quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Como inserir a questão ambiental na escola? No Acre, educadores buscam resposta


WWFPor José Luiz Cerqueira*

A Educação Ambiental tem o objetivo de gerar uma consciência ecológica em cada ser humano, ajudando as pessoas a trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável e da redução de impactos ambientais.

O WWF-Brasil entende e reconhece a importância desse tema – e, por isso, vem ajudando, desde o ano passado, os educadores do Acre na atualização do Plano Estadual de Educação Ambiental daquele estado.

A ideia é colocar a questão ecológica no currículo escolar dos meninos e meninas acrianos, propondo discussões sobre a questão ambiental em todos os seus aspectos: éticos, sociais, políticos e econômicos. A última discussão deste tipo ocorrida naquela unidade da Federação aconteceu há dez anos.

O objetivo é fazer com que mais de 260 mil estudantes, distribuídos por toda a rede pública de Educação acriana, consigam conectar as questões ambientais com o seu dia-a-dia e o cotidiano das comunidades em que estão inseridos.

Diretrizes e princípios

O mais recente capítulo deste trabalho ocorreu no mês de agosto, no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco. Cerca de 50 participantes, entre professores, estudantes universitários, indígenas, extrativistas, lideranças comunitárias e rurais, estiveram reunidos pensando em como abordar a questão ambiental nas escolas.

Na ocasião, eles elaboraram diretrizes, princípios e linhas de ações -  e o produto dos debates será consolidado para a elaboração de um documento final.

A coordenadora da divisão de Educação Ambiental da Secretaria Estadual de Educação Ambiental (Sema-AC), Fátima Silva, disse que a atualização deste plano tem ocorrido de maneira “muito bonita”. “É um processo bem interessante de participação social, e isso faz toda a diferença na implementação de um Plano: todos se consideram donos e tem aquele sentimento de pertencimento ao tema que estamos discutindo”, afirmou.

Segundo o analista de conservação do WWF-Brasil, Flávio Quental, o trabalho que ocorre hoje no Acre tem três pilares: identificar as ações relacionadas à Educação Ambiental que acontecem no Estado; elaborar um plano com metas, prazos, estratégias e orçamento; e pensar maneiras de envolver a sociedade civil neste processo.

“Nós acreditamos muito nos processos de formação. Eles são fios condutores da transformação da sociedade para uma visão mais sustentável, são uma ferramenta poderosa de melhoria de escolaridade dos cidadãos e de políticas públicas”, explicou Flávio.

Antecedentes

Esse processo teve início em junho de 2017, durante o I Encontro de Educadores e Educadores Ambientais, ocorrido em Rio Branco. Na ocasião, mais de 400 atores sociais, de 22 municípios diferentes, deram início ao processo de atualização do Plano Estadual de Educação Ambiental.

Desde então, diversas oficinas vêm ocorrendo para debater este tema, obedecendo a um calendário específico e envolvendo diversas entidades da sociedade civil.   

Próximos passos

O novo Plano Estadual de Educação Ambiental está em fase final de elaboração - faltam apenas algumas reuniões e oficinas com comunidades e entidades da área ambiental para que o processo seja concluído e um documento final seja escrito.

Em seguida, a proposta do novo Plano será encaminhada para a Assembleia Legislativa do Acre, onde deverá ser votada e assim se tornar uma política pública de Estado. A previsão é de que a partir do início de 2019 todos os professores, pedagogos e educadores das escolas acrianas tenham as diretrizes educacionais sobre o tema ambiental atualizadas, para aplicação em sala de aula com seus alunos.

