terça-feira, 28 de agosto de 2018

Agrotóxicos: Governo e ruralistas pressionam pela derrubada da decisão judicial que suspendeu o registro do glifosato



Agrotóxicos: Governo e ruralistas pressionam pela derrubada da decisão judicial que suspendeu o registro do glifosato



Agrotóxico, cuja associação com câncer e outras doenças já foi comprovada, teve seu registro suspenso pela Justiça brasileira. Mas governo, fabricantes e ruralistas pressionam a Advocacia-Geral da União pela derrubada da decisão

Portal EPSJV/Fiocruz – EPSJV/Fiocruz



glifosato
Classificado como carcinogênico para seres humanos, o glifosato é o agrotóxico mais usado
 em todo o mundo, por mais de 40 anos e em mais de 160 países, inclusive no Brasil. 
Foto: Rede Brasil Atual

No dia 3 de agosto, a juíza federal substituta Luciana Raquel Tolentino de Moura, da 7ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, determinou em caráter liminar que o governo federal não conceda novos registros de produtos que contenham como ingredientes ativos a abamectina, o glifosato e o tiram. E que suspenda, no prazo de 30 dias, o registro de todos os produtos que utilizam tais substâncias até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conclua os procedimentos de reavaliação toxicológica dos agrotóxicos.


Governo e ruralistas estão fazendo pressão dizendo que, sem o glifosato, a próxima safra de milho e soja, que começa em setembro, está em risco. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comumente chamado de “o rei da soja”, chegou a afirmar que os agricultores poderão descumprir a ordem judicial que suspende o uso do herbicida glifosato e revelou que a Advocacia-Geral da União (AGU) vai recorrer da liminar concedida pela Justiça Federal do Distrito Federal. “É muito importante dizer: não há saída sem o glifosato. Ou a gente não planta ou faz uma desobediência da legislação ou da ordem judicial. O glifosato é que dá toda a viabilidade de fazer o plantio direto e seguir com as culturas”, afirmou Maggi durante o Congresso Mundial de Ciência do Solo, promovido entre os dias 12 e 17 de agosto, no Rio de Janeiro, conforme indicou a reportagem do jornal ‘Valor Econômico’ (16/8).


Ainda segundo reportagem da Rede Brasil Atual (17/8), sobre o mesmo tema, o sindicato dos fabricantes e indústrias como a Monsanto e a Syngenta, que produzem este e outros agrotóxicos, já avisaram que não conseguem oferecer herbicidas substitutos em quantidade suficiente para o plantio dessas lavouras. “Trata-se de uma chantagem do governo e dos fabricantes, que insistem em afirmar que a suspensão do glifosato impactará a produção”, afirma o professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), André Burigo. Ele explica que a principal destinação do milho e da soja, que são as commodities agrícolas de grãos mais importantes para o agronegócio, é a alimentação animal, e não a alimentação humana, além da exportação.


“O impacto sobre as lavouras pode ser até real, pois elas são dependentes de agrotóxicos. É um modelo de desenvolvimento que concentra o dinheiro nas mãos de fazendeiros e socializa para toda a sociedade os impactos negativos dos agrotóxicos”, sentencia. Para Burigo, o discurso funciona também como uma pressão sobre a Anvisa, para que ela conclua com a maior celeridade possível a reavaliação do glifosato e apresente um desfecho favorável à manutenção do uso desse agrotóxico no Brasil. “Precisamos nos manter alertas em relação à posição da Anvisa, que é um órgão vinculado ao Ministério da Saúde e faz parte, portanto, do SUS. A Agência deve estar orientada pelos artigos constitucionais que tratam da saúde como direito de todos e dever do Estado e pela Lei Orgânica da Saúde, a Lei 8.080/90. Isso significa que a Anvisa deve manifestar-se quanto ao glifosato, com base nos princípios de proteção da saúde e na saúde enquanto direito constitucional, e não subjugada a interesses outros”, acrescenta.

Mais usado nas lavouras

O glifosato, ingrediente ativo do agrotóxico Roundup, produzido principalmente pela Monsanto, é o agrotóxico mais usado em todo o mundo, por mais de 40 anos e em mais de 160 países, inclusive no Brasil. Segundo Burigo, é o herbicida mais usado nas lavouras brasileiras, em torno de 40%, especialmente nos cultivos de transgênicos, como soja e milho. A substância já foi proibida no Sri Lanka, El Salvador e Bermudas e deve ser banida no âmbito da União Europeia (UE), a depender da França, Itália, Grécia e Áustria – o governo francês, por exemplo, quer proibir o produto no seu território até 2022. Esses países estão levando em consideração a decisão da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), que em 2015 enquadrou o glifosato na categoria 2A. Isso significa que é “provavelmente cancerígena para humanos e comprovadamente cancerígeno para animais”.

