Por Júlia Beduschi para Fauna News –
Bióloga e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias
(NERF) da mesma instituição
estradas@faunanews.com.br
Interessados em determinar as causas de mortalidade da fauna de
vertebrados terrestres, um grupo de pesquisadores da universidade
estadual de Nova York fez uma revisão bibliográfica compilando
estudos de todo o mundo que usaram telemetria (equipamentos anexados ou
ancorados nos animais que rastreiam seus movimentos) para determinar a
causa-morte dos animais.
O estudo nos mostra que as atividades humanas são responsáveis pela
retirada de mais de um quarto de vertebrados terrestres do planeta.
Foram levados em consideração apenas os impactos diretos e não os
indiretos, como introdução de espécies exóticas, perda de habitat e
poluição – para todos esses fatores, as rodovias são um importante
vetor. Além disso, a porcentagem de animais atropelados vem aumentando
com o tempo, o que pode ser resultado do crescimento da malha rodoviária
no mundo todo.
Os pesquisadores buscaram por estudos de 1970 a 2018 referentes a
todos os grupos taxonômicos de vertebrados. O resultado foi 1.114
trabalhos. Desses, foram documentadas 42.755 mortes com causas
conhecidas, das quais 28% eram relativas a atividades humanas e 72% a
causas naturais. A maior causa de mortalidade foi a predação com 55% dos
animais, seguido pela caça legal com 17%. As outras causas, como
atropelamento, caça ilegal, fome, doenças e acidentes, somaram menos de
10% do total da mortalidade.
De todos os grupos taxonômicos de vertebrados, o que apresentou maior
morte por atropelamento foram os répteis adultos. Isso demonstra
claramente a intenção do motorista em atropelar esses animais quando
identificados na rodovia. O estudo também demonstrou que aves e
mamíferos maiores são mais propensos a serem atropelados do que espécies
menores ou indivíduos juvenis. Outra constatação foi a de que aves
carnívoras são mais propensas a serem atropeladas do que aves onívoras.
Os resultados encontrados pelos pesquisadores não parecem ser
alarmantes em relação ao atropelamento de fauna. Mas considerando que a
maioria dos estudos ocorre no Estados Unidos e que tem como foco animais
de grande porte, principalmente mamíferos, podemos imaginar que a
magnitude de mortalidade causada por ações antrópicas e principalmente
pelas rodovias é muito maior do que a relatada – ainda mais quando
falamos em animais pequenos. No Brasil, por exemplo, a maior parte da
fauna é de pequeno porte e há poucos estudos que usam telemetria para
determinar a causa-morte dos animais, apesar de a carnificina nas
estradas brasileiras ser bem relatada.
(#Envolverde)
quarta-feira, 20 de março de 2019
Será que o Brasil encolheu?
por Observatório do Clima –
Vídeo mostra por que é falsa a ideia de que o Brasil protege tanta floresta que não consegue mais expandir a produção agropecuária
Pessoas com influência nas políticas ambientais federais vêm espalhando que o Brasil protege tanto suas florestas que ficou inviável expandir a produção de alimentos. Até o ministro do Meio Ambiente já caiu nessa: no discurso preparado para sua apresentação na assembleia da ONU Meio Ambiente, em Nairóbi, na semana passada, Ricardo Salles disse que o país é o que tem a maior área protegida do mundo.
A gente até poderia responder que não há futuro para a agricultura sem a conservação das florestas, dos solos e da água, ou mesmo relembrar que somos o país que mais desmata e extingue espécies ameaçadas, além de possuir 50 milhões de hectares de terras degradadas, subtilizadas ou abandonadas pelo agronegócio. Mas é tanta desinformação que resolvemos desenhar pra deixar tudo explicadinho.
Hoje o país têm mais áreas destinadas à agropecuária (245 milhões de hectares) do que áreas protegidas (216 milhões de hectares). O Brasil tem espaço de sobra para proteger o clima, conservar sua diversidade e comunidades, e ainda se tornar o maior produtor de alimentos, fibras e bioenergia do mundo. Basta ampliarmos as técnicas de produtividade em todo pais para expandir a atual produção de alimentos sem nenhum desmatamento. Pra isso, precisamos apenas usar nosso território com inteligência.
