terça-feira, 8 de maio de 2018

Curso de Agrofloresta Sintrópica ensina a plantar alimentos sem desmatar

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Curso de Agrofloresta Sintrópica ensina a plantar alimentos sem desmatar

Participantes vão aprender na prática como desenhar um módulo agroflorestal no Sítio Pau d'Água, durante o feriado de Corpus Christi.

Que tal aprender a transformar uma área degradada em uma floresta cheia de vida, capaz de produzir diversos tipos de alimentos? Mais do que isso: que tal olhar para uma área verde e aprender a comunicação que existe entre as plantas? O permacultor Bento Cruz vai ensinar sobre o ciclo de abundância que existe na Natureza no 3º Curso Básico de Agrofloresta Sintrópica, no Sítio Pau d’Água, em Piracaia, a apenas 90 Km de São Paulo, de 31 de maio e 1 e 2 junho (feriado de Corpus Christi). “É possível plantar alimentos sem destruir a Natureza”, afirma Cruz.
A Agrofloresta Sintrópica (ou Agricultura Sintrópica) é um conjunto de princípios e técnicas que integram em uma mesma área, a produção de hortaliças, frutas e madeira nobre. A Agrofloresta Sintrópica é a prova da generosidade da terra, pois é capaz de curar um solo degradado, praticamente sem vida, e transformá-lo em uma floresta que produz alimentos de forma eficiente e otimizada.
Como é o curso de Agrofloresta Sintrópica?
Os participantes vão criar uma Agrofloresta Sintrópica do zero em um canteiro de 100 metros quadrados. Para isso, aprendem a fazer a leitura da paisagem. A presença de braquiária pode ser uma indicação do solo ácido, por exemplo. Usam, na prática, os princípios da agrofloresta, como sucessão natural (sequência de espécies que são plantadas para revigorar o solo até virar uma floresta), estratificação (quais plantas ocupam determinado espaço para melhor aproveitamento da luz solar) e senescência (manter a floresta sempre jovem com podas).
Em seguida, prepararam o solo com compostos e desenham os canteiros, de acordo com os princípios da agrofloresta. Neste curso, o foco será no cultivo de hortaliças e plantio e multiplicação de sementes crioulas, que correm risco de extinção.
Haverá aula de poda e manejo de dois safs criados nos cursos anteriores, de 3 e 6 meses.
Um novo tema vai ser apresentado neste curso: a Inteligência Agroflorestal, que significa compreender a dinâmica e funcionamento das espécies e da floresta e, com isso, fazer uma leitura dos elementos que compõem o fazer agroflorestal. “É um exercício de observação e intuição”, afirma Bento.
Vantagens da Agrofloresta
O método permite a recuperação de áreas degradadas, protege o meio ambiente e ainda gera renda ao pequeno produtor. O sistema promete ser uma alternativa à monocultura do agronegócio, que depende de agrotóxicos e desmatamentos para produzir.
Os sistemas agroflorestais podem auxiliar na conservação dos solos, das microbacias e áreas florestais. Dessa maneira o homem consegue se inserir no ambiente e passa a aprender com a natureza em vez de entrar em conflito ou destruindo-a. “É uma grande oportunidade do homem voltar a ser querido pela natureza e ter uma função importante para o planeta”, diz Bento. “Ela promove o despertar de um novo olhar, um novo entendimento da prática agrícola.”
Quem é Bento Cruz?
O permacultor Bento Cruz é discípulo de mestre Tupinambá, permacultor indígena, pioneiro em Agrofloresta ao lado do suíço Ernst Gotsch. Ele tem percorrido o Brasil, auxiliando as pessoas que querem deixar as cidades para morar de forma sustentável na roça. A Agrofloresta é um dos caminhos mais viáveis, pois começa a produzir alimentos já no segundo mês.
Sobre o Sítio Pau d’Água
O Sítio Pau d’Água é um Centro Coletivo de Cultura que tem o objetivo de colaborar com a construção de um novo Imaginário Social. São 3 alqueires, sendo que quase metade está sendo reflorestado. Conta com duas nascentes  e mais de 3 mil árvores foram plantadas nos últimos 2 anos.
Serviço
Curso Básico de Agrofloresta Sintrópica
31 de maio, 1 e 2 de junho (feriado de Corpus Christi)
Valor (incluso todas as refeições): R$ 390 (sem hospedagem), R$ 420 (camping), R$ 450 (alojamento), R$ 550 (quarto na Ecovila Clareando) – Quem quiser, tem a opção de ficar até domingo, pagando uma diária extra de hospedagem.
Inscrições: cursos@kaminaricomunicacao.com.br
Whatsapp: 11-97130-3335
Sympla (clique aqui) – Tem taxa de administração, mas oferece 9 opções de pagamento, incluindo parcelamento em até 10 vezes.
Fonte: Ciclo Vivo

