensão de proximadamente 80 km da estrada, foram colocados 15 túneis subterrâneos, passagens de copa (passarela que liga copas de árvores) e
viadutos – o primeiro deles já está pronto, o segundo será viabilizado
após a concessionária, a Autopista Fluminense, se certificar da
eficiência do projeto.
Segundo o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas
(CBEE), 15 animais morrem atropelados, a cada segundo, no Brasil. Por
dia, o número chega a quase 1,3 milhão. E por ano, o resultado final
fica próximo de 475 milhões.
Um urso flagrado usando a passarela construída em Utah
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Ele é especialista em regeneração das florestas e conhece cada
espécie que vive entre os troncos e galhos. Com uma lata de spray,
identifica as árvores em risco de queda que precisam ser derrubadas,
assim como as que devem permanecer fortes e saudáveis no futuro e as que
pássaros usam para fazer ninhos. O Förster – guarda florestal alemão – tem a missão de proteger as florestas e os animais que nelas habitam.
Alguns ainda mantêm o tradicional modo de se vestir ao desbravar a
floresta: uma jaqueta verde, um chapéu com pena e uma espingarda nas
costas. A profissão com raízes na Idade Média exige conhecimentos
complexos, de conservação florestal à economia.
O responsável pelas florestas estatais da Alemanha não está focado no
lucro com a venda de madeira. Mais do que ter habilidades para ver
oportunidades de negócios, o Förster é, acima de tudo, um ambientalista preocupado em promover a diversidade de espécies e manter o equilíbrio da natureza.
Muitos guardas florestais também têm habilidades de caça. Eles
precisam saber quais animais podem ameaçar árvores jovens e controlar o
número de populações. O cão é um amigo fiel do Förster nas andanças pelas florestas. O companheiro encontra animais feridos e identifica esconderijos.
A profissão de guarda florestal tem uma antiga tradição na Alemanha.
Na Idade Média, os chamados guardiões florestais tinham como uma de suas
funções a de proteger as árvores de ladrões de madeira.
Além de conhecer a alma da floresta, o Förster precisa ter
conhecimentos em direito civil e florestal e administração. Na verdade,
na maior parte do tempo, o guarda florestal fica no escritório. É
preciso fazer relatórios sobre a implementação de diretrizes da União
Europeia (UE) e gerenciar corte e venda da madeira, entre outras
funções.
Para se tornar Förster, é necessário ter formação acadêmica
em ciências florestais ou ensino técnico em engenharia florestal. Entre
as disciplinas obrigatórias estão botânica, zoologia e climatologia. As
mulheres ainda estão subrepresentadas nessa profissão clássica.
Árvores de ginkgo quase foram extintas, mas esses ‘fósseis vivos’ se salvaram
Essas primitivas árvores perduraram por cerca
de 200 milhões de anos até seu desaparecimento quase completo.
Atualmente, elas adornam paisagens urbanas.
NAS RUAS de Manhattan e Washington, D.C., nos EUA, em bairros de Seul e parques em Paris, as árvores de ginkgo perdem gradualmente as folhas amarelo-vivas após a primeira onda de ar frio do inverno.
Todos os anos, essa queda das folhas, inicialmente gradual e depois
súbita, forma um tapete de folhas douradas em formato de leque sobre as
ruas. Contudo, no mundo todo,
os cientistas estão documentando evidências desse fenômeno cada vez mais
tardio, uma possível indicação das mudanças climáticas.
“Quando nos perguntavam: ‘quando será possível ver o auge das cores
de gingko?’, nossa resposta era 21 de outubro”, conta David Carr,
diretor da Fazenda Experimental Blandy da Universidade da Virgínia, que
abriga o Bosque de Ginkgos, um viveiro com mais de 300 árvores de ginkgo.
Carr, que estuda o Bosque de Ginkgos desde 1997, afirma que a
tendência de outonos mais quentes e as mudanças tardias na coloração das
folhas são nítidas. “Atualmente, a mudança de cores ocorre no fim de
outubro ou na primeira semana de novembro.”