*Estagiário sob supervisão de Jorge Eduardo Dantas e Denise Oliveir

Brasil vai estar entre mais afetados por mortes em ondas de calor

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Brasil vai estar entre mais afetados por mortes em ondas de calor

Pesquisa sugere que Brasil, Colômbia e Filipinas terão mais mortes por fenômeno que crescerá com mudança climática


Esta imagem mostra a tendência da temperatura do Ártico entre agosto de 1981 e julho 
de 2009. Devido ao aquecimento global, que é exacerbado no Ártico, vemos um 
aquecimento significativo ao longo deste período de 28 anos – Foto: NASA GISS 
Scientific Visualization Studio / Domínio público via Wikimedia Commons
A mudança climática poderá aumentar o número de mortes relacionadas às ondas de calor entre 2031 e 2080, comparado ao período que vai de 1971 a 2020. Segundo uma pesquisa publicada na revista científica PLOS Medicine, os países mais afetados seriam Brasil, Colômbia e Filipinas. Já Europa e Estados Unidos seriam as regiões menos afetadas.

Os modelos construídos pelos pesquisadores consideram projeções que podem variar entre baixa, média e alta ocorrência de ondas de calor. No caso do Brasil, o estudo aponta para um aumento de até 25% nas mortes relacionadas com esses eventos climáticos em um cenário de baixa ocorrência. Se a ocorrência das ondas de calor for alta, as mortes podem aumentar em até 75%.

“Todos os modelos mostram que no Brasil aumentarão a frequência e intensidade de ondas de calor e, por sua vez, aumentará o número de mortes”, afirma a meteorologista Micheline Coelho, uma das coautoras do estudo. Pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, ela foi a responsável pelas análises que se referem ao País.

O estudo indica que, entre as regiões analisadas (Américas do Norte, Central e do Sul, Europa setentrional, central e meridional, Leste da Ásia, Sudeste Asiático e Oceania), as áreas próximas da linha do Equador correm mais riscos do que as áreas temperadas. Para se ter uma ideia, no pior cenário projetado – que inclui variáveis demográficas, de emissões de gases estufa e de adaptação ao clima – o número de mortes relacionadas às ondas de calor subiria 2000% na Colômbia e 150% na Moldávia.

Formação de uma onda de calor – Ilustração: Domínio público via Wikimedia Commons
Os pesquisadores analisaram dados sobre mortalidade e séries históricas de temperaturas registradas em 412 cidades, de 20 países. Para calcular as projeções de incremento na mortalidade, eles utilizaram também dados disponibilizados de modelos climáticos globais, os mesmos que o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês) usa para produzir seus relatórios.

Não existe um conceito aceito universalmente pela comunidade científica para definir o que é onda de calor. Em geral, diz-se que uma onda de calor é um fenômeno no qual faz mais calor do que o comum ao longo de vários dias. Representa um problema de saúde na medida em que afeta a termorregulação dos organismos.

A termorregulação é um mecanismo de equilíbrio da temperatura que, em humanos, age para manter nosso organismo sempre em torno de 37°C. Quando o tempo do lado de fora vira e a temperatura do ambiente oscila, o sistema de termorregulação entra em ação para dissipar ou reter o calor do corpo.
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Locais de comunidades e variação média porcentual do excesso de mortes relacionadas a 
ondas de calor em 2031-2080, em comparação com 1971-2020, no Cenário RCP8.5 e 
cenário populacional de alta variante, com suposição de não adaptação – 
Fonte: RCP, Representative Concentration Pathway
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“Quando o ambiente está muito quente, o organismo não consegue fazer essa troca e a regulação do nosso corpo perde o equilíbrio, podendo levar a graves problemas ou à morte. O desequilíbrio da temperatura corporal promove mudanças em hormônios e enzimas, atingindo os mais diversos órgãos”, explica Micheline Coelho.

O artigo oferece, ainda, sugestões para mitigação e adaptação à mudança climática, como a implementação de políticas mais rigorosas para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a criação de sistemas de alerta e de centros urbanos de resfriamento e o desenvolvimento de tecnologias de casas inteligentes.

A pesquisa foi desenvolvida por um grupo colaborativo formado por pesquisadores de vários países, do qual fazem parte Micheline Coelho e o médico patologista Paulo Saldiva, atual diretor do IEA.

