terça-feira, 26 de setembro de 2017

Projeto revela parte da cidade submersa no Lago Paranoá, em Brasília

  • 24/09/2017 10h21
  • Brasília
Helena Martins – Repórter da Agência Brasil
Brasília - Mergulhadores de escolas de mergulho do DF participam de uma ação de limpeza do Lago Paranoá. O objetivo é de resgatar mais de uma tonelada de resíduos das águas do Lago (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Mergulhadores de escolas de mergulho do DF participam de ação de limpeza do Lago Paranoá. Projeto prevê compartilhamento de imagens e vídeos do que for encontrado em cada localMarcelo Camargo/Agência Brasil

Vestígios da vida de operários que ajudaram a construir Brasília, objetos que fizeram parte do passado, espécies diversas. Parte da história, da fauna e da flora da capital federal ocultadas desde que as águas do Rio Paranoá correram pelo vale que acabou se transformando no Lago Paranoá, um dos locais mais conhecidos da cidade, poderá ser conhecida por toda a população a partir de outubro, quando imagens subaquáticas da parte do cerrado coberta pela água ganharem a internet.

A divulgação dos registros submersos faz parte do Projeto de Mapeamento Georreferenciado do Lago Paranoá. Idealizado pelo mergulhador Frank Bastos, a iniciativa consiste em um sitecolaborativo, que receberá dos mergulhadores vídeos e informações o que for encontrado em cada local. As descobertas serão checadas por outra pessoa, que navegará pela região. Depois dessa verificação, as informações se tornarão acessíveis ao público.

Frank conta que a ideia de registrar o que existe no lago veio da percepção de mudanças e da vontade de contribuir para a conscientização da população. Dono de uma escola de mergulho que promove aulas no local aos fins de semana, ele diz que vinha notando migrações e extinções de espécies de peixes e outros animais, bem como encontrando bastante lixo, inclusive objetos inusitados como banco de cimento e até um orelhão telefônico. Mapeando e registrando o Lago Paranoá e sua riqueza, ele espera sensibilizar a população para que cuide do local e também valorize a história da cidade. Além disso, o projeto objetiva estimular a preservação ambiental.

“Mergulhando, nós descobrimos, por exemplo, pontos de reprodução de espécies de peixes, exatamente em áreas destinadas ao turismo e à pesca pelo plano de manejo do lago. Por isso, acreditamos que o projeto pode ampliar a proteção de determinados locais. Sem informação científica, o próprio governo errou ao mapear o lago”, diz Bastos.

Frank Bastos, criador do projeto de Mapeamento Geo-referenciado do Lago Paranoá
Criador do projeto de Mapeamento Geo-referenciado do Lago Paranoá, Frank Bastos diz que levantamento contribuirá para discussão do uso do lagoWilson Dias/Agência Brasil

Segundo ele, o projeto também resultará no mapeamento das espécies, com a elaboração de um catálogo específico da vida encontrada no lago que deverá auxiliar pesquisas e discussões sobre os usos do lago. Para que tudo isso seja alcançado, Bastos espera que historiadores e biólogos se somem à iniciativa, que até agora agrega diferentes escolas de mergulho da capital.

Restos de casas, fazendas, estátuas, carros, ônibus e até um cânion são exemplos do que já foi encontrado e filmado pelos mergulhadores. Parte desses objetos estava a 15 metros abaixo da água, mas há áreas do lago com 40 metros de profundidade, que exigem diversos mergulhos para serem registradas. Alguns dos vestígios são conhecidos do público, pois foram registrados pelo repórter fotográfico Beto Barata, autor do livro Brasília Submersa – o Fundo do Lago Paranoá, de 2010. A novidade do projeto de georreferenciamento é a utilização de vídeos, bem como a elaboração colaborativa das informações.

Vila submersa
“Nós não temos objetivo comercial, não colocamos marcas para que todas as pessoas possam se envolver, mas um resultado provável é o aumento do turismo”, comenta Bastos. Com a divulgação das imagens, outras pessoas devem aprender a mergulhar para fazerem parte da iniciativa. Neste fim de semana, 18 mergulhadores devem submergir na área da Vila Amaury. Parte do grupo conhecerá o lugar pela primeira vez e passará a ajudar no mapeamento da região rica em história.