Em entrevista publicada no Portal EPSJV (17/8), a toxicologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Márcia Sarpa, já havia alertado sobre os riscos deste agrotóxico e de vários outros sobre a saúde da população.

A exemplo da Iarc que em 2015 comprovou a relação entre o glifosato e o linfoma não-Hodgkin em populações expostas ocupacional e ambientalmente à substância, classificando-a como provavelmente carcinogênico para seres humanos, pesquisa do Inca traz evidências entre esse tipo de câncer e os agrotóxicos em geral. “É um estudo de caso e controle que realizamos no hospital, por meio do qual identificamos que pacientes com linfoma não-Hodgkin foram expostos a agrotóxicos durante a vida laboral”, esclareceu Marcia.

Ela fez ainda comentários sobre uma decisão recente inédita da justiça norte-americana, que condenou a Monsanto a indenizar o jardineiro Dewayne Johnson em US$ 289 milhões pelo aparecimento de um câncer, que por sua vez estaria relacionado ao uso do herbicida Roundup, cujo princípio ativo é o controverso glifosato. “Foi uma decisão muito importante, que poderá abrir precedente aqui no Brasil”, afirmou, revelando que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Inca estão desenvolvendo um estudo com agentes de endemias, por meio do qual identificaram a relação entre a exposição ao malathion (inseticida bastante usado no Brasil para o controle de formigas, moscas, baratas e malária) e o câncer. “A gente poderá, também, em breve comprovar essa associação, para que esses trabalhadores possam cobrar na justiça os danos causados pela exposição ao malathion durante a vida laboral”, disse.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2018

"Agrotóxicos: Governo e ruralistas pressionam pela derrubada da decisão judicial que suspendeu o registro do glifosato," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/08/27/agrotoxicos-governo-e-ruralistas-pressionam-pela-derrubada-da-decisao-judicial-que-suspendeu-o-registro-do-glifosato/.

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Poluição do ar e poeira fina são responsáveis por mais de quatro milhões de mortes a cada ano

Poluição do ar e poeira fina são responsáveis por mais de quatro milhões de mortes a cada ano

Poluição do ar leva a doenças cardiovasculares

Universität Mainz*
poluição do ar
Poeira fina da indústria, tráfego rodoviário e aéreo e agricultura polui o ar e leva a doenças 
cardiovasculares. Foto / ©: Peter Pulkowski, Centro Médico da Universidade de Mainz
Quase 60 por cento das mortes ocorrem como resultado de doenças cardiovasculares. Cientistas ao redor do professor Thomas Münzel, diretor de cardiologia I do Departamento de Cardiologia do Centro Médico de Johannes Gutenberg University Mainz (JGU), revisaram os mecanismos responsáveis pelos danos vasculares causados pela poluição do ar junto com cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos. Suas descobertas foram publicadas na última edição do European Heart Journal, o periódico de cardiologia mais reconhecido do mundo.

A grande porcentagem de mortes por doenças cardiovasculares levou um grupo internacional de especialistas da Alemanha, Inglaterra e EUA a analisar os efeitos negativos da poluição do ar na função vascular em um artigo de revisão. Questões-chave de pesquisa concentraram-se em componentes da poluição do ar (material particulado, ozônio, dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e dióxido de enxofre) que são particularmente prejudiciais ao sistema cardiovascular e aos mecanismos que danificam os vasos.

“Este relatório na última edição do European Heart Journal é outra importante contribuição do nosso Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente e Doenças Cardiovasculares. Em resumo, pode-se dizer que, em relação ao efeito danoso vascular da poluição do ar, o material particulado desempenha um papel proeminente “, comentou o professor Thomas Münzel.

