quarta-feira, 7 de agosto de 2019

5 razões do porquê a mineração em águas profundas colocaria o planeta em apuros

5 razões do porquê a mineração em águas profundas colocaria o planeta em apuros


O fundo dos oceanos guarda formas únicas de vida sobre as quais ainda sabemos muito pouco – mistérios que antes de serem revelados, já estão ameaçados

Aerial of Open Pit Mining Garzweiler II near Hambach Forest. © Greenpeace
Mineração de carvão perto da Floresta Hambach. Imagine uma máquina como esta cavando o fundo 
do mar © Greenpeace

Empresas e governos planejam enviar máquinas monstruosas para regiões de águas profundas, impactando ambientes de vida sensíveis e únicos, com o objetivo de explorar metais e minérios. Embora isso ainda não esteja acontecendo, já foram liberadas licenças de exploração para mais de um milhão de quilômetros quadrados dos nossos oceanos.

Quer saber por que esse modo de exploração pode ser tão ameaçador para a vida no planeta? A seguir, apontamos 5 motivos:

1) Barulho, poeira e luz em excesso na vida dos animais marinhos
Os cientistas alertam que saquear o fundo do mar com essas máquinas monstruosas utilizadas para explorar minério pode causar danos ambientais severos e irreversíveis tanto aos oceanos como para grande parte da vida marinha.

Algumas formas de vida encontradas em águas profundas, como espécies de tubarões que podem viver centenas de anos, estão entre as mais antigas da Terra e são particularmente vulneráveis a perturbações físicas devido às baixas taxas de crescimento. Por isso a mineração, com suas máquinas monstruosas e processos de exploração perturbadores, coloca em risco a continuação dessas espécies. Pesquisadores estimam que os danos à vida selvagem “provavelmente durarão para sempre em escalas de tempo humanas”.

As regiões de mar profundo, caso da Cidade Perdida, ainda são um mistério para os cientistas. 
Por isso, alguns artistas usam imaginação e talento para ilustrar como ela pode ser. 
@essy_may / Greenpeace

Como se a destruição total desse habitat não fosse ruim o suficiente, as máquinas que perfuram o fundo do oceano levantam sedimentos que podem impactar a vida por quilômetros, sufocando outros ambientes ultra profundos. Além disso, os navios mantidos na superfície para executar a operação da mineração também representam um grande risco, pois podem liberar vapores tóxicos na água que prejudicariam diversas espécies oceânicas por centenas ou mesmo milhares de quilômetros.
E as ameaças de destruição não param por aí. O ruído gerado pelas máquinas perturbará animais marinhos como as baleias, e as áreas iluminadas por holofotes podem causar perturbações irreversíveis para criaturas do mar adaptadas a níveis muito baixos de luz natural.

2) Extinção de espécies que não existem em nenhum outro lugar do planeta
As criaturas que vivem em águas profundas dos oceanos são especialmente adaptadas para este ambiente e possuem características muito particulares. Em uma das áreas que está na mira da indústria da mineração, 85% das espécies vivem ao redor de fontes hidrotermais que, até então, não foram encontradas em nenhum outro lugar dos oceanos.

3) Destruição de um dos nossos maiores aliados na luta contra as mudanças climáticas
Os oceanos têm uma importância fundamental para combater as mudanças climáticas porque absorvem metade de toda a poluição por carbono que nós humanos produzimos. Esse carbono, naturalmente absorvido pela vida marinha, permanece armazenado em sedimentos do fundo do mar por milhares de anos, ajudando a Terra a ficar menos quente.

O processo de exploração de minérios em águas profundas impactaria justamente onde está armazenado este carbono, liberando-o para a atmosfera e intensificando as mudanças climáticas.
Se sabemos que estamos vivendo uma Emergência Climática, então por que estamos tornando tudo ainda pior para nós mesmos?

4) Impactos devastadores na cadeia alimentar dos oceanos
A perturbação generalizada da vida marinha impacta toda a cadeia alimentar nos oceanos. Um estudo do Greenpeace revelou que as empresas que querem explorar minério em águas profundas estão cientes de toda a destruição que podem causar.

