De fato, o rompimento da barragem da Samarco, em novembro de 2015,
provocou o transbordamento de mais de 50 milhões de metros cúbicos (50
bilhões de litros), enquanto a tragédia de Brumadinho despejou 12
milhões de metros cúbicos, quatro vezes menos.
A lama que foi vertida pelo desmoronamento da barragem do córrego do
Feijão está a 46 quilômetros do seu ponto de lançamento e poderia
chegar, no máximo, 310 quilômetros além, pelo rio Paraopeba, um dos mais
importantes de Minas Gerais.
A massa passará pela termelétrica Igarapé, no quilômetro 46, mas
deverá ser retida na represa da usina do Retiro Baixo, 310 quilômetros
abaixo. Segundo os cálculos oficiais, o reservatório crescerá quatro
metros quando estancar o deslocamento dos resíduos da mineração de
ferro. Ainda terá dois metros de folga para manter a contenção,
impedindo que o material transborde pela barreira de concreto e avance
sobre o rio São Francisco até a usina de Três Marias, a maior de todas.
Esse roteiro já é suficientemente trágico para que se lamente o mal
causado. Mas há um risco não abordado pela versão apresentada pelo
governo, que se restringiu à ameaça de transbordamento (sem observar
que, diante da inevitabilidade dessa hipótese, a outra seria a abertura
das comportas da represa).
A pressão sobre a parede de concreto não será de uma massa líquida,
mas de uma descarga sólida, muito pesada, à base de terra e rejeito de
minério de ferro. Qual o acréscimo de pressão nesse caso? A estrutura de
concreto, projetada para determinado volume de vazão líquida da bacia
do Paraopeba naquele ponto, estará em condições de suportar a vazão
sólida decorrente do rompimento de uma barragem do porte da que se
rompeu, 350 quilômetros rio acima, num terreno com acentuado declive?
Dos cálculos necessários para que se chegue a esta resposta é que se
pode deduzir o grau da ameaça sobre o São Francisco, o famoso e
maltratado rio da integração nacional. (#Envolverde)
A fotografia de destaque deste artigo é do desastre socioambiental em Brumadinho, Minas Gerais. (Foto: Presidência da República/Divulgação)
A temporada 2018 de solturas de Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa)
terminou com uma grande celebração, na Reserva Biológica (Rebio) do Rio
Trombetas, no Pará. Comunidades locais, profissionais e parceiros do
Projeto Quelônios do rio Trombetas (PQT), Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e IPÊ – Instituto de Pesquisas
Ecológicas, reuniram-se no lago Jacaré para soltura de 5.050 tartarugas,
as últimas que nasceram ainda no ano passado.
Ao todo, em 2018, foram soltas no rio 27.862 tartarugas-da-Amazônia,
devido os esforços de 27 famílias moradoras da Rebio, que atuam como
monitoras da biodiversidade nesta Unidade de Conservação.
O ICMBio trabalha para a proteção dos quelônios na região há quase 40
anos, por meio de um projeto que monitora as tartarugas do rio
Trombetas e busca dar a elas uma maior chance de sobrevivência. Desde
2003, o projeto teve o nome renovado para PQT e incluiu o componente de
educação e participação social por meio da aproximação dos gestores da
UC com a comunidade local, que possui forte ligação cultural com os
quelônios.
O convívio com as tartarugas-da-Amazônia é passado de geração
para geração, assim como o consumo era bastante comum entre os
moradores da margem do Trombetas. Hoje, porém, a tartaruga-da-Amazônia
encontra-se em risco de extinção devido principalmente à caça ilegal de
ovos e de tartarugas para fins de comercialização.
A
Reserva Biológica do Rio Trombetas, de 407.759,21 hectares (mais de 4
mil quilômetros quadrados), foi criada em 1979, com a prioridade de
assegurar a proteção da tartaruga-da-Amazônia, já que era a área com
maior registro de fêmeas desse quelônio no bioma. Entretanto, segundo
dados levantados pelo ICMBio, no decorrer dos anos percebeu-se que a
população de filhotes de tartaruga diminuiu de 600 mil para 30 mil,
conta Carolina Marcondes Moura, coordenadora do PQT.
“A área era a que
tinha maior concentração de fêmeas de tartarugas-da-Amazônia. Desovavam
entre cinco a oito mil fêmeas a cada temporada, no final da década de
70. O monitoramento começou quando houve a criação da Rebio e da Flona
(Floresta Nacional Saracá-taquera), estabelecidas após a instalação da
mineradora MRN (Mineração Rio do Norte), que faz a exploração de bauxita
na região”, disse.
Em 2017, o IPÊ passou a ser um dos parceiros da iniciativa, por meio
do projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade, presente em
mais 16 UCs da Amazônia, junto com o ICMBio, realizando capacitações e
mobilizações das comunidades pela conservação da fauna e da flora no
bioma.
Com o PQT, o IPÊ atua efetivamente como incentivador e promotor
de capacitação, buscando melhorar e facilitar o monitoramento das
tartarugas pelas famílias. Assim como nas outras UCs, os levantamentos
sobre a biodiversidade são feitos pelos comunitários, seguindo um
protocolo estabelecido pelo ICMBio para que os dados possam ser
utilizados de maneira eficiente, visando à conservação.
“O protocolo é uma padronização de coleta de dados. Pretende-se que
seja efetuada igualitariamente por todos os participantes do
monitoramento . Em 2018, fizemos com o IPÊ o primeiro curso de
capacitação com as famílias que monitoram as tartarugas. A ideia é que
possamos melhorar o sucesso de eclosão de ovos dos ninhos e também
facilitar aos monitores a forma de registro dessas observações. Na
capacitação também foi discutido não só como os ovos devem ser
coletados, como também a forma de acompanhar a eclosão e o registro do
número de filhotes, de ninhos naturais e transferidos”, afirma Deborah
Castro de Lima, gestora da unidade.