Mas não é a primeira vez que espécies antigas enfrentam grandes
mudanças climáticas. E a história das ginkgos não é aquela velha
história conhecida de destruição da natureza pela ação humana.
Por meio dos fósseis encontrados na Dakota do Norte, os cientistas sabem que a espécie Ginkgo biloba existe
em sua forma atual há 60 milhões de anos e possui ancestrais
geneticamente semelhantes que remontam a 170 milhões de anos no Período
Jurássico.
Ao longo de sua existência de quase 200 milhões de anos, “foram
gradualmente reduzidas. Quase foram extintas. Seu ressurgimento se deve a
sua associação com humanos”, afirma Peter Crane, autor do livro Gingko e um dos maiores especialistas mundiais em ginkgo.
A União Internacional para a Conservação da Natureza, organização que
monitora a sobrevivência das espécies da Terra, classifica a árvore
como ameaçada de extinção na natureza. Acredita-se que existam apenas
esparsas populações na China. Quando alguém anda sobre o tapete de
leques dourados espalhados sobre uma calçada escurecida pela chuva no
outono, tem um encontro próximo com algo raro: uma espécie resgatada do
esquecimento pelos humanos e dispersada pelo mundo. É “uma ótima
história evolucionária”, conta Crane, “e também uma ótima história
cultural”.
A última da família
Atualmente na Terra existem cinco tipos diferentes de plantas que
produzem sementes: plantas floríferas, as mais abundantes; coníferas,
plantas com estruturas cônicas; gnetáceas, um grupo diversificado
formado por cerca de 70 espécies, como arbustos do deserto, árvores
tropicais e trepadeiras; cicadáceas, outro grupo primitivo de árvores
semelhantes a palmeiras — e a solitária ginkgo. Na família ginkgoácea do
reino vegetal, há apenas uma espécie viva: a Ginkgo biloba.
Os cientistas acreditam que já existiram inúmeras espécies distintas de ginkgo. Plantas fossilizadas
encontradas em uma mina de carvão na região central da China datadas de
170 milhões de anos atrás revelam árvores semelhantes à ginkgo com
apenas discretas variações no formato das folhas e no número de
sementes.
É comum descrever a espécie como um fóssil
vivo — uma categoria que também inclui caranguejos-ferradura e
samambaias-reais, entre outros — porque é uma sobrevivente de um grupo
anteriormente diversificado que existiu há milhões de anos. Devido à sua
antiguidade, a ginkgo conserva características raramente observadas nas
árvores mais modernas.
As árvores de ginkgo são masculinas ou femininas e se reproduzem
quando um gameta de uma árvore masculina, carregado por grãos de pólen
transportados pelo vento, se conecta a uma semente de uma árvore
feminina e a fertiliza, de modo bem semelhante ao processo da
fertilização humana. Também há sinais de possíveis mudanças de sexo, de
árvores machos para fêmeas. O fenômeno é raramente observado em ginkgos e
não é totalmente compreendido, mas acredita-se que os machos às vezes
produzam ramos femininos como um sistema de segurança para garantir a
perpetuação da espécie.
Uma teoria indica que o declínio das espécies de ginkgo no
mundo começou há 130 milhões de anos, com o início da diversificação e
proliferação das plantas floríferas. Na atualidade, existem mais de 235
mil espécies de plantas floríferas. Sua evolução e proliferação
ocorreram em um ritmo acelerado porque crescem mais rápido e produzem
frutos para atrair herbívoros e pétalas para atrair mais
polinizadores do que as ginkgos.
“É possível que as ginkgos tenham sido deixadas para trás ao competir com plantas mais modernas”, explica Crane.
Já em plena competição por sua sobrevivência, as ginkgos começaram a
desaparecer da América do Norte e da Europa durante a Era Cenozoica, uma
época de resfriamento global iniciada há cerca de 66 milhões de anos.
Ao fim da última Era do Gelo, há 11 mil anos, as sobreviventes restantes
ficaram relegadas à China.
