Saneamento no Brasil e conservação da água – Melhor qualidade da água traz benefícios à saúde e à economia
Com a maior reserva de água doce do mundo, o Brasil ainda sofre com a
falta de medidas para a conservação desse recurso essencial para a vida
e para a atividade econômica. Segundo o levantamento mais recente
divulgado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico
(SNIS), 35 milhões de brasileiros não recebem água tratada e mais de 100
milhões não têm acesso a coleta de esgoto. Ainda de acordo com o
estudo, apesar de avanços no saneamento,
apenas 45% do esgoto gerado no País é tratado. “Essa era uma pauta
[esgoto] do século 19 que continuamos discutindo no século 21. Podemos
comemorar algumas conquistas, mas ainda estamos muito atrasados quando
falamos sobre a conservação da água”, afirma o doutor em Ecologia e
membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Marcelo
Aranha.
O especialista lembra que investimentos para a conservação da água
impactam positivamente na economia e trazem benefícios à saúde. “A
conservação do recurso e ambientes mais limpos geram um entorno com
condições humanas mais adequadas, diminuindo significativamente a
disseminação de doenças ou a presença de agentes transmissores, como
ratos e baratas”, explica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), cada dólar investido em água e saneamento resulta em economia de
4,3 dólares em saúde.
Várias cidades do mundo já verificaram na conservação da água
resultados econômicos mais efetivos. Em Nova York (EUA), por exemplo, a
manutenção da qualidade do recurso oferecido à população é feita por
meio da proteção dos mananciais, conservação das nascentes e, com isso,
precisam apenas de um sistema de filtragem e desinfecção para que a água
esteja própria para o consumo. “Muitos países têm buscado manter a
funcionalidade dos rios. O sistema desenvolvido em Nova York custou
apenas 15% do que se gastaria com a opção tradicional de tratamento.
Muitos exemplos comprovam que conservar é economicamente mais vantajoso
que tratar o problema”, finaliza o especialista.
Economia bilionária
Considerando a projeção de avanço gradativo do saneamento no Brasil
no período entre 2015 a 2035, estima-se que a economia na área de saúde,
gerada pela redução de afastamento no trabalho e despesas no SUS, deve
alcançar mais de R$ 7,2 bilhões no País, segundo informações divulgadas
pelo Instituto Trata Brasil. Somente a coleta de esgoto para 100% da
população, resultaria em uma diminuição de mais de 74 mil internamentos
por doenças ligadas à contaminação da água.
Além do esgoto, a água também sofre com a contaminação industrial e o
lixo que sobrecarrega os rios, favorecendo o assoreamento. “O resultado
são inundações com muito mais frequência do que seria aceitável com as
precipitações. Quando uma pessoa joga lixo no rio ou diretamente na
natureza, sem considerar que esse ato traz um retorno à sociedade e a
ela mesma, consideramos que esse comportamento é reflexo de um
analfabetismo ambiental”, analisa o ecólogo.
Fonte: Rede de Especialistas de Conservação da Natureza
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Nova pesquisa sugere que a mudança climática torna cada vez mais
difícil a recuperação florestal após incêndios florestais, o que poderia
contribuir para a perda abrupta de florestas.
University of Montana*
O estudo, “Wildfires and Climate Change Push Low-elevation Forests Across a Critical Climate Threshold for Tree Regeneration“, foi publicado em 11 de março nos Anais da Academia Nacional de Ciências e está disponível online em http://bit.ly/2HeZc8t .
Kimberley Davis, pesquisadora de pós-doutorado na WA Franke College
of Forestry and Conservation na UM, e seus coautores examinaram a
relação entre o clima anual e a regeneração pós-fogo de pinheiro
ponderosa e abeto de Douglas em florestas de baixa elevação no oeste da
América do Norte .
“Florestas no oeste dos EUA são cada vez mais afetadas por mudanças
climáticas e incêndios florestais”, disse Davis, principal autor do
estudo. “A capacidade das florestas para se recuperar após incêndios
florestais depende do clima anual, porque as mudas de árvores são
particularmente vulneráveis ao clima quente e seco. Queríamos
identificar as condições específicas necessárias para a regeneração
pós-fogo para entender melhor como a mudança climática vem afetando as
florestas ao longo do tempo ”.