A bióloga do IPÊ, Virginia Bernardes, conduz o trabalho de
capacitação do projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade
no local. “Essa reciclagem das pessoas que realizam o monitoramento é
muito importante. É o fio condutor do nosso trabalho e a oportunidade
que temos de ouvir a comunidade em comentários acerca de melhorias
passíveis em benefício do monitoramento. Ao mesmo tempo, aprendemos
muito com eles, por terem experiência, visto que há muito tempo conhecem
o comportamento da espécie. Essa troca enriquece e fortalece o
relacionamento entre todos os envolvidos em prol da conservação das
tartarugas”, afirma.
Comunidades mudam-se de casa para monitorar
Todos os anos, 27 famílias deslocam-se voluntariamente de suas casas
nas comunidades para acompanhar de perto a desova dos quelônios nos
chamados tabuleiros. A função dos monitores é a verificação da segurança
dos ninhos nos locais de desova ou se precisam ser manejados para uma
área com menos risco de sobrevivência (as chocadeiras – foto).
Os riscos
para os ovos são elevados seja devido ao nível do rio, que pode impedir
a evolução dos filhotes, mas principalmente por causa da predação, seja
ela natural, pela fauna local, ou pelo próprio ser humano. Em suas
casas temporárias, entre agosto e dezembro, os monitores garantem a
vigília até que os filhotes ganhem vida e sejam transferidos para um
abrigo até o dia da soltura no rio. As solturas também acontecem em
locais mais adequados para garantir a sobrevivência dos filhotes.
“Antes
morriam muitos filhotes. A gente foi melhorando conforme foi pegando
experiência”, afirma Raimundo Barbosa, que coordenou durante seis anos o
monitoramento junto da sua comunidade, do lago Erepecu. O monitor
afirma que, embora a média anual de ninhos esteja em torno dos 520 nos
últimos três anos, sente uma melhora na quantidade de tartarugas
avistadas.
“A gente vê que teve uma melhora, sim. Vemos elas no rio,
coisa que antes não acontecia. Mas a gente luta pra ter a produção,
porque se deixar, some tudo”, afirma ele, que divide tal esforço com a
mulher Dulcineia. “A gente trabalha por amor, cuidando pra que não
acabe. Porque se deixar solto (sem monitoramento e proteção) acaba
mesmo. Por isso que a gente tá aqui”, diz ela.
Os monitores atuais já são antigos moradores da Rebio e se preocupam
com a continuidade do projeto por meio da participação dos mais jovens.
“A gente leva as crianças pra perto do trabalho da gente. Elas vão de
manhã pra escola, mas à tarde conseguem acompanhar o que a gente faz. É
importante eles terem essa noção e conhecer como é a tartaruga, como
saber coletar e transportar os ninhos. Serão eles que vão continuar esse
nosso trabalho depois de uns anos”, diz a monitora Clelia de Jesus.
Cada família recebe do ICMBio todos os materiais necessários para
conduzir esse monitoramento, de gasolina a coletes de voluntariado. Até
mesmo os barcos escolares são direcionados para as casas provisórias na
época da desova, garantindo o deslocamento de toda a família de forma a
não prejudicar as atividades rotineiras. Ainda que o trabalho seja
voluntário, as famílias recebem um auxílio de cestas básicas, doadas por
meio da parceria do ICMBio com a mineradora local.
“Esse projeto não seria possível sem parcerias. Quando ampliamos o
trabalho para a participação social, tivemos o ARPA como apoiador.
Também temos a parceria com a MRN e agora com o IPÊ, que além de
financiar, nos dá a chance de receber apoio técnico, por intermédio de
Virgínia Bernardes, coordenadora do protocolo de Quelônios Amazônicos
que traz periodicamente informações para as capacitações. É um
aprendizado vindo de muitas mãos”, complementa Deborah.
A Índia será sede da Conferência Mundial sobre desertificação,
degradação da terra e seca entre os dias 7 e 18 de outubro, no centro de
conferências Vigyan Bhavan, em Nova Delhi. Os participantes das 197
Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação
(UNCCD) terão acesso, pela primeira vez, a novos dados científicos
vitais. Entre as informações estão dados da Observação da Terra sobre as
tendências de degradação da terra datadas de 2000, reunidas em 120 dos
169 países afetados pela desertificação.
Os participantes receberão
também o primeiro relatório sobre desertificação e mudança climática
preparado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), a autoridade global sobre mudança climática.
Com base nesses dados, os participantes que estiverem na COP 14
poderão avaliar as tendências da degradação da terra, da desertificação e
da seca com mais precisão. Eles também estarão em condições de
identificar ameaças e riscos associados para permitir que a comunidade
internacional chegue a um acordo sobre as melhores soluções e ações a
serem tomadas nos próximos dez anos.
“A Índia é um dos países afetados
pela desertificação e está enfrentando novos desafios, entre os quais
secas recorrentes e tempestades de areia e poeira. O país tem um
tremendo potencial para transformar esses desafios em oportunidades por
meio do melhor uso e gestão da terra e fornecer medidas ousadas”, diz
Monique Barbut, a Secretária Executiva da UNCCD.
Segundo Monique o país asiático sabe reconhecer a reabilitação das
terras como um investimento econômico que pode acelerar a transição para
o desenvolvimento sustentável global. “Com a liderança da Índia, o
esforço internacional para alcançar a neutralidade da degradação da
terra pode levar grandes passos adiante. Ao assumir a presidência da
COP, os 197 podem criar o ambiente que precisamos para soluções
inovadoras e engenhosas para nossos objetivos comuns”, acrescentou a
Secretária-Executiva.
A Índia deve alcançar 1,7 bilhão de habitantes até 2050 e foi um
dos primeiros países a se comprometer com a meta dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável de alcançar a neutralidade da degradação da
terra (LDN). A LDN é a meta dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, com o objetivo de deter a degradação da terra tomando três
ações concretas. Os países prometeram evitar, reduzir e reverter à
degradação da terra, nessa ordem de prioridade. Atingir a neutralidade
da degradação da terra pode ajudar as populações vulneráveis a melhorar
seus meios de subsistência, e as comunidades em todo o mundo podem
fortalecer sua resiliência, especialmente em desastres naturais ligados à
mudança climática.