"“Eu acredito que contra a ignorância, nós temos educação. Contra as ameaças contra o planeta, temos a Ciência. Eu acredito em construir um futuro melhor para nossas crianças, o que quer dizer oferecer a elas um planeta que ainda seja habitável daqui a 25 anos"...Não existe plano B para o fim do planeta!!.


Dia de boas notícias, para variar um pouco. E de boas reflexões também.

Começo com o discurso do presidente francêsEmmanuel Macron no Congresso norte-americano, divulgado pelas redes sociais. Macron falou sobre o processo civilizatório, condenou o presidente Donald Trump por ter tirado os Estados Unidos do Acordo de Paris. Mas, principalmente, exortou a todos para se livrarem do discurso de nacionalismo exagerado porque só juntos é que podemos enfrentar as verdadeiras ameaças contra o planeta. Está bem, pode ser apenas “mais-um-discurso” de político. Mas a mensagem foi tão forte que todos o aplaudiram de pé. E tem muito conteúdo para reflexão, por isso decidi reproduzir aqui:

“Eu acredito que contra a ignorância, nós temos educação. Contra as ameaças contra o planeta, temos a Ciência. Eu acredito em construir um futuro melhor para nossas crianças, o que quer dizer oferecer a eles um planeta que ainda seja habitável daqui a 25 anos. Algumas pessoas acreditam que manter seus empregos e as indústrias atuais é mais urgente do que transformar nossas economias para fazer frente ao desafio global das mudanças do clima. Precisamos achar um  meio de fazer uma transição suave para uma economia de baixo carbono. Poluindo os oceanos, não mitigando as emissões de dióxido de carbono, destruindo nossa biodiversidade, estamos matando nosso planeta. Vamos encarar a realidade: Não existe planeta B!


E estou certo de que um dia os Estados Unidos vão voltar atrás e se juntar novamente ao Acordo de Paris. Temos duas opções pela frente: podemos escolher o isolacionismo, a separação, o nacionalismo. Pode ser tentador pensar assim, pode parecer um remédio temporário para nossos medos. Mas fechar a porta para o mundo não vai parar a evolução do mundo. Não vai extinguir, mas inflamar o medo dos nossos cidadãos. Precisamos estar de olhos bem abertos aos novos riscos que estão em frente a nós.


Estou convencido de que se nós mantivermos nossos olhos bem abertos estaremos cada vez mais fortes. E não vamos deixar que o nacionalismo extremado ameace um mundo cheio de esperança de maior prosperidade.

Pessoalmente, se você me perguntar, eu não sou fascinado pelos novos poderes fortes, o abandono da liberdade e a ilusão do nacionalismo”.

São palavras alentadoras.

Outra notícia bem simpática que um amigo me enviou, publicada semana passada no site da BBC e no jornal “O Público”, português, dá conta de que o Parlamento da Nova Zelândia aprovou o reconhecimento do rio Whanganui como personalidade jurídica. Dessa forma, ele se torna o primeiro rio do mundo a ter, legalmente, os mesmos direitos dos seres humanos.

Segundo a reportagem, desde o século XIX que os Maori, um povo nativo do país, tentava obter este reconhecimento.  Os direitos do rio estarão, agora, assegurados através de dois intermediários humanos – um membro da tribo Maori e um membro da monarquia constitucional neozelandesa.

"Reconheço que a reação inicial de muita gente é achar estranho que se dê personalidade jurídica a um recurso natural. Mas não é mais estranho do que os fundos familiares, ou as empresas ou as sociedades",  disse Hon Christopher Finlayson, o ministro neozelandês responsável pelo acordo.

Este reconhecimento permite que o rio seja representado em processos judiciais e, além disso, foi ainda atribuído a ele uma compensação financeira de 110 milhões de dólares para melhorar a "saúde" do rio.

Trata-se, aqui, de uma questão fundamental: a relação do homem com a natureza. Neste sentido, busquei ajuda para reflexão com Luc Ferry, ambientalista e ex-ministro de educação da França, filósofo e autor de mais de 15 livros, entre eles "A nova ordem ecológica" (Ed. Difel), onde ele trata justamente desta imbricada convivência.