Assista aqui ao vídeo:
(#Envolverde)
Vídeo mostra por que é falsa a ideia de que o Brasil protege tanta floresta que não consegue mais expandir a produção agropecuária
Pessoas com influência nas políticas ambientais federais vêm espalhando que o Brasil protege tanto suas florestas que ficou inviável expandir a produção de alimentos. Até o ministro do Meio Ambiente já caiu nessa: no discurso preparado para sua apresentação na assembleia da ONU Meio Ambiente, em Nairóbi, na semana passada, Ricardo Salles disse que o país é o que tem a maior área protegida do mundo.
A gente até poderia responder que não há futuro para a agricultura sem a conservação das florestas, dos solos e da água, ou mesmo relembrar que somos o país que mais desmata e extingue espécies ameaçadas, além de possuir 50 milhões de hectares de terras degradadas, subtilizadas ou abandonadas pelo agronegócio. Mas é tanta desinformação que resolvemos desenhar pra deixar tudo explicadinho.
Hoje o país têm mais áreas destinadas à agropecuária (245 milhões de hectares) do que áreas protegidas (216 milhões de hectares). O Brasil tem espaço de sobra para proteger o clima, conservar sua diversidade e comunidades, e ainda se tornar o maior produtor de alimentos, fibras e bioenergia do mundo. Basta ampliarmos as técnicas de produtividade em todo pais para expandir a atual produção de alimentos sem nenhum desmatamento. Pra isso, precisamos apenas usar nosso território com inteligência.
Assista aqui ao vídeo:
(#Envolverde)
Soltura de papagaios-de-peito-roxo no Parque Nacional das Araucárias é ameaçada por vandalismo
texto publicado em 15 de março 2019 no site Conexão Planeta
Por Mônica Nunes* –
Esta semana, o Instituto Espaço Silvestre anunciou, com muito entusiasmo, mais uma soltura de papagaios-de-peito-roxo no Parque Nacional das Araucárias, no município de Passos Mais, em Santa Catarina. “Após longo período de reabilitação, 36 papagaios serão levados para o parque para a sétima soltura que ocorrerá na região onde a espécie estava extinta”.
No entanto, por falta de segurança no local, essa operação corre risco de não se realizar, e isso é muito grave: pode eliminar a chance de esses bichos tão singelos viverem em liberdade e “condená-los a passar o resto de suas vidas em cativeiro”, como alerta a bióloga Vanessa Kanaan, diretora técnica do instituto e membro da Comissão de Especialistas em Conservação de Translocação da IUCN.
Esse projeto lindo, realizado pelo Instituto Espaço Silvestre desde 2010, tem reintroduzido essa espécie na região da qual estava extinta, principalmente por causa do tráfico ilegal. Até agora, já foram soltos 153 papagaios-de-peito-roxo e há mais 36 no viveiro instalado no parque, esperando para viverem livres na natureza.
Mas a missão do instituto desta vez está ameaçada porque, na noite de quarta (12/3) para quinta (13), foram roubados todos os equipamentos de proteção e monitoramento do viveiro. Câmeras que funcionam como armadilhas fotográficas, muito usadas por pesquisadores, e também ajudam a monitorar as plataformas de alimentação, além de todos os cadeados e correntes que as protegiam e mantinham a porta fechada.
“De manhã, as duas biólogas que estão em campo encontraram a porta aberta. Entram no viveiro para verificar se os papagaios estavam bem e, em seguida, perceberam que as câmeras tinham sumido”, conta Vanessa. “Não acredito que quem roubou os equipamentos tinha intenção de levar os papagaios. Já poderiam ter feito isso, mas tiveram o cuidado de fechar a porta com uma tranca externa”. E completa: “O sistema é seguro. Isso nunca aconteceu. Por isso, agora, estamos apreensivas”.
Assim que foi avisada do ocorrido, Vanessa acionou, por whatsapp, o que o grupo chama de Rede de Proteção ao Papagaio-de-peito-roxo, formada por instituições locais, regionais e nacionais como órgãos ambientais – como ICMBio (instituição que faz a gestão do parque já que é uma unidade de conservação federal),Ibama -, pessoas-chave no processo de soltura, e as polícias ambiental, militar e civil.
Ela conta que essa rede foi criada após reunião que definiu a competência exata de cada instituição para agilizar ações em casos desse tipo. Foi o que aconteceu agora. Lá estiveram integrantes da polícia civil e militar e do ICMBio e foi feito um B.O. (boletim de ocorrência). “Todos comprometidos e engajados. A partir de hoje (14) estão nos apoiando na fiscalização”, explica a Vanessa.