” Estamos especialmente preocupados com a poeira ultrafina. Essas partículas têm o tamanho de um vírus. Quando a matéria ultrafina é inalada, ela entra imediatamente na corrente sanguínea através dos pulmões, é absorvida pelos vasos e causa inflamação local. Em última análise, isso causa mais aterosclerose (calcificação vascular) e, portanto, leva a mais doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e arritmias cardíacas. De particular interesse é o fato de que, com relação às emissões de diesel”

Outros participantes do grupo de especialistas incluem o mundialmente renomado pesquisador de partículas Professor Sanjay Rajagopalan do Centro Médico UH Cleveland, o pesquisador vascular e cardiologista Professor John Deanfield do Instituto de Ciências Cardiovasculares da University College London, Professor Andreas Daiber, Chefe de Molecular Cardiologia no Centro Médico da Universidade de Mainz e Professor Jos Lelieveld do Instituto Max Planck de Química (MPIC) em Mainz.

“As partículas finas de poeira são quimicamente formadas principalmente na atmosfera pelas emissões do tráfego, indústria e agricultura. Para alcançar concentrações baixas e inofensivas, as emissões de todas essas fontes precisam ser reduzidas”, comentou o professor Jos Lelieveld.
“No futuro, trabalharemos intensivamente com o Instituto Max Planck de Química para investigar as causas das doenças cardiovasculares causadas pela poluição do ar, especialmente em combinação com o ruído (de vôo)”, acrescentou o professor Thomas Münzel.
Referência:

T. Münzel et al., Effects of gaseous and solid constituents of air pollution on endothelial function, European Heart Journal, 14 August 2018,

DOI:10.1093/eurheartj/ehy481 https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehy481

* Tradução e edição de Henrrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2018
"Poluição do ar e poeira fina são responsáveis por mais de quatro milhões de mortes a cada ano," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/08/27/poluicao-do-ar-e-poeira-fina-sao-responsaveis-por-mais-de-quatro-milhoes-de-mortes-a-cada-ano/.

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Razão animal, também?

Razão animal, também?

Defendemos os animais por conta da senciência e silenciamos sobre a racionalidade deles. Ao defendermos sua senciência defendemos sua racionalidade específica.


04/03/2018 às 18:30 

Por Dr. phil. Sônia T. Felipe 
 
Defendemos os animais por conta da senciência e silenciamos sobre a racionalidade deles. Ao defendermos sua senciência defendemos sua racionalidade específica.

Sim. A racionalidade nos não humanos ainda é tema quase tabu nas discussões filosóficas ético-animalistas internacionais.

Mas os filósofos dos quatro primeiros séculos da nossa era (Sêneca, Ovídio, Porfírio, Plutarco), seguindo o que ensinara Aristóteles, que viveu, por sua vez, quatro séculos antes deles, reconheceram a existência da senciência nos outros animais e também da racionalidade neles.

Mas o termo razão, na modernidade, foi sequestrado para preservar a designação de habilidades neurolinguísticas calculadoras, atribuídas exclusivamente à espécie ‘Homo sapiens sapiens’. O que os filósofos modernos, especialmente Descartes, não nos contaram, ou nem se deram ao trabalho de investigar, é que a base da racionalidade humana são as emoções, razão pela qual o neurocientista e filósofo Antonio Damasio escreveu seu primeiro livro intitulando-o, justamente, Descartes’ Error (traduzido no Brasil, O erro de Descartes).

Desde então, ele já escreveu outros, todos brilhantes, sempre mostrando para nós o mistério da consciência: The Feeling of What Happens; Looking for Spinoza; Self Comes to Mind; e, neste mês, The Strange Order of Things, que ainda estou a ler, já quase finalizando o trabalho.

Pessoalmente, defendo que cada espécie animal tem seu tipo de racionalidade, incomensurável, quer dizer, não devemos comparar nem hierarquizar racionalidades, pois elas existem somente para servir ao propósito de um tipo ou espécie de vida, e, para este tipo ou espécie de vida, a única racionalidade que lhe faz falta, se faltar, é a própria, jamais a das outras espécies, razão pela qual forçar animais a fazerem cálculos numéricos, executar operações linguísticas ou aritméticas, é experimentação que não serve a qualquer propósito da vida daquele animal.

Se queremos estudar a consciência, a inteligência, a linguagem e a racionalidade de animais de outras espécies (assim o fez o etólogo alemão Heinz Meynhardt, estudando javalis, em meados dos anos 1970, por mais de dois anos, no ambiente deles, relatado no livro, Mein Leben unter Wildschweinen, em português, ainda sem tradução, seria, Minha vida com javalis), é preciso fazer isso nos moldes daquele tipo de mente, não forçando aquelas mentes a se submeterem a padrões que são típicos da mente da nossa espécie.

