quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

São Francisco ameaçado

 



por , Amazônia Real –

 
O desastre de Brumadinho – com 60 mortos e 292 desaparecidos, segundo a contabilidade oficial – já é o maior em perdas humanas da história da mineração no Brasil, talvez do mundo também. Mas a de Mariana é a maior enquanto agressão à natureza de todos os tempos.


De fato, o rompimento da barragem da Samarco, em novembro de 2015, provocou o transbordamento de mais de 50 milhões de metros cúbicos (50 bilhões de litros), enquanto a tragédia de Brumadinho despejou 12 milhões de metros cúbicos, quatro vezes menos.


Outro agravante seria a extensão da contaminação. A lama que saiu da barragem de fundão percorreu 830 quilômetros até chegar ao mar, contaminando e espalhando destruição pelo vale do rio Doce, que já foi um dos mais ricos do Brasil.


A lama que foi vertida pelo desmoronamento da barragem do córrego do Feijão está a 46 quilômetros do seu ponto de lançamento e poderia chegar, no máximo, 310 quilômetros além, pelo rio Paraopeba, um dos mais importantes de Minas Gerais.


A massa passará pela termelétrica Igarapé, no quilômetro 46, mas deverá ser retida na represa da usina do Retiro Baixo, 310 quilômetros abaixo. Segundo os cálculos oficiais, o reservatório crescerá quatro metros quando estancar o deslocamento dos resíduos da mineração de ferro. Ainda terá dois metros de folga para manter a contenção, impedindo que o material transborde pela barreira de concreto e avance sobre o rio São Francisco até a usina de Três Marias, a maior de todas.


Esse roteiro já é suficientemente trágico para que se lamente o mal causado. Mas há um risco não abordado pela versão apresentada pelo governo, que se restringiu à ameaça de transbordamento (sem observar que, diante da inevitabilidade dessa hipótese, a outra seria a abertura das comportas da represa).


A pressão sobre a parede de concreto não será de uma massa líquida, mas de uma descarga sólida, muito pesada, à base de terra e rejeito de minério de ferro. Qual o acréscimo de pressão nesse caso? A estrutura de concreto, projetada para determinado volume de vazão líquida da bacia do Paraopeba naquele ponto, estará em condições de suportar a vazão sólida decorrente do rompimento de uma barragem do porte da que se rompeu, 350 quilômetros rio acima, num terreno com acentuado declive?


Dos cálculos necessários para que se chegue a esta resposta é que se pode deduzir o grau da ameaça sobre o São Francisco, o famoso e maltratado rio da integração nacional. (#Envolverde)


A fotografia de destaque deste artigo é do desastre socioambiental em Brumadinho, Minas Gerais.
(Foto: Presidência da República/Divulgação)

Tartarugas da Amazônia ganham mais uma chance de sobrevivência na Rebio do Rio Trombetas




A temporada 2018 de solturas de Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) terminou com uma grande celebração, na Reserva Biológica (Rebio) do Rio Trombetas, no Pará. Comunidades locais, profissionais e parceiros do Projeto Quelônios do rio Trombetas (PQT), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, reuniram-se no lago Jacaré para soltura de 5.050 tartarugas, as últimas que nasceram ainda no ano passado.


Ao todo, em 2018, foram soltas no rio 27.862 tartarugas-da-Amazônia, devido os esforços de 27 famílias moradoras da Rebio, que atuam como monitoras da biodiversidade nesta Unidade de Conservação.


O ICMBio trabalha para a proteção dos quelônios na região há quase 40 anos, por meio de um projeto que monitora as tartarugas do rio Trombetas e busca dar a elas uma maior chance de sobrevivência. Desde 2003, o projeto teve o nome renovado para PQT e incluiu o componente de educação e participação social por meio da aproximação dos gestores da UC com a comunidade local, que possui forte ligação cultural com os quelônios.


O convívio com as tartarugas-da-Amazônia é passado de geração para geração, assim como o consumo era bastante comum entre os moradores da margem do Trombetas. Hoje, porém, a tartaruga-da-Amazônia encontra-se em risco de extinção devido principalmente à caça ilegal de ovos e de tartarugas para fins de comercialização.



A Reserva Biológica do Rio Trombetas, de 407.759,21 hectares (mais de 4 mil quilômetros quadrados), foi criada em 1979, com a prioridade de assegurar a proteção da tartaruga-da-Amazônia, já que era a área com maior registro de fêmeas desse quelônio no bioma. Entretanto, segundo dados levantados pelo ICMBio, no decorrer dos anos percebeu-se que a população de filhotes de tartaruga diminuiu de 600 mil para 30 mil, conta Carolina Marcondes Moura, coordenadora do PQT.


 “A área era a que tinha maior concentração de fêmeas de tartarugas-da-Amazônia. Desovavam entre cinco a oito mil fêmeas a cada temporada, no final da década de 70. O monitoramento começou quando houve a criação da Rebio e da Flona (Floresta Nacional Saracá-taquera), estabelecidas após a instalação da mineradora MRN (Mineração Rio do Norte), que faz a exploração de bauxita na região”, disse.



Em 2017, o IPÊ passou a ser um dos parceiros da iniciativa, por meio do projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade, presente em mais 16 UCs da Amazônia,  junto com o ICMBio, realizando capacitações e mobilizações das comunidades pela conservação da fauna e da flora no bioma.


Com o PQT, o IPÊ atua efetivamente como incentivador e promotor de capacitação, buscando melhorar e facilitar o monitoramento das tartarugas pelas famílias. Assim como nas outras UCs, os levantamentos sobre a biodiversidade são feitos pelos comunitários, seguindo um protocolo estabelecido pelo ICMBio para que os dados possam ser utilizados de maneira eficiente, visando à conservação.