A mídia local foi avisada para que noticiasse o roubo e comunicasse o oferecimento de uma recompensa “para quem tiver informações que nos levem às armadilhas, aos equipamentos roubados. Nossa estratégia é fazer barulho localmente porque, quanto mais a comunidade souber, mas fiscalizadores a gente tem e maior segurança”.
Vale destacar que os equipamentos roubados são caríssimos e foram doados recentemente pelo Parque das Aves e pelo ornitólogo Adrian Rupp, guia de observação de aves que atua na região.
“Faz quase um ano que eu comecei a negociar o patrocínio desses equipamentos. E conseguimos. O Parque das Aves doou as câmeras, o cartão de memória e as pilhas. E o Adrian, as caixas de proteção, as correntes e os cadeados. Essa é a tristeza! Um material tão batalhado, ir embora, assim, em menos de uma semana de uso”.
Além de prejudicar o trabalho do instituto, o roubo também impede que a parceria linda com o Parque das Aves e Adrian se complete já que envolvia o compartilhamento das informações obtidas a partir desse monitoramento. Conhecimento científico se expande assim também, com essas parcerias. Quem cometeu esse crime não faz ideia do tamanho do estrago que causou e continua causando.
Há pouco, Vanessa me deu uma boa notícia: ninguém esteve no viveiro durante esta madrugada. Mas, caso não seja possível dar andamento à missão, as consequências serão terríveis, como ela explica:
“Se os papagaios tiverem que voltar ao centro de triagem de animais silvestres do instituto, não teremos como fazer uma soltura em curto prazo porque teremos que recomeçar o processo de reabilitação de saúde. Além de demorado, este processo é muito caro porque cada papagaio precisa passar por 20 exames. E mais: tudo isso pode inviabilizar a continuidade do projeto, que tanto depende de apoio financeiro, de parceiros, voluntários…. Por causa de um ato de vandalismo”.
Estamos torcendo para que o projeto pode seguir seu curso, mesmo com as adversidades. E que a rede proteção ajude a impedir que mais atos como esse aconteçam e que a comunidade continue ajudando este grupo de biólogas dedicadas à vida silvestre a realizar sua missão.
Se tudo correr bem – e vai! – semana que vem conto mais detalhes desta soltura e também do trabalho lindo desenvolvido pelo Instituto Espaço Silvestre. Quero ver os 36 papagaios-de-peito-roxo, como o dos flagrantes bacanas publicados neste post (registrados pela Vanessa), vivendo livres na natureza.
Fotos: Vanessa Kanaan/Instituto Espaço Silvestre (papagaios) e Divulgação (viveiro)
*Mônica Nunes – Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.
(#Envolverde)
Por Mônica Nunes* –
Esta semana, o Instituto Espaço Silvestre anunciou, com muito entusiasmo, mais uma soltura de papagaios-de-peito-roxo no Parque Nacional das Araucárias, no município de Passos Mais, em Santa Catarina. “Após longo período de reabilitação, 36 papagaios serão levados para o parque para a sétima soltura que ocorrerá na região onde a espécie estava extinta”.
No entanto, por falta de segurança no local, essa operação corre risco de não se realizar, e isso é muito grave: pode eliminar a chance de esses bichos tão singelos viverem em liberdade e “condená-los a passar o resto de suas vidas em cativeiro”, como alerta a bióloga Vanessa Kanaan, diretora técnica do instituto e membro da Comissão de Especialistas em Conservação de Translocação da IUCN.
Esse projeto lindo, realizado pelo Instituto Espaço Silvestre desde 2010, tem reintroduzido essa espécie na região da qual estava extinta, principalmente por causa do tráfico ilegal. Até agora, já foram soltos 153 papagaios-de-peito-roxo e há mais 36 no viveiro instalado no parque, esperando para viverem livres na natureza.
Mas a missão do instituto desta vez está ameaçada porque, na noite de quarta (12/3) para quinta (13), foram roubados todos os equipamentos de proteção e monitoramento do viveiro. Câmeras que funcionam como armadilhas fotográficas, muito usadas por pesquisadores, e também ajudam a monitorar as plataformas de alimentação, além de todos os cadeados e correntes que as protegiam e mantinham a porta fechada.