Somos racionais, também, nós humanos. Contudo, a base sobre a qual assentamos nossa racionalidade, que é a consciência, são as emoções. São elas que nos dão a medida certa para avaliar e calcular se o que fazemos aos outros será bom ou ruim a eles, e se o que nos fazem é bom ou ruim a nós. Também são as emoções que nos informam se está baixo ou alto o nível do bom ou do ruim do que fazemos a nós mesmos. Pensamos que quando pensamos somos só razão calculadora, instrumental. Engana-se toda gente, com Descartes. Descartes tem atenuantes para seu engano, pesquisou e escreveu há quase 400 anos, quando não havia neurociência nem quem o pudesse ajudar a decifrar o mistério da consciência e da linguagem.

Só pensamos, quer dizer, raciocinamos, algo que já foi filtrado por uma tela ou tecido de emoções, já foi medido e julgado como “útil pensar” ou “inútil pensar”. Tal decisão requer o sentido de “valência” (Antonio Damasio fala de ‘valence’, em inglês, na ausência de melhor tradução, ouso usar ‘valência’ como equivalente daquele), quer dizer, de algo que vale a pena ou não vale a pena. Tal tipo de validação só pode ocorrer sob o comando direto de uma emoção positiva ou negativa, ou orientada por memórias ‘valenciadas’ de experiências passadas. O que não passa nesta tela emocional nos recusamos a pensar.

Por isso mesmo é tão difícil mudar a estrutura mental do pensamento, pois ele está fincado em crenças com memórias emocionais intensas, o fogo sem o qual nada estaria gravado neste arquivo, formando a subjetividade, a singularidade e a irrepetibilidade de cada mente animal.

É preciso pensar muito sobre a emocionalidade da racionalidade humana e sobre a racionalidade da emocionalidade dos animais outros. E por serem emocionais os animais, todos, sencientes, aumenta nossa responsabilidade pelos atos que possam marcar a biografia deles de modo negativo, doloroso, sofrente ou mesmo acabar com sua vida, pois marcas contínuas, estressantes, atrofiam a capacidade mental dos seres sencientes, não apenas dos humanos submetidos à escravização, à discriminação, ao assédio econômico, estético, político, religioso. No tormento, nenhuma racionalidade se aguenta, nenhuma inteligência e sensibilidade floresce. Animastê!

[Sônia T. Felipe é autora dos livros: Por uma questão de princípios: alcance e limites da ética de Peter Singer na defesa dos animais (esgotado); Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas; Galactolatria: mau deleite – implicações éticas, ambientais e nutricionais do consumo de leite bovino; Acertos abolicionistas: a vez dos animais]

Ausência de dor nas plantas, muita dor nos animais

Ausência de dor nas plantas, muita dor nos animais

As plantas não sentem dor, porque, devido ao fato de serem organismos vivos sésseis e não poderem fugir dos estímulos dolorosos, buscando uma área menos agressiva, hostil ou miserável, as...


02/03/2018 às 18:30 

Por Dr. phil. Sônia T. Felipe
Árvore do Central Park, despida das folhas, em temperatura zero ou menor que zero. Gentileza do fotógrafo: João Pedro Bastos, Florianópolis

As plantas não sentem dor, porque, devido ao fato de serem organismos vivos sésseis e não poderem fugir dos estímulos dolorosos, buscando uma área menos agressiva, hostil ou miserável, as plantas liberam o tempo todo endorfinas (calmantes naturais) ou analgésicos. Então, elas não ‘sofrem’, pelo menos não no sentido psicológico e emocional animal.

Ora, os humanos e os outros animais, tadinhos de nós e deles, não liberam analgésicos em grau suficiente para se proteger da experiência da dor. Dotados da liberdade física não concedida às plantas, os animais fogem do ambiente ou do estímulo no qual sentem dor ou ameaças, a menos que estejam confinados ou impedidos de algum modo de fugir. Nenhuma planta evoluiu para poder fugir. Elas evoluíram para liberar endorfinas que as protegem da dor.
Bovino lesado na coluna, transporte marítimo transcontinental da Austrália para o Vietnã. Foto: Dr Lynn Simpson, médica veterinária demitida do Ministério Australiano por fazer o relatório das condições abomináveis do transporte de animais vivos por navios.