A vila abrigava cerca de 16 mil candangos que trabalhavam para erguer a cidade e suas famílias e foram transferidos para Sobradinho, cidade próxima a Brasília, após o lago encher. Lá, eles devem encontrar partes dos barracos e utensílios domésticos. Conforme a professora do Centro de Excelência em Turismo (CET), da Universidade de Brasília (UnB), quando as comportas se abriram e levaram à inundação do local, “as pessoas queriam salvar a si próprias, por isso deixaram muitas coisas lá, como documentos, brinquedos”.

Autora do livro Uma Cidade Encantada – Memórias da Vila Amaury em Brasília, que também está disponível na internet, Ivany Neiva conta que o registro oficial nunca valorizou essa história. “Tem muita gente que olha para o lago e, só pensando em um cartão-postal de Brasília, não lembra que lá moraram operários e suas famílias quando as águas chegaram”, diz.

Plano antigo
A concepção do Lago Paranoá remonta ao fim do século 19. Em relatório de 1896, o paisagista do Império Luís Glaziou anotou que, na localidade entre os chapadões Gama e Paranoá, existia um vale “em parte sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa; outrora era um lago devido à junção de diferentes cursos de água formando o rio Paranoá”. Por isso, para ele, era “fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte […] forçosamente a água tornará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos”.

Em 1948, a Comissão de Estudos para a localização da Nova Capital do Brasil, presidida pelo general Poli Coelho, referendou os estudos da Comissão Cruls, segundo o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. A ideia foi retomada na construção de Brasília. Várias dificuldades atrasaram seguidas vezes a obra, que acabou sendo efetivada no início dos anos 1960. Segundo o instituto, “durante oito meses as águas avançavam mansas, lentamente, por sobre as terras secas e coloridas do cerrado. Terras inundadas”.

Durante a construção de Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek teve de enfrentar não apenas problemas com as empresas responsáveis pela obra do lago e seguidos adiamentos do prazo de entrega, mas também a crença de críticos que afirmaram que, por ter um terreno poroso, o lago nunca encheria. Diante da concretização da “moldura líquida da cidade” que ajudou a erguer, como ele chamou, o presidente declarou: “Encheu, viu?”. Parte dessa história foi contada pelo próprio Juscelino no livro Por Que Construí Brasília?


Edição: Wellton Máximo

Valor Econômico – RenovaBio deve baixar combustíveis, diz MME

Por Camila Souza Ramos | De São Paulo

O Ministério de Minas e Energia (MME) avalia que o programa RenovaBio - que está parado na Casa Civil após meses de discussão com representantes da cadeia produtiva de combustíveis - tem, se aprovado, 79% de chances de baixar os preços dos combustíveis em geral.

O programa, que propõe a criação de um mercado de certificados de descarbonização (os CBIOs) entre produtores de biocombustíveis e distribuidoras, pouco andou em Brasília nos últimos meses, apesar das expectativas do setor privado e de segmentos dentro do próprio governo. Um dos argumentos levantados por técnicos é um eventual impacto inflacionário sobre o preço final dos combustíveis na bomba.

O estudo do MME leva em consideração quatro cenários de preços do petróleo no mercado internacional (de US$ 20 a US$ 80 o barril), diferentes níveis de eficiência econômica e diferentes metas de descarbonização. Em 79% dos cenários, os preços médios do etanol hidratado (que abastece diretamente os veículos) e os da gasolina, projetados para 2030, ficariam abaixo dos observados em 2016 e neste ano.

O motivo para isso é o cenário de previsibilidade que o RenovaBio pode gerar para os investimentos dos produtores, afirmou Miguel Ivan Lacerda, diretor de biocombustíveis do MME, durante intervalo do Novacana Ethanol Conference, em São Paulo, ontem.