“O protocolo é uma padronização de coleta de dados. Pretende-se que seja efetuada igualitariamente por todos os participantes do monitoramento . Em 2018, fizemos com o IPÊ o primeiro curso de capacitação com as famílias que monitoram as tartarugas. A ideia é que possamos melhorar o sucesso de eclosão de ovos dos ninhos e também facilitar aos monitores a forma de registro dessas observações. Na capacitação também foi discutido não só como os ovos devem ser coletados, como também a forma de acompanhar a eclosão e o registro do número de filhotes, de ninhos naturais e transferidos”, afirma Deborah Castro de Lima, gestora da unidade.


A bióloga do IPÊ, Virginia Bernardes, conduz o trabalho de capacitação do projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade no local. “Essa reciclagem das pessoas que realizam o monitoramento é muito importante. É o fio condutor do nosso trabalho e a oportunidade que temos de ouvir a comunidade em comentários acerca de melhorias passíveis em benefício do monitoramento. Ao mesmo tempo, aprendemos muito com eles, por terem experiência, visto que há muito tempo conhecem o comportamento da espécie. Essa troca enriquece e fortalece o relacionamento entre todos os envolvidos em prol da conservação das tartarugas”, afirma.


Comunidades mudam-se de casa para monitorar
Todos os anos, 27 famílias deslocam-se voluntariamente de suas casas nas comunidades para acompanhar de perto a desova dos quelônios nos chamados tabuleiros. A função dos monitores é a verificação da segurança dos ninhos nos locais de desova ou se precisam ser manejados para uma área com menos risco de sobrevivência (as chocadeiras – foto).


Os riscos para os ovos são elevados seja devido ao nível do rio, que pode impedir a evolução dos filhotes, mas principalmente por causa da predação, seja ela natural, pela fauna local, ou pelo próprio ser humano. Em suas casas temporárias, entre agosto e dezembro, os monitores garantem a vigília até que os filhotes ganhem vida e sejam transferidos para um abrigo até o dia da soltura no rio. As solturas também acontecem em locais mais adequados para garantir a sobrevivência dos filhotes.




“Antes morriam muitos filhotes. A gente foi melhorando conforme foi pegando experiência”, afirma Raimundo Barbosa, que coordenou durante seis anos o monitoramento junto da sua comunidade, do lago Erepecu. O monitor afirma que, embora a média anual de ninhos esteja em torno dos 520 nos últimos três anos, sente uma melhora na quantidade de tartarugas avistadas.


“A gente vê que teve uma melhora, sim. Vemos elas no rio, coisa que antes não acontecia. Mas a gente luta pra ter a produção, porque se deixar, some tudo”, afirma ele, que divide tal esforço com a mulher Dulcineia. “A gente trabalha por amor, cuidando pra que não acabe. Porque se deixar solto (sem monitoramento e proteção) acaba mesmo. Por isso que a gente tá aqui”, diz ela.


Os monitores atuais já são antigos moradores da Rebio e se preocupam com a continuidade do projeto por meio da participação dos mais jovens. “A gente leva as crianças pra perto do trabalho da gente. Elas vão de manhã pra escola, mas à tarde conseguem acompanhar o que a gente faz. É importante eles terem essa noção e conhecer como é a tartaruga, como saber coletar e transportar os ninhos. Serão eles que vão continuar esse nosso trabalho depois de uns anos”, diz a monitora Clelia de Jesus.


Cada família recebe do ICMBio todos os materiais necessários para conduzir esse monitoramento, de gasolina a coletes de voluntariado. Até mesmo os barcos escolares são direcionados para as casas provisórias na época da desova, garantindo o deslocamento de toda a família de forma a não prejudicar as atividades rotineiras. Ainda que o trabalho seja voluntário, as famílias recebem um auxílio de cestas básicas, doadas por meio da parceria do ICMBio com a mineradora local.


“Esse projeto não seria possível sem parcerias. Quando ampliamos o trabalho para a participação social, tivemos o ARPA como apoiador. Também temos a parceria com a MRN e agora com o IPÊ, que além de financiar, nos dá a chance de receber apoio técnico, por intermédio de Virgínia Bernardes, coordenadora do protocolo de Quelônios Amazônicos  que traz periodicamente informações para as capacitações. É um aprendizado vindo de muitas mãos”, complementa Deborah.



Projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade tem parceria do ICMBio, Fundação Gordon e Betty Moore e USAID. (#Envolverde)

Índia sedia Conferência Mundial



A Índia será sede da Conferência Mundial sobre desertificação, degradação da terra e seca entre os dias 7 e 18 de outubro, no centro de conferências Vigyan Bhavan, em Nova Delhi. Os participantes das 197 Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) terão acesso, pela primeira vez, a novos dados científicos vitais. Entre as informações estão dados da Observação da Terra sobre as tendências de degradação da terra datadas de 2000, reunidas em 120 dos 169 países afetados pela desertificação.


Os participantes receberão também o primeiro relatório sobre desertificação e mudança climática preparado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a autoridade global sobre mudança climática.


Com base nesses dados, os participantes que estiverem na COP 14 poderão avaliar as tendências da degradação da terra, da desertificação e da seca com mais precisão. Eles também estarão em condições de identificar ameaças e riscos associados para permitir que a comunidade internacional chegue a um acordo sobre as melhores soluções e ações a serem tomadas nos próximos dez anos.