Adoção humana
Árvores
de ginkgo são famosas por seu mau cheiro. As fêmeas produzem sementes
com uma camada carnosa externa que contém ácido butírico, com odor
característico igual ao vômito humano.
Quanto ao motivo de terem desenvolvido um mau cheiro tão forte, Crane
esclarece: “acredito que eram consumidas por animais que apreciavam
esses odores. Após o consumo, as sementes passavam pelo intestino e
germinavam”.
Essas mesmas sementes podem ter contribuído para que a ginkgo fosse
apreciada por humanos há mil anos. Após a retirada da camada externa, o
sabor das sementes de ginkgo lembra o pistache. Muito tempo após o
desaparecimento dessas árvores
em outros locais, as pessoas na China devem ter começado a plantá-las e
se alimentar de suas sementes, presume Crane (as sementes de ginkgo são
comestíveis somente após a remoção da camada externa tóxica).
Acredita-se que a planta tenha sido levada à Europa por Engelbert
Kaempfer, naturalista alemão, após uma viagem ao Japão no fim do século
17, quando se supõe que tenha adquirido ginkgos da China. Atualmente, a
ginkgo é uma das árvores mais comuns ao longo da Costa Leste dos Estados
Unidos. Aparentemente, é resistente a insetos, fungos e altos níveis de
poluição atmosférica e possui raízes capazes de se desenvolver sob o
concreto.
A espécie foi considerada extinta na natureza até o início do século
20, quando uma população supostamente não domesticada foi encontrada no
oeste da China. Um artigo publicado em 2004 contestou essa versão e
sugeriu que as árvores
haviam sido cultivadas por antigos monges budistas — mas também que
outros refúgios de ginkgo podem ser encontrados no sudoeste do país.
Posteriormente, em 2012, um novo artigo citou evidências de que de
fato existia uma população silvestre nas montanhas Dalou, no sudoeste da
China.
“Acredito que possam existir também algumas populações silvestres de
ginkgo em refúgios na China subtropical. Mas é preciso explorar mais”,
afirma Cindy Tang, ecologista da Universidade de Yunnan e autora do
artigo de 2012. Essas populações silvestres são um possível tesouro rico
em diversidade genética para o melhoramento genético das espécies
domesticadas.
No entanto Crane não está preocupado com seu futuro: a popularidade
da espécie contribuirá para sua sobrevivência. “Embora sua situação na
natureza seja atualmente precária e de difícil acesso, é uma planta que
dificilmente será extinta”, afirma Crane.
De acordo com o World Green Building Council, a iluminação, o aquecimento e o resfriamento de edifícios são responsáveis por cerca de 28% do CO₂ global.
Isso porque, o aquecimento e o resfriamento de edifícios são
alimentados principalmente por carvão, óleo e gás – Na Europa, cerca de
75% dessa necessidade energética vem de combustíveis fósseis.
Durante décadas, os pesquisadores vêm tentando apresentar ideias para aumentar a eficiência do resfriamento e do aquecimento.
Uma série de tintas reflexivas foram desenvolvidas para o exterior de
casas e escritórios que refletem a luz solar e reduzem as temperaturas
internas.
Até o momento, nenhum desses produtos foi capaz de desviar os raios
do Sol o suficiente para tornar a temperatura do prédio mais baixa do
que as condições ambientais.
Agora, pesquisadores nos EUA afirmam ter desenvolvido uma tinta branca com fortes propriedades de resfriamento.
“Em um experimento em que colocamos uma superfície pintada do lado de
fora sob a luz direta do sol, a superfície resfriou 1,7 °C abaixo da
temperatura ambiente e durante a noite resfriou até 10 °C abaixo da
temperatura ambiente”, disse o Prof Xiulin Ruan, da Universidade de
Purdue em Indiana , que é o autor do estudo.
“Esta é uma quantidade
significativa de energia de resfriamento que pode compensar a maioria
das necessidades de ar condicionado para edifícios típicos.”
Então, como funciona a nova pintura?