“De manhã, as duas biólogas que estão em campo encontraram a porta aberta. Entram no viveiro para verificar se os papagaios estavam bem e, em seguida, perceberam que as câmeras tinham sumido”, conta Vanessa. “Não acredito que quem roubou os equipamentos tinha intenção de levar os papagaios. Já poderiam ter feito isso, mas tiveram o cuidado de fechar a porta com uma tranca externa”. E completa: “O sistema é seguro. Isso nunca aconteceu. Por isso, agora, estamos apreensivas”.
Assim que foi avisada do ocorrido, Vanessa acionou, por whatsapp, o que o grupo chama de Rede de Proteção ao Papagaio-de-peito-roxo, formada por instituições locais, regionais e nacionais como órgãos ambientais – como ICMBio (instituição que faz a gestão do parque já que é uma unidade de conservação federal),Ibama -, pessoas-chave no processo de soltura, e as polícias ambiental, militar e civil.
Ela conta que essa rede foi criada após reunião que definiu a competência exata de cada instituição para agilizar ações em casos desse tipo. Foi o que aconteceu agora. Lá estiveram integrantes da polícia civil e militar e do ICMBio e foi feito um B.O. (boletim de ocorrência). “Todos comprometidos e engajados. A partir de hoje (14) estão nos apoiando na fiscalização”, explica a Vanessa.
A mídia local foi avisada para que noticiasse o roubo e comunicasse o oferecimento de uma recompensa “para quem tiver informações que nos levem às armadilhas, aos equipamentos roubados. Nossa estratégia é fazer barulho localmente porque, quanto mais a comunidade souber, mas fiscalizadores a gente tem e maior segurança”.
Vale destacar que os equipamentos roubados são caríssimos e foram doados recentemente pelo Parque das Aves e pelo ornitólogo Adrian Rupp, guia de observação de aves que atua na região.
“Faz quase um ano que eu comecei a negociar o patrocínio desses equipamentos. E conseguimos. O Parque das Aves doou as câmeras, o cartão de memória e as pilhas. E o Adrian, as caixas de proteção, as correntes e os cadeados. Essa é a tristeza! Um material tão batalhado, ir embora, assim, em menos de uma semana de uso”.
Além de prejudicar o trabalho do instituto, o roubo também impede que a parceria linda com o Parque das Aves e Adrian se complete já que envolvia o compartilhamento das informações obtidas a partir desse monitoramento. Conhecimento científico se expande assim também, com essas parcerias. Quem cometeu esse crime não faz ideia do tamanho do estrago que causou e continua causando.
E se a soltura não puder ser feita?
A priori, a soltura dos 36 papagaios-de-peito-roxo está marcada para amanhã, 16/3, mas tudo depende do que acontecerá nas próximas horas.Há pouco, Vanessa me deu uma boa notícia: ninguém esteve no viveiro durante esta madrugada. Mas, caso não seja possível dar andamento à missão, as consequências serão terríveis, como ela explica:
“Se os papagaios tiverem que voltar ao centro de triagem de animais silvestres do instituto, não teremos como fazer uma soltura em curto prazo porque teremos que recomeçar o processo de reabilitação de saúde. Além de demorado, este processo é muito caro porque cada papagaio precisa passar por 20 exames. E mais: tudo isso pode inviabilizar a continuidade do projeto, que tanto depende de apoio financeiro, de parceiros, voluntários…. Por causa de um ato de vandalismo”.
Estamos torcendo para que o projeto pode seguir seu curso, mesmo com as adversidades. E que a rede proteção ajude a impedir que mais atos como esse aconteçam e que a comunidade continue ajudando este grupo de biólogas dedicadas à vida silvestre a realizar sua missão.
Se tudo correr bem – e vai! – semana que vem conto mais detalhes desta soltura e também do trabalho lindo desenvolvido pelo Instituto Espaço Silvestre. Quero ver os 36 papagaios-de-peito-roxo, como o dos flagrantes bacanas publicados neste post (registrados pela Vanessa), vivendo livres na natureza.
Fotos: Vanessa Kanaan/Instituto Espaço Silvestre (papagaios) e Divulgação (viveiro)
*Mônica Nunes – Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.