Entre 28 e 30 de janeiro os países da COP 14 irão se reunir em
Georgetown, Guiana, para a décima sétima sessão do Comitê para a Revisão
da Implementação da UNCCD (CRIC 17). O CRIC 17 fará um balanço dos
resultados da primeira avaliação global da degradação da terra, com base
em dados de observação da Terra relatados pelos governos, e concordará
com a maioria das recomendações que a COP14 considerará. (#Envolverde)
Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos (1993-2001), presidente e
co-fundador da Generation Investment Management, afirmou que o planeta
vive uma “emergência global verdadeira e completa” para os oceanos.
“Isso reflete o que a comunidade científica tem nos dito”, disse ele. Al
Gore já havia comentado que o aquecimento global captura a energia
térmica equivalente a 500 mil bombas atômicas da classe de Hiroshima
todos os dias.
Outros especialistas repetiram a urgência da mensagem de Gore. “Se
todos soubessem o quanto isso é sério, todos seriam ativistas”, disse
Nina Jensen, diretora executiva da REV Ocean. “Em nossa vida – nos
últimos 40 anos – perdemos 40% da vida nos oceanos”. Com mais de 50% das
superfícies oceânicas sendo alvejadas por frotas pesqueiras
industriais, 90% dos peixes grandes nos oceanos, incluindo atum e
tubarões, agora desapareceram, de acordo com Enric Sala,
Explorador-residente da National Geographic Society. “Comemos eles nos
últimos 100 anos”, disse ele.
Entretanto, a boa notícia é que a vida marinha pode se recuperar
rapidamente. “Quando você protege as áreas da pesca, a recuperação é
espetacular”, disse Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas
para os Direitos Humanos e Presidente do Chile (2006-2010). Um dos
principais vilões dos oceanos atualmente são os resíduos plásticos. Gore
comentou que “o peso do plástico será maior que o peso dos peixes” nos
oceanos do mundo até o ano 2050. Mas também é um problema que pode ser
resolvido. “Dez rios trazem 80% de plástico para os oceanos”, disse
Sala, sugerindo que “se descobrirmos como o plástico penetra nesses
rios, podemos fazer algo a respeito”.
Marc Benioff, presidente e co-diretor executivo da Salesforce e
fundador da Friends of OceanAction, apontou para uma potencial
catástrofe que os esforços concentrados ainda poderiam impedir: a
mineração de fundos marinhos. “Há empresas que criam veículos de
mineração marítima usando essas tecnologias da Quarta Revolução
Industrial”, disse ele. “Esses veículos autônomos estão prestes a
afundar, escavar e triturar as coisas, e plumas tóxicas surgirão e
entrarão em nosso ecossistema. A mineração de leito marítimo ainda não
começou. Precisamos chegar a nossos políticos locais. Precisamos de
declarações ao redor da mineração do fundo do mar, o que ainda não
aconteceu”, disse Benioff, acrescentando:” Isso é motivo de otimismo”.
Para todos os envolvidos em buscar soluções para a preservação dos
oceanos, é necessário um urgente financiamento para a ciência marinha e a
pesquisa oceanográfica. “O que queremos fazer é melhorar nosso
conhecimento e compreensão, levar esse conhecimento para os tomadores de
decisão e transformar esse conhecimento em ação”. Embora concordando
que nunca é tarde demais para a ação, Sala lamentou: “Estamos no cassino
do Titanic, tentando ganhar tanto dinheiro quanto pudermos depois de
atingir o iceberg”. (#Envolverde)
Este mês na ciência climática: emissões em alta, fenômenos extremos e más notícias para o Ártico
30.01.2019
Este post foi escrito por Kelly Levin e Dennis Tirpak e publicado originalmente no WRI Insights.
Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam
nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas.
As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já
enfrentamos e apontam o que ainda está por vir se não reduzirmos as
emissões em um ritmo mais rápido.
A série “Este mês na ciência climática”,
do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês,
compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são
explorados alguns dos estudos publicados em dezembro de 2018. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)
Eventos extremos
Eventos extremos estão mais extremos: cientistas descobriram que atualmente a média global de meses úmidos é 20%
mais alta do que seria se o clima fosse estável. Essa tendência é mais
acentuada nas áreas de médias e altas latitudes, incluindo o centro e o
leste dos Estados Unidos e o norte da Europa e da Rússia, onde o número
recorde de meses úmidos aumentou em 37%. Outras regiões, como a África
Central, também estão registrando mais meses secos. O estudo sugere que
entre 1980 e 2013, cerca de um terço dos recordes de seca registrados
não teria acontecido sem mudanças de longo prazo no clima.
Ciência de atribuição está mais forte: o Boletim da Sociedade Americana de Meteorologia
mostrou que as mudanças no clima causadas pela atividade humana foram
responsáveis por uma série de eventos – inundações em Bangladesh, na
China e na América do Sul; ondas de calor na China e no Mediterrâneo;
secas no leste da África e nas planícies do norte dos Estados Unidos. O
relatório também analisou o aquecimento dos oceanos, incluindo a região
na costa da Austrália – um aquecimento que os cientistas consideram que
seria “virtualmente impossível” sem as mudanças climáticas.
Ondas de calor no Reino Unido: o Departamento de Meteorologia do Reino Unido divulgou uma análise
da onda de calor recorde do verão de 2018 e descobriu que o aquecimento
induzido pelo homem aumentou a probabilidade de ocorrência desse tipo
de evento em 30 vezes.
Impactos
O descongelamento do permafrost ameaça o petróleo e o gás: um estudo publicado na revista Nature
revelou que 3,6 milhões de pessoas e 70% da infraestrutura do Ártico
estão localizadas em áreas com alto potencial de descongelamento do
permafrost (em português, pergelissolo). Como resultado, um terço da
infraestrutura e quase metade dos campos de extração de petróleo e gás
no ártico russo poderiam sofrer graves danos. Os cientistas ressaltam
que, mesmo que os países consigam cumprir suas metas de redução de
emissões do Acordo de Paris, esse risco ainda não diminuiria o
suficiente.