“A Índia é um dos países afetados pela desertificação e está enfrentando novos desafios, entre os quais secas recorrentes e tempestades de areia e poeira. O país tem um tremendo potencial para transformar esses desafios em oportunidades por meio do melhor uso e gestão da terra e fornecer medidas ousadas”, diz Monique Barbut, a Secretária Executiva da UNCCD.

Segundo Monique o país asiático sabe reconhecer a reabilitação das terras como um investimento econômico que pode acelerar a transição para o desenvolvimento sustentável global. “Com a liderança da Índia, o esforço internacional para alcançar a neutralidade da degradação da terra pode levar grandes passos adiante. Ao assumir a presidência da COP, os 197 podem criar o ambiente que precisamos para soluções inovadoras e engenhosas para nossos objetivos comuns”, acrescentou a Secretária-Executiva.

A Índia deve alcançar 1,7 bilhão de habitantes até 2050 e foi um dos primeiros países a se comprometer com a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de alcançar a neutralidade da degradação da terra (LDN). A LDN é a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de deter a degradação da terra tomando três ações concretas. Os países prometeram evitar, reduzir e reverter à degradação da terra, nessa ordem de prioridade. Atingir a neutralidade da degradação da terra pode ajudar as populações vulneráveis a melhorar seus meios de subsistência, e as comunidades em todo o mundo podem fortalecer sua resiliência, especialmente em desastres naturais ligados à mudança climática.

Entre 28 e 30 de janeiro os países da COP 14 irão se reunir em Georgetown, Guiana, para a décima sétima sessão do Comitê para a Revisão da Implementação da UNCCD (CRIC 17). O CRIC 17 fará um balanço dos resultados da primeira avaliação global da degradação da terra, com base em dados de observação da Terra relatados pelos governos, e concordará com a maioria das recomendações que a COP14 considerará. (#Envolverde)

Al Gore alerta sobre aquecimento e poluição planetários




Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos (1993-2001), presidente e co-fundador da Generation Investment Management, afirmou que o planeta vive uma “emergência global verdadeira e completa” para os oceanos. “Isso reflete o que a comunidade científica tem nos dito”, disse ele. Al Gore já havia comentado que o aquecimento global captura a energia térmica equivalente a 500 mil bombas atômicas da classe de Hiroshima todos os dias.


Outros especialistas repetiram a urgência da mensagem de Gore. “Se todos soubessem o quanto isso é sério, todos seriam ativistas”, disse Nina Jensen, diretora executiva da REV Ocean. “Em nossa vida – nos últimos 40 anos – perdemos 40% da vida nos oceanos”. Com mais de 50% das superfícies oceânicas sendo alvejadas por frotas pesqueiras industriais, 90% dos peixes grandes nos oceanos, incluindo atum e tubarões, agora desapareceram, de acordo com Enric Sala, Explorador-residente da National Geographic Society. “Comemos eles nos últimos 100 anos”, disse ele.


Entretanto, a boa notícia é que a vida marinha pode se recuperar rapidamente. “Quando você protege as áreas da pesca, a recuperação é espetacular”, disse Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos e Presidente do Chile (2006-2010). Um dos principais vilões dos oceanos atualmente são os resíduos plásticos. Gore comentou que “o peso do plástico será maior que o peso dos peixes” nos oceanos do mundo até o ano 2050. Mas também é um problema que pode ser resolvido. “Dez rios trazem 80% de plástico para os oceanos”, disse Sala, sugerindo que “se descobrirmos como o plástico penetra nesses rios, podemos fazer algo a respeito”.


Marc Benioff, presidente e co-diretor executivo da Salesforce e fundador da Friends of OceanAction, apontou para uma potencial catástrofe que os esforços concentrados ainda poderiam impedir: a mineração de fundos marinhos. “Há empresas que criam veículos de mineração marítima usando essas tecnologias da Quarta Revolução Industrial”, disse ele. “Esses veículos autônomos estão prestes a afundar, escavar e triturar as coisas, e plumas tóxicas surgirão e entrarão em nosso ecossistema. A mineração de leito marítimo ainda não começou. Precisamos chegar a nossos políticos locais. Precisamos de declarações ao redor da mineração do fundo do mar, o que ainda não aconteceu”, disse Benioff, acrescentando:” Isso é motivo de otimismo”.


Para todos os envolvidos em buscar soluções para a preservação dos oceanos, é necessário um urgente financiamento para a ciência marinha e a pesquisa oceanográfica. “O que queremos fazer é melhorar nosso conhecimento e compreensão, levar esse conhecimento para os tomadores de decisão e transformar esse conhecimento em ação”. Embora concordando que nunca é tarde demais para a ação, Sala lamentou: “Estamos no cassino do Titanic, tentando ganhar tanto dinheiro quanto pudermos depois de atingir o iceberg”. (#Envolverde)

Este mês na ciência climática: emissões em alta, fenômenos extremos e más notícias para o Ártico

Este mês na ciência climática: emissões em alta, fenômenos extremos e más notícias para o Ártico

Este post foi escrito por Kelly Levin e Dennis Tirpak e publicado originalmente no WRI Insights.

Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já enfrentamos e apontam o que ainda está por vir se não reduzirmos as emissões em um ritmo mais rápido.
A série “Este mês na ciência climática”, do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês, compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são explorados alguns dos estudos publicados em dezembro de 2018. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)

Eventos extremos

  • Eventos extremos estão mais extremos: cientistas descobriram que atualmente a média global de meses úmidos é 20% mais alta do que seria se o clima fosse estável. Essa tendência é mais acentuada nas áreas de médias e altas latitudes, incluindo o centro e o leste dos Estados Unidos e o norte da Europa e da Rússia, onde o número recorde de meses úmidos aumentou em 37%. Outras regiões, como a África Central, também estão registrando mais meses secos. O estudo sugere que entre 1980 e 2013, cerca de um terço dos recordes de seca registrados não teria acontecido sem mudanças de longo prazo no clima.
  • Ciência de atribuição está mais forte: o Boletim da Sociedade Americana de Meteorologia mostrou que as mudanças no clima causadas pela atividade humana foram responsáveis por uma série de eventos – inundações em Bangladesh, na China e na América do Sul; ondas de calor na China e no Mediterrâneo; secas no leste da África e nas planícies do norte dos Estados Unidos. O relatório também analisou o aquecimento dos oceanos, incluindo a região na costa da Austrália – um aquecimento que os cientistas consideram que seria “virtualmente impossível” sem as mudanças climáticas.
  • Ondas de calor no Reino Unido: o Departamento de Meteorologia do Reino Unido divulgou uma análise da onda de calor recorde do verão de 2018 e descobriu que o aquecimento induzido pelo homem aumentou a probabilidade de ocorrência desse tipo de evento em 30 vezes.

Impactos

  • O descongelamento do permafrost ameaça o petróleo e o gás: um estudo publicado na revista Nature revelou que 3,6 milhões de pessoas e 70% da infraestrutura do Ártico estão localizadas em áreas com alto potencial de descongelamento do permafrost (em português, pergelissolo). Como resultado, um terço da infraestrutura e quase metade dos campos de extração de petróleo e gás no ártico russo poderiam sofrer graves danos. Os cientistas ressaltam que, mesmo que os países consigam cumprir suas metas de redução de emissões do Acordo de Paris, esse risco ainda não diminuiria o suficiente.
  • Mudança na camada de neve ameaça a água na Califórnia: modeladores avaliaram os impactos das mudanças climáticas no derretimento da camada de neve, uma importante fonte de água para os reservatórios da Califórnia. A avaliação mostra que, em um cenário de altas emissões, o pico de neve acumulada ocorrerá um mês antes do normal e o pico do volume de água diminuirá em quase 80% até o final do século.
  • As mudanças climáticas causaram a maior extinção em massa: o fim do período Permiano, há mais de 250 milhões de anos, trouxe a maior extinção em massa da história do planeta Terra – em torno de 96% das espécies marinhas e 70% das terrestres despareceram. Em um novo estudo, os autores descobriram que o gatilho da extinção em massa na época – os gases de efeito estufa de origem vulcânica – é análogo ao das emissões de hoje, causadas pela atividade humana. Até então, os cientistas ainda não haviam comprovado uma relação quantitativa entre extinção, características das espécies extintas e o clima.

Emissões e temperatura

  • Crescem as emissões de dióxido de carbono: o Global Carbon Project mostrou que as emissões de dióxido de carbono alcançaram a marca recorde de 37,1 gigatoneladas em 2018. Os combustíveis fósseis são os principais responsáveis – emissões originadas pela queima de gasolina, carvão e petróleo subiram 2,7%, um aumento ainda mais rápido que o de 2017, de 1,6%.
  • Incêndios na Califórnia geram emissões significativas: o Departamento do Interior dos Estados Unidos descobriu que as emissões da temporada recorde de incêndios na Califórnia foram equivalentes à quantidade gerada em um ano pelo uso de eletricidade no estado.
  • Nenhuma base científica para uma “pausa no aquecimento global”: dois estudos lançados no mês passado mostram que existe pouca ou nenhuma evidência estatística para uma “pausa” ou “desaceleração” no aquecimento neste início de século, uma desculpa que os céticos da mudança do clima usaram por muito tempo para contrapor as evidências do aquecimento induzido pelo homem. Os cientistas também revelam que não há nenhuma evidência estatística para uma divergência entre os modelos climáticos e as observações realizadas, o que também já foi anteriormente citado como um potencial fator para a suposta pausa.

Gelo e o aumento do nível do mar

  • Perda de gelo no Ártico eleva o nível do mar: o aumento do nível do mar decorrente da perda de gelo no Ártico aumentou de forma substancial de 1971 a 2017 – e triplicou entre 1986 e 2005 e 2006 e 2015. A cobertura de gelo do Ártico, principalmente na Groenlândia e no Alasca, contribui com cerca de 35% do aumento do nível dos oceanos globalmente.
  • A camada de gelo da Groenlândia está derretendo mais do que pensávamos: pesquisadores comprovaram que o derretimento da camada de gelo da Groenlândia tem sido "excepcional" nos últimos 350 anos. O derretimento do gelo pode ser atribuído à industrialização em meados do século XIX, mas só recentemente a camada derreteu em uma escala fora da faixa de variabilidade natural.
  • Más notícias para o Ártico: a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica publicou seu boletim anual do Ártico, e o documento mostrou que a camada mais antiga e resistente de gelo já diminuiu 95%. Trata-se de uma notícia tremendamente problemática, uma vez que essa camada de gelo é a mais estável. Um Ártico sem gelo pode levar a um aquecimento descontrolado, já que o oceano aberto absorve mais luz solar.

Os impactos econômicos e sociais da “fast fashion”




Os impactos econômicos e sociais da “fast fashion”


Este post foi escrito por Elizabeth Reichart e Deborah Drew e publicado originalmente no WRI Insights.



Pense em quantas peças de roupa são dadas como presente nas festas de fim de ano. Quantas vezes as pessoas vão usá-las antes de jogar fora?


Provavelmente, menos do que você pensa. O equivalente a um caminhão de lixo carregado de roupas é queimado ou enviado para aterros a cada segundo no mundo. O consumidor médio comprou 60% mais roupas em 2014 do que no ano 2000, mas manteve cada peça em uso por metade do tempo.