(#Envolverde)
Metodologia defasada permitiu que área do tamanho do Panamá fosse desmatada entre a Amazônia e o Cerrado
Por Bruno Stankevicius Bassi / De Olho nos Ruralistas –
Com distorções que chegam a 245%, “linha divisória” adotada pelo IBGE fez o Cerradão, região de florestas, ser enquadrado com grau de proteção inferior ao correto; estudo propõe reposicionar os territórios para proteger a biodiversidade
Como definir a separação entre dois biomas? As implicações deste questionamento vão muito além da cartografia e da biologia e afetam diretamente os índices de desmatamento na zona de transição entre a Amazônia e o Cerrado, no norte do Mato Grosso, um dos principais focos de biodiversidade do mundo. Essa é a conclusão de um estudo assinado por um grupo de pesquisadores brasileiros e publicado na última edição da revista Biodiversity and Conservation.
Segundo o artigo, a metodologia tradicionalmente utilizada para definir a separação entre os biomas, baseada em uma simples linha divisória, gerou distorções que alcançam 245,5% de erro em alguns pontos da região estudada. Como resultado, 75.700 km² de florestas estacionais localizadas além dos “limites” do bioma amazônico foram mapeados erroneamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como vegetação de savana (ou cerrado denso).
Isso fez essa formação florestal, conhecida como Cerradão, ser enquadrada pelo Código Florestal de 2012 com um grau de proteção inferior ao estabelecido pela legislação. Isso porque na Amazônia Legal – que engloba também as áreas de transição para o bioma Cerrado – o tamanho da reserva legal a ser preservada dentro das propriedades rurais varia em função do tipo de vegetação: 80% para florestas e 35% para savana.
Mesmo sendo floresta, o Cerradão não foi considerado como tal, sendo desmatado até sua quase extinção. Utilizando imagens de satélite cedidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os pesquisadores identificaram que num período de 30 anos, entre 1984 e 2014, essa formação florestal perdeu 5,2 milhões de hectares, cerca de 41,2% da cobertura inicial dentro da área abrangida pelo estudo.
Mas não para por aí. Enquanto a atividade agropecuária ganhou espaço, passando de apenas 9,4% do uso do solo em 1984 para 46% em 2014, as regiões de savana perderam, no mesmo período, 7,8 milhões de hectares. Com as florestas densas não foi diferente: 9,3 milhões de hectares extirpados. Somando as três classes de vegetação analisadas no estudo (o Cerradão, a floresta densa e úmida e o Cerrado stricto senso), o desmatamento na zona de transição entre a Amazônia e o Cerrado – epicentro do Arco do Desmatamento – levou embora, em apenas três décadas, uma área equivalente ao estado de Roraima.
Essa abordagem, no entanto, desconsidera a heterogeneidade e a complexidade dos mosaicos de vegetação que marcam a transição entre a Amazônia e o Cerrado. Liderado por Ben Hur Marimon Junior, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), o grupo de pesquisadores identificou, nos mapas de 1984, 719 fragmentos de floresta densa em meio ao bioma Cerrado e 151 fragmentos de cerrado stricto sensu em meio ao bioma amazônico, considerando apenas os trechos superiores a 5 km². Com isso, o estudo comprovou que a Amazônia é maior e está mais ao Sul do que os mapas estabeleciam.
Como resposta às distorções geradas pela metodologia antiga – cartográficas e de políticas públicas – os pesquisadores propõem uma nova abordagem para classificar as fronteiras entre Amazônia e Cerrado: em vez da linha divisória, a consolidação ecológica e jurídica de uma “faixa de transição”, visando proteger a frágil biodiversidade daquela que é a maior transição floresta-savana do planeta.
(#Envolverde)
Com distorções que chegam a 245%, “linha divisória” adotada pelo IBGE fez o Cerradão, região de florestas, ser enquadrado com grau de proteção inferior ao correto; estudo propõe reposicionar os territórios para proteger a biodiversidade
Como definir a separação entre dois biomas? As implicações deste questionamento vão muito além da cartografia e da biologia e afetam diretamente os índices de desmatamento na zona de transição entre a Amazônia e o Cerrado, no norte do Mato Grosso, um dos principais focos de biodiversidade do mundo. Essa é a conclusão de um estudo assinado por um grupo de pesquisadores brasileiros e publicado na última edição da revista Biodiversity and Conservation.
Segundo o artigo, a metodologia tradicionalmente utilizada para definir a separação entre os biomas, baseada em uma simples linha divisória, gerou distorções que alcançam 245,5% de erro em alguns pontos da região estudada. Como resultado, 75.700 km² de florestas estacionais localizadas além dos “limites” do bioma amazônico foram mapeados erroneamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como vegetação de savana (ou cerrado denso).