Então, plantas não sentem dor, contudo, “sentem vibrações” indicando desequilíbrios nas reservas de nutrientes, água, minerais, proteínas e açúcares em seus organismos (homeostasia). Para não paralisarem sua atividade de reposição do que está em falta, elas liberam endorfinas. Assim, elas seguem ativas e serenas, sem nervosismos, medos, ansiedades, frustrações e pesares, afecções emocionais que no caso delas não faria o menor sentido sentir, e que seria a ruína dos animais se não as sentissem.

Quanto aos animais, tendo nascido, pagam o preço do corte da proteção oferecida pelo ovo ou pelo útero, o corte do provimento também. A dor já nasce com eles, é constitutiva de sua natureza sensível senciente. É por conta dela, sempre uma experiência desagradável, pelo menos para a maioria dos seres sencientes, que o animal aprende a se afastar do que o ameaça, e a buscar o que o favorece a permanecer vivo. Não quer dizer que não se engane muitas vezes. Mas o animal é livre para se desenganar, a menos que o engano lhe tenha custado a vida, como no caso de comer algo em que um humano escondeu venenos. Vale para os humanos também, que comem o tempo todo alimentos cultivados com venenos.
Cascos mantidos em piso coberto de fezes e urina. Bois transportados por caminhões e navios do Brasil para outros continentes.

Por fim, alguém conclui que se não sente dor, então a planta pode ser dizimada, pois “não tem interesse em viver”. Esta última parte da frase, conclusiva, é tão obtusa que me faz sentir vergonha alheia.

Se assim fosse, praticamente todas as horas do dia em que não estamos sentindo dor alguma seriam o certificado de que não temos interesse em viver. Qualquer um poderia nos matar o tempo todo, menos quando estivéssemos no hospital recebendo analgesia ou anestesia. O interesse em viver não depende da presença da dor. Ele é intensificado exatamente pelo contrário: sua ausência. Todos os organismos sencientes buscam o equilíbrio homeostático na frequência da ausência de dor.


E, o termo interesse (conforme já expliquei em Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas) pode ter dois sentidos: alguma coisa é do interesse de alguém, ainda que o sujeito não tenha ciência disso (estar limpo, nutrido e seguro, no caso de um bebê, por exemplo, e de uma planta também), e alguém pode ter interesse em algo (no caso de tudo o que o sujeito acolhe quando tem consciência de seu valor). As plantas podem não “ter interesses” no segundo sentido, como sujeitos conscientes do valor do que preservam, por exemplo, o valor da própria vida, mas, com certeza o têm no primeiro, quer dizer, é do interesse delas estarem vivas. E é tanto o interesse delas em estarem vivas que liberam endorfinas para seguirem ativas na preservação da própria vida. Isso nos diz tudo, do ponto de vista ético.
Boi caído sobre fezes e urina, no caminhão a caminho do navio Nada no Porto de Santos. Foto tirada pelos ativistas em 27 janeiro de 2018.

E, porque não devemos matar as plantas, mesmo que elas não sintam dor, protegidas que estão por liberarem endorfinas, é melhor parar de produzir animais para extração de carnes, leite e ovos, porque esta dieta ‘omnis vorax’ mortal implica na matança de zilhões de plantas, aliás, de florestas inteiras e ecossistemas completos, para produção de bifes, queijos e omeletes. O Cerrado foi destruído para criação de gado. Agora, está a caminho da destruição a Amazônia. A dieta onívora mortal implica na inflição de dor, tormento, sofrimento e morte a bilhões de animais ano após ano, todos sencientes como os humanos. Animastê!

[Sônia T. Felipe é Doutora em Teoria Política e em Filosofia Moral, com pós-doutorado em Bioética – Ética animal. Autora dos livros: Por uma questão de princípios: alcance e limites da ética de Peter Singer em defesa dos animais; Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas; Galactolatria: mau deleite – implicações éticas, ambientais e nutricionais do consumo de leite bovino; Acertos abolicionistas: a vez dos animais]

Festival muçulmano assassina cabras, touros e búfalos em ritual

Festival muçulmano assassina cabras, touros e búfalos em ritual

O evento consiste em sacrificar um animal macho para homenagear a disposição do Profeta Abraão de sacrificar seu próprio filho diante de Deus.


28/08/2018 às 06:30 

Por Julia Cortezia, ANDA 
 
O mês de agosto é marcado pela realização de um festival muçulmano Eid al-Adha, também conhecido como Bakr-Eid, ou ainda, a Festa do Sacrifício. Nele, é tradição que grupos muçulmanos realizem rituais nos quais animais são assassinados.