Os autores usaram anéis de árvores para determinar datas de
estabelecimento de mais de 2.800 árvores que se regeneraram após
incêndios no Arizona, Califórnia, Colorado, Idaho, Montana e Novo México
entre 1988 e 2015. As taxas anuais de regeneração de árvores foram
muito menores quando as condições climáticas sazonais, incluindo
temperatura umidade e umidade do solo, limiares cruzados específicos.
Nos últimos 20 anos, as condições climáticas cruzaram esses limites
na maioria dos locais de estudo, levando a um declínio abrupto na
frequência com que as condições anuais são adequadas para a regeneração
de árvores. Os resultados do estudo destacam como futuros incêndios em
locais semelhantes podem catalisar transições de ecossistemas florestais
para não-florestais.
“Árvores adultas podem sobreviver em condições mais quentes e mais
secas do que as mudas, e nosso estudo descobriu que algumas áreas de
baixa altitude que são atualmente florestadas não têm mais condições
climáticas adequadas para a regeneração de árvores”, disse Davis.
“Nessas áreas, o fogo de alta gravidade pode levar a transições do
ecossistema de florestas para campos ou matagais.
“É importante entender como a mudança climática
e os incêndios florestais afetarão a regeneração das árvores, porque as
florestas são importantes economicamente, ecologicamente e
culturalmente”, disse ela. “Pinheiros Ponderosa e Douglas são duas das
espécies de árvores mais dominantes no oeste dos EUA, e são fundamentais
para a indústria florestal regional. As florestas também contêm altos
níveis de biodiversidade e fornecem uma variedade de serviços
ecossistêmicos, como o sequestro de carbono e a regulamentação e
fornecimento de água. Além disso, as pessoas adoram recriar em
florestas, que é uma parte cada vez mais importante da economia nos
estados ocidentais. ”
Referência: Wildfires and climate change push low-elevation forests across a critical climate threshold for tree regeneration
Kimberley T. Davis, Solomon Z. Dobrowski, Philip E. Higuera, Zachary A.
Holden, Thomas T. Veblen, Monica T. Rother, Sean A. Parks, Anna Sala,
Marco P. Maneta
Proceedings of the National Academy of Sciences Mar 2019, 201815107; DOI: 10.1073/pnas.1815107116 https://doi.org/10.1073/pnas.1815107116
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/03/2019
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·No
encontro ambiental mais importante do mundo, ministros acordaram um
novo modelo para proteger os recursos degradados do planeta
·Líderes concordaram em enfrentar a crise ambiental por meio de inovações e do consumo e produção sustentáveis
·Delegados se comprometeram a reduzir de maneira significativa os plásticos descartáveis até 2030
·A
quarta Assembleia Ambiental da ONU aconteceu em uma atmosfera de luto
após a queda de avião da Ethiopian Airlines com destino a Nairóbi
Por Flora Pereira, ONU Meio Ambiente
O Mundo hoje preparou o terreno para uma mudança radical por um
futuro mais sustentável, em que a inovação pode ser fomentada para enfrentar os
desafios ambientais, o uso de plásticos descartável será significativamente
reduzido e o desenvolvimento não irá mais custar tanto para o planeta.
Após cinco dias de conversas na Quarta Assembleia Ambiental das
Nações Unidas, em Nairóbi, os ministros de mais de 170 países membros das
Nações Unidas entregaram um plano audacioso por mudança, comunicando que o
mundo precisa acelerar os movimentos para um novo modelo de desenvolvimento a
fim de respeitar a visão estabelecida pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
para 2030.
Preocupados pelas crescentes evidências de que o planeta está
cada vez mais poluído, rapidamente se aquecendo e perigosamente esgotado, os
ministros prometeram atender os desafios ambientais por meio do avanço de
soluções inovadoras e da adoção de padrões sustentáveis de produção e
consumo.
“Reafirmamos que a erradicação da pobreza, mudando
aquilo que é insustentável, promovendo padrões sustentáveis de consumo e
produção e protegendo a gestão dos recursos naturais que são base para o
desenvolvimento social e econômico, são os objetivos fundamentais e as
exigências essenciais para o desenvolvimento sustentável”, disseram os
ministros em sua declaração final.
“Melhoraremos as estratégias de gestão de recursos
naturais integrando perspectivas que englobem o ciclo completo da vida e
análises que concretizem economias de baixo carbono e eficientes em relação aos
seus recursos”.
