Vitória! Grupo Carrefour Brasil se compromete a melhorar a
vida dos porcos
13/01/2020
A rede varejista é a primeira no Brasil a adotar altos
níveis de bem-estar animal em sua política de fornecedores
Após quase dois anos de trabalho e negociações, o Grupo
Carrefour Brasil assumiu nosso compromisso de melhorar a vida dos porcos.
O anúncio, feito na última sexta-feira (10), é uma grande
vitória para os animais - que foi possível graças ao apoio dos mais de 92
mil brasileiros que assinaram nossa petição e exigiram mudanças pelo
bem-estar dos porcos.
As melhorias serão aplicadas a todos os fornecedores de
carne suína in natura (não processada) da marca própria Carrefour, que
representa 74% de toda a carne de porco comercializada em seus
açougues. Para os produtos de outras marcas, a rede anunciou que também
cobrará melhorias.
De acordo com a nova política, o Grupo Carrefour Brasil só
comprará carne suína in natura de fornecedores que:
garantam
que as porcas passem o período de gestação em grupo e não mais do que 28
dias em gaiolas. Essa mudança deverá ser feita até 2022;
não
usem o corte de orelha (mossa) como forma de identificação dos animais.
Assim como no caso da gestação coletiva, os fornecedores terão dois anos
para abolir a mossa;
adotem
a castração por vacina (imunocastração) ao invés da castração cirúrgica. A
imunocastração deverá ser implementada até 2025;
utilizem
o corte ou desgaste dos dentes dos animais somente em casos de extrema
necessidade, como quando alguns animais apresentarem comportamentos
agressivos;
investem,
de forma contínua, em ambientes mais interativos para os animais, que
simulam situações que ocorreriam na natureza.
A rede também se comprometeu a realizar estudos e testes com
seus fornecedores para encontrar uma solução para a prática do corte de cauda
dos porcos.
Apenas o começo
O Carrefour Brasil foi é a primeira grande rede
varejista a atender nossos pedidos para mudar a vida dos porcos.
Desde 2017, nossa campanha “Mude a vida dos porcos”
pede aos supermercados que:
substituam
a gestação em gaiolas por gestação coletiva em ambientes com
enriquecimento ambiental até 2028;
disponibilizem
materiais e condições que permitam que os animais expressem seu comportamento
natural até 2028;
eliminem
mutilações dolorosas até 2028;
eliminem
gaiolas para as porcas mãe durante o parto e a amamentação até 2035.
Ainda há muito a ser feito. Queremos que outras empresas do
setor, como o Grupo Pão de Açúcar, sigam o exemplo do Grupo Carrefour
Brasil e priorizem o bem-estar dos animais em suas políticas de fornecedores.
Em 2020, continuaremos pressionando os supermercados para
que os animais não sejam esquecidos.
O Greenpeace Internacional lançou relatório que
descreve o impacto do modelo atual de produção de proteína animal para o
agravamento da emergência climática e o peso da responsabilidade do governo
brasileiro e de gigantes do setor, a começar pela JBS, no agravamento de
conflitos sociais e de epidemias como a que estamos vivenciando nos últimos
meses no mundo inteiro.
O relatório faz parte de uma campanha do Greenpeace
Reino Unido contra a Tesco, exigindo da maior rede de supermercados do país que
pare de levar a seus consumidores carne e laticínios de empresas envolvidas na
destruição da Amazônia e Cerrado e reduza drasticamente a quantidade de carne
que vende até 2025.
O objetivo da campanha é pressionar o mercado por
mudanças nos padrões de produção e oferta de produtos associados ao
desmatamento e conflitos, para mitigar o impacto desta cadeia sobre ambientes
naturais e proteger as pessoas, a vida selvagem e o clima.
O relatório “How JBS is still slaughtering the
Amazon” (Como a JBS continua devorando a Amazônia), mostra como o
atraso da maior empresa de proteína animal do mundo em honrar sua promessa de
fechar as portas para o desmatamento, feita há mais de uma década, tem trazido
impactos irreversíveis no chão da floresta.