De acordo com os pesquisadores, a chave foi adicionar carbonato de cálcio à mistura.
Os cientistas descobriram que usando altas concentrações dessa
substância calcária, com diferentes tamanhos de partículas, eles foram
capazes de desenvolver um produto que refletia 95,5% da luz solar.
“A luz solar é um amplo espectro de comprimentos de onda”, disse o professor Xiulin Ruan.
“Sabemos que cada tamanho de
partícula pode espalhar apenas um comprimento de onda de forma eficaz,
então decidimos usar diferentes tamanhos de partícula para espalhar
todos os comprimentos de onda. Este é um contribuidor importante,
resultando em uma refletância muito alta.”
Os pesquisadores afirmam que a tinta pode ter uma ampla gama de
aplicações – principalmente em centros de processamento de dados, que
exigem grande refrigeração.
Como a pintura não tem componentes metálicos, é improvável que
interfira nos sinais eletromagnéticos, a tornando adequada para resfriar
equipamentos de telecomunicações.
Há uma série de etapas a serem seguidas antes que este produto esteja
disponível comercialmente, pois ele precisa ser testado quanto à sua
confiabilidade e eficiência de longo prazo.
Mas os pesquisadores estão otimistas; patentes foram registradas e há grande interesse dos principais fabricantes.
Os detalhes da nova abordagem foram publicados na revista Cell Reports Physical Science.
Fonte: BBC News / Matt McGrath
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
PF faz operação para prender suspeito de desmatar, queimar, lotear e vender glebas de Terra Indígena em Rondônia
Operação Kawyra foi deflagrada nesta
quarta-feira (2). Crimes ocorriam dentro da Terra Indígena (TI)
Karipuna, distrito de União Bandeirantes, em Porto Velho.
A Polícia Federal (PF) realiza uma operação, nesta quarta-feira (2), para prender um suspeito de desmatar, queimar, lotear e vender glebas ilegalmente dentro da Terra Indígena (TI) Karipuna, distrito de União Bandeirantes, em Porto Velho.
A operação,
chamada de Kawyara, visa cumprir um mandado de busca e apreensão e um
de prisão preventiva, ambos expedidos 3ª Vara da Justiça Federal.
Segundo a PF, o alvo do mandado de busca de prisão é um dos
principais suspeitos de invadir a TI Karipuna. O nome do suspeito não
foi divulgado.
O nome da operação, Kawyra, tem origem na língua indígena
Karipuna e significa “floresta”. O alvo da operação nesta quarta-feira,
caso seja localizado, será ouvido na sede da PF e depois levado ao
sistema prisional estadual da capital.
A floresta tropical
mais quente do mundo não está localizada na Amazônia nem em nenhum
outro local previsível, mas dentro da Biosfera 2, instalação
experimental de pesquisa científica no deserto perto de Tucson, no
Arizona. Um estudo recente de árvores tropicais plantadas nesse local no
início da década de 1990 gerou um resultado surpreendente: as árvores
resistiram a temperaturas mais elevadas do que qualquer temperatura prevista para as florestas tropicais neste século.
O estudo se soma a um número crescente de descobertas que estão
proporcionando aos cientistas especializados em florestas algo que está
em falta ultimamente: esperança. As plantas podem dispor de recursos
inesperados que facilitam sua sobrevivência — e talvez até lhes assegure
um bom desenvolvimento — em um futuro mais quente e repleto de carbono.
E embora as florestas tropicais ainda enfrentem ameaças humanas e
naturais, alguns pesquisadores acreditam que as conclusões assustadoras
de seu declínio iminente devido às mudanças climáticas podem ter sido exageradas.
“A vida é engenhosa”, afirma Scott Saleska, ecologista da
Universidade do Arizona em Tucson e um dos líderes do estudo da Biosfera
2. “É muito mais engenhosa do que as representações de nossos atuais
modelos.”
