Huuummm…
Daqui a pouco haverá gente elogiando a sagacidade da presidente Dilma —
serão as mesmas penas que atacaram o PTB por ter deixado o governo. E
por quê? Porque o Planalto se meteu numa conspirata com o presidente do
PP, senador Ciro Nogueira, do Piauí. E em que consistiu a operação?
Ora, o PP,
descendente direto da Arena, o partido que apoiou a ditadura militar,
aderiu aos métodos de decisão que vigoravam na VAR-Palmares, um dos
grupos terroristas a que pertenceu Dilma: o centralismo democrático. Em
“esquerdês”, o que quer dizer “centralismo democrático”? É o poder que
detém o comando do partido para tomar decisões terminativas, sem espaço
para contestação e sem consultar ninguém. Lênin o adotou como um dos
pilares do comunismo revolucionário. Qual é a base, digamos, teórica e
moral desse método?
É simples: o “partido” (no caso, o comunista)
representa o povo. Se representa, seus dirigentes são a encarnação
máxima desse povo, certo? Logo, quando o comando decide, é como se o
povo decidisse. Ainda que dê a impressão do contrário, é o método que
vigora também no PT. Adiante.
O PP está
rachado. Se o apoio a Dilma fosse posto em debate, seções importantes do
partido resistiriam; tenderiam a dizer “não”. Boa parte, com chance de
ser a maioria, queria a neutralidade. O que fez, então, o ínclito Ciro
Nogueira? Pôs em votação uma resolução que conferiu à Executiva Nacional
o direito de tomar a decisão, sem consultar mais ninguém. Deixou lá os
convencionais com cara de bobos. É o que se chama “golpe”. E o comando
decidiu apoiar Dilma e pronto!
Que coisa
espetacular! Diga-se em favor dos comunas que todos os membros do
partido concordavam com o centralismo democrático. No caso do PP, não! A
reação foi de revolta. Ângela Amin, vice-presidente da legenda, nem foi
consultada. Disse que vai recorrer à Justiça contra a convenção,
contando com o apoio da senadora Ana Amélia, hoje favorita na disputa
pelo governo do Rio Grande do Sul.
Também o atual governador de Minas,
Alberto Pinto Coelho, foi feito de bobo. Ele é um dos que defendem a
neutralidade, a exemplo do presidente de honra da sigla, senador
Francisco Dornelles (RJ) — na verdade, ele queria o apoio a Aécio, mas
achava que um partido neutro contemplaria a maioria.
Quem
entregou o jogo foi o ministro das Cidades, Gilberto Occhi. “Houve um
almoço com a presidente em que o PP confirmou o seu apoio”.
Entenda-se
por PP a direção do partido, a mesma que deu o golpe. Ora, se prometeu,
tem de entregar, né? E o ministro tentou filosofar: “Divergências
acontecem em todos os partidos, é fruto da democracia no país”. Na sua
concepção de democracia, quem é contra não tem direito nem a voz nem a
voto. Finalmente, a VAR-Palmares impôs seus métodos à Arena.