"É mais provável até que aumente o preço da gasolina sem o RenovaBio. O programa dá estabilidade para investimentos, o que barateia os biocombustíveis na bomba", argumentou. Segundo ele, "se nada for feito, há risco de desabastecimento de combustíveis". O Brasil é importador líquido de gasolina e também importou mais do que exportou etanol nesta safra até agosto.

O impacto do RenovaBio sobre o mercado consumidor é tema de debate, até porque ainda está em discussão como precificar os certificados e como construir o índice de descarbonização.
Para André Nassar, diretor de estratégia e novos negócios da consultoria Agroicone, um eventual impacto inflacionário não deveria ser levado em conta, já que o RenovaBio é uma política indutora de sustentabilidade.

O diretor da Agroicone afirmou ainda durante o evento em São Paulo, que "não dá para garantir que, com o programa, não vai subir o preço dos combustíveis", mas que o impacto não poderá ser maior que o de uma entressafra, por exemplo.

Nassar avaliou também que o programa não deve ser uma solução para o endividamento do setor, mas pode gerar um cenário mais previsível, principalmente junto aos credores. "Um ambiente de menor incerteza faz com que os credores olhem as empresas com mais segurança. Em alguns casos vai funcionar, em outros não", disse.

Ele ressaltou que o preço dos CBIOs vai depender das metas de emissão de gases estabelecidas pelo governo e defendeu que essa curva de descarbonização "precisa estar bem alinhada com a oferta e a demanda".

O cálculo do índice de descarbonização que está sendo discutido inclui quase todas as variáveis do ciclo de vida da cadeia de biocombustíveis, desde a produção agrícola (incluindo, por exemplo, emissões de gases relacionadas a diferentes tipos de fertilizantes) até a ponta das indústrias.
Só não deverá ser incluído no cálculo, neste primeiro momento, as emissões relacionadas a mudanças do uso de terra. A razão é que ainda não há consenso sobre como calcular as emissões nesse caso e porque o impacto sobre as emissões totais é baixo, segundo Joaquim Seabra, professor da Unicamp.

Folha de S. Paulo – Uma encrenca amazônica / Coluna / Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA - Depois de um mês de protestos, Michel Temer desistiu de extinguir a reserva nacional do cobre. O episódio ilustra o funcionamento da usina de crises do Planalto. O governo fabrica encrencas para si próprio, tenta ignorar as reações negativas e só joga a toalha quando o desgaste já está consumado.

A sequência de erros começou com uma canetada. Sem consultar ninguém, o presidente decretou o fim de uma reserva mineral do tamanho do Espírito Santo. A medida alegrou as mineradoras, mas uniu artistas, celebridades e ambientalistas num levante contra o governo.

A grita rearticulou setores que buscavam um novo mote para atualizar o "Fora, Temer". A modelo Gisele Bündchen ampliou a mobilização no exterior ao tuitar que o governo estava "leiloando a Amazônia".

A primeira resposta do Planalto foi marcada pela soberba. O ministro Eliseu Padilha, que responde a inquérito no Supremo por suspeita de crime ambiental, tentou reduzir as críticas a "desinformação e sacanagem".

O presidente declarou ao SBT que seria "um equívoco" associar o decreto ao desmatamento. Na mesma entrevista, ele defendeu os encontros do Jaburu dizendo que conversa "com quem quiser, na hora que achar mais oportuna e onde quiser".

Como o governo julgou desnecessário ouvir o Congresso, sua tropa passou dias sem saber como defendê-lo. O Planalto também dispensou os conselhos de Sarney Filho, o ministro decorativo do Meio Ambiente.

Com a crise instalada, Temer alegou que a extinção da reserva não seria um salvo-conduto para as motosserras. Seu retrospecto conspirou contra o discurso. Ele já legalizou terras de grileiros e tentou reduzir unidades de conservação na floresta.

Diante do bombardeio, o presidente ensaiou suspender o decreto. Não colou. Depois editou um novo texto. Voltou a apanhar. Agora corria o risco de ver o Senado derrubar a medida. Restou a saída de revogá-la, já com o leite derramado.