O relatório também descreve a diminuição da
transparência da JBS em relação à origem de seus fornecedores. Segundo o
documento, a companhia tem retrocedido de forma sistemática na oferta de
informações sobre seus fornecedores diretos nos canais próprios de comunicação
institucional.
A produção de carne em escala industrial, que inclui a abertura de
terras para a produção de carne bovina e o cultivo de soja como ração
animal, é o maior impulsionador do desmatamento em todo o planeta.
A JBS é a maior produtora industrial de carne do
mundo, controlada por uma das famílias envolvidas em um dos maiores escândalos
de corrupção do Brasil, e determinante para o futuro da Amazônia. Uma companhia
grande demais para se dar ao luxo de falhar ou adiar compromissos com a
sociedade.
Uma nova investigação do Bureau of Investigative Journalism e do Repórter Brasil,
também revelou, pela primeira vez, que a JBS não está apenas fechando
os olhos às violações de seus fornecedores, mas está diretamente
implicada no transporte de gado originado de região com desmatamento
para um de seus próprios fornecedores diretos.
“É urgente que compradores de commodities
associadas ao desmatamento – empresas de fast food, supermercados – cumpram
seus compromissos de rastrear, de ponta a ponta, a cadeia de fornecedores como
condição comercial para a continuidade de contratos, ao mesmo tempo em que
devem ampliar drasticamente a oferta de produtos à base de plantas”, publicou o
Greenpeace Brasil em seu site.
Tanta demora e frustração no cumprimento de
compromissos, além da emergência climática atual, somada ao desmatamento fora
de controle, levaram investidores e mercados do mundo todo a se
manifestar.
No final de julho o banco europeu de investimentos Nordea Asset anunciou que irá retirar os investimentos
na JBS, de R$ 240 milhões em ações.
Sociedade exige ação
Em junho, a Amazônia teve o maior número de focos de queimadas e
incêndios florestais desde 2007, enquanto o desmatamento na região nos
meses de maio, junho e julho também já são maiores em comparação com o
mesmo período do ano passado.
E a alta continua. Mesmo com o recente Decreto
10.424, de 15 de julho de 2020, estabelecendo a proibição de uso do fogo nos
Biomas Amazônia e Pantanal por 120 dias, 15 dias após a publicação do Decreto,
a Amazônia registrou 1.007 focos de calor em um único dia, sendo este o pior
índice desde 01 de janeiro de 2020, evidenciando que a Moratória do governo é
medida totalmente insuficiente.
Esses incêndios liberam milhões de toneladas de CO2
na atmosfera, acelerando as mudanças climáticas. Eles também matam a vida
selvagem, causam dificuldades respiratórias e problemas de saúde a longo prazo
para milhões de brasileiros e ameaçam a existência de povos indígenas. Além
disso, quanto mais floresta se perde, maior o risco de futuras pandemias.
Pesquisadores constatam que, com direitos de propriedade
garantidos, indígenas são eficazes na preservação da floresta, sendo a
taxa de desmatamento em suas terras dois terços menor que em outras
áreas da região.
A reportagem é publicada por Deutsche Welle, 11-08-2020.
Garantir a posse da terra às comunidades indígenas da Amazônia pode
ser vital para conter o desmatamento na maior floresta tropical do
mundo, constataram pesquisadores americanos. Um estudo publicado nesta
segunda-feira (10/08) sugere que territórios sobre os quais comunidades
indígenas obtiveram plenos direitos de propriedade apresentam taxas bem
menores de desmatamento.
O trabalho foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Ele corrobora pesquisas anteriores publicadas em 2019 sobre a Amazônia da Colômbia e em 2017 sobre a Amazônia do Peru, que mostraram que a concessão de títulos de propriedade às comunidades indígenas ajudou na preservação florestal.