Isso fez essa formação florestal, conhecida como Cerradão, ser enquadrada pelo Código Florestal de 2012 com um grau de proteção inferior ao estabelecido pela legislação. Isso porque na Amazônia Legal – que engloba também as áreas de transição para o bioma Cerrado – o tamanho da reserva legal a ser preservada dentro das propriedades rurais varia em função do tipo de vegetação: 80% para florestas e 35% para savana.
Mesmo sendo floresta, o Cerradão não foi considerado como tal, sendo desmatado até sua quase extinção. Utilizando imagens de satélite cedidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os pesquisadores identificaram que num período de 30 anos, entre 1984 e 2014, essa formação florestal perdeu 5,2 milhões de hectares, cerca de 41,2% da cobertura inicial dentro da área abrangida pelo estudo.
Mas não para por aí. Enquanto a atividade agropecuária ganhou espaço, passando de apenas 9,4% do uso do solo em 1984 para 46% em 2014, as regiões de savana perderam, no mesmo período, 7,8 milhões de hectares. Com as florestas densas não foi diferente: 9,3 milhões de hectares extirpados. Somando as três classes de vegetação analisadas no estudo (o Cerradão, a floresta densa e úmida e o Cerrado stricto senso), o desmatamento na zona de transição entre a Amazônia e o Cerrado – epicentro do Arco do Desmatamento – levou embora, em apenas três décadas, uma área equivalente ao estado de Roraima.
ESTUDO PROPÕE NOVA ABORDAGEM
A linha demarcatória mais aceita na literatura científica, que corta o estado de Mato Grosso e sobe pela divisa do Tocantins em direção ao Maranhão, foi elaborada em 1981 a partir do Projeto RadamBrasil – uma iniciativa do Ministério de Minas e Energia que visava o mapeamento de recursos naturais, depois incorporada ao IBGE.Essa abordagem, no entanto, desconsidera a heterogeneidade e a complexidade dos mosaicos de vegetação que marcam a transição entre a Amazônia e o Cerrado. Liderado por Ben Hur Marimon Junior, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), o grupo de pesquisadores identificou, nos mapas de 1984, 719 fragmentos de floresta densa em meio ao bioma Cerrado e 151 fragmentos de cerrado stricto sensu em meio ao bioma amazônico, considerando apenas os trechos superiores a 5 km². Com isso, o estudo comprovou que a Amazônia é maior e está mais ao Sul do que os mapas estabeleciam.
Como resposta às distorções geradas pela metodologia antiga – cartográficas e de políticas públicas – os pesquisadores propõem uma nova abordagem para classificar as fronteiras entre Amazônia e Cerrado: em vez da linha divisória, a consolidação ecológica e jurídica de uma “faixa de transição”, visando proteger a frágil biodiversidade daquela que é a maior transição floresta-savana do planeta.
(#Envolverde)
Quem vai salvar a Floresta Amazônica?
Por Carol Giacomo, traduzido da publicação original do New York Times / Mídia Ninja –
Quem vai salvar a Floresta Amazônica?
A batalha das lideranças indígenas para salvar suas terras e suas vidas.
Povos indígenas da Floresta Amazônica são as tropas da linha de frente na luta contra a mudança climática. “Nós somos os primeiros a ser afetados”, diz Sônia Guajajara, uma das mais conhecidas lideranças indígenas do Brasil.
“Nós estamos vendo inundações que duram mais, estamos vendo secas mais longas, estamos vendo a diminuição dos peixes com a seca”, disse ela recentemente ao conselho editorial do The Times. “E isso afeta nossa segurança alimentar. Isso também afeta nossa cultura ”.
A floresta amazônica, um tesouro ambiental de mais de dois milhões de metros quadrados em todo o Brasil e outros oito países, é às vezes chamada de “pulmões do planeta” porque as árvores liberam tanto oxigênio e absorvem tanto dióxido de carbono, amaciando os efeitos das Alterações Climáticas. É também o lar de uma diversidade incomparável de espécies animais e vegetais, bem como cerca de um milhão de indígenas só no Brasil.
Embora há muito tempo em perigo, a floresta está sob maior ameaça agora sob a presidência de Jair Bolsonaro, um líder populista polarizador nos moldes do presidente Trump que assumiu o cargo em janeiro e se encontrará com Trump na Casa Branca hoje.
Bolsonaro agiu rapidamente para minar as proteções ao meio ambiente, aos direitos indígenas à terra, às organizações não-governamentais e basicamente a qualquer um que discordasse dele.