O Globo – Entendimento geral: reação à Renca aconteceu porque o país enxergou o risco / Coluna / Míriam Leitão

POR MÍRIAM LEITÃO

Ao desistir de extinguir a Renca, o governo disse que houve uma “incompreensão geral da sociedade”. Não. Todo mundo entendeu muito bem e isso é que foi um problema para o governo. Como apenas uma parte pequena do território estava fora das áreas de conservação, o que ficou claro é que o fim da reserva mineral era o começo do desmonte das reservas ambientais na região.
O governo deve ter pensado que algo com o nome estranho de Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados) não teria apelo algum para mobilizar a opinião pública, ainda mais sendo uma reserva mineral e criada na época do governo militar. Mas o problema foi a compreensão geral da sociedade sobre o que significava tudo aquilo para a Amazônia: um risco.

Primeiro, está em andamento uma escalada de desmonte de legislação ambiental, como concessão para grupos de interesse contrários à conservação. Segundo, muito recentemente o governo tomou a insensata decisão de reduzir o tamanho da Floresta Nacional de Jamanxin, em mais um sinal de incentivo aos grileiros. Jamanxin é um ícone da luta do Estado contra os desmatadores ilegais. Ela fica ao lado da BR-163 e desde que foi criada, em 2006, há pressão para que o governo recue. 


Os grileiros optaram pela técnica do fato consumado: entraram depois da criação e alegam que estavam lá muito antes. Mas os arquivos das imagens de satélite de como era em 2006, e como é agora, confirmam que a invasão ocorreu após a área ser oficialmente destinada à conservação. Quando o governo aceitou a pressão para refazer os limites da Floresta Nacional, ele estimulou esta e outras invasões.

A Renca é um mosaico de nove unidades de conservação que foram sendo criadas nos últimos 40 anos. E isso fez com que uma reserva que era inicialmente apenas mineral, ou seja, para evitar que houvesse mineração privada por lá, acabasse se transformando numa das áreas mais protegidas. Fica na Calha Norte, região de pouquíssima densidade populacional e grandes áreas preservadas.

O governo disse, no primeiro decreto de extinção da Renca, que já está havendo garimpo ilegal por lá e que, portanto, se trata apenas de legalizar o que está sendo feito ilegalmente. O especialista em Amazônia Beto Veríssimo, do Imazon, que fez vários estudos e trabalhos na Calha Norte, conta que os garimpeiros estão em torno do Rio Jari apenas e que o problema é de fácil solução. Na Renca, só 0,3% da floresta está desmatado. O grande perigo com o garimpo é o de contaminação dos rios por mercúrio.

O temor do pesquisador Beto Veríssimo e do procurador da República Daniel Azeredo era que o governo estivesse criando o ambiente para mudar o marco regulatório das unidades de conservação, ou alterar os limites das reservas que estão dentro da Renca. Em entrevistas que me concederam, os dois disseram isso. Essa ideia fica ainda mais sólida diante da reportagem publicada ontem no GLOBO, dos repórteres Francisco Leali e Manoel Ventura, mostrando que o governo sabia desde o começo que para viabilizar a mineração na região teria que mudar as unidades de conservação ou os planos de manejo de algumas delas, como a Floresta Estadual do Paru, a Reserva Biológica de Maicuru e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Iratapuru. Os documentos do Ministério das Minas e Energia apontavam a existência de minerais nessas reservas.

O conflito entre o meio ambiente e a mineração ficou mais agudo após o desastre da Samarco em Mariana. Recentemente, o ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse que foi um “acidente”, uma “fatalidade”. A maior tragédia ambiental do país provocada pela mineração foi fruto do descuido e do não cumprimento de regras mínimas de segurança e precaução. Depois disso, em vez de elevar os níveis de segurança, o setor da mineração aumentou a intensidade do lobby por uma legislação ainda mais flexível.

A Amazônia vive, desde 2013, um retrocesso no movimento que vinha reduzindo o desmatamento. 

Todo mundo entendeu, perfeitamente, que o fim da Renca significaria aumento do risco de destruição na Amazônia. E por isso a reação foi tão forte.