Mudança na camada de neve ameaça a água na Califórnia:modeladores
avaliaram os impactos das mudanças climáticas no derretimento da camada
de neve, uma importante fonte de água para os reservatórios da
Califórnia. A avaliação mostra que, em um cenário de altas emissões, o
pico de neve acumulada ocorrerá um mês antes do normal e o pico do
volume de água diminuirá em quase 80% até o final do século.
As mudanças climáticas causaram a maior extinção em massa:
o fim do período Permiano, há mais de 250 milhões de anos, trouxe a
maior extinção em massa da história do planeta Terra – em torno de 96%
das espécies marinhas e 70% das terrestres despareceram. Em um novo estudo,
os autores descobriram que o gatilho da extinção em massa na época – os
gases de efeito estufa de origem vulcânica – é análogo ao das emissões
de hoje, causadas pela atividade humana. Até então, os cientistas ainda
não haviam comprovado uma relação quantitativa entre extinção,
características das espécies extintas e o clima.
Emissões e temperatura
Crescem as emissões de dióxido de carbono: o Global Carbon Project
mostrou que as emissões de dióxido de carbono alcançaram a marca
recorde de 37,1 gigatoneladas em 2018. Os combustíveis fósseis são os
principais responsáveis – emissões originadas pela queima de gasolina,
carvão e petróleo subiram 2,7%, um aumento ainda mais rápido que o de 2017, de 1,6%.
Incêndios na Califórnia geram emissões significativas: o Departamento do Interior dos Estados Unidos descobriu que as emissões da temporada recorde de incêndios na Califórnia foram equivalentes à quantidade gerada em um ano pelo uso de eletricidade no estado.
Nenhuma base científica para uma “pausa no aquecimento global”:
dois estudos lançados no mês passado mostram que existe pouca ou
nenhuma evidência estatística para uma “pausa” ou “desaceleração” no
aquecimento neste início de século, uma desculpa que os céticos da
mudança do clima usaram por muito tempo para contrapor as evidências do aquecimento induzido pelo homem. Os cientistas também revelam que não há nenhuma evidência estatística
para uma divergência entre os modelos climáticos e as observações
realizadas, o que também já foi anteriormente citado como um potencial
fator para a suposta pausa.
Gelo e o aumento do nível do mar
Perda de gelo no Ártico eleva o nível do mar: o aumento do nível do mar decorrente da perda de gelo no Ártico aumentou de forma substancial de 1971 a 2017 – e triplicou
entre 1986 e 2005 e 2006 e 2015. A cobertura de gelo do Ártico,
principalmente na Groenlândia e no Alasca, contribui com cerca de 35% do
aumento do nível dos oceanos globalmente.
A camada de gelo da Groenlândia está derretendo mais do que pensávamos: pesquisadores comprovaram
que o derretimento da camada de gelo da Groenlândia tem sido
"excepcional" nos últimos 350 anos. O derretimento do gelo pode ser
atribuído à industrialização em meados do século XIX, mas só
recentemente a camada derreteu em uma escala fora da faixa de
variabilidade natural.
Más notícias para o Ártico: a Administração
Nacional Oceânica e Atmosférica publicou seu boletim anual do Ártico, e o
documento mostrou que a camada mais antiga e resistente de gelo já
diminuiu 95%. Trata-se de uma notícia tremendamente problemática, uma
vez que essa camada de gelo é a mais estável. Um Ártico sem gelo pode
levar a um aquecimento descontrolado, já que o oceano aberto absorve mais luz solar.
Pense em quantas peças de roupa são dadas como presente nas
festas de fim de ano. Quantas vezes as pessoas vão usá-las antes de
jogar fora?
Provavelmente, menos do que você pensa. O equivalente a um caminhão de lixo carregado de roupas é queimado ou enviado para aterros a cada segundo no mundo. O consumidor médio comprou 60% mais roupas em 2014 do que no ano 2000, mas manteve cada peça em uso por metade do tempo.
Já se foi o tempo em que as pessoas compravam uma camiseta e a usavam
por anos. Em um mundo com uma demanda cada vez maior em relação ao
vestuário, os consumidores querem – e cada vez mais podem pagar – roupas
novas, após utilizar as que já possuem apenas algumas vezes. Modelos de
negócios são criados a partir da premissa fast fashion (em português,
moda rápida), oferecendo peças de roupas mais baratas em ciclos mais
rápidos.
De acordo com a Fundação Ellen McArthur,
a produção de roupas aproximadamente dobrou nos últimos 15 anos, um
aumento impulsionado pelo crescimento da classe média em todo o mundo e
pela alta das vendas per capita nos países desenvolvidos. O crescimento
estimado de 400% no PIB global até 2050 implicará uma demanda ainda maior por vestuário.
Esse cenário pode ser uma oportunidade para agirmos melhor. Um estudo
revelou que solucionar os problemas ambientais e sociais criados pela
indústria da moda proporcionaria um ganho de US$ 192 bilhões para a
economia global até 2030. O valor das roupas descartadas de forma
prematura hoje é de US$ 400 bilhões por ano.
Impactos ambientais
A produção de roupas também é uma fonte considerável de emissões e de consumo de recursos. Considere que:
roupas descartadas feitas de tecidos não biodegradáveis podem permanecer em aterros por até 200 anos;
são necessários 2.700 litros de água
para fabricar uma camiseta de algodão, o suficiente para atender a
média de consumo de uma pessoa por dois anos e meio (considerando apenas
a água para beber).
Impactos sociais
A fabricação de roupas ajudou a estimular o crescimento das economias
em desenvolvimento, mas uma análise mais detalhada mostra uma série de
desafios sociais. Por exemplo:
De acordo com a ONG Remake, 75 milhões de pessoas trabalham
produzindo roupas hoje, 80% da produção vem de mulheres jovens entre 18 e
24 anos.