Ferry diz:

"Numa época em que os limites éticos estão mais do que nunca flutuantes e indeterminados, ela faz brotar a promessa inesperada do arraigamento, finalmente objetivo e certo, de um novo ideal moral: a pureza descobre seus direitos, mas eles não são mais fundados em crença religiosa ou ideológica. Eles pretendem ser realmente provados, demonstrados pelos dados mais incontestáveis de uma ciência nova, a ecologia, que, para ser global, como o era a filosofia, não é menos incontestável do que as ciências positivas nas quais ela se apoia permanentemente. Se os serviços de saúde demonstraram que fumar provoca doenças graves... se os próprios fabricantes de automóveis são obrigados a reconhecer um elo entre a poluição dos gases de escapamento e o desmatamento, não seria insensato, ou mesmo imoral, prosseguir despreocupadamente na via da depredação?"

O filósofo conta histórias de comunidades europeias do século XVI que montaram um julgamento – e absolveram – gafanhotos que provocaram a destruição de plantações inteiras. Afinal, teriam eles também, assim como os homens, direito de se alimentar, mesmo causando tantos males. Os homens que se defendessem.

Ferry descobre, em suas reflexões, que os debates teóricos sobre ecologia se estruturam em três correntes principais. A primeira parte da ideia de que, através da natureza, é ainda e sempre o homem que deve se proteger, até de si mesmo, "quando brinca de aprendiz de feiticeiro".

"Simplesmente se tem consciência de que, ao destruir o meio que o cerca, o homem corre o risco de realmente botar sua própria existência em perigo e, no mínimo, privar-se das condições para uma vida boa sobre a Terra. A natureza, então, passa a ser apenas a que ‘circunda’ o ser humano. Não tem valor absoluto em si mesma".

A segunda corrente dá um passo à frente e inclui os animais na preocupação moral dos humanos. Todos os seres suscetíveis de prazer e dor devem ser tidos como sujeitos de direito e tratados como tais.

E a terceira corrente identificada por Ferry, que se aproxima da história do rio que ganhou personalidade jurídica na Nova Zelândia, tende, na visão dele, a se tornar a ideologia dominante dos "movimentos alternativos na Alemanha e nos Estados Unidos". É a forma que reivindica também o direito das árvores, ou seja, da própria natureza sob suas formas vegetal e mineral.

"É um ‘contrato natural’ no qual o universo inteiro se tornaria sujeito de direito: não mais o homem, considerado o centro do mundo e precisando antes de mais nada ser protegido de si mesmo, mas o cosmos em si é que deve ser defendido dos homens", explica ele na tese publicada na França em 1992, talvez não por acaso o ano da Conferência Mundial do Meio Ambiente que aconteceu aqui no Rio de Janeiro. No Brasil, o livro de Luc Ferry foi editado em 2009.

O ex-ministro francês lembra, em suas conclusões filosóficas sobre nossa relação com o ambiente, que o homem continua sendo, até prova em contrário, o único ser suscetível de emitir julgamentos de valor. Nós é que sempre vamos decidir se vamos modificar ou proteger a natureza.

"A questão filosófica dos direitos inerentes aos seres naturais se acrescenta à outra, política, de nossa relação com o mundo liberal. A natureza não é um agente, um ser suscetível de agir com a reciprocidade que se espera de um alter ego jurídico. É sempre através dos homens que exerce o direito, é através deles que a árvore ou a baleia podem se tornar objeto de uma forma de respeito ligada a legislações – não o inverso", escreve Ferry.

Bom para refletir, não? Fiquem à vontade.


Enquanto as economias prosperam a poluição mata cada dia mais pessoas.Nove pessoas em cada 10 respiram ar poluído, estima a Organização Mundial da Saúde, OMS





ONU News
OMS destaca que cerca de 7 milhões de pessoas morrem todos os anos por respirar poluentes; em algumas cidades europeias, níveis de poluição chegam a reduzir esperança média de vida em dois anos.

Nove pessoas em cada 10 respiram ar poluído, anunciou esta quarta-feira a Organização Mundial da Saúde, OMS. A agência da ONU calcula que 7 milhões de pessoas morram todos os anos devido à poluição do ar no ambiente ou dentro das casas.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que “a poluição do ar ameaça toda a gente, mas são os mais pobres e marginalizados que carregam o maior fardo. ” Segundo ele, “se não forem tomadas ações urgentes, nunca será possível alcançar o desenvolvimento sustentável. ”

Mortes

A exposição a partículas poluentes causa vários problemas de saúde, como doenças cardíacas, cancro dos pulmões ou infeções respiratórias.