“Ainda nos primeiros 50 dias do governo Bolsonaro houve uma reversão de 30 anos de progresso”, disse Guajajara. “Tudo o que estamos tentando construir, tentando construir desde então, estamos tentando continuar em pé.”
Seu trabalho com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil concentra-se em garantir seus direitos, incluindo reivindicações de terras de florestas tropicais ancestrais. O Brasil perdeu quase 10% de sua cobertura florestal entre 2000 e 2017, segundo o World Resources Institute. Agora, Bolsonaro está aumentando ainda mais a ameaça com um pedido de investimento econômico para explorar as florestas, os minerais e outros recursos naturais do país.
Desde sua posse, Bolsonaro enfraqueceu ou desvinculou agências governamentais que supervisionam as proteções para a Amazônia e os povos indígenas e atribuiu essas responsabilidades ao ministério da agricultura pró-agricultura, pró-mineração e pró-madeira.
O resultado é que os povos indígenas, que garantiram proteção do governo para cerca de 13% do território brasileiro, temem que não haja mais terras demarcadas, disse Guajajara.
Terras que são formalmente reconhecidas como “terras coletivas” são de propriedade do governo, mas garantidas pela Constituição para o uso exclusivo de grupos indígenas. Bolsonaro diz que quer que essas terras sejam “mais produtivas”.
Guajajara, que concorreu sem sucesso a vice presidência nas últimas eleições, como candidata do partido de esquerda Partido Socialismo e Liberdade, disse que isso significaria o começo do fim das culturas indígenas. “E para mim, isso é tipo de etnocídio”, disse ela. “Etnocídio é quando você mata a cultura. O genocídio é quando você mata as pessoas.
Líderes mais sábios do que Bolsonaro procuraram formas de expandir o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo respeitando os povos indígenas e reconhecendo as contribuições insubstituíveis da Amazônia para deter as mudanças climáticas. Pesquisas mostram que as comunidades indígenas são os melhores administradores da terra.
O Brasil tem uma história de conflito sobre desenvolvimento e conservação. Isso está ocorrendo em um processo civil que acusa o estado de genocídio, quando centenas, talvez milhares, de índios da etnia Waimiri-Atroari morreram entre 1968 e 1977, quando uma estrada foi construída à força pela Amazônia, informou a Associated Press.
Em uma audiência em uma reserva remota da Amazônia no mês passado, seis anciãos indígenas disseram a um juiz como a ditadura militar tentou erradicá-los com armas, bombas e produtos químicos.
Agora, décadas após esse período, de acordo com a Sra. Guajajara, Bolsonaro está afirmando que “não existe um povo indígena” e insistindo que ele quer “unificar todos nós em uma cultura”. Isso é ofensivo e irrealista, dado que O Brasil abrange mais de 300 grupos étnicos, incluindo talvez 100 que não têm contato com a sociedade e cerca de 274 idiomas.
Pelo menos, a eleição de Bolsonaro parece estar deixando claro o que poderia ser perdido para suas políticas e estar persuadindo grupos marginalizados – os pobres, mulheres, crianças, povos indígenas – a se unirem em uma causa comum.
A eleição de Bolsonaro também chama atenção e questiona a boa fé da proposta de uma coalizão internacional de grupos indígenas da Amazônia para a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade no ano passado para criar um santuário de floresta tropical do tamanho do México.
Se há esperança para a Floresta Amazônica e para países onde as autoridades ameaçam a democracia e as agendas progressistas, ela vive na determinação e poder de ativistas da sociedade civil como Sônia Guajajara.
Foto destaque: Pablo Alvarenga
(#Envolverde)
Quem vai salvar a Floresta Amazônica?
A batalha das lideranças indígenas para salvar suas terras e suas vidas.
Povos indígenas da Floresta Amazônica são as tropas da linha de frente na luta contra a mudança climática. “Nós somos os primeiros a ser afetados”, diz Sônia Guajajara, uma das mais conhecidas lideranças indígenas do Brasil.
“Nós estamos vendo inundações que duram mais, estamos vendo secas mais longas, estamos vendo a diminuição dos peixes com a seca”, disse ela recentemente ao conselho editorial do The Times. “E isso afeta nossa segurança alimentar. Isso também afeta nossa cultura ”.