Um documento divulgado em uma reunião entre interessados nesse tipo de negócio reconhece “a possível extinção de espécies únicas que são a base da cadeia alimentar”.

5) Nós realmente queremos destruir as maravilhas que podem nos dar mais explicações sobre o início da vida na Terra?
Até agora, exploramos apenas 0,0001% de tudo que pode existir no mar profundo. Diante desse cenário, é correto deixarmos a indústria da mineração colocar em risco a continuação da existência de todo um ecossistema ainda repleto de mistérios?

Existe um outro caminho possível? A resposta é sim. As empresas que querem explorar minérios nos oceanos para a fabricação de aparelhos de celular deveriam estar investindo em reciclagem e em novas tecnologias que não ameaçam a vida marinha em detrimento do lucro. Veja o vídeo.

Estes são alguns dos motivos que deixam claro que a mineração em águas profundas é um péssimo caminho para os nossos oceanos e para o equilíbrio da vida no planeta.

Apesar das empresas de mineração conhecerem os riscos de suas ações, elas tentam convencer políticos de que oferecem uma “solução verde” para exploração em alto-mar. Mas isto é uma grande mentira.

Não vamos repetir os erros do passado e deixar que essa indústria tão predatória controle as águas profundas dos oceanos. Precisamos agir agora para ajudar a recuperar a saúde dos mares já tão impactados.

Vamos construir juntos um movimento global pela saúde dos oceanos e do planeta, barrando as mudanças climáticas. Até agora, 900 mil pessoas assinaram a nossa petição, convidando os governos a assinarem um Tratado Global para os Oceanos para fortalecer a proteção das águas do alto-mar. Junte-se a nós e faça parte deste movimento. Assine a petição.

A energia nuclear pode ser pacífica?

 Greenpeace

 O bombardeio de Hiroshima completa 74 anos, mas quer se trate de uma bomba atômica ou de eletricidade, devemos encarar a verdade que o uso pacífico da energia nuclear é mera fantasia

Pombas da paz - Hiroshima Atomic Bombing 60th Anniversary. Japan 2005. © Greenpeace / Jeremy Sutton-Hibbert
No aniversário de 60 anos da bomba de Hiroshima, voluntários do Greenpeace realizaram ato pela paz,
 no Japão. © Greenpeace / Jeremy Sutton-Hibbert

Em 6 de agosto de 1945, os militares dos Estados Unidos lançaram uma bomba atômica em Hiroshima, no Japão. Era 8h15 da manhã e a cidade estava prestes a começar o dia. Três dias depois, uma segunda bomba atômica foi lançada sobre Nagasaki.

Após a detonação, a bomba atômica incinerou ambas as cidades. Os efeitos devastadores da explosão – vento forte, raios de calor e radiação – se desenrolaram em torno das regiões e ainda hoje podem ser sentidos profundamente. Em dezembro de 1945, cerca de 140 mil residentes de Hiroshima e 74 mil residentes de Nagasaki morreram, enquanto outros incontáveis ​​continuaram a sofrer as consequências agonizantes da radiação.

Menos de uma década depois, em 1953, o presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, proferiu seu discurso “Atoms for Peace” (Átomos para a Paz). Em uma tentativa de tornar a energia nuclear mais aceitável para o público, o discurso exigiu seu uso pacífico e controlado. Nessa época, muitos países industrializados, incluindo o Japão, começaram a desenvolver planos ​​para a construção de usinas nucleares.

Em abril do ano seguinte, o legislativo nacional aprovou seu primeiro orçamento de desenvolvimento nuclear para lançar seu império de usinas nucleares. Após a construção da primeira Usina Nuclear comercial do país, em 1966, a Tokai , outras usinas nucleares surgiram como cogumelos em todo o país ao longo dos anos 1960 e 1970.

