quinta-feira, 26 de agosto de 2021

 




Como o plantio de 8 bilhões de árvores todos os anos durante 20 anos afetaria o clima da Terra?

O plantio de 8 bilhões de árvores por ano substituiria cerca de metade dos 15 bilhões cortados anualmente. Michael Tewelde / AFP via Getty Images.
O plantio de 8 bilhões de árvores por ano substituiria cerca de metade dos 15 bilhões cortados anualmente. Fonte: Michael Tewelde / AFP via Getty Images.

Políticos, líderes empresariais, YouTubers e celebridades estão pedindo o plantio de milhões, bilhões ou até trilhões de árvores para desacelerar as mudanças climáticas.

Existem atualmente quase 8 bilhões de pessoas na Terra. Se cada pessoa plantasse uma árvore a cada ano durante os próximos 20 anos, isso significaria cerca de 160 bilhões de novas árvores.

Será que o plantio de árvores em massa pode realmente desacelerar a mudança climática?

Árvores e carbono

O dióxido de carbono é o principal gás que causa o aquecimento global. Por meio da fotossíntese, as árvores e outras plantas transformam o dióxido de carbono da atmosfera em carboidratos, que usam para fazer caules, folhas e raízes.

A quantidade de carbono que uma árvore pode armazenar varia muito. Depende da espécie de árvore, onde está crescendo e quantos anos tem.

Digamos que uma árvore média consuma cerca de 22 kg de dióxido de carbono por ano. Se uma pessoa plantasse uma árvore todos os anos durante 20 anos – e cada uma sobrevivesse, o que é altamente improvável – essas 20 árvores consumiriam cerca de 453 kg, ou quase meia tonelada, de dióxido de carbono por ano.

A pessoa comum nos Estados Unidos produz 15,5 toneladas de dióxido de carbono por ano, em comparação com 1,9 toneladas na Índia. Isso significa que se cada pessoa nos EUA plantasse uma árvore por ano, isso compensaria apenas cerca de 3% do dióxido de carbono que elas produzem a cada ano, depois que todas as 20 árvores tivessem amadurecido. Mas, compensaria 26% para alguém na Índia.

Plantar árvores certamente é parte da solução para as mudanças climáticas, mas existem outras mais importantes.

Limpando a floresta amazônica para fazendas de gado no Brasil em 2017. Brazil Photos / LightRocket via Getty Images.
Limpando a floresta amazônica para fazendas de gado no Brasil em 2017. Fonte: Brazil Photos / LightRocket via Getty Images.

Protegendo as árvores que temos

Existem cerca de 3 trilhões de árvores na Terra, o que é apenas a metade de 12.000 anos atrás, no início da civilização humana.

As pessoas cortam cerca de 15 bilhões de árvores a cada ano. Muitas dessas árvores estão em florestas tropicais, mas o desmatamento está acontecendo em todo o planeta.

Proteger as florestas existentes faz sentido. Elas não apenas absorvem dióxido de carbono nas árvores e no solo, mas também fornecem habitat para os animais. As árvores podem fornecer lenha e frutas para as pessoas. Nas cidades, elas podem oferecer sombra e espaços recreativos.

Mas as árvores não devem ser plantadas onde não cresciam antes, como em pastagens nativas ou savanas. Esses ecossistemas fornecem habitat importante para seus próprios animais e plantas – e já armazenam carbono se não forem perturbados.

Fazendo mais

Para desacelerar a mudança climática, as pessoas precisam fazer muito mais do que plantar árvores. Os humanos precisam reduzir seu dióxido de carbono e outras emissões de gases de efeito estufa rapidamente, fazendo a transição para fontes de energia renováveis, como solar e eólica. As pessoas também devem reduzir a quantidade de veículos que dirigem e voam – e comer menos carne, pois a carne tem uma pegada de carbono muito maior por caloria do que grãos e vegetais.

É importante que todos – empresas, políticos, governos, adultos e até crianças – façam o que puderem para reduzir as emissões de combustíveis fósseis. Eu sei que pode parecer muito difícil pensar sobre o que você, como uma pessoa, pode fazer para ajudar o planeta. Felizmente, existem muitas opções.

Seja voluntário em uma organização de conservação local, onde você pode ajudar a proteger e restaurar os habitats locais. Discuta com sua família novas escolhas de estilo de vida, como andar de bicicleta, caminhar ou usar o transporte público em vez de dirigir.

E não tenha medo de liderar um esforço para proteger as árvores, local ou globalmente. Duas escoteiras de 11 anos, preocupadas com a destruição das florestas tropicais para as plantações de óleo de palma, lideraram um esforço para eliminar o óleo de palma dos biscoitos das escoteiras.