A celebração é realizada em todo décimo dia do mês final do calendário islâmico, que neste ano, caiu em 23 de agosto. O evento consiste em sacrificar um animal macho para homenagear a disposição do Profeta Abraão de sacrificar seu próprio filho diante de Deus.

Em oposição, grupos hindus do país exigiram que a morte desses animais não fosse parte do processo pois afetam a religiosidade hindu. Grupos como Vishwa Hindu Parishad (VHP) e Bajrang Dal pediram ao governo que tomassem medidas contra os muçulmanos que matam cabras, touros, búfalos e outros animais no evento.

Muçulmanos em outros países matam principalmente ovelhas, cabras, camelos ou touros para o Eid. Como a maioria dos estados indianos tem leis contra a morte de touros e vacas que são sagradas para os hindus, a maioria dos muçulmanos indianos mata cabras ou búfalos.
Rituais de sacrifício do Eid é marcado pela morte de animais machos (Foto: Reprodução)

Entretanto, os líderes hindus suspeitam que os muçulmanos em algumas áreas matam touros para se banquetearem. “Os muçulmanos devem celebrar sua festa sem carne ou de forma não-violenta. Se alguém violar a ordem, o governo precisa tomar medidas severas contra eles”, disse Vilas Nayak, líder do VHP, em uma entrevista coletiva na semana passada.

Raja Singh, um líder hindu em Telangana, advertiu que se o governo do estado não conseguisse impedir o massacre de touros sobre o Eid, haveria uma chance de violência. “Se você não colocar postos de checagem fora da cidade e realizar batidas na cidade velha, há uma chance de 200 por cento de linchamentos e violência”, disse ele.

Rashid Ahmad, ativista dos direitos humanos que mora no estado de Bengala Ocidental, disse que os indianos muçulmanos e hindus vivem em harmonia há séculos e acusaram alguns grupos de usar festivais religiosos “para marcar pontos políticos”.

“O que esses grupos marginais querem provar, levantando a bandeira da proteção das vacas? Que o festival Eid tem apenas alguns anos de existência na Índia e nunca foi celebrado no país antes?”, ele questiona.

Ele acredita que os grupos hindus que vão contra o festival têm interesses políticos. Tudo isso seria para ganhar votos para o Partido pró-hindu Bharatiya Janata nas eleições nacionais e estaduais que devem começar no próximo ano.

“As pessoas deste país estão bem cientes de tais táticas agora e não permitiriam que elas obtivessem sucesso de qualquer forma”, disse Ahmed.

Mesmo que os rituais façam parte da cultura de um povo, é errado ferir o direito de qualquer ser vivo. A existência de pessoas de dentro da religião que são contra tais rituais mostra que essa maneira de festejar é arcaica. E isso é só mais um exemplo de que muitas vidas são perdidas à custo da vontade e do egoísmo humano.

Una dosis de naturaleza, por favor






Una dosis de naturaleza, por favor




Una dosis de naturaleza, por favor

La ciudad impide frenar y es mejor no engañarse:
fisiológicamente, el cuerpo humano se siente más
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en sintonía rodeado de árboles que aferrado a un
teléfono móvil. Somos animales.

El bosque nos espera.
LOS QUE VIVEN en las ciudades lo saben: su ritmo es un desafío constante. En el frenesí urbano perdemos las riendas de los días. Para el conservacionista Joseph Wood Krutch (1893-1970), la imagen que mejor ilustraba la sociedad moderna era la de un coche a toda velocidad: no puedes pensar en nada, te limitas a mantener el “monstruo” bajo control. Por si fuera poco, dentro de 20 años, dos terceras partes de la población mundial vivirán en ciudades. El problema que se nos plantea ya no es cómo mantener el ritmo cotidiano de la urbe, sino de qué manera combatir la fatiga mental en un entorno que nos sobreestimula y nos impide poner el contador a cero. Muchas veces, cuando cerramos los ojos en busca de una evasión momentánea, viajamos mentalmente a un bosque, a un lago, a un valle. Y no es casual que nos transportemos allí para recuperar el sosiego.