Já se foi o tempo em que as pessoas compravam uma camiseta e a usavam por anos. Em um mundo com uma demanda cada vez maior em relação ao vestuário, os consumidores querem – e cada vez mais podem pagar – roupas novas, após utilizar as que já possuem apenas algumas vezes. Modelos de negócios são criados a partir da premissa fast fashion (em português, moda rápida), oferecendo peças de roupas mais baratas em ciclos mais rápidos.



Esse modelo linear de compra, uso e descarte rápido tem um impacto negativo sobre as pessoas e os recursos do planeta. Veja aqui as implicações econômicas, sociais e ambientais desse modelo:


Impactos econômicos

 

De acordo com a Fundação Ellen McArthur, a produção de roupas aproximadamente dobrou nos últimos 15 anos, um aumento impulsionado pelo crescimento da classe média em todo o mundo e pela alta das vendas per capita nos países desenvolvidos. O crescimento estimado de 400% no PIB global até 2050 implicará uma demanda ainda maior por vestuário.


Esse cenário pode ser uma oportunidade para agirmos melhor. Um estudo revelou que solucionar os problemas ambientais e sociais criados pela indústria da moda proporcionaria um ganho de US$ 192 bilhões para a economia global até 2030. O valor das roupas descartadas de forma prematura hoje é de US$ 400 bilhões por ano.

 

 

Impactos ambientais

 

 

A produção de roupas também é uma fonte considerável de emissões e de consumo de recursos. Considere que:
  • fabricar uma calça jeans emite o equivalente a dirigir um carro por 128 quilômetros;
  • roupas descartadas feitas de tecidos não biodegradáveis podem permanecer em aterros por até 200 anos;
  • são necessários 2.700 litros de água para fabricar uma camiseta de algodão, o suficiente para atender a média de consumo de uma pessoa por dois anos e meio (considerando apenas a água para beber).
  •  

Impactos sociais

 

A fabricação de roupas ajudou a estimular o crescimento das economias em desenvolvimento, mas uma análise mais detalhada mostra uma série de desafios sociais. Por exemplo:
  • De acordo com a ONG Remake, 75 milhões de pessoas trabalham produzindo roupas hoje, 80% da produção vem de mulheres jovens entre 18 e 24 anos.
  • Trabalhadores do setor de vestuário em Bangladesh, principalmente mulheres, ganham em torno de US$ 96 por mês. A tabela de salários do governo sugere que uma pessoa precisa em média 3,5 vezes esse valor para ter “uma vida decente com suas necessidades básicas atendidas”.
  • Um relatório do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos comprovou a existência de trabalho infantil e de trabalhos forçados na indústria da moda na Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Índia, Indonésia, Filipinas, Turquia e Vietnã, entre outros países.
O consumo cada vez mais rápido das peças e a necessidade de produzir para ciclos de moda mais curtos geram pressão sobre os recursos, resultando em uma linha de produção que coloca os lucros à frente do bem-estar humano.

Então, que devemos fazer?

 

Como seria uma indústria têxtil mais sustentável e o que precisamos fazer para chegar lá? Estamos começando a ver alguns sinais iniciais de uma indústria em transição.


Modelos de negócio baseados na longevidade, como Rent the Runway e Gwynnie Bee, são o início de uma indústria que apoia a reutilização em vez do consumo rápido e irresponsável. Assim como a Netflix reinventou a maneira como alugamos filmes e a Lyft transformou o transporte, começamos agora a ter a opção de alugar peças de roupa em vez de comprá-las. Idealmente, chegaremos ao “fim da propriedade” no que diz respeito ao vestuário – considerando, claro, os impactos sociais, ambientais e na geração de empregos.


Esse é apenas o começo de uma transformação radical, mas necessária. Cada vez mais, as empresas do setor terão de enfrentar esse desafio e desassociar seu crescimento do consumo de recursos.


Para atender a demanda de maneiras inovadoras, as empresas da indústria da moda precisarão fazer o que nunca fizeram antes: planejar, testar e investir em modelos de negócios que reutilizem as roupas e maximizem sua vida útil. É hora de inovar ou ficar para trás.

Em números: o valor das florestas tropicais na equação climática


Em números: o valor das florestas tropicais na equação climática


Este post foi escrito por David Gibbs, Nancy Harris e Frances Seymour e publicado originalmente no WRI.


Proteger florestas tropicais é essencial para atingir as metas climáticas do Acordo de Paris. A ferramenta Global Forest Watch Climate recentemente lançou uma estimativa de emissão de dióxido de carbono associado aos dados da perda de cobertura florestal de 2017, e os números demonstram o que a nós já sabíamos: se a perda da cobertura de florestas tropicais continuar nas taxas atuais, seria quase impossível manter o aquecimento abaixo de dois graus Celsius.



Abaixo há cinco números que demonstram justamente o quão importante as florestas tropicais são em prevenir as mudanças climáticas, e como esse assunto precisa ter mais visibilidade na agenda global de mitigação das mudanças climáticas.

Se o desmatamento tropical fosse um país, seria o terceiro maior emissor de carbono, atrás apenas de China e Estados Unidos.

 


As emissões anuais brutas de dióxido de carbono da perda de cobertura florestal em países tropicais foram de cerca de 4,8 gigatoneladas por ano entre 2015 e 2017. Em outras palavras, a perda de cobertura florestal está emitindo mais por ano do que 85 milhões de carros emitiriam durante toda sua vida útil.

Está piorando. A média anual das emissões dos últimos 3 anos foi 63% maior do que dos 14 anos anteriores.