Duas publicações da USP ampliam o debate sobre os efeitos das metrópoles na saúde pública


Duas publicações da USP ampliam o debate sobre os efeitos das metrópoles na saúde pública


Pedestres enfrentam garoa na tarde desta terça (25) na região central de São Paulo – Foto: Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress
Pedestres enfrentam garoa na tarde desta terça (25) na região central de São Paulo – Foto: Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress
Duas publicações recentes da USP ampliam o debate sobre os efeitos das metrópoles na saúde pública. Uma delas é a Revista USP, publicada pela Superintendência de Comunicação Social (SCS), que, na sua edição número 107, traz o dossiê “Saúde Urbana”. Esse dossiê apresenta um panorama da saúde nas grandes metrópoles e dos desafios a serem enfrentados para garantir a qualidade de vida nelas.



A outra publicação é a revista Estudos Avançados, número 86, do Instituto de Estudos Avançados (IEA), que publica o dossiê “Metrópoles e Saúde”, com artigos sobre temas como poluição atmosférica, carência de verde, transporte público insuficiente, más condições de habitação como fator de risco para a população e difusão de doenças infecciosas.

Organizado pelo professor Eliseu Alves Waldman, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o dossiê “Saúde Urbana”, da Revista USP, reúne artigos de especialistas que possibilitam ao leitor compreender as diferentes dimensões que envolvem o tema.

Na apresentação do dossiê, Waldman observa que o crescimento rápido e não planejado dos centros urbanos dos países de baixo e médio desenvolvimento está associado a pobreza, desemprego, moradias inadequadas, aglomeração, doenças transmitidas por vetores, aumento de tráfego de veículos, degradação e poluição ambiental. “Por sua vez, a infraestrutura urbana é insuficiente para responder às demandas de saneamento, educação e saúde dessas populações.”
Capa da Revista USP nº 107
Capa da Revista USP nº 107
Uma falta de infraestrutura grave, que o dossiê pontua e alerta. “Tal panorama destaca a diversidade e a complexidade das questões relativas à saúde nas cidades como uma prioridade em políticas públicas em todo o globo, ficando claro também que o equacionamento adequado de soluções para tais problemas deve envolver vários setores, especialmente saúde, ambiente, habitação, energia, transporte e planejamento urbano”, acrescenta Waldman.

O professor destaca a preocupante incidência do zika vírus, transmitido pelo mesmo mosquito vetor da dengue e da chikungunya, o Aedes aegypti, presente especialmente em áreas urbanas. Situa o Brasil como o epicentro de uma pandemia que já atingiu a Oceania, vários países latino-americanos e do Caribe e ainda Cabo Verde, na África ocidental.
“Sua presença no Brasil foi confirmada em maio de 2015 e, poucos meses depois, o vírus já havia se disseminado pela maioria dos Estados brasileiros e boa parte dos países da América Latina e Caribe. Vale lembrar que tal fato ocorreu pouco mais de um ano após a emergência do vírus chikungunya na mesma região.”
Um dos artigos publicados no dossiê “Metrópoles e Saúde”, da revista Estudos Avançados, é “Como as cidades podem favorecer ou dificultar a promoção da saúde de seus moradores?”, de Paulo Hilário Nascimento Saldiva, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, escrito em parceria com Laís Fajersztajn e Mariana Veras. No texto, eles mostram que morar próximo a um parque pode reduzir o risco de infarto do miocárdio, enquanto a exposição à poluição do ar ambiente aumenta esse risco.

Capa da revista Estudos Avançados nº 86
Capa da revista Estudos Avançados nº 86
Segundo os autores, evidências associam a exposição crônica ao ruído do tráfego ao ganho de peso.


“Em 2014, mais de mil pessoas morreram no trânsito de São Paulo. No entanto, recomendar que as pessoas fiquem em casa com as janelas fechadas é inviável. A adoção de hábitos saudáveis é favorecida ou dificultada pelo ambiente construído e pelo modo como a cidade está organizada. Além disso, alguns fatores de risco para doenças, como a exposição à poluição do ar, vão além de escolhas individuais e dependem, em grande parte, de ações governamentais”, enfatizam.