Mais de 4.700 delegados, incluindo
ministros do meio ambiente, cientistas, acadêmicos, líderes empresariais e
representantes da sociedade civil estavam presentes na Assembleia: o corpo mais
importante de meio ambiente a nível global, cuja decisão definirá a agenda das
nações, antevendo a Cúpula
de Ação Climática da ONU, em setembro.
O evento também resultou no comprometimento dos ministros em
promover sistemas de alimentação encorajando práticas de agricultura
resilientes, enfrentar a pobreza por meio da gestão sustentável de recursos
naturais, promover o uso e compartilhamento de dados ambientais, e reduzir
sensitivamente o uso de plásticos descartáveis.
“Nós vamos endereçar o dano causado a nossos
ecossistemas pelo uso insustentável de produtos plásticos, promovendo a redução
significativa de produtos descartáveis de plástico até 2030, e trabalharemos
com o setor privado para encontrar produtos ambientalmente amigáveis e
financeiramente acessíveis”, disseram.
Para enfrentar as lacunas de conhecimento, ministros prometeram
trabalhar para produzir dados ambientais internacionais comparáveis e ao mesmo
tempo aprimorar os sistemas e tecnologias de monitoramento. Eles também
expressaram apoio aos esforços da ONU Meio Ambiente para desenvolver uma
estratégia global para dados ambientais até 2025.
“O mundo está em uma encruzilhada, mas hoje
escolhemos o caminho que seguiremos” disse Siim Kiisler, Presidente da Quarta
Assembleia Ambiental da ONU e Ministro do Meio Ambiente da Estônia. “Decidimos
fazer as coisas diferentemente. Desde reduzir nossa dependência dos plásticos
de uso único a colocar a sustentabilidade no seio de todos os desenvolvimentos
futuros, transformaremos a maneira que vivemos. Temos as soluções inovadoras
que precisamos. Agora temos que adotar políticas que nos permitam suas
implementações”.
A Assembleia começou em luto após o acidente de um voo da
Ethiopian Airlines de Addis Ababa para Nairóbi, que custou a vida de todas as
157 pessoas a bordo, incluindo funcionários da ONU e outros delegados que
estavam viajando para o encontro. Um minuto de silêncio foi realizado para as
vítimas na cerimônia de abertura, onde as autoridades também prestaram
homenagem ao trabalho de seus colegas.
No final da Assembleia, os delegados adotaram uma série de
resoluções não vinculantes, rumo à mudança para um modelo de desenvolvimento
diferente. Entre as resoluções, foi reconhecido que uma economia global mais
circular, em que os bens podem ser reutilizados ou reaproveitados e mantidos em
circulação pelo maior tempo possível, pode contribuir significativamente para o
consumo e a produção sustentáveis.
Outras resoluções disseram que os Estados Membros poderiam
transformar suas economias por meio de compras públicas sustentáveis e instaram os países a apoiar
medidas para lidar com o desperdício de alimentos e para desenvolver e
compartilhar as melhores práticas nas áreas de eficiência energética e de
segurança para a cadeia de frio.
As resoluções também abordaram o uso de incentivos, incluindo
medidas financeiras, para promover o consumo sustentável e acabar com
incentivos para consumo e produção insustentáveis, quando apropriado.
“Nosso planeta atingiu seus limites e precisamos
agir agora. Estamos muito satisfeitos que o mundo tenha respondido, aqui em
Nairóbi, com compromissos firmes para construir um futuro em que a
sustentabilidade seja o objetivo final em tudo o que fizermos”, afirmou Joyce
Msuya, Diretora Executiva Interina da ONU Meio Ambiente.
“Se os países cumprirem tudo o que foi acordado aqui
e implementar as resoluções acordadas, poderemos dar um grande passo em direção
a uma nova ordem mundial, onde não cresceremos mais às custas da natureza, mas
veremos as pessoas e o planeta prosperarem juntos.”
Um dos principais focos da Assembleia foi a necessidade de
proteger oceanos e ecossistemas frágeis. Os ministros adotaram uma série de
resoluções sobre lixo marinho plástico e microplásticos, incluindo o
compromisso de estabelecer uma plataforma multissetorial dentro da ONU Meio
Ambiente para tomar medidas imediatas para a eliminação a longo prazo de lixo e
microplásticos.