Nos últimos anos, foi publicada uma infinidade de relatórios alarmantes sobre florestas e os efeitos das mudanças climáticas
sobre elas. Os cientistas anunciaram que a floresta amazônica não é
mais um sumidouro de carbono confiável; a floresta amazônica pode estar
se aproximando de um ponto crítico; florestas tropicais em todo o mundo
já se aproximam das temperaturas mais altas toleradas por elas e as mudanças climáticas está matando árvores antigas.
Um ponto é incontestável: nossas emissões de combustíveis fósseis
estão criando um clima inédito à humanidade e não vivenciado pelas
árvores há muito tempo. “Estamos aquecendo as florestas tropicais a
temperaturas inexistentes desde o Cretáceo — desde a época dos
dinossauros”, afirma Abigail Swann, ecologista e cientista climática da
Universidade de Washington em Seattle.
Mas é difícil prever qual será a reação das árvores. Submeter
florestas inteiras a um experimento de simulação de um futuro mais
quente é uma tarefa dispendiosa e logisticamente complexa. A maioria dos
cientistas foi obrigada a traçar extrapolações a partir de experimentos
em pequena escala ou observações de campo, muitas vezes recorrendo a
modelos de computador para realizar projeções sobre as próximas décadas.
Uma instalação singular
A Biosfera 2 ofereceu uma rara oportunidade para testar o clima em
uma floresta em tamanho real. Embora mais conhecida pelas equipes que
ficaram isoladas no local entre 1991 e 1994, a instalação também abriga
ecossistemas artificiais. Entre eles está uma floresta tropical
com cerca de dois mil metros quadrados dentro de uma estrutura feita de
vidro em formato de pirâmide cujo ponto mais elevado ergue-se a uma
altura de 30 metros do solo do deserto. As copas das árvores plantadas
no local no início da década de 1990 atualmente tocam o teto.
As temperaturas no interior da estrutura ultrapassam as temperaturas
previstas até mesmo para a Amazônia — a floresta tropical mais quente
do mundo — neste século. Sob essas condições sufocantes, as plantas de
estudos anteriores ao ar livre quase interromperam a fotossíntese, o
processo bioquímico utilizado pelas plantas para transformar o dióxido
de carbono em açúcares simples para obter energia.
Os dados sobre o crescimento das árvores sob diferentes condições
ambientais foram registrados no início da década de 2000 e armazenados
em servidores e discos rígidos. Marielle Smith, ecologista e
pós-doutoranda na Universidade Estadual de Michigan, considerou esses
registros uma rara oportunidade de estudar uma floresta em um clima
futuro.
Seu objetivo era analisar os efeitos de duas variáveis relacionadas: a temperatura e o déficit de pressão de vapor ou VPD (na sigla em inglês) — ou seja, a diferença entre a quantidade de água que o ar pode reter e quanto de fato retém em um determinado local e período. Quando o VPD é alto, as plantas perdem água mais rápido.
Normalmente, o aumento do VPD acompanha a temperatura porque o ar
quente retém mais umidade. Contudo, na Biosfera, os pulverizadores
mantinham o ar úmido, criando uma rara combinação de calor intenso e VPD
baixo. O teor de CO2 se manteve estável em pouco mais de 400 partes por
milhão, apenas discretamente acima do que no ar exterior naquela
ocasião.
O ritmo de fotossíntese das árvores da Biosfera permaneceu igual até
as temperaturas atingirem cerca de 38 graus Celsius, conforme publicado
por Smith e seus colegas no mês passado no periódico Nature Plant.
Por outro lado, em florestas naturais no Brasil e no México, o ritmo de
fotossíntese despencou a partir de apenas 28 graus Celsius.
Segundo Smith e outros especialistas, o resultado é um grande golpe
na teoria difundida de que o calor intenso interrompe a fotossíntese — a
noção de que o processo seria diretamente desativado.
No entanto tudo indica que as altas temperaturas
prejudicam a vegetação indiretamente com o aumento do VPD e, em seguida
com a elevação da aridez do ar. As folhas das plantas absorvem dióxido
de carbono por meio de células foliares com uma cavidade, denominadas
estômatos, mas essas células também liberam água — até 300 moléculas de
água para cada molécula de CO2 que entra. Quando o VPD
aumenta em resposta a uma elevação na temperatura, as plantas fecham os
estômatos para reter a água que lhes é vital, ainda que essa ação lhes
obrigue a renunciar a seu alimento.