 


Dentre todas as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Acordo de Paris, as florestas representam um quarto de toda a redução de emissões planejada até 2030. Apesar de a taxa da perda de cobertura florestal desacelerar em alguns lugares, os dados mais recentes de 2017 sugerem que muitos países estão se movendo na direção contrária a essas metas. A média de emissões entre 2015 – quando o Acordo de Paris foi assinado – e 2017 mostra um percentual 63% maior do que a média dos 14 anos anteriores (3 gigatoneladas contra 4,9 gigatoneladas por ano).



Os dados anuais do Global Forest Watch fornecem uma régua imparcial para que as estimativas nacionais do desmatamento tropical possam ser comparadas. GFW Climate usa esse banco de dados global para estimar a emissão de carbono associada com a abertura de biomassa acima do solo.

Não é apenas o carbono nas árvores que torna as florestas importantes para o clima. As florestas têm o poder de esfriamento local – na medida de mais de 2 aparelhos de ar-condicionado por árvore.


Além de exercer um papel no orçamento global de carbono, as florestas também têm a importante função em regular o clima no nível local por meio de sombreamento e evapotranspiração. Cada 100 litros de água que uma árvore transpira (apenas uma fração do que uma árvore faz por dia) fornece o equivalente a manter dois aparelhos de ar-condicionado funcionando por dia (o esfriamento equivalente a 70 kilowatt / hora de eletricidade).


Por outro lado, o desmatamento pode aumentar a temperatura do ar localmente nos trópicos e em zonas temperadas em um grau Celsius, e aumenta a variação diária de temperatura em quase dois graus Celsius nos trópicos e 2,85 graus Celsius em zonas temperadas.

As florestas tropicais são 8% do problema, mas 23% da solução.

Cerca de 8% das emissões globais atualmente são de perda de cobertura arbórea em áreas de floresta tropical, mas essas mesmas florestas podem fornecer 23% da mitigação climática de baixo custo antes de 2030. As NDCs ainda não cobrem a mitigação total necessária para manter o aquecimento limitado a 2 graus Celsius, e cerca de 7,1 gigatoneladas de dióxido de carbono podem ser mitigadas anualmente com manejo, proteção e restauração das florestas tropicais, manguezais e turfas.


Isso equivale ao total de emissões de Rússia, União Europeia e Japão juntas em 2014. O potencial vem de emissões evitadas pelo fim do desmatamento e degradação, assim como pela remoção de carbono atmosférico que acontece quando as florestas crescem e são restauradas.

 

As florestas recebem apenas 3% do financiamento disponível para mitigação climática.

 




Apesar do potencial, os financiamentos para florestas, mesmo para países com alto índice de desmatamento, representam menos de 3% do financiamento global de mitigação. Para atingir as metas globais é crucial que atores locais e nacionais dobrem a aposta na estratégia já provada de reduzir desmatamento para mitigar as mudanças climáticas.