Em 2016, 4,2 milhões de pessoas morreram devido à poluição do ar ambiental. A poluição dentro de casa causou outras 3,8 milhões de mortes. Mais de 90% destes casos acontecem em países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia e África.

Este tipo de poluição causa várias doenças não comunicáveis. Segundo a OMS, é responsável por 24% de todas as mortes por doença cardíaca em adultos, 25% de todos os acidentes cardiovasculares, 43% das vítimas de doença pulmonar obstrutiva crónica e 29% de cancro pulmonar.

Regiões

A nível regional, os piores locais do planeta são o Mediterrâneo oriental e o Sudoeste Asiático, onde os níveis ultrapassam cinco vezes as recomendações da OMS. Seguem-se algumas cidades de África e do Pacífico ocidental.

Em algumas cidades de países europeus desenvolvidos, a poluição do ar baixa a expectativa média de vida entre dois a 24 meses, dependendo dos níveis.



Cairo, no Egito, fica numa das regiões onde os níveis de poluentes são mais altos. Foto: Banco Mundial/Kim Eun Yeul
Cairo, no Egito, fica numa das regiões onde os níveis de poluentes são mais altos. 
 
Foto: Banco Mundial/Kim Eun Yeul

Lares

Cerca de 3 bilhões de pessoas, mais de 40% da população mundial, não têm acesso a formas seguras de cozinhar e aquecer as suas casas.

O diretor da OMS considerou “inaceitável que mais de 3 biliões de pessoas, a maioria mulheres e crianças, ainda respirem fumo mortal todos os dias, devido a usarem fornos e combustíveis poluentes nas suas casas. ”

A recolha de dados sobre qualidade do ar dentro de casas começou há cerca de uma década. Apesar do acesso a tecnologias e combustíveis limpos terem aumentado, a agência da ONU diz que “esse aumento não acompanha o crescimento da população em muitas partes do mundo. ”

Ação

A OMS reúne informação de 4,3 mil cidades, de 108 países. Desde 2016, mais de mil cidades juntaram-se a esta base de dados. Segundo a agência da ONU, isto significa que “mais países estão a medir e a tomar iniciativas para reduzir a poluição do ar do que antes. ”
A diretora do Departamento de Saúde Pública, Ambiental e Determinantes Sociais da Saúde da OMS, Maria Neira, disse que “a maior parte deste aumento aconteceu em países desenvolvidos, mas espera-se um aumento dos esforços de monitorização em todo o mundo. ”

Campanha

Esta quarta-feira, a OMS também lançou uma nova campanha. A iniciativa chamada “BreatheLife”, respire vida em português, é feita em conjunto com a ONU Ambiente.

A campanha inclui uma série de desafios, que serão lançados todos os meses. O primeiro desafio chama-se “Marathon a Month”, e pede que as pessoas deixem o carro em casa e usem transportes alternativos durante 42 Km no período de um mês.
Da ONU News, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/05/2018

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]





Nós contra eles.Quando a ganância do poder público desconsidera a saúde da população.

Projeto de Lei 6299/2002, que flexibiliza registro de agrotóxicos, afetará saúde e meio ambiente, afirma MPF


PGR
Em nota técnica, Ministério Público Federal destaca inconstitucionalidades do projeto de lei que deve ser apreciado na Câmara dos Deputados na terça-feira (8)
agrotóxidos: pulverização aérea
Para o Ministério Público Federal (MPF), é inconstitucional o Projeto de Lei 6299/2002, que altera a forma de avaliar registros de agrotóxicos no Brasil – país campeão mundial no consumo dessas substâncias. Para alertar sobre os riscos que o projeto traz à sociedade, a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF (4CCR) enviou ao Congresso Nacional, nesta sexta-feira (4), nota técnica detalhando pelo menos seis artigos da Constituição Federal que serão violados caso o PL seja aprovado. No entendimento da 4ª Câmara, o texto de autoria do atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, flexibiliza o controle sobre os produtos em detrimento da saúde e do meio ambiente.