No mundo real, não são apenas as temperaturas que estão aumentando, o
dióxido de carbono também está subindo rapidamente. Isso pode ajudar a
proteger as plantas do calor: no futuro quente e com alto teor de CO2, os estômatos podem absorver dióxido de carbono e, em seguida, fechar-se para conservar água, afirma Smith.
“É um resultado de certa forma animador, e não é sempre que obtemos
resultados desse tipo”, conta Laura Meredith, ecologista da Universidade
do Arizona que lidera pesquisas sobre a floresta tropical
da Biosfera 2, mas que não participou do estudo. “É uma ótima notícia a
existência de estratégias de adaptação e manutenção da eficiência das
florestas.”
Smith admite, entretanto, que ainda há “um grande porém”: o experimento da Biosfera 2 não incluiu altos teores de CO2,
portanto, não foi possível provar que de fato o gás será utilizado
pelas plantas para conservar água. “Ainda não se sabe se esse mecanismo
poderia realmente existir”, ressalta ela.
Mais CO2? Ótimo.
Pesquisadores no Panamá estão avançando nos estudos e testando se
elevados teores de dióxido de carbono de fato protegem as plantas do
calor. Até o momento, a resposta parece ser um sim com algumas
ressalvas.
O botânico Klaus Winter construiu seis cúpulas geodésicas na estação
de pesquisa do Instituto Smithsoniano de Pesquisa Tropical perto do
Canal do Panamá. As cúpulas de Winter são muito menores do que as da
Biosfera 2 e abrigam apenas árvores pequenas, porém dispõem de controle
de temperatura e de dióxido de carbono. No estudo apresentado em
encontros científicos, mas ainda não publicado, ele concluiu que, sob temperaturas
acima das previstas para este século, plantas com bastante irrigação e
abundância de dióxido de carbono apresentam um bom desenvolvimento. O
crescimento de uma espécie, o pau-de-balsa, até disparou.
O experimento não testa diretamente o mecanismo proposto por Smith, mas confirma que algumas árvores podem suportar altas temperaturas se receberem um grande volume de CO2 — e água, afirma Winter. “As árvores são menos suscetíveis do que esperado.”
Martijn Slot, colega de Winter, investigou uma questão paralela:
seriam as plantas capazes de se adaptar a temperaturas maiores? Cada
planta possui uma faixa de temperatura ideal, identificada pelos
pesquisadores por meio de sensores de gás para medir a fotossíntese na
folha conforme é aumentada a temperatura.
Slot constatou que é alcançada a fotossíntese ideal quando as mudas
são cultivadas a 25 graus Celsius. Mas quando foi aumentada a temperatura
para 35 graus Celsius, esse ponto ideal passou para cerca de 30 graus
Celsius. A capacidade das plantas de adaptar sua fisiologia interna é um
exemplo de “plasticidade”, cada vez mais observada como uma defesa
botânica contra a mudança das condições.
“Considerar a reação das plantas às condições ambientais como sendo
estática e rígida leva a previsões imprecisas ou provavelmente
equivocadas”, esclarece Slot. “A plasticidade deve ser considerada” em
modelos de computador que geram as previsões climáticas.
Outro indício recente de resistência oculta vem do campo. Flavia Costa,
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em Manaus, no
Brasil, analisou 20 anos de dados obtidos em lotes das florestas
brasileiras monitoradas. Foram incluídas florestas em planícies com
acesso fácil a lençóis freáticos, o que lhes proporcionava plena
irrigação, assim como as plantas de Winter. A equipe de Costa constatou
que essas florestas com “lençóis freáticos superficiais”, que compõem,
segundo estimativas, mais de um terço de toda a Amazônia, se
desenvolveram sem alterações e continuaram absorvendo carbono durante
estiagens severas em 2005, 2010 e 2015.
