A foto publicada ontem (2) por Jeferson Pires, em seu Instagram, é de cortar o coração. A princípio, pode até parecer montagem, mas infelizmente não é: a garça-moura – a maior da espécie no Brasil – com um copo entalado na garganta foi encontrada pelo médico-veterinário e biólogo, responsável pelo CRAS – Centro de Recuperação de Animais Silvestres da Universidade Estácio de Sá, na Estrada do Rio Morto, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro.
Jeferson seguia em direção à escola da filha, para buscá-la, quando viu a ave na lateral da estrada. Parou com o carro alguns metros adiante e voltou para tentar resgatá-la, mas assim que ela o viu, voou para uma árvore do outro lado do rio, inviabilizando a ação.
“Notifiquei a patrulha ambiental, que é o órgão que faz os resgates por aqui, e avisei várias pessoas que passam sempre pela estrada ou têm atividade na região pra tentarem encontrá-la”, conta ele. “Mas o problema é que, mesmo que encontrem a garça, dificilmente vão conseguir pegá-la porque ela foge. Certamente, só será possível resgatá-la, quando estiver muito mal, quase morrendo”.
O veterinário explica que, com o copo entalado, ela não consegue mais se alimentar e isso a levará a óbito em 3 a 5 dias, mais ou menos. “A impressão que tenho é de que o copo está na região do esôfago. Ela consegue engolir presas relativamente grandes, mas, neste caso, sendo um copo de plástico, não entra na região do tórax, ficou travado”.
E completa: “Agora é rezar para que, quando ela estiver num estado avançado de fraqueza, fique num ponto visível, onde seja possível fazer o resgate. A questão é que a região é muito alagada e muito fechada, por isso há grande chance desse animal morrer numa área isolada em que ninguém vai conseguir vê-la”.
E por que ela engoliu o copo? Teria confundido com uma presa?
“As garças são generalistas, pode ter achado que era algo pra comer. Mas não descarto a possibilidade de um peixe ou qualquer outra presa estar por cima do copo e ela ter pego tudo e engolido o copo junto. De qualquer forma, qualquer coisa que eu diga a esse respeito, vou estar ‘chutando’”.
Consumo e descarte consciente
Diante do caso da garça e de tudo que vê, diariamente, no CRAS, Jeferson deixa uma mensagem para o público: “Evitem o consumo de plásticos! Principalmente os de uso único, como copos plásticos, que são os que mais impactam a fauna. Mas, no caso de precisar utilizá-los, façam o descarte correto”.
Ele lembra que as pessoas que moram no Rio de Janeiro, estão “numa cidade grande, que tem sistema de coleta de lixo” e, portanto, “essa não é uma tarefa difícil”. E acrescenta: Muitas vezes, o descarte irresponsável acontece por preguiça, por ser mais cômodo jogar o copo no rio, no chão, em vez de jogar numa lixeira”. O resultado é a morte de animais silvestres, tão necessários para o equilíbrio ambiental da cidade.
O trabalho da CRAS da Estácio
Há mais de 20 anos, a CRAS – Clínica de Recuperação de Animais Selvagens da Universidade Estadual Estácio de Sá recebe animais seilvetres de todo o estado do Rio de Janeiro. Por ano, atende 5.600 animais. “Este ano e até hoje, atendemos 5.200”, conta Jeferson.
Os animais feridos são encaminhados para lá pela patrulha ambiental, pelo Corpo de Bombeiros ou por pessoas que encontram bichos nessas condições em seu caminho.
“Infelizmente, a maioria deles não sobrevive porque chega à clínica em péssimo estado de saúde”, explica o veterinário. “A gente tenta salvar, tratar, faz de tudo para que se recuperem e possam voltar à natureza, mas, em geral, isso é bem difícil”.
Quando o caso tem um final feliz – o animal se restabelece -, a soltura não é realizada pelo CRAS. “Entregamos para os órgãos ambientais, que realizam a soltura no local onde o animal foi encontrado ou próximo. Trabalhamos em parceria com o INEA – Instituto Estadual do Meio Ambiente e com o pessoal da Prefeitura do RJ”, detalha o responsável pela clínica.
Por outro lado, os animais que se salvam, mas não têm condições de viver livres, na natureza, são encaminhados para o Centro de Triagem do Ibama, que decide seu destino: zoológico ou mantenedor de fauna. “A decisão é do órgão”.
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Foto (destaque): Jeferson Pires