O Estado de S. Paulo – Sob pressão, Temer revoga extinção de reserva/ Capa

Amazônia. Sob protestos de ambientalistas e da comunidade artística, presidente recuou em ato que abria a possibilidade de exploração privada da Renca, reserva mineral criada em 1984; região é uma das mais bem preservadas entre Pará e Amapá

Carla Araújo Tânia Monteiro / BRASÍLIA Giovana Girardi

O presidente Michel Temer revogou o decreto que extinguiu a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), uma área de floresta entre o Amapá e o Pará. Diante de novas pressões, Temer decidiu abrir o tema para debate. No dia 14 deste mês, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara pediu a revogação definitiva do decreto.

O presidente Michel Temer decidiu revogar o decreto que extinguiu a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), uma área da floresta entre os Estados do Amapá e do Pará. Segundo auxiliares, a decisão levou em consideração a polêmica em torno do decreto e, diante de novas pressões, o presidente decidiu abrir o tema para o debate. A revogação será publicada hoje no Diário Oficial da União, restabelecendo os limites definidos em 1984.

No dia 14 deste mês, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara pediu a revogação definitiva do decreto. “A maneira agressiva que foi feito ( o decreto) não só causou constrangimento da sociedade, mas do Parlamento como um todo, atingindo a Câmara e o Senado”, afirmou o presidente da comissão, Ricardo Trípoli (PSDB-SP), na ocasião.

Na semana passada, mais de 200 deputados e 28 senadores também haviam protocolado um pedido de criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar o decreto. No Senado, poderia entrar em votação o projeto de decreto legislativo de Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para sustar o ato presidencial.

O decreto de extinção da reserva foi assinado pelo presidente Michel Temer em 23 de agosto. Diante da repercussão negativa, o governo fez outro decreto deixando claro que as áreas protegidas da região não seriam afetadas – o que não aplacou as críticas. O Ministério de Minas e Energia, depois, publicou portaria para congelar por 120 dias a suspensão da reserva.

O decreto original provocou uma onda de protestos de ambientalistas e artistas, como a modelo Gisele Bündchen, que acusaram o presidente de estar “vendendo” uma parte da Amazônia para interesses de mineradoras estrangeiras. As críticas chegaram até ao Rock in Rio, novamente pela voz de Gisele e da líder indígena Sônia Guajajara, que fez um protesto durante a apresentação de Alicia Keys.

O Ministério de Minas e Energia informou, por meio de nota, ter encaminhado ao Palácio do Planalto a solicitação para revogação do decreto. No comunicado, diz que “o País necessita crescer e gerar empregos, atrair investimentos para o setor mineral, inclusive para explorar o potencial econômico da região”. E disse que o debate será retomado “mais para frente”.

Proteção mineral. A Renca não foi estabelecida como uma área de proteção ambiental. Ela foi criada para assegurar a exploração mineral ao governo, mas com o passar dos anos acabou ajudando a proteger a região, na calha norte do Rio Amazonas, que é hoje uma das mais bem preservadas da Amazônia.

A reserva mineral foi criada em 1984, pelo então governo militar, que delimitou um retângulo de 4,7 milhões de hectares na região entre o Pará e o Amapá – rico em ouro, nióbio e outros metais, onde somente o próprio governo poderia exercer qualquer atividade mineral. Havia um bloqueio a empresas privadas, que foi levantado pelo decreto de agosto do presidente Michel Temer.

Ao longo desses 33 anos, no entanto, a região praticamente não teve exploração mineral – salvo a ação de alguns garimpeiros. E os governos federal e estaduais foram criando nove áreas protegidas na região – sete unidades de conservação (UCs) e duas terras indígenas (TIs) na área –, que acabaram se sobrepondo à Renca.

Hoje quem de fato preserva a floresta ali são essas UCs e TIs. Com Renca ou sem Renca, é possível hoje ter exploração mineral em algo entre 15% e 30% dos 4,7 milhões de hectares. Em unidades de conservação de uso sustentável, como é o caso das florestas estaduais do Paru e do Amapá, é permitida a exploração mineral, ainda assim com limites. Já nas UCs de proteção integral e nas terras indígenas, a mineração é vetada.