No mesmo dossiê de Estudos Avançados, o artigo “Saúde nas metrópoles – Doenças infecciosas”, de Aluisio Cotrim Segurado, professor da Faculdade de Medicina da USP, Alex Jones Cassenote, doutorando dessa mesma faculdade, e Expedito de Albuquerque Luna, professor do Instituto de Medicina Tropical da USP, analisa a tendência de morbidade e mortalidade associadas a agravos infecciosos nas 17 regiões metropolitanas brasileiras entre 2001 e 2015 e conclui que algumas doenças infecciosas de notificação compulsória seguem representando importantes causas de morbidade e mortalidade nas metrópoles brasileiras no período analisado.

Dentre os agravos infecciosos incluem-se doenças de transmissão respiratória, tais como a hanseníase e a tuberculose, infecções sexualmente transmissíveis, doenças relacionadas ao contato com água, como a leptospirose, e infecções transmitidas por insetos vetores (dengue). “Nessas enfermidades, o contato próximo ou mesmo íntimo entre pessoas infectadas e suscetíveis, ou ainda condições externas facilitadoras da transmissão, tais como a ocorrência de enchentes ou a proliferação de insetos no ambiente peri e intradomiciliar, parecem contribuir para a persistência da circulação de seus agentes causais”, analisam.

Serviço

Revista USP, número 107, dossiê “Saúde Urbana”, organizado por Eliseu Alves Waldman, publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, 144 páginas, R$ 20.
Estudos Avançados, dossiê “Metrópoles e Saúde”, número 86, publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, 352 páginas, R$ 30.
Leila Kiyomura e Izabel Leão

Rio Pinheiros ganhará teste com nanobolhas para combater poluição

Rio Pinheiros ganhará teste com nanobolhas para combater poluição

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP utilizará tecnologia semelhante à adotada para despoluir lago no Peru


Por - Editorias: Ciências da Saúde, Ciências Ambientais - URL Curta: jornal.usp.br/?p=201931
Não haverá uso de produto químico nem geração de resíduos – 
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP irá analisar a eficiência da aplicação da tecnologia de nanobolhas para a melhoria da qualidade da água do Rio Pinheiros, em São Paulo. Os testes serão realizados em dois canais da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) localizados junto à Usina Elevatória de Traição e devem começar em cerca de dois meses, quando a montagem do equipamento estará completa.

“As nanobolhas já vêm sendo utilizadas em outros países com muito sucesso na despoluição de águas superficiais”, diz a engenheira Paula Vilela, citando o caso do lago El Cascajo, em Chancay, no Peru. “Ela (a tecnologia) pode ser utilizada em qualquer sistema de aeração artificial de meios aquáticos”, completa.

Paula realiza a pesquisa no pós-doutorado junto ao Departamento de Saúde Ambiental da FSP, sob orientação do professor Pedro Caetano Mancuso. Ela utilizará um gerador que produz nanobolhas em dimensões inferiores a 50 nanômetros – o que equivale a 0,00005 milímetros. Além do tamanho diminuto, as nanobolhas se comportam de maneira diferente das bolhas visíveis a olho nu. Elas não flutuam em direção à superfície nem se rompem rapidamente. Podem durar por várias horas ou até alguns meses. Deslocam-se com maior velocidade e são mais estáveis do que as bolhas maiores.

Para realização dos testes, o gerador de nanobolhas será integrado a uma bomba centrífuga, uma cápsula geradora de ozônio e um painel de comandos elétricos. “Não existe uso de produto químico nem geração de resíduos”, afirma Paula. As nanobolhas produzidas por esse tipo de sistema costumam ser feitas de ar, gás oxigênio ou ozônio. A engenheira espera observar a depuração dos contaminantes como próprio resultado do movimento das nanobolhas.