É só largar mão de ser burro

É só largar mão de ser burro

por Fernão
Artigo para O Estado de S. Paulo de 5/2/2019
É temporada de chororô. Sempre que colhemos o que plantamos abre-se mais uma temporada de chororô. Longos editoriais, comentaristas e autoridades com ar compungido entremeando lamúrias com arrancos de “indignação”...
É tudo falso menos a dor!
Não há surpresa alguma. Não há quem não estivesse esperando por mais essa. Nós somos o país das reprises. Pelo lado da responsabilidade do estado a tragédia de Brumadinho é o de sempre: o poder político sem nenhum tipo de freio. Pelo da Vale, bis: o poder econômico sem nenhum tipo de freio.
O que é esse mar de misérias num país rico como o Brasil senão os governantes e “servidores públicos” escrevendo suas próprias leis sem nenhum controle ou sanção, à salvo dos mares de lama que põem para rolar e livres para empanturrar de benesses a sua ganância? Pagamos os maiores impostos do mundo e falta tudo. Nada mata mais que tsunami de privilégios...
E o que são essas barragens da morte anunciada numa empresa com os números da Vale senão os “governantes corporativos” escrevendo suas próprias leis sem nenhum controle ou sanção, à salvo dos mares de lama que põem para rolar, livres para empanturrar de “bônus” a sua cupidez?
“Barragens de alteamento a montante” é o pior método de contenção de rejeitos, proibido em toda parte porque é certo que uma hora estoura como estourou Mariana. Quem não sabia? Mas é o que convém a quem colhe bônus “cortando custos” custe o que custar pros outros. E taí Brumadinho debaixo da lama.
Regimes de repartição na previdência combinados com privilégios ilimitados para as corporações estatais é o pior método de financiamento da previdência, proibido em toda parte porque é certo que uma hora estoura. Quem não sabia? Mas é o que convém a quem come como leão e contribui como passarinho. E taí o Brasil inteiro enterrado na lama.
Mas haverá chororô sobre tudo menos o que interessa: “É preciso políticos mais honestos”. “É preciso empresários menos gananciosos”. Mas a democracia teve de ser inventada precisamente porque não somos, deus do céu! Porque provamos e comprovamos ha milênios que não seremos nunca!
No tempo em que vivíamos dos dentes caninos que ainda temos na boca só sobrevivia quem os usasse sem qualquer hesitação. Hoje não precisamos mais disso mas o relógio de Darwin tem lá a sua velocidade. Aberto o caminho para a negociação política e para uma economia com regras, continuamos sendo capazes de resistir à nossa própria natureza se e somente se, em vez da recompensa de sempre, impusermos como certa a morte política e econômica a quem violar as novas regras pactuadas pela civilização. É preciso enganar o nosso instinto de sobrevivência programado para morder que prevalece sempre. Reprogramá-lo na infalibilidade da punição, coisa que só pode ser garantida se o gatilho que a desencadeia estiver nas mãos das vítimas e não nas dos autores de todo abuso de poder político e de todo abuso de poder econômico: sua majestade, o povo, o único lado insubornável (pelo menos não em segredo) dessas disputas entre grossos interesses escusos.
Mas o que é o próprio governo, senão a maior das críticas à natureza humana? Se os homens fossem anjos, não seria necessário governo algum. E se os homens fossem governados por anjos, o governo não precisaria de controles externos nem internos”, grita-nos James Madison lá de 1787...
Não gosta de americano? Foi condicionado desde filhote a desligar o cérebro e ligar o fígado sempre que ouvir falar neles? Jurou aos “companheiros” não adotar nada do que venha deles exceto a penicilina e o computador?
Seus problemas acabaram!
Essa invenção não é deles. Eles copiaram dos suíços, o único povo europeu que nunca teve rei, o sistema de controle absoluto do aparato institucional de decisões pelo eleitor e não pela “otoridade” em cujas mãos tudo acaba virando comércio. E foram, por sua vez, copiados por todos os libertados da servidão e da miséria nos quatro quadrantes do planeta. O argumento indiscutível tem sido o do resultado. Funciona pra todo mundo, não importa a cultura, não importa a latitude. É só largar mão de ser burro. Tome a si mesmo como parâmetro. Você trabalha todo dia e faz aquele sacrifício todo pelo engrandecimento da sua alma imortal ou porque você tem um patrão e se não trabalhar direito e a favor da empresa vai pra rua e não come mais? Então! Político e funcionário encarregado de fiscalizar empresário é a mesma coisa. Bota patrão neles! Manda meia dúzia pra rua amanhã, sem “afastamento” nem aposentadoria antecipada, e vê lá se não muda tudo daí pra frente!
Essa nossa servidão é voluntária. 16,38% passa em três minutos. Segurança de barragem não passa nem em três anos, morra quem morrer. Mas nós insistimos. Exigimos dos marajás que nos sugam e dos juizes que não julgam, esses que vivem nos dando provas da sua “sabedoria” e da sua “ilustração”, que regulamentem e travem tudo ainda mais, que nomeiem mais fiscais achacadores, que baixem mais leis para enquadrar o povo e não para enquadrar o governo porque o "povo ignorante” é que é o perigo, não sabe nem o que é bom pra ele, foi-nos ensinado.
A impunidade é uma cadeia que começa (e só pode ser rompida) com a imputabilidade do primeiro elo. Quanto mais instável for o emprego deles todos mais estável será o país e a obra do seu povo. E vice-versa o contrário. Republica é representação. Nelas é o povo que faz a lei e os governos é que obedecem. Mas a brasileira está solta no ar. Existe só para si mesma. Não enraiza no país real. Não é o eleitor que manda nela. Todas as hierarquias estão invertidas.
Das violências impunes à roubalheira generalizada nada vai mudar enquanto o gatilho de todas as armas – as institucionais, não as que matam só uma pessoa por vez – não estiverem nas mãos do povo. Retomada de mandatos, leis de inciativa popular, veto popular às leis dos legislativos, eleição de retenção de juizes. Ponha-se o povo mandando e veremos todo mundo jogar para o time.
Fora daí é a lama.

Aquecimento global aumenta a concentração de aerossóis na atmosfera, piorando a qualidade do ar




Concentração de aerossóis na atmosfera – A mudança climática está aquecendo o oceano, mas está aquecendo a terra mais rápido e isso é realmente uma má notícia para a qualidade do ar em todo o mundo

Por Holly Ober*, University of California, Riverside

Santa Monica Beach, mostrando poluição interior. Crédito: JCS on Wikimedia Commons

O estudo , publicado em 4 de fevereiro na revista Nature Climate Change, mostra que o contraste no aquecimento entre os continentes e o mar, chamado de contraste entre mar e terra, aumenta a concentração de aerossóis na atmosfera que causam a poluição do ar.


Os aerossóis são pequenas partículas sólidas ou gotículas de líquido suspensas na atmosfera. Eles podem vir de fontes naturais, como poeira ou incêndios florestais, ou fontes feitas pelo homem, como emissões de veículos e industriais. Os aerossóis afetam o sistema climático, incluindo perturbações no ciclo da água, bem como a saúde humana. Eles também causam smog e outros tipos de poluição do ar que podem levar a problemas de saúde para pessoas, animais e plantas.


“Uma resposta robusta ao aumento dos gases do efeito estufa é que a terra vai aquecer mais rápido que o oceano. Este aumento do aquecimento da terra também está associado ao aumento da aridez continental ”, explicou o primeiro autor Robert Allen , professor associado de ciências da terra na UC Riverside.

O aumento da aridez leva à diminuição da cobertura de nuvens e menos chuva, que é a principal forma de os aerossóis serem removidos da atmosfera.

Para determinar isso, os pesquisadores fizeram simulações da mudança climática em dois cenários. O primeiro assumiu um modelo de aquecimento business-as-usual, no qual o aquecimento procede a uma taxa constante e ascendente. O segundo modelo investigou um cenário em que a terra aquecia menos que o esperado.

No cenário usual, o aumento do aquecimento da terra aumentou a aridez continental e, subsequentemente, a concentração de aerossóis que leva a mais poluição do ar. No entanto, o segundo modelo – que é idêntico ao modelo business-as-usual, exceto o aquecimento da terra é enfraquecido – leva a um aumento discreto na aridez continental e poluição do ar. Assim, o aumento da poluição do ar é uma consequência direta do aumento do aquecimento da terra e da secagem continental.