Apesar do incidente de Three Mile Island em 1979 e do desastre de Chernobyl em 1986, o governo japonês persistiu em seus esforços para aumentar o número de usinas nucleares, enquanto suprimia os crescentes pedidos do público pela desnuclearização.

Em 11 de março de 2011, havia um total de 54 usinas nucleares no Japão, cobrindo 30% das necessidades de eletricidade do país. E neste mesmo dia, uma das catástrofes nucleares mais devastadoras do mundo ocorreu: o acidente da Fukushima Daiichi, da Tokyo Electric Power Company (TEPCO). O incidente forçou mais de 160 mil pessoas a evacuar a área e fugir de suas casas e, mais de oito anos depois, pelo menos 40 mil pessoas, mas provavelmente muitas mais, ainda estão deslocadas.


O nuclear pode ser pacífico? A energia nuclear foi realmente pacífica?


74 e 8: esse é o número de anos que se passaram desde o bombardeio atômico de Hiroshima e do acidente nuclear de Fukushima, respectivamente. Quer se trate de uma bomba atômica ou de uma usina nuclear para geração de energia, suas existências não equivalem a paz. Hoje, devemos encarar a verdade e declarar de uma vez por todas que o uso pacífico da energia nuclear nada mais é do que uma mera fantasia.

O Japão – o único país que sofreu um ataque nuclear durante a guerra e sofreu um dos piores acidentes nucleares da história – deveria abandonar a energia nuclear. O país deveria liderar com uma alternativa realmente pacífica: a energia renovável.


Impulsionar as fontes de energia natural já abundantemente disponíveis não é apenas pacífico e ambientalmente correto, mas também abrirá caminhos para o desenvolvimento econômico regional. Sem dúvida, uma sociedade com 100% de energia renovável já está ao nosso alcance.

*Kazue Suzuki é ativista de Energia no Greenpeace no Japão.

Povo Munduruku expulsa madeireiros que roubavam a floresta dentro de seu território

Sem Floresta, Sem Vida: Apoie a Luta dos Povos Indígenas




Durante expedição de monitoramento nos limites da Terra Indígena Sawre Muybu, indígenas encontraram madeireiros ilegais na área que é parte de seu território e exigiram a saída dos invasores

Caminhão madeireiro é encontrado pelo povo Munduruku dentro de seu território
Caminhão madeireiro encontrado pelo povo Munduruku durante fiscalização dentro de seu território. © Arquivo Munduruku

“Os invasores estão matando a nossa vida e derramando sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. Mas por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e proteger o nosso território para nossos filhos e as futuras gerações”, diz o comunicado do povo Mundururku divulgado após a conclusão da expedição que percorreu a pé cerca de 100 km dentro do território Daje Kapap Eipi, conhecido como Terra Indígena Sawre Muybu.
Lutando pela defesa da vida e da floresta, guerreiros e guerreiras do povo passaram os últimos 18 dias percorrendo o perímetro da terra indígena com o objetivo de fiscalizar o local e garantir a sua proteção. No caminho, encontraram madeireiros destruindo a floresta, além de muitas estradas abertas.

A expedição é parte da quinta etapa da autodemarcação realizada pelos Munduruku, que teve início em 2014 e consistiu na delimitação por conta própria dos limites da Terra Indígena (TI) Sawre Muybu, localizada no rio Tapajós, no Pará. Em 2016, o direito originário dos Munduruku a esse território foi reconhecido pelo Estado brasileiro a partir da publicação do Relatório de Identificação e Delimitação no Diário Oficial da União. No entanto, desde então, a conclusão do processo de demarcação está paralisada na burocracia estatal, especialmente em função dos planos de construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, que alagaria parte da TI e comprometeria a vida dos Munduruku no local.

Os Munduruku já realizaram diversos protestos pela demarcação e proteção de seu território.

