Se a presidente defende obras irregulares e não ouve nem meia vaia, está tudo dominado
O Brasil está atrapalhando o comitê eleitoral do PT no Palácio do
Planalto. Mas isso não ficará assim não. A presidente do comitê, Dilma
Rousseff, já reagiu falando grosso. Diante da recomendação para embargo
de sete obras federais, por superfaturamento e outras fraudes, Dilma
entrou de carrinho no Tribunal de Contas: “Acho um absurdo parar obra”.
Se Dilma estivesse reformando sua casa, e os encarregados do serviço
começassem a enfiar a mão na bolsa dela, não se sabe se ela também
acharia absurdo parar a obra. Mas é totalmente diferente, porque o
dinheiro público, como se sabe, não é de ninguém.
Ou melhor: não era de ninguém, na época dos populistas amadores.
Agora, com o populismo profissional se encaminhando para 16 anos no
poder – mais tempo que o primeiro reinado de Getúlio Vargas –, o
dinheiro público tem dono: é do PT.
E as obras fraudadas não podem
parar, porque fazem parte da campanha para a renovação do esquema em
2014.
Dilma será reeleita, e elegerá com Lula o governador de São Paulo,
porque o plano não tem erro:
derramar dinheiro aos quatro ventos.
País
rico é país perdulário (com o chapéu alheio, claro). Seria perigoso se o
eleitorado notasse o golpe, mas esse perigo está afastado. Se uma
presidente da República defende de peito aberto obras irregulares e não
ouve nem meia vaia, está tudo dominado. Nessas horas, o comitê do
Planalto acende uma vela aos manifestantes brasileiros,
esses
revolucionários que entopem as ruas e não enxergam nada. Viva a
revolução!
A tropa da gastança está em campo, afinada. A ministra-chefe da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, deu uma pausa em sua rotina maçante e resolveu
dar um palpite sobre política econômica. Defendeu que a meta de
superavit primário – um dos fundamentos da estabilidade econômica – só
seja cumprida nos momentos felizes. Se o Brasil estiver crescendo bem,
ok; se estiver patinando (como agora), o governo fica liberado de fazer
essa economia azeda e neoliberal. Não é perfeito? Assim, a grande
gestora do Planalto fica liberada para prosseguir com sua gestão
desastrosa, sem precisar parar de torrar o dinheiro do contribuinte –
uma injustiça, a menos de um ano da eleição.
No embalo dessa orquestra exuberante, o Brasil acaba de bater mais um recorde: deficit primário de R$ 9 bilhões em setembro
Essa orquestra petista, com sua sinfonia de palpites aleatórios sobre
política econômica, soa como música para os ouvidos dos investidores –
que cansaram de botar dinheiro em mercados seguros e confiáveis e estão à
procura de ambientes bagunçados e carnavalescos, muito mais
emocionantes. Um dia o pitaco vem da Casa Civil, no outro vem do
Ministério do Desenvolvimento, aí o ministro da Fazenda solta sua língua
presa para contradizer o Banco Central,
que fica na dúvida se segue os
gritos de Dilma ou se faz política monetária. É um ambiente animado, e
não dá para entender por que os investimentos no país estão minguando.
Deve ser falta de ginga dos investidores(rs...)
.
No embalo dessa orquestra exuberante, o Brasil acaba de bater mais um
recorde: deficit primário de R$ 9 bilhões em setembro. Deficit primário
significa que, sem contar o pagamento de juros de suas dívidas,
o país
gastou mais do que arrecadou. E a arrecadação no Brasil, como se sabe, é
monumental, com sua carga tributária obscena. A ordenha dos cofres
públicos vai muito bem, obrigado. E, sabendo que a taxa de investimento é
uma das mais baixas entre os emergentes, chega-se à constatação
cristalina:
as riquezas do país sustentam a formidável máquina de Dilma,
seus 40 ministérios e seu arsenal de caridades. Essa é a fórmula
infalível para que a permanência do PT no poder seja eterna enquanto
dure o dinheiro dos outros.
E vem a divulgação mandrake da inflação pelo IBGE, anunciando um
índice “dentro da meta” até outubro, quando na verdade está fora da meta
(dos últimos 12 meses, a que importa). A inflação é o principal
subproduto da fórmula, mas o Brasil só ligará o nome à pessoa quando a
vaca estiver dando consultoria fantasma no brejo.
Relaxe e leia um livro essencial: “O livro politicamente incorreto da
esquerda e do socialismo”, de Kevin Williamson. Você entenderá com
quantas bandeiras bonitas se construiu a maior mentira da humanidade.