Antes de ligar o gerador de nanobolhas, os pesquisadores irão coletar a água do rio para fazer novas análises laboratoriais. Uma vez que o equipamento estiver em funcionamento, essas análises serão feitas semanalmente nos canais, para monitorar mudanças nas condições da água. Paula também quer verificar detalhadamente o efeito da tecnologia sobre as máquinas do sistema de bombeamento da usina, que são prejudicadas pelo lodo e os materiais sólidos. A ideia é verificar se o uso das nanobolhas é capaz de melhorar as condições de operação das máquinas.

Segundo a engenheira, testes preliminares realizados em abril de 2017 superaram as expectativas dos pesquisadores. Após o uso do gerador de nanobolhas, a água antes carregada de poluição ficou sem odor e sem cor. As análises laboratoriais revelaram, ainda, outros resultados positivos, com significativa redução de contaminantes.

Lama da Samarco pode ser “bomba-relógio” de metais pesados no Rio Doce

Lama da Samarco pode ser “bomba-relógio” de metais pesados no Rio Doce

Rejeitos provenientes do desastre em Mariana (MG) continuam chegando ao estuário do Rio Doce
Resíduos do reservatório da Samarco em Minas Gerais continuam chegando ao estuário do 
Rio Doce e o material está associado a metais pesados que correm o risco de serem liberados 
no ambiente – Foto: Xosé L.Otero
Uma “bomba-relógio” com metais pesados continua ameaçando o estuário do Rio Doce, mesmo após dois anos e meio do vazamento de 50 milhões de metros cúbicos (m3) de rejeitos de mineração do reservatório da Samarco, localizado no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (Minas Gerais). Essa conclusão é resultado de um estudo desenvolvido em parceria por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA).


“A ideia era de que a maior parte daquele material liberado após o acidente ficasse nas proximidades da barragem e do município de Mariana. No entanto, a lama chegou a Regência, uma vila localizada no litoral do Espírito Santo, região importante ecologicamente, com intensa atividade de pesca e turismo, onde o Rio Doce deságua”, lembra Tiago Osório Ferreira, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq.


Segundo o estudo, o rejeito continua chegando ao estuário e o material está associado a metais pesados, que correm o risco de serem liberados no ambiente. “Em função das condições locais de solo, esses metais podem, a médio ou longo prazo, ser biodisponibilizados”, complementa o docente.

Parte desse estudo foi publicada pelo pesquisador Hermano Queiroz, doutorando do programa de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, da Esalq. Queiroz identifica alguns dos metais encontrados. “Identificamos cobre, manganês, zinco, cromo, cobalto, níquel, chumbo, todos eles associados ao rejeito”, ressalta.


Novo desastre
A disponibilização de metais pesados em um sistema estuarino pode resultar em novo desastre. “Alguns desses metais são tóxicos e podem se acumular em plantas e peixes, acarretando efeitos potencialmente nocivos sobre a fauna e a flora associadas a esse ecossistema”, destaca o professor Ferreira.
Águas do Rio Doce em Galileia (Minas Gerais), com a lama da barragem da Samarco que se rompeu no município de Mariana em 5 de novembro de 2015 – Foto: Eli Kazuyuki Hayasaka via Wikimedia Commons/CC BY-SA 2.0
Os pesquisadores alertam ser perigoso considerar apenas os patamares atuais de contaminação.

“Olhando para os níveis de contaminação de hoje, apenas o níquel e o cromo, entre os metais analisados, estão em níveis superiores ao permitido pela legislação brasileira. No entanto, essa visão estática não acompanha a dinâmica da movimentação do material que segue em direção ao estuário periodicamente; por exemplo, cada vez que chove, mais rejeito é depositado”, constata Queiroz.