O relatório do projeto deve ser lido terça-feira (8) na Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisa a matéria. Se aprovada no colegiado, a pauta será encaminhada ao plenário da Câmara, e depois retorna ao Senado Federal. O PL propõe adotar um procedimento chamado ‘análise de risco’ em substituição à atual avaliação feita pelas autoridades de saúde – que prioriza a identificação do perigo das substâncias. A nota técnica alerta, no entanto, que a proposta não apresenta sequer uma consideração diretamente ligada aos efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde ou meio ambiente – fechando os olhos para o fato de essas substâncias matarem cinco vezes mais trabalhadores rurais do que os conflitos agrários, segundo a Comissão Pastoral da Terra.

O coordenador da 4ª Câmara, subprocurador-geral da República Nívio de Freitas, ressalta que a própria terminologia trazida pelo PL, denominando os agrotóxicos como “defensivos fitossanitários”, indica intenção de abrandar a nocividade dos produtos. “A eventual substituição pelo termo ‘fitossanitário’ visa estabelecer um caráter inofensivo a substâncias que, manifestamente, não o são”, afirma. Para o MPF, o argumento de que há uma “burocracia excessiva” também não justifica a alteração legislativa.

Saúde – A atual legislação veda o registro de substâncias que tenham características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, ou provoquem distúrbios hormonais e danos ao sistema reprodutivo. Com o PL, no entanto, agrotóxicos com essas substâncias poderão ser registrados. É que esta proibição de registro é substituída pela expressão “risco inaceitável” para os seres humanos ou para o meio ambiente, ou seja, autoriza o registro em situações em que o uso permanece inseguro mesmo com a implementação das medidas de gestão de risco.

A nota técnica alerta que o PL estabelece apenas uma possibilidade de reanalisar o registro dos agrotóxicos: em caso de alerta de organizações internacionais. Na visão do MPF, o dispositivo reduz o papel dos órgãos federais de agricultura e saúde. Principalmente pelo fato de restringir a ação regulatória à mera homologação da avaliação de risco toxicológico e de risco ambiental já apresentada pelos produtores dos agrotóxicos. “Não pode o Estado renunciar aos seus mecanismos de avaliação e controle prévio de substâncias nocivas ao meio ambiente e à saúde”, alerta o documento.

O PL dispensa os vendedores de advertir os consumidores sobre os malefícios decorrentes do uso de agrotóxicos, o que é inconstitucional. O MPF, por sua vez, destaca que é necessário que os agricultores reconheçam os produtos como tóxicos e perigosos e não como meros insumos agrícolas. Lembra ainda que a medida é fundamental para que ocorra a devida proteção ao meio ambiente, à saúde e ao consumidor em sua utilização. Em outro ponto inconstitucional, a proposta ainda retira dos estados e do Distrito Federal a possibilidade de legislar sobre a matéria, o que viola a Constituição em seu artigo 23.
O documento conclui que o PL está na contramão da preocupação mundial com o meio ambiente e a saúde. Além de retirar a responsabilização penal do empregador em caso de descumprimento às exigências estabelecidas na Lei.


Da Procuradoria-Geral da República, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/05/2018
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Como sempre, o poder público favorece as empreiteiras e desconsidera o meio ambiente.Até quando essa situação perdurará? Quando teremos um governo que priorize as pessoas e não o lucro?Diagnóstico do desastre de Mariana aponta danos irreparáveis e falta de diálogo do poder público com atingidos





Diagnóstico do desastre de Mariana aponta danos irreparáveis e falta de diálogo do poder público com atingidos







Mariana (MG) – Ruínas em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, dois anos após a tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco. Foto: José Cruz/Agência Brasil
Mariana (MG) – Ruínas em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, após a tragédia 
do rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco. 
 
Foto: José Cruz/Agência Brasil

PGR
Resultado preliminar de pesquisas foi apresentado pela força-tarefa da Bacia do Rio Doce a membros do MPF que atuam na Câmara de Meio Ambiente e na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão

A força-tarefa que investiga o desastre causado pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), apresentou nessa quarta-feira (3) um diagnóstico dos programas de reparação integral da bacia do Rio Doce e também o resultado preliminar da perícia socioambiental da tragédia. O resumo dos trabalhos da FT foi exposto aos membros da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR) e da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC). O rompimento da barragem aconteceu em 5 de novembro de 2015, atingiu 41 municípios e deixou 19 pessoas mortas.