Trabalhadores do setor de vestuário em Bangladesh, principalmente mulheres, ganham em torno de US$ 96 por mês.
A tabela de salários do governo sugere que uma pessoa precisa em média
3,5 vezes esse valor para ter “uma vida decente com suas necessidades
básicas atendidas”.
Um relatório do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos
comprovou a existência de trabalho infantil e de trabalhos forçados na
indústria da moda na Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Índia,
Indonésia, Filipinas, Turquia e Vietnã, entre outros países.
O consumo cada vez mais rápido das peças e a necessidade de
produzir para ciclos de moda mais curtos geram pressão sobre os
recursos, resultando em uma linha de produção que coloca os lucros à
frente do bem-estar humano.
Então, que devemos fazer?
Como seria uma indústria têxtil mais sustentável e o que precisamos
fazer para chegar lá? Estamos começando a ver alguns sinais iniciais de
uma indústria em transição.
Modelos de negócio baseados na longevidade, como Rent the Runway e Gwynnie Bee,
são o início de uma indústria que apoia a reutilização em vez do
consumo rápido e irresponsável. Assim como a Netflix reinventou a
maneira como alugamos filmes e a Lyft transformou o transporte,
começamos agora a ter a opção de alugar peças de roupa
em vez de comprá-las. Idealmente, chegaremos ao “fim da propriedade” no
que diz respeito ao vestuário – considerando, claro, os impactos
sociais, ambientais e na geração de empregos.
Esse é apenas o começo de uma transformação radical, mas necessária. Cada vez mais, as empresas do setor terão de enfrentar esse desafio e desassociar seu crescimento do consumo de recursos.
Para atender a demanda de maneiras inovadoras, as empresas da
indústria da moda precisarão fazer o que nunca fizeram antes: planejar,
testar e investir em modelos de negócios que reutilizem as roupas e
maximizem sua vida útil. É hora de inovar ou ficar para trás.
Proteger florestas tropicais é essencial para atingir as metas climáticas do Acordo de Paris. A ferramenta Global Forest Watch Climate recentemente lançou uma estimativa de emissão de dióxido de carbono associado aos dados da perda de cobertura florestal de 2017,
e os números demonstram o que a nós já sabíamos: se a perda da
cobertura de florestas tropicais continuar nas taxas atuais, seria quase
impossível manter o aquecimento abaixo de dois graus Celsius.
Abaixo há cinco números que demonstram justamente o quão importante
as florestas tropicais são em prevenir as mudanças climáticas, e como
esse assunto precisa ter mais visibilidade na agenda global de mitigação
das mudanças climáticas.
Se o desmatamento tropical fosse um país, seria o terceiro maior emissor de carbono, atrás apenas de China e Estados Unidos.
As emissões anuais brutas de dióxido de carbono da perda de cobertura
florestal em países tropicais foram de cerca de 4,8 gigatoneladas por
ano entre 2015 e 2017. Em outras palavras, a perda de cobertura
florestal está emitindo mais por ano do que 85 milhões de carros
emitiriam durante toda sua vida útil.
Está piorando. A média anual das emissões dos últimos 3 anos foi 63% maior do que dos 14 anos anteriores.
Dentre todas as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Acordo de Paris, as florestas representam um quarto de toda a redução de emissões planejada até 2030. Apesar de a taxa da perda de cobertura florestal desacelerar
em alguns lugares, os dados mais recentes de 2017 sugerem que muitos
países estão se movendo na direção contrária a essas metas. A média de
emissões entre 2015 – quando o Acordo de Paris foi assinado – e 2017
mostra um percentual 63% maior do que a média dos 14 anos anteriores (3
gigatoneladas contra 4,9 gigatoneladas por ano).
Os dados anuais do Global Forest Watch fornecem uma régua imparcial
para que as estimativas nacionais do desmatamento tropical possam ser
comparadas. GFW Climate usa esse banco de dados global para estimar a
emissão de carbono associada com a abertura de biomassa acima do solo.
Não é apenas o carbono nas árvores que torna as florestas
importantes para o clima. As florestas têm o poder de esfriamento local –
na medida de mais de 2 aparelhos de ar-condicionado por árvore.
Além de exercer um papel no orçamento global de carbono, as florestas
também têm a importante função em regular o clima no nível local por
meio de sombreamento e evapotranspiração. Cada 100 litros de água que
uma árvore transpira (apenas uma fração do que uma árvore faz por dia)
fornece o equivalente a manter dois aparelhos de ar-condicionado
funcionando por dia (o esfriamento equivalente a 70 kilowatt / hora de eletricidade).
Por outro lado, o desmatamento pode aumentar a temperatura do ar
localmente nos trópicos e em zonas temperadas em um grau Celsius, e
aumenta a variação diária de temperatura em quase dois graus Celsius nos
trópicos e 2,85 graus Celsius em zonas temperadas.
Cerca de 8% das emissões globais atualmente são de perda de cobertura
arbórea em áreas de floresta tropical, mas essas mesmas florestas podem
fornecer 23% da mitigação climática de baixo custo antes de 2030. As
NDCs ainda não cobrem a mitigação total necessária para manter o
aquecimento limitado a 2 graus Celsius, e cerca de 7,1 gigatoneladas de
dióxido de carbono podem ser mitigadas anualmente com manejo, proteção e
restauração das florestas tropicais, manguezais e turfas.
Isso equivale
ao total de emissões de Rússia, União Europeia e Japão
juntas em 2014. O potencial vem de emissões evitadas pelo fim do
desmatamento e degradação, assim como pela remoção de carbono
atmosférico que acontece quando as florestas crescem e são restauradas.
As florestas recebem apenas 3% do financiamento disponível para mitigação climática.