Outra resolução instava os Estados-Membros e outros atores a
endereçar o problema do lixo marinho por meio da análise do ciclo de vida
completo dos produtos e do aumento da eficiência dos recursos.
Durante a cúpula, Antígua e Barbuda, Paraguai e Trinidad e
Tobago aderiram à campanha Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, elevando para 60
o número de países adeptos da maior aliança mundial de combate à poluição
marinha por plásticos, incluindo 20 da América Latina e do Caribe.
A necessidade de agir rapidamente para enfrentar os desafios
ambientais existenciais foi ressaltada pela publicação de uma série de
relatórios durante a Assembleia.
Entre as mais devastadoras, está uma atualização sobre a mudança
do Ártico, que explica que mesmo que o mundo cortasse as emissões em
consonância com o Acordo de Paris, as temperaturas do inverno no Ártico
subiriam entre 3 a 5 °C em 2050 e 5 a 9 °C até 2080, devastando a região e
desencadeando o aumento do nível do mar em todo o mundo.
O relatório ‘Ligações
Globais – Um olhar gráfico sobre a mudança do Ártico’ alertou que o
rápido derretimento do permafrost poderia acelerar ainda mais a mudança
climática e inviabilizar os esforços para cumprir o objetivo de longo prazo do
Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 2 °C.
Enquanto isso, o sexto Panorama Global Ambiental, visto como a
avaliação mais abrangente e rigorosa do estado do planeta, alertou que milhões
de pessoas poderão morrer prematuramente devido a poluição da água e do ar até
2050, a menos que medidas urgentes sejam tomadas.
Produzido por 250 cientistas e especialistas de mais de 70
países, o relatório mostra que o mundo tem a ciência, tecnologia e finanças
necessárias para avançar em direção a um caminho de desenvolvimento mais
sustentável, mas políticos, empresários e o público devem apoiar e incentivar
essa mudança.
A vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, que participou
da cúpula na quinta-feira, disse que uma atitude sobre o uso insustentável de
recursos não é mais uma escolha, mas uma necessidade.
“Como os Estados-Membros afirmaram durante os
debates vibrantes, ao lado da sociedade civil, empresas, comunidade científica
e outras partes interessadas, ainda é possível aumentar o nosso bem-estar e, ao
mesmo tempo, manter o crescimento econômico por meio de uma mistura inteligente
de mitigação do clima, eficiência nos recursos e políticas de proteção da
biodiversidade”, disse ela.
Como evidência dos efeitos devastadores da atividade humana
sobre a saúde do planeta, um clamor global por ações urgentes está aumentando.
Enquanto os delegados se preparavam para deixar Nairóbi na sexta-feira,
centenas de milhares de estudantes de cerca de 100 países tomaram as ruas como
parte de um movimento de protesto global inspirado na estudante sueca Greta
Thunberg.
Durante seu discurso na Assembleia Ambiental da ONU Meio
Ambiente, na quinta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que os
jovens estavam certos em protestar e que o mundo precisa dessa fúria para
impulsionar uma ação mais rápida e mais intensa.
“Acreditamos que o que precisamos, dada a situação
em que vivemos, são leis reais, regras que são vinculantes e adotadas
internacionalmente. Nossa biosfera enfrenta devastação total. A própria
humanidade está ameaçada. Não podemos simplesmente responder com alguns
princípios que soem bem, sem qualquer impacto real”, afirmou Macron.
O Presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta também disse que o mundo
precisava agir imediatamente para enfrentar os níveis recordes de degradação
ambiental, insegurança alimentar, pobreza e desemprego.
“As estatísticas globais atuais são bastante preocupantes e as
projeções para as gerações futuras são terríveis e exigem ações urgentes de
governos, comunidades, empresas e indivíduos”, disse ele.
“As pessoas continuam me perguntando ‘qual é a solução para a
crise climática’. E como podemos ‘resolver esse problema’. Elas esperam
que eu saiba a resposta. Isso é um absurdo, porque não há ‘soluções’
dentro dos nossos sistemas atuais.”
A reportagem é de La Repubblica, 17-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois da grande marcha pelo clima que levou às ruas mais de um
milhão de pessoas, sobretudo jovens, a ativista sueca Greta Thunberg
responde com um longo post no Facebook às críticas dirigidas ao
movimento do qual é inspiradora.