Os resultados mostram que quanto mais quente a Terra fica, mais difícil será manter a poluição do ar em um determinado nível, sem controle rigoroso sobre as fontes de aerossóis.


Como os pesquisadores queriam entender como o aquecimento dos gases de efeito estufa afeta a poluição do ar, eles não assumiram nenhuma mudança nas emissões de aerossol feitas pelo homem ou antropogênicas.


“Isso provavelmente não será verdade porque há um forte desejo de reduzir a poluição do ar, o que envolve reduzir as emissões antropogênicas de aerossóis”, advertiu Allen. “Então, esse resultado representa um limite superior.”

Mas também sugere que, se o planeta continuar aquecendo, maiores reduções nas emissões de aerossóis antropogênicas serão necessárias para melhorar a qualidade do ar.

“A questão é qual o nível de qualidade do ar que vamos aceitar”, disse Allen. “Embora a Califórnia tenha algumas das leis ambientais mais rígidas do país, ainda temos uma qualidade do ar relativamente ruim, e é muito pior em muitos países.”

A menos que ocorram reduções de emissões antropogênicas, um mundo mais quente estará associado a mais poluição por aerossóis.

Referência:
Enhanced land–sea warming contrast elevates aerosol pollution in a warmer world
Robert J. Allen, Taufiq Hassan, Cynthia A. Randles & Hui Su
Nature Climate Change (2019)
DOI https://doi.org/10.1038/s41558-019-0401-4

* Tradução e edição de Henrique Cortez, Ecodebate

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/02/2019

"Aquecimento global aumenta a concentração de aerossóis na atmosfera, piorando a qualidade do ar," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 5/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/05/aquecimento-global-aumenta-a-concentracao-de-aerossois-na-atmosfera-piorando-a-qualidade-do-ar/.

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Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária, artigo de Luiz Eduardo Corrêa Lima

Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária, artigo de Luiz Eduardo Corrêa Lima

artigo

Ponto de Vista:
Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular de Biologia – UNIFATEA/Lorena/SP)

Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.” Johann Goethe
O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.” Eleanor Roosevelt


INTROITO
Após ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o seguinte texto.
Senhoras e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da humanidade.


INTRODUÇÃO
Para que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente descontrolada.

Historicamente a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para espécie humana. 

É triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim. Em suma, é preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro. 

Essas são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo, de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim. 


É preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.

Considerando que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as mudanças necessárias. 


Na verdade, a humanidade precisa de uma nova filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta. O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.

Não se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental. Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto, essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental como referências no comportamento humano. 


Não tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém sem praticamente nenhum resultado significativo. 

Na verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e principalmente que as ações individuais pequenas podem ser preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado planetário. 


Mas como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180 graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir produzir essa façanha. 

Infelizmente, por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós, aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem lutando de maneira inglória, contra a maré. 


Aliás, na verdade, contra um tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver esta situação?

Essa é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez, apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes. Por outro lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele que nos deu o planeta. 


VIDA E QUALIDADE DE VIDA


Vários autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma definição precisa. 


Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do universo.


A vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir por ação exclusiva das atividades humanas.


Da mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade. Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que não foi programada pelos processos naturais. 


Assim, o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos. 


Essa condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais, desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.


Vejam bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos “qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos, apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa. 


Matar outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de outros seres humanos. 


Alguns humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade. Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.


Hoje, existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma prerrogativa planetária e não apenas humana.


CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO
Agora vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.


Por outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe. Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária das espécies vivas. 


Também não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte. Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não valem para a espécie humana.


Se não houver controle populacional humano não há como frear as necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a aumentar. 


O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta, por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim, cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.


Outro problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.


Desta maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais, porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.


Pois é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra possibilidade!


A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO


Todas as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é outra questão e não vou discutir sobre isso agora. 


Como já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado, para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar, dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.
Isto é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e vendem (trocam) esse material. 


Para “facilitar” essas transações comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os recurso naturais.


Não fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.


A propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.


Fazer riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na maioria das compras, além de mera ostentação.


Lamento, mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a seguir nessa direção. 


O mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior interesse da humanidade. 


SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA


O Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas anteriormente. 


O compromisso fundamental desses conceitos foi criar mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus administradores e suas populações também precisam estar envolvidos nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no compromisso com o planeta. 


A distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos. Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.


A Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para nascer.


Nós humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás, acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar resolvê-los. 


Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.


No mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos seres humanos na superfície da Terra.


EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)


Obviamente para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação ambiental, então que assim seja. 


Mas, eu tenho uma preocupação mais específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em frente.


Temos que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes, sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que isso seja um utopia. 


Atitudes antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos evolutivamente de outras espécies vivas.


A Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.


A chamada educação ambiental será também a educação social, a educação econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante, quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de garantir vida e qualidade de vida ao planeta. 


A noção de Terra é única e que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.


A educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos, porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.


CONCLUSÕES
Por fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das questões ambientais às diferentes populações humanas. 


Esses mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e das instituições sociais. 


A prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a sustentabilidade é a principal dessas ações.


A educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro, objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental, porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição humana. 


O dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a humanidade.


É claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente igualitária e justa. 


É claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar, pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos problemas sozinhos. 


Por favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro melhor para o planeta e para toda humanidade.


Luiz Eduardo Corrêa Lima (62) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/02/2019


"Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária, artigo de Luiz Eduardo Corrêa Lima," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 5/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/05/uma-visao-onirica-sobre-a-questao-ambiental-planetaria-artigo-de-luiz-eduardo-correa-lima/.

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