Artigos anteriores alertaram que as secas provocadas pelo clima e as
taxas de crescimento e mortalidade acelerados das árvores estavam
eliminando a vegetação e prejudicando a capacidade da floresta amazônica
de continuar atuando como sumidouro de carbono. Se as florestas úmidas
em toda a Amazônia são tão resistentes quanto as dos lotes pesquisados,
“a perda de produtividade e o aumento da mortalidade estão provavelmente
superestimados”, presume Costa.
Oliver Phillips, cientista ambiental da Universidade de Leeds que
lidera uma das principais redes de pesquisa da Amazônia, concorda que
florestas úmidas e de planícies parecem ser mais resistentes à seca do
que as demais. Mas seus estudos analisam apenas essas florestas e ele
não sabe se adicionar outras mudaria drasticamente as conclusões.
Atualmente, ele e Costa estão conduzindo uma análise conjunta dos dados
dos lotes a fim de obter maior representatividade das florestas
amazônicas.
Mas há um problema
Todos esses estudos possuem ressalvas e advertências.
Futuramente, as florestas podem enfrentar secas ainda mais severas do
que qualquer outra já existente, o que pode afetar até mesmo as
florestas úmidas em planícies que resistiram até hoje, afirma Costa. Por
outro lado, os estudos que simulam florestas procuram reproduzir a
diversidade impressionante de florestas tropicais reais, que poderiam
abrigar tanto árvores especialmente vulneráveis quanto mecanismos de
resistência ainda não descobertos, acrescenta ela. Apenas a Amazônia
contém cerca de 16 mil espécies de árvores, muito mais do que as
representadas na Biosfera 2, nas cúpulas de Winter e em qualquer modelo
de computador.
Além disso, as plantas de Winter ainda são novas e ele as mantém com
irrigação constante. É possível que seu desenvolvimento não seja o mesmo
durante estiagens — algo que Winter planeja estudar em suas cúpulas
assim que forem suspensas as restrições devido ao coronavírus.
Para Nate McDowell, cientista da Terra no Laboratório Nacional do
Noroeste do Pacífico em Richland, Washington, que alertou, no início
deste ano, na revista científica Science que as mudanças climáticas
já estão reduzindo o crescimento das árvores e o armazenamento de
carbono, os resultados de Smith são “animadores”, mas uma pergunta
importante permanece sem resposta: o dióxido de carbono elevado poderá
mesmo ajudar as plantas a suportar o ar mais seco previsto futuramente?
“É uma ótima questão científica”, afirma McDowell — “uma questão
científica urgente”.
Ainda que um alto teor de CO2 mantenha as plantas vivas, é
possível que sua reação ao calor reduza a altura das plantas, mas
deixe-as mais resistentes, acrescenta Smith, tornando os estudos dela e
de McDowell possivelmente complementares e não contraditórios. Aliás, a
floresta da Biosfera 2 passou por alterações ao longo de suas três
décadas, talvez devido às condições extremas enfrentadas. As árvores
nessa instalação que produzem uma substância química denominada
isopreno, que parece contribuir com a fotossíntese sob altas temperaturas, sobreviveram mais do que aquelas que não produziram a substância: uma mudança que envolve implicações ainda desconhecidas.
“Podemos estar inadvertidamente construindo uma Amazônia mais
resistente”, afirma Smith, “mas que talvez não seja capaz de armazenar a
mesma quantidade de carbono”.
“Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas –
é de poesia que estão falando”.
Manoel de Barros (1916-2014)
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate]
O documentário “Solo Fértil” (“Kiss the Ground”) da Netflix, narrado
pelo ator Woody Harrelson e tendo a modelo brasileira Gisele Bündchen
como produtora-executiva, faz uma denúncia da agricultura química e
industrial e da pecuária de confinamento, que degradam os solos e
aceleram a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, tudo isto,
agravando o fenômeno do aquecimento global. Mas o documentário apresenta
uma alternativa esperançosa de uma agropecuária regenerativa, que
sequestra e armazena o dióxido de carbono em vez de liberar e acumular
CO2 na atmosfera.