Os pesquisadores combinaram informações sobre títulos de propriedade
para terras indígenas demarcadas, concedidos pelo governo nas últimas
três décadas, com imagens de satélite da floresta e da sua cobertura
vegetal que mostram o impacto nas taxas de desmatamento de 1982 a 2016.
Coautora do estudo, KathrynBaragwanath, doutoranda da Universidade da Califórnia,
disse que territórios com plenos direitos de propriedade apresentaram
uma taxa 66% menor de desmatamento anual em comparação com terras fora
de suas fronteiras.
“Uma vez que os direitos de propriedade plenos são garantidos aos
territórios indígenas, as populações indígenas são realmente eficazes
na contenção do desmatamento”, disse ela à Fundação ThomsonReuters.
Cientistas consideram a proteção da Floresta Amazônica vital
para desacelerar as mudanças climáticas globais por causa das grandes
quantidades de dióxido de carbono, gás que aquece o planeta, absorvidas
pelas suas árvores.
Pesquisadores alertam que com o aumento das taxas de desmatamento,
principalmente no Brasil, a proteção da floresta se tornou uma
prioridade urgente, o que inclui aumentar os esforços para proteger as
terras indígenas.
Na Amazôniabrasileira, o
desmatamento atingiu o maior nível em 11 anos em 2019 e aumentou 25% no
primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período do ao passado, de
acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo os cientistas, cerca de 2 milhões de hectares de terras
indígenas aguardam para receber designação oficial como território
tribal, processo normalmente demorado.
Os cientistas alertam que, enquanto isso, muitas empresas privadas
sem direito sobre as áreas realizam atividades ilegais, como mineração e
extração de madeira, para demonstrar o “uso produtivo da terra” visando
ganhar o título de propriedade.
Garantir o direito pleno das terras indígenas é uma forma eficaz de
preservar as florestas porque dá proteção legal, tornando menos provável
que sejam ocupadas, contestadas e cobiçadas por empresas que procuram
extrair recursos naturais, afirma Baragwanath.
(EcoDebate, 08/07/2020) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
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A história de Little Grey e Little White parece saída de um livro.
Uma trajetória triste, mas com final feliz. Em junho do ano passado, escrevi sobre essas baleias belugas, duas fêmeas, que foram capturadas no Mar da Rússia e passaram dez anos de suas vidas em um aquário de Shangai, na China.
Mas em 2012, o Changfeng Ocean World foi comprado pelo grupo de
entretenimento britânico Merlin, que opera a rede de aquários Sea Life,
administrada também por uma fundação de conservação ambiental. Entre as políticas do Merlin, está a proibição em manter em cativeiro golfinhos e baleias.
Por essa razão foi decidido então que Little Grey e Little White seriam levadas para um santuário de belugas, na baía de Klettsvik, em Heimaey, nas Ilhas Westman, na Islândia.
Em parceria com a organização Whale and Dolphin Conservation,
foi planejada uma viagem cuidadosa para fazer o transporte das baleias
até o local: um percurso de mais de 10 horas e 9 mil quilômetros,
envolvendo avião, caminhão e barco.
Felizmente, tudo correu bem e as fêmeas passaram os últimos meses em
tanques internos, em um processo de adaptação ao novo habitat: clima
local, temperatura da água, alimentação.
Little Grey e Little White não serão soltas no oceano aberto. Por
terem vivido tanto tempo em cativeiro, elas nunca sobreviveriam na vida
selvagem. Não conhecem rotas de migração, por exemplo, ou não estão
acostumadas com marés e correntes fortes.
Mas no santuário elas ficarão em uma enseada de 32 mil m2 e
10 mil metros de profundidade, ou seja, com uma qualidade de vida muito
melhor do que a do aquário. Além disso, a intenção do Sea Life é trazer
outras belugas para o local, já que esses animais estão acostumados a
viver em grupo.