Apesar do potencial, os financiamentos para florestas, mesmo para países com alto índice de desmatamento, representam menos de 3%
do financiamento global de mitigação. Para atingir as metas globais é
crucial que atores locais e nacionais dobrem a aposta na estratégia já
provada de reduzir desmatamento para mitigar as mudanças climáticas.
É temporada de chororô. Sempre que colhemos o que plantamos abre-se mais uma temporada de chororô. Longos editoriais, comentaristas e autoridades com ar compungido entremeando lamúrias com arrancos de “indignação”...
É tudo falso menos a dor!
Não há surpresa alguma. Não há quem não estivesse esperando por mais essa. Nós somos o país das reprises. Pelo lado da responsabilidade do estado a tragédia de Brumadinho é o de sempre: o poder político sem nenhum tipo de freio. Pelo da Vale, bis: o poder econômico sem nenhum tipo de freio.
O que é esse mar de misérias num país rico como o Brasil senão os governantes e “servidores públicos” escrevendo suas próprias leis sem nenhum controle ou sanção, à salvo dos mares de lama que põem para rolar e livres para empanturrar de benesses a sua ganância? Pagamos os maiores impostos do mundo e falta tudo. Nada mata mais que tsunami de privilégios...
E o que são essas barragens da morte anunciada numa empresa com os números da Vale senão os “governantes corporativos” escrevendo suas próprias leis sem nenhum controle ou sanção, à salvo dos mares de lama que põem para rolar, livres para empanturrar de “bônus” a sua cupidez?
“Barragens de alteamento a montante” é o pior método de contenção de rejeitos, proibido em toda parte porque é certo que uma hora estoura como estourou Mariana. Quem não sabia? Mas é o que convém a quem colhe bônus “cortando custos” custe o que custar pros outros. E taí Brumadinho debaixo da lama.
Regimes de repartição na previdência combinados com privilégios ilimitados para as corporações estatais é o pior método de financiamento da previdência, proibido em toda parte porque é certo que uma hora estoura. Quem não sabia? Mas é o que convém a quem come como leão e contribui como passarinho. E taí o Brasil inteiro enterrado na lama.
Mas haverá chororô sobre tudo menos o que interessa: “É preciso políticos mais honestos”. “É preciso empresários menos gananciosos”. Mas a democracia teve de ser inventada precisamente porque não somos, deus do céu! Porque provamos e comprovamos ha milênios que não seremos nunca!
No tempo em que vivíamos dos dentes caninos que ainda temos na boca só sobrevivia quem os usasse sem qualquer hesitação. Hoje não precisamos mais disso mas o relógio de Darwin tem lá a sua velocidade. Aberto o caminho para a negociação política e para uma economia com regras, continuamos sendo capazes de resistir à nossa própria natureza se e somente se, em vez da recompensa de sempre, impusermos como certa a morte política e econômica a quem violar as novas regras pactuadas pela civilização. É preciso enganar o nosso instinto de sobrevivência programado para morder que prevalece sempre. Reprogramá-lo na infalibilidade da punição, coisa que só pode ser garantida se o gatilho que a desencadeia estiver nas mãos das vítimas e não nas dos autores de todo abuso de poder político e de todo abuso de poder econômico: sua majestade, o povo, o único lado insubornável (pelo menos não em segredo) dessas disputas entre grossos interesses escusos.
“Mas o que é o próprio governo, senão a maior das críticas à natureza humana? Se os homens fossem anjos, não seria necessário governo algum. E se os homens fossem governados por anjos, o governo não precisaria de controles externos nem internos”, grita-nos James Madison lá de 1787...
Não gosta de americano? Foi condicionado desde filhote a desligar o cérebro e ligar o fígado sempre que ouvir falar neles? Jurou aos “companheiros” não adotar nada do que venha deles exceto a penicilina e o computador?
Seus problemas acabaram!
Essa invenção não é deles. Eles copiaram dos suíços, o único povo europeu que nunca teve rei, o sistema de controle absoluto do aparato institucional de decisões pelo eleitor e não pela “otoridade” em cujas mãos tudo acaba virando comércio. E foram, por sua vez, copiados por todos os libertados da servidão e da miséria nos quatro quadrantes do planeta. O argumento indiscutível tem sido o do resultado. Funciona pra todo mundo, não importa a cultura, não importa a latitude. É só largar mão de ser burro. Tome a si mesmo como parâmetro. Você trabalha todo dia e faz aquele sacrifício todo pelo engrandecimento da sua alma imortal ou porque você tem um patrão e se não trabalhar direito e a favor da empresa vai pra rua e não come mais? Então! Político e funcionário encarregado de fiscalizar empresário é a mesma coisa. Bota patrão neles! Manda meia dúzia pra rua amanhã, sem “afastamento” nem aposentadoria antecipada, e vê lá se não muda tudo daí pra frente!
Essa nossa servidão é voluntária. 16,38% passa em três minutos. Segurança de barragem não passa nem em três anos, morra quem morrer. Mas nós insistimos. Exigimos dos marajás que nos sugam e dos juizes que não julgam, esses que vivem nos dando provas da sua “sabedoria” e da sua “ilustração”, que regulamentem e travem tudo ainda mais, que nomeiem mais fiscais achacadores, que baixem mais leis para enquadrar o povo e não para enquadrar o governo porque o "povo ignorante” é que é o perigo, não sabe nem o que é bom pra ele, foi-nos ensinado.
A impunidade é uma cadeia que começa (e só pode ser rompida) com a imputabilidade do primeiro elo. Quanto mais instável for o emprego deles todos mais estável será o país e a obra do seu povo. E vice-versa o contrário. Republica é representação. Nelas é o povo que faz a lei e os governos é que obedecem. Mas a brasileira está solta no ar. Existe só para si mesma. Não enraiza no país real. Não é o eleitor que manda nela. Todas as hierarquias estão invertidas.
Das violências impunes à roubalheira generalizada nada vai mudar enquanto o gatilho de todas as armas – as institucionais, não as que matam só uma pessoa por vez – não estiverem nas mãos do povo. Retomada de mandatos, leis de inciativa popular, veto popular às leis dos legislativos, eleição de retenção de juizes. Ponha-se o povo mandando e veremos todo mundo jogar para o time.
