Por Anissa Putois/One Green Planet (Tradução: Monika Schorr/ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais)
Foto: Flickr/Stefan David
LIgres, zebralos, cockerpeis e labradoodles são apenas alguns dos
animais híbridos criados em cativeiro pelos humanos. Os dois primeiros,
resultado do cruzamento entre tigre e leão e entre zebra e cavalo,
respectivamente, são exemplos de animais híbridos criados em zoológicos e
expostos como atração pública, enquanto os dois últimos, mistura de
cocker com sharpei e de labrador com poodle, são apenas dois exemplos da
imensa gama de miscigenação entre raças de cães projetada pelos
criadores inescrupulosos para gerar lucro e fazer desses cães “objeto de
desejo” de pessoas desavisadas.
É muito triste constatar que esses
animais híbridos quase sempre apresentam graves problemas de saúde.
O que vem chamando a atenção, é que a hibridação pode acontecer, de
forma espontânea, fora do ambiente de cativeiro. O impacto da atividade
humana pode ter como consequência indireta o surgimento de animais
híbridos. Em 2006, um urso branco com manchas marrons foi avistado no
Ártico. Acredita-se que ele seja fruto da reprodução entre um urso polar
e um urso pardo. Três anos depois, um animal, supostamente um híbrido
de baleia-franca-austral com baleia-da-groenlândia, foi fotografado no
mar de Bering.
À primeira vista, esses híbridos podem parecer “fofos” e
induzir as pessoas a criar nomes divertidos para eles, como por exemplo,
“urso grolar”, para a mistura entre o urso polar e o urso pardo, mas
essa hibridação pode significar um desastre para as espécies e os
ecossistemas dos quais fazem parte.
O que os ursos “grolar” têm a ver com as mudanças climáticas
Pesquisadores acreditam que o aumento de animais híbridos na natureza
é uma dentre as muitas consequências alarmantes das alterações
climáticas em todo mundo. Já é amplamente aceito, pela comunidade
científica, que a intensificação global da atividade humana e o padrão
insustentável de consumo estão causando as mudanças climáticas.
Especialmente afetado por esse fenômeno, o aquecimento do Ártico é de
duas a quatro vezes mais rápido que o do resto do planeta, o que provoca
o derretimento das geleiras e da calota polar e o aumento do nível do
mar. Essas alterações do aspecto físico natural do Ártico fazem com que
animais endêmicos da região sejam obrigados a percorrer distâncias
maiores, ampliando seu território e fazendo com que encontrem espécies
com as quais, de outra forma, jamais teriam contato.
Ursos polares costumam ser símbolo das graves consequências das
mudanças climáticas. Nossa exploração desenfreada dos recursos naturais
tem deixado esses ursos esqueléticos e ilhados em minguantes blocos de
gelo ou vagando pelas cidades, desesperados por alimento. Na verdade,
estima-se que a elevação das temperaturas cause o desaparecimento de
cerca de três milhões e meio de hectares, ao ano, do habitat do urso
polar. Foçados a se deslocar para o sul devido ao derretimento do gelo,
acabam por encontrar os ursos pardos e acasalando-se com eles.
Ursos não são os únicos animais afetados. Em 2010, um artigo
publicado na revista científica Nature relacionou mais de 30 espécies
que correm risco de hibridação por causa das mudanças climáticas. O
artigo afirma que “a diminuição do gelo na superfície da terra faz com
que haja sobreposição geográfica e que diferentes populações de animais
fiquem em contato próximo” e enumera vários exemplos onde esse fato foi
constatado.
Híbridos de baleia-branca e baleias narval já foram
localizados, assim como os descendentes de duas subespécies de focas:
foca da groenlândia e foca de crista. Também foram encontrados híbridos
de toninha comum e boto de dall, espécies que, naturalmente, deveriam
habitar regiões geográficas diferentes. O artigo destaca que a grande
procriação de híbridos levou ao declínio da população da toninha comum. O
surgimento de animais híbridos na natureza é uma mudança biológica
bastante preocupante e que pode levar algumas espécies à extinção.
Os perigos da hibridação
Até certo ponto, a hibridação é um fenômeno que ocorre de forma
espontânea na natureza e muitos grupos de animais desenvolveram um amplo
espectro de características particulares em sua aparência física,
comportamento, sinais e sons de acasalamento, especificamente para
evitar o cruzamento entre espécies distintas.
Além disso, populações
mais estreitamente relacionadas entre si vivem, frequentemente, em
habitats que ocupam diferentes áreas geográficas, para evitar o
cruzamento interespécies. Lamentavelmente, “a atividade humana pode
romper as barreiras que separam as espécies”.
A hibridação pode prejudicar gravemente a biodiversidade por causar a
extinção de espécies, uma vez que a maioria dos animais híbridos são
estéreis. “Mas há um aspecto ainda mais ameaçador para a preservação das
espécies: os híbridos com capacidade de reprodução”, segundo estudo da
Universidade de Missouri.