Un instituto público
de Finlandia indica la dosis necesaria de exposición en la naturaleza para acabar con la depresión

Fuera del asfalto, el ritmo cardiaco se ralentiza, la presión sanguínea disminuye, la percepción se ensancha. Aunque nuestra conciencia está cada vez más moldeada por la tecnología y la conectividad permanente, fisiológicamente nos adaptamos mejor al medio natural. 
Por ejemplo, el físico estadounidense Richard Taylor ha constatado que el patrón de movimiento de la retina cuando analiza una escena es de tipo fractal. Los fractales —objetos geométricos aparentemente irregulares que se forman a partir de la repetición de una estructura simple a diferentes escalas— están presentes en muchos elementos de la naturaleza, como en los copos de nieve o en los helechos. Por eso, al observar las ramas de un árbol o las olas del mar se produce un efecto calmante. La predisposición de nuestro cerebro a sentirse en sintonía en ese entorno obedece a la huella evolutiva.






Una dosis de naturaleza, por favor


Hace dos décadas que se acumulan los estudios científicos sobre los efectos que la interacción con la naturaleza tiene en nuestra salud mental y psíquica. Coincide con la alerta creciente ante los indicadores que evidencian el reverso nocivo de nuestra forma de vida: sobrepeso, trastorno de déficit de atención, depresión o estrés. En Japón, durante la burbuja financiera de los ochenta, para tratar el síndrome de desgaste profesional, se inició la práctica del Shinrin yoku o baño forestal. Se trata de realizar actividades (largos paseos, ejercicios de respiración, contemplación, etc.) en bosques –preferiblemente con una alta densidad de árboles grandes y longevos– y con una duración de entre dos horas a tres días. La Agencia Forestal de este país ha diseñado circuitos terapéuticos en 62 parques a los que acuden hasta cinco millones de japoneses al año.




Los experimentos indican que después de un baño forestal, descienden los niveles de cortisol (hormona que se libera en situaciones de estrés) y el ritmo cardíaco, mientras que se incrementan las células NK (importantes componentes del sistema inmune) y la actividad del sistema nervioso parasimpático (síntoma de un estado de mayor relajación). Con la inhalación de sustancias volátiles antimicrobianas llamadas fitoncidas, que son aceites naturales que segregan las plantas de los árboles, se fortalecen nuestras defensas. Además, los efectos de un baño forestal perduran en el tiempo, incluso se pueden notar un mes después. ¿Existe una terapia con menos efectos secundarios, más económica y con resultados positivos tan inmediatos?
Los finlandeses también han invertido dinero público en averiguar cuáles son los efectos de la naturaleza sobre el estado de ánimo. El Instituto Nacional de Recursos de Finlandia ha determinado incluso una dosis mínima necesaria de exposición natural para sortear la depresión y el decaimiento: cinco horas al mes en un bosque o en un parque de más de cinco hectáreas. La ciencia parece dar la razón a Henry David Thoreau (1817-1862), uno de los más famosos defensores del poder inspirador de la naturaleza salvaje en el hombre. En 1845, el escritor y filósofo estadounidense decidió vivir algo más de dos años en una pequeña cabaña construida con sus propias manos a orillas del lago Walden (Massachusetts). “En la profundidad del bosque, completamente solos, mientras el viento sacude la nieve de los árboles y dejamos atrás los últimos rastros humanos, nuestras reflexiones adquieren una riqueza y variedad muy superiores a las que ostentan cuando estamos inmersos en la vida de las ciudades”, escribió. Y Thoreau no fue el único: el filósofo y matemático Ludwig Wittgenstein vivió junto al fiordo de Sogn, el compositor Edvard Grieg en el lago Nordås (ambos en Noruega) o el poeta Dylan Thomas en el estuario del río Taff (Reino Unido). Y usted, ¿se has preguntado cuándo fue la última vez que hundió las manos en la tierra, en el agua fría de un riachuelo o se perdió por un sendero verde?

Le Monde (França) – Le gouvernement doit être plus ferme contre la déforestation

Le Monde (França) – Le gouvernement doit être plus ferme contre la déforestation


En refusant de définir des règles et de les appliquer, la France compromet sa stratégie contre l'importation de produits qui concourent à la déforestation, s'indigne Clément Sénéchal, porte-parole de Greenpeace France

Il y a plus d'un an, le 6  juillet 2017, la France se dotait d'un plan Climat avec, parmi ses objectifs, celui de lutter contre la déforestation importée. Ce terme désigne la part des produits que nous importons de différentes régions du monde et qui contribuent à la déforestation dans les pays dont ils proviennent. La déforestation représente entre 12 % et 15 % des émissions mondiales de gaz à effet de serre (une part proche de celle du secteur des transports). La France est directement concernée, du fait qu'elle importe de nombreuses matières premières et produits transformés associés à la déforestation : bois, huile de palme, soja, cacao, café, caoutchouc…

Avec des mois de retard, une première mouture de la Stratégie nationale de lutte contre la déforestation importée (SNDI) a enfin été proposée, le 3  juillet, par le gouvernement, et une version finale est attendue pour la rentrée. Malheureusement, en l'état, ce texte condense tous les vices classiques des tentatives écologiques en milieu ultralibéral, pour aboutir, in fine, à une démission lamentable de la puissance publique.