A avaliação dos danos causados pelo maior desastre que se tem notícia na história da mineração brasileira é considerada de suma importância para a atuação do Ministério Público Federal (MPF) no caso. Sendo assim, foi firmado um acordo preliminar com a Samarco, Vale e BHP Billinton, responsáveis pelo rompimento da barragem de Fundão, para contratação de consultorias especializadas em perícias. Custeadas pelas empresas, foram contratadas a Lactec, para fazer o diagnóstico socioambiental, e a Ramboll, para avaliar os Programas de Reparação Socioambiental e Socioeconômica. Há ainda uma terceira frente de investigação, relacionada à assistência aos atingidos, que contará com outra consultoria especializada ainda a ser contratada.

Programas de reparação – Tão logo ocorreu o desastre, diversas ações imediatas ou provisórias foram realizadas e outras continuam em andamento, principalmente nos 122 km iniciais, onde os danos foram mais devastadores. O plano de reparação dos danos inclui, por exemplo, a remoção de rejeitos, construção de barreiras para retenção de sedimentos, estabilização das margens dos rios, revegetação e melhoria do escoamento superficial em áreas atingidas da bacia. No entendimento do MPF, no entanto, essa ações precisam de uma participação efetiva dos atingidos, o que ainda não tem ocorrido.

Os danos causados pelo rompimento da barragem transcendem a ordem estritamente material, como a perda de bens por parte dos atingidos e dos municípios. Há perda de padrões de organização social, identidade coletiva, vínculos de vizinhança e comunitários, além de práticas culturais diversas que configuram os modos de vida, e que foram extintos.

Neste cenário, torna-se essencial que haja acolhimento dos atingidos, reconhecendo como legítimo o seu sofrimento e suas demandas. “As ações devem contar com maciça participação social e transparência com relação às intenções das empresas e do poder público”, destaca o procurador da República José Adércio Leite Sampaio, coordenador da força-tarefa.

Os programas de reparação estão sendo analisados por uma equipe de centenas de especialistas a serviço do MPF. São modelo de atuação, por exemplo, soluções adotadas por países como o Japão para se recuperar após desastres naturais. O diretor-geral da Ramboll no Brasil, Eugenio Singer, avalia que, para evitar o processo de perpetuação do trauma, deve-se buscar uma abordagem dinâmica de futuro, com consensos em torno de alterações e do significado social do território. Para ele, no entanto, as ações atualmente em curso são mais focadas na restauração das condições sociais e ambientais anteriores ao desastre. Dessa maneira, dificultam e interferem de modo irreversível na capacidade das pessoas de visualizar, planejar e buscar um futuro desejável.

Diagnóstico – Somente em 2020 o Brasil terá um verdadeiro diagnóstico da amplitude do desastre de Mariana para o ecossistema. A minuciosa pesquisa, no entanto, analisa a situação pré-desastre, os danos ambientais pós-desastre, mensura esses danos e depois faz uma valoração econômica da tragédia. A partir desse diagnóstico será possível apontar as medidas necessárias para a recuperação e os danos não mitigáveis, ou seja, aqueles que necessitarão ser compensados, pois será impossível retornar ao status anterior ao desastre. A bacia, embora já apresentasse evidências de degradação ambiental, depois do desastre ficou totalmente comprometida, tornando a sua recuperação uma tarefa difícil, complexa, demorada e desafiadora.

Ao todo, 44 milhões de m³ de sedimentos se descolaram da barragem do Fundão e desceram pelo Rio Doce até chegar no Oceano Atlântico. O pesquisador Leonardo Bastos, da Lactec, afirma que a consultoria já encontrou 53 danos ambientais causados pelo desastre e que este número segue crescendo. Ele alerta para o impacto direto sobre as vegetações da região, além da qualidade da água e do solo.

O levantamento da Lactec está sendo produzido em 14 tópicos: geologia e geotecnia, fauna silvestre, cetáceos, quelônios, ictiofauna, ecotoxicologia, águas subterrâneas, águas superficiais, hidrologia, sedimentos, solos, flora, valoração econômica dos danos ambientais e bens arqueológicos e culturais.

Avaliação – O coordenador da 4ª Câmara, subprocurador-geral da República Nívio de Freitas, destaca a importância da transparência no diálogo com os atingidos e exalta a atuação da força-tarefa no caso da tragédia de Mariana. “É muito bom ver o andamento desta investigação no MPF. Está provado que o açodamento e a pressão não são os caminhos ideais para resolver casos complexos como este”, afirma. Já a procuradora federal dos direitos do cidadão, subprocuradora-geral da República Deborah Duprat, destaca a necessidade de se avaliar os danos levando em consideração a comunidade plural que foi atingida, com índios, quilombolas e ribeirinhos.

Fonte: Procuradoria-Geral da República

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/05/2018

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