O temor de ambientalistas era que, com a extinção da Renca, haveria um boom de interesse de empresas de mineração pela região. “Além das áreas afetadas pela lavra, a mineração pediria a construção de vias para escoamento mineral, com grande impacto em áreas de floresta hoje altamente preservada. A chegada dos trabalhadores para a construção dessas vias traz doenças e outros problemas associados a esse tipo de projeto: violência, alcoolismo, prostituição e ruptura de estruturas sociais nas comunidades estabelecidas”, escreveu na ocasião o economista Carlos Eduardo Young, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O Ministério do Meio Ambiente tinha se mostrado contrário a essa medida. E o ministro Sarney Filho afirmou, em en- trevista ao jornal Valor Econômico, que foi pego de surpresa com a decisão de Temer de extinguir a Renca.

Garimpo. O diretor executivo do WWF-Brasil, Maurício Voivodic, afirma que o problema não é a mineração em si, mas o fato de o governo não ter feito um debate sobre a questão nem dado transparência sobre o que seria feito ali nem quais seriam as medidas mitigatórias para evitar danos. “Da forma como foi feito, parecia que para o governo os impactos ambientais e sociais que poderiam haver na região eram irrelevantes. E a única análise técnica, feita pelo Ministério do Meio Ambiente, havia sido ignorada.”

Ele alerta também que o governo não pode dar as costas para região. “É preciso tratar a questão do garimpo ilegal e trazer um plano de desenvolvimento sustentável para a região, porque as comunidades ali estão desassistidas”, diz.

Para o futuro
“O debate em torno do assunto deve ser retomado em outra oportunidade mais à frente e deve ser ampliado para um número maior de pessoas.” Ministério de Minas e Energia

O Estado de S. Paulo - Indígenas brasileiros são consagrados mundialmente por preservação da Amazônia/ Blog Eu na Floresta/Maria Fernanda Ribeiro

No dia 17 de setembro duas associações indígenas brasileiras participavam de uma cerimônia em New York como vencedores do Prêmio Equatorial 2017 promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e que consagrou as 15 melhores iniciativas de solução sustentável para desafios voltados à proteção e promoção de pessoas, comunidades e do meio ambiente. Duas associações indígenas brasileiras no topo do mundo por atuarem em projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira. E pouco se falou sobre isso por aqui.

Criado em 2002, o concurso bianual recebeu mais de 800 inscrições de 120 países. Os vencedores brasileiros foram a Associação Ashaninka do rio Amônia, da aldeia Apiwtxa, localizada no estado do Acre na fronteira com o Peru, e também a Associação Terra Indígena Xingu (Atix), que está localizada no estado do Mato Grosso. Cada um recebeu dez mil dólares para serem investidos na continuidade dos trabalhos.

Em tempos de retrocesso contra os povos indígenas, nunca é demais lembrar que as áreas de floresta dentro das Terras Indígenas estão mais protegidas do que em locais não-demarcados. E esse prêmio é capaz de mostrar ao mundo aquilo que muitas vezes o Brasil não enxerga.

De acordo com estudo publicado em 2015, realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em parceria com a Agência Alemã de Cooperação Internacional – GIZ e a Funai, com apoio da Embaixada da Noruega, na Amazônia brasileira, o conjunto de terras indígenas cobre cerca de 110 milhões de hectares e agrega aproximadamente 30% do carbono florestal da região, o que corresponde a algo por volta de 13 bilhões de toneladas de carbono. Pesquisas recentes mostram ainda que somente por ser uma TI homologada diminui de 20 a 30 vezes a chance de ocorrer desmatamento, quando comparada com áreas adjacentes a estes territórios.

A Apiwtxa, que na língua indígena Aruak significa união, candidatou-se apresentando os trabalhos de formação de jovens, trocas de conhecimentos, reflorestamento e conservação da Floresta Amazônica, na Yoreka Ãtame, um Centro de Saberes da Floresta, construído pela própria comunidade, bem como sua atuação junto a comunidades indígenas e extrativistas vizinhas, no âmbito do Projeto Alto Juruá, financiado com recursos do Fundo Amazônia. Por meio de suas diversas iniciativas, a Apiwtxa desenvolveu uma estratégia coesa para defender as terras indígenas e melhorar os meios de subsistência da comunidade.