“O argumento favorito aqui na Suécia (e em outros lugares…) é que não
importa o que façamos, porque somos todos muito pequenos para fazer a
diferença. A manifestação de sexta-feira foi o maior dia de ação
climática global de todos os tempos, de acordo com a 350.org. Ela
aconteceu porque alguns estudantes de pequenos países como a Suécia, a
Bélgica e a Suíça decidiram não ir à escola, porque nada estava sendo
feito sobre a crise climática. Nós provamos que o que você faz é
importante e que ninguém é muito pequeno para fazer a diferença.”
A ativista, que nos últimos dias foi alvo de ataques e insultos, pede
que se olhe para o problema como um todo e não para as questões
individuais. “Não podemos nos focar mais apenas em questões individuais e
separadas, como carros elétricos, energia nuclear, carne, aviação,
biocombustíveis etc., etc. Precisamos urgentemente de uma visão
holística para lidar com a crise de sustentabilidade total e o desastre
ecológico em curso. E é por isso que eu sempre digo que precisamos
começar a tratar a crise pelo que ela é. Porque só assim – e só guiados
pela melhor ciência disponível (como está claramente afirmado em todo o
Acordo de Paris) – é que podemos começar a criar juntos uma saída
global.”
Greta defende os estudantes que foram às ruas. “Se nem mesmo os
cientistas, os políticos, a mídia e as Nações Unidas podem falar
atualmente sobre o que exatamente precisa ser feito para ‘resolver’ a
crise climática (em outras palavras, reduzindo drasticamente as nossas
emissões a partir de hoje), como nós, meros estudantes escolares,
poderíamos saber? Como vocês podem jogar esse fardo sobre nós?”
“Então”, conclui, “por favor, parem de pedir aos seus filhos as respostas para a bagunça que vocês fizeram.”
(EcoDebate, 20/03/2019) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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[EcoDebate] Considerada um desdobramento da crise ambiental, a mudança climática
pode ser um dos maiores desafios globais que a sociedade hodierna
enfrenta. Ela exerce pressão sobre a estrutura social e política, de
comunidades no mundo inteiro, em face ao cenário de incertezas sobre o
escopo exato e a velocidade dos próximos passos necessários para
remediar suas causas e efeitos, especialmente no plano global.
Previsões destacam que, para cada grau de aumento da temperatura
média global, ocorrerá uma queda de 20% na disponibilidade de recursos
hídricos para 7% da população mundial. Se as emissões de gases do efeito
estufa seguirem subindo, no pior cenário, até o fim do século XXI o
número de pessoas expostas a grandes enchentes será três vezes maior do
que se as emissões tiverem sido reduzidas. Além disso, será maior a
possibilidade de mortes resultantes de ondas de calor, as pessoas
estarão expostas a doenças transmitidas pela água e por alimentos. Para
completar, o aquecimento global colocará em risco a produtividade
pesqueira e os serviços ecossistêmicos dos oceanos.
Tais consequências irão recair tanto quanto aos povos que menos
contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, uma das causas da
mudança do clima. Portanto, seriam as variações climáticas um novo
fenômeno de injustiça global? Considerando que as atividades humanas, em
relação às mudanças climáticas, podem ser desprezíveis em relação a uma
perspectiva global e de cronologia geológica, como supõe alguns
cientistas, deve-se ter em conta, porém, que a ação conjunta destas com
outros agentes atmosféricos são relevantes.
Assim, são importantes as reflexões sobre mudanças climáticas e
possíveis futuros, construindo cenários que avalie causalidades,
tendências e ciclos do passado, o que ocorre no presente e pode se
estender ao futuro. Nesse momento, é cabível observar que as hipóteses
sobre mudanças climáticas devem ser analisadas considerando-a como um
fenômeno complexo, relativo, volátil e compatível com a importância do
princípio da incerteza e da precaução.
*Isabel Grimm, pós-doutora em Gestão Urbana e doutora em Meio
Ambiente e Desenvolvimento, é coordenadora do Programa de Mestrado
Profissional em Governança e Sustentabilidade do ISAE Escola de
Negócios.
Colaboração de Ana Ornellas, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/03/2019
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