Na sexta-feira passada (07/08), as baleias foram transferidas para
dois recintos externos, dentro da baía, na última etapa antes de serem
liberadas no santuário islandês.
“Ver Little White e Little Grey, juntas, aqui na baía, é uma sensação
extraordinária. Sob a luz do sol, na natureza… Elas não ficavam
expostas a ele desde muito jovens, quando foram tiradas do mar”,
celebrou Andy Bool, diretor do Sea Life Trust.
Segundo Bool, ainda há outras 300 belugas mantidas em cativeiro no mundo.
“Nossa esperança é mostrar que elas também podem se beneficiar de viver em um ambiente natural como este”, afirmou.
Chega de cativeiro!
A beluga (Delphinapterus leucas), chamada popularmente de
baleia branca, é encontrada em altas latitudes, em torno do círculo
polar Ártico, distribuindo-se desde a costa da Groenlândia até a região
da Noruega. Elas podem viver entre 35 e 50 anos.
“Acredito que nossa responsabilidade é cuidar da terra e de seus
recursos naturais. Nossa sobrevivência depende disso. Meu objetivo na
vida é fazer da Terra um lugar melhor para as gerações futuras”, afirmou
a modelo e a ativista pelo meio ambiente na época.
Pois não apenas Gisele atingiu seu objetivo, como foi muito além. Em
sua página no Instagram ontem (11/08), ela dançou e agradeceu às mais de
5 mil pessoas que participaram e contribuíram com a iniciativa Viva a Vida, que ela criou. Com as doações feitas na plataforma, até este momento, será possível plantar mais de 254 mil árvores.
“Obrigada. Obrigada. Obrigada. Muito obrigada mesmo. Fico muito feliz
que minha intenção de retribuir um pouco por tudo o que a Mãe Terra me
deu nesses 40 anos, acabou alcançando milhares de pessoas em todo mundo e
vamos conseguir plantar muito mais do que as 40 mil árvores que doei”,
escreveu.
Gisele e o marido, o jogador de futebol americano, Tom Brady, foram
os primeiros a doar, 40 mil dólares cada um, o suficiente para o plantio
de 80 mil sementes.
Elas serão plantadas em áreas degradadas na região das bacias do Rio Xingu e Araguaia, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e a Rede de Sementes do Xingu (ARSX).
A modelo brasileira é uma voz poderosa pelo meio ambiente. Usa sua
influência como celebridade mundial para falar da importância de se preservar a natureza e da necessidade do consumo consciente. Entre seus mais de 25 milhões de seguidores nas redes sociais (16,2 milhões apenas no Instagram), ela defende a conservação da Floresta Amazônica,
uma de suas maiores paixões. A brasileira é Embaixadora da Boa Vontade
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Em 2016, a modelo foi uma das convidadas a participar da segunda temporada da série documentário sobre mudanças climáticas Years of Living Dangerously, da National Geographic. Chorou ao sobrevoar áreas desmatadas na Amazônia. Dentro de um pequeno avião, na região de Alta Floresta, ela viu imensas áreas destruídas e queimadas, onde o gado pastava livremente.
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Frente à pressão internacional que não apenas o governo brasileiro vem sofrendo devido à falta de controle sobre o crescente desmatamento da Floresta Amazônica, mas também companhias estrangeiras com negócios ligados à região, uma das maiores redes de supermercados do mundo, a multinacional britânica Tesco, decidiu vir a público informar que, desde 2018, não compra mais nenhum tipo de carne – frango, porco ou vaca -, produzida no Brasil.
Em mensagem e vídeo divulgados em suas redes sociais no último dia 5 de agosto, a cadeia escreveu a seguinte mensagem:
“Atear fogo para limpar o solo para plantações ou pastagens está
destruindo habitats preciosos como a floresta tropical brasileira. Isso
deve parar. É por esta razão que apoiamos o objetivo do Greenpeace de
evitar mais desmatamento na Amazônia”.