Já a Atix foi premiada por ter proporcionado que diversas comunidades produzam, conjunta e anualmente, cerca de duas toneladas de mel orgânico certificado. Fundada em 2004, a entidade conta, há anos, com a parceria do Instituto Socioambiental (ISA) no projeto que envolve cerca de 100 apicultores de 39 aldeias dos povos Kawaiwete, Yudja, Kisêdjê e Ikpeng.

Não tive a chance ainda de conhecer a Atix, mas na Apiwtxa estive três vezes em um ano em momentos diferentes. Lembro bem da primeira entrevista que fiz com Moisés Piyako (clique para ler), uma das lideranças, sobre como eles atuavam para protegerem a floresta. E Moisés contou sobre o trabalho realizado com a comunidade ribeirinha que vive no entorno da Terra Indígena, na Reserva Extrativista Alto Juruá, a primeira criada no Brasil após a morte do líder seringueiro Chico Mendes.

Naquele momento não entendi porque atuar fora da área demarcada com o reflorestamento se a própria terra deles já estava garantida. Não com essas palavras que escrevo agora, ele respondeu que isso era necessário porque quando os não-índios percebessem que área degradada não traz sustento e nem renda, a terra Ashaninka poderia estar ameaçada. Portanto, é prudente ensinar para quem não sabe que o melhor mesmo para uma comunidade se manter sustentável é manter a floresta em pé.

E foi então que entendi o porquê de os povos indígenas serem considerados verdadeiros guardiões da Amazônia. Que esse prêmio em reconhecimento ao trabalho dos nossos povos originários e outras iniciativas que acontecem dentro de terras indígenas por toda a floresta sejam um alento da esperança que nos falta. Da nossa parte, só nos resta aprender e nos aliar a eles na luta pela preservação da Amazônia.

Concurso de iniciativas rurais

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Menos da metade dos esgotos do país é coletada e tratada, diz ANA


Por Sabrina Rodrigues
Entre os Estados, somente São Paulo, Paraná e o Distrito Federal removem mais de 60% da carga orgânica dos esgotos produzidos em seus territórios. Foto: Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri/Governo do Estado de São Paulo/Flickr.
Entre os Estados, somente São Paulo, Paraná e o Distrito Federal removem mais de 60% da carga
 orgânica dos esgotos produzidos em seus territórios. 
Foto: Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri/Governo do Estado de São Paulo/Flickr.

O cheiro de ovo podre misturado com bosta e a cor de petróleo ou barro são características dos esgotos que um dia foram rios. Quase toda metrópole tem um desses ex-rios que viraram condutores de esgoto não tratado. A Agência Nacional das Águas e o Ministério das Cidades acabam de publicar um relatório relatando que esse problemão ambiental não é exclusivo das grandes cidades, pelo menos não no Brasil.

Aqui, 45% da população ainda não têm acesso a serviço adequado de esgoto. Menos da metade (42,6%) dos esgotos do País é coletada e tratada. Quase 70% dos municípios não possuem nenhuma estação de tratamento.

Das 9,1 mil toneladas de esgoto gerado diariamente no país, 5,5 mil toneladas são lançadas diretamente nos rios e corpos d’água, sem qualquer tratamento.

De acordo com o Atlas Esgotos, mais de 110 mil km de trechos de rio estão com a qualidade comprometida devido ao excesso de carga orgânica, sendo que para 83.450 km não é permitida a captação para abastecimento público devido à poluição hídrica.

“O lançamento de esgotos domésticos nos corpos d’água sem adequado tratamento ou em desconformidade com os atuais padrões legais estabelecidos para lançamento de efluentes, resulta em comprometimento da qualidade da água do corpo receptor e pode inviabilizar o atendimento aos usos atuais e futuros dos recursos hídricos a jusante do lançamento. Isso ocorre especialmente em áreas urbanizadas”, afirma o estudo.