Pour commencer, la SNDI vise l'horizon 2030. La France s'est pourtant engagée auprès de l'ONU à mettre un terme à la déforestation en  2020 (c'est l'Objectif de développement durable no  15). Pourquoi, alors, repousser l'échéance ? Cela revient à dissoudre le sens de l'urgence, en repoussant la résolution du problème. C'est aussi se défausser de ses responsabilités : Nicolas Hulot sera-t-il encore ministre dans douze ans, quand il faudra rendre des comptes ?

Projet de méga-mine d'or

Autre exemple : la SNDI ne vise qu'un certain nombre de matières premières et en laisse d'autres de côté, comme… le bois, mais aussi le colza, le café, le coton, le cuir, etc. A quoi bon morceler un problème global, au risque de substituer des flux de matières à d'autres ? De même, la stratégie retenue s'occupe des forêts tropicales mais oublie les forêts boréales, pourtant menacées. D'ailleurs, si la Suède résiste aujourd'hui si mal aux incendies, c'est à cause de la monoculture massive de résineux exotiques largement destinés à la surconsommation européenne de produits papetiers à usage unique : emballages, papier toilette, gobelets, serviettes jetables, etc.

Mais le plus grave réside certainement dans l'application avec laquelle la SNDI s'interdit d'évoquer la moindre mesure réglementaire, alors même que cette option figurait dans le texte liminaire du plan Climat. Comme s'il était interdit d'interdire en matière d'environnement. Nulle part le mot sanction ne figure dans le texte. La SNDI souhaite encourager la " finance verte ", mais refuse d'interdire ou même de pénaliser la finance dite " brune ", celle qui porte atteinte à l'environnement. Elle souhaite étendre le marché des certifications " écologiques ", alors qu'aucune n'a fait ses preuves en quinze ans et qu'une telle approche dispense surtout les Etats de sanctionner la déforestation. Elle veut " verdir " les agrocarburants de première génération au lieu de les interdire, alors que leur consommation croissante a un impact désastreux pour le climat et la biodiversité. A ce sujet, le gouvernement, en mai, avait autorisé Total à importer jusqu'à 550 000 tonnes d'huile de palme dans son usine de La Mède (Bouches-du-Rhône) pour faire des agrocarburants (ce qui représente plus de la moitié des importations françaises actuelles d'huile de palme), alors même que Nicolas Hulot avait déclaré vouloir en finir avec ce carburant nocif.

La stratégie gouvernementale prétend réduire notre dépendance au soja d'Amérique du Sud, responsable de la disparition de millions d'hectares au Brésil et en Argentine, mais ne fixe aucun indicateur quantitatif ou calendaire et n'évoque pas la réduction de la consommation de viande et de produits laitiers, point pourtant indissociable de cette question. Elle préconise aux acteurs du développement français de ne plus financer de programme risquant d'entraîner de la déforestation, ce qui n'empêche pas l'Agence française de développement de porter actuellement un programme d'exploitation industrielle massive de la forêt tropicale du bassin du Congo en RDC ! Enfin, elle entend mettre un terme à la déforestation importée sans s'occuper des risques de déforestation sur le territoire français, alors que la forêt amazonienne guyanaise se trouve sous la menace d'un projet de méga-mine d'or.

Sur le front de la déforestation, l'approche incitative a fait son temps, il est temps de changer de paradigme. Les industriels eux-mêmes, aux premières loges de la raréfaction des denrées qu'ils exploitent, attendent cet interventionnisme, car ralentir sans contrainte publique, c'est se voir condamné dans la compétition économique. Les ONG qui travaillent sur ce sujet l'appellent de leurs vœux depuis des années. La rentrée sera-t-elle l'occasion pour ce gouvernement de prendre enfin ses responsabilités ? Il revient au régulateur public de définir des règles et de les appliquer fermement. Nous n'avons plus de temps pour l'écologie velléitaire.
Clément Sénéchal