Como mostramos nesta outra reportagem há poucos dias, a organização Greenpeace, no Reino Unido, lançou uma petição
online pelo boicote dos supermercados britânicos à carne da JBS,
associada ao desmatamento na Amazônia. Até este momento, 140 mil pessoas
já assinaram o manifesto.
Terceira maior cadeia de supermercados do mundo em receita bruta, com
6.800 lojas em 11 países, o Tesco afirmou que só compra carne da
Irlanda e do Reino Unido.
“Todos nós vimos as imagens terríveis da Amazônia queimando no ano
passado. É por isso que a Tesco não compra carne do Brasil. É por isso
que atingiremos nossa meta de desmatamento zero em nossa ração de soja
para animais por meio da certificação este ano. E é por isso que nos
comprometemos a fazer mais, estabelecendo metas mais rígidas para 2025″,
garantiu Dave Lewis, CEO do Grupo Tesco.
A rede ressaltou que apesar de não comercializar mais carne
brasileira, tem em sua cadeia de fornecedores produtores de soja no
país, por isso mesmo faz parte de iniciativas como a Coalizão da
Transparência da Soja e a Moratória da Soja na Amazônia, além de ter
contribuído com 10 milhões de libras para um projeto de proteção ao Cerrado.
“Nossas linhas de produtos à base de proteína vegetal aumentaram 46%
desde o ano passado e 10% das refeições prontas, leite, sorvete e
proteínas congeladas são veganas. Estamos fazendo um progresso tangível,
mas não podemos resolver isso por conta própria. O governo precisa agir
também”, enfatizou Lewis.
Desde o ano passado, o Brasil tem sofrido reveses por causa de sua política ambiental. Em junho, uma rede de mercados sueca tirou
de suas prateleiras produtos brasileiros por causa do excesso de
agrotóxicos usados no país. No auge da crise dos incêndios florestais na
Amazônia, em agosto, marcas internacionais suspenderam a compra de couro brasileiro e França, Finlândia, e Irlanda também fizeram ameaças de sanções comerciais ao devido ao aumento do desmatamento.
Este ano, as ameaças de boicotes e sanções comerciais continuam.
Empresários e fundos de investimentos internacionais já alertaram o
governo de Jair Bolsonaro que se o desmatamento continuar, irão retirar
seu dinheiro do país.
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Por Izabel Santos e Bruna Melo, de Manaus (AM) e Rio Branco (AC)*
As maiores taxas de desmatamento da última década na Amazônia foram registradas no ano passado. Mas 2020 pode ser ainda pior. Estudo doInstituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
indica que há uma área desmatada de pelo menos 4.500 quilômetros
quadrados que pode ser queimada este ano. Quatro estados concentram 88%
dessa área: Pará (com 42%) dos 4,5 mil km2, Mato Grosso (23%), Rondônia
(13%) e Amazonas (10%).
“Se tudo virar fumaça, a região pode enfrentar estado de calamidade pública na saúde devido a sobreposição de queimadas com pandemia de COVID-19, o que sobrecarregará ainda mais a rede saúde já em colapso nos atendimentos à população”, alerta o estudo.
“Coibir as queimadas e o desmatamento neste ano, além de uma ação de proteção ambiental, é também uma medida de saúde”, afirma um dos autores do estudo, o pesquisador Paulo Moutinho,
doutor em Ecologia e membro do Ipam. A preocupação reflete os dados do
ano passado, quando os municípios que mais queimaram na Amazônia viram o
ar ficar 53% mais poluído, em média, em relação a 2018.
Moutinho destaca que “uma não ação dos poderes públicos na prevenção do desmatamento e das queimadas poderá
representar perdas de vidas humanas para além das previstas com a
pandemia”. “Precaução é a palavra chave agora”, conclui Moutinho.
“Durante a temporada de fogo, extensas áreas da Amazônia têm qualidade do ar pior que no centro da cidade de São Paulo devido às queimadas. Isso tem forte efeito na saúde, especialmente em crianças e idosos, que são as populações mais vulneráveis”, explicou o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), que colaborou com o trabalho.