Além disso, considerar os índices totais de contaminação mascara o fato do rejeito rico em ferro ser uma fração instável, podendo ser solubilizado e facilitar a liberação dos metais pesados. “Os oxihidróxidos de ferro, nas condições de solo estuarino, são suscetíveis a dissolução, o que poderá aumentar a biodisponibilidade e o risco de contaminação por metais”, observa o pesquisador.


O estudo faz parte do projeto Rede de Solos e Bentos na Foz do Rio Doce (Rede SoBEs RIO DOCE), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), e pode ser lido, na íntegra, em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969718315547. Sob solicitação, os resultados foram apresentados ao governo do Estado do Espírito Santo.


Com informações de Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq


Mais informações: e-mails hermanomelo@usp.br, com Hermano Queiroz; e toferreira@usp.br, com o professor Tiago Osório Ferreira

Desvalorizar o meio ambiente é um risco para todo brasileiro

Desvalorizar o meio ambiente é um risco para todo brasileiro 

Patrimônio e direito de toda a sociedade, cabe a ela não abrir mão de seu capital natural Estamos a poucos dias do segundo turno das eleições. 

O momento é desafiador para os brasileiros e para o Brasil. 

Chegou a hora de se unir a favor da proteção do meio ambiente, direito e patrimônio de toda a sociedade brasileira. 

O Brasil detém a maior biodiversidade do mundo e belas paisagens naturais que atraem anualmente milhares de turistas. 

O futuro e o desenvolvimento do País também dependem da boa gestão do seu capital natural. Aqui está a maior área de floresta tropical contínua do planeta, que ajuda a regular o clima, produzir água, estocar carbono nas árvores, manter solos férteis para a agricultura, reduzir o risco de desastres naturais, dentre tantos outros serviços. 

O país não pode abrir mão da proteção conferida ao meio ambiente pela Carta Cidadã de 1988. A economia brasileira, hoje em grande medida conectada aos mercados globais, depende do equilíbrio entre produção e proteção ambiental para prosperar. 

Retrocessos na agenda ambiental do País podem representar riscos enormes à reputação das empresas e produtores brasileiros, colocando o Brasil na contramão do movimento global de transição para a economia de baixa carbono.

 O Ministério do Meio Ambiente (MMA) e seus órgãos têm papel central na implementação das políticas ambientais, que não se resumem àquelas afetas ao setor agropecuário, englobando, entre outros, a preservação dos biomas brasileiros, a proteção da biodiversidade e o combate à biopirataria, o combate ao desmatamento ilegal e outros crimes ambientais. 

Além disso, define e efetiva áreas protegidas, controla os variados tipos de poluição e de resíduos sólidos, gerencia os recursos hídricos, analisa a sustentabilidade de empreendimentos de impacto ambiental e combate as mudanças climáticas. 

Eventual extinção do MMA, com a sua incorporação ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e o esvaziamento das funções de seus orgãos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), resultaria em violação sem precedentes a todo o Sistema Nacional do Meio Ambiente, desenvolvido a partir da Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981. 


A subordinação de tais funções à pasta da agricultura, além de demonstrar franco desconhecimento do tema, geraria conflitos de interesses insuperáveis e colocaria em risco quatro décadas de avanços na proteção do meio ambiente. 

A eliminação do licenciamento ambiental, um dos principais instrumentos da política ambiental, e a ampliação do uso de agrotóxicos no País, retirando da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do IBAMA a competência de avaliar os impactos à saúde da população e ao meio ambiente, expõem toda a sociedade nacional a danos irreversíveis. 

O anúncio de uma possível saída do Brasil do Acordo de Paris é inconsequente e demonstra desprezo a um dos mais importantes tratados internacionais de proteção ao meio ambiente, às presentes e futuras gerações, podendo gerar enormes prejuízos diplomáticos e comerciais ao País. 


Mais de 95% dos cidadãos brasileiros consideram que as mudanças climáticas já afetam o Brasil.

1 Líderes de todo o planeta, a exemplo do Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, alertam que o mundo corre riscos de danos irremediáveis diante das mudanças climáticas, com consequências desastrosas para toda a população mundial e os sistemas naturais que a sustententa.