A pesquisa cita o exemplo da deslocada coruja
barrada do meio-oeste, que se estabeleceu na floresta que é lar da
coruja pintada, ameaçada de extinção. As duas espécies acasalaram e
procriaram uma espécie de coruja que disputa o habitat e que pode
deflagrar a extinção da coruja pintada. Híbridos podem, assim,
contribuir com a perda da diversidade genética.
Além do mais, ao
contrário das espécies das quais se originaram, eles não estão sob a
proteção da Lei de Espécies Ameaçadas.
Outra consequência negativa do cruzamento entre espécies diferentes é
uma potencial vulnerabilidade do animal híbrido. Animais desenvolvem
genes específicos que lhes permitem viver em determinados habitats.
Sharon Guynup, da Universidade de Missouri, explica que esses genes são
uma “espécie de obstáculo criado pela natureza para controlar a
reprodução e agem como salvaguardas para proteger as espécies e
ajudá-las a se adaptar ao seu ambiente”.
Quando esses genes são
misturados através do acasalamento interespécies, características
específicas necessárias à sobrevivência podem ser eliminadas, gerando
animais com condições insuficientes para se adaptar ao novo habitat.
Semelhante aos animais geneticamente modificados, os quais apresentam
uma vasta gama de problemas de saúde, híbridos nascidos na natureza
podem desenvolver cegueira, coração e demais órgãos deficientes e outras
tantas doenças debilitantes, o que faz com que tenham uma curta
expectativa de vida.
O que podemos fazer
Ao destruir as barreiras naturais entre espécies, as mudanças
climáticas podem originar consequências deletérias como o surgimento de
animais híbridos inférteis, mal adaptados ao ambiente ou fracos e
deformados. Esses híbridos podem significar o aniquilamento de uma ou de
ambas as espécies que os originaram e de seus ecossistemas em
desequilíbrio.
O urso “grolar” e outros híbridos são apenas a ponta do iceberg que
está derretendo. Os perigos das mudanças climáticas são enormes.
Enquanto algumas espécies aparentadas acasalam entre si, outras lutam e
se matam como predador e presa na tentativa de conseguir alimento, por
causa da perda de seus habitats. Condições climáticas extremas,
inundações, países insulares que correm o risco de submergir, recifes de
coral ameaçados de desaparecer, a extinção de centenas de espécies de
aves e espécies marinhas, assim como de alimentos dos quais dependemos
são alguns dos riscos adicionais para nosso planeta.
No cerne dessa
séria questão estão a emissão de gases de efeito estufa e as atividades
humanas que os provocam. Embora a perspectiva de reduzir a emissão
desses gases possa ser desencorajadora, cada um de nós tem uma
extraordinária oportunidade para começar a reduzir a emissão de dióxido
de carbono. Não há dúvida quanto à necessidade de regulamentação
governamental para controlar a emissão de gases de efeito estufa pelas
indústrias, mas cada indivíduo pode causar um enorme impacto ambiental
positivo através de simples mudanças de hábitos diários.
As pessoas
estão mudando comportamentos a cada dia, como ir ao trabalho de
bicicleta em vez de com o carro, levar embalagens plásticas para
reciclagem e ficando cada vez mais conscientes sobre o impacto de seu
estilo de consumo. Dentre essas pequenas atitudes, a mais simples delas é
a que pode ter um gigantesco impacto no planeta na redução do efeito
estufa: mudança de hábitos alimentares.
Cada vez que nos sentamos à mesa para fazer uma refeição, temos a
chance de reduzir nossa pegada de carbono. Ao deixar de ingerir carnes e
laticínios e ao adotar uma dieta baseada em vegetais, podemos reduzir
pela metade nossa pegada de carbono. Sim, pela metade!
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
estima que a criação de gado é responsável por 14,5 por cento da emissão
global dos gases de efeito estufa, enquanto outras organizações, como o
Worldwatch Institute, calculam que esse valor deva ser da ordem de 51
por cento.
A One Green Planet acredita que nosso sistema alimentar global,
dominado pela pecuária é o centro da crise ambiental, uma vez que esse
sistema causa poluição do ar e da água, degradação do solo, desmatamento
e está deixando em seu rastro um incontável número de espécies à beira
da extinção.
Como organização de vanguarda no movimento pelo consumo consciente, a
One Green Planet entende que nossas escolhas dietéticas têm o poder de
sanar nosso combalido sistema alimentar, de dar às espécies animais a
chance de lutar pela sua sobrevivência e de abrir caminho para um futuro
que seja verdadeiramente sustentável.
Escolhendo uma alimentação cuja base são os vegetais, podemos reduzir
drasticamente nossa pegada de carbono e ajudar a preservar a vida
animal. Para saber mais sobre como começar a salvar o planeta já na
próxima refeição, junte-se à campanha
eatfortheplanet.