“Como a poluição das queimadas viaja por milhares de quilômetros, comunidades isoladas de índios respiram esta atmosfera insalubre, que é muito acima dos padrões de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde”.
O estudo do Ipam, publicado na segunda-feira (8/6), indica que cerca de 45% da área desmatada em 2019 ainda não foi queimada A área geográfica é equivalente a três vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Para a diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar, que também assina a nota técnica do estudo, as autoridades ambientais precisam ser “muito assertivas” no combate ao desmatamento ilegal e às queimadas.
“Se isso não acontecer, temos chances de ter uma pressão muito grande
no sistema de saúde da Amazônia e levá-lo, de fato, ao colapso”, explica
ela.
O pesquisador Paulo Moutinho alerta para a possibilidade de um “desastre” nos sistemas de saúde
se os desmatamentos e as queimadas não forem controlados a tempo. Mas o
problema é que os sinais dados pelo governo federal estimulam, na
ponta, a destruição florestal. Em 22 de abril, em reunião ministerial com o presidente Jair Bolsonaro, o próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que é preciso aproveitar a pandemia para “passar a boiada”.
Pelos cálculos dos cientistas, se o ritmo acelerado de desmatamento continuar nos próximos meses, um total de quase 9 mil quilômetros quadrados poderá virar cinzas,
já que a época mais intensa de derrubada e queima se inicia agora, com a
chegada do período seco na região. “Se pelo menos metade dessas áreas
queimarem, teremos um cenário pior do que o que tivemos ano passado”,
acrescenta o documento.
Queimadas sobem 38% no Acre
Os focos de calor, que são dados capturados por
satélite, já ultrapassam os registrados em 2019, no estado do Acre. Até
segunda-feira (8/6), ocorreram 61 focos de queimadas, ante 44 no mesmo período de 2019 – um aumento de 38%.
Pelos dados oficiais, o Acre registrou 6.802 focos de queimadas no ano
passado. No mesmo ano, o número de queimadas urbanas foi de 6.867,
segundo o Corpo de Bombeiros.
“Não sei o que é mais difícil o controle das queimadas ou da pandemia.
Todos os anos nós passamos por dificuldades, mas a população continua
queimando”, afirma o porta-voz do Corpo de Bombeiros do Acre, major
Cláudio Falcão. Ele explica que só em Rio Branco, capital do estado,
foram registrados 999 incêndios ambientais até domingo (7/6). No mesmo
período do ano passado, o número era de 544, o que representa um aumento
de 84%. Em todo o estado do Acre, já foram contabilizadas 1.086 queimadas urbanas.
“Infelizmente, temos registrado aumento de queimadas urbanas e rurais. E isso faz com que o sistema de saúde se sobrecarregue ainda mais porque começam a aparecer doenças respiratórias.
Vamos ter um problema muito sério”, prevê Falcão. Embora já exista um
plano de contingência em curso, a pandemia fez com que ações presenciais
e preventivas fossem retraídas por conta das restrições do isolamento
social. “É preciso conscientização da população e intensificação dos
órgãos de fiscalização para podermos diminuir essa situação”.
De acordo com o Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente da Universidade Federal do Acre (Ufac), em 2019 foram mais de 175 mil hectares queimados.
Os municípios que mais queimaram foram Sena Madureira, Rio Branco,
Feijó, Tarauacá e Brasiléia. Pelo menos 1.700 hectares foram afetados
pelas queimadas ocorridas na região do Alto Acre. Inclusive parte
importante dos incêndios florestais ocorreram na Resex Chico Mendes e terras indígenas.
A lógica destrutiva das queimadas
Na história da destruição florestal na Amazônia,
após o desmatamento acontece uma queimada. “Ninguém vai gastar dinheiro
para derrubar vários hectares de floresta para depois não usar essa
área, mesmo que seja para especulação. Essa área vai ser queimada”,
explica Ane Alencar, do Ipam. Assim, sempre que a taxa de desmatamento cresce na Amazônia, há uma relação direta com o aumento de focos de calor.