A floresta amazônica, um tesouro ambiental de mais de dois milhões de metros quadrados em todo o Brasil e outros oito países, é às vezes chamada de “pulmões do planeta” porque as árvores liberam tanto oxigênio e absorvem tanto dióxido de carbono, amaciando os efeitos das Alterações Climáticas. É também o lar de uma diversidade incomparável de espécies animais e vegetais, bem como cerca de um milhão de indígenas só no Brasil.
Embora há muito tempo em perigo, a floresta está sob maior ameaça agora sob a presidência de Jair Bolsonaro, um líder populista polarizador nos moldes do presidente Trump que assumiu o cargo em janeiro e se encontrará com Trump na Casa Branca hoje.
Bolsonaro agiu rapidamente para minar as proteções ao meio ambiente, aos direitos indígenas à terra, às organizações não-governamentais e basicamente a qualquer um que discordasse dele.
“Ainda nos primeiros 50 dias do governo Bolsonaro houve uma reversão de 30 anos de progresso”, disse Guajajara. “Tudo o que estamos tentando construir, tentando construir desde então, estamos tentando continuar em pé.”
Seu trabalho com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil concentra-se em garantir seus direitos, incluindo reivindicações de terras de florestas tropicais ancestrais. O Brasil perdeu quase 10% de sua cobertura florestal entre 2000 e 2017, segundo o World Resources Institute. Agora, Bolsonaro está aumentando ainda mais a ameaça com um pedido de investimento econômico para explorar as florestas, os minerais e outros recursos naturais do país.
Desde sua posse, Bolsonaro enfraqueceu ou desvinculou agências governamentais que supervisionam as proteções para a Amazônia e os povos indígenas e atribuiu essas responsabilidades ao ministério da agricultura pró-agricultura, pró-mineração e pró-madeira.
O resultado é que os povos indígenas, que garantiram proteção do governo para cerca de 13% do território brasileiro, temem que não haja mais terras demarcadas, disse Guajajara.
Terras que são formalmente reconhecidas como “terras coletivas” são de propriedade do governo, mas garantidas pela Constituição para o uso exclusivo de grupos indígenas. Bolsonaro diz que quer que essas terras sejam “mais produtivas”.
Guajajara, que concorreu sem sucesso a vice presidência nas últimas eleições, como candidata do partido de esquerda Partido Socialismo e Liberdade, disse que isso significaria o começo do fim das culturas indígenas. “E para mim, isso é tipo de etnocídio”, disse ela. “Etnocídio é quando você mata a cultura. O genocídio é quando você mata as pessoas.
Líderes mais sábios do que Bolsonaro procuraram formas de expandir o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo respeitando os povos indígenas e reconhecendo as contribuições insubstituíveis da Amazônia para deter as mudanças climáticas. Pesquisas mostram que as comunidades indígenas são os melhores administradores da terra.
O Brasil tem uma história de conflito sobre desenvolvimento e conservação. Isso está ocorrendo em um processo civil que acusa o estado de genocídio, quando centenas, talvez milhares, de índios da etnia Waimiri-Atroari morreram entre 1968 e 1977, quando uma estrada foi construída à força pela Amazônia, informou a Associated Press.
Em uma audiência em uma reserva remota da Amazônia no mês passado, seis anciãos indígenas disseram a um juiz como a ditadura militar tentou erradicá-los com armas, bombas e produtos químicos.
Agora, décadas após esse período, de acordo com a Sra. Guajajara, Bolsonaro está afirmando que “não existe um povo indígena” e insistindo que ele quer “unificar todos nós em uma cultura”. Isso é ofensivo e irrealista, dado que O Brasil abrange mais de 300 grupos étnicos, incluindo talvez 100 que não têm contato com a sociedade e cerca de 274 idiomas.
Pelo menos, a eleição de Bolsonaro parece estar deixando claro o que poderia ser perdido para suas políticas e estar persuadindo grupos marginalizados – os pobres, mulheres, crianças, povos indígenas – a se unirem em uma causa comum.
A eleição de Bolsonaro também chama atenção e questiona a boa fé da proposta de uma coalizão internacional de grupos indígenas da Amazônia para a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade no ano passado para criar um santuário de floresta tropical do tamanho do México.
Se há esperança para a Floresta Amazônica e para países onde as autoridades ameaçam a democracia e as agendas progressistas, ela vive na determinação e poder de ativistas da sociedade civil como Sônia Guajajara.
Foto destaque: Pablo Alvarenga
(#Envolverde)
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