O relatório mostra que o Sudeste é a região brasileira que apresenta os melhores índices de coleta e tratamento de esgotos, sendo a única onde o tratamento dos esgotos gerados alcança mais da metade de sua população urbana.

Entre os Estados, somente São Paulo, Paraná e o Distrito Federal removem mais de 60% da carga orgânica dos esgotos produzidos em seus territórios. A Região Norte é a mais carente em termos de serviços coletivos de esgotamento sanitário.

Saiba Mais
 
Atlas Esgotos - Despoluição de Bacias Hidrográficas

O Brasil está pegando fogo .Literalmente falando.

O Brasil está pegando fogo

Por Observatório do Clima
Um ano quente no Amazonas. Foto: Prevfogo/Ibama.
Um ano quente no Amazonas. Foto: Prevfogo/Ibama.

O Brasil está em queimando, literalmente. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, o país registrou, nesta sexta-feira (22), 185.002 focos de incêndio, 52% a mais do que o registrado no mesmo período do ano passado, e 2.979 focos a mais do que dois dias atrás.
O fogo atinge todos os biomas brasileiros, de acordo com os dez satélites que monitoram as queimadas no país, mas se concentram na Amazônia, com 43,4% dos focos de incêndio, seguida pelo Cerrado, com 39,6%; e pela Mata Atlântica, com 10,6%.

As queimadas também não poupam as Unidades de Conservação (UC). A Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, é a UC com mais focos de incêndio do país. O mesmo acontece com Bacurizinho, no Maranhão, a Terra Indígena brasileira com mais queimadas do Brasil.

Não por coincidência, os municípios que mais pegam fogo atualmente são do Maranhão: Grajaú e do Acre: Brasileia. Em números absolutos, no entanto, o ranking do fogo nacional é liderado pelo Pará, com 40.228 focos de incêndio; seguido pelo Mato Grosso, com 34.705; e pelo Maranhão, com 20.348. O Pará é também o estado que mais aumentou o foco de incêndios em relação a si mesmo: 233% em relação ao mesmo período do ano passado; seguido por Maranhão (93%); e São Paulo (76%).
Focos de queimada na Flona do Jamanxim
Focos de queimada na Flona do Jamanxim

Mas qual é a causa real destes incêndios, que destroem a biodiversidade, causam inúmeras doenças respiratórias e liberam para a atmosfera uma grande quantidade de gases de efeito estufa? De acordo com o coordenador do Programa de Queimadas e Incêndios do Inpe, Alberto Setzer, é totalmente errado atribuir a causa do fogo ao clima seco ou a causas naturais. “Raios e fenômenos espontâneos são responsáveis por, no máximo, 1% dos focos de incêndio registrados”, disse. “A baixa umidade do ar apenas cria condições favoráveis aos incêndios, mas é a ação humana que causa a queimada”, afirmou Setzer.

Segundo o pesquisador, até aquele descuido “acidental” não pode ser considerado uma causa comum das queimadas.  “Não é a bituca de cigarro que bota fogo na floresta, o caco de vidro ou a latinha de alumínio expostos ao sol; em geral é alguém botando fogo mesmo”, disse.

Setzer lembra que as queimadas são precursoras do plantio de grãos e fazem parte do ciclo de expansão da fronteira agrícola. Elas normalmente sucedem o corte raso da floresta e fazem parte do processo de posse ilegal de terras públicas. “Limpar” a terra, como se sabe, é o primeiro passo para forjar algum vínculo com o espaço que se deseja ocupar.

Especialistas dizem que 2017 tem grandes chances de se tornar o ano com mais queimadas das últimas duas décadas. Os focos de incêndio são, também, o prenúncio de uma taxa de desmatamento que deve se mostrar tão elevada quanto em 2016, e de uma taxa de emissão de gases bem acima do nosso compromisso com o planeta.
Marcações de todas as cores indicam focos de incêndio revelados por diferentes satélites que monitoram o país em 22 de setembro de 2017.
Marcações de todas as cores indicam focos de incêndio revelados por diferentes satélites que monitoram o país em 22 de setembro de 2017.

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