“Foi o que vimos acontecer em 2019 e, infelizmente, se nada for feito, é
o que deveremos ver em 2020, já que a derrubada continua num ritmo
elevado”, acrescenta a pesquisadora.
Os 4.500 quilômetros quadrados apontados pelo Ipam equivalem a três vezes a área da cidade de São Paulo. De acordo com a Nota Técnica, a situação no Pará é a mais grave, pois concentra 42% do total desmatado no período analisado. Em seguida, vem o Mato Grosso, com 23%; Rondônia, com 13%; e Amazonas, com 10%.
As queimadas aumentam a quantidade de fumaça no ar,
transportando material particulado fino, os chamados aerossóis. Nas
áreas mais atingidas pelas nuvens poluidoras, há uma explosão de
pacientes que procuram o atendimento médico com agravamento de doenças
respiratórias. No entanto, desde março, os sistema de saúde estão
sobrecarregados com os casos de COVID-19, e três estados da Amazônia
estão entre os que registram o maior número de casos da doença no Brasil.
Segundo o estudo, até o final de maio de 2020, o Brasil contabilizava
29.314 óbitos, sendo que 20% destes ocorreram na região Norte, que
também registra a maior taxa de incidência (584,6) e de mortalidade
(30,9) por 100 mil habitantes e, na época, contava com 107.752 casos
confirmados, ou 20% do total nacional.
“No Amazonas, no Pará e em Mato Grosso, mais de 20% das pessoas moram
em áreas que exigem um deslocamento de até quatro horas para chegar ao
município mais próximo com condições de atendimento em casos graves de
COVID-19. As pequenas e médias cidades, se atingidas simultaneamente por
fumaça das queimadas e infecções pelo novo coronavírus, tendem a não
conseguir absorver a necessidade da população”, diz a nota técnica.
Áreas mais críticas: terras indígenas
“É fundamental que o poder público, como os governos federal e
estaduais, ajam de forma integrada. Nosso estudo, inclusive, indica onde
estão essas áreas que foram derrubadas e não queimadas”, diz Moutinho.
Para o Ipam, o monitoramento deve ser prioritário nos Estados do Acre, Pará e Amazonas, que possuem grandes áreas críticas.
No Pará, há “um arco de fogo que liga a região de Altamira e São Félix do Xingu, com destaque para as terras indígenas Itauna-Itatá, Apiterewa e Trincheira-Bacajá, e mais a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu”. O estudo aponta como áreas mais críticas as que ficam na região ao longo da rodovia Transamazônica (BR-230) de Altamira a Rurópolis, com destaque para a Terra Indígena Cachoeira Seca, também faz parte das áreas críticas apontadas pelo Ipam, assim como Novo Progresso e Castelo dos Sonhos, com destaque para Floresta Nacional Jamanxim, e o Baixo Amazonas.
No Acre, os municípios ao redor de Rio Branco e ao longo das rodovias BR-364, com destaque para Bujari e Sena Madureira, e BR-317, nas cidades de Senador Guiomar, Capixaba e Xapuri, são os mais ameaçados pelas queimadas e incêndios florestais.
E no Amazonas, o Ipam aponta como mais preocupantes os municípios
localizados no sul do Estado, onde há forte pressão da agropecuária e
retirada de madeira: Apuí e Nova Aripuanã, ao longo da Transamazônica, e
Boca do Acre, na divisa com o Acre.
Caracaraí e Rorainópolis, no estado de Roraima, Colniza, Cotriguaçu,
Aripuanã, Apiacás, Marcelândia, União do Sul e regiões a oeste do Parque
Indígena do Xingu, no Mato Grosso, e a capital Porto Velho, em
Rondônia, também estão ameaçadas pelas queimadas.
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