Às vezes, a mudança é lenta, mas, juntas, as pessoas podem fazer isso acontecer.

Fonte: The Conversation / Karen D. Holl
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite


Para ler a reportagem original em inglês acesse:

 https://theconversation.com/how-would-planting-8-billion-trees-every-year-for-20-years-affect-earths-climate-165284

A melhor mãe do mundo animal

 Curiosidade Animal  


A melhor mãe do mundo animal

Ser mãe é uma conquista para qualquer espécie. O nascimento de um filho significa a continuação da linhagem genética da família e as fêmeas fazem de tudo para garantir a sobrevivência da prole: arranjam comida, lutam contra predadores, cuidam de filhotes de outras mães e, em casos extremos, dão a própria vida para assegurar o futuro da próxima geração. Então, quem seria a melhor mãe do mundo animal?

As emas só querem saber da parte menos trabalhosa. Várias fêmeas se reproduzem com o mesmo macho, colocam os ovos em um ninho e deixam a ninhada de até 40 filhotes aos cuidados de um pai solteiro. Elas saem para nunca mais voltar.

Já as fêmeas do jacaré-do-pantanal (foto acima) são superprotetoras (na foto acima, a fêmea do jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) cuida de dezenas de filhotes . Colocam seus ovos em uma toca e ficam de guarda, dia após dia, pelos próximos três meses. No início da estação seca os filhotes começam uma tarefa árdua: quebrar a casca do ovo. É um trabalho extremamente difícil, e quando os pequenos conseguem sair já estão exaustos. Expostos e sozinhos, eles parecem presas fáceis para qualquer predador. Mas a mãe está sempre por perto. Ela se dirige para a toca e coloca na boca o primeiro filhote. Depois o carrega até a poça mais próxima. E repete esse ritual até que todos os jacarezinhos estejam em segurança na água.

No entanto, a jornada está apenas no começo: a estação da seca avança no Pantanal e a poça em que os jacarés se encontram pode minguar por completo. Filhotes de ninhadas diferentes são reunidos e ficam sob o cuidado de uma única fêmea. Essa mãe sabe o que fazer: é hora de procurar um lago maior.

Durante a caminhada os bebês chamam o tempo todo. Ela então para até estar certa de que todos conseguiram se reagrupar e só depois segue em direção à água. Sem a dedicação dessa fêmea, a maioria dos filhotes não iria sobreviver. O mais impressionante é que a maioria deles pertence a outras mães.

Polvo-gigante-do-pacífico (Enteroctopus dofleini): a mãe cuida dos filhotes até o último suspiro – Foto:canopic/Creative Commons

Nem todas as fêmeas podem oferecer essa dedicação integral à prole. Para o polvo-gigante-do-pacífico, o dia do nascimento de seus filhotes é também o dia de sua morte. A mãe-polvo coloca 100 mil ovos em uma toca e os defende a qualquer custo. Ela os acaricia com seus tentáculos e, dessa forma, assegura que algas não cresçam neles e que a água circule, garantindo oxigênio suficiente para o desenvolvimento dos embriões.

Durante seis meses ela não sairá de dentro da toca, nem para se alimentar. Quando os ovos começam a eclodir a mãe está prestes a morrer. E, em seu último suspiro, lança água nos recém nascidos pela última vez, mostrando o caminho que eles devem seguir. Essa é a única vez em que ela se reproduz, mas a sua morte garante a continuidade da espécie.

A aranha Stegodyphus lineatus é devorada viva pelos filhotes
Foto: Joaquin Portela/ Creative Commons

No entanto, nenhuma mãe passa por condições tão extremas quanto a aranha Stegodyphus lineatus. Duas semanas após o acasalamento a fêmea produz um saco carregado de ovos (de 10 a 100 dependendo do peso da aranha). Depois de 30 dias de desenvolvimento, ela abre o saco e libera a prole. Nas primeiras duas semanas os filhotes recebem um fluido, regurgitado pela mãe, como alimento.

Então, algo extraordinário acontece: a aranha sacrifica a própria vida para dar a melhor chance para seus filhotes. Ela permite que as pequenas aranhas injetem enzimas digestivas em seu corpo. A carne começa a ser dissolvida e a mãe começa a ser devorada enquanto está viva. Ao final, os filhotes deixam apenas a casca, mas estão melhor preparados para enfrentar as condições adversas da vida.

Seja cuidando da prole, fornecendo alimento, ou enfrentando condições extremas, todas as mães são importantes para seus filhos. Afinal, não estaríamos aqui se não fosse por elas.

A todas as mulheres que fazem de tudo por seus filhos, em especial à minha querida Heico, desejo um feliz dia das mães!