“Enquanto a demarcação não ocorre, o caminho fica aberto para a entrada de invasores que destroem a floresta e contaminam os rios, vitais para a sobrevivência do povo”, explica Danicley de Aguiar, da campanha de florestas do Greenpeace Brasil. Há anos as lideranças Munduruku estão denunciando a invasão e destruição do local, porém, apesar da Fundação Nacional do Índio (Funai) já ter reconhecido a ocupação tradicional da área pelo povo Munduruku, o Estado brasileiro continua de braços cruzados, permitindo que, especialmente garimpeiros e madeireiros, sigam pilhando o território, alterando o equilíbrio ambiental e impedindo que os Munduruku circulem livremente.
 
“Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão. E nós sabemos que quando retiram madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado. Por isso, demos um prazo de 3 dias para os invasores retirarem todo o equipamento deles. Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados”, diz o comunicado dos Munduruku.

“Além de injusta e inconstitucional, a morosidade do processo de reconhecimento, que já dura mais de uma década, é irresponsável e coloca em risco a sobrevivência de uma população de quase 1.000 indígenas, que faz uso direto das florestas e das águas do território, hoje contaminadas pela exploração de ouro, diamantes e madeira”, diz Danicley de Aguiar.

A demarcação é um direito constitucional garantido aos povos indígenas, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro já afirmou que não vai mais homologar nenhuma terra indígena. Junto a isso, o presidente tem declarado sistematicamente a intenção de abrir esses territórios para a mineração e a exploração por empresas estrangeiras, o que acaba estimulando a invasão de terras indígenas na Amazônia.
Atualmente, milhares de indígenas estão em risco por defenderem a floresta frente à invasões de madeireiros, garimpeiros e grileiros. No último sábado (27), a Funai confirmou a morte do cacique Emyra Wajãpi próximo à aldeia Mariry, após a invasão de um grupo de garimpeiros na terra indígena, no Amapá.

É dever do Estado proteger os territórios indígenas e seus povos, coibindo atividades ilegais de garimpo e mineração para evitar a escalada de conflitos. É preciso reconhecer e apoiar o direito dos povos indígenas às suas florestas e especialmente o direito de viverem conforme seus costumes e tradições.

Como dizem os Munduruku em seu comunicado, “Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?”.

Não podemos permitir que a violência contra os povos indígenas continue!



Greenpeace

Leia a íntegra do comunicado dos Munduruku: 

Comunicado dos Munduruku 

A nossa autodemarcação e defesa do nosso território continua.Nós o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós continuamos a autodemarcação do nosso território Daje Kapap Eipi, conhecido como Terra Indígena Sawre Muybu. Nós andamos mais que 100 km no nosso território, na terra que já possui o Relatório Circunstancial de Identificação e Delimitação publicado no diário oficial desde abril de 2016. Organizados em 5 grupos– os guerreiros Pusuru Kao, Pukorao Pik Pik, Waremucu Pak Pak, Surup Surup e a guerreira Wakoborun– continuamos defendendo o nosso território sagrado. 

Assim sempre foi a nossa resistência. Como nossos antepassados sempre venciam as batalhas e nunca foram atingidos pelas flechas dos inimigos, nós também continuamos limpando os nosso picos, fiscalizando, formando grupos de vigilância e abrindo novas aldeais, como Karoebak no Rio Jamanxim.

Durante essa quinta etapa da autodemarcação e nossa retomada, nós encontramos novas aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros dentro da nossa terra. Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão. E nós sabemos que quando retiram madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado. Por isso, demos um prazo de 3 dias para os invasores retirarem todo o equipamento deles. 

Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados. E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa. Na retomada, andamos 26 km vigiando os ramais que os madeireiros fizeram no nosso território e bebendo água suja do rio Jamanxim que está poluída pelo garimpo. Sozinhos conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBIO, IBAMA e FUNAI conseguiram. E sabemos que dentro da Flona de Itaituba II, tem pista de pouso.

Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. Mas por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e proteger o nosso território para nossos filhos e as futuras gerações. 

Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir porque nós mandamos na nossa casa que é nosso território. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat. Por isso sempre vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar. Nunca vamos negociar o que é sagrado.Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?