Fonte: Época, 28/11/2013
Queda da poupança e piora do setor externo
Um modelo fadado ao fracasso, sustentando apenas pelo
consumo, sempre acaba mostrando “vazamentos” quando observados os
indicadores das contas nacionais e do setor externo com mais atenção.
Tem-se o debate em torno dos
excessos de consumo sobre a
disponibilidade de renda doméstica, gerando baixa poupança doméstica,
complementada então pela externa. Isto acaba se refletindo em aumento do
déficit em conta corrente, na chamada poupança externa positiva.
Desde 2010, observa-se a perda de força da chamada poupança doméstica
e o aumento da externa.
Lembremos que a doméstica é a soma da privada,
em torno de 18,7% do PIB no período entre 2000 e 2013, com a
“despoupança pública”, em torno de 2,4% no mesmo período.
Com isto, a poupança doméstica acaba em torno de 16,5% do PIB, em
muito, gerada pela perda de força da do setor privado.
Isto acaba
acarretando na piora do setor externo, com o déficit em conta corrente
próximo a 3,6% do PIB – estava em 2,7% em 2010.
O pior é que isto vem
ocorrendo em decorrência do aumento do consumo e não dos investimentos.
Estes recuaram 2,1 pontos percentuais, a 18,1% do PIB, como visto na
tabela a seguir.
Isto nos leva a acreditar que o modelo está errado, não
sendo sustentável no longo prazo. Observando a tabela abaixo, a
poupança doméstica passou de 17,5% do PIB para 14,4% e a externa
(déficit em conta corrente) de 2,7% para 3,7%.
Para o final deste ano, as projeções indicam um déficit em torno de US$ 76 bilhões e em 2014 é possível algum recuo.
Analisando as contas externas, seu desempenho recente merece uma
atenção maior. Com as reservas cambiais em patamar confortável (US$ 376
bilhões), este desequilíbrio externo atual,
resultante dos excessos
domésticos, até pode ser considerado administrável no curto prazo, mas e
no longo?
Se mantidas as condições atuais, de excessos de consumo doméstico,
perda de forma da poupança doméstica e deterioração externa contínua,
chegará um momento em que os investidores começaram a apostar contra a
política econômica doméstica, tornando nossa moeda ainda mais volátil do
que atualmente.
Neste ponto, o BACEN terá que agir mais fortemente na
venda de divisas, o que pode, em algum momento, resultar no uso destas
reservas.
Pelos indicadores externos de outubro divulgados, o que se observa é que, se nada for feito, este desfecho acabará inevitável.
O déficit em conta corrente foi a US$ 7,1 bilhões, acumulando no ano
US$ 67,5 bilhões e em 12 meses, em US$ 82,2 bilhões, 3,67% do PIB, acima
do registrado em setembro no mesmo critério de apuração (3,59%).
Este
saldo ficou bem acima do registrado no mesmo período de 2012 US$ 54,2
bilhões.
Um fato preocupante é que o saldo do balanço de pagamentos também
acabou negativo no ano, em US$ 2,2 bilhões, bem pior do que em 2012
quando foi positivo em US$ 23,4 bilhões, sinal de que o déficit não foi
coberto pelo ingresso de capitais externos, com destaque para os
investimentos externos diretos. Estes, no mês, fecharam em US$ 5,3
bilhões, somando US$ 49,1 bilhões no ano, insuficientes para financiar o
rombo de US$ 67 bilhões. Em 12 meses, fecharam em US$ 59,1 bilhões,
2,64% do PIB, aumentando a necessidade de financiamento externo,
conforme gráfico ao fim. Modelos estimam que a situação pode se tornar
realmente preocupante se as reservas começarem a ser queimadas e o rombo
externo passar de 4% do PIB.
Vejamos, portanto, porque as contas externas vêm piorando. A conta de
serviços registrou déficit de US$ 4,9 bilhões em outubro 69% do déficit
total, com forte pressão das despesas com viagens (US$ 1,8 bilhão,
+15,9% sobre o mesmo mês de 2012); despesas com transportes (+17,4%),
serviços de computação (43,4%), despesas com aluguel (22,9%) e royalties
e licenças (17,9%).
Isto nos leva a concluir, que a classe média segue
viajando e as importações continuam pressionando as contas externas.
Cenário
Para o final deste ano, as projeções indicam um déficit em torno de
US$ 76 bilhões e em 2014 é possível algum recuo, dado que cresceremos no
mesmo ritmo deste ano, a produção doméstica de petróleo deve aumentar,
assim como a balança comercial deve melhorar.