O
filme começa examinando como o cultivo e o uso de fertilizantes
químicos e pesticidas levaram à erosão do solo e, em seguida, traça os
danos causados à nossa ecologia, saúde e clima.
Em
contraposição, o documentário mostra uma solução alternativa, com base
na agricultura regenerativa, uma prática ética projetada para restaurar
terras degradadas e facilitar a retirada de carbono.
Viajando
ao redor do mundo, os diretores frequentemente empregam a justaposição
de imagens para mostrar a beleza da saúde do solo. Em Dakota do Norte,
um fazendeiro regenerativo fica na fronteira entre sua exuberante área
cultivada e as terras desertas de seu vizinho. Imagens impressionante do
Platô Loess, na China, mostram como as áreas degradadas e desérticas
foram completamente reavivadas depois dos métodos restauradores,
transformando as nuvens de poeira em quase um Jardim do Éden.
Usando
o conceito de bioeconomia, o documentário defende, em vez de fontes
fósseis para a produção agrícola, o uso de recursos biológicos
renováveis e a regeneração do solo como forma de revigorar a vida e de
retirar carbono da atmosfera.
Sequências
pedagógicas sobre ciência e agricultura são pontuadas por perfis curtos
de celebridades envolvidas no ativismo climático, incluindo Jason Mraz,
Patricia Arquette e Ian Somerhalder e servem para fundamentar o
documentário enquanto se alterna de um tópico para outro. O lançamento
do documentário “Kiss the Ground” semanas antes da eleição presidencial
americana, mesmo sem citar Donald Trump, serviu para denunciar a
ausência dos EUA das iniciativas climáticas sem citar nomes. A
administração Trump aparece como o elefante na sala.
A
despeito de toda a denúncia apresentada, o filme defende, de forma
persuasiva e otimista, o poder de cura do solo, argumentando que sua
capacidade de sequestrar carbono pode ser a chave para reverter os
efeitos das mudanças climáticas.
Os
problemas discutidos no filme “Kiss the Ground” estão em sintonia com o
relatório “Climate Change and Land”, do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, publicado no dia 08 de agosto de
2019, onde aborda a relação entre o uso da terra e seus efeitos sobre a
mudança climática. O IPCC mostra que os solos têm se aquecido duas vezes
mais rápido que o Planeta. A Terra como um todo aqueceu apenas 0,87º
Celsius (em relação à média do século XX), enquanto a parte terrestre do
Planeta aqueceu 1,5º Celsius e pode chegar a 3 graus Celsius
rapidamente. Mais de 70% da terra sem gelo do planeta já é moldada pela
atividade humana. À medida que as árvores são derrubadas e as fazendas
tomam seu lugar, essa terra gerada por humanos emite cerca de um quarto
da poluição global por gases do efeito estufa a cada ano, incluindo 13%
de dióxido de carbono e 44% do metano.
O relatório do IPCC relacionou o crescimento
da população mundial e o aumento do consumo per capita de alimentos
(ração, fibra, madeira e energia) ao aumento sem precedentes do uso de
terra e da água doce para a produção comida. O aumento da produção e
consumo de alimentos contribuíram para o aumento das emissões líquidas
de gases de efeito estufa (GEE), perda de ecossistemas naturais e
diminuição da biodiversidade. Ou seja, para alimentar um número
crescente de humanos toda a base natural do Planeta tem sido danificada
ou destruída.
A
humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e o mundo
precisa de um decrescimento demoeconômico para colocar as atividades
antrópicas dentro da biocapacidade do Planeta. Isto é inegável e
urgente.
Mas
o que o documentário “Solo Fértil” mostra é que ter uma agricultura e
uma pecuária fundamentadas na regeneração do solo é uma possibilidade de
produzir alimentos de forma sustentável e sem agravar as mudanças
climáticas. Como se diz, o sonho que se sonha junto pode se transformar
em realidade.
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