Concentração de aerossóis na atmosfera – A mudança climática está
aquecendo o oceano, mas está aquecendo a terra mais rápido e isso é
realmente uma má notícia para a qualidade do ar em todo o mundo
Por Holly Ober*, University of California, Riverside
O estudo , publicado em 4 de fevereiro na revista Nature Climate Change, mostra que o contraste no aquecimento
entre os continentes e o mar, chamado de contraste entre mar e terra,
aumenta a concentração de aerossóis na atmosfera que causam a poluição
do ar.
Os aerossóis são pequenas partículas sólidas ou gotículas de líquido
suspensas na atmosfera. Eles podem vir de fontes naturais, como poeira
ou incêndios florestais, ou fontes feitas pelo homem, como emissões de
veículos e industriais. Os aerossóis afetam o sistema climático,
incluindo perturbações no ciclo da água, bem como a saúde humana. Eles
também causam smog e outros tipos de poluição do ar que podem levar a
problemas de saúde para pessoas, animais e plantas.
“Uma resposta robusta ao aumento dos gases do efeito estufa é que a
terra vai aquecer mais rápido que o oceano. Este aumento do aquecimento
da terra também está associado ao aumento da aridez continental ”,
explicou o primeiro autor Robert Allen , professor associado de ciências
da terra na UC Riverside.
O aumento da aridez leva à diminuição da cobertura de nuvens e menos
chuva, que é a principal forma de os aerossóis serem removidos da
atmosfera.
Para determinar isso, os pesquisadores fizeram simulações da mudança climática
em dois cenários. O primeiro assumiu um modelo de aquecimento
business-as-usual, no qual o aquecimento procede a uma taxa constante e
ascendente. O segundo modelo investigou um cenário em que a terra
aquecia menos que o esperado.
No cenário usual, o aumento do aquecimento da terra aumentou a aridez
continental e, subsequentemente, a concentração de aerossóis que leva a
mais poluição do ar. No entanto, o segundo modelo – que é idêntico ao
modelo business-as-usual, exceto o aquecimento da terra é enfraquecido –
leva a um aumento discreto na aridez continental e poluição do ar.
Assim, o aumento da poluição do ar é uma consequência direta do aumento
do aquecimento da terra e da secagem continental.
Os resultados mostram que quanto mais quente a Terra fica, mais
difícil será manter a poluição do ar em um determinado nível, sem
controle rigoroso sobre as fontes de aerossóis.
Como os pesquisadores queriam entender como o aquecimento dos gases
de efeito estufa afeta a poluição do ar, eles não assumiram nenhuma
mudança nas emissões de aerossol feitas pelo homem ou antropogênicas.
“Isso provavelmente não será verdade porque há um forte desejo de
reduzir a poluição do ar, o que envolve reduzir as emissões
antropogênicas de aerossóis”, advertiu Allen. “Então, esse resultado
representa um limite superior.”
Mas também sugere que, se o planeta continuar aquecendo, maiores
reduções nas emissões de aerossóis antropogênicas serão necessárias para
melhorar a qualidade do ar.
“A questão é qual o nível de qualidade do ar que vamos aceitar”,
disse Allen. “Embora a Califórnia tenha algumas das leis ambientais mais
rígidas do país, ainda temos uma qualidade do ar relativamente ruim, e é
muito pior em muitos países.”
A menos que ocorram reduções de emissões antropogênicas, um mundo mais quente estará associado a mais poluição por aerossóis.
Referência: Enhanced land–sea warming contrast elevates aerosol pollution in a warmer world
Robert J. Allen, Taufiq Hassan, Cynthia A. Randles & Hui Su
Nature Climate Change (2019)
DOI https://doi.org/10.1038/s41558-019-0401-4
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular de Biologia – UNIFATEA/Lorena/SP)
“Quando
uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança
toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.” Johann Goethe
“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.” Eleanor Roosevelt
INTROITO
Após
ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande
evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado
ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como
teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente
os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o
seguinte texto.
Senhoras
e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental
planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da
humanidade.
INTRODUÇÃO
Para
que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema
desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar
objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta
da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser
consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as
outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da
humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem
infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano
exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente
descontrolada.
Historicamente
a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem
vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem
para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais
criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações
direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em
relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso
de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio
natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis
aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como
se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para
espécie humana.
É
triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais
que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no
planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim. Em suma, é
preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade
dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e
quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer
infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da
população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural
da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam
ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro.
Essas
são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas
de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que
precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir
sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo,
de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre
Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não
levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou
melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim.
É
preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que
assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da
vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa
ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.
Considerando
que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir
exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente
há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e
multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa
realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja
possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as
mudanças necessárias.
Na verdade, a humanidade precisa de uma nova
filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui
conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta.
O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para
assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.
Não
se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que
se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental.
Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito
bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto,
essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se
faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental
como referências no comportamento humano.
Não
tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que
obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da
importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se
tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para
os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que
esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e
assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho
de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém
sem praticamente nenhum resultado significativo.
Na
verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e
tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em
particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa
difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é
muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e
principalmente que as ações individuais pequenas podem ser
preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado
planetário.
Mas
como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e
político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja
vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são
sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes
grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180
graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento
humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir
produzir essa façanha.
Infelizmente,
por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos
aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir
uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso
mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós,
aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem
lutando de maneira inglória, contra a maré.
Aliás, na verdade, contra um
tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e
que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais
o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer
consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver
esta situação?
Essa
é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o
paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse
real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez,
apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu
descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que
são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos
últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e
mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para
convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes. Por outro
lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus
dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele
que nos deu o planeta.