2 Na mesma direção, a proposta de abrir Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e Unidades de Conservação à mineração, à agropecuária e demais atividades de impacto desconsidera a sua essencialidade para a sobrevivência física e cultural de povos e comunidades tradicionais e também para o equilíbrio ambiental, visto se tratar das áreas mais preservadas de todo o País. 


Defender o fim do ativismo – inclusive do ambiental – representa afronta à Constituição Federal e à democracia, que asseguram livre direito de expressão, de organização, manifestação e mobilização social na defesa de direitos. 


Isso se torna ainda mais grave em função da posição ocupada pelo Brasil de recordista mundial em assassinatos de defensores do meio ambiente. Tais medidas, ao arrepio da Constituição, podem fazer explodir o desmatamento na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica e nos demais biomas brasileiros, que já é alto. 


Se isso acontecer, o País todo vai sofrer, não só porque perderemos irreversivelmente nossas fauna e flora, mas também porque é da floresta conservada que depende o regime de chuvas de todo o continente sulamericano, que viabiliza, por exemplo, a irrigação de plantações agrícolas no Brasil ou que mantém cheios os reservatórios do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. 


A ciência brasileira nos alerta: se o desmatamento da Amazônia atingir entre 20% e 25% (o desmatamento acumumulado atualmente é de 19%), a floresta entrará em um “ponto de não retorno”, a partir do qual todo o seu equilíbrio será modificado, passando por processo irreversível de savanização, com a perda de seus serviços ambientais. 3 Ademais, é no Cerrado, cujo desmatamento já ultrapassou 50%, que estão as nascentes dos mais importantes rios brasileiros, como o Paraná, o Tocantins e o São Francisco. 


Para além de todos os riscos ambientais, a adoção das propostas em tela terá impactos negativos nas relações comerciais do Brasil com os demais países do mundo. 4 Diante da gravidade deste cenário à área socioambiental, as organizações signatárias vêm alertar à sociedade brasileira e à comunidade global sobre os riscos concretos e ireeversíveis a que estão expostas. Meio ambiente é coisa séria. Diz respeito à nossa qualidade de vida e ao mundo que deixaremos para nossos filhos, seja qual for a nossa forma de pensar, agir e lutar. 


A sua proteção constitui direito fundamental de toda a sociedade brasileira, configurando-se como pauta apartidária. O próximo Presidente da República tem o dever de reconhecer e se comprometer com a proteção das conquistas ambientais da sociedade. É preciso caminhar em direção à Constituição Cidadã; não se afastar dela. 


 1 http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2015/05/17.html#!v/4187793. 2 https://nacoesunidas.org/ameaca-existencial-direta-da-mudanca-climatica-se-aproxima-de-ponto-sem-volta-alertachefe-da-onu/ 3 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/07/parte-da-amazonia-pode-deixar-de-ser-floresta-afirmaestudo.html 4 https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-09-25/macron-says-no-trade-deals-without-complying-withclimate-treaty 

Assinam: 


Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

 Associação dos Servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Asibama-DF)

Associação Nacional da Carreira de Especialistas em Meio Ambiente (AscemaNacional)

Centro de Trabalho Indigenista (CTI)

Conectas Direitos Humanos Coordenação das Organizações Indígena da Amazônia Brasileira (Coiab)

Ecologia e Ação (ECOA)

Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo (FREPESP)

Frente por uma Nova Política Energética Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social

Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD)

Greenpeace Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba)

GT Infraestrutura Instituto Centro de Vida (ICV)

Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)

Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé)

Instituto Ethos Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

 Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)

Instituto Socioambiental (ISA)

 International Rivers Network (IRN)

 Observatório do Clima

 Operação Amazônia Nativa (OPAN)

Rede Cerrado

Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA)

Rede Pantanal

SOS Mata Atlântica

Terra de Direitos

WWF-Brasil