Foto (destaque): Fábio Paschoal

https://conexaoplaneta.com.br/blog/a-melhor-mae-do-mundo-animal/#fechar

Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor tamanduá do mundo, o tamanduaí

 








Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor tamanduá do mundo, o tamanduaí

Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor e mais raro tamanduá do mundo, o tamanduaí

Ele é simplesmente adorável! O menor tamanduá de todas as espécies do mundo, o tamanduaí (Cyclopes didactylus), mede cerca de 30 cm, sendo metade disso só de cauda, e pesa não mais que 400 gramas. Como escrevi sobre ele em 2017, nesta outra reportagem, ele tem a pelagem muito densa e curta, com coloração amarelo-dourada.

Descrito pela primeira vez em 1758, esse pequeno ser habita florestas tropicais da América Central e do Sul. No Brasil, acreditava-se que a espécie só ocorresse na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica, mas em 2009, foi encontrada uma subpopulação isolada, no Delta do Parnaíba, entre os Estados do Piauí e Maranhão.

Únicos cientistas no mundo a estudar e monitorar o tamanduaí, os pesquisadores do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil conseguiram recentemente fazer a coleta de sêmen de um macho adulto, o que é um passo importante para entender melhor a morfologia desse animal e também, talvez no futuro, iniciar um trabalho de reprodução da espécie e assim, garantir sua conservação.

“Agora essa amostra foi trazida para o laboratório da Universidade de Santa Cruz, em Ilhéus, na Bahia, e estamos medindo este sêmen, analisando parâmetros, e esse é o primeiro passo para fazermos um trabalho de pesquisa reprodutiva monitorada”, comemora Flávia Miranda, coordenadora do instituto. “Manter uma população mínima saudável e geneticamente viável de tamanduaí em cativeiro permite ampliar o nível de conhecimento sobre a espécie e dar suporte aos indivíduos de vida livre. Esta é uma das ferramentas para evitar a extinção e realizar a reintrodução no habitat natural, caso seja necessário”.

Ela explica que o procedimento de captura desses indivíduos é realizado através do sistema chamado de “busca ativa”. Quando dos pesquisadores encontram o animal na floresta, sobem na árvore, o colocam num saquinho de pano e a anestesia é feita ali mesmo, no chão. “É um protocolo super-seguro. Coletamos todas as amostras biológicas – sangue, pelo, biometria -, depois colocamos um microchip nesse animal para ele ter uma identidade e um número, e quando acabamos aplicamos um medicamento que reverte a anestesia e em cinco minutos ele já está ótimo e volta para o mesmo lugar onde capturamos”.

Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor tamanduá do mundo, o tamanduaí

Processo de captura de um tamanduaí

Desde 2005, o projeto de estudo para a conservação da espécie tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Graças à parceria, o projeto conta atualmente com uma base avançada de pesquisa e um laboratório de campo completo, com gerador, microscópios, centrífugas e balão de nitrogênio. Com isso, todas as análises passam a ser feitas in loco, em tempo real e com armazenamento adequado, sem a necessidade de deslocamento do material.

Acredita-se que os tamanduaís nordestinos possam ter sido separados das populações amazônicas na Era do Pleistoceno, quando as Florestas Atlântica e Amazônica retraíram, sendo substituídas pela Caatinga. Por esta razão, a espécie do Delta do Parnaíba pode ter traços genéticos e evolutivos diferentes da qual foi originada.

O tamanduaí descansa durante o dia e realiza suas atividades de noite. Vive nas árvores e raramente desce ao chão. Alimenta-se basicamente de formigas e em menor número, de besouros. Com exceção do período de reprodução da espécie, está sempre sozinho. A gestação da fêmea dura aproximadamente dois meses e meio, normalmente com o nascimento de apenas um filhote.

Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor e mais raro tamanduá do mundo, o tamanduaí

Flávia Miranda, à direita, fazendo coleta de amostras de um tamanduaí

Ainda não se tem ideia da população de tamanduaís no litoral nordestino. Em 2019, um grupo de brasileiros, liderado por Flávia Miranda, anunciou a descoberta de seis novas espécies no Brasil, duas delas endêmicas daqui, ou seja, só existem em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo.

No artigo na publicação científica Zoological Journal of The Linnear Society os cientistas descreveram as novas espécies, pertencentes ao gênero Cyclopes: C. ida; C. dorsalis; C. catellus; C. thomasi; C. rufus e C. xinguensis. Foram necessários diversos estudos taxonômicos, que analisaram características físicas como coloração e tamanho em mais de 280 espécimes.

Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor tamanduá do mundo, o tamanduaí

Expectativa é que num futuro breve possa se ter uma população segura da espécie em cativeiro

Fotos: divulgação Projeto Tamanduá/Karina Molina/Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

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