VIDA E QUALIDADE DE VIDA
Vários
autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a
palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu
interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram
verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma
definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui
vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma
definição precisa.
Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem
concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria
de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além
disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma
particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém
conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do
universo.
A
vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou
extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo
processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que
existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda
estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas
que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e
outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos
produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a
diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir
por ação exclusiva das atividades humanas.
Da
mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo
de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de
algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e
mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade.
Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode
modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz
respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições
naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem
propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que
não foi programada pelos processos naturais.
Assim,
o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que
não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo
aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso
dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara
nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não
parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos.
Essa
condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas
permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto
melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a
sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais,
desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.
Vejam
bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos
“qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do
que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos,
apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa.
Matar
outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que
contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse
conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da
humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem
dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior
ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de
outros seres humanos.
Alguns
humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito
aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é
apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas
espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade.
Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana
só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras
espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a
qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo
na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa
exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.
Hoje,
existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida
do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos
organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e
nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na
Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual
também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos
nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser
entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem
letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma
prerrogativa planetária e não apenas humana.
CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO
Agora
vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria
principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião
ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma
questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e
não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer
outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto
qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma
necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para
a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa
efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.
Por
outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos
e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso
equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe.
Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão
deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não
antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas
identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária
das espécies vivas.
Também
não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser
estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se
tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte.
Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de
todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área
considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas
páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma
espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial
das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não
valem para a espécie humana.
Se
não houver controle populacional humano não há como frear as
necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de
degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as
cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A
demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e
como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a
aumentar.
O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta,
por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim,
cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de
outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os
demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola
de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas
certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.
Outro
problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de
crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e
que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça
alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a
continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que
algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por
questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá
para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por
conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é
finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.
Desta
maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer
economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria
da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer
economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais,
porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos
recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma
representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem
se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.
Pois
é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com
menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a
população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a
população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não
forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O
planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser
limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra
possibilidade!
A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO
Todas
as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de
vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas
conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos
interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A
ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os
humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e
assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a
indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres
humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A
natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é
outra questão e não vou discutir sobre isso agora.
Como
já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de
simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado,
para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu
esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o
principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar,
dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas
passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.
Isto
é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e
vendem (trocam) esse material.
Para “facilitar” essas transações
comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como
padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio
humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo
de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies
do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de
economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que
passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria
dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os
recurso naturais.
Não
fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até
ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um
objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a
ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais
espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um
bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e
especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não
der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da
atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a
comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.
A
propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e
nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o
lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e
ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos
transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar
que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.
Fazer
riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos
seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua
trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não
mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter
dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que
já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados
atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por
comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na
maioria das compras, além de mera ostentação.
Lamento,
mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a
maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento
do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a
humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não
humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera
contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais
lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É
preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes
dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a
seguir nessa direção.
O
mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando
que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer
com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de
ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me
parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no
interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior
interesse da humanidade.
SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA
O
Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a
Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a
partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma
maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns
poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver
soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas
anteriormente.
O compromisso fundamental desses conceitos foi criar
mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção
da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser
garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito
boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus
administradores e suas populações também precisam estar envolvidos
nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no
compromisso com o planeta.
A
distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito
grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos.
Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos
naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da
humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro
para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os
ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os
pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem
está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.
A
Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a
sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos
naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve
ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para
aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que
esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas
é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida
no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não
houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim
garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para
nascer.
Nós
humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da
história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás,
acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois
se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro
lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar
resolvê-los.
Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente
sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com
eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar
dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito
no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por
toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável
pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua
própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.
No
mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões
geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável
tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os
grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as
condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se
não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade
é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um
planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar
como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos
seres humanos na superfície da Terra.
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)
Obviamente
para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer
será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de
educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões
ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já
diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que
deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões
genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação
ambiental, então que assim seja.
Mas, eu tenho uma preocupação mais
específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo
pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o
ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de
educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em
frente.
Temos
que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que
estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e
por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes,
sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se
cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará
caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação
ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que
isso seja um utopia.
Atitudes
antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que
ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da
vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa
espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser
mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam
levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que
cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é
uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos
evolutivamente de outras espécies vivas.
A
Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses
planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência
daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir
dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja
qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse
maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao
cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão
mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e
avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.
A
chamada educação ambiental será também a educação social, a educação
econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões
que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum
mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante,
quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de
garantir vida e qualidade de vida ao planeta.
A noção de Terra é única e
que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente
será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre
nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores
serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em
formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e
economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.
A
educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e
consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho
evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa
educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a
realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também
participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A
responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos
largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser
humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos,
porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.
CONCLUSÕES
Por
fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é
fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já
conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente
nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se
fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e
legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos
para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos
paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das
questões ambientais às diferentes populações humanas.
Esses
mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os
comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as
práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam
efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A
sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes
culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e
das instituições sociais.
A
prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre
alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática
se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da
humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim
deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a
sustentabilidade é a principal dessas ações.
A
educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro,
objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as
novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a
educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma
mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies
que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental,
porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição
humana.
O
dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até
porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a
importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de
água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas
riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o
dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e
comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade
contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá
existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente
aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será
reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra
econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a
humanidade.
É
claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão
existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças
entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim
diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que
não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A
educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente
igualitária e justa.
É
claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não
depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou
realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo
sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar,
pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam
possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores
hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de
culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós
ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos
problemas sozinhos.
Por
favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os
políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes
empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e
mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido
de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os
comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro
melhor para o planeta e para toda humanidade.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (62) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]